O documento discute o transtorno de tique, definindo-o como movimentos motores ou vocais repentinos e involuntários. Apresenta os critérios diagnósticos para o transtorno de tique transitório e persistente, assim como para a Síndrome de Tourette, caracterizada por múltiplos tiques motores e vocais. Discorre também sobre fatores de risco, comorbidades comuns e consequências funcionais deste transtorno.
2. Transtorno de Tique
Transtorno de Tique Motor ou Vocal Persistente (F95.1)
Apenas com tiques motores;
Apenas com tiques vocais;
Transtorno de Tique Transitório (F95.0)
Tiques motores e/ou vocais, únicos ou múltiplos.
3. TIQUES
Um tique é um movimento motor ou vocalização
repentino, rápido, recorrente e não ritmado, (DSM V);
Podem ser definidos como movimentos, gestos ou
vocalizações que surgem de forma súbita, imitando uma
atividade normal e que se repetem de forma estereotipada.
São de curta duração e, às vezes, podem ocorrer agrupados.
4. TIQUES
São representados por atividades motoras repetitivas
(piscar os olhos, deslocamento rápido da cabeça ou dar de
ombros, franzir o nariz, entortar a boca, morder a bochecha,
morder objetos ou gola de camisa) ou emissões fônicas
pouco usuais (tosse seca, arrotos, pigarros, grunhidos, sons
nasais inspiratórios ou expiratórios, como se promovendo
“limpeza” nasal).
5. TIQUES
Tiques são vivenciados como
irresistíveis, mas podem ser
controlados durante períodos
variáveis de tempo; geralmente têm
curta duração e tendem a ocorrer em
ataques, com curtos intervalos.
Todas as formas de tiques podem ser
exacerbadas pelo estresse e
atenuadas por atividades que
demandam atenção (como leituras) e
são marcadamente diminuídas
durante o sono.
6. CLASSIFICAÇÃO
1 – MOTORES
Caracterizado por contrações, abalos rápidos ou movimentos,
tais como, piscar de olhos ou abalos rápidos da cabeça de um
lado para o outro;
Embora qualquer parte do corpo
possa estar afetada, as áreas mais
comuns são face, pescoço e
ombros;
Durante semanas ou meses os
tiques motores aumentam ou
diminuem e os tiques antigos
podem ser substituídos por outros
totalmente novos.
7. CLASSIFICAÇÃO
1 – MOTORES
SIMPLES: qualquer movimento rápido, breve e sem sentido
que ocorra em ataques como um excessivo piscar de olhos ou
olhar de soslaio (olhar de lado);
COMPLEXOS: qualquer movimento rápido,
estereotipado (sempre feito da mesma maneira),
semi-intencional (o movimento pode parecer um
ato expressivo, porém, às vezes, pode não estar
relacionado com o que está ocorrendo no
momento, por exemplo: dar de ombros sem
contexto para isso), que envolve mais do que um
agrupamento muscular. Existe a possibilidade de
haver múltiplos movimentos, como caretas
juntamente com movimentos corporais e vocais.
8. CLASSIFICAÇÃO
2 – FÔNICOS
Começam, geralmente, após o início dos tiques motores;
São caracterizados por súbita emissão de sons, como pigarrear ou
fungar;
Vários tiques ocorrem sem aviso prévio
e podem não ser percebidos pela pessoa que
os faz. Outros são precedidos por uma
sensação, desconforto ou incômodo, de
difícil descrição (como um formigamento);
Alguns podem ser complexos, tais como
a emissão de obscenidades (coprolalia) ou a
repetição do que outra pessoa disse
(ecolalia).
9. CLASSIFICAÇÃO
2 – FÔNICOS
TIQUES VOCAIS SIMPLES: sons e ruídos sem significados.
TIQUES VOCAIS COMPLEXOS: emissão de palavras ou
frases, repetitivas, sem sentido ou de afirmações que estão fora de
contexto, sendo que a recorrência pode ser voluntariamente
suprimida apenas por curtos períodos de tempo.
10. CAUSAS
Os tiques são transtornos geralmente temporários, associados à
distúrbios emocionais provenientes de dificuldades na vida
familiar, escolar ou no desempenho profissional, em que a auto-
estima, frequentemente, está comprometida;
Tiques como reflexo de defesa:
Tiveram origem como reflexos de defesa e,
depois permaneceram como hábitos. Tiques
de esfregar os olhos, podem ter começado
como movimentos úteis, surgidos quando a
criança sofreu uma irritação ocular
(conjuntivite) e que permaneceu após a
cura. Tiques de fungar e esfregar o nariz,
podem ter começado quando a criança
esteve muito resfriada.
11. CAUSAS
Tiques por Imitação: Outros tiques aparecem por
imitação consciente do comportamento de outras crianças e,
depois, permanecem por muito tempo, mesmo quando não há
mais lembrança de como começou.
12. CAUSAS
Tiques psicogênicos: Tanto em adultos, como em crianças
os tiques podem resultar do recalcamento de manifestações
agressivas e sexuais. Sendo formas substitutivas desses
impulsos. Em outros casos, os tiques podem servir para
chamar atenção dos adultos sobre a criança que os pratica.
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15. Sucção do Polegar
O uso de chupetas ou a sucção do polegar
podem ser referentes a sensação de prazer que a
criança quer continuar a sentir, depois de sugar o
seio materno ou o bico da mamadeira;
A sucção dos dedos ocorre também
quando há insuficiência alimentar; ela
indica que a criança está subalimentada e
a dieta precisa ser reajustada;
É mais frequente nos 6 primeiros anos
de vida;
A sucção é um sintoma de privação de
qualquer espécie, afetiva ou material.
16. Roer Unhas (Onicofagia)
É frequente entre as crianças e pode
persistir por toda a vida;
Há também formas mais simples, podendo ser um hábito
adquirido na escola, por imitação ou ligada a causas afetivas;
As formas de onicofagia são
numerosas. Algumas podem ser
patológicas, podendo aparecer entre
outros sintomas de doenças mentais;
17. Em alguns casos a apresentação desse
tique é passageira, em outros, pode
desaparecer, porém aparecer novamente,
quando a pessoa tiver que enfrentar
situações difíceis;
Roer Unhas (Onicofagia)
Geralmente aparece por volta dos 4 anos
de idade, mantendo-se até a puberdade,
quando tende a desaparecer. Pode ser
considerada como uma continuação da
sucção do polegar.
18.
19. CORREÇÃO
Atualmente é muito mais indicado o uso da indiferença;
Toda repressão do tique está fadada ao fracasso e serve apenas
para agravar o problema;
Não tentar corrigir a criança, com ameaças e proibições. Isso
só aumentará o sentimento de culpa e angústia;
Não chamar atenção da criança para o tique. Fingir ignorar os
tiques. Muitas vezes as crianças usam os tiques para chamar
atenção dos adultos;
Para corrigí-los, deve-se começar descobrindo suas causas,
investigando cuidadosamente se resulta de causas orgânicas,
psíquicas ou ambientais; ou ainda, se é sintoma de alguma doença
mental ou um reflexo de defesa que virou hábito.
21. A Síndrome de Tourette (ST) é um transtorno
neuropsiquiátrico caracterizado pela presença de tiques motores e
vocais, tendo sua idade de início geralmente na infância ou antes
dos 18 anos, que causam limitação significativa ao
funcionamento social ou ocupacional do paciente. No início
apresenta crises passageiras de tiques motores simples como, por
exemplo, piscar os olhos. À medida que a síndrome se
desenvolve, instalam-se tiques motores complexos e,
posteriormente, tiques fônicos simples ou complexos, como
grunhidos, pigarros e expressões silábicas, entre outros.
Transtorno de Tourette
22.
23. Transtorno de Tique
Critérios Diagnósticos – TRANSTORNO DE TOURETTE
A. Múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais estiveram
presentes em algum momento durante o quadro, embora não
necessariamente ao mesmo tempo;
B. Os tiques podem aumentar e diminuir em frequência, mas
persistiram por mais de um ano desde o início do primeiro
tique;
C. O início ocorre antes dos 18 anos de idade;
D. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma
substância (p. ex., cocaína) ou a outra condição médica (p. ex.,
doença de Huntington, encefalite pós-viral).
24. PREVALÊNCIA
Tiques são comuns na infância, embora transitórios na maioria
dos casos;
A prevalência estimada de transtorno de Tourette varia de 3 a 8
a cada 1.000 crianças em idade escolar;
O sexo masculino costuma ser
mais afetado do que o feminino, com
a proporção variando de 2:1 a 4:1;
Um levantamento nacional norte-americano estimou como
sendo 3 por 1.000 a prevalência de casos clinicamente
identificados. A frequência de casos identificados foi mais baixa
entre afro-americanos e hispano-americanos, o que pode ter
relação com diferenças no acesso a atendimento.
25. Fatores de Risco e Prognóstico
TEMPERAMENTAIS: Os tiques pioram com ansiedade,
excitação e exaustão, melhorando durante atividades calmas e
focadas. Os indivíduos podem ter menos tiques quando envolvidos
em trabalhos escolares ou tarefas profissionais do que quando
relaxando em casa após a escola ou ao anoitecer. Eventos
estressantes/estimulantes (p. ex., fazer um teste, participar de
atividades excitantes) costumam piorar os tiques.
26. Fatores de Risco e Prognóstico
AMBIENTAIS: Observar
um gesto ou som em outra
pessoa pode fazer um indivíduo
com transtorno de tique realizar
um gesto ou som similar, o que
pode ser percebido,
incorretamente, por outros
como algo proposital. Isso pode
ser um problema particular
quando o indivíduo está
interagindo com figuras de
autoridade (p. ex., professores,
supervisores, policiais).
27. Fatores de Risco e Prognóstico
GENÉTICOS E FISIOLÓGICOS:
Fatores genéticos e ambientais
influenciam a expressão e a gravidade dos
sintomas de tique. Variantes genéticas
raras em famílias com transtornos de tique
foram identificados. Complicações
obstétricas, idade paterna avançada, baixo
peso ao nascer e tabagismo materno
durante a gestação estão associados a
piora da gravidade dos tiques.
28. Consequências Funcionais
Muitos indivíduos com tiques de gravidade leve a moderada
não vivenciam sofrimento ou prejuízo no funcionamento e podem,
inclusive, não perceber seus tiques;
Indivíduos com sintomas mais graves geralmente têm mais
prejuízos na vida diária, mas mesmo aqueles com transtornos de
tique moderados ou até graves podem funcionar bem.
29. Consequências Funcionais
De modo menos comum, os tiques
perturbam o funcionamento nas atividades
diárias e resultam em isolamento social,
conflitos interpessoais, vitimização pelos
pares, incapacidade para o trabalho ou escola
e baixa qualidade de vida;
O indivíduo pode, ainda, ter sofrimento psicológico substancial;
Complicações raras do transtorno de Tourette incluem lesão
física, como lesões nos olhos (decorrentes de golpear o próprio
rosto), e lesões ortopédicas e neurológicas (p. ex., doença
envolvendo discos vertebrais relacionada a movimentos forçados
de cabeça e pescoço).
30. Comorbidade
Muitas condições médicas e psiquiátricas foram descritas como
comórbidas com transtornos de tique;
TDAH e o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) são
particularmente comuns;
Os sintomas obsessivo-
compulsivos observados no
transtorno de tique tendem a ser
caracterizados por sintomas de
simetria e ordem mais agressivos;
31. Comorbidade
TOC - Compulsões: Atos (lavar as mãos, organizar,
verificar) ou rituais mentais (orar, contar ou repetir palavras em
silêncio) realizados geralmente em resposta a uma obsessão, para
prevenir alguma situação temida. Entretanto, esses
comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista
com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente
excessivos.
32. Comorbidade
Crianças com TDAH podem demonstrar comportamento
disruptivo, imaturidade social e dificuldades de aprendizagem
capazes de interferir no progresso acadêmico e nas relações
interpessoais, levando a prejuízo maior do que o causado por um
transtorno de tique;
Indivíduos com transtornos de tique podem, ainda, ter outros
distúrbios do movimento e transtornos mentais, como transtornos
depressivo, bipolar ou por uso de substância.
33. Comorbidade
Labilidade Emocional,
Impulsividade e Agressividade:
Alguns pacientes ST têm significantes
problemas com labilidade emocional,
impulsividade e agressão dirigida a
outros. Atos como gritar, socar paredes,
ameaçar outras pessoas, bater, morder e
chutar, são comuns a tais pacientes;
Alterações do Sono: Sonambulismo,
insônia e outros transtornos dos
mecanismos do sono já foram relatados
em uma proporção substancial de
pacientes com ST.
34. Comorbidade
Problemas de Aprendizagem: Dificuldades do aprendizado
estão presentes em 36% das crianças e adolescentes com a ST,
incluindo dificuldades na leitura, matemática e grafismo. Parte
destas dificuldades pode estar relacionada à sintomatologia da ST,
como por exemplo, o fato dos tiques afetarem a dinâmica da sala
de aula, participação em discussões ou mesmo o grafismo.
35. CAUSAS
Neuroquímica: A mais intensiva pesquisa
em relação à etiologia, esteve focalizada nas
alterações neuroquímicas do cérebro
(dopamina, serotonina, gaba, etc.);
Genéticos: Hereditariedade;
Fatores não Genéticos: Os fatores não
genéticos que têm sido implicados incluem
processos estressantes ou eventos durante o
período pré-natal ou perinatal, ou fetos
expostos à drogas ou outras toxinas.
36. TRATAMENTO
A forma de tratamento dependerá do grau de interferência que
o tique ou a ST está exercendo no desenvolvimento normal da
criança, ou da habilidade do paciente adulto em funcionar
produtivamente. Ao se tratar uma criança, a ênfase primária deve
ser de ajudá-la a desenvolver normalmente as tarefas para ela se
sentir competente na escola, desenvolver amizades, confiar em si
mesma, em seus pais e aproveitar as aventuras da vida.
37. TRATAMENTO
TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO: (casos mais
leves)
Psicoeducação;
TCC (Individual e familiar).
FARMACOLÓGICOS:
Quando há muita interferência na rotina do indivíduo;
Melhora em 80% dos casos de Sd. Tourette.
38. TRATAMENTO
Neurologista: que consegue o controle dos sintomas em 80%
dos casos, utilizando haloperidol isolado ou associado com
pimozida;
Psicologia para orientação familiar. A orientação psicológica
busca transformar a impressão familiar de que a presença dos
tiques seja voluntária e com intenção provocativa. Visa, ainda,
confortar a família com a possibilidade dos transtornos não serem
rigidamente progressivos e que, normalmente tendem a melhorar
na idade adulta;
Fonoaudiologia: para o acompanhamento do desenvolvimento
escolar que costuma ser abaixo do esperado frente a desatenção e
dificuldade específica no aprendizado de leitura e escrita;
39. A ESCOLA
Os professores devem ser orientados para agir com maior
compreensão e moderação frente aos episódios de tiques que
podem ter características de alta impetuosidade e agressividade
(física e/ou vocal). Por ocasião das provas, devido ao estresse e
consequente acentuação dos tiques, permitir sua realização em
ambiente isolado dos outros alunos ou priorizar as provas orais. Os
colegas de classe devem receber orientação especial para evitar
caçoar da criança;
A escola estará auxiliando muito a
combater os tiques proporcionando à
criança jogos, esportes e outras atividades
motoras agradáveis.