O documento descreve Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, como um romance que narra as memórias do protagonista Brás Cubas após sua morte. A obra apresenta de forma irônica e cínica a vida vazia do protagonista e critica a sociedade brasileira do século XIX através dos olhos de Brás Cubas.
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
Machado de Assis e as memórias de Brás Cubas
1.
2. sobre o autor
Machado de Assis, o bruxo
das palavras - o cronista e
seu tempo
21min49seg em 14/09/2008
O início da vida intelectual e
literária do Rio de Janeiro do
século XIX, por Machado de
Assis. Um retrato da época
pelo olhar oblíquo das
crônicas, romances e contos
do autor.
http://globotv.globo.com/globo-news/gnews-documento/v/machado-de-assis-o-bruxo-das-palavras-o-cronista-e-seu-tempo/882633/
3. O “novo” Machado de Assis
“Memórias Póstumas de Brás Cubas marca
o início de uma segunda etapa da produção
de Machado de Assis. A partir dessa obra
ele se revela um gênio na análise
psicológica de personagens, tornando-se o
mais extreordinário contista (…),e um dos
raros de interesse universal, conforme
atestam as inúmeras traduções das suas
obras mais representativas.”
( CEREJA, 1999. p.282)
4. Publicação da obra
Machado de Assis publicou o
romance na Revista Brasileira,
como folhetim, em 1880.
Em 1881 a obra ganhou formato
de livro.
5. Estrutura da obra
160 capítulos irregulares:
alguns curtos, outros maiores.
narrativa em 1ª pessoa
faz jus ao título: “memórias”, contadas pelo
protagonista.
Narrativa não linear:
fluxo de consciência do narrador.
Quebra de verossimilhança: o narrador é um defunto.
Narrador é observador e personagem (protagonista)
ao mesmo tempo.
6. A pena da galhofa
Machado de Assis cria um prólogo e nele
adianta que o leitor não está diante de um
romance comum, e alerta para a
despreocupação do narrador com a opinião do
leitor sobre o livro.
“Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da
melancolia;(...) a gente grave achará no livro
umas aparências de puro romance, ao passo
que a gente frívola não achará nele o seu
romance usual; (...) A obra em si mesma é tudo:
se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se
te não agradar, pago-te com um piparote, e
adeus.”
7. “O livro, inusitado, logo em sua primeira página, prepara o leitor para muitas
surpresas, ao escrever uma dedicatória em forma de epitáfio, onde Brás Cubas é
um defunto-autor que conta detalhes do seu funeral e, depois de algumas
divagações (...) retorna a sua infância de menino travesso e mimado pelo pai”
(LANDI, Evorah)
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas
memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se
poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a
minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar
pelo nascimento, duas considerações me
levaram a adotar diferente método: a primeira é
que eu não sou propriamente um autor defunto,
mas um defunto autor, para quem a campa foi
outro berço; a segunda é que o escrito ficaria
assim mais galante e mais novo.”
(Cap. I)
8. Irônico ou realista?
A visão irônica dos acontecimentos (...) mesclada a
comentários amargos e cínicos sobre a existência
produz uma concepção de mundo absolutamente
singular . (passeiweb.com.br)
“Acresce que chovia - peneirava - uma chuvinha
miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que
levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta
engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de
minha cova: (...) “Este ar sombrio, estas gotas do céu,
aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um
crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à
natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um
sublime louvor ao nosso ilustre finado."
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte
apólices que lhe deixei.” (Cap 1)
9. Defunto autor
Ao declarar-se como alguém que escreve do túmulo, o narrador se disfarça como
alguém livre de pudores ou hipocrisia social ao contar suas experiências, pois não teria mais nada
a perder. Mas, em Machado de Assis, isso é uma armadilha para o leitor (lembre-se de Bentinho
em Dom Casmurro).
Por tratar-se de “memórias”, a narrativa não segue ordem cronológica dos fatos, mas
obedece uma ordem regida pela emoção de Brás Cubas: “uma lembrança puxa outra”, e todas são
comentadas pelo próprio narrador que além de ser protagonista é também seu observador.
“Com esse procedimento, o
narrador consegue ficar além
de nosso julgamento terreno e,
desse modo, pode contar as
memórias da forma como
melhor lhe convém.”
(Guia do estudante)
10. Assunto da obra
“É o drama da irremediável tolice
humana. São as memórias de um homem
igual a tantos outros, o cauto e desfrutador
Brás Cubas, que tudo tentou e nada
deixou.
A vida moral e afetiva é superada pela
existência biologicamente satisfeita, e as
personagens se acomodam cinicamente ao
erro.
O autor, nesta obra, acabou com o
sentimentalismo, o moralismo superficial,
a fictícia unidade da pessoa humana, as
frases piegas, o receio de chocar
preconceitos, a concepção do domínio do
amor sobre todas as outras paixões”
(Passeiweb.com.br)
11. Desmascaramento humano
Machado de Assis usa Brás Cubas como o
modelo do homem egoísta e que se ilude com
uma vida vazia de valores.
Ao contar tudo o que viveu, o defunto faz
reflexões sobre a falta de perspectiva do homem
burguês de seu tempo.
“os erros e transgressões do personagem
expressariam o arbítrio e a falta de
significado ético de uma elite historicamente
condenada à destruição.”
12. Personagens/enredo
• morto aos 64 anos . Tornou-se um homem egoísta a ponto de discutir
Brás Cubas com a irmã pela prataria que fiou de herança do pai e trair seu
amigo, Lobo Neves..
• Cunhado,casado com a irmã de Brás, Sabina. Cotrim é interesseiro,
Cotrim traficante de escravos e cruel com as pessoas que considera
“inferiores”, mandando castigar os negros até correr sangue.
• casado com Virgília, homem frio e calculista, ambicioso, mas muito
Lobo Neves supersticioso. Chegou a pois recusar a nomeação para presidente de
uma província só porque a referida nomeação aconteceu num dia 13.
colega de escola de Brás e mendigo. Homem de um temperamento
Quincas Borba exaltado, de certa arrogância . Evoluiu para filósofo e desenvolveu a
teoria do Humanitismo, que pretendia ser uma religião.
13. Personagens/enredo
• Interesseira, bonita e ambiciosa,; amante apaixonada por Brás mas não
Virgília está disposta a romper com sua posição social, o conforto e o
reconhecimento da sociedade.
• uma prostituta de elite, interessada no dinheiro de Brás. Mulher
Marcela sensual e mentirosa. Ganha muitas jóias de Brás Cubas. Contrai
varíola e fica feia.
•menina bela, mas com um defeito físico (é coxa). Era moça séria,
Eugênia tranquila, olhos negros .
• irmã de Brás e também valoriza mais o interesse pessoal e a
Sabina posição social do que os sentimentos ou laços familiares.
moça simplória, tem a simpatia de Brás e sua morte - morre de febre
Nhá Loló amarela- choca o narrador.
Venância Sobrinha de Brás, a quem ele se refere como o “lírio do vale”.
14. As mulheres de
Brás Cubas
“As quatro mulheres que participam da vida
amorosa de Brás diferem em vários aspectos
uma das outras. Marcela representa o
profano, a descoberta do prazer carnal ao
mesmo tempo que significa avareza,
ambição e interesse financeiro. Eugênia
representa a moça prendada, de família -
mesmo não sendo fruto do matrimônio -
pronta para se casar, mas infelizmente é
coxa. "É bonita, mas é coxa". Virgília é o
grande amor de Cubas. A mulher capaz de
virar o mundo deste com um simples olhar.
Virgília é repleta de sedução, pecado, feitiço
e, por que não dizer: uma mulher feita para
o amor da cabeça aos pés. E Nhã-loló tinha
a beleza da conveniência social.”
(SOUSA, Cícera Araújo)
15. Machado e a cultura de sua época
Em Memórias Póstumas de
Brás Cubas, a cultura “é
examinada sob o ângulo da
paródia. Todas as citações e
referências são extraídas de
seu contexto específico e
remetidas para o contexto
pessoal do narrador, como
se este debochasse da
tradição histórica e
religiosa, colocando o saber
culto de seu tempo de cabeça
para baixo.”
16. A borboleta preta (cap. 4)
O capítulo A borboleta preta
ilustra as atitudes irracionais e
socialmente justificadas, mas “…foi parar em cima de um velho retrato de meu
que de fato, são ilógicas. O pai. Era negra como a noite.”
narrador leva o leitor a refletir “Lancei mão de uma toalha, bati-lhe e ela caiu”.
sobre a liberdade cínica que a “Também por que diabo não era ela azul?”
sociedade nos oferece: somos (Cap XXXI)
livres, desde que dentro do
padrão.
“Este capítulo evidencia como um ser que se sente superior pode
agir contra um outro que “parece estar incomodando”. É mais fácil
dar um golpe de toalha de linho cru. Como podemos notar,
Machado se remete a uma análise da sua própria conduta, como se
estivesse ciente do que poderia fazer o contrário. E o estava.
(COSTA,Paulo Machado da.)
17. O delírio (cap. 7)
Neste capítulo, o narrador metaforicamente se
encontra com a Natureza, que lhe permite
contemplar a passagem dos séculos e
entender o absurdo da existência, sempre
igual, centrada apenas no egoísmo e na luta
pela conservação.
O personagem vê a história como uma
eterna repetição.
(Passeiweb.com.br, adaptado)
“— Viver somente, não te peço mais nada. Quem me pôs
no coração este amor da vida, senão tu? e, se eu amo a
vida, por que te hás de golpear a ti mesma, matando-me?
— Porque já não preciso de ti. Não importa ao tempo o
minuto que passa, mas o minuto que vem. O minuto que
vem é forte, jucundo, supõe trazer em si a eternidade, e
traz a morte, e perece como o outro, mas o tempo
subsiste.”
(Cap. VII)
18. Crítica ao cientificismo
(cap.117)
A personagem Quincas Borba é a “não há mendigo que não prefira a miséria à
caricatura condensada dos cientistas e morte (...). Porquanto, verdadeiramente há só
filósofos da época, e seu discurso se uma desgraça: é não nascer.”
aproxima da insanidade , dizendo que a
evolução (darwinismo) é “(…)é claro que nenhum homem é
“centrada na luta selvagem fundamentalmente oposto a outro homem,
do indivíduo para estabelecer quaisquer que sejam as aparências contrárias.
algum tipo de supremacia sobre (...) e sendo a luta a grande função do gênero
os demais.” humano, todos os sentimentos belicosos são os
– a sobrevivência do mais apto. mais adequados à sua felicidade. Daí vem que a
inveja é uma virtude.
(Memórias Póstumas de Brás Cubas cap.CXVII)
Quincas Borba é o criador do Humanitismo, sistema de filosofia destinado a arruinar
todos os demais, segundo o qual a dor é uma ilusão, e a única desgraça é não nascer: a
filosofia definitiva deixava seu criador na ante-sala da loucura, na busca de explicações
únicas para fenômenos das várias ordens - físicas, químicas, psíquicas, sociais.
19. Das negativas (cap.)
NÃO-REALIZAÇÕES
O romance não apresenta grandes feitos, não há um acontecimento significativo
que se realize por completo.
A obra termina, nas palavras do narrador, com um capítulo só de negativas.
• Brás Cubas não se casa.
• Não consegue concluir o emplasto.
• Não consegue conquistar a glória na sociedade.
• Torna-se deputado, mas seu desempenho é medíocre.
• e não tem filhos.
A força da obra está justamente nessas não-realizações, nesses detalhes. Os
leitores ficam sempre à espera do desenlace que a narrativa parece prometer.
Ao fim, o que permanece é o vazio da existência do protagonista.
(Guia do Estudante Abril)
20. O desfecho da obra
Assim, esse romance poderia ser
conceituado como a história dos
caprichos da elite brasileira do século
XIX e seus desdobramentos, contexto
do qual Brás Cubas é,
metonimicamente, um representante.
Aos 64 anos, ao tentar inventar
um remédio sublime para a
hipocondria, morre Brás Cubas. E
com ele o segredo do seu invento.
(Guia do Estudante Abril)
21. “Machado de Assis
fundou a literatura
brasileira enquanto
entidade autônoma,
desvinculada de um
projeto nacional, e
exatamente por isso
madura, aberta ao
diálogo com os valores
universais da
humanidade.”
(UOL Educação)
23. Fontes de pesquisa
Todas as imagens utilizadas nesta apresentação estão disponíveis na internet.
• http://guiadoestudante.abril.com.br/estude/literatura/materia_416007.shtml
• LANDI, Evorah. Disponível em http://www.blogdogusmao.com.br/v1/2010/08/15/resenha-literaria-memorias-postumas-de-
bras-cubas/
• http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/m/memorias_postumas_bras_cubas
• Assis, Machado de. Obra Completa. vol. I. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
• Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro http://www.bibvirt.futuro.usp.br
• http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=1263&cat=Teses_Monologos&vinda=S
• SOUSA, Cícera Araújo. As mulheres inviáveis nas Memórias Póstumas de Brás Cubas
• disponível em://literatura.uol.com.br/literatura/figuras-linguagem/37/artigo225099-2.asp)
Pesquisa e organização
Profa. Cláudia Heloísa C. Andria
Graduada em Letras – Unisantos
Contato: clauheloisa@yahoo.com.br