O documento resume o realismo e naturalismo na literatura brasileira, destacando obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis e O Mulato de Azevedo. Essas obras retratam a sociedade de forma realista, analisando psicologicamente as personagens e como são influenciadas pelo meio social.
1. REALISMO / NATURALISMO NO BRASIL
Inicia em 1881, com a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis.
Machado de Assis é considerado o mais importante representante do realismo brasileiro.
Características do Realismo:
A preocupação fundamental do escritor realista é apresentar a história, a personagem, a cena, a paisagem, a
coisa enfim, como é na realidade, sem desfigurá-la.
Gosto pelo detalhe, o escritor faz questão de apresentar minuciosamente o objeto.
Exploração dos dramas existenciais, o homem à luz da filosofia da época.
As personagens são tipos concretos, vivos e reais, e predominam sobre o enredo.
A análise psicológica das personagens se sobrepõe ao enredo.
As personagens são peças da engrenagem maior; condicionadas pelo meio e pela sociedade.
PRINCIPAL OBRA DO REALISMO MACHADIANO
Memórias póstumas de Brás Cubas
Enredo: Brás Cubas, narrador e protagonista, conta sua vida, começando pela doença e morte. Faleceu em
1869, no Catumbi, quando onze amigos o acompanharam ao cemitério.
Morreu de pneumonia, apanhada ao tentar descobrir um emplasto que aliviasse a melancólica humanidade,
visando ele a fama e o lucro.
Nasce em 1805. Passa com amargura e mediocridade pela escola. Aos 16 anos conhece Marcela, primeiro
romance, que dura, quinze meses e onze contos de réis.
Anos depois retorna de Coimbra diplomado. Perde Virgilia, e a cadeira de deputado para Lobo Neves, por
indecisão. Mais tarde, passa a encontrar-se regularmente com Virgília, até que ela e o marido partem, pois o
marido foi nomeado presidente da província.
Fica noivo de Eulália, que morre de febre amarela.
Consegue ser deputado, sem brilho. Reencontra-se, aos 50 anos com Virgília, e com Quincas Borba, colega de
escola, agora demente e metido a filosofo (humanitismo) ao vencido, ódio ou compaixão, ao vencedor, as
batatas).
Brás Cubas nos expõe, cinicamente, os valores e comportamentos de seus familiares, seus amigos, e das
mulheres com quem se relacionou, traçando um quadro social e psicológico,
irônico, em que sua vaidade se combina com seu desencanto.
O balanço final do narrador sobre a existência humana é pessimista; depois de uma vida que resulta em
fracassos, ele afirma: ?Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
OBSERVAÇÃO: em muitas passagens da narrativa o narrador conversa como leitor, instigando-o a fazer
julgamentos sobre o que ele relata.
NATURALISMO
O MULATO de Aluisio de Azevedo é o primeiro romance naturalista, publicado em 1881.
Conta a história de Raimundo, jovem mulato que, retorna a São Luis depois de anos de estudo em Portugal,
apaixona-se por a prima Ana Rosa. Desconhecendo sua consição de filho de escrava, Raimundo sofre sem
compreender a hostilidade do meio social maranhense, conservador e racista. O desfecho é trágico: Raimundo é
assassinado por Dias, pretendente de Ana Rosa, e a versão oficial é suicídio; ironicamente Ana Rosa se casa
com o assassino e torna-se uma típica mãe de família burguesa.
Características do Naturalismo
- O mundo pode ser explicado através das forças da natureza;
- O ser humano está condicionado às suas características biológicas (hereditariedade) e ao meio social em que
vive;
- Forte influência do evolucionismo de Charles Darwin;
- A realidade é mostrada através de uma forma científica (influência do positivismo);
- Nas artes plásticas, por exemplo, os pintores enfatizam cenas do mundo real em suas obras. Pitavam aquilo
que observavam;
2. - Na literatura, ocorre muito o uso de descrições de ambientes e de pessoas;
- Ainda na literatura, a linguagem é coloquial;
- Os principais temas abordados nas obras literárias naturalistas são: desejos humanos, instintos, loucura,
violência, traição, miséria, exploração social, etc.
Características do Realismo:
v Objetivismo;
v Descrições e adjetivações objetivas;
v Linguagem culta e direta;
v Mulher não idealizada; real. Ex.: Marcela e Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas), Sofia (Quincas
Borba)...
v Amor e outros interesses subordinados aos interesses sociais;
v Herói problemático;
v Narrativa lenta, tempo psicológico;
v Personagens trabalhados psicologicamente
Se você ler essa obra de Machado de Assis com atenção, verá que Bentinho (apelidado de "casmurro", de velho,
viúvo e calado) decide contar sua história desde a infância para compreender algo mais do que o suposto
adultério de sua mulher: ele quer saber se ela sempre foi como ele a via depois do casamento: falsa e
dissimulada. Enquanto Bentinho narra seus amores, ele manipula nossas opiniões, pois vai dando pistas de que
ela poderia mesmo tê-lo traído e ter tido um filho com o melhor amigo dele.
Mas fique esperto: é a voz dele, rico e bem-sucedido advogado, que você lê. Capitu não está mais lá no seu
"julgamento" para se defender. Ela já havia morrido. E ele precisa entender o que houve com seu amor e seu
casamento. Ele é, se não nos deixamos enganar e o lermos melhor, um homem conservador, patriarcal,
inseguro (filho único de D. Glória, viúva rica). Inseguro e mimado desde menino, só soube, por exemplo, que
gostava de Capitu quando ouve, aos quatorze anos, atrás da porta, uma conversa de José Dias, o agregado da
família com sua mãe.
Leva um susto, pois descobre o amor pela voz de outra pessoa. Crescido, depois de conseguir se livrar do
seminário a que estava destinado por promessa de sua mãe (leia a "negociação" que fizeram com Deus...é
deliciosa), casa-se com Capitu. E pouco depois do nascimento do filho começam os ciúmes.
Tema de Dom Casmurro
Do romance "Dom Casmurro", pode-se dizer que o tema é mais o ciúme que o adultério. Por que a questão
central não é o adultério? Porque não sabemos (nem saberemos) se Capitu o traiu. Machado escreve o romance
com total ambiguidade, dando sinais de que de fato a mulher poderia ter traído o marido, mas este, contando sua
própria história e sendo tão frágil, também pode ser um psicótico. Esse romance é o resultado de um exercício
de escrita fabuloso, pois até hoje discute-se a força dos argumentos do narrador de "Dom Casmurro".
O Cortiço - resumo e análise da obra de Aluísio de Azevedo
Tendo como cenário uma habitação coletiva, o romance difunde as teses naturalistas, que explicam o
comportamento dos personagens com base na influência do meio, da raça e do momento histórico
Ao ser lançado, em 1890, O Cortiço teve boa recepção da crítica, chegando a obscurecer escritores do nível de
Machado de Assis. Isso se deve ao fato de Aluísio de Azevedo estar mais em sintonia com a doutrina naturalista,
que gozava de grande prestígio na Europa. O livro é composto de 23 capítulos, que relatam a vida em uma
habitação coletiva de pessoas pobres (cortiço) na cidade do Rio de Janeiro.
O romance tornou-se peça-chave para o melhor entendimento do Brasil do século XIX. Evidentemente, como
obra literária, ele não pode ser entendido como um documento histórico da época. Mas não há como ignorar que
a ideologia e as relações sociais representadas de modo fictício em O Cortiço estavam muito presentes no país.
RIGOR CIENTÍFICO
Essa criação de Aluísio de Azevedo tem como influência maior o romance L’Assommoir, do escritor francês
Émile Zola, que prescreve um rigor científico na representação da realidade. A intenção do método naturalista
era fazer uma crítica contundente e coerente de uma realidade corrompida. Zola e, neste caso, Aluísio
combatem, como princípio teórico, a degradação causada pela mistura de raças.
Por isso, os dois romances naturalistas são constituídos de espaços nos quais convivem desvalidos de várias
etnias. Esses espaços se tornam personagens do romance.
É o caso do cortiço, que se projeta na obra mais do que os próprios personagens que ali vivem. Um exemplo
pode ser visto no seguinte trecho:
3. “E durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o
Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta
implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que
serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando
tudo.”
O narrador compara o cortiço a uma estrutura biológica (floresta), um organismo vivo que cresce e se
desenvolve, aumentando as forças daninhas e determinando o caráter moral de quem habita seu interior.
NARRADOR
A obra é narrada em terceira pessoa, com narrador onisciente (que tem conhecimento de tudo), como propunha
o movimento naturalista. O narrador tem poder total na estrutura do romance: entra no pensamento dos
personagens, faz julgamentos e tenta comprovar, como se fosse um cientista, as influências do meio, da raça e
do momento histórico.
O foco da narração, a princípio, mantém uma aparência de imparcialidade, como se o narrador se apartasse, à
semelhança de um deus, do mundo por ele criado. No entanto, isso é ilusório, porque o procedimento de
representar a realidade de forma objetiva já configura uma posição ideologicamente tendenciosa.
TEMPO
Em O Cortiço, o tempo é trabalhado de maneira linear, com princípio, meio e desfecho da narrativa. A história se
desenrola no Brasil do século XIX, sem precisão de datas. Há, no entanto, que ressaltar a relação do tempo com
o desenvolvimento do cortiço e com o enriquecimento de João Romão.
ESPAÇO
São dois os espaços explorados na obra. O primeiro é o cortiço, amontoado de casebres mal-arranjados, onde
os pobres vivem. Esse espaço representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes baixas. Funciona
como um organismo vivo. Junto ao cortiço estão a pedreira e a taverna do português João Romão.
O segundo espaço, que fica ao lado do cortiço, é o sobrado aristocratizante do comerciante Miranda e de sua
família. O sobrado representa a burguesia ascendente do século XIX. Esses espaços fictícios são enquadrados
no cenário do bairro de Botafogo, explorando a exuberante natureza local como meio determinante. Dessa
maneira, o sol abrasador do litoral americano funciona como elemento corruptor do homem local.
ENREDO
O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para acumular capital, ele explora os
empregados e se utiliza até do furto para conseguir atingir seus objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da
taverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso.
Em oposição a João Romão, surge a figura de Miranda, o comerciante bem estabelecido que cria uma disputa
acirrada com o taverneiro por uma braça de terra que deseja comprar para aumentar seu quintal. Não havendo
consenso, há o rompimento provisório de relações entre os dois.
Com inveja de Miranda, que possui condição social mais elevada, João Romão trabalha ardorosamente e passa
por privações para enriquecer mais que seu oponente. Um fato, no entanto, muda a perspectiva do dono do
cortiço. Quando Miranda recebe o título de barão, João Romão entende que não basta ganhar dinheiro, é
necessário também ostentar uma posição social reconhecida, freqüentar ambientes requintados, adquirir roupas
finas, ir ao teatro, ler romances, ou seja, participar ativamente da vida burguesa.
No cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambição financeira. Destacam-se Rita Baiana e
Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. Um exemplo de como o romance procura demonstrar a má influência do
meio sobre o homem é o caso do português Jerônimo, que tem uma vida exemplar até cair nas graças da mulata
Rita Baiana. Opera-se uma transformação no português trabalhador, que muda todos os seus hábitos.
A relação entre Miranda e João Romão melhora quando o comerciante recebe o título de barão e passa a ter
superioridade garantida sobre o oponente. Para imitar as conquistas do rival, João Romão promove várias
mudanças na estalagem, que agora ostenta ares aristocráticos.
O cortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado e miserável para se transformar na Vila João
Romão.
O dono do cortiço aproxima-se da família de Miranda e pede a mão da filha do comerciante em casamento. Há,
no entanto, o empecilho representado por Bertoleza, que, percebendo as manobras de Romão para se livrar
dela, exige usufruir os bens acumulados a seu lado.
Para se ver livre da amante, que atrapalha seus planos de ascensão social, Romão a denuncia a seus donos
como escrava fugida. Em um gesto de desespero, prestes a ser capturada, Bertoleza comete o suicídio,
deixando o caminho livre para o casamento de Romão
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