1. The NEW ENGLAND JOURNAL of MEDICINE
REVIEW ARTICLE
Medical Progress
Alcoholic Hepatitis
Michael R. Lucey, M.D., Philippe Mathurin, M.D.,
Ph.D.,
and Timothy R. Morgan, M.D.
Joana Sena
MR 1- clínica médica
2. Introdução
O excesso de alcool é a terceira principal causa de
morte evitável nos Estados Unidos;
Mortalidade maior nos jovens;
Associações com consumo de álcool;
3. Introdução
Apesar da lesão do fígado por álcool estar bem
documentada, ocorre cirrose apenas em uma
pequena parcela dos etilistas crônicos;
Entre 30 e 60g de álcool por dia: 1% de prevalência de
cirrose.
> 120g de álcool por dia: 5,7% de prevalência de cirrose
Sexo, fatores genéticos e ambientais
4. Apresentação clínica
Ocorre após décadas de consumo (> 100g/dia)
Idade 40-60 anos
Prevalência sexo masculino
Tipo de álcool não influencia
Incidência desconhecida;
5. Apresentação clínica
Início abrupto da icterícia: principal sinal da hepatite;
Febre, ascite, hepatomegalia dolorosa e perda massa
muscular;
Encefalopatia em pacientes com hepatite alcoólica
severa
6. Apresentação clínica –
Ex.Laboratoriais
AST (TGO) dobro do limite, raramente >300;
AST/ALT maior que 2
Leucocitose neutrofílica, bilirrubina e alargamento
RNI;
creatinina, mau sinal: síndrome hepatorenal e morte
7. Apresentação clínica –
Histopatológico
Lesão caracterizada por:
Balonização dos hepatócitos, contendo corpúsculos de
Mallory, cercado por neutrófilos;
Presença de esteatose;
Fibrose intrasinusoidal, peri-venular e peri-portal
Cirrose
9. Apresentação clínica –
Histopatológico
A esteato-hepatite não alcoólica (obesos e
resistência a insulina) apresenta histologia
parecida;
Porém na hepatite alcoólica a severidade é maior
e há presença de colestase;
10. Apresentação clínica
A recuperação da hepatite alcoólica é ditada em grande
parte pela:
Abstinência de álcool
Presença de uma síndrome clínica leve
Implementação de um tratamento adequado
Após a interrupção da ingestão de álcool, a icterícia e febre
pode resolver mas ascite e encefalopatia hepática pode
persistir por meses/anos;
Infelizmente, mesmo quando os pacientes aderem ao
tratamento, a recuperação da hepatite alcoólica não é
garantida
11. Diagnóstico
AST (TGO) dobro do limite
(<300)
AST/ALT maior que 2
Elevação bilirrubina (>5)
Alargamento RNI Hepatite alcóolica
Ascite e histórico de abuso de álcool
12. Diagnóstico diferencial
Esteato-hepatite não alcoólica (EHNA)
Hepatite viral
Hepatite medicamentosa
Hepatite auto-imune
Doença de Wilson
Deficiência de alfa 1 antitripsina
Abscesso hepático
Colangite ascendente
Descompensação com carcinoma hepatocelular
13. Diagnóstico
Biópsia não é necessário para fazer o diagnóstico (ajudar
a excluir outras causas de doença hepática).
O risco de hemorragia durante ou após a biópsia
Pode ser reduzida com a utilização da via transjugular.
14. Diagnóstico
Os pacientes devem ser rastreados para infecções
bacterianas como pneumonia, PBE, ITU;
Estudo do líquido ascitico
Raio-x tórax
15. Diagnóstico
USG hepática é útil na identificação de abscesso
hepático, carcinoma hepatocelular, e obstrução biliar,
cada um dos quais pode imitar hepatite alcoólica;
Pode ser combinada com aspiração da ascite
Doppler pode ser útil, uma vez que um elevado pico de
velocidade sistólica ou um aumento no diâmetro da
artéria hepática pode ajudar a confirmar o diagnóstico.
16. Avaliação de Gravidade
- Variedade de scores tem sido utilizados para avaliar gravidade e guiar
tratamento;
- Função Discriminante (Madrrey´s): indica início do
uso de corticóide
- Vantagem de ser utilizado já a mais tempo;
- Desvantagem de necessariamente utilizar TP e não RNI;
- [4,6 X (TP pact – TP controle)] + bilirrubina (sérica)
- ≥ 32 → hepatite alcóolica grave → início de corticoterapia
- Score de Lillie:
- Utilizado para definir quando o uso do corticóide deve ser
interrompido, se no 7º dia ou continuar até o 28º dia;
- Baseado na queda da taxa de bilirrubina pré-tratamento com corticóide
ao longo do dia 0 e até o dia 07;
- Score ≥ 0,45 indica falha na resposta terapêutica ao corticóide;
17. - Score de Glasgow:
Avaliação de Gravidade
- Criado em 2005, após longo estudo de coorte avaliando as variáveis relacionadas a
sobrevivência, de pacientes com hepatite alcóolica em 28 e 84 dias após admissão;
- Variáveis: idade; contagem de leucócitos; Uréia; Bilirrubina; TP ou RNI; (Tabela 01)
- Objetivo: identificar pacientes com grande risco de morte na ausência de
tratamento, na intenção de identificar aqueles beneficiados com uso de corticóide;
- Resultado de um estudo: Madrrey´s ≥ 32 + Glasgow ≥ 9 tratados com corticóide
tiveram uma sobrevida de 84 dias de 59% se comparada 38% de sobrevida daqueles
não tratados;
- Desvantagem: sua validade tem que ser testada em populações fora do seu país de
origem da mesma forma que o score de Lillie;
18. - Score de MELD:
Avaliação de Gravidade
- Baseado numa escala numérica, prediz o risco de morte de um paciente em aguardo
por transplante hepático;
- Variáveis: Creatinina; Bilirrubina; RNI; (Tabela 01)
- Em dois estudos retrospectivos, o score MELD mostrou mortalidade a curto prazo de
pacientes com hepatite alcóolica igual ou melhor que o score de Meddrey.
- MELD ≥ 21 estava associado com uma mortalidade em 90 dias de 20%;
- Dunn et al sugeriu que um valor de 21 é um limiar apropriado para colocar pacientes
em triagens experimentais, direcionando para o uso de “agentes terapêuticos
potenciais”;
- Maiores valores do MELD indicam pior prognóstico;
22. Tratamento
Medidas gerais:
Tratamento de ascite (restrição de sal e diuréticos)
Tratamento da encefalopatia hepática
Infecções
Dieta enteral – anoréticos
Ingestão protéica: 1,5 g/kg/dia
Tiamina e outras vitaminas de acordo com a dieta Dietary
Reference Intakes.
Benzodiazepínicos de ação curta - Delirium e Síndrome de
abstinência aguda.
Albumina e vasoconstritores – Síndrome Hepato-renal
23. Tratamento
Abstinência - evitar a progressão da hepatite.
Programa psicológico
Apoio social
Alguns estudos mostram que o baclofen, um ácido γ
aminobutírico, promove abstinência a curto prazo em
um grupo de pacientes com cirrose.
Perfil de segurança não demonstrado pela naltrexona
ou acamprosato.
24. Tratamento
Corticosteróides
Ação anti-inflamatória
Inibição dos fatores de transcrição como ativador
proteína 1 (AP-1) e NF-κB.
Redução da circulação dos níveis das citocinas pró-
inflamatórias:
IL-8 e TNF-α.
Molécula 1 de adesão intracelular presente no sangue
venoso hepático e na membrana dos hepatócitos.
25. Tratamento
Uma recente metanálise não favoreceu o uso de
corticóide.
Mas os autores concluíram que a base de dados é
comprometida pelo ensaio clínico heterogêneo com
um risco elevado de viés.
Porém a mesma metanálise mostrou que o uso de
corticosteróide reduziu significativamente a
mortalidade - Maddrey > ou = 32 ou encefalopatia
hepática.
26. Tratamento
Outro estudo avaliou a taxa de sobrevivência de 1 mês
de pacientes com hepatite alcoólica grave (Maddrey ≥
32) que foram tratados com corticosteróides por 28
dias.
Tx sobrevivência com corticóide: 85%,
Tx sobrevivência com placebo: 65% (P = 0,001) .
27. Tratamento
Prednisolona 40mg por 28 dias
Suspenso abruptamente ou desmame por 3 semanas
Indicações:
Função Maddrey do discriminante ≥ 32
Escore MELD ≥ 21
Ausência de:
Sepse
Síndrome Hepato-renal
Hepatite crônica
Infecção pelo vírus B
Sangramento gastrointestinal.
NNT: 5
28. Tratamento
Corticóide
Tempo de uso: Cálculo da pontuação Lille após 7 dias de
tratamento.
Um Lille > ou = 0,45 ausência de resposta
Sobrevida em 6 meses inferior a 25%.
Ausência de reposta em 40% dos pacientes.
29. Tratamento
Pentoxifilina
Inibidor da fosfodiesterase.
Efeito: modulação da transcrição do TNF-α.
Um estudo randomizado mostrou redução da
mortalidade a curto prazo entre os pacientes com
hepatite alcoólica.
30. Tratamento
101 pacientes com Maddrey >ou= 32 receberam placebo ou 400 mg de
pentoxifilina três vezes ao dia durante 28 days. Nenhum recebeu
corticosteróides.
12 dos 49 pacientes no grupo pentoxifilina (24%) e 24 dos 52 pacientes no grupo
placebo (46%) morreram durante a internação inicial (P <0,01).
A síndrome hepato-renal foi a causa de morte em 6 de 12 mortes (50%) no grupo
da Pentoxifilina e em 22 de 24 mortes (92%) no grupo de placebo.
Os níveis de TNF- α não diferiram significativamente entre os dois grupos
sugere que a eficácia de pentoxifilina pode ser independente de TNF-α.
Provavelmente os corticosteróides influenciam a inflamação hepática e o
benefício da terapia com pentoxifilina pode ser relacionado com a prevenção da
síndrome hepato-renal.
A despeito da ausência de estudos de confirmação, vale a pena considerar a
pentoxifilina para alguns pacientes.
31. Tratamento
Terapia Anti-TNF-α
Agentes anti-TNF: infliximab e etanercept.
Estudos preliminares de infliximab com bons
resultados.
Ensaio clínico controlado comparou os efeitos da
infusão intravenosa de infliximab e prednisolona com
placebo e prednisolona em pacientes com hepatite
alcoólica severa.
32. Tratamento
No entanto, o ensaio foi interrompido precocemente
por causa de um número significativo de infecções
graves e um aumento não significativo do número de
mortes no coorte infliximab.
A dose de infliximab (10 mg/kg de peso EV 3 vezes/dia
nos dias 1, 14 e 28) tem sido criticada como muito
elevada em comparação com a dose única de 5 mg/kg
utilizada em outros estudos.
33. Tratamento
Etanercept pareceu aumentar sobrevida a curto prazo
dos pacientes com hepatite alcoólica em um pequeno
estudo piloto.
Estudo aleatório subsequente, conduzido pela mesma
equipe, mostrou piora da sobrevida de 6 meses no
grupo tratado com etanercept em relação ao placebo.
Conclusão: os agentes anti-TNF-α não devem ser
utilizados para tratar a hepatite alcoólica.
34. Tratamento
Suporte nutricional
Desnutrição X risco de morte
Nutrição enteral e parenteral – não aumentam sobrevida.
Ensaio clínico controlado
Comparação entre nutrição enteral (2000 kcal por dia) e
terapia com prednisolona (40 mg/dia) por 28 dias
71 pacientes com hepatite alcoólica grave.
Taxa de sobrevida semelhante.
Suporte nutricional pode ser tão eficaz como os
corticosteróides em alguns patients.
35. Tratamento
• Outros tratamentos farmacológicos:
Não melhoram a sobrevida em pacientes com hepatite
alcoólica:
Esteróides anabólico-androgênicos
Antioxidantes
Colchicina
Propiltiouracil
36. Tratamento
Transplante hepático:
Hepatite alcoólica - contra-indicação absoluta
EUA exigem 6 meses de abstinência
Muitos morrem neste intervalo
Aqueles que se recuperam – tempo menor
Centros de transplante de fígado – dilema e alto custo
no cuidado do alcoolismo.
Risco de retorno ao alcoolismo após o transplante.
37. Conclusão
O diagnóstico de hepatite alcoólica baseia-se num histórico de uso
abusivo de álcool, icterícia, e a ausência de outras possíveis causas de
hepatite.
A biópsia hepática é um valioso exame diagnóstico, mas não é necessário
para determinar o prognóstico ou para estabelecer a história alcoólica
prévia ou abstinência.
A abstinência de álcool é a pedra angular de recuperação.
Indivíduos desnutridos devem receber dieta hipercalórica e
hiperprotéica.
Os pacientes com hepatite alcoólica grave (Maddrey de função
discriminante, ≥ 32, ou escore MELD, ≥ 21) que não têm sepse devem ser
tratados com prednisolona, com uma dose de 40 mg/dia por 28 dias.
Após 7 dias de tratamento com corticosteróides, os pacientes com uma
pontuação de Lille >ou= 0,45, têm doença que não responde ao
tratamento com corticóide e o uso precoce de pentoxifilina.
38. Conclusões
Pentoxifilina parece ser útil para impedir a síndrome hepato-renal, que
pode levar à morte.
A eficácia do tratamento combinado de pentoxifilina e corticosteróides
requer mais estudos.
Os pacientes com hepatite alcoólica pouco grave, cuja sobrevivência a
curto prazo se aproxima de uma taxa de 90%, não devem ser tratados
com corticosteróides, uma vez que os riscos de complicações, tais como
infecção sistêmica supera o benefício.
Finalmente, são necessários estudos bem conduzidos de transplante de
fígado em pacientes cuidadosamente selecionados com hepatite
alcoólica grave que não respondem a tratamento clínico.