Cognição 4E - embodied, embedded, enactive, extended (corporificada, situada, enativa, estendida): inconsistências do cognitivismo -> cérebros não podem ser divorciados do resto do corpo e dos contextos ambientais.
1. The Evolution of Cognition: a 4E
Perspective (Barrett, L., 2018 - The
Oxford Handbook of 4E Cognition)
Raquel Salcedo Gomes
PGIE/UFRGS
2. T
ext Summary
Whats is cognition anyway?
Cognition as coordination
The Skin-Brain Thesis
Behavioral flexibility, the elaboration of
nervous systems and the umwelt
Going Radical and getting out Continuity
Right
3. O que é cognição, afinal?
Neisser, 1967: processos pelos quais as entradas sensoriais são
transformadas, manipuladas, aumentadas e usadas para dar origem a
saídas motoras, assumindo implicitamente que esses processos ocorrem
apenas no cérebro.
Visão antropogênica: modelar e recriar a inteligência humana com o uso
de computadores.
Processos concebidos como cognitivos: formação de conceito,
raciocínio, habilidades de solução de problemas, teoria da mente,
linguagem natural, memória, planejamento e a habilidade de representar
objetos em sua ausência -> tipicamente humanos.
4. Psicologia comparativa: traços comuns em diferentes espécies,
flexibilidade ou instinto. Darwin: diferença de grau, não de tipo.
Abordagens ecológicas.
Shettleworth, 1999: “qualquer processo em que animais adquirem,
processam, armazenam e agem sobre qualquer informação do
ambiente".
Pouco consenso: explicações mentalistas e não-mentalistas.
T
amanho do cérebro; capacidade cognitiva (flexibilidade); ter ou
não ter cérebro.
5. Mas as bactérias são muitos espertas. E muitos animais com
cérebros minúsculos também.
Cognição 4E - embodied, embedded, enactive, extended
(corporificada, situada, enativa, estendida): inconsistências do
cognitivismo -> cérebros não podem ser divorciados do resto do
corpo e dos contextos ambientais.
Perspectiva biogênica: princípios da organização biológica e
adaptação. Questionamento da antropogenia do
representacionalismo cognitivista.
6. Cognição como coordenação
Anderson, 2003: "capacidade de inferir relações entre circunstâncias externas
e necessidade interna de facilitar a agência, cuja função é permitir ações e
interações bem-sucedidas em um nicho” - definição funcional -> atividade
situada
Brook (1991, 1999): entrelaçamento estreito entre percepção e ação -
embedded or situated cognition
Inteligência como propriedade relacional: surge através da posse de uma
constituição física específica, operando dentro de um ambiente específico
Evolução: milhares de anos desenvolvendo mecanismos perceptivo-ativos de
inteligência, sendo a função simbólica bem mais recente.
7. Problema do enativismo clássico: se tudo é cognitivo, então nada é
cognitivo -> é preciso haver uma distinção entre organismos vivos
cognitivos e não cognitivos
Hipótese: organismos cognitivos possuem sistema nervoso.
Problema: as bactérias são muito espertas, elas têm funções meta-
metabólicas
Cognição, portanto, é coordenação sensório-motora adaptativa à
vida: surge para manter os processos metabólicos dentro de limites
aceitáveis
9. A tese do cérebro-pele
Evolução do sistema nervoso
Hipótese: sistemas nervosos evoluíram para possibilitar
comportamento muscular, não para permitir um comportamento
mais inteligente
Sistemas nervosos como sistemas de coordenação: redes nervosas
difusas que se espalhavam por grande parte do corpo do animal
(como nas medusas) e não como sistemas de entrada e saída
10. Keijzer et al., 2013 -> processo evolutivo em duas fases: 1)
superfícies musculares com propriedades contráteis conduzindo
atividade elétrica capaz de transmissão química entre as células,
devido à necessidade de mobilidade: “superfícies de Pantin”; 2)
um número pequeno de células de sinalização mais especializadas
evoluiu, com processos axodendríticos alongados (isto é,
neurônios), o que lhes permitiu sinalizar para células não
adjacentes, dando origem a uma rede nervosa espalhada por
todo o corpo, permitindo maior flexibilidade de movimento e
forma, e possibilitando um corpo de tamanho menor.
11. Flexibilidade de conduta, elaboração do
sistema nervo e umwelt
evolução cognitiva como processo pelo qual os organismos se
tornaram mais bem equipados para rastrear e lidar com
contingências imprevisíveis em tempo real em ambientes mutáveis
Da coordenação adaptativa ao sistema nervoso e ao cérebro
Importância da longevidade -> experiência e mudanças
ambientais
12. Parte da razão pela qual o cérebro humano é tão grande é ajudar a
controlar e coordenar nosso aparato sensorial e motor, o que
gerou níveis altos de flexibilidade comportamental, a qual, por sua
vez, expandiu nosso “umwelt” - termo usado por Uexküll (2014)
para capturar a noção de que os organismos são sensíveis apenas
àqueles aspectos do ambiente que têm significado para sua
sobrevivência e reprodução.
A abordagem 4E coloca o corpo e o ambiente do organismo em
um foco claro, de maneira a permitir que os vieses
antropocêntricos da posição cognitivista sejam contornados.
13.
14. Radicalizando e buscando a continuidade certa
CEC - Conservative Embodied Cognition: representações
orientadas à ação -> T
op-down
REC - Radical Embodied Cognition: anti-representacionalismo
-> Bottom-up
Lógica da continuidade evolutiva: o conhecimento humano,
tipicamente representacional (simbólico) e pleno de conteúdo,
não pode ter surgido do nada
15. Wittgenstein: a ação (experiência) está na base do nosso
conhecimento - é preciso acertar na continuidade
"Mentes linguísticas, socioculturalmente estruturadas, como as nossas,
lidam claramente com regras e representações (caso contrário, você
não seria capaz de ler e compreender as palavras desta página ...), e é
bastante claro que algumas das questões interessantes da psicologia
humana são melhor entendidas usando uma estrutura
representacional. É um erro, no entanto, supor que, dado esse estado
de coisas pertencer à espécie humana, esse pensamento deve,
portanto, caracterizar a cognição em todo o reino animal.” (p. 10)
16. Continuidade e discontinuidade
Há também uma clara descontinuidade entre nossa espécie e as demais:
humanos ocupam um nicho sociocultural único.
REC: o conteúdo surge com o domínio das práticas e artefatos
socioculturais nesse tipo específico de nicho = as representações existem
primeiro publicamente e externamente e depois são “internalizadas", como
argumentou Vygotsky (1997).
Práticas públicas, como a transmissão de alta fidelidade de
comportamentos culturais, juntamente com o ensino, podem ser cruciais
para gerar mentes humanas.