O documento descreve tentativas de reforma interna na Igreja Católica entre os séculos XIV e XV, mencionando místicos, pré-reformadores e conciliares. Apresenta o declínio do papado nesse período devido a fatores como a vida luxuosa do clero e a divisão de lealdades entre papa e senhores feudais. Também destaca figuras como João Wycliffe e João Huss, que defendiam uma volta aos padrões do Novo Testamento e criticavam os abusos da Igreja, antecip
História da Igreja I: Aula 12: Tentativas de mudanças internas
1. Tentativas de Reforma Interna
Místicos, Pré-reformadores e Conciliares
História Eclesiástica I
Pr. André dos Santos Falcão Nascimento
Blog: http://prfalcao.blogspot.com
Email: goldhawk@globo.com
Seminário Teológico Shalom
2. Declínio do Papado (1309-1439)
Exigência do celibato forçou diversos clérigos a tomarem concubinas ou se
perderem em casos de amor ilícito com mulheres de suas congregações,
tendo que lidar com a questão dos filhos nascidos dessas uniões. Alguns
davam mais atenção a seus filhos do que a suas funções clericais.
Clérigos gozando de vida de luxúria, especialmente durante a Renascença.
Feudalismo que gera dupla obediência a papa e ao senhor gera divisão de
interesses em muitos casos, gerando clérigos que se preocupavam mais
com suas responsabilidades seculares do que as tarefas de ordem
espiritual.
Cativeiro Babilônico (1309-1377) e Grande Cisma (1378-1417) foram
responsáveis pela perda do prestígio do papa.
3. Declínio do Papado (1309-1439)
Cobrança de impostos papais para sustentar duas cortes torna-se uma
carga pesada para o povo da Europa.
As rendas papais eram obtidas através de:
Rendas de propriedades papais.
Dízimos pagos pelos fieis.
Anatas (pagamento do primeiro salário do ano ao papa de parte do dignatário
eclesiástico)
Direito do suprimento (pagamento de clérigos e dependentes de despesas de
viagens do papa enquanto em sua região).
Dinheiro de Pedro (pagamento anual feito por leigos em muitas regiões).
Renda de cargos vacantes e numerosas taxas.
Surgimento de nações-estado cria sentimento de animosidade a ideia de um
Sacro Império Romano e uma Igreja Universal. Rei e classe média se
sustentam para centralizar poder e desafiar a autoridade papal.
4. Cativeiro Babilônico
Clemente V, francês escolhido pelos cardeais em 1305 como novo papa, era
fraco e de moral duvidosa. Influenciado pelo rei francês, muda a sede do
papado para a França em 1305 e para Avignon em 1309.
Aos olhos da Europa, tal movimento colocou o papado sob controle francês.
Residência papal permanece em Avignon até 1377, com pleno domínio dos
reis franceses.
Santa Catariana de Siena (1347-1380), mística de renome, pressionou o
papa Gregório XI a retornar a Roma, restaurando a ordem e reconquistando
o prestígio do papado como autoridade internacional independente. Assim
ele o faz em 1377, encerrando o Cativeiro Babilônico.
5. Grande Cisma
Após a morte de Gregório XI, os cardeais elegeram o homem que se tornaria
Urbano VI. Porém, sua falta de tato com os cardeais atraiu sua ira, o que fez
com que eles elegessem Clemente VII como papa em 1378.
Clemente VII, devidamente empossado, resolve mudar a sede do papado
novamente para Avignon, gerando o Grande Cisma. Ambos entendiam ser o
papa legítimo e autêntico sucessor de São Pedro.
O norte da Itália, Alemanha, Escandinávia e Inglaterra seguiram o papa
romano. França, Espanha, Escócia e o sul da Itália seguiram o papa francês.
A crise só foi resolvida com o surgimento do Movimento Conciliar, como
veremos a seguir.
6. Os místicos
O movimento místico foi uma resposta natural de uma população desejosa
de lutar contra o formalismo religioso da época. O movimento demonstra um
desejo de contato direto com Deus no ato do culto, em vez de participação
passiva em atos de culto friamente formais e conduzidos por um sacerdote.
O desejo do místico é um contato direto com Deus através da intuição
imediata e contemplação.
Se a ênfase é a união da essência do místico com a essência da divindade
na experiência do êxtase, coroação da experiência mística, falamos de
misticismo filosófico (misticismo teutão).
Se a ênfase reside numa união emocional com a divindade pela intuição, o
misticismo é psicológico (misticismo latino).
O principal objetivo de ambos é a apreensão imediata de Deus numa forma
extrarracional em que o místico espera por Ele numa atitude receptiva e
passiva.
7. Causas do Misticismo
Escolasticismo e sua exaltação da razão, em detrimento da natureza
emocional do homem.
Surgimento do nominalismo escolástico, com sua ênfase no indivíduo,
alimenta muitos a se enredarem pelos caminhos místicos.
Protesto e revolta contra os tempos atribulados e igreja decadente e
corrompida.
Peste Negra de 1348 e 1349 gera fervor religioso.
Revolta dos Camponeses de 1381 na Inglaterra demonstra insatisfação
social associada às ideias de Wycliffe.
8. Místicos de renome – Misticismo latino
Bernardo de Claraval (1090-1153), monge cisterciense,
pode ser considerado precursor do movimento. Destacava
a identidade da vontade e do amor a Deus, em lugar de
uma identidade de essência.
Catarina de Siena (1347-1380) foi grande representante
do movimento latino. Cria que Deus lhe falava em visões
e aparentemente usou tais visões para fins dignos.
Denunciou os abusos clericais e persuadiu Gregório XI a
retornar para Roma em 1376. Sua coragem levou-a a se
opor até ao pecado praticado pelo papado.
9. Místicos de renome – Misticismo teutão
Meister Eckhart (c. 1260-c. 1327), frade dominicano
fundador do movimento teutão. Estudou na Universidade
de Paris. Cria que só o divino era real e que o objetivo do
cristão deveria ser a união espiritual com Deus com a
fusão da essência humana e divina na experiência do
êxtase. Chegava a afirmar que “Deus precisa tornar-se
em mim e eu preciso me tornar em Deus”.
Suas ideias estavam tão próximas do neoplatonismo que foi acusado de
panteísmo e suas ideias foram condenadas numa bula papal após sua
morte.
Apesar das ideias panteístas, Eckhart ensinou também a necessidade do
serviço cristão como fruto da unidade mística com Deus.
10. Místicos de renome – Misticismo teutão
Johannes Tauler (c. 1300-1361) prosseguiu com os
ensinamentos de Eckhart e liderou um grupo de
dominicanos conhecido como Amigos de Deus. Mais
evangélico que seu mestre, pregou a experiência interior de
Deus como mais vital para o bem-estar da alma do que as
cerimônias externas.
O grupo montou seu centro de operações no vale do Reno, recebendo
auxílio de um banqueiro, Ruleman Merswin, para conseguir uma casa
religiosa onde os membros do grupo puderam fixar residência. Heinrich
Suso foi o poeta do grupo e expressou seus sentimentos em poesia.
O pequeno volume místico, Theologia Germanica, é associado geralmente
ao grupo. Este livro ajudou Lutero em sua luta pela salvação e foi editado
pelo mesmo em 1516. Porém, contém o mesmo tom panteísta de Eckhart.
11. Místicos de renome – Misticismo teutão
Devotio Moderna (Irmãos da Vida Comum): Movimento mais prático e menos
panteísta dos Países Baixos, centrado em Deventer.
O movimento foi influenciado por João de Ruysbroeck (1293-1381), que
conheceu os escritos de Eckhart e alguns dos Amigos de Deus.
Influenciou Gerhard Groote (1340-1384) a destacar o lugar do NT na evolução
da experiência mística. Groote se tornou o líder do movimento e influenciou seu
discípulo, Florentius Radewijns (1350-1400) a abrir uma casa para os Irmãos da
Vida Comum em Windeshein.
A nova ordem era de leigos que viviam sob uma regra em comunidade e
dedicavam-se ao ensino e outros serviços práticos do que a experiência passiva
de Deus.
A Imitação de Cristo foi a grande obra do movimento. Associada a Thomas
Kempis (1380-1471), educado em Deventer sob os olhos de Radewijns, entrou
para um mosteiro agostiniano em Zwolle. A obra reflete a ênfase mais prática
dos irmãos.
12. Precursores da Reforma
Enquanto os místicos tentaram tornar a religião mais
pessoal, alguns homens empenharam-se numa tentativa
de retorno ao ideal da Igreja representada no NT.
John Wycliffe (c. 1328-1384) foi o primeiro
prerreformador. Estudante e professor de Oxford,
Wycliffe conseguiu desafiar o papa de sua época.
Wycliffe viveu em tempos conturbados na Inglaterra. O papado em Avignon
fez com que o povo inglês não desejasse enviar dinheiro a um papa sob
domínio de seu grande inimigo, o rei francês. A grande carga de impostos
papais levou a um grande sentimento de insatisfação com a Igreja Romana.
A Inglaterra se aproveitou da comoção para proibir a indicação papal de
clérigos para cargos eclesiáticos ingleses (1351) e proibir a prática clerical
de retirar causas das cortes inglesas para levá-las a Roma (1353), além de
segurar o pagamento anual de mil marcos, prática da época do Rei João.
13. Precursores da Reforma
Até 1378, Wycliffe desejava reformar a Igreja Romana
eliminando os clérigos imorais e despojando suas
propriedades, fonte da corrupção. Entendia que, caso os
clérigos falhassem em cumprir suas funções, a
autoridade civil poderia tomar os seus bens e entregá-los
a quem servisse a Deus dignamente.
Tal ensinamento agradou os nobres ingleses, que vislumbraram a
possibilidade de colocar as mãos nas propriedades da Igreja. A proteção
deles e de João de Gaunt impediram que Wycliffe fosse importunado.
A partir de 1379, por conta do Grande Cisma, Wycliffe começa a se opor aos
dogmas da Igreja Romana com ideias revolucionárias, como a Bíblia como
única autoridade para o crente e a ideia de que a Igreja Romana deveria se
amoldar ao padrão da Igreja do Novo Testamento.
14. Precursores da Reforma
De forma a apoiar suas ideias, Wycliffe decidiu traduzir o
NT para o inglês, completando o trabalho em 1382.
Nicolau de Hereford completou a tradução de grande
parte do AT para o inglês em 1384. Desta forma, os
ingleses puderam, pela primeira vez, ler a Bíblia toda em
sua própria língua.
Ainda em 1382, Wycliffe foi além e combateu a transubstanciação,
defendendo que a substância dos elementos era indestrutível e que Cristo
estava espiritualmente presente no sacramento, sendo percebido pela fé.
Esta ideia destruía a autoridade sacerdotal para reter a salvação de alguém
por ter nas mãos o corpo e sangue de Cristo na Santa Ceia.
As ideias de Wycliffe foram condenadas em Londres, em 1382, sendo
obrigado a se retirar para seu pastorado em Lutterworth.
15. Precursores da Reforma
Apesar de não conseguir que a Igreja aceitasse seus
dogmas, Wycliffe providenciou a propagação de suas ideias
com a fundação de um grupo de pregadores leigos, os
lolardos.
Em 1401, a Igreja Romana, distorcendo uma declaração do
Parlamento, introduziu a pena de morte como castigo a
suas pregações.
A influência de Wycliffe na Inglaterra foi enorme. A Bíblia no vernáculo e a
criação dos lolardos para proclamar ideias evangélicas entre o povo comum
da Inglaterra, juntamente com seus ensinamentos de igualdade na Igreja,
serviram para agitar o povo, ao ponto de contribuir para a Revolta dos
Camponeses de 1381.
Um grupo de estudantes boêmios na Inglaterra, ao travarem contato com
seus ensinos, os levaram para seu país, onde influenciariam John Huss.
16. Precursores da Reforma
John Huss (c. 1373-1415), pastor da Capela de Belém de
1402 a 1414, foi outro grande pré-reformador. Formado na
Universidade de Praga, aonde ensinou e chegou a ser
reitor, Huss conheceu os escritos de Wycliffe quando
lecionava ali e começou a propagá-las, pregando contra as
falhas morais do clero, bispos e papa e defendendo a
doutrina Wycliffista da Santa Ceia.
Em meio a um sentimento nacionalista, Huss causou comoção na
Universidade de Praga ao convencer o Rei Venceslau a que a “nação
boêmia” tivesse três votos, contra um cada de bávaros, saxões e poloneses.
Isso causou um êxodo entre 5 e 20 mil doutores, mestres e alunos da
universidade, causando seu declínio. Na saída, os revoltosos denunciaram
Huss por suas ideias reformistas, gerando inimizade com o papa.
17. Precursores da Reforma
Com a ocorrência do Grande Cisma, Huss apoiou o papa
Alexandre V, na esperança de que este aceitasse suas
ideias. Contudo, o antipapa rejeitou os ensinamentos de
Wycliffe e ordenou que seus livros fossem queimados e a
pregação cessasse. Huss tentou apelar da decisão, mas
acabou excomungado pelo antipapa.
Após a morte de Alexandre V, seu sucessor, João XXIII, conclamou uma
cruzada contra o rei de Nápoles, que apoiava o papa rival Gregório XII. Tal
pregação chegou a Praga e rapidamente foi usado o artifício das
indulgências para se cobrir as despesas da cruzada, o que foi rapidamente
condenado por Huss e seus seguidores.
Sua principal obra foi o livro De Ecclesia (1413), na verdade um extrato de
duas obras de Wycliffe.
18. Precursores da Reforma
O fim da vida de Huss foi trágico. Durante o Concílio de
Constança, Huss foi convocado para defender suas ideias
perante o clero. Recebendo um salvo-conduto do Imperador
Sigismundo, Huss viajou para o Concílio na certeza de que
estaria seguro. Contudo, ao chegar ao local, o salvo-
conduto foi desconsiderado e Huss foi imediatamente preso.
Após repetidas acusações sobre doutrinas que jamais teria pregado e
defendendo as que pregou, exigindo que fosse rebatido com base nas
Escrituras Sagradas Huss foi condenado pelo Concílio como herege e
entregue às autoridades seculares, que o amarraram à estaca e o
queimaram vivo, em 6/7/1415.
Com a morte de Huss, revoltas armadas com sentido cruzado surgiram na
Boêmia. Três foram lançadas contra Roma, sem sucesso. Contudo, um
século depois, mais de 90% das terras rurais boêmias eram Hussitas.
19. Precursores da Reforma
As ideias de Huss permaneceram através de seus
seguidores. O grupo mais radical, conhecido como taborita,
rejeitava tudo na fé e na prática da Igreja Romana que não
se encontrasse na Bíblia. Os utraquistas, por outro lado,
achava que só o que era estritamente proibido deveria ser
erradicado, e que os leigos deveriam receber o pão e o
vinho.
Do grupo taborita saiu um grupo menor que formou aquilo que ficou
conhecido como a Unitas Fratrum (Irmãos Unidos), ou Irmãos Boêmios, em
meados do séc. XV. Deste grupo saiu a Igreja Morávia, que existe até hoje.
Uma curiosidade do grupo é que foi a fé dos irmãos morávios que ajudou
John Wesley a encontrar a luz e iniciar seu ministério. Os ensinos de Huss
também serviram de inspiração para Lutero, quando enfrentou problemas
semelhantes na Alemanha em seus dias.
20. Precursores da Reforma
Savonarola (1452-1498): Reformador florentino, este
monge dominicano procurou reformar O Estado e a Igreja
da cidade, contudo sua pregação contra a vida
desregrada do infame papa Alexandre VI (Rodrigo de
Bórgia) acabou custando-lhe a vida, sendo condenado ao
enforcamento.
Savonarola ficou conhecido como grande pregador e profeta, iniciando seu
ministério de forma itinerante pelo norte da Itália, antes de ser convidado a
ser o principal pregador da Catedral de São Marcos em Florença, bancada
pela poderosa família Médici.
Em suas pregações, afirmava que teria predito diversos acontecimentos,
como a morte de Inocêncio VIII e a investida francesa sobre a Itália, que
causava preocupações à época.
21. Precursores da Reforma
A partir de uma pregação baseada em uma elaborada visão
com Maria, Savonarola convenceu o povo de que a forma de
enfrentar uma possível aniquilação pelas mãos francesas e
reconquistar a glória terrena e riquezas incontáveis seria
uma moralização da sociedade.
Com base nisso, passou leis combatendo a sodomia,
adultério, embriaguez pública e outras transgressões.
Durante um tempo, o papa Alexandre VI tolerou as pregações do frade, porém,
quando Florença recusou-se a se unir à sua Liga Sagrada na resistência ao rei
francês, Alexandre VI excomungou Savonarola e ameaçou a cidade de interdito,
caso Savonarola não fosse contido. Inicialmente o frade aceitou, porém durante
o período em que foi calado, escreveu sua obra prima, O Triunfo da Cruz, uma
celebração da vitória da Cruz sobre o pecado e a morte, e uma exploração do
que é ser cristão.
22. Precursores da Reforma
O fim de Savonarola começou quando começou a afirmar
que podia efetuar milagres. Foi confrontado por um frade
franciscano, exigindo que ele provasse isso andando sobre
as chamas.
O “julgamento pelo fogo”, o primeiro em 400 anos, foi
marcado para 7/4/1498, porém não ocorreu por conta de
adiamentos forçados e um temporal que impediu o ato.
Culpado pelo povo, que achava que o ônus da prova estava sobre ele,
Savonarola caiu em desgraça. A Catedral de São Marcos foi atacada, e o frade,
junto com seus dois principais assessores, foi preso, julgado e condenado por
seus ensinamentos. Sob tortura, confessou que suas visões eram falsas, e
acabou sendo enforcado e tendo seu corpo queimado, com suas cinzas sendo
jogadas no rio Arno para que seus restos mortais não servissem de relíquias.
23. Movimento Conciliar
Ao contrário do movimento pré-reformador, que pretendia usar a Bíblia como
forma de combater a corrupção dentro da Igreja Romana, o movimento
conciliar foi uma proposta de reforma pela criação de uma liderança
eclesiástica que representasse os leigos.
Com a representação do povo, o movimento cria que conseguiria eliminar os
líderes eclesiásticos corruptos.
A necessidade de reforma tornou-se evidente com o Grande Cisma de 1378.
Neste ano, Urbano VI foi eleito papa, porém, devido a conflitos com os
cardeais, atraiu sua ira, levando-os a se reunir em um sínodo e eleger
Clemente VII como novo papa, que imediatamente retornou para Avignon.
Com a crise, a Igreja Romana passou a ter dois papas e duas cortes, ambos
proclamando-se sucessores legítimos de Pedro.
24. Movimento Conciliar
A solução para a questão foi levantada pelos teólogos da Universidade de
Paris, que sugeriram a convocação de um concílio da Igreja Romana para
resolver o problema. Para tal, usavam como argumento os concílios
ecumênicos de 325 a 451, usados para resolver disputas divisórias na
Igreja.
Para justificar a formação de um concílio para derrubar um dos papas,
começou-se a defender que o Estado e a Igreja eram hierarquias separadas
e que, na Igreja, reunida em um concílio geral, guiada apenas pelo NT,
poderia proclamar um dogma, indicar seus dignitários e era autoridade
suprema da Igreja a agir para o bem do corpo inteiro de cristãos. Essa ideia
foi defendida por Marcílio de Pádua e João de Jandum na obra Defensor
Pacis (1324).
25. Movimento Conciliar – Concílios do séc. XV
Concílio de Pisa (1409): Neste ano, os tronos papais eram
ocupados por Bento XIII em Avignon e Gregório XII em Roma.
O Concílio convocado pelos cardeais, estabeleceu no início que
eles teriam autoridade para chamar os papas à
responsabilidade pelo Grande Cisma. No final, o concílio depôs
Bento XIII e Gregório XII e elegeu Alexandre V como papa
legítimo.
Apesar da decisão do concílio, os dois papas anteriores
decidiram não abandonar seus postos. Desta forma, o resultado
concreto do Concílio de Pisa era que, agora, a Igreja Romana
possuía três papas, e não apenas dois. Com a morte de
Alexandre V, em 1410, sucedeu-o João XXIII.
26. Movimento Conciliar – Concílios do séc. XV
Concílio de Constança (1414-1418): Convocado por Sigismundo, Imperador
do Sacro Império Romano, e pelo papa João XXIII para acabar com o
Grande Cisma, encerrar a heresia e reformar a Igreja na cabeça e nos
membros, foi convocado com base no precedente aberto por Constantino
quando convocou o Concílio de Niceia, em 325.
Para frustrar os interesses de João XXIII de controlar o Concílio através do
voto majoritário, os membros do Concílio decidiram que votariam como
grupos nacionais de clérigos, assim abafando o poder do clero romano,
grande maioria na Igreja. O Concílio declarou-se legítimo e afirmou seu
direito de autoridade suprema da Igreja Romana.
Gregório XII abdicou e, depois de negociações, Bento XIII e João XXIII
foram depostos em 1415. Martinho V foi eleito o novo papa e, de quebra, o
Concílio ainda condenou as ideias de Wycliffe e condenou Huss à fogueira.
27. Movimento Conciliar – Concílios do séc. XV
Concílios da Basileia e Ferrara-Florença (1431-1449): Com a insatisfação da
Boêmia com a morte de Huss e a necessidade de continuar a Reforma, um
novo Concílio foi convocado para a Basileira, em 1431. Ele se arrastou até
1449, mas então o movimento reformista havia arrefecido pelo
ressurgimento do poder papal.
Basileia conseguiu depor o papa Eugênio IV em 1439, dois anos após este
ter convocado um Concílio rival em Ferrara. Este concílio, transferido para
Florença em 1439 por causa da peste, tentou sem sucesso reunificar as
igrejas grega e romana, mas estabeleceu os sete sacramentos a serem
aceitos pela Igreja Romana.
Em 1449, o Concílio da Basileia reconheceu a derrota e se dissolveu. Pouco
tempo de pois, Pio II, em bula promulgada em 1460, condenou apelos a
futuros concílios gerais, enterrando de vez a possibilidade de reforma por
meio de Concílios convocados por pessoas que não fossem o próprio papa.
28. Fontes
Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma
história da igreja cristã. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar
Kroker. São Paulo: Vida Nova, 2008.
Textos auxiliares:
DREHER, Martin N. Coleção História da Igreja, 4 vols. 4 ed. São Leopoldo:
Sinodal, 1996.
GONZALEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo. 10 vols. São Paulo:
Vida Nova, 1983