O documento discute as mudanças neurobiológicas associadas à terapia cognitivo-comportamental (TCC) para diferentes transtornos mentais como fobia social, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno de pânico. Estudos de neuroimagem mostraram que a TCC pode promover alterações na ativação de áreas cerebrais como amígdala, córtex cingulado anterior e pré-frontal, relacionadas à sintomatologia desses transtornos. No entanto
2. Introdução
A interseção da psicologia com outras áreas do
conhecimento é uma tendência crescente.
Rigor experimental alcançado pelo behaviorismo, a
partir de então a aplicação da metodologia científica as
teorias psicológicas começou a ser valorizada.
A terapia cognitivo-comportamental ( TCC), que tem
no behaviorismo suas bases filosóficas, também segue o
preceito de que é necessário que uma área do
conhecimento tenha suporte empírico e experimental
para que se produza conhecimento científico.
3. Bases biológicas que estariam envolvidas com respostas
medicamentosas.
Mudanças cerebrais envolvidas com o tratamento
psicológico bem-sucedido é de grande importância.
Discrepância entre os estudos publicados avaliando
mudanças neurobiológicas devido a intervenções com
medicação versus os estudos em psicoterapias.
Possivelmente, essa disparidade está relacionada à visão
de ciências que estudam mente e cérebro como instâncias
separadas.
Podemos considerar que mente e cérebro são integrados e
interdependentes.
A neurociência tem desenvolvido vários métodos para
analisar a função cognitiva e potencializar a compreensão
do funcionamento mental de indivíduos saudáveis e com
transtornos Psiquiátricos.
4. Utilização de técnicas de neuroimagem tem sido uma área de
contínuo interesse nas pesquisas psiquiátricas.
A melhor compreensão dos mecanismos biológicos
subjacentes à terapia , pode promover melhoras nas
intervenções terapêuticas.
Descobrir de que maneira a TCC atua do ponto de vista
fisiológico pode contribuir para aumentar a adesão ao
tratamento com Terapia Cognitivo – Comportamental.
A TCC oferece um perspectiva interessante para a integração
com o campo da neurociência, uma vez que qualquer
intervenção está vinculada a um suporte de pesquisa
experimental e empírico.
O que ocorre no corpo de um paciente que responde ao
tratamento? A TCC é capaz de promover alterações biológicas?
Qual a natureza dos problemas que estamos estudando?
om o intuito de incitar a reflexão sobre essas questões , este
capítulo tem como objetivo apresentar resultados de estudos de
5. MUDANÇAS NEUROBIOLÓGICAS
RELACIONADAS COM TCC E NEUROIMAGEM
Estudos com fobia de aranha
Paquete e colaboradores
apontaram a colaboração do
córtex pré-frontal
dorsolateral e do giro para -
hipocampal.
6. Straube e colaboradores o aumento da
ativação da ínsula e do córtex cingulado.
Goossens e colaboradores a
redução da hiperativação da
amígdala, do córtex cingulado
anterior e da ínsula.
7. Schienle e colaboradores o aumento da ativação do
córtex orbito frontal medial após o tratamento.
LeDoux o aumento da ativação de áreas pré -
frontais.
9. Segundo o dsm IV, a principal característica da fobia social é o medo
acentuado de situações sociais ou de desempenho nas quais o
indivíduo pode se sentir embaraçado. A tcc (terapia cognitivo
comportamental),é eficaz no tratamento da fobia social.
Estudos realizados em pacientes submetidos ao tratamento por tcc e
citalopram foram investigados por furmark e colaboradores e conclui
que os sítios neurais de ativação com esse tratamento convergem
para amígdala, hipocampo e áreas corticais adjacentes,
representando possivelmente um caminho comum no tratamento
bem – sucedido da ansiedade
Esse estudo diz que a amígdala e o hipocampo são estruturas
relacionadas ao condicionamento de estímulos aversivos em
indivíduos com fobia social.
Redução da atividade nessa região e do córtex adjacente pode ser um
importante mecanismo através do qual ambos os tratamentos
farmacológico e psicoterápico poderiam exercer efeito ansiolítico.
Outros estudos confirmados por leichsenring confirma que o
tratamento através da tcc permite a habituação sistemática da
atividade neural nessas estruturas cerebrais.
10.
11. Estudo com Transtorno de
estresse pós-traumático
O TEPT é um transtorno causado por um trauma. Devido o
evento traumático, o individuo passa a reexperimentar a
sensação do evento traumático, a evitar estímulos a ele
associados e a apresentar sintomas de hiperestimulação
autonômica.
A TCC é indicada para tratamento de pacientes com TEPT.
Estudos apontam que as técnicas cognitivo – comportamentais
mostram uma taxa de melhora em torno de 90% ao fim do
tratamento e 85% em seis meses.
12. Estudos com transtorno
obsessivo - compulsivo
As principais característica do TOC são
as obsessões ou compulsões recorrentes
que causam sofrimento acentuado,
consomem tempo e interferem na rotina
do individuo.
As regiões relacionadas a
sintomatologia do TOC são : O giro
cingulado anterior e caudado
Direito; córtex orbito frontal e o
tálamo;
13. Quais o efeitos neurobiológicos da TCC em pacientes com TOC?
Baxter e colaboradores(1922) :
- Mudanças no metabolismo com TCC e fluoxetina;
-Concluíram que o metabolismo de glicose da cabeça do núcleo
caudado direito mudou nos pacientes tratados com sucesso tanto
com TC quanto com fluoxetina;
- Houve uma correlação da atividade do córtex orbital com o
núcleo caudado e o tálamo antes do tratamento em sujeitos que
responderam, desaparecendo depois do sucesso do tratamento.
Em estudos posteriores o mesmo grupo de pesquisa
investigou pacientes antes e depois da TC. Os resultados
encontrados corroboram com ideia de que os pensamentos fixos
e repetitivos e os comportamentos ritualizados seriam resultado
da atividade patológica do circuito córtico-estriado-talâmico;
14. Nakao e colaboradores(2005) :
-Avaliaram mudanças regionais cerebrais através do RNMF
antes e depois do tratamento com TC e com medicações.
-Concluíram que a hiperativação dos circuitos envolvidos na
expressão sintomática do TOC pode diminua com a melhora dos
sintomas
Saxena e colaboradores(2009) Observaram que após o termino
do tratamento com TC houve uma redução da ativação do
tálamo e um aumento no ativação do córtex cingulado anterior
direito dorsal, o que demonstra que TCC pode promover efeitos
na atividade cerebral de forma mais rápida.
- Indicando também uma via diferente da atuação da TCC em
comparação com tratamento farmacológico.
Yamanishi e colaboradores observaram que pacientes
resistentes aos inibidores seletivos de recaptação de serotonina
que responderam a TCC uma redução na ativação do córtex
pré-frontal medial esquerdo.
15. Ainda não se tem um modela de ativação definido;
As áreas relacionados a sintomatologia do TOC
apresentaram suas ativações regularizadas após o
tratamento.
16. Estudos com Transtorno
de Pânico
Segundo o DSM-IV, o transtorno de pânico se
caracteriza pela presença de ataques de pânico
recorrentes e inesperados.
Seguidos por preocupações sobre suas
consequências ou mudanças comportamentais
relevantes relacionada aos ataques.
A TCC é eficaz no tratamento do transtorno do
pânico ( Rangé e Bernik, 2001.). entretanto há
mudanças cerebrais quando o paciente responde
ao TCC.
17. ESTUDOS FEITOS
Prasko e colaboradores ( 2004 ) utilizaram o método FDG-
PET, e avaliaram as mudanças no metabolismo cerebral
regional decorrentes do tratamento com TCC ou
ANTIDEPRESSIVO.
Neste estudo de Prasko e colaboradores, os sujeitos foram
submetidos ao exame PET antes e depois, chegaram a
conclusão queambos os tratamentos foram eficaz no manejo
dos sintomas de pânico.
No estudo feito com o método FDG-PET, houve o aumento da
atividade do metabolismo no hemisfério esquerdo , e a
diminuição predominante na região frontal do hemisfério
esquerdo.
18. Os resultados apontam que tanto o tratamento com TCC,
quanto com ANTIDEPRESSIVO podem ativar o processo
temporal cortical na discussão, ele apresenta que essa área
paralímbica faz parte do sistema de alarme que informa sobre
perigo externo.
Já Sakai e colaboradores (2006 ), investigaram as mudanças na
utilização de glicose cerebral regional associada com redução
da ansiedade após o tratamento com TCC.
Segundo Sakai e colaboradores os achados de Neuroimagem
após a TCC revelaram a diminuição do metabolismo no
hipocampo direito no córtex cingulado anterior.
É o aumento do metabolismo de glicose cerebral regional pré-
frontal medial bilateralmente.
Os achados são compatíveis com a hipótese de que regiões
acima da amígdala podem ser moduladas adaptativamente nos
pacientes que respondem a TCC.
19. Predição de Respostas
A predição de resposta de tratamento é de grande importância
clínica, pois o conhecimento do metabolismo cerebral pré-
tratamento poderá no futuro auxiliar na escolha da intervenção
mais indicada para determinado paciente.
Estudos feitos por Brody e colaboradores (1998), concluiu que um
metabolismo pré-tratamento mais alto no córtex orbitofrontal
esquerdo estava associado com melhor resposta ao tratamento com
TC. E uma atividade metabólica mais baixa no córtex orbitofrontal
esquerdo estava associada com melhor resposta ao tratamento com
fluoxetina.
O córtex orbitofrontal é importante para mediar respostas
comportamentais em situações nas quais o valor afetivo do estimulo
muda. Essa área parece ter importante papel na mediação da
extinção. No tratamento bem-sucedido com TC, os pacientes
experimentam mudanças no valor afetivo que eles atribuíam ao
estímulo e, assim, extinguem as compulsões.
20.
21. Bryant e colaboradores utilizaram RNMF para verificar se o
cérebro de indivíduos com TEPT, que responde ao tratamento
com TCC é ativado de maneira diferente ao cérebro dos que
continuam apresentando sintomas do transtorno após o
tratamento. Os autores observaram que os que não
responderam ao tratamento apresentavam maior ativação da
amígdala bilateral e do córtex cingulado anterior direito
ventral.
Não só a ativação, mas também o tamanho de determinadas
regiões cerebrais podem estar envolvidas na resposta ao
tratamento com TCC. Bryant e colaboradores (2008b)
observaram que pacientes com TEPT com maior volume do
córtex cingulado anterior rostral tinham melhor resposta ao
tratamento, parecendo estar mais aptos a regular o medo,
facilitando o processo ao longo da TCC.
22. Conclusão
Após serem observados os resultados de várias pesquisas
que estudaram as mudanças neurobiológicas por estudos
de neuroimagem em pessoas com diversos transtornos,
notou-se que a TCC tem grande porcentagem de eficácia
em todos eles, alguns paralelamente a uso de medicação
apropriada, outros apenas com uso da terapia
24. As pesquisas concluíram que para os diversos transtornos apresentados
a TCC mostrou-se positiva. No caso do TOC por exemplo os sujeitos
com metabolismo mais alto pré-tratamento no córtex-orbitofrontal
teriam maior capacidade para mudar a atribuição do valor afetivo do
estímulo e, logo, seriam mais capazes de extinguir as respostas
compulsivas. Dessa forma, essas habilidades possibilitariam melhor
resposta à TCC.
Já em relação ao TEPT existem algumas divergências entre
pesquisadores. Soares e Lima (2003) apresentaram em seus estudos
evidências de uma melhora entre 85% a 90% em pacientes com TEPT
após TCC durante um período de 6 meses. Contudo Bryant e
colaboradores (2008), concluíram em seus estudos que se o
processamento do medo realizado pela amígadala é excessivo, pode ser
mais difícil regularizar a ansiedade durante a TCC, dificultando o
sucesso terapêutico. Bryant ainda descobriu em suas pesquisas que não
só a ativação de algumas regiões do cérebro estão relacionadas ao
sucesso da terapia, como também o tamanho dessas regiões, pois
pacientes que responderam ao tratamento tinham maior volume do
córtex cingulado anterior rostral do que pacientes que não obtiveram
25. PESQUISAS RECENTES
O psiquiatra Neil Roberts, pesquisador de TEPT do Hospital
Universitário de Cardif, no Reino Unido, a busca de novas estratégias
que combatam o transtorno é cada vez mais urgente. No ano passado,
ele liderou um estudo sobre a eficácia da terapia cognitiva como
prevenção, logo após a ocorrência de um trauma. Entre quase 100
participantes, Roberts constatou que apenas essa abordagem é
insuficiente para evitar o surgimento dos sintomas no futuro.
“Em alguns casos, a terapia precoce até piorou a intensidade do TEPT”,
conta. “Embora esse tipo de tratamento tenha efeitos positivos em
pacientes já diagnosticados, verificamos que ainda não há opções
para a prevenção do transtorno na sequência de um trauma, e isso
precisa ser solucionado”,afirma.
FONTE: Paloma Oliveto - Correio Brasilienze
Publicação:13/06/2013 09:25Atualização:13/06/2013 09:58
26. A Tcc tem se mostrado eficaz no tratamento de vários
transtornos metais, embora os efeitos neurobiológicos de sua
atuação ainda sejam pouco conhecidos.
A TCC favorece a reestruturação dos pensamentos e a
modificação dos sentimentos e comportamentos e promove
novos aprendizados.
É capaz de modificar a atividade neural disfuncional
relacionada aos transtornos de ansiedade nos pacientes que
responderam ao tratamento.
Estudos envolvendo o TOC e TEPT demonstram haver relação
entre o tamanho e a ativação de áreas cerebrais anteriores ao
tratamento e a resposta a Tcc, são características neurais tanto
morfológicas quanto funcionais podem indicar previamente ao
tratamento se há mais chance de resposta terapêutica.
27. Alguns aspectos interessantes diz respeito sobre os achados da
neuroimagem decorrentes do tratamento com o tcc versus
medicação, relevando um caminho comum de modificação
cerebral. Esses achados sugerem que a psicoterapia com tcc e a
farmacoterapia em alguns casos, podem ter atuações
semelhantes. Os resultados mostraram que a tcc regularizou os
circuitos neurais disfuncionais envolvidos com regulação de
emoções negativas e a extinção. No entanto esses achados não
foram homogêneos.
Muitos transtornos mentais estão envolvidos com a
incapacidade de controlar o medo e dificuldade regular
emoções negativas. Os circuitos neurais da extinção tem
importante implicação CLINICA, porque os transtornos de
ansiedade são em partes caracterizados pela resistência a
extinção de reações emocionais aprendidas a estímulos
ansiogênicos e por comportamentos de evitação.
Tcc abrange técnicas especificas que permitem tanto a extinção
do medo condicionado quanto a regulação cognitiva de
emoções que são as técnicas de exposição, distração e
28. A reestruturação cognitiva possibilita ao paciente questionar os
fundamentos de seus pensamentos, é considerada como
estratégia de regulação cognitiva da emoção.
A técnica de distração utilizada no tratamento com Tcc
favorece que o paciente mude o fluxo de seu pensamento. A
distração leva a redução dos sintomas de ansiedade, uma vez
que auxilia o paciente a focalizar a atenção em outros
estímulos que não estejam causando desconforto físico.
A técnica da exposição favorece a extinção do medo
condicionado. Durante as exposições, o paciente fortalece seu
senso de controle reduzindo expectativas futuras de dano e
aumenta seu senso de autoeficácia.
A memória do medo uma vez estabelecida é relativamente
permanente. Portanto a Tcc é capaz de promover mudanças
neurobiológicas associadas aos benefícios terapêuticos já
amplamente demonstrados