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09J~-fJifD
Dados Internacionais de Cataloga<,;ao na Publica<,;ao (CIP)
(Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ribeiro, Jorge Ponciano
ocicio do contato :temas basicos na abordagem gestaltica / Jorge
Ponciano Ribeiro; 2. ed., rev. e amp. - Sao Paulo: Summus, 1997.
Bibliografia.
ISBN R5-323-0624-1
indices para catalogo sistematico:
I. Contato : Gestalt: Psicologia 150.1982
SUffiario
Introdw;;ao.................. 13
Fenomenologia do contato 17
o ciclo da mudan<;;a 20
Campo e contato 22
Self e cicIo 26
Natureza do contato 32
Fatores de cura: mecanismos saudaveis 38
Ciclo e operacionaliza<;;ao............................................................. 49
Ciclo como paradigma.................................................................. 58
Ciclo e sua dinamica interna......................................................... 61
Conclusao 65
II ~ Aplicaf;fio Pratica do Ciclo do Contato: A organiza~·fio vista sob
o aspecto clfnico
Introdu<;;ao........... 71
Contato e organiza<;;ao 79
Doen<;;ae organiza<;;ao............................ 81
Mecanismos de resistencias , 82
Decaclencia e organizac;ao 83
Introduc;ao 91
Teoria humanista existencialista....... 93
Metodo fenomenoI6gico........... 94
Teoria do campo 95
Teoria organismica holfstica 98
Psicologia da gestalt...... 99
Conclusao 100
Nota do Autor
Tenho 0 prazer de colocar em suas maos a 2"edic;ao de 0 Cicio do
Contato, revista e ampliada.
A urgcncia de uma I" edic;ao surgiu da necessidade de garantir a
originalidade de um trabalho e, portanto, os direitos autorais de id6ias
amplamente divulgadas por mim, ao longo dos treinamentos que ve-
nho desenvolvendo, em diversas partes do pais.
a texto anterior, apropriado e Lltilpara os objetivos a que me pro-
pus, deixa, no entanto, a desejar, sobretudo no que diz respeito a uma
melhor fundamentac;ao da Teoria do Contato.
a presente texto 6 amplo, mais critico, amadurecido, e funda-
menta mais solidamente a Teoria do Contato, dos Fatores de Cum e a
relac;ao de ambos corn 0 conceito de sell
Espero, por isso, que the seja rnais uti!.
o
n
-
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V
o
n
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z
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,~
10 -
Contato e uma palavra mcigica, e sintmimo de encontro plow, de
mudanra. de vida. E convite ao encontro, ao entregar-se. E um proces-
so, cujo sinonimo e cuidado, a alma do contato. Senl ele, 0 col1tato.
simplesmente, IlctO existe.
Tem-se escrito muito sobre a palavra contato e pouco sobre 0 con-
ceito de contato como processo, como base fenomenologica da com-
preensao do que significa comportamento e mudaw;;a.
Embora sejamos 0 contato vivo, nao e Lieil escrever com profun-
didade sobre "contato", talvez ate porque estejamos metafisicamente
confluentes entre nosso ser e nosso existir: somos a nossa existencia.
Nossa visao entre 0 que somos (essencia) e aquilo que nos tornamos
(existencia) e ofuscad a pela imersao da existencia na essencia. Esta e
a mais absoluta confluencia onde figura e fundo perdem identidade e
so podem ser concebidas como processo.
Contato e fun<;aodo campo e obedece as leis que regem 0 campo.
A vivencia do contato depende da experiencia do campo, cuja quali-
dade altera a experiencia imediata vivida pelo sujeito em um momen-
to dado.
CONTATOIi UMATEORIA.Contato, como teoria, sup5e procedi-
mentos precisos, definidos. Como toda teoria, sup5e princfpios dos
quais emana e nos quais se fundamenta, com procedimentos precisos,
definidos e reaplicaveis em circunstancias congeneres. E algo objeti-
vamente observavel e, enquanto tal, podendo ser descrito com precisao
numa rela~ao de causa'e efeito. Como algo relacional, ocorre, ao mes-
mo tempo, em variados campos, sobretudo 110 psicoemocional e no so-
cio-ambiental. Sua natureza relacional 0 toma mais compreensfvel a
partir de sua inser~ao na teoria do campo.
CONTATOE UMATECNICA.0 carpo e a casa do contato, e dando
os limites do contato, subjetiva e objetivamente. Sem conhecer 0 cor-
po, pouco se pode fazer para que um contato seja nutritivo e transfor-
mador. 0 carpo e objeto e sujeito imediato do contato. De uma maneira
simples, diria que as leis que regem 0 carpo sao as leis que propor-
cionam um contato de maior ou menar qualidade. Como tecnica, 0
contato supoe procedimentos que 0 delimitam OLI
nao a um dado cam-
po, no qual os conceitos de fronteira e limite se tornam pistas que re-
gulam a qualidade da ac,;aorelac,;ao.UsaI' 0 contato como instrumento,
como tecnica de aproximac,;ao e compreensao da realidade, e um ca-
minho entre a experiencia imediata e a realidade intcma do Olltro. 0
corpo e 0 objeto e 0 sujeito imediato do contato. De uma maneira sim-
ples, diria que as leis que regem 0 carpo sao as leis cuja compreensao
nos indicam processos que proporcionam um contato de maior ou
menor qualidade.
CONTATOIi UMAARTE.Ternura, suavidade, carinho, disciplina,
clareza, muitas vezes sao os verdadeiros alimentos do contato. 0 col'-
po e 0 santuario onde habitamos, uma orac,;aovislvel saudanclo 0 uni-
verso. Obra de arte, a mais fina, imagem e scmelhan~a de Deus, 0 cor-
po e uma projec,;ao da arte interiar de cada Llmde nos. 0 corpo e a
pessoa, e 0 retrato de mim mesmo, da minha historia, pOl'isso so pode
ser falado pOI'mim. Se 0 outro me toca ou eu toco 0 Olltro, devo faze-
!o com a reverencia propria de quem entra num santuario a procura do
sagrado.
A arte corrige, ~ISvezes, a natureza. 0 contato, como arte, e 0 ins-
trumento de ac,;aoque permite a pessoa humana superar seus proprios
limites e atingir um nlvel mais alto de perfcic,;ao.
A palavra contato e usada de varios modos e em circunstancias
bem diferentes, como: "fazer contato, permanecer em contato, cortar 0
contato, entrar em contato", ou, simplesmente, 0 Contato, como se fos-
se um conceito claro e de significa~ao identica para toclo mundo.
Para 0 Gestalt-terapeuta 0 conceito CONTATO
tem um significado
muito especial, parque:
1. A Gestalt-terapia esta centrada no conceito contato e na
natureza das rela~oes de contato cia pessoa consigo mesma e com 0
mundo exterior.
2. 0 contato e a materia-prima da rela~ao psicoterapeutica. Sua
natureza clefine a qualidade cloprocesso.
3. E a forma pela qual a vida acontece e se expressa.
4. 0 contato e 0 fenomeno pelo qual 0 encontro ocorre e no qual
toda a~ao humana e psicoterapeutica se baseia.
5. Contato e se(j'mantem uma relac,;aoclequase identidade episte-
mologica. Nao se pode falar em um sem falar do outro, quando se tnl-
ta do comportamento humano. Embora se(j'e contato estejam em inti-
ma rela~ao, contato e um conceito mais amplo que self; pois tudo que
existe e contato, e e 0 contato que toma as coisas existentes, seja no ni-
vel metaffsico, seja no cosmologico, mas 0 contnirio nao e verdadeiro,
porque nem tudo que existe e ou tem um se(l
o modo como uma pessoafaz cantata consigo e com 0 mundo ex-
pressa igualmente a grew de individuarao, maturidade e auto-entrega
com que vive, em um dado momenta, porque 0 contato e a expressao
experienciada e vislvel da realidade interna de si mesmo. Tudo na na-
tureza e contato e sem cantata tudo perde sentido, agoniza e morre.
Contato e um conceito extremamente rico e comp1exo, pOI'isso e
importante examina-lo, vel' seus diversos angulos e tirar dai as impli-
ca~oes posslveis que nos ajudarao nesta caminhada que estamos
come~ando.
Seu universo e 0 universo da totalidade. Ele inclui tuclo, porque tu-
do esta em rela~ao, afetando a natureza das coisas. A natureza, dita vi-
va ou marta, e contato e, nesse sentido, existencia e contato se con-
fundem. Compete-nos encontrar as rela~oes. So 0 nada e nada de
rela~oes, por isso e ausencia de contato. Tudo, e em certo senticlo ate a
morte, e rela~ao. Na razao em que um encontro vira contato, as coisas
ESPAQO VITAL
DEUS
(Campo Ontol6gico)
t
UNIVERSO
(Campo Cosmol6gico)
t
PESSOA
(Campo Existencial)
t
ALMA ..••••
------I ••
- CORPO'-"'---~"- MEIO AMBIENTE
(Universais) Awareness
t
(Propriedades) Conhecimento
t
(Categorias) Consciencia
t
(Polaridades) Criatividade
Extensao (Aqui)
t
Peso e Dureza
t
Espayo
t
Materia
Durac;;ao(Agora)
t
Passado- Presente- Futuro
t
Tempo
t
Lembranyas/Fantasias
Self
t
Eu
Movimento
t
Vida
Numa gestalt, a relayao figura-fundo mais que um processo de percepyao
envolve uma totalidade fenomenol6gica na qual tudo est a inclufdo. E uma
relayao dentro-fora-dentro, dependendo do angulo pelo qual 0 sujeito ve
o objeto. Tudo e uma coisa s6. Tudo emana de uma coisa s6 e tudo retor-
na a ela. A percepyao pode ser indutiva ou dedutiva, dependendo do tipo
de contato com que alguem se liga ao universe". Deus e contato pleno, e
vice-versa. Plenitude de categorias, vazio de categorias. Dividimos apenas
para entender melhor. Na subjetividade e na intersubjetividade das pes-
soas e coisas, 0 contato acontece, 0 mundo acontece.
come<;am a eXlstlr. Numa chuva, agua e asfalto se tocam, nao se en-
contl'am; a agua desliza indifel'ente sobl'e 0 asfalto, mas este toque so se
tl'ansforma em encontl'o e, conseqiientemente, em contato, quando um
come<;a,nao importa em que nivel, a alterar a natureza do outro.
Como dissemos anteriormente, 0 universo do contato 6 0 univer-
so da totalidade. Na razao em que ocorre a totalidade, ocorre 0 conta-
to pleno. Esta totalidade nao 6 apcnas a totalidade das id6ias, mas das
id6ias e dos fatos.
A psicoterapia, como fun<;ao do contato, s6 ocorre quando a tota-
Iidade se faz e, como a totalidadc sempre precede ~l consciencia, tota-
lidadc, consciencia e contato se transfonnam no trip6 da mudan<;a.
Quando falta um destes elementos na rela<;ao terapeutica, rompe-se 0
processo de mudan<;ac ocone a fragmenta<;ao, tornando 0 contato ino-
pel'ante.
E pelo contato que figura e fundo seguem seu caminho de for-
ma<;ao e destrui<;ao de novas gestalten, em um eterno renovar-se. E
neste movimento que nos mesmos nos fazemos presentes e nos reco-
nhecemos, porque somos os contatos que fazemos ao longo da vida.
o contato e um movimento trans!,ormador de jlm~'Llo,de slmese,
que permite a realidade se fazer e se re!'azer sobre si mesma num
processo nunca acabado, porque 0 CO/l.totO,
como unidade de trans-
fOrma{'LlO,tende a ampliar-se ao infinito pelas possibilidades que tem
de adquirir novas propriedades a cada instante.
A compreensao do conceito de contato passa pOl' um duplo
processo: dedutivo e indutivo.
Do ponto de vista fenomenologico, esta distin<;ao nos pennite vel'
o contato como causa e como efeito de urn processo em que tudo esta
incluido, sem perder a unicidade e a individualidade propria de cada
ser. Somos sempre totalidade, mesmo na qualidade de individuos. Mi-
nha individualidade absoluta, ao me fazer (mico no universo, me faz
uma totalidade. POl' isso, posso ser descrito, reconhecido e tel' urn
nome. Dal' um nome 6 tel' captado a totalidade.
Podemos atingir tres niveis no conceito de ser:
1. Nzvel de SER: totalidade, universalidade absoluta.
Aqui falamos do SER ao qual nada falta, onde tudo esta inclufdo,
origem e principio de todos os seres, enquanto recebem dele sua sig-
nifica~ao primeira: a de existente.
2. Nlvel de Ser: totalidade relativa enquanto representado por
Classes: por exemplo, 0 Cavalo. Ao dizermos 0 cavalo, inclufmos af
todos os cavalos de ontem e de hoje, nao importa a ra~a, pOl'que, ao
vermos urn cavalo, podemos deduzir a partir de sua visao a essencia do
que se trata, porque 0 Cavalo deixou de ser uma abstnl~ao para ser urn
cavalo.
3. Nlvel de Ser: enquanto representa individualidade e indivlduo.
Neste nfvel, nao dizemos urn cavalo, mas este Cavalo e a totalida-
de individualizante. Enquanto este Cavalo, participa da Classe 0
Cavalo, e de 0 SER , do qual suas essencia, propriedades e existencia
pnmeJras emanam.
o SER esta no cavalo e 0 cavalo esta no SER . A fenomenologia
transfonna-se numa metafisica, lan~ando luz sobre todos os processos
dedutivos, com os quais trabalhamos cotidianamente, e se transforma
numa metodologia, enquanto, pOl'indw;:ao, todas as coisas atingem sua
essencia. E neste vaivem que todas as coisas se inter-relacionam, que
tudo afeta tudo, que tudo e uma coisa so, desnudando-se ao infinito
diante de nossos olhos para que Ihes possamos dar nomes e captar-Ihes
as propriedades singulares.
Neste delicado processo de nos tornarmos classe, de nos tornar-
mos indivfduos e de nos tornarmos quem somos, vivemos, a todo ins-
tante, este triplice aspecto de uma unica realidade: 0 SER como fonte
primeira de cantato .
Esta reflexao tern uma finalidade diretamente terapeutica: ampliar
nassa consciencia para a compreensao da dimensao de urn sellherdeiro
de urna totalidade que de urn lado nos agiganta, e, de outro, nos torna,
fenomenologicamente, complexos ao infinito, porque cria uma anteri-
oridade metafisica e cronol6gica que nos precede, nos movimenta, pre-
side nos so desenvolvimento e nos caracteriza como tais.
Nao somos fruto de urn individualismo ou de urn determinismo
biol6gico ou existencial, pois, como partes do SER somos coletivos,
seres de infinitas possibilidades; e e assim que nos desenvolvemos, e e
assim que estamos em contato com todas as nossas possibilidades,
mesmo as nao-pensadas.
Metafisicamente, estamos falando de urn universo, holisticamente
pensado como essencia, e cronologicamente pens ado como processo,
aqUl e agora.
o contato e sempre urn encontro com 0 ser do ponto de vista
metaffsico e fenomenico. Sem contato, nada se cria. 0 criado e ato
supremo de contato. Quando se esti em contato, 0 universo abre suas
portas as muitas possibilidades de cria~ao.
Neste contexto, vemos 0 ser se constituindo em diferentes niveis,
a partir das rela~5es que cria com as tres dimens5es inclusivas, cada
uma exercendo, do ponto de vista da apreensao, uma fun~ao especial,
de acordo com os niveis em que atuam.
Campo HoHstico Fenomenol6gico
SER
--
Ser
o ser e visto na sua triplice dimensao: SER-metaffsico, SER-c1asse e SER-
indivfduo. 0 contato emana destes tres momentos, ora de dentro para fo-
ra, ora de fora para dentro. E a totalidade que cria 0 ser e Ihe da sentido.
Sem totalidade, quebra-se a gestalt e 0 ser nao pode ser plenamente re-
conhecido. 0 ser cronol6gico se expande ao infinito ate chegar ao SER-
metaffsico, onde tudo esta incluido como um fundo criador e se concretiza
ao infinito, quando parte deste fundo indiferenciado se transforma numa
figura clara e visivel.
..-/
---
fotalidade Relativa _
--- -
Universalidade AbsO.l3.
Contato pleno c aquele em que as fUlI~'{jes sensitivas. motoras e
cognitivas se juntam, num l11ovimento dinumico dentroJora-dentro,
para, atravcs de uma consciencia emocionoda, produz.ir no sujeito um
hem-estw; W/10 escolha, uma oP~'c/o reol por si mesmo.
o CicIo da Mudanya e mais um instrumento por meio do qual
podemos visualizar melhor 0 processo de mudanya de uma pessoa e,
de algum modo, segui-Io, no senti do de que 0 CicIo nos oferece uma
compreensao visual mente melhor dos campos em que nos movemos.
A psicoterapia nao tem necessariamente a vel' COl11
a cura, mas sim
com a mudan<,;a, a qual pode Ievar ~t cura. Mudar significa re-significar
coisas, pessoas, e, sobretudo, a pr6pria existencia. Nao e Ul11ato da
vontade apenas, c um ato integrado, envolvendo a pessoa na sua re-
la<,;aocorn 0 mundo como uma totalidade consciente.
Este processo de mudan<,;a ocorre em tres nfveis: sens6rio, motor
e cognitivo. A interdependencia delcs gera emo(oes e afetos que san
determinantes poderosos no surgimento e na compreensao do com-
portamento.
onsciencia Emoc;onao:
G q
~ Nleio Ambiente ---..
/ -- ~
/ pessoa '~
/ /J~ns~~~
--- --.......
(((
i Self y-  
yO' /o~) ) )
  ~0~ C / / /
~ ~ ~esso:- ~ /
"" Meio Ambiente ......--
--
con '0 • ",aoa
SClencia EmoCO"
Codo um destes sistemos tem uma forma de contato que the e
prfJpria e elll!7ora nUIIUl vi.wlo !Jolf."tico. devo-se odmitir que UIIIdestes
sistellwsjallloisfill7ciono isoladwnente, devemos tomhcm afirmor que
(' 0 inter e intradcpclldencio dos tres sistcmos, CIIIUJIIdodo I1lOlIIen{o
Cem UJIIdodo cumpo, que produz. UJIIcon toto !Jleno. Telllos, cntc/o, lUlU!
consciencia emocionwlo de (}fule !WSCC 0 processo de mudunco rcal.
a Cicio da Mudanc;:a supoe, necessariamente, um cicio de cantato, um
processo de inter e intradependencia, on de tudo afeta tudo e on de tudo e
afetado pOl' tudo. a cicio pode ser lido de fora para dentro e de dentro para
fora, onde cada coisa inclui outra e onde nenhuma exclui outra. a contato
pleno comec;:a pela pessoa que esta em um dado campo, onde e afetada
pelas func;:oes sensoriais, motoras e cognitivas. a self toma conhecimento,
experiencia 0 processo em curso, entrando em contato com toda a real ida-
de existente. Comec;:a 0 processo inverso, utilizando uma das func;:oes do eu
partindo para a ac;:ao.Este processo funciona como formac;:ao e destruic;:ao
de novas figuras, pelo qual 0 fundo vai se caracterizando.
Todo proccsso envolvcndo uma mudan<,;a real passa, necessaria-
mentc, pOI' cstes tres aspectos: sens6rio, motor e cognitivo. 0 contato
plcno ,<;6ocorre, e s() ncste caso ocorre mudan<;a, quando a pessoa
vivencia estes tres momentos no seu processo.
E comum as pessoas dizerem: "Eu ja sei isso, pOI' que nao consi-
go mudar?" Uma res posta mais pronta, simples e talvez imediatista
poderia ser: "Porque sua psicoterapia cuida.do pensar e se esquece do
sentiI' e do fazer". A psicoterapia precisa lidar, tluida e criativamente,
com estes tres aspectos, porque corre 0 risco de criar verdadeiras re-
sistencias, verdadeiros obstaculos ao processo de desenvolvimento in-
tegrado da pcssoa humana, quando insiste pOI' demais em um dcstes
subsistemas.
Embora seja possfvel sentiI' que as teorias psicoterapicas estao
passando por sinais claros de mudan<,;a, continuam existindo as psi-
coterapias do sentiI', do fazer e do pensar, porque insistem mais em um
destes processos, descuidando um pouco dos outros. Podemos dizer 0
mesmo da Gestalt-terapia. Existe uma gestalt, prioritariamente, cen-
trada no sensitivo, nas emo<;oes. Existe uma gestalt prioritariamente
centrada no fazel', e na a9ao, e existe uma gestalt prioritariamente cen-
trada no cagnitivo, na palavra, no pensamento. Qual delas e a melbor,
a mais pura? Nenbuma delas. Uma nao e melbar do que a outra, elas
simplesmente san diferentes. Qualquer das tres, porem, deixani de ser
gestalt no momenta em que nao se basear, teorica e praticamente, na
Psicologia da Gestalt, na Teoria do Campo, na Teoria Holistica, e
perder aquilo que e a natureza da gestalt, que e ser existencial, feno-
menol6gica.
A Abordagem Gestaltica esta basead~ no humanismo, no existep-
cialismo e na fenomenologia como fil()sofias de base. Esta baseada na
Psic.:()logiada_Gestalt, na 1'~Q[iacl()C::;1mpo
e no HQlisIll()Organlsmico
como teorias de base.
Qualquer conceito dentro da abordagem gestaltica tern de ser
compreendido e explicado a luz destas teorias. Se isto nao for possivel,
ele nao podera pertencer ao seu campo teorico.
Nao importa se os conceitos de resistencia, transferencia, contra-
trans{ererlcia, inconsciente e self pertencem a outros campos tedricos.
Importa sahel' se eles podem sel' compreendidos e explicados aluz das
teorias antel'iormente citadas. Se sim, eles pertencem tamhem Cl ahol'-
dagem gestaltica, porque nenhum conceito e propriedade exclusiva de
uma ZLniCCI
teoria, pol'que antes de serem propriedades de wna teoria,
sao expressoes da realidade hwnana de cada um. Se nao, devem sim-
plesmente sel' ahandonados.
Em qualquer teoria os conceitos devem funcionar como as placas
de orienta<.;aoem uma grande cidade. E pOl'essas sinaliza<;:oesque nos
asseguramos de estarmos na estrada certa, na rua certa e de que cbega-
remos ao nosso destino. Estes sinais tem cle ser entendidos por toclos
de maneira identica, pois, do contrario, transfonnariam a cidade num
caos, e ninguem cbegaria a lugar algum.
Certas cidades sao de tal modo bem sinalizadas que a margem de
erro para aqueles que procuram um certo lugar e minima. Outras, par-
cialmente sinalizadas, obrigam 0 motorista a colocar sua criativiclade,
inteligencia e percep<.;aoem plena ativiclade, sob pena de nao cbegar a
seu destino.
Entre estas Liltimas, as placas podem tel' diversos defeitos: sao pe-
quenas, mal-escritas, coJocaclas pr6ximas demais ~lbifurca<.;ao,qmll1-
do 0 motorista nao tem mais tempo clevoltar atras, contem inforrnal;oes
em excesso e 0 motorista nao pode Ie-las, contem inforrmll;oes vagas,
gerais, e 0 motorista nao pock decidir etc, etc.
o mesmo ocorre quando queremos pensar teoricamente uma for-
ma de psicoterapia. Algumas teorias sao fartamente sinalizadas, outras
nao. Acredito que a Gestalt-terapia fica a meio caminbo. Embora tenba
um campo te6rico definido, a amplidao de suas teorias de base e filoso-
ficas coloca 0 pesquisaclor em dificuldades para fazer pontes que, ope-
racionalmente, 0 ajudem a atravessar 0 rio de suas dificuldades.
Estas dificuldacles emanam seja cia novidade da teoria, seja da di-
ficuldade de se tel' uma visao gestaltica das· teorias que lbe servemde
base, seja ainda por importar conceitos analogos de outras teorias co-
mo: resistencia, transferencia, inconsciente, self e outros que la san
bem definidos mas aqui precisam de ajustes.
Tem-se, as vezes, a impressao de que muitos autores incluem ou
excluem conceitos a partir de uma discussao do conceito em si, disso-
ciada das liga<;:5esepistemol6gicas que 0 colocam ou nao em um dado
campo te6rico.
Os conceitos de self: de resistencia, pOl' exemplo, nao podem ser
discutidos isoladamente, ou a luz de comparaf'oes entre psicanalise,
relw,:oes ohjetais e gestalt, mas sim a luz de uma concepC;ao huma-
nista, existencial}enomeno1c5gica e da Psicologia da Gestalt, da Teo-
ria do Campo e da Teoria Holistica. Ou os conceitos de self, resisten-
cia, inconsciente e outros sao explicados aluz destas teorias, ou entao
nao se estafalando da Ahordagem Gestaltica, e eles nao servem ao seu
campo te(5rico.
Nao se nega um conceito dizendo apenas que ele nao pertence a
natureza da Gestalt-terapia. Todo conceito retrata ou deveria retratar
um processo humano, que ocorre, conseqiientemente, na pessoa hu-
mana, e as teorias lbe dao um nome. Importam os processos que con-
tern, e nao os nomes que venbam a tel'.Importa, sim, identifica-Ios, des-
creve-l os e operacionaliza-Ios.
E neste contexto que estamos tentando desenvolver 0 conceito de
Contato, visto aqui na sua complexidade como construto e processo.
o eontato pode ser vista como efeito ou como causa em um dado
processo, e ocone sempre em um dado campo.
Somos 0 resultado de nossas rela~oes ao longo do tempo. 0 con-
tato e efeito das rela~oes que mantivemos com os diversos campos em
que nos movemos.
Encluanto b
aer;1aestos sinais 0 contato e fi l~ura pode ser visto
.. b·' , . Co ,
descrito; como fundo, e expressao de nossas introje~6es aeumuladas ao
longo dos cll10S,e simbolizadas peln nosso modo de estar no mundo.
o contato e, portanto, um jeito de ser e um jeito de se expressar.
Ele me faz visivel aos nutros e me remete ~I eamada mais profunda de
mim mesmo, quando tento perce bel' 0 porque do meu jeito de ser.
Estas duas recll idades sao resultados de uma correla<;ao de varia-
veis, que proeeclcnl de diversos campos que atuam na sua formayao e
no modo de sua elabora<;ao com relayao ao lllundo exterior.
o contato n~o surge de uma elabora<;ao intrapsfquica, tipo pensa-
mento-vontade. E lima elaborayao fruto da relayao dinamica existente
na rela<;ao pessoa-mundo, em um dado espayo vital.
o surgimento de um modo de ser, que se faz visfvel no modo co-
I mo fa/cmos contato, e operacionaJ izado pelos tres sistemas basicos de
nos sa estrutura vitctl: 0 sensorio, 0 cognitivo eo motor, os quais, em In-
tima rclayao com Os diversos campos em que nos movemos, somos e
existimos, fazem slIrgir nosso self visfvel atravcs do nosso eu, que e a
instancia manifest<l do contato.
Os sistemas sensorio, cognitivo e motor se inter-relacionam dife-
rentementc com eLida um dos campos: geobiologico, psicoemociona!,
socio-ambicntal e sacro-transcendental.: Os sistemas, como um todo,
ora se relacionam mais com um determinado campo, ora mais com 0
outro, podendo cri~lr possibilidades mLiltiplas de formas de contato en-
tre campo e sistemas e, conseqLientemente, de comportamentos.
Nossa forma de contato e fruto das combina<;6es que, ao longo dos
an os, foram se forl11ando como nossas respostas mais habituais aos es-
timulus de fora. Dependendo, portanto, do modo como cada sistema se
conccta com um dado campo, passamos a produzir um determinado
tipode comportal11ento.
/' Poderemos, por exemplo, hipotetizar que 0 introjetor e alguem
que teve seu sistel11a motor inibido com os "'nao fa<;a isto, nao fa~a
aquilo"; seu sisterrw cognitivo superestimulado com as: "'pense sem-
pre antes de agir, cuidado com os enos." Estes dois tipos de castra~ao
--
~ Neio Ambiente -----
// -- ~
pessoa ~
/ / /
---- -- ~
Campo S6cio-
Ambiental
~i 
( ( (j~
---- ---.......

Self o "U
:::; U>
) )
)~j
  /';;-cco t;a;;;
/
~nd~
~~ Pessoa ~
/
-- -
"-- Meio Ambiente
---
-- -
o espa<;:ovital e composto de campos. Vivemos em campos das ~aneiras
mais diversas. As vezes, estamos mais em um do que em outro. As vezes
estamos claramente em um campo, e, as vezes ainda, os campos se
diluem e temos a sensa<;:aode nao ter nenhum referendal. Numa visao
holfstica, estes campos se inter e intra-relacionam. E a existencia de um
que cria a existencia do outro, como figura e fundo se revezando. 0 con-
tato emana do campo como um todo, porque somas relacionais como to-
talidade dinamica. S6 podemos conhecer uma pessoa, se conhecemos
como ela se expressa nesta matriz unificada que e seu espa<;:ovital. 0
primeiro momenta do contato e 0 campo geobiol6gico, primeiro encontro
com a realidade. 0 segundo momenta e 0 psicoemocional; 0 terceiro, 0
campo s6cio-ambiental e 0 quarto, 0 sacro-transcendental. Quando estes
quatro campos se fundem, 0 contato e pleno, a gestalt perfez seu caminho
e esta pronta para retornar ao fundo.
afetaram imediatamente seu campo psicoemocional, produzindo nele
um medo generalizado, que afetou seu campo s(5cio-ambiental, fazen-
do-o assumir sempre atitudes timidas, prudentes, com dificuldade de
relacionamento e profunda desconfian~a de si mesmo. Poderfamos su-
por mil eombinayoes entre sistemas e campos. Na realidade, a nature/a
ja fez isso ao longo do tempo. E fun(ao da psicoterapia descobrir os
meandros por onde passou e seus acordos silenciosos.
Saude e doen(a seriam, portanto, fruto de combina(oes saudaveis
ou nao-saudaveis entre variados sistemas e campos. Estamos, porem,
longe de poder fazer urn diagnostico real a partir destas combina(oes.
Muita pesquisa ainda sera necessaria para criarmos uma psicotipolo-
gia confiavel a partir destes dados.
nossa verdadeira existencia psicologica e depender do relacionamen-
to... nos somos 0 contato que fazemos. Nos existimos, psicologica-
mente falando, quando contatamos 0 universo" (p. 25). Ele afirma ain-
da que a metapsicologia gestaltica supoe dois principios basicos:
"primeiro, a afirma(ao de que todo comportamento humano deve ser
entendido em termos de forma(ao e destrui(ao de figura e, segundo, a
identifica(ao do sell com aquelas partes do processo de forma~ao e
destrui(ao da figura, envolvendo contato"(p. 23).
As cita(oes se sucedem:
"Onde existe contato, existe self; onde nao existe contato, nao
existe self". "Sell nao e uma especie de objeto, dado que um objeto ou
uma essencia e ilusao. 0 sell e, antes, parte do mundo de processo e
tempo, que so se descobre como experiencia, so pode ser descoberto
em contato" (McLeod, p. 26). "Contato e 0 mundo enquanto dado para
minha experiencia em um dado momenta (Perls, p. 229). "Selte igual
contato com 0 organismo e com 0 ambiente: no momenta de um sell
pleno, organismo e ambiente nao san distingulveis" (McLeod, p. 26).
"Neste 'Contato Final', 0 fundo esta fora de awareness, a figura e tu-
do, e 0 contato e 0 self" (Perls, p. 417).
Goodman diz: "0 sellnao e, de maneira alguma, parte do organis-
mo, mas e uma fLm(aodo campo, ele e 0 caminho pelo qual ()campo
inclui 0 organismo" (Perls, pp. 400-1). "Sell eo sistema de contato no
campo organismo/ambiente" (McLeod, p. 27).
Fica claro, nesta posi(ao, que 0 sell e holfstico e relacional-exis-
tencial. E um processo figural em permanente mudan(a. nao obstante
ser ele que, por meio da uniao de elementos figurais, constitui a indi-
vidualidade e identidade da pessoa, fazendo com que sejamos a cara
dos contatos que fizemos ao longo do tempo.
A segunda posi(ao, tambem discuticla longamente por Perls em
Gestalt Therapy Verbatin, ve 0 sell como um fundo, como um centro
do qual emanam as diversas formas de contato.
Nesta posi(ao 0 sell e um coisa-processo, existinclo por si so. So-
bre esta seguncla posi~ao, escreve McLeod: "De urn modo ou de outro,
os Polster, Latner, Hycner, Frieclman, Tobin e Yontef, toclos eles minam
ou clistorcem 0 sell como contato e, portanto, em certo sentido, en-
fraquecem 0 aspecto holistico e relacional, aspecto essencial a integri-
claclede continua(ao cia Gestalt -terapia" (p. 25).
Neste contexto, a discussao se complica com posi(oes paralelas,
cliferentes e ate contnirias.
"Self' nao e um conceito Licil de ser traduzido em portugues,
porque nao se pocle faze-lo com uma Lmicapalavra. Em ingles, "se(/" ,
e um nome, um substantivo, algo, portanto, com existencia propria e,
em portugues, cleve ser traduzido com a ideia cle algo real, concreto.
o Oxf<IfYJ
Advanced Learner's Dictionary apresenta varias defini-
(oes, entre as quais estas: self'sao "qualidades especiais, natureza cia
pessoa. a natureza mais nobre de alguem". Eo Wehster's Dictionary cia
tambem, entre outras, a seguinte defini(ao: selle "a uniao clos elemen-
tos (...) que constituem a individualidacle e a identiclacleda pessoa".
Ambas as defini(oes nos remetem ao centro cle uma profunda dis-
cussao sobrc a real natureza do sellou cloque se chama "Psicologia do
Self", na qual sobretudo a psicamilise, lung e as Teorias Existenciais
Fenomenologicas tentam fazer suas formula(oes.
Nao e nossa inten(ao entrar nos meandros clestas clistin(oes. Bas-
ta-nos, por ora, ver as contradi~oes internas da propria gestalt no que
diz respeito a teoria do self; e tentH objetiva-lo no contexto do Ciclo
do Contato.
Existem duas posi(oes classicas na literatura.
A primeira identifica sel/com contato, afirmanclo claramente: sell
e contato, contato e sell e, portanto, 0 sell so existe quando se esta em
contato. Esta e a posi(ao assumicla por Perls, HelTerline e Gooclman,
no Gestalt-therapy* (1951), prenunciacla por Perls, em Ego, hunger
and aggression (1946).
McLeod (1993) resume bem esta posi(ao, quando afirma: "a mais
profuncla premissa cia gestalt e que nos nos criamos no nosso contato:
Aqui 0 sell distingue-se do eu e deixa de ser definido como con-
tatoo
Outros autores, como os Polster, identificam 0 self com 0 eu
(McLeod, p. 33); 0 conceito de aH'areness passa a ser fundamental para
a compreensao do sell 0 sell perde seu cantter relacional e passa a
existir como uma fun<;ao figura/fundo, e mais ...
Enfim, 0 sell e lima entidade, extremamente falada e pouco co-
nhecida. Acredito que 0 selltem sido discutido em si, como se pudesse
ser figura e fundo ao mesmo tempo, sem uma distin<;ao clara que per-
mita reconhecer sua verdadeira natureza relacional.
Para nos, 0 selle um sistema cia personalidade, cuja fun<;ao e colo-
car-se alternativamente como figura e/ou como fundo nas rela<;oes com
o mundo exterior. Colocado no centro do cicIo, e agente de contato,
subjetivo e objetivo, produz e sofre contato e, neste sentido, e contato.
Expressa-se via mecanismo de regula<;ao organfsmica, sendo ora sau-
delvel, quando estes mecanismos que dele dependem se encontram em
posi<;ao de autb-regula<;ao com 0 universo, e ora doentio, quando 0 uni-
verso esta, do ponto de vista energetico, influenciando negativamente
estes mecanismos, afctando, assim, sua pr6pria unidade relacional.
() self, portonto, C' Iwlistico C0lJ10sistema de contato organislJ1o-
ambiente, e e relacional, enquanto ,'I) existe para se relacionw; sendo
o relaciOlwr-se sllafimr({o 011propriedade primordial. Neste sentido,
1U10 exisle self 170m ou mall, fLtlSO ou 'erdadeiro, existe self que C' um
continuo energhico entre orgonismo e mundo, podendo expressar-se,
via mecanisl710 de regular({o organismica, de llnw maneira l71ais ou
menos .wudcll'el.
Fluidez
IxaC;:3o
Ambiente
o cicio deve ser concebido como um sistema dinamico, como uma
unidade relacional de operaC;:30 de mudanc;:as, onde cada ponto contem
todos os outros, funcionando como passos do contato em direc;:ao a cura,
teoricamente, comec;:ando em "retirada" na direc;:ao do rel6gio.
Interac;:ao
Pro
o contato e fun<.;aodo self: 0 selt~ portanto, torna-se mais presente
sempre que 0 contato na fronteira se faz mais presente. Self' e contato
funcionam como figura e fundo, de tal modo que 0 sistema selldecorre
au se torna mais presentena razao em que e afctado pela realidade ex-
terior.
o contato is0 alimento permanente do sdl tendo 0 selfuma ante-
cedencia ol1to16gica em rela<;ao ao contato. Cronologicamente falan-
do, poderiamos cli/er que 0 s('ll e contato, e contato e self: e que um
justifica a existencia do outro, Como figura e fundo que se sucedem na
razao em que neeessidades se fazem mais urgentes e preferenciais.
o cicIo do contato s6 pock ser entendido, neste contexto, como ex-
pressao de um sistema, de um campo vital total, tornando visfvel um
processo no qual 0 self organiza sua pr6pria auto-regula<;ao, por meio
de mecanismos que san sua for<.;ae cxpressoes principais, podendo, ao
mesmo tempo, desorganizar-se como sistema, quando as for<.;as do
munclo 0 invadem sem the deixar chance cle clefesa.
Sylvia Crocker cliz que 0 s('ll6 a alma e a psique humana. Eu nao
faria tal afinna<;ao. 0 sell e um sistema, como uma matriz produtora
de variados processos. Emamt cia alma, e uma propriedade, tal como a
inteligcncia e a memoria, que produzem uma serie de processos coe-
rentes com sua natureza.
A alma e nossa esscncia. Tocla esscncia tem propriedades por meio
das quais se faz inteligfvel. 0 propriwn emana natural mente da esscn-
",...- --....
( 
 Self)
'....•..... ../
cia, de tal modo que negar uma propriedade e descaracterizar a essencia.
Euma rela~ao de extrema e absoluta interdependencia, funcionando urn
com rela~ao ao outro como figura e fundo de uma totalidade maior.
quando dizemos: eu sinto, eu penso. 0 sentido das coisas e de nos mes-
mas emana dele. £'0 retrato que fazemos de nos mesmos.
o self nao e a alma, mas e a sua mais essencial propriedade. Nao
e a alnla, porque a alma nao muda do ponto de vista de sua essencia,
({()IH/SSOque 0 self muda ao longo dos anos. £, como 0 sorriso. Per-
IIwnecendo essencialmente 0 mesllw do ponto de vista da defini~'ao,
vai mudando ao longo dos tempos. Assim eo self. £, relacional, pOl'na-
tureza, pois foi feito para estar permanentemente elll contato, assu-
mil/do, inc!usive,fonnas vislveis de arao, cO/noprojerao e introje~·ao.
o sclf e nosso espelho existencial e 0 modo como a alma se deixa
va e se revela. A alII/a ('0 1I0SS0
princlpio vital essencial, 0 self e a ema-
l/a~Iio desse princlj)io I'ital e, I/esse sentido, 0 self "ao pode nao so; ele
(' como a alllw. COll1!l
pmpriedade. nascell/os com ele, e ele se desen-
vo/'e ao longo dos anos de acordo com os contatos quefazel1/Os.
o selfe 0 lado invisivel do eu. 0 self sente, 0 eu age. Age as vezes
em consonancia com 0 self, e as vezes a revelia dele. 0 eu e urn exe-
cutor do sel}: Quando ele percebe 0 que 0 se(j'quer ou sente, entra em
a~ao. Esta sempre a servi~o do self 0 eu e corporal no sentido de que
atraves do corpo ele se faz visivel, revelando 0 centro das coisas,
emo~6es, sensa~6es, 0 imediato da vontade. 0 eu revela 0 self
o cicIo de contato com 0 self no centro e a expressao mais afir-
mativa de seu aspecto relacional e da totalidade vislvel nas diversas
formas que 0 contato assume como expressao da pessoa humana.
E aqui que surge 0 "eu", como 0 lado vislvel do self; como 0 ad-
ministrador das energias do self E de novo aqui poderiamos dizer que
entre selle eu existe uma rela~ao de figura e fundo, sendo 0 eu a figu-
ra na frontcira da rela',:ao selrmundo, e 0 selfo fundo, cuja permanen-
cia permite ao eu pautar-se com normalidade diante do mundo. Self e
eu ficam em paz quando a auto-regula',:ao self~eu-mundo encontra-se
sob medida.
o Cicio 6, portal1to, concebido como um sistema seIFeu-mundo.
Permite-nos leI' a real idade pOI'intermedio dele, bem como entender 0
processo pelo qual este sistema foi se estruturando ao longo do tempo.
Revela um processo de relacionamento entre 0 self; 0 eu e 0 mundo,
partindo de um processo mais primitivo, fixa',:ao/fluidez, para uma for-
ma mais complexa de estar no mundo, confluencia/retirada.
Eu e self sao como figura e fimdo: insepaniveis. Constituem um
grande campo, dinamicamente interligados, trabalhando em Intima,
contInua e profunda relaf,;Iio.S() pOI' abstraf,;'aopodem ser pensados
separadamente. Um permite a existencia do outm. 0 self e wna ma-
triz. Coloca-se em Intima relac;aocom os mecanismos de equilibrac;ao
organlsmica, os quais, por sua vez, ora silo saudaveis, quando fim.-
cionam como protetores naturaLI' da relarilo self-eu, ora nao sao
saud(iveis, quando se transfc)rmam el/1 verdadeiros anteparos, ver-
dadeiras dej'esas neuroticas do eu, sem nunca deixw; entretanto, sua
funf,;'ilode um ajustamento criativo, embora de UI1Wmaneira disfun-
cional.
o self e UII/sistema central. interiot; como uma coluna vertebral.
£'0 lugar onde ocorrem as emof,;'i5es,
as sensac;()es mais profimdas. £,
o lugar onde sentimos as coisas. £, (l slntese daquilo em que nos tor-
nalnos ao longo da vida. £, nossa auto-imagem, e aquilo que sentimos
Ambos estao em intima rela~ao com 0 mundo, com 0 ambiente. 0
self esui em contato com 0 mundo por intermedio do eu, 0 qual fun-
ciona como uma seta lan',:ada a procura de um novo e definido objeti-
vo: ora a procura apenas do diferente, e ora como um anteparo em de-
fesa do sell 0 mundo existe e 0 ell se coloca, numa fun~ao
equilibradora, entre as for~as do mLlndoe as sensa~6es do self Neste
contexto, surgem os mecanismos de defesa do eu, isto e, pertencentes
ao eu. Nao e 0 eu que se defende, 0 eu defende 0 selfde uma ansiedade
emergente, de um temor incontrolavel, de uma alegria despropor-
cional. E fun~ao do eu a auto-regula~ao do organismo. Por raz6es des-
conhecidas, 0 se({passa a ter seus segredos. Sente e nao se manifesta,
tem vontade e se cala, esta com medo e nao pede socorro. Nestes ca-
sos, 0 eu fica impotente, nao aciona suas defesas e ate acredita que 0
self'vai bem, e ai tudo pode acontecer. 0 se({ se enfraquece cada vez
mais e, quando pede socorro ao eu, 0 eu esta tao distante que quase na-
da pode fazer, quer ajudar e nao con segue. Suas defesas se enfraque-
ceram, pOl'que tudo parecia tao igual que ele nao sentia 0 aparato em
perigo.
Desajuste, ao contrario, e a interrup<;ao do contato como fluxo e
eHivitais, e boicote ao processo que esta no centro da natureza humana,
como expressao do encontro de diferentes realidades, onde uma se so-
brep6e a outra, tent ando destruf-Ia.
Varidveis psieoh5gieas e n[io-psieol6gicas s[io igualmente deter-
minontes do eomportol1lento hlllnono. Na verdade, embora distintos,
self-eu-mundofonnam uma trindade na qual 0 prinC£pio regulador de
tudo, 0 vido, quc os inunda, ('a cncrgia unitleadora dos tres, a qual es-
t/! prescnte elll todos os eoisos, produzindo scmelhan(.>ase diteren("as
entre clas.
Contato e um ato de autoeonsciencia totalizante, envolvendo um
processo no qual asfuJ1l;:oessensoriais, motoras e cognitivas se unem,
em complexa interdependencia dinlimica, para produzir mudanr;as na
pess(w e na sua relar;iiocom 0 mundo, atraves da energia de tran~for-
mar;iio que opera em total il1tera("iio,na rela~'iiosujeito-objeto.
o contato pleno, fruto desta totalidade fenomenica, e, por na-
tureza, mobilizador, parque envolve intencionalidade e responsabili-
dade.!Uma vez estabelecido, as partes envolvidas ficam em dependen-
cia uma da outra, como metades dc uma realidade unica, como figura
e fundo em um processo de percep<;ao.
Na natureza do contato estao incluldos valores, desejos, nega<.;6es,
mem6rias, antecipa<.;6es,que operam no momenta em que 0 encontro
se da, e que estao operando sempre, num nlvel nao consciente, pOl'uma
matriz mental, intema, subjetiva, como uma antecamara onde 0 en-
contro eu-mundo ocorre primeiro.
Nossas rea<.;6espassam inconscientemente par esta matriz, antes
que delas sejamos conscientes, e sao produto desta rela<.;aomatriz-ob-
jeto-percebido, mental ou fisicamente. Estamos, portanto, de algum
modo, sempre em contato com nosso mundo interior e exterior. Nos-
sas a<;6es sao necessariamente resultado de valores anteriormente
aceitos ou rejeitados, que, de algum modo, dao sentido a percep<.;aode
nossa realidade extema e a nossa percep<.;aoimediata, enriquecida ago-
ra da totalidade fenomenicaintrojetada, Isto nos permite ressignificar
a realidade encontrada como fruto a priori de nossos valores, e da plu-
ralidade de rela<.;6espr6pria da natureza percebida no aqui e agora ime-
diatos.
No contato, portanto, me divido entre observador da realidade ex-
tema, a qual, por sua vez, me observa, me influencia, e observado, en-
quanta observo a mim mesmo, procurando me distinguir do mundo fo-
ra de mim. Assim, 0 contato ocorre sempre, sobretudo na fronteira,
como lugar de encontro das diferen<.;as.Por outro lado, na razao em que
mergulho minha realidade na realidade do outro, e you extinguindo as
o contato, antes de tudo, contcm a idcia de uniao e separa<.;ao,de
tal modo que uniao e separa<;ao sao fun<.;{Ses
de contato; isto e, nao e
posslvel pcnsar 0 conccito contato sem pensar nos conceitos de uniao
e separa<.;ao.0 modo como as pessoas se encontram ou se desencon-
tram revela a profundidade de seu engajamento numa rela<.;ao,que tor-
na vislvel 0 grau eo nlvcl de equilibra<.;aoorganlsmica que elas condi-
videlll, e que procede do processo de uniao e separa<.;aocom que se
relacionalll. Se se conhece 0 modo como alguem faz contato, conhece-
se tambcm 0 nlvel de encontro e separa<.;aocom que se aproxillla das
cOlsas ou pessoas.
Por meio do contato posso pensar minha existcncia e a do outro,
pois fazer contato sup6e, de um lado, que eu possa me vel' como indi-
vlduo, como um ser separado, sozinho no universo, e, de outro, que 0
n6s 6 a confirllla<.;aoda existcncia de uma comunhao maior..Quando
estOLis6, posso estar em con[ato comigo mesmo ou nao; quando estoLi
com os outros, posso estar em contato com eles ou nao, embora, ate
certo ponto, esteja sempre em contato com 0 oLitro,independentemente
de minha vontade.
Crescimento e fun<.;aodo contato, nao se podendo pensar contato
sem que, impJicitamente, se pense em crescimento. Para que isto ocor-
ra, e preciso, espontaneamente, deixar-se levar pelo fluxo do encontro
com 0 outro, com a vida, e acreditar no contato como gerador de mu-
dan<.;ase de possibilidades novas, POI'meio do contato, encontro-me
com minha coragem, meus medos, minha esperan<.;a.Atraves dele me
reconhe<.;oposslvel e viaveI.
rclac;6es subjetivas eu-mundo dentro de mim mesmo, perco minha in-
dividualidade, e 0 senti do de minha individuac;ao. Posso, entao, termi-
nar cont1uindo neuroticamente com 0 mundo fora de mim. 0 contato
deixa de ser urn processo transformador positivo para se tornar negati-
vamente transformador.
A fronteira e 0 lugar do encontro de forc;as e energias diferentes,
independentemente de sua qualidade. 0 contato de duas pessoas, uma
em Brasflia e outra no Rio de Janeiro, por telefone, e, normalmente,
menos intenso do que aquele de duas pessoas em urn aeroporto, ao se
reencontrarem em urn abrac;o gostoso, ap6s anos de distanciamento.
o contato efruto da rela(,"aode diferen(,"aeu-mundo, eu-no-mun-
do. Sfntese harmoniosa de diferen~:as, torna-se ul71afor~'a transfor-
madora porque traz, no seu processo, elementos huscados na seme-
Ihan~'a existente entre seres diferentes e cujas energias cOT(f7uemna
produ~.·aode um terceiro elemento lU1.ificadOl:
Em um processo de slntese, quanto maio resforem as di{eren(,"as,
tanto I1wior sera a energia de mudwl(,"a e de transjornw(,"ao ali pre-
sente, salvaguardada a questao da intencionalidade entre ohjetos de
diferente natureza, pessoa e coisas. Quanto mais a energiafluir deste
encontro de diferenras, tanto mais intenso 0 contato se fara. A ener-
gia fluira tamhem na medida em que duas ou mais pessoas se encon-
trem, movidas pelo engajamento de suas fun~'i5es sensoriais, motoras
e cognitivas, na consecu~'ao de llIn mesmo objetivo. Quanto mais as
pessoas se encontrarem como totalidades vivas, tanto mais 0 contato
ocorrera e a trans{ormarao seguira 0 seu curso.
Duas realidades de diferente natureza, portanto, jamais entrarao
em contato, no sentido aqui exposto, porque, por natureza, nao poderao
construir uma totalidade ou unidade fenomenica, exceto se, ao menos
uma delas, puder se relacionar no nIvel de intencionalidade: por exem-
plo, uma pessoa e a manha, uma pessoa e uma arvore. Caso contrario,
elas tocarao uma na outra, estarao uma no lugar da outra, uma ao lado
da OLltra,conservando, porem, sua identidade e unidade internas ante-
nores.
Eimportante lembrar que se faz contato sempre que duas ou mais
pessoas se encontram, independentemente de sua vontade. A vontade
de encontrar-se altera a qualidade do contato. Ha encontros de exce-
lente qualidade e ha encontros de pessima qualidade. 0 encontro e
func;ao da qualidade do contato. 0 princIpio de que, quanto maiores
forem as diferenc;as tanto maior sera a energia de mudanc;a e transfor-
ma<;;aoali presente, vale tanto para 0 contato positivo quanta para 0 ne-
gativo, dependendo dos objetivos do encontro.
o eu esta mais atento quando, no seu processo decis6rio, depara
com diferen<;;as. E 0 diferente que aciona 0 eu. Diante do risco, da
amea<;;a,do improviso, 0 eu detona todos os seus alarmes a procura da
solu<;;aomais rapida e ecollomica. 0 encontro entre diferentes pode,
normalmente, ser mais nutritivo e criativo que entre iguais. Neste ca-
so, 0 eu dorme tranquilo, porque no estado de tudo igual, ou de nao
amea<;;a,seus mecanismos de defesa estilo programados para lidar com
a rotina. Nao se encontra sob ameac;a ou sob a condic;ao de ter de es-
colher algo eventualmente perigoso.
o processo psicoterapeutico deve facilitar um processo de di{e-
rencia(,"aoda realidade, com abertura total de horizontes, no qual a
pessoa pense diferente, deseje di{erente, se sinta diferente e aprenda a
Quando llIn contato plow ocorre, os elementos anteriores com-
ponentes do contato se /7lodificwn, porque ahsorvel11processos de uma
outra realidade. 0 contato e uma totalidade diferente das partes que
o comprJem.
A fronteira e 0 lugar privi1egiado do encontro das diferenc;as.
Quanto mais pr6xima e uma fi-onteira, mais se concentram al energias
de protec;ao, mudan<;;ae transformac;ao. Quanto mais alguem se apro-
xima da fronteira de urn pais, por exemplo, mais deve estar atento as
forc;as de prote<;;ao,ao patrulhamento proprio dos lugares de risco.
Atravessar afronteira de alguma coisa ou de alguem significa en-
trar no terreno, no corpo, na alma, nos pensamentos do outro, talvez
ate tomar posse do desconhecido,' e passar a conhecer como 0 outro
tida com 0 mais fntimo de si mesmo, e adentrar no misterio do outro
de umaforma sel11retorno.
correr riscos, de tal modo que erie, em sua vida, formas de cantata
mais nutritivas e eficientes.
pessoa e ao campo total no qual esta existe. Doen<;:ae fen6mcno COIIIO
processo; como dado, cxistc em alguem, e nao como realidade em si
mesma. Por isso, nao deverfamos tratar a doen<;:ae sim a pessoa adoe-
cida, na qual a rela<;:ao
harmoniosa entre os campos se quebrou. E neste
contexto que se entende a expressao de Fritz Perls: "Eu nao tenho um
cora<;ao doente, eu sou um cora<;:aodoente", pOl'que e a totalidade que
acontece.
Tentando ampliar 0 conceito da natureza do contato, acredito que
podemos, para compreender a natureza da psicopatologia e da psi-
coterapia, fazer uma ponte entre contato e dialogo, na visao buberiana.
Bubel' afirma quc, para que 0 dialogo autentico ocorra, sao
necessarias algumas condi<;aes:
Abertura: uma visao inocente para 0 OLltro,na qual 0 conhecimen-
to nao ponha barreiras ao encontro.
RecifJrocidade: uma entrega descompromissada e confiante na
realidade do outro.
Presen~'a: uma entrega a experiencia imediata na aceita<;:aoda to-
talidade do outro, coisa ou pessoa, deixando-se acontecer.
ResfJonsabilidade: uma visao do outro como vejo a mim; uma en-
trega e uma resposta cspontanea na certeza de quem eu sou e na cren<;:a
de quem 0 outro e.
Acredito tambem que 0 contato pleno precisa destes quatro mo-
mentos: abertura, reciprocidade, presen<;:ae responsabilidade.
Acredito que saCldee a soma destes quatro momentos, e acredito
tambem que doen<;a e uma pane em um destes sistemas.
Como fica a totalidade corporal quando 0 corpo perde a abertura,
perde a reciprocidade, perde a presen<;a, quando perde a responsabili-
dade, ou quando perde tudo? Poderfamos ate imaginal' quais seriam as
doen<;:asda abertura, as da reciprocidade, as da presen<;:ae as da res-
ponsabilidade, quando 0 corpo perde contato com uma destas dimen-
saes existenciais, impedindo um dialogo entre elas e 0 mundo da ob-
jetividade.
Este gancho entre dialogo e contato pode nos remeter a verdadeira
natureza da saude e da doen<;a quer tendamos a vel' estes dois feno-
menos como realidades fenomenicas separadas, quer como um con-
tinuo, onde, a partir de um ponto de equilibra<;:ao,a realidade da rela<;:ao
eu-mundo come<;:aa modificar-se.
Na razao em que a pessoa aprenda a fazer contatos reais, nos quais
seu mundo encontre por inteiro 0 mundo do OLltro,ela aprende a sele-
cionar 0 que e bom para si mesma. Uma pessoa com dificuldade de
contato raramente sabe escolher.
Contato e mudan<;:asao elementos basicos e interiores de qualquer
forma de psicoterapia. 0 processo de mudan<;:aocorrera na razao em
que psicoterapia e cliente fizerem contato com suas totalidades e nao
apenas com seus sintomas.
Esta totalidade e, muitas vezes, quebrada pelo cotidiano, pela roti-
na, porque, habituados a dar sempre as mesmas respostas, tenninamos
pOl'nao discriminar mais 0 que sentimos, fazemos ou dizemos. 5im-
plesmente repetimos. E nesse contexto que entram as diversas formas
de interromper 0 contato, as quais, quando contfnuas, repetidas e per-
turbadoras, se tornam as chamadas resistCncias ou mecanismos de de-
fesa, formas desesperadas de manter, a qualquer custo, a rela<;:ao01'-
ganismica eu-mundo como tentativa de uma equilibra<;ao possfvel.
A resistencia como mecanismo de defesa do eu e uma forma de
contato., Nao e nossa inten<;:ao,no entanto, tratar aqui a quesUio da re-
sistencia em si, a qual nos interessa apenas como um mecanismo de-
sequilibrador de um processo saudavel no CicIo de Contato e Fatores
de Cura.
Contato e sauck. Sauck e contato em a<;:ao.Qualquer interrup<;:ao
do contato implica uma pcrda na sauck.: Contato e processo de auto-
regula<;ao organfsmica. Doen<;a significa interrup<;:ao do contato em
um dos quatro campos que compaem 0 espa<;:ovital da pessoa: cam-
pos geobiol6gico, psicoemocional, socioambiental e sacrotranscen-
dental.
A docn<;a implica a perda da totalidade O1'ganfsmica, implica uma
necessidade nao satisfeita, implica um grito de retorno ao meio da
estrada. A doen<;:ae relacional. Nao existe doen<;:aem si, pois se a
doen<;:ae ncga<;ao de parte da energia de uma totalidade, admiti-Ia em
si e admitir a existencia do nada. Na morte ocorre exatamente isto: per-
da da energia total e conseqLiente retorno ao nadel.
A doen<;a e nega<;:ao,e subtra<;:aode energia em um campo total,
em um subcampo ou subsistema em particular. A doen<;a, portanto, ou
o sintoma, nao deve ser considerada em si, mas sempre em rela<;:aoa
Eeste 0 contexto teorico em que entendemos realizar-se uma con-
cep~ao de vida, de existencia, a partir do conceito "contato".
A teoria gesUiltica esta centrada no conceito contato, 0 qual, por
sua vez, se faz compreensfvel a partir da dinamicidade do conceito de
forma~ao e destrui~ao de gestalts. Na realidade, porem, nao basta for-
mal' e destruir gestalts; e importante fecM-las. So quando se fecha uma
gestalt, 0 processo seguiu seu curso, e 0 contato pode ser senti do co-
mo excelente, porque nada ficou em aberto.
Fechar gestalts e a caminho da saude, pois quanto mais gestalts
inacabadas se tern, menos saudavel se e, e mais pobre e 0 contato. De
outro lado, fechar gestalts significa encontrar a propIio sentido, a
propria fisionomia: e tornar-se senhor de si mesmo.
definida por nos como a mais completa e plena forma de contato. Estes
passos ou processos sao chamados, indistintamente, na Iiteratura, de
Fatores de Cura, Mecanismos de Cura ou Fatores Psicoterapeuticos.
Rica no que diz respeito aos Fatores de Cura, embora tenha grande
dificuldade em defini-los, a Iiteratura chegou a identificar 220 proces-
sos, sobretudo na psicoterapia de grupo, os quais poderiam ser chama-
dos de Fatores de Cura. Existem, no entanto, alguns fatores de cura ja
universalmente consagrados, como: Aceita~ao, Altrufsmo, UniversaIi-
dade, Insight, Transferencia, lntera~ao, Catarse, Aprendizagem
Vicaria, Coesao, Auto-revela~ao (Crouch, 1987).
Ao apresentarmos este Ciclo, e ao chmm'l-lo de CicIo de Fatores
de Cura, estamos deixando uma nomenclatura cIassica e univer-
salmente reconhecida, para adotarmos, formalmente, cada passo do
Ciclo do Contato como Fatores Psicoterapeuticos. Estamos afirmando
que, assim como "universalidade", "catarse" ou outros fatores sao re-
conhecidamente fatores que provocam mudan~a e, as vezes, cura, tam-
bem "tluidez", "sensibiliza~ao" e outros sao considerados por nos na
mesma dimensao.
Entendemos que Fatores de Cura ou Fatores Psicoterapeuticos,
quando ocon'em em psicoterapia, tern urn alto potencial de provocar
mudan~as, de alterar comportamentos, de afetar a propria natureza da
personalidade. Entendemos tambem que cada passo do Ciclo de Con-
tato, quando experienciado plenamente, promove mudan~as e predis-
poe a pessoa para continuar na procura do contato total consigo mes-
ma, no mundo. Entendemos que 0 ciclo-como-um-todo representa a
caminhada de "fixa~ao/f1uidez" para "conf1uencia/retirada", na qual a
pessoa se reviu como ser-no-mundo e ser-do-mundo para uma posi~ao
plena de ser-para-o-mundo.
Os processos de cura anteriormente referidos tern sido mais estu-
dados na situa~ao de psicoterapia de grupo. Podemos, no entanto, afir-
mar com certeza que, exceto Coesao Grupal, todos os outros mecanis-
mos ocorrem, a seu modo, na psicoterapia individual, com a mesma
intensidade e for~a de transforma~ao. Se pensarmos na "alian~a tera-
peutica", talvez possamos afirmar que a propria "coesao" tambem
ocorra na psicoterapia individual.
Crouch (1987, p.4) define Fatores de Cura como: "Urn processo
individual ou grupal, que contribui para a melhora da condi~ao da pes-
soa, em dependencia direta, as vezes, da a~ao do proprio cliente e, as
. Para que urn contato real entre uma pessoa e outra ocorra e pre-
ClSO: I. que a pessoa sinta sua singularidade, veja-se como diferente do
outro e atc, numa dimensao maior, perceba-se como unica, singular, no
universo; 2. que se sinta no aqui e agora e perceba que 0 tempo e 0 es-
pac,:opadem se tamar alga cancretamente dispanfvel para ela; 3. que
se perceba inteira, coma consciencia de sua propria realidade e da rea-
lidade do outro.
A oworcncss, consciencia da propria consciencia, ou cansciencia
reflexa, forma mais campleta de contato, fruto da imersaa consciente
e total da pessoa na sua rela<;ao com 0 mundo, emana da iun~ao
dinamica desses tres momentos. .
A literatura gestaltica fala de nove mecanismos de defesa ou re-
sistencias. Falta, porem, muito para se saber a verdadeira natureza
desses mecanismas. Pouqufssimas pesquisas tem sido conduzidas no
senti do de validar sua existencia, de compara-Ios um ao outro e de co-
Iher, '.1apratica, sua utilidade e 0 modo como eles funcionam na per-
sonahdade.
o Cicio do Contato, vista por nos como Cicio dos Fatores de Cu-
ra e Bloqueios do Contato, nos da uma visao das diversas formas que
o contato assume em urn processo pleno, com comec,:o, meio e fim,
rnostrando a dinarnica da polaridade saude e seus bloqueios. Cada mo-
mento do CicIo e visto como passos de saude, ou na dire<;ao da saude,
Vl'zes, do psicoterapeuta", Embora esta defini<;:ao seja de urn dos
maiores especialistas no tema, penso que nao contempla aspectos im-
portantes da natureza da questao,
nascem de uma reflexao e experiencia pessoais, e de pesquisas clfni-
cas, na tentativa de visualizar 0 processo psicoterapeutico como algo
que possui uma logica interna e pode ser demonstrado, servindo de ins-
trumento e modelo de trabalho. Cheguei a ele pOl' uma integra<;:ao,
longamente pensada, do trabalho de diversos autores.
o cicIo esta constitufdo da seguinte maneinl e com as seguintes
caracterfsticas:
1. Traz as nove formas de resistencias ja apresentadas, ao longo
dos anos, por Perls, ZinkeI', os Polster e Crocker, embora apenas cinco
destes mecanismos (introje<;:ao, proje<;:ao, confluencia, deflexao e
retroflexao) tenham sido consagrados pela literatura em Gestalt-tera-
pia, nos Estados Unidos.
2. Apresenta nove formas pol ares a estes mecanismos como Fa-
lores de Cura, incluindo os processos do CicIo de Contato de J. Zinker,
(1979, p. 84), repouso/retraimento, sensa<;:ao,consciencia, mobiliza-
iao, a<;:aoe contato; traz ainda " satisfa<;:ao", de P. Clarkson (1989,
p. 50), e eu acrescento "tluidez e interac,;ao". .
3. 0 CicIo fecha uma gestalt, urn programa. Pode ser concebldo
como urn paradigma, um modelo para se pensar a psicopatologia do
sintoma, 0 psicodiagnostico e, ao mesmo tempo, como um prognosti-
co, visando ao processo de mudan<;:ae de cura.
4, A cura, a l11udan<;:a,
e concebida como fun<;:aodo contato, como
;Jigorelacional entre pessoa-mundo e bloqueio-fator de cura.
5. 0 self ocupa 0 centro do cicIo e e concebido como um lugar-
processo. Atraves do eu, 0 self se localiza no mundo e e 0 centro de
('onvergencia da personalidade, e a propriedade pOl' meio da qual os
comportamentos se revelam.
Para nos: FCltorde Cura e um processo pOl' meio do qual a pessoa
experiencia, ern um momento dado, uma sensaf'ao de que algo novo,
portador de mudanra e de bem-estar, penetrou no seu llniverso cogni-
tivo, e, atraves de llma consciencia emocionada, provocada pela per-
ceprao de uma totalidade dinamicamente tranl!ormadora, .Iesente in-
clinada, motivada, f(Jrtalecida para mlldar.
o fator de cura, como momento maior do contato, do dialogo e da
mudan<;:aenvolve alguns elementos basicos:
I. Um universo cognilivo. Vel', observar e descrever para si a
propria realidade facilita uma aten<;:ao
que interfere no processo de per-
cep<;:aoe descnvolve a aptidao para mudar. A pessoa precisa localizar-
se na sua rela<;:aocom 0 sintoma, sobretudo porque a mudan<;:aocorre
como resultado de uma procura interessada, constante e inteligente,
pois quando nao se procura, nao se cncontra. Supoe ainda envolver-se
com as proprias duvidas, certezas e verdades como partes do proprio
cotidiano.
2. Uma consciencia emocionada. Nao basta so 0 pensar. 0 pensar
com emoc,;aoajuda 0 descobrir e, juntos, pensamento, emo<;:aoe a<;:ao
possuem a forc,;ada mudanc,;a.
3. Uma IOlalidade dinamicamente transf(mnadora. A totalidade
precede sempre a consciencia plena, Uma vez alcanc,;adaa totalidade,
esta leva a conscicncia, que, pOI'sua vez, provoca a intencionalidade
que predispoe para a l11udanc,;a,
porque juntos, ao mesmo tempo, dese-
.io e a<;:ao,
elementos basicos no processo de transforl11a<;:ao.
Para ciaI'UI11
unico exemplo, tOl11emosum dos conceitos mais eo-
nhecidos entre os fatores classicos clecura: a "Universaliclade" ocorre
quando esses tres elementos se interligam; pOI'exemplo, quando al-
guem no grupo, ao vel' pessoas falando de sua dor, de seu sofrimento ,
de sua impotencia, entencle, emocionalmente, que nao e a unica que
sofre, que se sente impotente no universo, e, a partir daf, sente-se ali-
viada, esperan<;:osa,com coragem para mudar. Tal sentimento, produ-
tor de mudan<;:a,de cura talvez, e 0 que chamamos de Fator de Cura.
o CicIo e sua teoria, no modelo aqui apresentado e desenvolvido,
o ciclo eo espaf'o vital total de uma pessoa, de um grllpo, de um
II/gl/t; de uma empresa. Ele revela as mil possibilidades dentro das
'1l/llisa realidade, pessoa ou coisa se expressam. Este modelo aplica-
II' IlIl1toaparte dinica quanta Cl orgonizocional. Tambhn umo empre-
Iii, ('(1/110 um todo, tem lll11
self, pode .IeI'deflectora, projetora, e tom-
11,'11/
((Ii 0 contoto estara sendo interrompido, bloqueodo, como se
'"{I'l'mmpe e .Ie bloqueio em umo pessoo,
Cura: fluidez, sensa~ao, consCIencia, mobiliza~ao, a~ao, intera~ao,
contato final, satisfa~ao, retirada.
As defini~6es que se seguem, tanto as dos Fatores de Cura quan-
to as dos Bloqueios do Contato, passaram por uma valida~ao, seguin-
do os passos: 1. defini~ao do dicionario da lfngua portuguesa; 2.
defini~ao de diciomirios especializados na area; 3. compreensao da
defini~ao por pessoas da area; 4. compreensao da defini~ao texto por
diferentes tipos de possiveis usuarios.
FLUIDELProcesso pelo qual me movimento, localizo-me no tem-
po e no espa~o, deixo posi~6es antigas, renovo-me, sinto-me mais solto
e espontaneo e com vontade de criar e recriar minha propria vida.
SENSA~~AO:
Processo pelo qual saio do estado de fi-ieza emocional,
sinto melhor a mim mesmo e as coisas, estou mais atento aos sinais que
meu corpo me manda ou produz, sinto e ate procuro novos estimulos.
CONSCJl~NCIA:
Processo pelo qual me dou contI de mim mesmo
de uma maneira mais clara e reflexiva, estou mais atento ao que ocorre
~l minha volta, percebo-me relacionando com mais reciprocidade com
pessoas e coisas.
MOBILlZA~:AO:
Processo pelo qual sinto necessidade de me mu-
dar, de exigir meus direitos, de separar minhas coisas das dos outros,
de sail' da rotina, de expressar meus sentimentos exatamente como sin-
to e de nao tel' medo de ser diferente.
Ae,:Ao:Processo pelo qual expresso mais confian~a nos outros, as-
sumo responsabilidades pelos meus proprios atos, identifico em mim
mesmo as raz6es de meus problemas, ajo em nome proprio sem medo
da minha propria ansiedade.
INTERA~:AO:
Processo pelo qual me aproximo do outro sem esperar
nada em troca, ajo de iguaI para igual, dou pelo prazer de dar, convivo
com as necessidades do outro sem esperar retribui~ao, sinto que estar e
relacionar-me com 0 OLltrome ajuda a me perceber como pessoa.
CONTATO
FINAL:
Processo pelo qual sinto a mim mesmo como mi-
nha propria fonte de prazer, nutro-me do que gosto e do que quero sem
intermediario, relacionando-me com as pessoas de uma maneira dire-
ta e clara, usa minha energia para usufruir c.om0 outro 0 prazer do mo-
mento.
SATISFA<;:Ao:
Processo pelo qual vejo que 0 mundo e composto de
pessoas, que 0 outro pode ser fonte de contato nutritivo, que 0 prazer
e a vida podem ser co-divididos, que pensar em possibilidades e pen-
sar em crescimento, que e possivel desfrutar dividindo e que 0 mundo
fora de nos pode ser fonte de prazer.
RETIRADA:
Processo pelo qual saio das coisas no momenta em que
sinto que devo sair, percebendo 0 que e meu e 0 que e dos outros, aceito
ser diferente para ser fiel a mim mesmo, amo 0 "eu" e aceito 0 "nos"
quando me convem, procuro 0 novo e convivo com 0 velho de uma
maneira critica e inteligente.
oCicIo apresenta, igualmente, os nove processos de Bloqueios do
Contato, cujas defini~6es passaram pelo mesmo processo de valida~ao:
fixa~ao, dessensibiliza<,;ao, detlexao, introje~ao, proje~ao, intera~ao,
retroilexao, egotismo e confluencia.
De uma maneira extremamente simples e direta, resumo 0 proces-
so que sintetiza 0 mecanismo, numa frase de efeito, para facilitar a
compreensao daquele.
FIXA<;:AO
CParei de existir."):
Processo pelo qual me apego excessivamente a pessoas, ideias ou
coisas, e temendo surpresas diante do novo e da realidade, sinto-me in-
capaz de explorar situa~6es que Jlutuam rapidamente, permanecendo
fixado em coisas e emo~6es, sem verificar as vantagens de tal situa~ao.
Tenho medo de correr riscos.
DESSENSlBILlZA~:AO
("Nao sei se existo."):
Processo pelo qual me sinto entorpecido, frio diante de um conta-
to, com dificuldade para me estimular. Sinto uma diminui~ao sensorial
no meu corpo, nao diferenciando estimulos externos, e perdendo 0 in-
teresse pOI'sensa~6es novas e mais intensas.
DEFLEXAo
CNem ele nem eu existimos."):
Processo pelo qual evito contato pelos meus varios sentidos, ou
fa~o isso de uma maneinl vaga e geral, desperdi(,;o minha energia na re-
la(,;aocom 0 OLI
tro, usando um contato indireto, palavreado vago, ex-
cessivo ou polido demais, sem ir diretamente ao assunto. Sinto-me apa-
gado, incompreendido, pouco valorizado, afirmando que nada da certo
em minha vida. Nunca sei par que as coisas me acontecem como acon-
tecem.
INTROJE<;:Ao
CEle existe, eu nao."):
Processo atraves do qual obede~o e aceito 0p1l11OeS
arbitrarias,
normas e valores que pertencem a outros, engolindo coisas dos outros
sem querer, e sem conseguir defender meus direitos pOI'medo da mi-
brayao 0 resultado de minhas manipula<;5es. Tenho muita dificuldade
em dar e em receber.
CONFLUENCIA("Nos existimos, eu nao"):
Processo pelo qual me ligo fortemente aos outros, sem diferenciar
o que e meu do que e deles, diminuo as diferen<;as para sentir~me me-
lhor e semelhante aos demais e, embora com sofrimento, termmo obe-
decendo a val ores e atitudes da sociedade ou dos pais. Gosto de agradar
aos outros, mesmo nao tendo sido solicitado e, temendo 0 isolamento,
amo estar em grupo, agarrando-me firmemente aos outros, ao antigo,
aceitando ate que decidam por mim coisas que me desagradam.
nha propria agressividade e da dos outros. Desejo mudar, mas temo mi-
nha propria mudan<;a, preferindo a rotina, simplifica<;5es e situa<;5es
facilmente controlaveis. Penso que as pessoas sabem melhor do que eu
o que e bom para mim. Gosto de ser mimado.
PROJE<;:Ao("Eu existo, 0 outro eu crio."):
Processo pelo qual eu, tendo dificuldade de identificar 0 que e
meu, atribuo ao outro, ao mau tempo, coisas de que nao gosto em mim,
bem como a responsabilidade pelos meus fracassos, desconfiando de
todo mundo, como provaveis inimigos. Sinto-me amea<;ado pelo mun-
do em geral, pensando demais antes de agir e identificando facilmente
nos outros dificuldades e defeitos semelhantes aos meus, e tendo difi-
culdade de assumir responsabilidade pelo que fa<;o, gosto que os ou-
tros fa<;am as coisas no meu lugar.
PROFLFXAo ("Eu existo nele."):
Processo pelo qual desejo que os outros sejam como eu desejo que
eles sejam, ou desejo que eJes sejam como eu mesmo sou, manipulan-
do-os a fim de receber deles aquilo de que preciso, seja fazcndo 0 quc
eJes gostam, seja submetendo-mc passivamente a eles, semprc na es-
peran<;a de ter algo em trucc. Tenho dificuldade de me reconhecer co-
mo minha propria fonte de nUlri<;ao, e lamento profundamcllte a ausen-
cia do contato externo e a dificuldade do outro em satisfazer minhas
Ilecessidades.
RFTROFLEXAo C'Ele existe em mim."):
Processo pelo qual desejo ser como as outros desejam que eu se-
ja, ou desejo que eu seja como eles proprios sao. dirigindo para mim
mesmo a energia que deveria dirigir a outrel1l. Arrependo-me com fa-
cilidade, por me considerar inadequado nas coisas que fa<;o, por isso
as fa<;o e refa<;o varias vezes, para nao me sentir culpado depois. Gos-
to de estar sempre ocupado e acredito que pas so fazer tnelhor as coisas
sozinho do que com a ajuda dos outros. Deixo de fazer coisas com me-
do de ferir e ser ferido. Sinto que. tnuitas vezes. sou inimigo de mim
mesmo.
EGOTISMO("Eu existc), elcs nao."):
Processo pelo qual me coloco sempre como 0 centro das eoisas,
exercendo um controle rfgido e excessivo no mundo fora de mim, pen-
sando em todas as possibilidades para prevenir futuros fracassos ou
possfveis surpresas. Imponho tanto minha vontade e desejos que deixo
dc prestar aten<;ao ao meio a minha volta. usufruindo poueo e sem vi-
Para uma melhor visualiza<;ao, 0 quadro abaixo apresenta ambos
os processos.
OPERACIONALlZAQAo DOS BLOQUEIOS DE CONTATO E
FATORES DE CURA
FATORES DE CURA
FIXAc;:Ao ("Parei de existir."):
Processo pelo qual me apego ex-
cessivamente as pessoas, ideias
ou coisas e, temendo surpresas
diante do novo e da realidade,
sinto-me incapaz de explorar si-
tua<;5es que flutuam rapida-
mente. permanecendo fixado em
coisas e emo<;5es, sem verificar
as vantagens de tal situa<;ao.
DESSENSlI3ILIZA(,'Ao
("Nao sei se
existo."): Proeesso pelo qual me
sinto entorpecido, frio diante de
um contato, com dificuldade para
me estimular, e sinto uma dimi-
nui<;ao sensorial no meu corpo,
nao diferenciando estfmulos ex-
ternos e perdendo 0 interesse por
sensa<;5es novas e mais intensas.
FLUlDFZ: Processo pelo qual me
movimento, localizo-me no tem-
po e no espa<;o, deixo posi<;5es
antigas, renovo-me, sinto-me
mais solto e espontaneo e com
vontade de erial' e reeriar minha
propria vida.
SENSAC;Ao: Processo pelo qual
eu saio do estado de frieza emo-
eional, sinto melhor a mim mes-
mo e as eoisas, estou mais atento
aos sinais que meu eorpo me
manda ou produz, sinto e ate
procuro novos estfmulos.
FATORES DE CURA
BLOQUEIOS DE CONTATO
DEFLEXAo ("Nem ele nem eu
existimos."): Processo pelo qual
evito contato pelos meus varios
sentidos ou fa<;:o isto de uma
maneira vaga e geral, desperdi<;:o
minha energia na rela<;:aocom 0
outro, usando urn contato indire-
to, palavreado vago, inexpressivo
ou pol ido demais, sem ir direta-
mente ao assunto. Sinto-me apa-
gado, incompreendido, pouco
valorizado, afirmando que nada
da certo em minha vida e sem
saber pOI'que as coisas acontecem
como acontecem.
CONSCIENCIA:
Processo pelo qual
me dOll conta de mim mesmo de
uma maneira mais clara e retlexi-
va. Estou mais atento ao que
Ocorre a minha volta, percebo-me
relacionando com mais reeiproci-
dade com as pessoas e coisas.
ficar 0 que e seu, atribui aos outros,
ao mau tempo, a responsabilidade
pelos seus fracassos, desconfiando
de todo mundo, como provaveis
inimigos, sente-se amea<;:adapelo
mundo em geral, pensando demais
antes de agir e identificando facil-
mente nos outros dificuldades e
defeitos semelhantes aos seus e,
tendo dificuldade de assumir res-
ponsabilidade pelo que faz, gosta
que os outros fa<;:amas coisas no
seu lugar.
INTROJEC.'AO
("Ele existc, eu
nao."): Processo pelo qual ohe-
de<;:o
c aceito opinioes arbitrarias,
normas e valorcs que pcrtencem a
outros, engolindo coisas sem
querer e sem conseguir defender
meus direitos pOl'medo da minha
propria agrcssividade e da dos ou-
tros. Dcsejo mudar, mas temo mi-
nha propria mudan;a, prcfcrindo
a rotina, simplificac;oes e situa-
<;:oesque sao facilmente contro-
laveis. Penso que as pessoas sa-
bem melhor do que eu 0 que e
hom para mim. Gosto de ser mi-
mado.
PROJE<;:AO
("Eu existo, 0 outro eu
erio"): Processo pelo qual a pes-
soa, tendo dificuldade de identi-
MOI3ILlZA~'AO:Proeesso pelo
qual sinto necessidade de me mu-
dar, de exigir meus direitos, de
separar minhas coisas das dos ou-
tros, de sair da rotina, de expres-
sar meus sentimentos exatamente
como sinto e de nao tel' medo de
ser diferente.
PROFLEXAo("Eu existo nele."):
Processo pelo qual a pessoa dese-
ja que os outros sejam como ela
deseja que eles sejam, ou deseja
que eles sejam como cIa propria e,
manipulando-os a fim de receber
deles aquilo de que precisa, seja
fazendo 0 que eles gostam, seja
submetendo-se passivamente a
eles, sempre na esperan<;:ade tel'
algo em troca. Tendo dificuldade
de se reconhecer como sua
propria Fonte de nutri<;:ao,lamen-
ta profundamente a ausencia do
contato externo e a dificuldade do
outro em satisfazer as suas neces-
sidades.
A<;:Ao:Processo pelo qual ex-
presso mais confian<;:anos outros,
assumo responsabiJidade peJos
RETROFLEXAO
("Ele existe em
mim"): Processo pelo qual a pes-
soa deseja ser como os outros de-
sejam que cIa seja, ou deseja que
meus proprios atos, identifico em
mim mesma as raz5es de meus
problemas, ajo em nome proprio
sem medo da minha propria an-
siedade.
INTERA<;:AO:
Processo pelo qual
me aproximo do outro sem espe-
rar nada em troca, ajo de igual
para igual, dou pelo prazer de dar,
convivo com as necessidades do
outro sem esperar retribui<;:ao,
sinto que estar e relacionar-me
com 0 outro me ajuda a me perce-
bel' como pessoa.
CONTATO
FINAL:Processo pelo
qual sinto a mim mesmo como
minha propria fonte de prazer, nu-
tro-me do que quero sem inter-
ela seja como eles proprios sao,
dirigindo para si mesma a energia
que deveria dirigir a outrem. Ar-
repende-se com facilidade por se
considerar inadequada nas eoisas
que faz, pOl' isso as faz e refaz
varias vezes, para nao se sentir
culpada depois. Gosta de estar
sempre ocupada e acredita poder
fazer melhor as coisas sozinha do
que com a ajuda dos outros. Deixa
de fazer eoisas com medo de ferir
e ser ferida. Sente, muitas vezes,
que c inimiga de si mesma.
FATORES DE CURA BLOQUEIOS DE CONTATO
mediario, relacionando-me com
as pessoas de maneira direta e
clara, uso minha energia para
usufruir com os outros 0 prazer do
momento.
ren~as para sentir-se melhor e se-
melhante aos demais e, embora
com sofrimento, termina obede-
cendo a valores e atitudes da so-
ciedade ou dos pais. Gosta de
agradar aos outros, mesmo nao
tendo sido solicitada e, temendo
o isolamento, ama estar em
grupo, agarrando-se firmemente
aos outros, ao antigo, aceitando
ate que decidam por ela coisas
que the desagradam.
ser fiel a mim mesmo, amo 0 "eu"
e aceito 0 "nos" quando me con-
vem, procuro 0 novo e conVlVO
com 0 velho de uma maneira
crftica e inteligente.
Ec,oTISI10
("Eu existo, eles nao"):
Processo pelo qual a pessoa se
eoloea sempre como 0 centro das
coisas, exercendo um eontrole
rfgido e exeessivo no mundo fora
dela, pensando em todas as possi-
bilidades para prevenir futuros
fracassos ou possfveis surpresas.
Imp6e tanto sua vontade e dese-
jos, que deixa de prestar aten<;ao
ao meio eireundante, usufruindo
poueo e sem vibra<;ao 0 resultado
de suas manipula<;6es, tendo mui-
ta dificuldade em dar e em reee-
ber.
SATISFA<;:AO:
Proeesso pelo qual
vejo que 0 mundo e composto de
pessoas, que 0 outro pode ser
Fonte de contato nutritivo, que 0
prazer e a vida podem ser co-divi-
didos, que pensar em possibilida-
des e pensar em erescimento, que
e possfvel eleshutar dividindo, e
que 0 munelo fora elenos pode ser
Fonte de prazer.
Embora cada um do nos possa interromper 0 cicIo, em qualquer
lugar, existe, no entanto, um ponto onele 0 interrompemos de uma
maneira mais constante, que e 0 lugar onele nossa energia se bloqueia
e onde somos mais neuroticos.
Cada ponto do cicIo funciona como um ponto de encontro entre
duas energias, uma de saude, outra de bloqueio: 0 defletor tern proble-
mas com a consciencia 0 introjetor com seu processo de mobiliza~ao
o projetor esbarra na a~ao adequada e assim pOI'diante.
Este cicIo funciona como um modelo a partir do qual e possfvel,
uma vez conheeidos os sintomas, fazer um diagnostico. Por exemplo:
o cliente chega e diz que tem grandes ideias, que procura acertar, e nao
consegue, pensa que as pessoas nao 0 compreendem, tem receio ou in-
veja dele, esti sempre se virando, mas as coisas nao funcionam.
CONFLUENCIA
("Nos eXIstlmos,
eu nao"): Processo pelo qual a
pessoa se liga fortemente aos ou-
tros, sem diferenciar 0 que e seu
do que e deles, diminui as dife-
RETIRADA:Processo pelo qual
saio das coisas no momento em
que sinto que devo sail', per-
cebendo 0 que e meu e 0 que e dos
outros, aceito ser diferente para
Alauns passos san necessarios:
1. Verificar se a pessoa tem problemas ffsicos, neurol6gicos, in-
telectuais, pelos quais nao consegue terminal' as coisas, passando de
uma a~ao a Olltra, de um momenta ao outro, sem finalizar seus proprios
desejos.
2. Descartada esta hipotese, sem entrar aqui em outros por-
1I1L'IIUIL'S,
put/cmos estar diante de urn projetor, que esbarra na a<;:ao
adeguada que Ihe permitiria passar a intera<;:aoe cornpletar seu ciclo.
BLOQUEIOS DE CONTATO
FATORES DE CURA BLOQUEIOS DE CONTATO
FLUIDEZ FIXA<;:Ao
Passa uma jovem atraente, que 0 Passa urna jovern atraente e olha
olha displicenternente. Algo acon- para ele. Ele a olha e nao a per-
tece dentro dele, urna energia di- cebe. Esta imerso nas suas ideias.
ferente oretira do lugar mental no Nao consegue abandona-Ias. Nao
qual se encontrava. Torna-se mais consegue perceber posslveis van-
vivo, aceso, predisposto. tagens em segui-Ia. Nao deseja
nem pensar sobre isso.
SENSA(,:Ao DESSENSIBILIZA<;:Ao
Sente algo como 0 desejo de se- A presen<;:adajovem nao the des-
guir aquela pessoa, sente ate 0 co- perta nadcl. Sente frio. Tern a sen-
ra<;:aobatendo, 0 pulmao pedindo sa<;:aode que nada compensa. Fi-
aI', sensa<;:6esde surpresa e medo ca para outra vez. Diz para si
podem estar presentes. mesmo que nao vale a pena tentar.
CONSCIENCIA DEFLEXAo
Ele para e pensa. Sera que vale a Olha a jovem e diz: ja sei que nao
pena? vai dar certo. Nunca da certo. Vou
Ja fiz isto outras vezes ... e se re- olhar para ela para verse pega,
ceber urn fora? Mede tudo. Pensa mas nao vai pegar. Talvez se eu
tudo. fizer urn barulho, ela me olhe; e
talvez possa fazer algo, ou talvez
possa tossir. ..
MOBILIZA<;:Ao INTROJE<;:Ao
Levanta-se, olha para os lados, da Olha a jovem e diz: "nao devo
alguns passos e para, pens a de adiantar-me. Pega mal, ser educa-
novo, coloca 0 dedo sobre os la- do e melhor do que arriscar-me.
bios e diz: Se ela olhar para mim, vai perce-
"Eu vou." bel' que nao sou legal para ela.
. Nao se podefazer psicoterapia sem um planejamento, nao se pode
dezxm~ 0 processo ocorrer, como se ele se organizasse magicamente
por sz mesmo. /sto e animismo. A doeTU,.'a
e exatamente um momento
em que, por raZrJesincontaveis, apessoa perdeu sua capacidade de au-
to-regular-se, de autoplanejar-se. Por isto, ela nos procura. Se nos nclo
temo.·.uma ideia ou nao queremos ter ideia de para mule ir, porque
acredztamos quefazer psicodiagnc5stico e interferir na espontaneidade
do processo do outro, ambos corremos 0 risco de irmos para onde nao
queremos. E nao e verdade que nclo temos esta ideia. Temos, porque
pensamos. Outra coisa e 0 que vamos fazer com a ideia, com as
emo~'{jes, com 0 diagnostico que fizemos, independentemente de nos-
sa vonlade.
" Darei doi~ exempJos de como usar 0 Cicio. Urn bastante simples,
ate um pouco tolcl6nco, para deixar bem clara a progressao sllcessiva
de um I?a~sopara 0 outro. 0 outro, urn exemplo clfnico de uma psi-
coterapla Idealmente levada a bom tenno.
Excmplo n" I:
OPERACIONALlZACAo DO CICLO DE CONTATO E
FATORES DE CURA
Algucm csta sentado a porta de
uma casa, tranqLiilo, fazendo uma
Jeitura gostosa, ou apenas esta ali,
vendo 0 tempo passar.
Algucm esta a porta de sua casa.
As pessoas passam. 0 sol esta
quente, incomoda, e ele nao
perce be nada. A realidade fora
dele nao existe, ele simplesmente
a ignora.
Caminha, apressa 0 passo, adian-
ta-se, caminha um pouco ao ]ado
da jovem e diz: "Posso fa]ar com
voce'?"
E]a para, eles se olham, talvez
fiquem surpresos, caminham um
pouco, ate para pensar melhor, eJe
pergunta de novo: "Posso faJar?".
EJa responde, sim ou nao.
No caso de "sim", elcs conver-
sam, se oJham, comentam coisas,
ate fazem promessas, falam de
sentimentos e sensa<;:6es.
No caso de "nao", ele para, o]ha
para dentro de si, experimenta um
desapontamento e se vai, sentindo
tristeza.
FATORES DE CURA
Pode sentir-se agredida, se me di-
rigir a ela, acho que e melhor es-
perar que me de um sinal."
SATISFA<;:Ao.
Ainda se a resposta e "sim". Eles
se olham prazerosamente, dizem
coisas agradaveis um ao outro, se
fazem promessas, se abra<;:am.
"Aquela mo<;:aesta me olhando,
deve estar pensando que sou um
babaca. Tambem com aquele jei-
to, deve achar todo mundo idiota.
Se ela Fosse mais cordiaL eu che-
garia mais perto. Azar deja. Esta
perdendo uma chance."
Se a resposta e "nao". Ele reflete
atentamente sobre 0 que ouve,
pensa se poderia ter sido diferen-
te, reve todos os passos anterio-
res, sente que fez tudo que podia
ser feito. Apesar da desilusao
sente que satisfez seu desejo.
"Ah! Se cIa Fosse mals modesta,
ta]vez menos altiva, seria bom ate
se tivesse um pouco 0 meu jeito
cordial, atencioso. Ai chegaria ate
e]a e seria legaJ com e]a. Acho que
cia iria gostar de mim. Seria uma
boa troca, mas com aque]e nariz
empinado, nao da. Uma pena, fica
para uma outra vez."
"Nao me movo. Ela que se apro-
xime, se quiser. E]a nao deve ser
grande coisa.
Vou ficar atento, mesmo que ela
se dirija a mim. Nao posso perder
o controle da situa<;:ao. Se nao
acontecer nada, tudo bem. Nao
preciso mesmo dela."
Exemplo n" 2: um caso clfnico. . .
Joao, trinta e cinco clt10s,so]teiro, formado em contabllIdade e
matematica, atua]mente cursando medicina e ja pensando em um no-
vo curso superior. Quando crian<;:a,0 pai 0 chamava de "aleijao", de
"pra nada", porque, segundo e]e, alem de ser feio, era lento, va~aroso.
Descreve-se como cheio de duvidas, nao sabendo 0 que quer, delxa que
os outros deem palpite na sua vida. Totalmente desapegado, se veste
um pouco de qualquer jeito, esta sempre disponfvel para os outros,
mesmo ~l custa de sacriffcios pessoais, nao se va]oriza.
E facil identificar 0 "introjetor" nesta autodescri<;:ao. Olhando 0
nosso CicIo, vemos que 0 "introjetor" esbarra na "mobiJiza<;:ao",como
mecanismo saudavel. Em pa]avras simples, ele introjeta como forma
de sobrevivencia e necessita de mobiJiza<;:aocomo forma de resgate.
Sua mobiliza<;:aoesta prejudicada pela intensidade das proje<;:6esque
acumulou ao longo da vida. Dentro de sua necessidade de mudan<;:a,
Os dois se afastam, retornam aos
seus "Iugares" anteriores e se
preparam para um novo cicIo.
"Ah! Eu devia ser como cIa, posu-
da, autoconfiante, ou entao ela po-
dia me dizer como gostaria que eu
Fosse. Ai sena legal. Faria tudo
para agrada-]a.
E tentm"iafazer hem. Nao impOltaria
o sacriffcio.Nao correria risco, e ten-
taria fazer sempre do melhor modo."
Os dois se afastam, retornam aos
seus "lugares" anteriores e se
preparam para um novo cicio.
ell' Cillllinha no sentido de projetar 0 introjetado, como primeiro mo-
mento de uma mobiliza<;:aona dire<;:aoadequada. Temos ai, portanto,
ao mesmo tempo, 0 diagnostico e 0 prognostico.
Como proceder apos esta verifica<;:ao?
Vou "pro~ra/l1~ar"aqui 0 processo psicoterapeutico, apenas como
urn exemplo dldatlco, porque, na pratica, serao a sensibilidade a arte
e a competencia tecnico-cientifica que decidirao que rumos se;uir.
/ _ A psicoter~pia, di~'erentemente do que acontece nas nossa~ vidas,
e nao-programavel, pOlSprogramar significa ver antes, ver com ante-
cedencia, comprometer-se, a priori, com resultados.
sos os assuntos que ele bem desejar. Nada epredeterminado. Pode pas-
sar sessoesfalando de outros assuntos. 0psicoterapeuta, pore,n, sabe,
silenciosamente, que eles estao no primeiro momenta do processo, que
podeni ate nao terminar, ser alterado, mas ele, psicoterapeuta, precisa
saber onde se encontra.
Este "progral71a" poderci durar um dia, Ul71a
semana, um CIllO.
Nunca se.,l'Obe.0 importallte e que 0 psicoterapeuta, sem impedir que
o barco slga seu curso, procurando sua prdpria margenl, tenha um ma-
pa, 1/(/ cabe~'a e no corarao, dos caminhos por onde andaram ou
poderao ai~lda andw: A Psicoterapia Gestdltica, ou melhOt; nenhwna
p~·/(
..
oterap~a e W~1laissez-faire. A psicoterapia tem uma lr5gicae toda
loglca supoe raclOnalidade, e, portallto, previsibilidade.
2. Em seguida, fico atento as sensa<;:oesque Joao come<;:aa mani-
festar. A raiva, a culpa, a repara<;:ao,a desilusao, a repeti<;:ao,0 aban-
dono, sempre que surgem, san explorados ao maximo, de todos os pon-
tos de vista. Joao come<;:aa falar de seus apelidos, do cansa<;:ode estar
sempre come<;:ando novos cursos. Sempre, dentro dos seus limites,
Joao e apoiado a explorar, em profundidade, todos estes sentimentos,
e a experienciar que nao se morre, ao contrario, se ressuscita ao en-
frenta-Ios.
3. A fase da "consciencia ". Ela esta sempre presente, mas este e
o momento de explora-Ia de uma maneira mais clara. Esta fase, "cons-
ciencia-deflexao", e a fase da aten<;:aoconstante, do "0 que voce ve,
percebe, sente, gosta, faz, evita, teme?" ou "voce ve, sente, percebe,
gosta, evita alguma coisa"? Joao intensifica a procura do porque de
seus apelidos e das razoes pelas quais esta sempre a come<;:arnovos
cursos. E como? E uma fase integrativa das conquistas ja alcan<;:adas.
Costuma ser mais descritiva, mais tranqiiila. Uma fase de consolida<;:ao
de percep<;:oesja alcan<;:adas.
4. Joao esta sendo visto como prioritariamente introjetor. Nosso
trabalho, portanto, mais demorado, delicado, sera aquele de como Joao
se mobiliza para manter suas defesas e de como podera mobilizar-se
para andar na dire<;:aode urn verdadeiro bem-estar. Concentrar-nos-
emos neste ponto como figura. Estaremos atentos as idas e vindas de
Joao, ao seu modo de come<;:are interromper as coisas na sua vida, ao
modo como foge do risco. 0 curso de medicina e longamente discuti-
do. Joao fala ate em deixa-Io. Come<;:aa retrucar quando dizem seus
apelidos, agora mais por brincadeira por parte dos parentes. Estamos
ali, atentos, pontuais, apoiando os novos caminhos, ajudando-o a des-
cobrir outros, percorrendo com ele, via palavra ou experimentos, as
sendas dos riscos novos que mais 0 amea<;:am.Apesar de tudo ser uma
coisa so, este e 0 ponto-chave que nos chamara constantemente a
aten<;:ao.
5. Na razao em que Joao comece a perceber que ele existe,
Eis 0 meu mapa com Joao e de Joao.
~ " ..P,ar~od,ol~rin~,fpio,se?uindo minha intui<;:ao,de que devo retornar
d fI~~I<;:dOltlul~iez
, ou seja, voltar a busca da compreensao do cami-
~ho :Ja ~ercorndo, pOl'que vejo Joao muito "Ia atras", preso a sua in-
~an~Ia, as ~L~as
introje<;:oesinfantis. Fazer urn mapa a partir de "intro-
Je<;:ao!mobIllza<;:ao"
pode significar dar grandes passos, mas fora da
estrada, no sentido de que Joao esta se auto-impedindo, inconsciente-
~~ente, de ir mais alem, na dire<;:aode "retirada!repouso", porque ele
sabe" que nao conseguira ir alem do ponto onde ele ja chegou. Assim:
" I.,Come<;:oa:rabalhar COmJoao os modos como ele se fixa no pas-
sddo, como ele nao con segue pensar diferente; estudamos 0 significa-
do das palavras "aleijao" e "pra nada", 0 determinismo "criador" das
palavras do.pal. Ao trabalhar sua fixa<;:ao,vou percebendo 0 outro la-
do, 0 da tlUldez, se estc}ocorrendo, se esta sendo facil ou nao. Mostro
momento~ ou atitude de tluidez. Analisamos os ganhos destes mo-
mentos ate 0 momento em que passaremos a segunda etapa.
Cada um desses passos pode dural' um sessao, semanas ou meses
otempo nao e determinado. 0 cliente interp6e em cada um destes pas~
54
comc<;ara a projetar urn novo mundo. Na razao em que ele projete 0 in-
trojetado, 0 mundo comeyara a adquirir novas cores, e novos medos
(projeyoes) poderao surgir. "Ayao/projeyao" e 0 momento das novas
escolhas, dos novos caminhos, das ayoes nunca feitas; porque nunca
imaginadas, estavam proibidas. Joao decide interromper 0 cursu de
medicina. Fica feliz com a decisao. "Fazel' medicina e uma queda de
brayos com meu pai. You sail' sempre perdendo", comenta Joao.
cionar, ele aprendeu a dividir. Esta feliz. Sente que 0 caminho tern pe-
dras, mas aprendeu a evita-Ias ou a pisar sobre elas sem se machucar
muito. Olha para tras e ve 0 caminho introjetado, duramente experien-
ciado. Olha 0 presente e sente-se inteiro. Olha 0 futuro, colocando-o
dentro de seu presente. 0 psicoterapeuta segue de perto estes m0111en-
tos de ida, de romper layos, encoraja, fala livremente, nao se ausenta
na despedida, porque ambos percorreram 0 mesmo caminho. Assume
responsabilidade. Ele tem 0 direito de estar feliz.
9. Retirada. Alta. Termino da psicoterapia. Joao diz que esta bem,
que valeu, sente vontade de ficar e sente vontade de ir. Ele precisa ir.
Os sintomas desapareceram. Parece que 10ao pOl'inteiro esta diferen-
te. 0 psicoterapeuta, como alguem no terrayo de um aeroporto, ve 0
aviao alyar voo. Ele sabe que 0 aviao poderia ficar mais um pouco, mas
tambem sabe que e andando, voando, que alguel11se torna livre.
opsicoterapeuta e tambhn re.jJonsLivelpela caminhada ate aqui.
Nao deve tel' medo do caminho quejLi percorreu com Joclo, da verdade
que eles descohrirom e dos novos cmninhos que JOLIO
quererLiperc'or-
reI' com seu suporte claro e decisilo.
6. loao esta deixando a introje<;ao e a projeyao prejudiciais e
come<;a a viver uma nova fase, a de uma proflexao saudavel. Ele
come<;a a trocar. A intera<;ao c a superayao da prof!exao. Relaciona-se
porque quer, porque gosta, porqlle deseja, e nao porquc c necessario.
Joao quase nao fala mais de seus apelidos. Decide voltar a ser profes-
sor de matcmatica. Sua mente esta mais aberta para separar 0 joio do
trigo, 0 falso do verdadeiro. A rela<;aoe procurada como uma forma de
troca verdadeira, legftima. A rela<;ao de troca e elogiada, examinada
com rela<;ao aos seus ganhos. Os novos riscos sao exal11inados cuida-
dosamente. 0 futuro e colocado na sua exata dimensao. Cliente e psi-
coterapeuta se sentem mais soltos e mais livres nesta fase do processo.
7. 10ao deixou dc ser inimigo de si mesmo, deixou de retrofletir.
As coisas para ele agora tem come<;o, meio e fim. Aprendeu a sentir, a
sc mover, a pensar. Esta inteiro nas coisas. " Ah! parece que a tempes-
tack maior passou. Quanto tcmpo, quanta energia gasta para prewar
uma coisa para mim mesmo!" Toca as coisas com tato, mas nao com
medo, de si ou delas. Aprendeu a se respeitar, a gostar de si mesmo, a
nao deixar as coisas inacabadas, esta encontrando 0 gosto pel a vida. A
estrada esta chegando ao fil11,mais do que nunca os erros, mesmo os
menores, podem ser fatais. Eum momento de alegria, mas, sobretudo,
de paciencia, porque nao se deve apressar 0 rio. 0 psicoterapeuta esta
inteiro, neste momento, reforyando, aplaudindo, apoiando, sempre
centrado na realidade como um todo.
8. Joao aprendeu a sail' de si mesmo, aprendeu a olhar 0 mundo de
fI·cnte. 0 medo, muitas vezes, ainda esta la, mas nao 0 impede de fun-
Terminamos a caminhada. 0 tempo que durou nlio inlporta muito.
Percorremos os mois variodos cominhos, nas mais dij'erentes orelens.
o cliente nLiosobia que havia wna ordem, um programa sendo segui-
do, ele era livre para falar do que quisesse e do modo como quisesse.
Eu Ine deixava levar pOl' ele. Voava IWs asos dele, mas nunca despre-
gava os olhos de minho lnissola. Eu precisavo sahel' mule estLivamos.
Se ele dormia, eu tonwva conta do seu sono. Se era dio, eu estava sem-
pre a um paSoi'D
atrLis dele. Se era noite, eu iluminava 0 meu caminho
e ele podia, se quisesse, oproveitar a luminosidade de minha lonterna.
Dei um exemplo de uma psicoterapia bem-sucedida. Muitas
vezes, nao obstante program a e competencia, °processo pode andar
diferentemente. Mesmo nesses casos, os princfpios continllam os mes-
mos e as razoes para 0 nao sucesso devem ser procuradas em outras
variaveis, que nao abordaremos aqui.
Todas as vezes que 0 modelo do cicIo sc completa, como nos
cxemplos ja descritos, seja numa sessao de psicoterapia, ou numa via-
Gem ou num trabalho longo e ate numa simples conversa, a energia
de ~udan<;;a cumpriu sua c(lI~inhada de procura e apoio da realizayao
do outro. POI'menor que sejam os resultados, uma vez que 0 cicIo se
completou, houve um ganho em harmoniza<;;ao, em auto-equilibra<;;ao,
em saude.
Idealmente, 0 CicIo deveria completar-se sempre. para que nada
licasse inacabado, e dar lugar a uma nova gestalt, a uma nova expe-
riencia, embora seja humano que coisas fiquem inacabadas, porque so-
mas criaturas, porque nao temos sempre uma visao da totalidade de
nossos gestos, porque a mundo fora de nos e maior do que nossa per-
cep~ao a1can~a, porque temos medo de nossa propria verdade, porque
temos medo de que nossos desejos se completem de verdade, e assim
por diante.
Urn desejo inacabado, no entanto, e uma energia que se perde, que
se acumula para se juntar a outra de natureza diferente. Pensemos no
introjetor que interrompe seu ciclo entre "mobiliza~ao e a~ao". Ele tern
medo do risco, da opiniao do OlItro, faz coisas que nao gostaria de fa-
zer. Assim sua energia de amor, de raiva, de desejo, e outras, per-
manecem acumuladas na mobiliza~ao. Em um dado dia, alguem Ihe
diz algo muito ruim que ultrapassa sua capacidade de concilia~ao. Que
faz 0 introjetor? Parte para a a~ao com todas as energias acumuladas
de outras situa~6es que nada tem a ver com aquela. E a que acontece?
Da grandes passos fora da estrada. Diz, faz coisas que nao eram
necessarias e, frequentemente, se arrepende depois.
Quando, ao contrario, a cliente sai mal da sessao, a grupo termina de
modo autodestrutivo, a pessoa interrompe a psicoterapia de maneira
frustrante, certamente 0 Ciclo nao foi vivenciado na sua totalidade. Is-
to nao significa que nao exista resultado positivo, au que tenha sido urn
desastre, mesmo porque a Ciclo pode completar-se apos a sessao. E
frequente a cliente sair mal da sessao e, ao retornar, dizer como, 1en-
tamente, foi percebendo a nova realidade, e como se sente bem agora.
A sessao nao tem de ter um happy end para conforto do cliente (~I do
psicoterapeuta.
o Cicio deve, ideal mente, ser vivido em todos as seus passos,
porque sabemos que e comum, no processo psicoterapeutico, 0 ir e vir,
a cliente caminhar ate "contato" e retornar a "a~ao", ate mesmo no
processo de experimentar a nova realidade que esta descobrindo.
Psicoterapeuta e cliente deveriam, idealmente, percorrer este Ci-
clo todas as vezes que se encontram, porque a busca do contato plena
e uma das metas de qualquer forma de psicoterapia.
A ideia do Cic!o como um modelo psicotempeutico passa pela
compreensao de que 0 jJrocesso da saude ou da cum tem uma 16aica
l.") /'
tem uma seqiiencia na qual Ulna coisa depende da outm e onde tudo
afeta tudo. Nenhuma pessoa esta em um llnico ponto no Cic!o do Con-
tatooEsta em varios, seja na direl.;aoda cum, seja na dire~:aodos b!o-
queios, mesmo porque cada ponto do cicIo contem todos os outros. Ela
esta, no entanto, habitualmente, mais enz Ulndo que em outro, por is-
so podemos dizer que al[?luJme mais tipicamente um intrr~jetOf;um
confluente e assim por diante.
o ciclo funciona como um paradigma em psicoterapia. E um mo-
delo no qual alguem pode basear.suas proprias a~6es, se orientar e
perceber a movimento do outro. Assim, a partir de como a pessoa se
descreve, de como sua dinamica funciona, podemos localiza-la no Ci-
cio do Contato e Fatores de Cura. 0 Ciclo permite uma leitura, seja do
funcionamento harmonioso do comportamento de alguem, no qual as
a~6es previstas tenham come~o, meio e fim, seja de um comporta-
mento no qual a contato vai se rompendo na razao em que a processo
neurotico avanc,:a.Assinala, portanto, onde alguem se encontra e nos da
caminhos para se chegar a um determinado objetivo desejado. Tal e a
concepc,:ao do Cicio visto como Fatores de Cura.
o processo psicoterapeutico como um todo, seja em uma sessao,
seja em um workshop, deveria idealmente Gome~ar em "repouso/reti-
rada", fazer todo a Ciclo e terminar em "repouso/retirada". Se 0 cliente
deixou a sessao tranqtiilo, a grupo terminou bem, a momenta psicote-
rapeutico terminou com sucesso, dizemos que a ciclo se completou.
A partir desse fato, apos as primeiras sess6es, nao nos sera dincil
fazer um diagnostico, localizando a pessoa em um dos passos do ciclo,
por exemplo, em deflexao. Dizcndo isso, estamos dizendo tambem que
esta pessoa lida mal com a polaridade "consciencia/deflexao", com seu
processo de autopercep~ao, de selrawareness, enfim. Estamos, por-
tanto, diante de um provavel sintoma "deflexao", e de um provavel
remedio, lidar com a processo "consciencia" de uma maneira mais
clara e consistente.
o psicoterapeuta, sem abandonar 0 modo como 0 cliente expe-
riencia as outros passos do cicio, podera centrar sua aten~ao no seu
processo de deflexao-autoconsciencia, facilitando, prioritariamente e
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  • 1. J D 0J0_D DD 09J~-fJifD Dados Internacionais de Cataloga<,;ao na Publica<,;ao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Ribeiro, Jorge Ponciano ocicio do contato :temas basicos na abordagem gestaltica / Jorge Ponciano Ribeiro; 2. ed., rev. e amp. - Sao Paulo: Summus, 1997. Bibliografia. ISBN R5-323-0624-1 indices para catalogo sistematico: I. Contato : Gestalt: Psicologia 150.1982
  • 2. SUffiario Introdw;;ao.................. 13 Fenomenologia do contato 17 o ciclo da mudan<;;a 20 Campo e contato 22 Self e cicIo 26 Natureza do contato 32 Fatores de cura: mecanismos saudaveis 38 Ciclo e operacionaliza<;;ao............................................................. 49 Ciclo como paradigma.................................................................. 58 Ciclo e sua dinamica interna......................................................... 61 Conclusao 65 II ~ Aplicaf;fio Pratica do Ciclo do Contato: A organiza~·fio vista sob o aspecto clfnico Introdu<;;ao........... 71 Contato e organiza<;;ao 79 Doen<;;ae organiza<;;ao............................ 81
  • 3. Mecanismos de resistencias , 82 Decaclencia e organizac;ao 83 Introduc;ao 91 Teoria humanista existencialista....... 93 Metodo fenomenoI6gico........... 94 Teoria do campo 95 Teoria organismica holfstica 98 Psicologia da gestalt...... 99 Conclusao 100 Nota do Autor Tenho 0 prazer de colocar em suas maos a 2"edic;ao de 0 Cicio do Contato, revista e ampliada. A urgcncia de uma I" edic;ao surgiu da necessidade de garantir a originalidade de um trabalho e, portanto, os direitos autorais de id6ias amplamente divulgadas por mim, ao longo dos treinamentos que ve- nho desenvolvendo, em diversas partes do pais. a texto anterior, apropriado e Lltilpara os objetivos a que me pro- pus, deixa, no entanto, a desejar, sobretudo no que diz respeito a uma melhor fundamentac;ao da Teoria do Contato. a presente texto 6 amplo, mais critico, amadurecido, e funda- menta mais solidamente a Teoria do Contato, dos Fatores de Cum e a relac;ao de ambos corn 0 conceito de sell Espero, por isso, que the seja rnais uti!.
  • 5. Contato e uma palavra mcigica, e sintmimo de encontro plow, de mudanra. de vida. E convite ao encontro, ao entregar-se. E um proces- so, cujo sinonimo e cuidado, a alma do contato. Senl ele, 0 col1tato. simplesmente, IlctO existe. Tem-se escrito muito sobre a palavra contato e pouco sobre 0 con- ceito de contato como processo, como base fenomenologica da com- preensao do que significa comportamento e mudaw;;a. Embora sejamos 0 contato vivo, nao e Lieil escrever com profun- didade sobre "contato", talvez ate porque estejamos metafisicamente confluentes entre nosso ser e nosso existir: somos a nossa existencia. Nossa visao entre 0 que somos (essencia) e aquilo que nos tornamos (existencia) e ofuscad a pela imersao da existencia na essencia. Esta e a mais absoluta confluencia onde figura e fundo perdem identidade e so podem ser concebidas como processo. Contato e fun<;aodo campo e obedece as leis que regem 0 campo. A vivencia do contato depende da experiencia do campo, cuja quali- dade altera a experiencia imediata vivida pelo sujeito em um momen- to dado. CONTATOIi UMATEORIA.Contato, como teoria, sup5e procedi- mentos precisos, definidos. Como toda teoria, sup5e princfpios dos quais emana e nos quais se fundamenta, com procedimentos precisos,
  • 6. definidos e reaplicaveis em circunstancias congeneres. E algo objeti- vamente observavel e, enquanto tal, podendo ser descrito com precisao numa rela~ao de causa'e efeito. Como algo relacional, ocorre, ao mes- mo tempo, em variados campos, sobretudo 110 psicoemocional e no so- cio-ambiental. Sua natureza relacional 0 toma mais compreensfvel a partir de sua inser~ao na teoria do campo. CONTATOE UMATECNICA.0 carpo e a casa do contato, e dando os limites do contato, subjetiva e objetivamente. Sem conhecer 0 cor- po, pouco se pode fazer para que um contato seja nutritivo e transfor- mador. 0 carpo e objeto e sujeito imediato do contato. De uma maneira simples, diria que as leis que regem 0 carpo sao as leis que propor- cionam um contato de maior ou menar qualidade. Como tecnica, 0 contato supoe procedimentos que 0 delimitam OLI nao a um dado cam- po, no qual os conceitos de fronteira e limite se tornam pistas que re- gulam a qualidade da ac,;aorelac,;ao.UsaI' 0 contato como instrumento, como tecnica de aproximac,;ao e compreensao da realidade, e um ca- minho entre a experiencia imediata e a realidade intcma do Olltro. 0 corpo e 0 objeto e 0 sujeito imediato do contato. De uma maneira sim- ples, diria que as leis que regem 0 carpo sao as leis cuja compreensao nos indicam processos que proporcionam um contato de maior ou menor qualidade. CONTATOIi UMAARTE.Ternura, suavidade, carinho, disciplina, clareza, muitas vezes sao os verdadeiros alimentos do contato. 0 col'- po e 0 santuario onde habitamos, uma orac,;aovislvel saudanclo 0 uni- verso. Obra de arte, a mais fina, imagem e scmelhan~a de Deus, 0 cor- po e uma projec,;ao da arte interiar de cada Llmde nos. 0 corpo e a pessoa, e 0 retrato de mim mesmo, da minha historia, pOl'isso so pode ser falado pOI'mim. Se 0 outro me toca ou eu toco 0 Olltro, devo faze- !o com a reverencia propria de quem entra num santuario a procura do sagrado. A arte corrige, ~ISvezes, a natureza. 0 contato, como arte, e 0 ins- trumento de ac,;aoque permite a pessoa humana superar seus proprios limites e atingir um nlvel mais alto de perfcic,;ao. A palavra contato e usada de varios modos e em circunstancias bem diferentes, como: "fazer contato, permanecer em contato, cortar 0 contato, entrar em contato", ou, simplesmente, 0 Contato, como se fos- se um conceito claro e de significa~ao identica para toclo mundo. Para 0 Gestalt-terapeuta 0 conceito CONTATO tem um significado muito especial, parque: 1. A Gestalt-terapia esta centrada no conceito contato e na natureza das rela~oes de contato cia pessoa consigo mesma e com 0 mundo exterior. 2. 0 contato e a materia-prima da rela~ao psicoterapeutica. Sua natureza clefine a qualidade cloprocesso. 3. E a forma pela qual a vida acontece e se expressa. 4. 0 contato e 0 fenomeno pelo qual 0 encontro ocorre e no qual toda a~ao humana e psicoterapeutica se baseia. 5. Contato e se(j'mantem uma relac,;aoclequase identidade episte- mologica. Nao se pode falar em um sem falar do outro, quando se tnl- ta do comportamento humano. Embora se(j'e contato estejam em inti- ma rela~ao, contato e um conceito mais amplo que self; pois tudo que existe e contato, e e 0 contato que toma as coisas existentes, seja no ni- vel metaffsico, seja no cosmologico, mas 0 contnirio nao e verdadeiro, porque nem tudo que existe e ou tem um se(l o modo como uma pessoafaz cantata consigo e com 0 mundo ex- pressa igualmente a grew de individuarao, maturidade e auto-entrega com que vive, em um dado momenta, porque 0 contato e a expressao experienciada e vislvel da realidade interna de si mesmo. Tudo na na- tureza e contato e sem cantata tudo perde sentido, agoniza e morre. Contato e um conceito extremamente rico e comp1exo, pOI'isso e importante examina-lo, vel' seus diversos angulos e tirar dai as impli- ca~oes posslveis que nos ajudarao nesta caminhada que estamos come~ando. Seu universo e 0 universo da totalidade. Ele inclui tuclo, porque tu- do esta em rela~ao, afetando a natureza das coisas. A natureza, dita vi- va ou marta, e contato e, nesse sentido, existencia e contato se con- fundem. Compete-nos encontrar as rela~oes. So 0 nada e nada de rela~oes, por isso e ausencia de contato. Tudo, e em certo senticlo ate a morte, e rela~ao. Na razao em que um encontro vira contato, as coisas
  • 7. ESPAQO VITAL DEUS (Campo Ontol6gico) t UNIVERSO (Campo Cosmol6gico) t PESSOA (Campo Existencial) t ALMA ..•••• ------I •• - CORPO'-"'---~"- MEIO AMBIENTE (Universais) Awareness t (Propriedades) Conhecimento t (Categorias) Consciencia t (Polaridades) Criatividade Extensao (Aqui) t Peso e Dureza t Espayo t Materia Durac;;ao(Agora) t Passado- Presente- Futuro t Tempo t Lembranyas/Fantasias Self t Eu Movimento t Vida Numa gestalt, a relayao figura-fundo mais que um processo de percepyao envolve uma totalidade fenomenol6gica na qual tudo est a inclufdo. E uma relayao dentro-fora-dentro, dependendo do angulo pelo qual 0 sujeito ve o objeto. Tudo e uma coisa s6. Tudo emana de uma coisa s6 e tudo retor- na a ela. A percepyao pode ser indutiva ou dedutiva, dependendo do tipo de contato com que alguem se liga ao universe". Deus e contato pleno, e vice-versa. Plenitude de categorias, vazio de categorias. Dividimos apenas para entender melhor. Na subjetividade e na intersubjetividade das pes- soas e coisas, 0 contato acontece, 0 mundo acontece. come<;am a eXlstlr. Numa chuva, agua e asfalto se tocam, nao se en- contl'am; a agua desliza indifel'ente sobl'e 0 asfalto, mas este toque so se tl'ansforma em encontl'o e, conseqiientemente, em contato, quando um come<;a,nao importa em que nivel, a alterar a natureza do outro. Como dissemos anteriormente, 0 universo do contato 6 0 univer- so da totalidade. Na razao em que ocorre a totalidade, ocorre 0 conta- to pleno. Esta totalidade nao 6 apcnas a totalidade das id6ias, mas das id6ias e dos fatos. A psicoterapia, como fun<;ao do contato, s6 ocorre quando a tota- Iidade se faz e, como a totalidadc sempre precede ~l consciencia, tota- lidadc, consciencia e contato se transfonnam no trip6 da mudan<;a. Quando falta um destes elementos na rela<;ao terapeutica, rompe-se 0 processo de mudan<;ac ocone a fragmenta<;ao, tornando 0 contato ino- pel'ante. E pelo contato que figura e fundo seguem seu caminho de for- ma<;ao e destrui<;ao de novas gestalten, em um eterno renovar-se. E neste movimento que nos mesmos nos fazemos presentes e nos reco- nhecemos, porque somos os contatos que fazemos ao longo da vida. o contato e um movimento trans!,ormador de jlm~'Llo,de slmese, que permite a realidade se fazer e se re!'azer sobre si mesma num processo nunca acabado, porque 0 CO/l.totO, como unidade de trans- fOrma{'LlO,tende a ampliar-se ao infinito pelas possibilidades que tem de adquirir novas propriedades a cada instante. A compreensao do conceito de contato passa pOl' um duplo processo: dedutivo e indutivo. Do ponto de vista fenomenologico, esta distin<;ao nos pennite vel' o contato como causa e como efeito de urn processo em que tudo esta incluido, sem perder a unicidade e a individualidade propria de cada ser. Somos sempre totalidade, mesmo na qualidade de individuos. Mi- nha individualidade absoluta, ao me fazer (mico no universo, me faz uma totalidade. POl' isso, posso ser descrito, reconhecido e tel' urn nome. Dal' um nome 6 tel' captado a totalidade.
  • 8. Podemos atingir tres niveis no conceito de ser: 1. Nzvel de SER: totalidade, universalidade absoluta. Aqui falamos do SER ao qual nada falta, onde tudo esta inclufdo, origem e principio de todos os seres, enquanto recebem dele sua sig- nifica~ao primeira: a de existente. 2. Nlvel de Ser: totalidade relativa enquanto representado por Classes: por exemplo, 0 Cavalo. Ao dizermos 0 cavalo, inclufmos af todos os cavalos de ontem e de hoje, nao importa a ra~a, pOl'que, ao vermos urn cavalo, podemos deduzir a partir de sua visao a essencia do que se trata, porque 0 Cavalo deixou de ser uma abstnl~ao para ser urn cavalo. 3. Nlvel de Ser: enquanto representa individualidade e indivlduo. Neste nfvel, nao dizemos urn cavalo, mas este Cavalo e a totalida- de individualizante. Enquanto este Cavalo, participa da Classe 0 Cavalo, e de 0 SER , do qual suas essencia, propriedades e existencia pnmeJras emanam. o SER esta no cavalo e 0 cavalo esta no SER . A fenomenologia transfonna-se numa metafisica, lan~ando luz sobre todos os processos dedutivos, com os quais trabalhamos cotidianamente, e se transforma numa metodologia, enquanto, pOl'indw;:ao, todas as coisas atingem sua essencia. E neste vaivem que todas as coisas se inter-relacionam, que tudo afeta tudo, que tudo e uma coisa so, desnudando-se ao infinito diante de nossos olhos para que Ihes possamos dar nomes e captar-Ihes as propriedades singulares. Neste delicado processo de nos tornarmos classe, de nos tornar- mos indivfduos e de nos tornarmos quem somos, vivemos, a todo ins- tante, este triplice aspecto de uma unica realidade: 0 SER como fonte primeira de cantato . Esta reflexao tern uma finalidade diretamente terapeutica: ampliar nassa consciencia para a compreensao da dimensao de urn sellherdeiro de urna totalidade que de urn lado nos agiganta, e, de outro, nos torna, fenomenologicamente, complexos ao infinito, porque cria uma anteri- oridade metafisica e cronol6gica que nos precede, nos movimenta, pre- side nos so desenvolvimento e nos caracteriza como tais. Nao somos fruto de urn individualismo ou de urn determinismo biol6gico ou existencial, pois, como partes do SER somos coletivos, seres de infinitas possibilidades; e e assim que nos desenvolvemos, e e assim que estamos em contato com todas as nossas possibilidades, mesmo as nao-pensadas. Metafisicamente, estamos falando de urn universo, holisticamente pensado como essencia, e cronologicamente pens ado como processo, aqUl e agora. o contato e sempre urn encontro com 0 ser do ponto de vista metaffsico e fenomenico. Sem contato, nada se cria. 0 criado e ato supremo de contato. Quando se esti em contato, 0 universo abre suas portas as muitas possibilidades de cria~ao. Neste contexto, vemos 0 ser se constituindo em diferentes niveis, a partir das rela~5es que cria com as tres dimens5es inclusivas, cada uma exercendo, do ponto de vista da apreensao, uma fun~ao especial, de acordo com os niveis em que atuam. Campo HoHstico Fenomenol6gico SER -- Ser o ser e visto na sua triplice dimensao: SER-metaffsico, SER-c1asse e SER- indivfduo. 0 contato emana destes tres momentos, ora de dentro para fo- ra, ora de fora para dentro. E a totalidade que cria 0 ser e Ihe da sentido. Sem totalidade, quebra-se a gestalt e 0 ser nao pode ser plenamente re- conhecido. 0 ser cronol6gico se expande ao infinito ate chegar ao SER- metaffsico, onde tudo esta incluido como um fundo criador e se concretiza ao infinito, quando parte deste fundo indiferenciado se transforma numa figura clara e visivel. ..-/ --- fotalidade Relativa _ --- - Universalidade AbsO.l3.
  • 9. Contato pleno c aquele em que as fUlI~'{jes sensitivas. motoras e cognitivas se juntam, num l11ovimento dinumico dentroJora-dentro, para, atravcs de uma consciencia emocionoda, produz.ir no sujeito um hem-estw; W/10 escolha, uma oP~'c/o reol por si mesmo. o CicIo da Mudanya e mais um instrumento por meio do qual podemos visualizar melhor 0 processo de mudanya de uma pessoa e, de algum modo, segui-Io, no senti do de que 0 CicIo nos oferece uma compreensao visual mente melhor dos campos em que nos movemos. A psicoterapia nao tem necessariamente a vel' COl11 a cura, mas sim com a mudan<,;a, a qual pode Ievar ~t cura. Mudar significa re-significar coisas, pessoas, e, sobretudo, a pr6pria existencia. Nao e Ul11ato da vontade apenas, c um ato integrado, envolvendo a pessoa na sua re- la<,;aocorn 0 mundo como uma totalidade consciente. Este processo de mudan<,;a ocorre em tres nfveis: sens6rio, motor e cognitivo. A interdependencia delcs gera emo(oes e afetos que san determinantes poderosos no surgimento e na compreensao do com- portamento. onsciencia Emoc;onao: G q ~ Nleio Ambiente ---.. / -- ~ / pessoa '~ / /J~ns~~~ --- --....... ((( i Self y- yO' /o~) ) ) ~0~ C / / / ~ ~ ~esso:- ~ / "" Meio Ambiente ......-- -- con '0 • ",aoa SClencia EmoCO" Codo um destes sistemos tem uma forma de contato que the e prfJpria e elll!7ora nUIIUl vi.wlo !Jolf."tico. devo-se odmitir que UIIIdestes sistellwsjallloisfill7ciono isoladwnente, devemos tomhcm afirmor que (' 0 inter e intradcpclldencio dos tres sistcmos, CIIIUJIIdodo I1lOlIIen{o Cem UJIIdodo cumpo, que produz. UJIIcon toto !Jleno. Telllos, cntc/o, lUlU! consciencia emocionwlo de (}fule !WSCC 0 processo de mudunco rcal. a Cicio da Mudanc;:a supoe, necessariamente, um cicio de cantato, um processo de inter e intradependencia, on de tudo afeta tudo e on de tudo e afetado pOl' tudo. a cicio pode ser lido de fora para dentro e de dentro para fora, onde cada coisa inclui outra e onde nenhuma exclui outra. a contato pleno comec;:a pela pessoa que esta em um dado campo, onde e afetada pelas func;:oes sensoriais, motoras e cognitivas. a self toma conhecimento, experiencia 0 processo em curso, entrando em contato com toda a real ida- de existente. Comec;:a 0 processo inverso, utilizando uma das func;:oes do eu partindo para a ac;:ao.Este processo funciona como formac;:ao e destruic;:ao de novas figuras, pelo qual 0 fundo vai se caracterizando. Todo proccsso envolvcndo uma mudan<,;a real passa, necessaria- mentc, pOI' cstes tres aspectos: sens6rio, motor e cognitivo. 0 contato plcno ,<;6ocorre, e s() ncste caso ocorre mudan<;a, quando a pessoa vivencia estes tres momentos no seu processo. E comum as pessoas dizerem: "Eu ja sei isso, pOI' que nao consi- go mudar?" Uma res posta mais pronta, simples e talvez imediatista poderia ser: "Porque sua psicoterapia cuida.do pensar e se esquece do sentiI' e do fazer". A psicoterapia precisa lidar, tluida e criativamente, com estes tres aspectos, porque corre 0 risco de criar verdadeiras re- sistencias, verdadeiros obstaculos ao processo de desenvolvimento in- tegrado da pcssoa humana, quando insiste pOI' demais em um dcstes subsistemas. Embora seja possfvel sentiI' que as teorias psicoterapicas estao passando por sinais claros de mudan<,;a, continuam existindo as psi- coterapias do sentiI', do fazer e do pensar, porque insistem mais em um destes processos, descuidando um pouco dos outros. Podemos dizer 0 mesmo da Gestalt-terapia. Existe uma gestalt, prioritariamente, cen- trada no sensitivo, nas emo<;oes. Existe uma gestalt prioritariamente centrada no fazel', e na a9ao, e existe uma gestalt prioritariamente cen-
  • 10. trada no cagnitivo, na palavra, no pensamento. Qual delas e a melbor, a mais pura? Nenbuma delas. Uma nao e melbar do que a outra, elas simplesmente san diferentes. Qualquer das tres, porem, deixani de ser gestalt no momenta em que nao se basear, teorica e praticamente, na Psicologia da Gestalt, na Teoria do Campo, na Teoria Holistica, e perder aquilo que e a natureza da gestalt, que e ser existencial, feno- menol6gica. A Abordagem Gestaltica esta basead~ no humanismo, no existep- cialismo e na fenomenologia como fil()sofias de base. Esta baseada na Psic.:()logiada_Gestalt, na 1'~Q[iacl()C::;1mpo e no HQlisIll()Organlsmico como teorias de base. Qualquer conceito dentro da abordagem gestaltica tern de ser compreendido e explicado a luz destas teorias. Se isto nao for possivel, ele nao podera pertencer ao seu campo teorico. Nao importa se os conceitos de resistencia, transferencia, contra- trans{ererlcia, inconsciente e self pertencem a outros campos tedricos. Importa sahel' se eles podem sel' compreendidos e explicados aluz das teorias antel'iormente citadas. Se sim, eles pertencem tamhem Cl ahol'- dagem gestaltica, porque nenhum conceito e propriedade exclusiva de uma ZLniCCI teoria, pol'que antes de serem propriedades de wna teoria, sao expressoes da realidade hwnana de cada um. Se nao, devem sim- plesmente sel' ahandonados. Em qualquer teoria os conceitos devem funcionar como as placas de orienta<.;aoem uma grande cidade. E pOl'essas sinaliza<;:oesque nos asseguramos de estarmos na estrada certa, na rua certa e de que cbega- remos ao nosso destino. Estes sinais tem cle ser entendidos por toclos de maneira identica, pois, do contrario, transfonnariam a cidade num caos, e ninguem cbegaria a lugar algum. Certas cidades sao de tal modo bem sinalizadas que a margem de erro para aqueles que procuram um certo lugar e minima. Outras, par- cialmente sinalizadas, obrigam 0 motorista a colocar sua criativiclade, inteligencia e percep<.;aoem plena ativiclade, sob pena de nao cbegar a seu destino. Entre estas Liltimas, as placas podem tel' diversos defeitos: sao pe- quenas, mal-escritas, coJocaclas pr6ximas demais ~lbifurca<.;ao,qmll1- do 0 motorista nao tem mais tempo clevoltar atras, contem inforrnal;oes em excesso e 0 motorista nao pode Ie-las, contem inforrmll;oes vagas, gerais, e 0 motorista nao pock decidir etc, etc. o mesmo ocorre quando queremos pensar teoricamente uma for- ma de psicoterapia. Algumas teorias sao fartamente sinalizadas, outras nao. Acredito que a Gestalt-terapia fica a meio caminbo. Embora tenba um campo te6rico definido, a amplidao de suas teorias de base e filoso- ficas coloca 0 pesquisaclor em dificuldades para fazer pontes que, ope- racionalmente, 0 ajudem a atravessar 0 rio de suas dificuldades. Estas dificuldacles emanam seja cia novidade da teoria, seja da di- ficuldade de se tel' uma visao gestaltica das· teorias que lbe servemde base, seja ainda por importar conceitos analogos de outras teorias co- mo: resistencia, transferencia, inconsciente, self e outros que la san bem definidos mas aqui precisam de ajustes. Tem-se, as vezes, a impressao de que muitos autores incluem ou excluem conceitos a partir de uma discussao do conceito em si, disso- ciada das liga<;:5esepistemol6gicas que 0 colocam ou nao em um dado campo te6rico. Os conceitos de self: de resistencia, pOl' exemplo, nao podem ser discutidos isoladamente, ou a luz de comparaf'oes entre psicanalise, relw,:oes ohjetais e gestalt, mas sim a luz de uma concepC;ao huma- nista, existencial}enomeno1c5gica e da Psicologia da Gestalt, da Teo- ria do Campo e da Teoria Holistica. Ou os conceitos de self, resisten- cia, inconsciente e outros sao explicados aluz destas teorias, ou entao nao se estafalando da Ahordagem Gestaltica, e eles nao servem ao seu campo te(5rico. Nao se nega um conceito dizendo apenas que ele nao pertence a natureza da Gestalt-terapia. Todo conceito retrata ou deveria retratar um processo humano, que ocorre, conseqiientemente, na pessoa hu- mana, e as teorias lbe dao um nome. Importam os processos que con- tern, e nao os nomes que venbam a tel'.Importa, sim, identifica-Ios, des- creve-l os e operacionaliza-Ios. E neste contexto que estamos tentando desenvolver 0 conceito de Contato, visto aqui na sua complexidade como construto e processo.
  • 11. o eontato pode ser vista como efeito ou como causa em um dado processo, e ocone sempre em um dado campo. Somos 0 resultado de nossas rela~oes ao longo do tempo. 0 con- tato e efeito das rela~oes que mantivemos com os diversos campos em que nos movemos. Encluanto b aer;1aestos sinais 0 contato e fi l~ura pode ser visto .. b·' , . Co , descrito; como fundo, e expressao de nossas introje~6es aeumuladas ao longo dos cll10S,e simbolizadas peln nosso modo de estar no mundo. o contato e, portanto, um jeito de ser e um jeito de se expressar. Ele me faz visivel aos nutros e me remete ~I eamada mais profunda de mim mesmo, quando tento perce bel' 0 porque do meu jeito de ser. Estas duas recll idades sao resultados de uma correla<;ao de varia- veis, que proeeclcnl de diversos campos que atuam na sua formayao e no modo de sua elabora<;ao com relayao ao lllundo exterior. o contato n~o surge de uma elabora<;ao intrapsfquica, tipo pensa- mento-vontade. E lima elaborayao fruto da relayao dinamica existente na rela<;ao pessoa-mundo, em um dado espayo vital. o surgimento de um modo de ser, que se faz visfvel no modo co- I mo fa/cmos contato, e operacionaJ izado pelos tres sistemas basicos de nos sa estrutura vitctl: 0 sensorio, 0 cognitivo eo motor, os quais, em In- tima rclayao com Os diversos campos em que nos movemos, somos e existimos, fazem slIrgir nosso self visfvel atravcs do nosso eu, que e a instancia manifest<l do contato. Os sistemas sensorio, cognitivo e motor se inter-relacionam dife- rentementc com eLida um dos campos: geobiologico, psicoemociona!, socio-ambicntal e sacro-transcendental.: Os sistemas, como um todo, ora se relacionam mais com um determinado campo, ora mais com 0 outro, podendo cri~lr possibilidades mLiltiplas de formas de contato en- tre campo e sistemas e, conseqLientemente, de comportamentos. Nossa forma de contato e fruto das combina<;6es que, ao longo dos an os, foram se forl11ando como nossas respostas mais habituais aos es- timulus de fora. Dependendo, portanto, do modo como cada sistema se conccta com um dado campo, passamos a produzir um determinado tipode comportal11ento. /' Poderemos, por exemplo, hipotetizar que 0 introjetor e alguem que teve seu sistel11a motor inibido com os "'nao fa<;a isto, nao fa~a aquilo"; seu sisterrw cognitivo superestimulado com as: "'pense sem- pre antes de agir, cuidado com os enos." Estes dois tipos de castra~ao -- ~ Neio Ambiente ----- // -- ~ pessoa ~ / / / ---- -- ~ Campo S6cio- Ambiental ~i ( ( (j~ ---- ---....... Self o "U :::; U> ) ) )~j /';;-cco t;a;;; / ~nd~ ~~ Pessoa ~ / -- - "-- Meio Ambiente --- -- - o espa<;:ovital e composto de campos. Vivemos em campos das ~aneiras mais diversas. As vezes, estamos mais em um do que em outro. As vezes estamos claramente em um campo, e, as vezes ainda, os campos se diluem e temos a sensa<;:aode nao ter nenhum referendal. Numa visao holfstica, estes campos se inter e intra-relacionam. E a existencia de um que cria a existencia do outro, como figura e fundo se revezando. 0 con- tato emana do campo como um todo, porque somas relacionais como to- talidade dinamica. S6 podemos conhecer uma pessoa, se conhecemos como ela se expressa nesta matriz unificada que e seu espa<;:ovital. 0 primeiro momenta do contato e 0 campo geobiol6gico, primeiro encontro com a realidade. 0 segundo momenta e 0 psicoemocional; 0 terceiro, 0 campo s6cio-ambiental e 0 quarto, 0 sacro-transcendental. Quando estes quatro campos se fundem, 0 contato e pleno, a gestalt perfez seu caminho e esta pronta para retornar ao fundo. afetaram imediatamente seu campo psicoemocional, produzindo nele um medo generalizado, que afetou seu campo s(5cio-ambiental, fazen- do-o assumir sempre atitudes timidas, prudentes, com dificuldade de relacionamento e profunda desconfian~a de si mesmo. Poderfamos su- por mil eombinayoes entre sistemas e campos. Na realidade, a nature/a
  • 12. ja fez isso ao longo do tempo. E fun(ao da psicoterapia descobrir os meandros por onde passou e seus acordos silenciosos. Saude e doen(a seriam, portanto, fruto de combina(oes saudaveis ou nao-saudaveis entre variados sistemas e campos. Estamos, porem, longe de poder fazer urn diagnostico real a partir destas combina(oes. Muita pesquisa ainda sera necessaria para criarmos uma psicotipolo- gia confiavel a partir destes dados. nossa verdadeira existencia psicologica e depender do relacionamen- to... nos somos 0 contato que fazemos. Nos existimos, psicologica- mente falando, quando contatamos 0 universo" (p. 25). Ele afirma ain- da que a metapsicologia gestaltica supoe dois principios basicos: "primeiro, a afirma(ao de que todo comportamento humano deve ser entendido em termos de forma(ao e destrui(ao de figura e, segundo, a identifica(ao do sell com aquelas partes do processo de forma~ao e destrui(ao da figura, envolvendo contato"(p. 23). As cita(oes se sucedem: "Onde existe contato, existe self; onde nao existe contato, nao existe self". "Sell nao e uma especie de objeto, dado que um objeto ou uma essencia e ilusao. 0 sell e, antes, parte do mundo de processo e tempo, que so se descobre como experiencia, so pode ser descoberto em contato" (McLeod, p. 26). "Contato e 0 mundo enquanto dado para minha experiencia em um dado momenta (Perls, p. 229). "Selte igual contato com 0 organismo e com 0 ambiente: no momenta de um sell pleno, organismo e ambiente nao san distingulveis" (McLeod, p. 26). "Neste 'Contato Final', 0 fundo esta fora de awareness, a figura e tu- do, e 0 contato e 0 self" (Perls, p. 417). Goodman diz: "0 sellnao e, de maneira alguma, parte do organis- mo, mas e uma fLm(aodo campo, ele e 0 caminho pelo qual ()campo inclui 0 organismo" (Perls, pp. 400-1). "Sell eo sistema de contato no campo organismo/ambiente" (McLeod, p. 27). Fica claro, nesta posi(ao, que 0 sell e holfstico e relacional-exis- tencial. E um processo figural em permanente mudan(a. nao obstante ser ele que, por meio da uniao de elementos figurais, constitui a indi- vidualidade e identidade da pessoa, fazendo com que sejamos a cara dos contatos que fizemos ao longo do tempo. A segunda posi(ao, tambem discuticla longamente por Perls em Gestalt Therapy Verbatin, ve 0 sell como um fundo, como um centro do qual emanam as diversas formas de contato. Nesta posi(ao 0 sell e um coisa-processo, existinclo por si so. So- bre esta seguncla posi~ao, escreve McLeod: "De urn modo ou de outro, os Polster, Latner, Hycner, Frieclman, Tobin e Yontef, toclos eles minam ou clistorcem 0 sell como contato e, portanto, em certo sentido, en- fraquecem 0 aspecto holistico e relacional, aspecto essencial a integri- claclede continua(ao cia Gestalt -terapia" (p. 25). Neste contexto, a discussao se complica com posi(oes paralelas, cliferentes e ate contnirias. "Self' nao e um conceito Licil de ser traduzido em portugues, porque nao se pocle faze-lo com uma Lmicapalavra. Em ingles, "se(/" , e um nome, um substantivo, algo, portanto, com existencia propria e, em portugues, cleve ser traduzido com a ideia cle algo real, concreto. o Oxf<IfYJ Advanced Learner's Dictionary apresenta varias defini- (oes, entre as quais estas: self'sao "qualidades especiais, natureza cia pessoa. a natureza mais nobre de alguem". Eo Wehster's Dictionary cia tambem, entre outras, a seguinte defini(ao: selle "a uniao clos elemen- tos (...) que constituem a individualidacle e a identiclacleda pessoa". Ambas as defini(oes nos remetem ao centro cle uma profunda dis- cussao sobrc a real natureza do sellou cloque se chama "Psicologia do Self", na qual sobretudo a psicamilise, lung e as Teorias Existenciais Fenomenologicas tentam fazer suas formula(oes. Nao e nossa inten(ao entrar nos meandros clestas clistin(oes. Bas- ta-nos, por ora, ver as contradi~oes internas da propria gestalt no que diz respeito a teoria do self; e tentH objetiva-lo no contexto do Ciclo do Contato. Existem duas posi(oes classicas na literatura. A primeira identifica sel/com contato, afirmanclo claramente: sell e contato, contato e sell e, portanto, 0 sell so existe quando se esta em contato. Esta e a posi(ao assumicla por Perls, HelTerline e Gooclman, no Gestalt-therapy* (1951), prenunciacla por Perls, em Ego, hunger and aggression (1946). McLeod (1993) resume bem esta posi(ao, quando afirma: "a mais profuncla premissa cia gestalt e que nos nos criamos no nosso contato:
  • 13. Aqui 0 sell distingue-se do eu e deixa de ser definido como con- tatoo Outros autores, como os Polster, identificam 0 self com 0 eu (McLeod, p. 33); 0 conceito de aH'areness passa a ser fundamental para a compreensao do sell 0 sell perde seu cantter relacional e passa a existir como uma fun<;ao figura/fundo, e mais ... Enfim, 0 sell e lima entidade, extremamente falada e pouco co- nhecida. Acredito que 0 selltem sido discutido em si, como se pudesse ser figura e fundo ao mesmo tempo, sem uma distin<;ao clara que per- mita reconhecer sua verdadeira natureza relacional. Para nos, 0 selle um sistema cia personalidade, cuja fun<;ao e colo- car-se alternativamente como figura e/ou como fundo nas rela<;oes com o mundo exterior. Colocado no centro do cicIo, e agente de contato, subjetivo e objetivo, produz e sofre contato e, neste sentido, e contato. Expressa-se via mecanismo de regula<;ao organfsmica, sendo ora sau- delvel, quando estes mecanismos que dele dependem se encontram em posi<;ao de autb-regula<;ao com 0 universo, e ora doentio, quando 0 uni- verso esta, do ponto de vista energetico, influenciando negativamente estes mecanismos, afctando, assim, sua pr6pria unidade relacional. () self, portonto, C' Iwlistico C0lJ10sistema de contato organislJ1o- ambiente, e e relacional, enquanto ,'I) existe para se relacionw; sendo o relaciOlwr-se sllafimr({o 011propriedade primordial. Neste sentido, 1U10 exisle self 170m ou mall, fLtlSO ou 'erdadeiro, existe self que C' um continuo energhico entre orgonismo e mundo, podendo expressar-se, via mecanisl710 de regular({o organismica, de llnw maneira l71ais ou menos .wudcll'el. Fluidez IxaC;:3o Ambiente o cicio deve ser concebido como um sistema dinamico, como uma unidade relacional de operaC;:30 de mudanc;:as, onde cada ponto contem todos os outros, funcionando como passos do contato em direc;:ao a cura, teoricamente, comec;:ando em "retirada" na direc;:ao do rel6gio. Interac;:ao Pro o contato e fun<.;aodo self: 0 selt~ portanto, torna-se mais presente sempre que 0 contato na fronteira se faz mais presente. Self' e contato funcionam como figura e fundo, de tal modo que 0 sistema selldecorre au se torna mais presentena razao em que e afctado pela realidade ex- terior. o contato is0 alimento permanente do sdl tendo 0 selfuma ante- cedencia ol1to16gica em rela<;ao ao contato. Cronologicamente falan- do, poderiamos cli/er que 0 s('ll e contato, e contato e self: e que um justifica a existencia do outro, Como figura e fundo que se sucedem na razao em que neeessidades se fazem mais urgentes e preferenciais. o cicIo do contato s6 pock ser entendido, neste contexto, como ex- pressao de um sistema, de um campo vital total, tornando visfvel um processo no qual 0 self organiza sua pr6pria auto-regula<;ao, por meio de mecanismos que san sua for<.;ae cxpressoes principais, podendo, ao mesmo tempo, desorganizar-se como sistema, quando as for<.;as do munclo 0 invadem sem the deixar chance cle clefesa. Sylvia Crocker cliz que 0 s('ll6 a alma e a psique humana. Eu nao faria tal afinna<;ao. 0 sell e um sistema, como uma matriz produtora de variados processos. Emamt cia alma, e uma propriedade, tal como a inteligcncia e a memoria, que produzem uma serie de processos coe- rentes com sua natureza. A alma e nossa esscncia. Tocla esscncia tem propriedades por meio das quais se faz inteligfvel. 0 propriwn emana natural mente da esscn- ",...- --.... ( Self) '....•..... ../
  • 14. cia, de tal modo que negar uma propriedade e descaracterizar a essencia. Euma rela~ao de extrema e absoluta interdependencia, funcionando urn com rela~ao ao outro como figura e fundo de uma totalidade maior. quando dizemos: eu sinto, eu penso. 0 sentido das coisas e de nos mes- mas emana dele. £'0 retrato que fazemos de nos mesmos. o self nao e a alma, mas e a sua mais essencial propriedade. Nao e a alnla, porque a alma nao muda do ponto de vista de sua essencia, ({()IH/SSOque 0 self muda ao longo dos anos. £, como 0 sorriso. Per- IIwnecendo essencialmente 0 mesllw do ponto de vista da defini~'ao, vai mudando ao longo dos tempos. Assim eo self. £, relacional, pOl'na- tureza, pois foi feito para estar permanentemente elll contato, assu- mil/do, inc!usive,fonnas vislveis de arao, cO/noprojerao e introje~·ao. o sclf e nosso espelho existencial e 0 modo como a alma se deixa va e se revela. A alII/a ('0 1I0SS0 princlpio vital essencial, 0 self e a ema- l/a~Iio desse princlj)io I'ital e, I/esse sentido, 0 self "ao pode nao so; ele (' como a alllw. COll1!l pmpriedade. nascell/os com ele, e ele se desen- vo/'e ao longo dos anos de acordo com os contatos quefazel1/Os. o selfe 0 lado invisivel do eu. 0 self sente, 0 eu age. Age as vezes em consonancia com 0 self, e as vezes a revelia dele. 0 eu e urn exe- cutor do sel}: Quando ele percebe 0 que 0 se(j'quer ou sente, entra em a~ao. Esta sempre a servi~o do self 0 eu e corporal no sentido de que atraves do corpo ele se faz visivel, revelando 0 centro das coisas, emo~6es, sensa~6es, 0 imediato da vontade. 0 eu revela 0 self o cicIo de contato com 0 self no centro e a expressao mais afir- mativa de seu aspecto relacional e da totalidade vislvel nas diversas formas que 0 contato assume como expressao da pessoa humana. E aqui que surge 0 "eu", como 0 lado vislvel do self; como 0 ad- ministrador das energias do self E de novo aqui poderiamos dizer que entre selle eu existe uma rela~ao de figura e fundo, sendo 0 eu a figu- ra na frontcira da rela',:ao selrmundo, e 0 selfo fundo, cuja permanen- cia permite ao eu pautar-se com normalidade diante do mundo. Self e eu ficam em paz quando a auto-regula',:ao self~eu-mundo encontra-se sob medida. o Cicio 6, portal1to, concebido como um sistema seIFeu-mundo. Permite-nos leI' a real idade pOI'intermedio dele, bem como entender 0 processo pelo qual este sistema foi se estruturando ao longo do tempo. Revela um processo de relacionamento entre 0 self; 0 eu e 0 mundo, partindo de um processo mais primitivo, fixa',:ao/fluidez, para uma for- ma mais complexa de estar no mundo, confluencia/retirada. Eu e self sao como figura e fimdo: insepaniveis. Constituem um grande campo, dinamicamente interligados, trabalhando em Intima, contInua e profunda relaf,;Iio.S() pOI' abstraf,;'aopodem ser pensados separadamente. Um permite a existencia do outm. 0 self e wna ma- triz. Coloca-se em Intima relac;aocom os mecanismos de equilibrac;ao organlsmica, os quais, por sua vez, ora silo saudaveis, quando fim.- cionam como protetores naturaLI' da relarilo self-eu, ora nao sao saud(iveis, quando se transfc)rmam el/1 verdadeiros anteparos, ver- dadeiras dej'esas neuroticas do eu, sem nunca deixw; entretanto, sua funf,;'ilode um ajustamento criativo, embora de UI1Wmaneira disfun- cional. o self e UII/sistema central. interiot; como uma coluna vertebral. £'0 lugar onde ocorrem as emof,;'i5es, as sensac;()es mais profimdas. £, o lugar onde sentimos as coisas. £, (l slntese daquilo em que nos tor- nalnos ao longo da vida. £, nossa auto-imagem, e aquilo que sentimos Ambos estao em intima rela~ao com 0 mundo, com 0 ambiente. 0 self esui em contato com 0 mundo por intermedio do eu, 0 qual fun- ciona como uma seta lan',:ada a procura de um novo e definido objeti- vo: ora a procura apenas do diferente, e ora como um anteparo em de- fesa do sell 0 mundo existe e 0 ell se coloca, numa fun~ao equilibradora, entre as for~as do mLlndoe as sensa~6es do self Neste contexto, surgem os mecanismos de defesa do eu, isto e, pertencentes ao eu. Nao e 0 eu que se defende, 0 eu defende 0 selfde uma ansiedade emergente, de um temor incontrolavel, de uma alegria despropor- cional. E fun~ao do eu a auto-regula~ao do organismo. Por raz6es des- conhecidas, 0 se({passa a ter seus segredos. Sente e nao se manifesta, tem vontade e se cala, esta com medo e nao pede socorro. Nestes ca- sos, 0 eu fica impotente, nao aciona suas defesas e ate acredita que 0 self'vai bem, e ai tudo pode acontecer. 0 se({ se enfraquece cada vez mais e, quando pede socorro ao eu, 0 eu esta tao distante que quase na- da pode fazer, quer ajudar e nao con segue. Suas defesas se enfraque-
  • 15. ceram, pOl'que tudo parecia tao igual que ele nao sentia 0 aparato em perigo. Desajuste, ao contrario, e a interrup<;ao do contato como fluxo e eHivitais, e boicote ao processo que esta no centro da natureza humana, como expressao do encontro de diferentes realidades, onde uma se so- brep6e a outra, tent ando destruf-Ia. Varidveis psieoh5gieas e n[io-psieol6gicas s[io igualmente deter- minontes do eomportol1lento hlllnono. Na verdade, embora distintos, self-eu-mundofonnam uma trindade na qual 0 prinC£pio regulador de tudo, 0 vido, quc os inunda, ('a cncrgia unitleadora dos tres, a qual es- t/! prescnte elll todos os eoisos, produzindo scmelhan(.>ase diteren("as entre clas. Contato e um ato de autoeonsciencia totalizante, envolvendo um processo no qual asfuJ1l;:oessensoriais, motoras e cognitivas se unem, em complexa interdependencia dinlimica, para produzir mudanr;as na pess(w e na sua relar;iiocom 0 mundo, atraves da energia de tran~for- mar;iio que opera em total il1tera("iio,na rela~'iiosujeito-objeto. o contato pleno, fruto desta totalidade fenomenica, e, por na- tureza, mobilizador, parque envolve intencionalidade e responsabili- dade.!Uma vez estabelecido, as partes envolvidas ficam em dependen- cia uma da outra, como metades dc uma realidade unica, como figura e fundo em um processo de percep<;ao. Na natureza do contato estao incluldos valores, desejos, nega<.;6es, mem6rias, antecipa<.;6es,que operam no momenta em que 0 encontro se da, e que estao operando sempre, num nlvel nao consciente, pOl'uma matriz mental, intema, subjetiva, como uma antecamara onde 0 en- contro eu-mundo ocorre primeiro. Nossas rea<.;6espassam inconscientemente par esta matriz, antes que delas sejamos conscientes, e sao produto desta rela<.;aomatriz-ob- jeto-percebido, mental ou fisicamente. Estamos, portanto, de algum modo, sempre em contato com nosso mundo interior e exterior. Nos- sas a<;6es sao necessariamente resultado de valores anteriormente aceitos ou rejeitados, que, de algum modo, dao sentido a percep<.;aode nossa realidade extema e a nossa percep<.;aoimediata, enriquecida ago- ra da totalidade fenomenicaintrojetada, Isto nos permite ressignificar a realidade encontrada como fruto a priori de nossos valores, e da plu- ralidade de rela<.;6espr6pria da natureza percebida no aqui e agora ime- diatos. No contato, portanto, me divido entre observador da realidade ex- tema, a qual, por sua vez, me observa, me influencia, e observado, en- quanta observo a mim mesmo, procurando me distinguir do mundo fo- ra de mim. Assim, 0 contato ocorre sempre, sobretudo na fronteira, como lugar de encontro das diferen<.;as.Por outro lado, na razao em que mergulho minha realidade na realidade do outro, e you extinguindo as o contato, antes de tudo, contcm a idcia de uniao e separa<.;ao,de tal modo que uniao e separa<;ao sao fun<.;{Ses de contato; isto e, nao e posslvel pcnsar 0 conccito contato sem pensar nos conceitos de uniao e separa<.;ao.0 modo como as pessoas se encontram ou se desencon- tram revela a profundidade de seu engajamento numa rela<.;ao,que tor- na vislvel 0 grau eo nlvcl de equilibra<.;aoorganlsmica que elas condi- videlll, e que procede do processo de uniao e separa<.;aocom que se relacionalll. Se se conhece 0 modo como alguem faz contato, conhece- se tambcm 0 nlvel de encontro e separa<.;aocom que se aproxillla das cOlsas ou pessoas. Por meio do contato posso pensar minha existcncia e a do outro, pois fazer contato sup6e, de um lado, que eu possa me vel' como indi- vlduo, como um ser separado, sozinho no universo, e, de outro, que 0 n6s 6 a confirllla<.;aoda existcncia de uma comunhao maior..Quando estOLis6, posso estar em con[ato comigo mesmo ou nao; quando estoLi com os outros, posso estar em contato com eles ou nao, embora, ate certo ponto, esteja sempre em contato com 0 oLitro,independentemente de minha vontade. Crescimento e fun<.;aodo contato, nao se podendo pensar contato sem que, impJicitamente, se pense em crescimento. Para que isto ocor- ra, e preciso, espontaneamente, deixar-se levar pelo fluxo do encontro com 0 outro, com a vida, e acreditar no contato como gerador de mu- dan<.;ase de possibilidades novas, POI'meio do contato, encontro-me com minha coragem, meus medos, minha esperan<.;a.Atraves dele me reconhe<.;oposslvel e viaveI.
  • 16. rclac;6es subjetivas eu-mundo dentro de mim mesmo, perco minha in- dividualidade, e 0 senti do de minha individuac;ao. Posso, entao, termi- nar cont1uindo neuroticamente com 0 mundo fora de mim. 0 contato deixa de ser urn processo transformador positivo para se tornar negati- vamente transformador. A fronteira e 0 lugar do encontro de forc;as e energias diferentes, independentemente de sua qualidade. 0 contato de duas pessoas, uma em Brasflia e outra no Rio de Janeiro, por telefone, e, normalmente, menos intenso do que aquele de duas pessoas em urn aeroporto, ao se reencontrarem em urn abrac;o gostoso, ap6s anos de distanciamento. o contato efruto da rela(,"aode diferen(,"aeu-mundo, eu-no-mun- do. Sfntese harmoniosa de diferen~:as, torna-se ul71afor~'a transfor- madora porque traz, no seu processo, elementos huscados na seme- Ihan~'a existente entre seres diferentes e cujas energias cOT(f7uemna produ~.·aode um terceiro elemento lU1.ificadOl: Em um processo de slntese, quanto maio resforem as di{eren(,"as, tanto I1wior sera a energia de mudwl(,"a e de transjornw(,"ao ali pre- sente, salvaguardada a questao da intencionalidade entre ohjetos de diferente natureza, pessoa e coisas. Quanto mais a energiafluir deste encontro de diferenras, tanto mais intenso 0 contato se fara. A ener- gia fluira tamhem na medida em que duas ou mais pessoas se encon- trem, movidas pelo engajamento de suas fun~'i5es sensoriais, motoras e cognitivas, na consecu~'ao de llIn mesmo objetivo. Quanto mais as pessoas se encontrarem como totalidades vivas, tanto mais 0 contato ocorrera e a trans{ormarao seguira 0 seu curso. Duas realidades de diferente natureza, portanto, jamais entrarao em contato, no sentido aqui exposto, porque, por natureza, nao poderao construir uma totalidade ou unidade fenomenica, exceto se, ao menos uma delas, puder se relacionar no nIvel de intencionalidade: por exem- plo, uma pessoa e a manha, uma pessoa e uma arvore. Caso contrario, elas tocarao uma na outra, estarao uma no lugar da outra, uma ao lado da OLltra,conservando, porem, sua identidade e unidade internas ante- nores. Eimportante lembrar que se faz contato sempre que duas ou mais pessoas se encontram, independentemente de sua vontade. A vontade de encontrar-se altera a qualidade do contato. Ha encontros de exce- lente qualidade e ha encontros de pessima qualidade. 0 encontro e func;ao da qualidade do contato. 0 princIpio de que, quanto maiores forem as diferenc;as tanto maior sera a energia de mudanc;a e transfor- ma<;;aoali presente, vale tanto para 0 contato positivo quanta para 0 ne- gativo, dependendo dos objetivos do encontro. o eu esta mais atento quando, no seu processo decis6rio, depara com diferen<;;as. E 0 diferente que aciona 0 eu. Diante do risco, da amea<;;a,do improviso, 0 eu detona todos os seus alarmes a procura da solu<;;aomais rapida e ecollomica. 0 encontro entre diferentes pode, normalmente, ser mais nutritivo e criativo que entre iguais. Neste ca- so, 0 eu dorme tranquilo, porque no estado de tudo igual, ou de nao amea<;;a,seus mecanismos de defesa estilo programados para lidar com a rotina. Nao se encontra sob ameac;a ou sob a condic;ao de ter de es- colher algo eventualmente perigoso. o processo psicoterapeutico deve facilitar um processo de di{e- rencia(,"aoda realidade, com abertura total de horizontes, no qual a pessoa pense diferente, deseje di{erente, se sinta diferente e aprenda a Quando llIn contato plow ocorre, os elementos anteriores com- ponentes do contato se /7lodificwn, porque ahsorvel11processos de uma outra realidade. 0 contato e uma totalidade diferente das partes que o comprJem. A fronteira e 0 lugar privi1egiado do encontro das diferenc;as. Quanto mais pr6xima e uma fi-onteira, mais se concentram al energias de protec;ao, mudan<;;ae transformac;ao. Quanto mais alguem se apro- xima da fronteira de urn pais, por exemplo, mais deve estar atento as forc;as de prote<;;ao,ao patrulhamento proprio dos lugares de risco. Atravessar afronteira de alguma coisa ou de alguem significa en- trar no terreno, no corpo, na alma, nos pensamentos do outro, talvez ate tomar posse do desconhecido,' e passar a conhecer como 0 outro tida com 0 mais fntimo de si mesmo, e adentrar no misterio do outro de umaforma sel11retorno.
  • 17. correr riscos, de tal modo que erie, em sua vida, formas de cantata mais nutritivas e eficientes. pessoa e ao campo total no qual esta existe. Doen<;:ae fen6mcno COIIIO processo; como dado, cxistc em alguem, e nao como realidade em si mesma. Por isso, nao deverfamos tratar a doen<;:ae sim a pessoa adoe- cida, na qual a rela<;:ao harmoniosa entre os campos se quebrou. E neste contexto que se entende a expressao de Fritz Perls: "Eu nao tenho um cora<;ao doente, eu sou um cora<;:aodoente", pOl'que e a totalidade que acontece. Tentando ampliar 0 conceito da natureza do contato, acredito que podemos, para compreender a natureza da psicopatologia e da psi- coterapia, fazer uma ponte entre contato e dialogo, na visao buberiana. Bubel' afirma quc, para que 0 dialogo autentico ocorra, sao necessarias algumas condi<;aes: Abertura: uma visao inocente para 0 OLltro,na qual 0 conhecimen- to nao ponha barreiras ao encontro. RecifJrocidade: uma entrega descompromissada e confiante na realidade do outro. Presen~'a: uma entrega a experiencia imediata na aceita<;:aoda to- talidade do outro, coisa ou pessoa, deixando-se acontecer. ResfJonsabilidade: uma visao do outro como vejo a mim; uma en- trega e uma resposta cspontanea na certeza de quem eu sou e na cren<;:a de quem 0 outro e. Acredito tambem que 0 contato pleno precisa destes quatro mo- mentos: abertura, reciprocidade, presen<;:ae responsabilidade. Acredito que saCldee a soma destes quatro momentos, e acredito tambem que doen<;a e uma pane em um destes sistemas. Como fica a totalidade corporal quando 0 corpo perde a abertura, perde a reciprocidade, perde a presen<;a, quando perde a responsabili- dade, ou quando perde tudo? Poderfamos ate imaginal' quais seriam as doen<;:asda abertura, as da reciprocidade, as da presen<;:ae as da res- ponsabilidade, quando 0 corpo perde contato com uma destas dimen- saes existenciais, impedindo um dialogo entre elas e 0 mundo da ob- jetividade. Este gancho entre dialogo e contato pode nos remeter a verdadeira natureza da saude e da doen<;a quer tendamos a vel' estes dois feno- menos como realidades fenomenicas separadas, quer como um con- tinuo, onde, a partir de um ponto de equilibra<;:ao,a realidade da rela<;:ao eu-mundo come<;:aa modificar-se. Na razao em que a pessoa aprenda a fazer contatos reais, nos quais seu mundo encontre por inteiro 0 mundo do OLltro,ela aprende a sele- cionar 0 que e bom para si mesma. Uma pessoa com dificuldade de contato raramente sabe escolher. Contato e mudan<;:asao elementos basicos e interiores de qualquer forma de psicoterapia. 0 processo de mudan<;:aocorrera na razao em que psicoterapia e cliente fizerem contato com suas totalidades e nao apenas com seus sintomas. Esta totalidade e, muitas vezes, quebrada pelo cotidiano, pela roti- na, porque, habituados a dar sempre as mesmas respostas, tenninamos pOl'nao discriminar mais 0 que sentimos, fazemos ou dizemos. 5im- plesmente repetimos. E nesse contexto que entram as diversas formas de interromper 0 contato, as quais, quando contfnuas, repetidas e per- turbadoras, se tornam as chamadas resistCncias ou mecanismos de de- fesa, formas desesperadas de manter, a qualquer custo, a rela<;:ao01'- ganismica eu-mundo como tentativa de uma equilibra<;ao possfvel. A resistencia como mecanismo de defesa do eu e uma forma de contato., Nao e nossa inten<;:ao,no entanto, tratar aqui a quesUio da re- sistencia em si, a qual nos interessa apenas como um mecanismo de- sequilibrador de um processo saudavel no CicIo de Contato e Fatores de Cura. Contato e sauck. Sauck e contato em a<;:ao.Qualquer interrup<;:ao do contato implica uma pcrda na sauck.: Contato e processo de auto- regula<;ao organfsmica. Doen<;a significa interrup<;:ao do contato em um dos quatro campos que compaem 0 espa<;:ovital da pessoa: cam- pos geobiol6gico, psicoemocional, socioambiental e sacrotranscen- dental. A docn<;a implica a perda da totalidade O1'ganfsmica, implica uma necessidade nao satisfeita, implica um grito de retorno ao meio da estrada. A doen<;:ae relacional. Nao existe doen<;:aem si, pois se a doen<;:ae ncga<;ao de parte da energia de uma totalidade, admiti-Ia em si e admitir a existencia do nada. Na morte ocorre exatamente isto: per- da da energia total e conseqLiente retorno ao nadel. A doen<;a e nega<;:ao,e subtra<;:aode energia em um campo total, em um subcampo ou subsistema em particular. A doen<;a, portanto, ou o sintoma, nao deve ser considerada em si, mas sempre em rela<;:aoa
  • 18. Eeste 0 contexto teorico em que entendemos realizar-se uma con- cep~ao de vida, de existencia, a partir do conceito "contato". A teoria gesUiltica esta centrada no conceito contato, 0 qual, por sua vez, se faz compreensfvel a partir da dinamicidade do conceito de forma~ao e destrui~ao de gestalts. Na realidade, porem, nao basta for- mal' e destruir gestalts; e importante fecM-las. So quando se fecha uma gestalt, 0 processo seguiu seu curso, e 0 contato pode ser senti do co- mo excelente, porque nada ficou em aberto. Fechar gestalts e a caminho da saude, pois quanto mais gestalts inacabadas se tern, menos saudavel se e, e mais pobre e 0 contato. De outro lado, fechar gestalts significa encontrar a propIio sentido, a propria fisionomia: e tornar-se senhor de si mesmo. definida por nos como a mais completa e plena forma de contato. Estes passos ou processos sao chamados, indistintamente, na Iiteratura, de Fatores de Cura, Mecanismos de Cura ou Fatores Psicoterapeuticos. Rica no que diz respeito aos Fatores de Cura, embora tenha grande dificuldade em defini-los, a Iiteratura chegou a identificar 220 proces- sos, sobretudo na psicoterapia de grupo, os quais poderiam ser chama- dos de Fatores de Cura. Existem, no entanto, alguns fatores de cura ja universalmente consagrados, como: Aceita~ao, Altrufsmo, UniversaIi- dade, Insight, Transferencia, lntera~ao, Catarse, Aprendizagem Vicaria, Coesao, Auto-revela~ao (Crouch, 1987). Ao apresentarmos este Ciclo, e ao chmm'l-lo de CicIo de Fatores de Cura, estamos deixando uma nomenclatura cIassica e univer- salmente reconhecida, para adotarmos, formalmente, cada passo do Ciclo do Contato como Fatores Psicoterapeuticos. Estamos afirmando que, assim como "universalidade", "catarse" ou outros fatores sao re- conhecidamente fatores que provocam mudan~a e, as vezes, cura, tam- bem "tluidez", "sensibiliza~ao" e outros sao considerados por nos na mesma dimensao. Entendemos que Fatores de Cura ou Fatores Psicoterapeuticos, quando ocon'em em psicoterapia, tern urn alto potencial de provocar mudan~as, de alterar comportamentos, de afetar a propria natureza da personalidade. Entendemos tambem que cada passo do Ciclo de Con- tato, quando experienciado plenamente, promove mudan~as e predis- poe a pessoa para continuar na procura do contato total consigo mes- ma, no mundo. Entendemos que 0 ciclo-como-um-todo representa a caminhada de "fixa~ao/f1uidez" para "conf1uencia/retirada", na qual a pessoa se reviu como ser-no-mundo e ser-do-mundo para uma posi~ao plena de ser-para-o-mundo. Os processos de cura anteriormente referidos tern sido mais estu- dados na situa~ao de psicoterapia de grupo. Podemos, no entanto, afir- mar com certeza que, exceto Coesao Grupal, todos os outros mecanis- mos ocorrem, a seu modo, na psicoterapia individual, com a mesma intensidade e for~a de transforma~ao. Se pensarmos na "alian~a tera- peutica", talvez possamos afirmar que a propria "coesao" tambem ocorra na psicoterapia individual. Crouch (1987, p.4) define Fatores de Cura como: "Urn processo individual ou grupal, que contribui para a melhora da condi~ao da pes- soa, em dependencia direta, as vezes, da a~ao do proprio cliente e, as . Para que urn contato real entre uma pessoa e outra ocorra e pre- ClSO: I. que a pessoa sinta sua singularidade, veja-se como diferente do outro e atc, numa dimensao maior, perceba-se como unica, singular, no universo; 2. que se sinta no aqui e agora e perceba que 0 tempo e 0 es- pac,:opadem se tamar alga cancretamente dispanfvel para ela; 3. que se perceba inteira, coma consciencia de sua propria realidade e da rea- lidade do outro. A oworcncss, consciencia da propria consciencia, ou cansciencia reflexa, forma mais campleta de contato, fruto da imersaa consciente e total da pessoa na sua rela<;ao com 0 mundo, emana da iun~ao dinamica desses tres momentos. . A literatura gestaltica fala de nove mecanismos de defesa ou re- sistencias. Falta, porem, muito para se saber a verdadeira natureza desses mecanismas. Pouqufssimas pesquisas tem sido conduzidas no senti do de validar sua existencia, de compara-Ios um ao outro e de co- Iher, '.1apratica, sua utilidade e 0 modo como eles funcionam na per- sonahdade. o Cicio do Contato, vista por nos como Cicio dos Fatores de Cu- ra e Bloqueios do Contato, nos da uma visao das diversas formas que o contato assume em urn processo pleno, com comec,:o, meio e fim, rnostrando a dinarnica da polaridade saude e seus bloqueios. Cada mo- mento do CicIo e visto como passos de saude, ou na dire<;ao da saude,
  • 19. Vl'zes, do psicoterapeuta", Embora esta defini<;:ao seja de urn dos maiores especialistas no tema, penso que nao contempla aspectos im- portantes da natureza da questao, nascem de uma reflexao e experiencia pessoais, e de pesquisas clfni- cas, na tentativa de visualizar 0 processo psicoterapeutico como algo que possui uma logica interna e pode ser demonstrado, servindo de ins- trumento e modelo de trabalho. Cheguei a ele pOl' uma integra<;:ao, longamente pensada, do trabalho de diversos autores. o cicIo esta constitufdo da seguinte maneinl e com as seguintes caracterfsticas: 1. Traz as nove formas de resistencias ja apresentadas, ao longo dos anos, por Perls, ZinkeI', os Polster e Crocker, embora apenas cinco destes mecanismos (introje<;:ao, proje<;:ao, confluencia, deflexao e retroflexao) tenham sido consagrados pela literatura em Gestalt-tera- pia, nos Estados Unidos. 2. Apresenta nove formas pol ares a estes mecanismos como Fa- lores de Cura, incluindo os processos do CicIo de Contato de J. Zinker, (1979, p. 84), repouso/retraimento, sensa<;:ao,consciencia, mobiliza- iao, a<;:aoe contato; traz ainda " satisfa<;:ao", de P. Clarkson (1989, p. 50), e eu acrescento "tluidez e interac,;ao". . 3. 0 CicIo fecha uma gestalt, urn programa. Pode ser concebldo como urn paradigma, um modelo para se pensar a psicopatologia do sintoma, 0 psicodiagnostico e, ao mesmo tempo, como um prognosti- co, visando ao processo de mudan<;:ae de cura. 4, A cura, a l11udan<;:a, e concebida como fun<;:aodo contato, como ;Jigorelacional entre pessoa-mundo e bloqueio-fator de cura. 5. 0 self ocupa 0 centro do cicIo e e concebido como um lugar- processo. Atraves do eu, 0 self se localiza no mundo e e 0 centro de ('onvergencia da personalidade, e a propriedade pOl' meio da qual os comportamentos se revelam. Para nos: FCltorde Cura e um processo pOl' meio do qual a pessoa experiencia, ern um momento dado, uma sensaf'ao de que algo novo, portador de mudanra e de bem-estar, penetrou no seu llniverso cogni- tivo, e, atraves de llma consciencia emocionada, provocada pela per- ceprao de uma totalidade dinamicamente tranl!ormadora, .Iesente in- clinada, motivada, f(Jrtalecida para mlldar. o fator de cura, como momento maior do contato, do dialogo e da mudan<;:aenvolve alguns elementos basicos: I. Um universo cognilivo. Vel', observar e descrever para si a propria realidade facilita uma aten<;:ao que interfere no processo de per- cep<;:aoe descnvolve a aptidao para mudar. A pessoa precisa localizar- se na sua rela<;:aocom 0 sintoma, sobretudo porque a mudan<;:aocorre como resultado de uma procura interessada, constante e inteligente, pois quando nao se procura, nao se cncontra. Supoe ainda envolver-se com as proprias duvidas, certezas e verdades como partes do proprio cotidiano. 2. Uma consciencia emocionada. Nao basta so 0 pensar. 0 pensar com emoc,;aoajuda 0 descobrir e, juntos, pensamento, emo<;:aoe a<;:ao possuem a forc,;ada mudanc,;a. 3. Uma IOlalidade dinamicamente transf(mnadora. A totalidade precede sempre a consciencia plena, Uma vez alcanc,;adaa totalidade, esta leva a conscicncia, que, pOI'sua vez, provoca a intencionalidade que predispoe para a l11udanc,;a, porque juntos, ao mesmo tempo, dese- .io e a<;:ao, elementos basicos no processo de transforl11a<;:ao. Para ciaI'UI11 unico exemplo, tOl11emosum dos conceitos mais eo- nhecidos entre os fatores classicos clecura: a "Universaliclade" ocorre quando esses tres elementos se interligam; pOI'exemplo, quando al- guem no grupo, ao vel' pessoas falando de sua dor, de seu sofrimento , de sua impotencia, entencle, emocionalmente, que nao e a unica que sofre, que se sente impotente no universo, e, a partir daf, sente-se ali- viada, esperan<;:osa,com coragem para mudar. Tal sentimento, produ- tor de mudan<;:a,de cura talvez, e 0 que chamamos de Fator de Cura. o CicIo e sua teoria, no modelo aqui apresentado e desenvolvido, o ciclo eo espaf'o vital total de uma pessoa, de um grllpo, de um II/gl/t; de uma empresa. Ele revela as mil possibilidades dentro das '1l/llisa realidade, pessoa ou coisa se expressam. Este modelo aplica- II' IlIl1toaparte dinica quanta Cl orgonizocional. Tambhn umo empre- Iii, ('(1/110 um todo, tem lll11 self, pode .IeI'deflectora, projetora, e tom- 11,'11/ ((Ii 0 contoto estara sendo interrompido, bloqueodo, como se '"{I'l'mmpe e .Ie bloqueio em umo pessoo,
  • 20. Cura: fluidez, sensa~ao, consCIencia, mobiliza~ao, a~ao, intera~ao, contato final, satisfa~ao, retirada. As defini~6es que se seguem, tanto as dos Fatores de Cura quan- to as dos Bloqueios do Contato, passaram por uma valida~ao, seguin- do os passos: 1. defini~ao do dicionario da lfngua portuguesa; 2. defini~ao de diciomirios especializados na area; 3. compreensao da defini~ao por pessoas da area; 4. compreensao da defini~ao texto por diferentes tipos de possiveis usuarios. FLUIDELProcesso pelo qual me movimento, localizo-me no tem- po e no espa~o, deixo posi~6es antigas, renovo-me, sinto-me mais solto e espontaneo e com vontade de criar e recriar minha propria vida. SENSA~~AO: Processo pelo qual saio do estado de fi-ieza emocional, sinto melhor a mim mesmo e as coisas, estou mais atento aos sinais que meu corpo me manda ou produz, sinto e ate procuro novos estimulos. CONSCJl~NCIA: Processo pelo qual me dou contI de mim mesmo de uma maneira mais clara e reflexiva, estou mais atento ao que ocorre ~l minha volta, percebo-me relacionando com mais reciprocidade com pessoas e coisas. MOBILlZA~:AO: Processo pelo qual sinto necessidade de me mu- dar, de exigir meus direitos, de separar minhas coisas das dos outros, de sail' da rotina, de expressar meus sentimentos exatamente como sin- to e de nao tel' medo de ser diferente. Ae,:Ao:Processo pelo qual expresso mais confian~a nos outros, as- sumo responsabilidades pelos meus proprios atos, identifico em mim mesmo as raz6es de meus problemas, ajo em nome proprio sem medo da minha propria ansiedade. INTERA~:AO: Processo pelo qual me aproximo do outro sem esperar nada em troca, ajo de iguaI para igual, dou pelo prazer de dar, convivo com as necessidades do outro sem esperar retribui~ao, sinto que estar e relacionar-me com 0 OLltrome ajuda a me perceber como pessoa. CONTATO FINAL: Processo pelo qual sinto a mim mesmo como mi- nha propria fonte de prazer, nutro-me do que gosto e do que quero sem intermediario, relacionando-me com as pessoas de uma maneira dire- ta e clara, usa minha energia para usufruir c.om0 outro 0 prazer do mo- mento. SATISFA<;:Ao: Processo pelo qual vejo que 0 mundo e composto de pessoas, que 0 outro pode ser fonte de contato nutritivo, que 0 prazer e a vida podem ser co-divididos, que pensar em possibilidades e pen- sar em crescimento, que e possivel desfrutar dividindo e que 0 mundo fora de nos pode ser fonte de prazer. RETIRADA: Processo pelo qual saio das coisas no momenta em que sinto que devo sair, percebendo 0 que e meu e 0 que e dos outros, aceito ser diferente para ser fiel a mim mesmo, amo 0 "eu" e aceito 0 "nos" quando me convem, procuro 0 novo e convivo com 0 velho de uma maneira critica e inteligente. oCicIo apresenta, igualmente, os nove processos de Bloqueios do Contato, cujas defini~6es passaram pelo mesmo processo de valida~ao: fixa~ao, dessensibiliza<,;ao, detlexao, introje~ao, proje~ao, intera~ao, retroilexao, egotismo e confluencia. De uma maneira extremamente simples e direta, resumo 0 proces- so que sintetiza 0 mecanismo, numa frase de efeito, para facilitar a compreensao daquele. FIXA<;:AO CParei de existir."): Processo pelo qual me apego excessivamente a pessoas, ideias ou coisas, e temendo surpresas diante do novo e da realidade, sinto-me in- capaz de explorar situa~6es que Jlutuam rapidamente, permanecendo fixado em coisas e emo~6es, sem verificar as vantagens de tal situa~ao. Tenho medo de correr riscos. DESSENSlBILlZA~:AO ("Nao sei se existo."): Processo pelo qual me sinto entorpecido, frio diante de um conta- to, com dificuldade para me estimular. Sinto uma diminui~ao sensorial no meu corpo, nao diferenciando estimulos externos, e perdendo 0 in- teresse pOI'sensa~6es novas e mais intensas. DEFLEXAo CNem ele nem eu existimos."): Processo pelo qual evito contato pelos meus varios sentidos, ou fa~o isso de uma maneinl vaga e geral, desperdi(,;o minha energia na re- la(,;aocom 0 OLI tro, usando um contato indireto, palavreado vago, ex- cessivo ou polido demais, sem ir diretamente ao assunto. Sinto-me apa- gado, incompreendido, pouco valorizado, afirmando que nada da certo em minha vida. Nunca sei par que as coisas me acontecem como acon- tecem. INTROJE<;:Ao CEle existe, eu nao."): Processo atraves do qual obede~o e aceito 0p1l11OeS arbitrarias, normas e valores que pertencem a outros, engolindo coisas dos outros sem querer, e sem conseguir defender meus direitos pOI'medo da mi-
  • 21. brayao 0 resultado de minhas manipula<;5es. Tenho muita dificuldade em dar e em receber. CONFLUENCIA("Nos existimos, eu nao"): Processo pelo qual me ligo fortemente aos outros, sem diferenciar o que e meu do que e deles, diminuo as diferen<;as para sentir~me me- lhor e semelhante aos demais e, embora com sofrimento, termmo obe- decendo a val ores e atitudes da sociedade ou dos pais. Gosto de agradar aos outros, mesmo nao tendo sido solicitado e, temendo 0 isolamento, amo estar em grupo, agarrando-me firmemente aos outros, ao antigo, aceitando ate que decidam por mim coisas que me desagradam. nha propria agressividade e da dos outros. Desejo mudar, mas temo mi- nha propria mudan<;a, preferindo a rotina, simplifica<;5es e situa<;5es facilmente controlaveis. Penso que as pessoas sabem melhor do que eu o que e bom para mim. Gosto de ser mimado. PROJE<;:Ao("Eu existo, 0 outro eu crio."): Processo pelo qual eu, tendo dificuldade de identificar 0 que e meu, atribuo ao outro, ao mau tempo, coisas de que nao gosto em mim, bem como a responsabilidade pelos meus fracassos, desconfiando de todo mundo, como provaveis inimigos. Sinto-me amea<;ado pelo mun- do em geral, pensando demais antes de agir e identificando facilmente nos outros dificuldades e defeitos semelhantes aos meus, e tendo difi- culdade de assumir responsabilidade pelo que fa<;o, gosto que os ou- tros fa<;am as coisas no meu lugar. PROFLFXAo ("Eu existo nele."): Processo pelo qual desejo que os outros sejam como eu desejo que eles sejam, ou desejo que eJes sejam como eu mesmo sou, manipulan- do-os a fim de receber deles aquilo de que preciso, seja fazcndo 0 quc eJes gostam, seja submetendo-mc passivamente a eles, semprc na es- peran<;a de ter algo em trucc. Tenho dificuldade de me reconhecer co- mo minha propria fonte de nUlri<;ao, e lamento profundamcllte a ausen- cia do contato externo e a dificuldade do outro em satisfazer minhas Ilecessidades. RFTROFLEXAo C'Ele existe em mim."): Processo pelo qual desejo ser como as outros desejam que eu se- ja, ou desejo que eu seja como eles proprios sao. dirigindo para mim mesmo a energia que deveria dirigir a outrel1l. Arrependo-me com fa- cilidade, por me considerar inadequado nas coisas que fa<;o, por isso as fa<;o e refa<;o varias vezes, para nao me sentir culpado depois. Gos- to de estar sempre ocupado e acredito que pas so fazer tnelhor as coisas sozinho do que com a ajuda dos outros. Deixo de fazer coisas com me- do de ferir e ser ferido. Sinto que. tnuitas vezes. sou inimigo de mim mesmo. EGOTISMO("Eu existc), elcs nao."): Processo pelo qual me coloco sempre como 0 centro das eoisas, exercendo um controle rfgido e excessivo no mundo fora de mim, pen- sando em todas as possibilidades para prevenir futuros fracassos ou possfveis surpresas. Imponho tanto minha vontade e desejos que deixo dc prestar aten<;ao ao meio a minha volta. usufruindo poueo e sem vi- Para uma melhor visualiza<;ao, 0 quadro abaixo apresenta ambos os processos. OPERACIONALlZAQAo DOS BLOQUEIOS DE CONTATO E FATORES DE CURA FATORES DE CURA FIXAc;:Ao ("Parei de existir."): Processo pelo qual me apego ex- cessivamente as pessoas, ideias ou coisas e, temendo surpresas diante do novo e da realidade, sinto-me incapaz de explorar si- tua<;5es que flutuam rapida- mente. permanecendo fixado em coisas e emo<;5es, sem verificar as vantagens de tal situa<;ao. DESSENSlI3ILIZA(,'Ao ("Nao sei se existo."): Proeesso pelo qual me sinto entorpecido, frio diante de um contato, com dificuldade para me estimular, e sinto uma dimi- nui<;ao sensorial no meu corpo, nao diferenciando estfmulos ex- ternos e perdendo 0 interesse por sensa<;5es novas e mais intensas. FLUlDFZ: Processo pelo qual me movimento, localizo-me no tem- po e no espa<;o, deixo posi<;5es antigas, renovo-me, sinto-me mais solto e espontaneo e com vontade de erial' e reeriar minha propria vida. SENSAC;Ao: Processo pelo qual eu saio do estado de frieza emo- eional, sinto melhor a mim mes- mo e as eoisas, estou mais atento aos sinais que meu eorpo me manda ou produz, sinto e ate procuro novos estfmulos.
  • 22. FATORES DE CURA BLOQUEIOS DE CONTATO DEFLEXAo ("Nem ele nem eu existimos."): Processo pelo qual evito contato pelos meus varios sentidos ou fa<;:o isto de uma maneira vaga e geral, desperdi<;:o minha energia na rela<;:aocom 0 outro, usando urn contato indire- to, palavreado vago, inexpressivo ou pol ido demais, sem ir direta- mente ao assunto. Sinto-me apa- gado, incompreendido, pouco valorizado, afirmando que nada da certo em minha vida e sem saber pOI'que as coisas acontecem como acontecem. CONSCIENCIA: Processo pelo qual me dOll conta de mim mesmo de uma maneira mais clara e retlexi- va. Estou mais atento ao que Ocorre a minha volta, percebo-me relacionando com mais reeiproci- dade com as pessoas e coisas. ficar 0 que e seu, atribui aos outros, ao mau tempo, a responsabilidade pelos seus fracassos, desconfiando de todo mundo, como provaveis inimigos, sente-se amea<;:adapelo mundo em geral, pensando demais antes de agir e identificando facil- mente nos outros dificuldades e defeitos semelhantes aos seus e, tendo dificuldade de assumir res- ponsabilidade pelo que faz, gosta que os outros fa<;:amas coisas no seu lugar. INTROJEC.'AO ("Ele existc, eu nao."): Processo pelo qual ohe- de<;:o c aceito opinioes arbitrarias, normas e valorcs que pcrtencem a outros, engolindo coisas sem querer e sem conseguir defender meus direitos pOl'medo da minha propria agrcssividade e da dos ou- tros. Dcsejo mudar, mas temo mi- nha propria mudan;a, prcfcrindo a rotina, simplificac;oes e situa- <;:oesque sao facilmente contro- laveis. Penso que as pessoas sa- bem melhor do que eu 0 que e hom para mim. Gosto de ser mi- mado. PROJE<;:AO ("Eu existo, 0 outro eu erio"): Processo pelo qual a pes- soa, tendo dificuldade de identi- MOI3ILlZA~'AO:Proeesso pelo qual sinto necessidade de me mu- dar, de exigir meus direitos, de separar minhas coisas das dos ou- tros, de sair da rotina, de expres- sar meus sentimentos exatamente como sinto e de nao tel' medo de ser diferente. PROFLEXAo("Eu existo nele."): Processo pelo qual a pessoa dese- ja que os outros sejam como ela deseja que eles sejam, ou deseja que eles sejam como cIa propria e, manipulando-os a fim de receber deles aquilo de que precisa, seja fazendo 0 que eles gostam, seja submetendo-se passivamente a eles, sempre na esperan<;:ade tel' algo em troca. Tendo dificuldade de se reconhecer como sua propria Fonte de nutri<;:ao,lamen- ta profundamente a ausencia do contato externo e a dificuldade do outro em satisfazer as suas neces- sidades. A<;:Ao:Processo pelo qual ex- presso mais confian<;:anos outros, assumo responsabiJidade peJos RETROFLEXAO ("Ele existe em mim"): Processo pelo qual a pes- soa deseja ser como os outros de- sejam que cIa seja, ou deseja que meus proprios atos, identifico em mim mesma as raz5es de meus problemas, ajo em nome proprio sem medo da minha propria an- siedade. INTERA<;:AO: Processo pelo qual me aproximo do outro sem espe- rar nada em troca, ajo de igual para igual, dou pelo prazer de dar, convivo com as necessidades do outro sem esperar retribui<;:ao, sinto que estar e relacionar-me com 0 outro me ajuda a me perce- bel' como pessoa. CONTATO FINAL:Processo pelo qual sinto a mim mesmo como minha propria fonte de prazer, nu- tro-me do que quero sem inter-
  • 23. ela seja como eles proprios sao, dirigindo para si mesma a energia que deveria dirigir a outrem. Ar- repende-se com facilidade por se considerar inadequada nas eoisas que faz, pOl' isso as faz e refaz varias vezes, para nao se sentir culpada depois. Gosta de estar sempre ocupada e acredita poder fazer melhor as coisas sozinha do que com a ajuda dos outros. Deixa de fazer eoisas com medo de ferir e ser ferida. Sente, muitas vezes, que c inimiga de si mesma. FATORES DE CURA BLOQUEIOS DE CONTATO mediario, relacionando-me com as pessoas de maneira direta e clara, uso minha energia para usufruir com os outros 0 prazer do momento. ren~as para sentir-se melhor e se- melhante aos demais e, embora com sofrimento, termina obede- cendo a valores e atitudes da so- ciedade ou dos pais. Gosta de agradar aos outros, mesmo nao tendo sido solicitada e, temendo o isolamento, ama estar em grupo, agarrando-se firmemente aos outros, ao antigo, aceitando ate que decidam por ela coisas que the desagradam. ser fiel a mim mesmo, amo 0 "eu" e aceito 0 "nos" quando me con- vem, procuro 0 novo e conVlVO com 0 velho de uma maneira crftica e inteligente. Ec,oTISI10 ("Eu existo, eles nao"): Processo pelo qual a pessoa se eoloea sempre como 0 centro das coisas, exercendo um eontrole rfgido e exeessivo no mundo fora dela, pensando em todas as possi- bilidades para prevenir futuros fracassos ou possfveis surpresas. Imp6e tanto sua vontade e dese- jos, que deixa de prestar aten<;ao ao meio eireundante, usufruindo poueo e sem vibra<;ao 0 resultado de suas manipula<;6es, tendo mui- ta dificuldade em dar e em reee- ber. SATISFA<;:AO: Proeesso pelo qual vejo que 0 mundo e composto de pessoas, que 0 outro pode ser Fonte de contato nutritivo, que 0 prazer e a vida podem ser co-divi- didos, que pensar em possibilida- des e pensar em erescimento, que e possfvel eleshutar dividindo, e que 0 munelo fora elenos pode ser Fonte de prazer. Embora cada um do nos possa interromper 0 cicIo, em qualquer lugar, existe, no entanto, um ponto onele 0 interrompemos de uma maneira mais constante, que e 0 lugar onele nossa energia se bloqueia e onde somos mais neuroticos. Cada ponto do cicIo funciona como um ponto de encontro entre duas energias, uma de saude, outra de bloqueio: 0 defletor tern proble- mas com a consciencia 0 introjetor com seu processo de mobiliza~ao o projetor esbarra na a~ao adequada e assim pOI'diante. Este cicIo funciona como um modelo a partir do qual e possfvel, uma vez conheeidos os sintomas, fazer um diagnostico. Por exemplo: o cliente chega e diz que tem grandes ideias, que procura acertar, e nao consegue, pensa que as pessoas nao 0 compreendem, tem receio ou in- veja dele, esti sempre se virando, mas as coisas nao funcionam. CONFLUENCIA ("Nos eXIstlmos, eu nao"): Processo pelo qual a pessoa se liga fortemente aos ou- tros, sem diferenciar 0 que e seu do que e deles, diminui as dife- RETIRADA:Processo pelo qual saio das coisas no momento em que sinto que devo sail', per- cebendo 0 que e meu e 0 que e dos outros, aceito ser diferente para Alauns passos san necessarios: 1. Verificar se a pessoa tem problemas ffsicos, neurol6gicos, in- telectuais, pelos quais nao consegue terminal' as coisas, passando de uma a~ao a Olltra, de um momenta ao outro, sem finalizar seus proprios desejos. 2. Descartada esta hipotese, sem entrar aqui em outros por-
  • 24. 1I1L'IIUIL'S, put/cmos estar diante de urn projetor, que esbarra na a<;:ao adeguada que Ihe permitiria passar a intera<;:aoe cornpletar seu ciclo. BLOQUEIOS DE CONTATO FATORES DE CURA BLOQUEIOS DE CONTATO FLUIDEZ FIXA<;:Ao Passa uma jovem atraente, que 0 Passa urna jovern atraente e olha olha displicenternente. Algo acon- para ele. Ele a olha e nao a per- tece dentro dele, urna energia di- cebe. Esta imerso nas suas ideias. ferente oretira do lugar mental no Nao consegue abandona-Ias. Nao qual se encontrava. Torna-se mais consegue perceber posslveis van- vivo, aceso, predisposto. tagens em segui-Ia. Nao deseja nem pensar sobre isso. SENSA(,:Ao DESSENSIBILIZA<;:Ao Sente algo como 0 desejo de se- A presen<;:adajovem nao the des- guir aquela pessoa, sente ate 0 co- perta nadcl. Sente frio. Tern a sen- ra<;:aobatendo, 0 pulmao pedindo sa<;:aode que nada compensa. Fi- aI', sensa<;:6esde surpresa e medo ca para outra vez. Diz para si podem estar presentes. mesmo que nao vale a pena tentar. CONSCIENCIA DEFLEXAo Ele para e pensa. Sera que vale a Olha a jovem e diz: ja sei que nao pena? vai dar certo. Nunca da certo. Vou Ja fiz isto outras vezes ... e se re- olhar para ela para verse pega, ceber urn fora? Mede tudo. Pensa mas nao vai pegar. Talvez se eu tudo. fizer urn barulho, ela me olhe; e talvez possa fazer algo, ou talvez possa tossir. .. MOBILIZA<;:Ao INTROJE<;:Ao Levanta-se, olha para os lados, da Olha a jovem e diz: "nao devo alguns passos e para, pens a de adiantar-me. Pega mal, ser educa- novo, coloca 0 dedo sobre os la- do e melhor do que arriscar-me. bios e diz: Se ela olhar para mim, vai perce- "Eu vou." bel' que nao sou legal para ela. . Nao se podefazer psicoterapia sem um planejamento, nao se pode dezxm~ 0 processo ocorrer, como se ele se organizasse magicamente por sz mesmo. /sto e animismo. A doeTU,.'a e exatamente um momento em que, por raZrJesincontaveis, apessoa perdeu sua capacidade de au- to-regular-se, de autoplanejar-se. Por isto, ela nos procura. Se nos nclo temo.·.uma ideia ou nao queremos ter ideia de para mule ir, porque acredztamos quefazer psicodiagnc5stico e interferir na espontaneidade do processo do outro, ambos corremos 0 risco de irmos para onde nao queremos. E nao e verdade que nclo temos esta ideia. Temos, porque pensamos. Outra coisa e 0 que vamos fazer com a ideia, com as emo~'{jes, com 0 diagnostico que fizemos, independentemente de nos- sa vonlade. " Darei doi~ exempJos de como usar 0 Cicio. Urn bastante simples, ate um pouco tolcl6nco, para deixar bem clara a progressao sllcessiva de um I?a~sopara 0 outro. 0 outro, urn exemplo clfnico de uma psi- coterapla Idealmente levada a bom tenno. Excmplo n" I: OPERACIONALlZACAo DO CICLO DE CONTATO E FATORES DE CURA Algucm csta sentado a porta de uma casa, tranqLiilo, fazendo uma Jeitura gostosa, ou apenas esta ali, vendo 0 tempo passar. Algucm esta a porta de sua casa. As pessoas passam. 0 sol esta quente, incomoda, e ele nao perce be nada. A realidade fora dele nao existe, ele simplesmente a ignora.
  • 25. Caminha, apressa 0 passo, adian- ta-se, caminha um pouco ao ]ado da jovem e diz: "Posso fa]ar com voce'?" E]a para, eles se olham, talvez fiquem surpresos, caminham um pouco, ate para pensar melhor, eJe pergunta de novo: "Posso faJar?". EJa responde, sim ou nao. No caso de "sim", elcs conver- sam, se oJham, comentam coisas, ate fazem promessas, falam de sentimentos e sensa<;:6es. No caso de "nao", ele para, o]ha para dentro de si, experimenta um desapontamento e se vai, sentindo tristeza. FATORES DE CURA Pode sentir-se agredida, se me di- rigir a ela, acho que e melhor es- perar que me de um sinal." SATISFA<;:Ao. Ainda se a resposta e "sim". Eles se olham prazerosamente, dizem coisas agradaveis um ao outro, se fazem promessas, se abra<;:am. "Aquela mo<;:aesta me olhando, deve estar pensando que sou um babaca. Tambem com aquele jei- to, deve achar todo mundo idiota. Se ela Fosse mais cordiaL eu che- garia mais perto. Azar deja. Esta perdendo uma chance." Se a resposta e "nao". Ele reflete atentamente sobre 0 que ouve, pensa se poderia ter sido diferen- te, reve todos os passos anterio- res, sente que fez tudo que podia ser feito. Apesar da desilusao sente que satisfez seu desejo. "Ah! Se cIa Fosse mals modesta, ta]vez menos altiva, seria bom ate se tivesse um pouco 0 meu jeito cordial, atencioso. Ai chegaria ate e]a e seria legaJ com e]a. Acho que cia iria gostar de mim. Seria uma boa troca, mas com aque]e nariz empinado, nao da. Uma pena, fica para uma outra vez." "Nao me movo. Ela que se apro- xime, se quiser. E]a nao deve ser grande coisa. Vou ficar atento, mesmo que ela se dirija a mim. Nao posso perder o controle da situa<;:ao. Se nao acontecer nada, tudo bem. Nao preciso mesmo dela." Exemplo n" 2: um caso clfnico. . . Joao, trinta e cinco clt10s,so]teiro, formado em contabllIdade e matematica, atua]mente cursando medicina e ja pensando em um no- vo curso superior. Quando crian<;:a,0 pai 0 chamava de "aleijao", de "pra nada", porque, segundo e]e, alem de ser feio, era lento, va~aroso. Descreve-se como cheio de duvidas, nao sabendo 0 que quer, delxa que os outros deem palpite na sua vida. Totalmente desapegado, se veste um pouco de qualquer jeito, esta sempre disponfvel para os outros, mesmo ~l custa de sacriffcios pessoais, nao se va]oriza. E facil identificar 0 "introjetor" nesta autodescri<;:ao. Olhando 0 nosso CicIo, vemos que 0 "introjetor" esbarra na "mobiJiza<;:ao",como mecanismo saudavel. Em pa]avras simples, ele introjeta como forma de sobrevivencia e necessita de mobiJiza<;:aocomo forma de resgate. Sua mobiliza<;:aoesta prejudicada pela intensidade das proje<;:6esque acumulou ao longo da vida. Dentro de sua necessidade de mudan<;:a, Os dois se afastam, retornam aos seus "Iugares" anteriores e se preparam para um novo cicIo. "Ah! Eu devia ser como cIa, posu- da, autoconfiante, ou entao ela po- dia me dizer como gostaria que eu Fosse. Ai sena legal. Faria tudo para agrada-]a. E tentm"iafazer hem. Nao impOltaria o sacriffcio.Nao correria risco, e ten- taria fazer sempre do melhor modo." Os dois se afastam, retornam aos seus "lugares" anteriores e se preparam para um novo cicio.
  • 26. ell' Cillllinha no sentido de projetar 0 introjetado, como primeiro mo- mento de uma mobiliza<;:aona dire<;:aoadequada. Temos ai, portanto, ao mesmo tempo, 0 diagnostico e 0 prognostico. Como proceder apos esta verifica<;:ao? Vou "pro~ra/l1~ar"aqui 0 processo psicoterapeutico, apenas como urn exemplo dldatlco, porque, na pratica, serao a sensibilidade a arte e a competencia tecnico-cientifica que decidirao que rumos se;uir. / _ A psicoter~pia, di~'erentemente do que acontece nas nossa~ vidas, e nao-programavel, pOlSprogramar significa ver antes, ver com ante- cedencia, comprometer-se, a priori, com resultados. sos os assuntos que ele bem desejar. Nada epredeterminado. Pode pas- sar sessoesfalando de outros assuntos. 0psicoterapeuta, pore,n, sabe, silenciosamente, que eles estao no primeiro momenta do processo, que podeni ate nao terminar, ser alterado, mas ele, psicoterapeuta, precisa saber onde se encontra. Este "progral71a" poderci durar um dia, Ul71a semana, um CIllO. Nunca se.,l'Obe.0 importallte e que 0 psicoterapeuta, sem impedir que o barco slga seu curso, procurando sua prdpria margenl, tenha um ma- pa, 1/(/ cabe~'a e no corarao, dos caminhos por onde andaram ou poderao ai~lda andw: A Psicoterapia Gestdltica, ou melhOt; nenhwna p~·/( .. oterap~a e W~1laissez-faire. A psicoterapia tem uma lr5gicae toda loglca supoe raclOnalidade, e, portallto, previsibilidade. 2. Em seguida, fico atento as sensa<;:oesque Joao come<;:aa mani- festar. A raiva, a culpa, a repara<;:ao,a desilusao, a repeti<;:ao,0 aban- dono, sempre que surgem, san explorados ao maximo, de todos os pon- tos de vista. Joao come<;:aa falar de seus apelidos, do cansa<;:ode estar sempre come<;:ando novos cursos. Sempre, dentro dos seus limites, Joao e apoiado a explorar, em profundidade, todos estes sentimentos, e a experienciar que nao se morre, ao contrario, se ressuscita ao en- frenta-Ios. 3. A fase da "consciencia ". Ela esta sempre presente, mas este e o momento de explora-Ia de uma maneira mais clara. Esta fase, "cons- ciencia-deflexao", e a fase da aten<;:aoconstante, do "0 que voce ve, percebe, sente, gosta, faz, evita, teme?" ou "voce ve, sente, percebe, gosta, evita alguma coisa"? Joao intensifica a procura do porque de seus apelidos e das razoes pelas quais esta sempre a come<;:arnovos cursos. E como? E uma fase integrativa das conquistas ja alcan<;:adas. Costuma ser mais descritiva, mais tranqiiila. Uma fase de consolida<;:ao de percep<;:oesja alcan<;:adas. 4. Joao esta sendo visto como prioritariamente introjetor. Nosso trabalho, portanto, mais demorado, delicado, sera aquele de como Joao se mobiliza para manter suas defesas e de como podera mobilizar-se para andar na dire<;:aode urn verdadeiro bem-estar. Concentrar-nos- emos neste ponto como figura. Estaremos atentos as idas e vindas de Joao, ao seu modo de come<;:are interromper as coisas na sua vida, ao modo como foge do risco. 0 curso de medicina e longamente discuti- do. Joao fala ate em deixa-Io. Come<;:aa retrucar quando dizem seus apelidos, agora mais por brincadeira por parte dos parentes. Estamos ali, atentos, pontuais, apoiando os novos caminhos, ajudando-o a des- cobrir outros, percorrendo com ele, via palavra ou experimentos, as sendas dos riscos novos que mais 0 amea<;:am.Apesar de tudo ser uma coisa so, este e 0 ponto-chave que nos chamara constantemente a aten<;:ao. 5. Na razao em que Joao comece a perceber que ele existe, Eis 0 meu mapa com Joao e de Joao. ~ " ..P,ar~od,ol~rin~,fpio,se?uindo minha intui<;:ao,de que devo retornar d fI~~I<;:dOltlul~iez , ou seja, voltar a busca da compreensao do cami- ~ho :Ja ~ercorndo, pOl'que vejo Joao muito "Ia atras", preso a sua in- ~an~Ia, as ~L~as introje<;:oesinfantis. Fazer urn mapa a partir de "intro- Je<;:ao!mobIllza<;:ao" pode significar dar grandes passos, mas fora da estrada, no sentido de que Joao esta se auto-impedindo, inconsciente- ~~ente, de ir mais alem, na dire<;:aode "retirada!repouso", porque ele sabe" que nao conseguira ir alem do ponto onde ele ja chegou. Assim: " I.,Come<;:oa:rabalhar COmJoao os modos como ele se fixa no pas- sddo, como ele nao con segue pensar diferente; estudamos 0 significa- do das palavras "aleijao" e "pra nada", 0 determinismo "criador" das palavras do.pal. Ao trabalhar sua fixa<;:ao,vou percebendo 0 outro la- do, 0 da tlUldez, se estc}ocorrendo, se esta sendo facil ou nao. Mostro momento~ ou atitude de tluidez. Analisamos os ganhos destes mo- mentos ate 0 momento em que passaremos a segunda etapa. Cada um desses passos pode dural' um sessao, semanas ou meses otempo nao e determinado. 0 cliente interp6e em cada um destes pas~ 54
  • 27. comc<;ara a projetar urn novo mundo. Na razao em que ele projete 0 in- trojetado, 0 mundo comeyara a adquirir novas cores, e novos medos (projeyoes) poderao surgir. "Ayao/projeyao" e 0 momento das novas escolhas, dos novos caminhos, das ayoes nunca feitas; porque nunca imaginadas, estavam proibidas. Joao decide interromper 0 cursu de medicina. Fica feliz com a decisao. "Fazel' medicina e uma queda de brayos com meu pai. You sail' sempre perdendo", comenta Joao. cionar, ele aprendeu a dividir. Esta feliz. Sente que 0 caminho tern pe- dras, mas aprendeu a evita-Ias ou a pisar sobre elas sem se machucar muito. Olha para tras e ve 0 caminho introjetado, duramente experien- ciado. Olha 0 presente e sente-se inteiro. Olha 0 futuro, colocando-o dentro de seu presente. 0 psicoterapeuta segue de perto estes m0111en- tos de ida, de romper layos, encoraja, fala livremente, nao se ausenta na despedida, porque ambos percorreram 0 mesmo caminho. Assume responsabilidade. Ele tem 0 direito de estar feliz. 9. Retirada. Alta. Termino da psicoterapia. Joao diz que esta bem, que valeu, sente vontade de ficar e sente vontade de ir. Ele precisa ir. Os sintomas desapareceram. Parece que 10ao pOl'inteiro esta diferen- te. 0 psicoterapeuta, como alguem no terrayo de um aeroporto, ve 0 aviao alyar voo. Ele sabe que 0 aviao poderia ficar mais um pouco, mas tambem sabe que e andando, voando, que alguel11se torna livre. opsicoterapeuta e tambhn re.jJonsLivelpela caminhada ate aqui. Nao deve tel' medo do caminho quejLi percorreu com Joclo, da verdade que eles descohrirom e dos novos cmninhos que JOLIO quererLiperc'or- reI' com seu suporte claro e decisilo. 6. loao esta deixando a introje<;ao e a projeyao prejudiciais e come<;a a viver uma nova fase, a de uma proflexao saudavel. Ele come<;a a trocar. A intera<;ao c a superayao da prof!exao. Relaciona-se porque quer, porque gosta, porqlle deseja, e nao porquc c necessario. Joao quase nao fala mais de seus apelidos. Decide voltar a ser profes- sor de matcmatica. Sua mente esta mais aberta para separar 0 joio do trigo, 0 falso do verdadeiro. A rela<;aoe procurada como uma forma de troca verdadeira, legftima. A rela<;ao de troca e elogiada, examinada com rela<;ao aos seus ganhos. Os novos riscos sao exal11inados cuida- dosamente. 0 futuro e colocado na sua exata dimensao. Cliente e psi- coterapeuta se sentem mais soltos e mais livres nesta fase do processo. 7. 10ao deixou dc ser inimigo de si mesmo, deixou de retrofletir. As coisas para ele agora tem come<;o, meio e fim. Aprendeu a sentir, a sc mover, a pensar. Esta inteiro nas coisas. " Ah! parece que a tempes- tack maior passou. Quanto tcmpo, quanta energia gasta para prewar uma coisa para mim mesmo!" Toca as coisas com tato, mas nao com medo, de si ou delas. Aprendeu a se respeitar, a gostar de si mesmo, a nao deixar as coisas inacabadas, esta encontrando 0 gosto pel a vida. A estrada esta chegando ao fil11,mais do que nunca os erros, mesmo os menores, podem ser fatais. Eum momento de alegria, mas, sobretudo, de paciencia, porque nao se deve apressar 0 rio. 0 psicoterapeuta esta inteiro, neste momento, reforyando, aplaudindo, apoiando, sempre centrado na realidade como um todo. 8. Joao aprendeu a sail' de si mesmo, aprendeu a olhar 0 mundo de fI·cnte. 0 medo, muitas vezes, ainda esta la, mas nao 0 impede de fun- Terminamos a caminhada. 0 tempo que durou nlio inlporta muito. Percorremos os mois variodos cominhos, nas mais dij'erentes orelens. o cliente nLiosobia que havia wna ordem, um programa sendo segui- do, ele era livre para falar do que quisesse e do modo como quisesse. Eu Ine deixava levar pOl' ele. Voava IWs asos dele, mas nunca despre- gava os olhos de minho lnissola. Eu precisavo sahel' mule estLivamos. Se ele dormia, eu tonwva conta do seu sono. Se era dio, eu estava sem- pre a um paSoi'D atrLis dele. Se era noite, eu iluminava 0 meu caminho e ele podia, se quisesse, oproveitar a luminosidade de minha lonterna. Dei um exemplo de uma psicoterapia bem-sucedida. Muitas vezes, nao obstante program a e competencia, °processo pode andar diferentemente. Mesmo nesses casos, os princfpios continllam os mes- mos e as razoes para 0 nao sucesso devem ser procuradas em outras variaveis, que nao abordaremos aqui. Todas as vezes que 0 modelo do cicIo sc completa, como nos cxemplos ja descritos, seja numa sessao de psicoterapia, ou numa via- Gem ou num trabalho longo e ate numa simples conversa, a energia de ~udan<;;a cumpriu sua c(lI~inhada de procura e apoio da realizayao do outro. POI'menor que sejam os resultados, uma vez que 0 cicIo se completou, houve um ganho em harmoniza<;;ao, em auto-equilibra<;;ao, em saude. Idealmente, 0 CicIo deveria completar-se sempre. para que nada
  • 28. licasse inacabado, e dar lugar a uma nova gestalt, a uma nova expe- riencia, embora seja humano que coisas fiquem inacabadas, porque so- mas criaturas, porque nao temos sempre uma visao da totalidade de nossos gestos, porque a mundo fora de nos e maior do que nossa per- cep~ao a1can~a, porque temos medo de nossa propria verdade, porque temos medo de que nossos desejos se completem de verdade, e assim por diante. Urn desejo inacabado, no entanto, e uma energia que se perde, que se acumula para se juntar a outra de natureza diferente. Pensemos no introjetor que interrompe seu ciclo entre "mobiliza~ao e a~ao". Ele tern medo do risco, da opiniao do OlItro, faz coisas que nao gostaria de fa- zer. Assim sua energia de amor, de raiva, de desejo, e outras, per- manecem acumuladas na mobiliza~ao. Em um dado dia, alguem Ihe diz algo muito ruim que ultrapassa sua capacidade de concilia~ao. Que faz 0 introjetor? Parte para a a~ao com todas as energias acumuladas de outras situa~6es que nada tem a ver com aquela. E a que acontece? Da grandes passos fora da estrada. Diz, faz coisas que nao eram necessarias e, frequentemente, se arrepende depois. Quando, ao contrario, a cliente sai mal da sessao, a grupo termina de modo autodestrutivo, a pessoa interrompe a psicoterapia de maneira frustrante, certamente 0 Ciclo nao foi vivenciado na sua totalidade. Is- to nao significa que nao exista resultado positivo, au que tenha sido urn desastre, mesmo porque a Ciclo pode completar-se apos a sessao. E frequente a cliente sair mal da sessao e, ao retornar, dizer como, 1en- tamente, foi percebendo a nova realidade, e como se sente bem agora. A sessao nao tem de ter um happy end para conforto do cliente (~I do psicoterapeuta. o Cicio deve, ideal mente, ser vivido em todos as seus passos, porque sabemos que e comum, no processo psicoterapeutico, 0 ir e vir, a cliente caminhar ate "contato" e retornar a "a~ao", ate mesmo no processo de experimentar a nova realidade que esta descobrindo. Psicoterapeuta e cliente deveriam, idealmente, percorrer este Ci- clo todas as vezes que se encontram, porque a busca do contato plena e uma das metas de qualquer forma de psicoterapia. A ideia do Cic!o como um modelo psicotempeutico passa pela compreensao de que 0 jJrocesso da saude ou da cum tem uma 16aica l.") /' tem uma seqiiencia na qual Ulna coisa depende da outm e onde tudo afeta tudo. Nenhuma pessoa esta em um llnico ponto no Cic!o do Con- tatooEsta em varios, seja na direl.;aoda cum, seja na dire~:aodos b!o- queios, mesmo porque cada ponto do cicIo contem todos os outros. Ela esta, no entanto, habitualmente, mais enz Ulndo que em outro, por is- so podemos dizer que al[?luJme mais tipicamente um intrr~jetOf;um confluente e assim por diante. o ciclo funciona como um paradigma em psicoterapia. E um mo- delo no qual alguem pode basear.suas proprias a~6es, se orientar e perceber a movimento do outro. Assim, a partir de como a pessoa se descreve, de como sua dinamica funciona, podemos localiza-la no Ci- cio do Contato e Fatores de Cura. 0 Ciclo permite uma leitura, seja do funcionamento harmonioso do comportamento de alguem, no qual as a~6es previstas tenham come~o, meio e fim, seja de um comporta- mento no qual a contato vai se rompendo na razao em que a processo neurotico avanc,:a.Assinala, portanto, onde alguem se encontra e nos da caminhos para se chegar a um determinado objetivo desejado. Tal e a concepc,:ao do Cicio visto como Fatores de Cura. o processo psicoterapeutico como um todo, seja em uma sessao, seja em um workshop, deveria idealmente Gome~ar em "repouso/reti- rada", fazer todo a Ciclo e terminar em "repouso/retirada". Se 0 cliente deixou a sessao tranqtiilo, a grupo terminou bem, a momenta psicote- rapeutico terminou com sucesso, dizemos que a ciclo se completou. A partir desse fato, apos as primeiras sess6es, nao nos sera dincil fazer um diagnostico, localizando a pessoa em um dos passos do ciclo, por exemplo, em deflexao. Dizcndo isso, estamos dizendo tambem que esta pessoa lida mal com a polaridade "consciencia/deflexao", com seu processo de autopercep~ao, de selrawareness, enfim. Estamos, por- tanto, diante de um provavel sintoma "deflexao", e de um provavel remedio, lidar com a processo "consciencia" de uma maneira mais clara e consistente. o psicoterapeuta, sem abandonar 0 modo como 0 cliente expe- riencia as outros passos do cicio, podera centrar sua aten~ao no seu processo de deflexao-autoconsciencia, facilitando, prioritariamente e