2. Contexto histórico
• Segunda Revolução Industrial > Crescimento do Capitalismo
• Segundo Reinado (Dom Pedro II): marcado por muitas mudanças
sociais, política e econômicas.
• A classe média brasileira (funcionário públicos, profissionais liberais,
jornalistas, estudantes, artistas, comerciantes) desejava mais
liberdade e maior participação nos assuntos políticos do país.
• 1888 – Abolição da Escravatura
• 1889 – Proclamação da República
3. Valores do Realismo
• Teorias científicas:
• Determinismo (social),
• Positivismo / Empirismo,
• Darwinismo,
• Marxismo (materialismo histórico).
• Engajamento social e político;
• Retrato fiel da sociedade (em todas as suas camadas);
• Críticas às instituições sociais (Igreja, Casamento, Família,
Burguesia, etc.).
4. Cottage scene, Pierre Edouard Frère (1867)
As respigadeiras, Jean François Millet (1857)
5. Características
• Objetividade: a realidade como ela é
• Verossimilhança: sem fantasias; o mais semelhante à verdade possível
• Descritivismo: retrato em detalhes
• Observação (externa) e análise (comentário, crítica)
6. “Outrora uma novela romântica, em lugar de estudar o homem,
inventava-o. Hoje o romance estuda-o na sua realidade social. [...]
Desde que se descobriu que a lei que rege os corpos brutos é a mesma
que rege os seres vivos [...] que a lei que rege os movimentos dos
mundos não difere da lei que rege as paixões humanas, o romance, em
lugar de imaginar, tinha simplesmente de observar. [...] A arte tornou-
se o estudo dos fenômenos vivos e não a idealização das imaginações
inatas.”
Eça de Queirós. Idealismo e realismo. In: Cartas inéditas de Fradique Mendes. Apud: SIMÕES, J. G.: Eça de
Quirós – trechos escolhidos. Rio de Janeiro, Agir, 1968.
7. Romantismo Realismo
Sentimentalismo doentio Observação impessoal
Linguagem culta, em estilo poético Linguagem culta, mas direta
Supremacia da imaginação Supremacia da verdade física
Espiritualismo, religiosidade Materialismo, espírito científico
Subjetivismo / Individualismo Objetivismo / Universalismo
Narrativa de ação e aventura Narrativa lenta, tempo psicológico
Heróis íntegros, de caráter
irrepreensível
Gente comum, vulgar
O mundo é como eu vejo O mundo é como ele é
8. “Era uma expressão fria, pausada,
inflexível, que jaspeava sua beleza,
dando-lhe quase a gelidez da
estátua. Mas no lampejo de seus
grandes olhos pardos brilhavam as
irradiações da inteligência”.
“Era esbelta, airosa, olhos meigos
e submissos; tinha vinte e cinco
anos e parecia não passar de
dezenove. [...] e da parte da
mulher para com o marido, uns
modos que transcendia o respeito
e confinavam na resignação e no
temor”.
9. Principais autores – Europa
• Gustave Flaubert, Madame Bovary
• Eça de Queirós, Primo Basílio,
O Crime do Padre Amaro
10. Principais autores – Brasil
• Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas
• Narrativa inicia com a morte do narrador/personagem
• Não segue ordem cronológica, digressões, flashbacks
• Total liberdade das convenções sociais: comentário, crítica,
sarcasmo, ironia
• Metalinguagem
• “Herói” anti-herói que nunca conheceu a glória
• Visão desencantada e pessimista da humanidade
11. • Narrador: 1ª pessoa, narrador-observador, protagonista
• Linguagem: vocabulário erudito, interlocução, metalinguagem
• Tempo: psicológico e cronológico
• Cenário: Rio de Janeiro, Portugal
• Personagens:
• Brás Cubas: o narrador-protagonista, já morto. É dessa posição que ele julga a
vida humana.
• Virgília: mulher do político Lobo Neves e amante do protagonista. Ela teve a
oportunidade de se casar com Brás Cubas, mas optou por se tornar esposa de
um homem influente e, ao mesmo tempo, manter um relacionamento
clandestino com o antigo namorado.
• Quincas Borba: amigo de Brás Cubas.
• Prudêncio: antigo escravo de Brás Cubas. Após a conquista da alforria ele se
torna proprietário de um escravo. Nesse serviçal ele revida todas as
crueldades sofridas na sua infância.
12. “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo
princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu
nascimento ou a minha morte. Suposto que o uso vulgar seja começar
pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente
método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto,
mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; o segundo
é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.”
Explique em que sentido podemos dizer que há metalinguagem nesse trecho.
13. Em relação à questão anterior, infere-se que a linguagem dispõe de um recurso
enriquecedor: a disposição das palavras no espaço frasal. Sendo assim, que tipo
de leitura pode-se fazer dessas duas expressões: “autor defunto” e “defunto
autor”?
a) A colocação da palavra defunto após a palavra autor leva-nos a pensar que o
segundo elemento está em fase final de carreira.
b) Defunto autor remete à ideia de que a pessoa irá escrever suas memórias dentro
de um cemitério.
c) Ambas as expressões transmitem a mesma ideia, com iguais valores semânticos.
d) A expressão defunto autor aparece de forma metaforizada, original,
privilegiando uma nova forma de narração autobiográfica.
e) Ambas as construções não têm expressão na obra biográfica de Machado de
Assis.
14. (ENEM) No trecho a seguir, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um
outro estilo de época: o Romantismo.
Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais
atrevida criatura de nossa raça e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe
coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance,
em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também
não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca,
saía das mãos da natureza cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a
outro indivíduo, para os fins secretos da criação.
A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao Romantismo está transcrita na
alternativa:
a) “... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas ...”
b) “... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...”
c) “Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno”
d) “Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos ...”
e) “... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”
15. “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada
menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras;
achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.
— Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma Universidade,
provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno.
[...] Sacou da algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e
sacudiu-mos na cara. — Vês, peralta? é assim que um moço deve zelar o nome dos
seus? Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogo ou a
vadiar pelas ruas? Pelintra! Desta vez ou tomas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma.”
1. Explique o que move Marcela a amar Brás Cubas.
2. Comente o que diferencia Brás do herói romântico.
3. A reação do pai de Brás Cubas representa uma punição ou um prêmio?
16. “Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-me uma
ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a
pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu
deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e
as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.”
Sobre o texto mostrado, pode-se dizer que:
a) o autor faz uma abordagem superficial da situação.
b) o autor preocupa-se com os detalhes, por meio de minuciosa descrição.
c) o autor dá relevância a outras circunstâncias, negligenciando o foco do assunto.
d) o autor não mostra preocupação com o discernimento do leitor, pois apenas
sugere situações.
e) contempla a si próprio, num ritual egocêntrico e narcisista.
17. Das Negativas
“Entre a morte do Quincas Borba e a minha, mediaram os
sucessos narrados na primeira parte do livro. O principal deles foi a
invenção do emplasto Brás Cubas, que morreu comigo, por causa da
moléstia que apanhei. Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar
entre os homens, acima da ciência e da riqueza, porque eras a genuína
e direta inspiração do céu. O acaso determinou o contrário; e ai vos
ficais eternamente hipocondríacos.
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a
celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o
casamento.”
18. “Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna
de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a
morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba.
Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não
houve míngua nem sobra, e conseguintemente que sai quite com a
vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério,
achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste
capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma
criatura o legado da nossa miséria.”
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.
1. Comente a reação de Brás Cubas diante de sua sucessão de fracassos.
2. A visão de Brás Cubas sobre as realizações pessoais é idealista ou realista?
3. Relacione a frase destacada ao contexto social e econômico do autor.
22. Preceitos teóricos influentes
• O que é o ser humano?
• Darwinismo/Evolucionismo: ser humano não é mais um ser
“escolhido por Deus”, mas um mero animal, como outros animais, no
curso da evolução das espécies; “lei do mais forte, mais bem
adaptado”.
• Positivismo: apenas aquilo que pode ser provado cientificamente
pode ser considerado válido; a realidade só pode ser acessada
empiricamente.
• Determinismo: o sujeito é produto do meio, da raça e do momento
histórico em que vive.
23. Pontos em comum com o Realismo
• Propósito crítico
• Mundo real é o foco das narrativas
• Verossimilhança
• Foco: defeitos, depravações e vícios dos seres humanos
• Escritor: analista crítico do caráter humano e da sociedade
24. Pontos de divergência do Realismo
• No Naturalismo:
• Não há psicologismo do Realismo
• Defeitos vistos como patologias
• Metáfora mais comum: zoomorfização (animalização) das personagens
ressaltando comportamentos vis; ação baseada em instintos naturais, tais
como os instintos sexuais e os de sobrevivência.
• Descrições gráficas e chocantes (nada sutis)
25. Principais autores – Europa
• Émile Zola, Germinal
• Aluísio de Azevedo, O Cortiço
26. O cortiço
• Narrador: 3ª pessoa, narrador-onisciente, crítico do que observa
• Tempo: cronológico e linear
• Cenário: Rio de Janeiro; o cortiço (pobres) e o sobrado (aristocratas)
• Personagens: tipos sociais / estereótipos
• O Cortiço: um organismo que se desenvolve e determina as vidas das pessoas
• João Romão: dono do cortiço, vive com uma “ex”-escrava, Bertoleza
• Miranda: vive no sobrado vizinho, rico, casamento de fachada com Estela
• Zulmira: filha de Miranda e Estela, objeto do “amor” de João Romão
• Jerônimo: trabalhador dedicado e honesto, casado com Piedade, mas acaba
não resistindo a Rita Baiana
• Firmo: galanteador, vadio, gastador, amante de Rita Baiana
• Leonice: prostituta que corrompe Pombinha
27. “A obra está a serviço de um argumento. Aluísio se propõe a mostrar
que a mistura de raças em um mesmo meio desemboca na
promiscuidade sexual, moral e na completa degradação humana. Mas,
para além disso, o livro apresenta outras questões pertinentes para
pensar o Brasil, que ainda são atuais, como a imensa desigualdade
social.” – guiadoestudante.com.br
28. (ITA) Leia as proposições acerca de O Cortiço.
I. Constantemente, as personagens sofrem zoomorfização, isto é, a animalização
do comportamento humano, respeitando os preceitos da literatura naturalista.
II. A visão patológica do comportamento sexual é trabalhada por meio do
rebaixamento das relações, do adultério, do lesbianismo, da prostituição etc.
III. O meio adquire enorme importância no enredo, uma vez que determina o
comportamento de todas as personagens, anulando o livre-arbítrio.
IV. O estilo de Aluísio Azevedo, dentro de O Cortiço, confirma o que se percebe
também no conjunto de sua obra: o talento para retratar agrupamentos
humanos.
Está(ão) correta(s):
29. (UFRRJ) – São características desse texto, consideradas típicas do
Naturalismo, entre outras,
a) o idealismo e o comportamento determinista.
b) a ênfase no aspecto material da vida e o comportamento sofisticado.
c) as comparações dos seres humanos com animais.
d) a representação objetiva da vida e o endeusamento do ser humano.
e) a fuga à realidade e o positivismo exacerbado.
30. (ESPM) Dos segmentos abaixo, extraídos de O Cortiço, de Aluísio
Azevedo, marque o que NÃO traduza exemplo de zoomorfismo:
a) Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma
aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas.
b) Leandra...a Machona, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos
e grossos, anca de animal do campo.
c) Zulmira tinha então doze para treze anos e era o tipo acabado de
fluminense; pálida, magrinha, com pequeninas manchas roxas nas
mucosas do nariz...
d) E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e
lodosa começou a minhocar,... e multiplicar-se como larvas no esterco.
e) Firmo, o atual amante de Rita Baiana, era um mulato pachola,
delgado de corpo e ágil como um cabrito...
31. (UNIFESP) A questão a seguir baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de
Aluísio Azevedo (1857-1913):
“Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo
fogo (a). Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia
de doidos.[...] Da casa do Barão saíam clamores apopléticos (b); ouviam-se os guinchos de
Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. [...]
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa (c). Estava horrível;
nunca fora tão bruxa. [...] a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das
éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. [...] Ia atirar-se cá
para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada (d), que abateu
rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.”
O caráter naturalista da obra faz com que o narrador se posicione em terceira pessoa,
onisciente e onipresente, preocupado em oferecer uma visão crítico-analítica dos
fatos. A sugestão de que o narrador é testemunha pessoal e muito próxima dos
acontecimentos narrados aparece de modo mais direto e explícito em:
32. (UNIFESP) Releia o fragmento de O cortiço, com especial atenção aos dois trechos a seguir:
“Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas
arrancadas pela dor e pelo desespero. (...) E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém
sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.”
No fragmento, rico em efeitos descritivos e soluções literárias que configuram imagens plásticas
no espírito do leitor, Aluísio Azevedo apresenta características psicológicas de comportamento
comunitário. Aponte a alternativa que explicita o que os dois trechos têm em comum:
a) Preocupação de um em relação à tragédia do outro, no primeiro trecho, e preocupação de
poucos em relação à tragédia comum, no segundo trecho.
b) Desprezo de uns pelos outros, no primeiro trecho, e desprezo de todos por si próprios, no
segundo trecho.
c) Angústia de um não poder ajudar o outro, no primeiro trecho, e angústia de não se conhecer o
outro, por quem se é ajudado, no segundo trecho.
d) Desespero que se expressa por murmúrios, no primeiro trecho, e desespero que se expressa por
apatia, no segundo trecho.
e) Anonimato da confusão e do “salve-se quem puder”, no primeiro trecho, e anonimato da
cooperação e do “todos por todos”, no segundo trecho.
33. (UFLA) Relacione os trechos da obra O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, às
características realistas/naturalistas seguintes que predominam nesses trechos e,
a seguir, marque a alternativa CORRETA:
1. Detalhismo.
2. Crítica ao capitalismo selvagem.
3. Força da atração física.
( ) “(...) possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais
duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira,
fazendo travesseiro de um saco de estepe cheio de palha.”
( ) “(...) era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas de
fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas
brasileiras.”
( ) “E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer
(...) Era um pobre diabo caminhando para os setenta anos, antipático, muito
macilento.”