O documento fornece instruções para responder a um item sobre o romance "Memorial do Convento", de José Saramago, explicando os traços de personalidade do Padre Bartolomeu de Gusmão que o levaram a construir uma máquina voadora. O leitor é orientado a ler pequenos textos sobre a personagem antes de responder baseado em dois exemplos do romance.
10. TPC — Resolve este item de grupo I-B, saído
numa das quatro provas do ano passado:
«Fazendo apelo à sua experiência de leitura do
romance Memorial do Convento, de José
Saramago, explique em que medida os traços de
carácter do Padre Bartolomeu de Gusmão o
impelem à construção da passarola,
fundamentando a sua exposição em dois
exemplos significativos. Escreva um texto de
oitenta a cento e trinta palavras». Aproveita para,
ainda antes, leres pequenos textos ensaísticos no
manual acerca de Bartolomeu: «Padre
Bartolomeu Lourenço de Gusmão: uma
personagem peculiar» (p. 300); «Sonho, projeto e
execução» (p. 313).
11. Cenários de resposta «oficiais»:
A resposta pode contemplar os
aspetos que a seguir se enunciam, ou
outros considerados relevantes.
No romance Memorial do Convento,
de José Saramago, os traços de carácter
do Padre Bartolomeu de Gusmão que o
impelem à construção da passarola são,
entre outros, os seguintes:
12. – a curiosidade pelo conhecimento, bem
como o empenhamento no estudo e na
investigação, que o levam à Holanda e à
Universidade de Coimbra;
– o interesse pela observação da
natureza, que o conduz à idealização de
uma máquina semelhante a um pássaro;
– a crença na capacidade criativa do ser
humano, que lhe permite ter a certeza de
que um dia o Homem voará;
13. – a coragem de correr riscos, evidente
no desafio à Inquisição;
– a perseverança, evidente nas
diferentes tentativas de construir objetos
capazes de voar;
– o reconhecimento do valor da
cooperação, patente na atribuição de
tarefas a Baltasar e a Blimunda.
14. A personagem de Padre Bartolomeu é
um exemplo da intencionalidade subversiva
de Memorial do Convento. Representante
do clero jesuíta, afirmase como
impulsionador do desenvolvimento
científico português setecentista,
participando em vários projectos
científicos. Apesar da sua ligação à Igreja
de Roma, o jesuíta tem opiniões e
comportamentos muito particulares relativa
mente aos dogmas da igreja católica, como
admitir o facto de Deus «ser maneta», ou
abençoar a união ilegítima de Baltasar e
15. Um padre que especula que Deus não
tem mão esquerda, porque todas as
referências evangélicas aludem à sua
direita, que viaja em busca de conheci
mentos heréticos e que desenvolve um
engenho voador demoníaco, é uma clara
expressão do mecanismo subversivo
presente no romance saramaguiano.
16.
17. A reflexão da princesa Maria Bárbara
— «teriam feito bem melhor se me
casassem na primavera» — revela que
outros, e não ela, é que decidiram sobre o
seu casamento. O mesmo não se passa
com o casal Baltasar e Blimunda, cuja
relação não foi imposta e na qual ninguém
interfere.
Fazendo apelo à sua experiência de
leitura de Memorial do Convento, comente,
num texto de … palavras, a relação
amorosa de Baltasar e Blimunda.
18. Baltasar e Blimunda constituem, ao
longo do romance, o símbolo do amor
verdadeiro, incondicional e eterno.
Amamse mal se conhecem, unemse
por um ritual não canónico («cerimónia» da
colher), não escondem nada um do outro
(atitude de que o amaremse nus é o
símbolo), não necessitam de procriar para
provar o seu amor, desejamse mesmo
quando os sinais do tempo (rugas e
cabelos brancos) já os marcam, e vivem,
em conjunto, o mesmo sonho: voar.
19. Este amor, que se opõe à relação
convencional do rei e da rainha, atinge o
clímax na morte de Baltasar, na fogueira,
num auto de fé. Aí, Blimunda aprisiona a
«vontade» do seu homem, não a deixando
subir ao céu e prendendoo, para sempre,
dentro de si.
(120 palavras)
20. Ao contrário do que aconteceu com
os príncipes reais e com os seus
progenitores, o relacionamento de Baltasar
e de Blimunda surge repleto de
autenticidade.
Com efeito, do encontro ocasional do
par amoroso pertencente ao povo surge
uma relação pura, autêntica e emotiva, que
o fará viver um para o outro até ao dia em
que o destino fatídico fez desaparecer
Baltasar. Contudo, assistese, depois, à
21. incessante procura por parte de Blimunda
que, durante nove anos, calcorreou o país,
procurandoo e reencontrandoo no auto
de fé onde recolheu a sua vontade para
que a sua união se eternizasse.
Por isso, o amor deste casal perdurou
na vida e na morte, transformandose num
amor espiritual, numa união eterna, que se
opõe à de D. João V e D. Maria Ana.
(129 palavras)
22.
23. deste infinito bocejo (v. 20)
a caminho não sei de onde, (21)
à espera não sei de quê. (22)
e afinal ninguém me lê (25)
24.
25.
26.
27.
28. Tudo que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.
29. Tudo que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.
Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço —
30. Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço —
Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.
31. Tudo que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.
Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço —
Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.
32. a. O poema desenvolve as tensões querer/fazer e
alma/corpo humanos.
b. Ao longo da composição, o poeta reconhece a
incompletude dos seus atos.
c. Os sonhos do sujeito poético têm uma natu-
reza ilimitada.
d. O resultado das suas ações provoca no poeta
um sentimento de grande satisfação.
e. O texto termina com um paradoxo que destaca
a complexidade psicológica do eu lírico.
33.
34. Mantendo a métrica (redondilha
menor — ou seja, pentassílabos),
esquema estrófico (quadras) e rimático
(rima cruzada), escreve um poema em
que o eu lírico revele um estado de
espírito diferente do do sujeito do poema
de Pessoa, ao mesmo tempo que aluda a
um cenário exterior que, como em
Pessoa, pareça influenciar esse bom
ânimo.
35.
36. Em folha lineada que me possas depois
dar, escreve respostas limpas — bem
revistas, não trapalhonas — aos itens 1 e
2 desse exame, de 2007, sobre «Em toda
a noite o sono não veio».
37. Em folha lineada que me possas depois
dar, escreve uma resposta limpa — bem
revista, não trapalhona — ao item 1
desse exame, de 2007, sobre «Em toda a
noite o sono não veio».
38.
39. 1.
Os momentos temporais
representados na primeira estrofe do
poema são a noite (passado recente),
caracterizada como um tempo longo de
vigília, de insónia — «Em toda a noite o
sono não veio» (v. 1) — e a madrugada
(instante presente), que «Raia do fundo /
Do horizonte, encoberta e fria» (vv. 2-3).
40. 2.
A interrogação «Que faço eu no
mundo?» (v. 4) exprime o
autoquestionamento desesperado do «eu»
sobre o seu papel no mundo, sobre o valor
da sua existência, que nenhum
condicionalismo (a noite ou a aurora, a
treva ou a luz) consegue alterar. A longa
insónia fragiliza-o, acentua a consciência
da solidão e a angústia do «eu» em
relação a uma vida sem perspetivas.
41. 3.
Os três primeiros versos da terceira
estrofe representam a noite como o lugar
onde emerge a «manhã», que, se o
«símbolo» valesse («Nem o símbolo ao
menos vale» — v. 3), poderia trazer ao «eu»
alguma esperança. Porém, dada essa
impossibilidade, o sujeito «já nada espera»
(v. 18). O desespero da insónia noturna
não encontra na «manhã» que se levanta a
esperança que o símbolo promete, «por
tantas vezes ter esperado em vão» (v. 17).
42. 4.
O sentimento de «horror» referido no
verso 8 resulta do facto de o sujeito poético,
«Por tantas vezes ter esperado em vão», ter
concluído que cada novo dia lhe traz
sempre a mesma desilusão de verificar que,
depois da «febre vã da vigília», depois de
uma noite de insónia e desespero angus-
tiante, nada se altera, por mais radiosa que
seja a manhã: «o novo dia» traz-lhe,
sempre, «o mesmo dia do fim/ Do mundo e
da dor — / Um dia igual aos outros», como
se, na sua alma, fosse sempre noite.
43.
44. TPC — Ao longo desta ou da próxima
semana, envia-me (ou dá-me impressa) a
primeira versão do tepecê sobre Memorial
do Convento que explico em Gaveta de
Nuvens.