Este documento discute a abordagem da dor pélvica crônica. A dor pélvica crônica afeta 12-20% das mulheres em idade reprodutiva e é a justificativa para 12-19% das histerectomias. O diagnóstico requer uma anamnese detalhada e exames físicos e laboratoriais. O tratamento envolve uma abordagem multidisciplinar com analgésicos, supressão hormonal, antidepressivos e cirurgia como último recurso.
1. Abordagem na Dor Pélvica Crônica
Programa de Residência Médica em Ginecologia
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
Residente: Pedro de Araujo Melo
Orientadora: Profa. Juraci Ghiaroni
2. Introdução
Dor não cíclica que persiste por seis meses ou
mais; localizada na pelve, na parede abdominal
infraumbilical anterior ou na coluna
lombossacra ou nas nádegas; e que leva a
graus de incapacidade funcional
(American College of Obstetricians and Gynecologists, 2004)
3. Introdução
12 a 20% nas mulheres em idade reprodutiva
Justificativa para 12 a 19% das histerectomias
Sensiblização Periférica + Sensibilização
Central
Perpetuação da dor após ausência de
estímulos
8. Diagnóstico
Independentemente da causa da dor, sua
persistência sugere a presença de fatores
psicossociais contribuindo para sua
manutenção.
Atendimento psicológico é uma parte
fundamental na clínica multidisciplinar da dor
Forte associação com transtornos psiquiátricos
(ansiedade/depressão) e história de abuso
sexual
9. Diagnóstico
Históricos obstétrico, cirúrgico e psicossocial
Características da dor
Exame físico (postura, marcha, posições
supina, sentada e de litotomia)
Avaliação laboratorial
Imagem radiográfica e endoscopia
Mapeamento consciente da dor
10. Endometriose
Não há correlação entre a localização das
lesões ou sua gravidade e o quadro álgico
A síndrome dolorosa relacionada à
endometriose é um conceito novo e em
desenvolvimento definido como dor que não
responde ao tratamento medicamentoso ou
cirúrgico (especialmente na presença de
doença leve ou moderada)
Frequentemente existe uma co-morbidade
crônica (SII, cistite intersticial, fibromialgia,
transtornos de ansiedade)
13. Aderências Pélvicas
Conexões fibrosas entre as superfícies opostas
dos órgãos ou entre um órgão e a parede
abdominal
Relação pouco eslcarecida com a dor pélvica
crônica
Achado principal em 25% das laparotomias por
DPC
15. Aderências Pélvicas
Fatores de risco:
- Cirurgia prévia
- Infecção intra-abdominal anterior
- Endometriose
Laparoscopia diagnóstica indicada quando
causas gastrointestinais, genitourinárias,
osteomusculares ou neurológicas forem
excluídas.
16. Aderências Pélvicas
Tratamento por lise cirúrgica
(adesiólise vs adesiogênese)
Indicado apenas quando houver obstrução
intestinal intermitente ou infertilidade
Procedimentos de repetição para lise de
aderências são contra-indicados
17. Síndrome do Resto Ovariano e da
Retenção Ovariana
Sobra de material ovariano após ooforectomia
Mais comumente causa dor cíclica e
dispareunia
Sintomas podem aparecer anos após a cirurgia
Ultrassonografia diagnostica a maioria dos
casos
Dosagem de FSH (< 40mIU/mL) e estradiol
(>20pg/mL)
18. Síndrome do Resto Ovariano e da
Retenção Ovariana
Contraceptivos orais combinados,
progestágenos e análogos do GnRH
(supressão hormonal)
Excisão laparoscópica (procedimento
geralmente de difícil realização)
19. Síndrome da Congestão Pélvica
Fluxo venoso retrógrado por incompetência
valvar causando congestão nos plexos
venosos uterino e/ou ovariano
Relação com a multiparidade - Dilatação
mecânica
Relação com a menopausa - Disfunção
hormonal ovariana
20. Síndrome da Congestão Pélvica
Pioras no período pré-menstrual e após longos
períodos na posição sentada ou em pé
Dor ovariana direta
Dor em região inguinal
Varicosidades em coxa, nádegas, períneo e
vagina
Venografia pélvica
TC, RM, USG e laparoscopia
21. Síndrome da Congestão Pélvica
Contraceptivos orais combinados,
progestágenos e análogos do GnRH
(supressão hormonal)
Embolização transcutânea da veia ovariana
Histerectomia com ooforectomia
24. Tratamento
Pacientes com dor que piora no período
menstrual são candidatas a tratamento com
supressão hormonal
Na suspeita de dor neuropática ou de
sensibilização central considerar o uso de
antidepressivos tricíclicos ou anticonvulsivantes
em baixas doses
Não há evidências de benefícios no uso de
opióides
25. Tratamento
Laparoscopia:
- Adiada até que outros diagnósticos sejam
excluídos e/ou que haja falha no tratamento
medicamentoso
- Ablação laparoscópica do nervo uterossacral e
neurectomia pré-sacral
26. Tratamento
Histerectomia:
- 30% das pacientes que procuram clínicas da
dor para tratamento de DPC já realizaram
histerectomia
- Um estudo mostrou que uma abordagem
multidisciplinar (ginecologista – fisioterapêuta -
psicólogo) reduziu a taxa de histerectomia de
16.3% para 5.8%*
*(Reiter RC, Gambone JC, et al. Availability of a multidisciplinary
pelvic pain clinic and frequency of hysterectomy for pelvic pain. J
Psychosom Obstet Gynecol 1991; 12:109.)
27. Tratamento
Histerectomia:
- Indicada em mulheres com prole completa e
com dor relacionada com endometriose ou
patologias uterinas
- PREPARE (Procedure / Reason / Expectation /
Probability / Alternatives / Risks / Expenses)
- ACOG sugere preferência pela via
laparoscópica ou transvaginal
28. Referências
Schorge J.O. et al. Ginecologia de Williams , 1a
ed. Porto Alegre, Artmed, 2011. p 244-265.
Berek J.S. et al. Berek and Novak's
Gynecology, 14th ed. Philadelphia, Lippincott
Williams and Wilkins, 2012. p 470-504
Jackson T, Huntoon M. Chronic Pelvic Pain: Is
It Time for an Algorithmic Approach? Pain
Pract. 2012; 12:85-86.
Apte G, Nelson P, et al. Chronic Pelvic Pain –
Part 1: Clinical Pathoanatomy and Examination
of the Pelvic Region. Pain Pract. 2012; 12(2):