Professor Diego Lucas - Pós-graduado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), sou professor de Português, Redação e Literatura no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG).
Apresentação contendo informações básicas da Arquitetura na História da Arte.
- Disciplina: Artes do Ensino Médio/2013
- EEEM Cruzeiro do Sul - São Lourenço do Sul-RS
- Prof. Sérgio Flores
Professor Diego Lucas - Pós-graduado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), sou professor de Português, Redação e Literatura no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG).
Apresentação contendo informações básicas da Arquitetura na História da Arte.
- Disciplina: Artes do Ensino Médio/2013
- EEEM Cruzeiro do Sul - São Lourenço do Sul-RS
- Prof. Sérgio Flores
16. Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, com os 12 profetas de Aleijadinho
17. A serpe, que adornando várias cores, Com passos mais oblíquos, que serenos, Entre belos jardins, prados amenos, É maio errante de torcidas flores; Se quer matar da sede os desfavores, Os cristais bebe co’ a peçonha menos, Porque não morra cós mortais venenos. Se acaso gosta dos vitais licores. Assim também meu coração queixoso, Na sede ardente do feliz cuidado Bebe cos olhos teu cristal fermoso; Pois para não morrer no gosto amado, Depõe logo o tormento venenoso, Se acaso gosta o cristalino agrado Texto 1
18. O todo sem a parte não é todo, A parte sem o todo não é parte, Mas se a parte o faz todo, sendo parte, Não se diga, que é parte, sendo todo. Em todo o sacramento está Deus todo, E todo assiste inteiro em qualquer parte, E feito em partes todo em toda a parte, Em qualquer parte sempre fica o todo. O braço de Jesus não seja parte, Pois que feito Jesus em partes todo, Assiste cada parte em sua parte. Não se sabendo parte deste todo, Um braço, que lhe acharam, sendo parte, Nos disse as partes todas deste todo. Texto 2
25. GREGÓRIO DE MATOS: Gregório de Matos e Guerra nasceu na Bahia, em 1636, de família abastada. Estudou primeiro com os jesuítas na cidade natal e, a partir de 1650, na metrópole, formando-se em Direito, em Coimbra, no ano de 1681. Em Portugal, casou, foi magistrado e lá viveu até 1681, quando, já viúvo, retornou à pátria. Na Bahia, levou uma vida boêmia e indisciplinada de advogado de poucas causas e menores recursos, improvisando versos, cantando à viola, caçoando de toda gente. Casou de novo, teve filhos, e alguns bispos e governadores o protegeram. Foi exilado para Angola, de onde voltou em 1695, indo para o Recife, onde morreu no ano seguinte.
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28. POESIA SACRA: Expressa a cosmovisão barroca: a insignificância do homem perante Deus, a consciência nítida do pecado e a busca do perdão. Ao lado de momentos de verdadeiro arrependi-mento, muitas vezes o tema religioso é utilizado como simples pretexto para o exercício poético, desenvolvendo engenhosos jogos de imagens e conceitos.
29. A CRISTO N. S. CRUCIFICADO, estando o poeta na última hora de sua vida Meu Deus, que estais pendente de um madeiro, Em cuja lei protesto de viver, Em cuja santa lei hei de morrer, Animoso, constante, firme e inteiro: Neste lance, por ser o derradeiro, Pois vejo a minha vida anoitecer; É, meu Jesus, a hora de se ver A brandura de um Pai, manso Cordeiro. Mui grande é o vosso amor e o meu delito; Porém pode ter fim todo o pecar, E não o vosso amor que é infinito. Esta razão me obriga a confiar, Que, por mais que pequei, neste conflito Espero em vosso amor de me salvar.
30. Nas duas primeiras estrofes, o poeta expressa a contrição religiosa e a crença no amor infinito de Cristo, para manifestar, no final, a certeza do perdão. O soneto encobre uma formulação silogística, que se pode expressar dessa maneira: o amor de Cristo é infinito (verso 11); o meu pecado, por maior que seja, é finito, e menor que o amor de Jesus (versos 9 e 10). Logo, por maior que seja o meu pecado, eu espero salvar-me (versos 13 e 14).
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32. POESIA AMOROSA: Apresenta-se sob o signo da dualidade barroca, oscilando entre a atitude contemplativa, o amor elevado, à maneira dos sonetos de Camões, e a obscenidade, o carnalismo. É curioso que a postura platônica é dominante, quando o poeta se refere a mulheres brancas, de condição social superior, e a libido agressiva, o erotismo e o desbocamento são as tônicas, quando o poeta se inspira nas mulheres de condição social inferior, especialmente as mulatas.
33. À MESMA D. ÂNGELA Anjo no nome, Angélica na cara! Isso é ser flor e Anjo juntamente: Ser Angélica flor e Anjo florente, Em quem, senão em vós, se uniformara? Quem vira uma tal flor que a não cortara De verde pé, da rama florescente; E quem um Anjo vira tão luzente Que por seu Deus o não idolatrara? Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu Custódio e a minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares. Mas vejo, que por bela, e por galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo que me tenta, e não me guarda.
34. O soneto marca-se pelo aspecto cultista, desenvolvendo-se por meio do jogo de palavras e imagens: “Ângela” = “Angélica” = “Anjo”, “flor” = “florente”. O tema central é o caráter contraditório dos sentimentos do poeta pela mulher, que é simultaneamente flor (metáfora da beleza) e objeto do desejo, e anjo (metáfora da pureza) e símbolo da elevação espiritual. A contradição entre o amar e o querer desemboca no paradoxo dos versos finais: “Sois Anjo que me tenta e não me guarda.”
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36. POESIA ENCOMIÁSTICA: Gregório de Matos escreveu também poemas laudatórios (de elogio), de circunstância (festas, homenagens, fatos corriqueiros). Um exemplo curioso é o poema cujo inicio transcrevemos, uma homenagem ao desembargador Belchior da Cunha Brochado:
37. Douto, prudente, nobre, humano, afável. Reto, ciente, benigno e aprazível. Único, singular, raro, inflexível. Magnífico, preclaro, incomparável. Do mundo grave juiz. Inimitável. Admirado, gozais aplauso incrível, Pois a trabalho tanto e tão terrível, Dais pronto execução sempre incansável. Vossa fama, senhor, seja notória Lá no clima onde nunca chega o dia. Onde do Erebo só se tem memória Para que garbo tal, tanta energia! Pois de toda esta terra é gentil glória, Da mais remota seja uma alegria. Ao desembargador Belchior da Cunha Brochado, casado com uma filha de Sebastião Barbosa, Capitão de infantaria do III da Praça da Bahia.
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39. O elemento lúdico do Barroco é a marca predominante do texto. Cada par de versos tem em comum as terminações das palavras (ex.: 1ª palavra do 1º verso: douTO; 1ª palavra do 2ª verso: reTO), o que explica o estranho arranjo espacial do texto. A leitura deve ser feita como se se tratasse de versos comuns.
40. CURIOSIDADE: Certa vez, o Conde de Ericeira, D. Luís de Meneses, pediu a Gregório que fizesse um soneto em seu louvor. O poeta não achava nada nele que pudesse ser louvado, mas, não querendo desagradá-lo, compôs o soneto a seguir:
41. Um soneto começo em vosso gabo; Contemos essa regra por primeira, Já lá vão duas, e esta é a terceira, Já este quartetinho está no cabo. Na quinta torce agora a porca o rabo; A sexta vá também desta maneira, Na sétima entro já com a grã canseira, E saio dos quartetos muito brabo. Agora nos tercetos que direi? Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais, Gabando-vos a vós, eu fico um Rei. Nesta vida um soneto já ditei, Se desta agora escapo, nunca mais; Louvado seja Deus, que o acabei.
42. A habilidade de Gregório de Matos lhe permitiu compor um soneto sem se comprometer com elogios falsos. Usou apenas a forma do soneto, esvaziando-lhe o conteúdo. Esse é um exemplo da engenhosidade do poeta e de sua verve satírica.
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44. POESIA REFLEXIVA: também chamada por alguns autores de “filosófica”. Caracteriza-se também pela apresentação de traços de estética cultista; apela igualmente para a dimensão visual, realizando um jogo de claro/escuro. Ao claro correspondem, algumas vezes, os estados de alegria; ao escuro, os de tristeza. O Barroco aprecia fundir a luz à sombra, o que traduz o conflito resultante do desejo de fundir a fé à razão. Diversos textos referem-se ao desconcerto do mundo (alguns dialogam intertextualmente com Camões) e às frustrações humanas diante da realidade. A fugacidade das coisas do mundo, associada à temática do carpe diem, faz parte da temática filosófica de Gregório.
45. Nasce o sol e não dura mais que um dia, Depois da luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em continuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se a tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente da inconstância.
46. Neste soneto temos a temática da efemeridade, da transitoriedade de todas as coisas. O sentimento dessa brevidade do que está no mundo é uma constante no estilo Barroco e traduz a percepção da passagem contínua do tempo. O sol, a luz e a beleza passam, uma vez que, como esclarece o próprio poeta, não existe a constância. Tudo o que existe é a incerteza. Existem no poema duas figuras de linguagem predominante: metáforas (figura que se baseia na comparação simbólica) e antíteses (figura que se baseia na oposição de palavras).
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48. POESIA SATÍRICA: trata-se do emblema associado ao autor. É, portanto, a responsável pela alcunha Boca do Inferno. A parte satírica da obra de Gregório é o verdadeiro pasquim da Colônia. Tematiza a degradação do mundo do século XVII na Bahia. É a época da Contrarreforma que apresenta, portanto, a moral social intolerante, fechada.
49. Neste mundo é mais rico o que mais rapa: Quem mais limpo se faz tem mais carepa; Com sua língua, ao nobre o vil decepa: O velhaco maior sempre tem capa. Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos falar pode, mais increpa: Quem dinheiro tiver, pode ser papa. A flor baixa se inculca por tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa: Mais isento se mostra o que mais chupa. Para a tropa do trapo vazo a tripa, E mais não digo, porque a musa topa Em apa, epa, ipa, opa, upa.
50. Que falta nesta cidade?...........................................Verdade. Que mais por sua desonra?.................................... Honra. Falta mais que se lhe ponha?.................................. Vergonha. O demo a viver se exponha Por mais que a fama a exalta, Numa cidade onde falta Verdade, honra, vergonha. [...] E que justiça a resguarda?.........................................Bastarda. É grátis, distribuída?.................................................Vendida. Que tem, que a todas assusta?....................................Injusta. Valha-me Deus, o que custa, O que El-Rei nos dá de graça Que anda a justiça na praça Bastarda,vendida, injusta.
51. O poema visa criticar os comportamentos da sociedade baiana do século XVII. Essa crítica é endereçada tanto à classe dominante quanto aqueles aventureiros que desejam ascender socialmente. Os comportamentos apontados são a desonestidade e o oportunismo. Até a terceira estrofe, o poema mantém um tom sério, de crítica moralizante. Contudo, na última estrofe, esse tom assume feição engraçada, sem perder, entretanto, a postura crítica.
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53. POESIA FESCENINA: dentro da vertente satírica, podemos ainda destacar a poesia fescenina, isto é, a poesia mais forte, com utilização de termos chulos e exposição mais explícita de imagens eróticas. O poema a seguir, por exemplo, é dedicado a uma freira que chamara o poeta de “Pica-Flor”:
54. Se Pica-flor me chamais, Pica-Flor aceito ser, mas resta agora saber, se o nome que me dais, meteis a flor que guardais no passarinho melhor! Se me dais este favor, sendo só de mim o Pica, e o mais vosso, claro fica, que fico então Pica-flor.
55. A pobre da freira deve ter chamado o poeta de pica-flor (ou beija-flor), devido ao porte magro, frágil. Para ironizar, ou satirizar, como ele mesmo adianta, a inocente figura do pássaro transforma-se em uma imagem metafórica do pênis, e a freirinha poderia ficar sendo a flor a ser “picada”. Mais uma vez, repete-se o jogo lúdico, a brincadeira com as palavras.
56. Dizem, que o vosso cu, Cota, assopra sem zombaria, que parece artilharia, quando vem chegando a frota: parece que está de aposta este cu a peidos dar, porque jamais sem parar este grão-cu de enche-mão sem pederneira, ou murrão, está sempre a disparar.
57. Sal, cal e alho Caiam no teu maldito caralho. Amém. O fogo de Sodoma e de Gomorra Em cinza te reduzam essa porra. Amém. Tudo em fogo arda, Tu, e teus filhos, e o Capitão da Guarda
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59. BIOGRAFIA: Nascido em lar humilde, na Rua do Cônego, perto da Sé, em Lisboa, foi o primogênito de quatro filhos de Cristóvão Vieira Ravascode Maria de Azevedo, lisboeta. A família Vieira veio para o Brasil e fixou residência em Salvador, na Bahia, quando Antonio tinha seis anos. Seu pai era funcionário do império português. Aos 15 anos, ingressou na Companhia de Jesus. Formou-se noviço em 1626, e além de teologia estudou lógica, física, metafísica, matemática e economia. Lecionou humanidades e retórica em Olinda e em 1634 foi ordenado sacerdote, na Bahia. Após idas e vinda a Portugal, Padre Antonio Vieira morreu aos 89 anos, na Bahia.
60. OBRA: Deixou uma obra complexa que exprime as suas opiniões políticas, não sendo propria-mente um escritor, mas sim um orador. Além dos Sermões redigiu o Clavis Prophetarum, livro de profecias que nunca concluiu. Vieira deixou para trás cerca de 200 cartas e 700 sermões.