O documento resume a vida e ensinamentos de Thomas Müntzer, um dos principais líderes da Reforma Radical e do movimento anabatista no século XVI. Detalha sua ruptura com Lutero e defesa de uma igreja baseada no Espírito Santo em vez da Palavra. Também descreve o surgimento do anabatismo na Suíça e sua evolução para posições mais radicais e revolucionárias, culminando no episódio de Münster.
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
Reforma Radical e os Anabatistas
1. Reforma Radical
Thomas Müntzer e os Anabatistas
História Eclesiástica II
Pr. André dos Santos Falcão Nascimento
Blog: http://prfalcao.blogspot.com
Email: goldhawk@globo.com
Seminário Teológico Shalom
2. Thomas Müntzer (1490-1525)
“O Reformador sem igreja”.
Nascido em Stolberg, Alemanha, de
família burguesa de boas posses.
Estudou em Leipzig (1506) e Frankfurt
an der Oder (1512), onde exerceu
função de ministro eclesiástico e
mestre-escola.
Ordenado sacerdote em 1513 ou 1514.
Conclui estudos em Frankfurt em 1516.
3. Início da mudança
Em 1517, assume função de prepósito no
convento feminino de Frose/Anhalt, onde,
entre 1517 e 1518, fica sabendo da
controvérsia levantada por Lutero na
Universidade de Wittenberg.
Torna-se luterano entre 1517 e 1520.
Por indicação de Lutero, torna-se pregador de Zwickau em
1520.
Desde 1516, estuda sobre os grandes místicos alemães, o
que mexe com sua teologia, buscando uma experiência
com Deus.
4. Início da mudança
Em 1520, conhece Nicholas Storch,
tecelão que comandava um grupo de
cristãos leigos, que tinham bom
conhecimento bíblico e diziam ter
experiências com o Espírito Santo. Nota-se
influência do ramo taborita dos hussitas.
Com o contato, Müntzer adota a visão do grupo e passa a
acreditar na fundação de uma Nova Igreja Apostólica.
Nesta igreja, a característica fundante e unificadora seria o
Espírito (que dormita no indivíduo e deve ser despertado), ao
contrário da Palavra de Martinho Lutero.
5. O ápice
Sem conseguir apoio em Zwickau para
fundar sua nova igreja, Müntzer vai para
Praga. Posteriormente é chamado para ser
pastor de Allstedt, onde introduz o culto em
alemão em 1523 e se casa com uma ex-freira,
antes de Lutero nos dois casos.
Em Allstedt, atraía multidões com suas mensagens, gerando
irritação dos príncipes católicos, que impediam seus súditos
de viajarem para a cidade.
Neste local, rompe com os príncipes, não reconhecendo sua
autoridade caso eles não concordassem com seus ideais.
6. O fim
Após uma inflamada mensagem perante dois
representantes de Frederico, o Sábio, contra o
clero e a Reforma, Müntzer torna-se alvo de
Lutero, que publica a obra Carta aos príncipes
da Saxônia a respeito do espírito da
reboldosa, onde é sumariamente rechaçado.
Sem o apoio luterano para suas propostas revolucionárias e
cristianismo “espiritual”, Müntzer é abandonado por seus
paroquianos e é obrigado a peregrinar, sem encontrar
trabalho.
7. O fim
Em fevereiro de 1525, segue para a cidade de
Mühlhausen, onde se torna pastor. Durante
suas viagens, tem contato com o movimento
camponês e passa a fomentar a luta, fazendo
convocações para a “luta do Senhor” e
ameaçando os príncipes estabelecidos.
Em maio de 1525, lidera os camponeses na batalha de
Frankenhausen, onde levam oito pequeno canhões sem
munição, por crerem que a batalha seria ganha pelo Senhor.
Na batalha, morrem 5 mil camponeses e 6 soldados dos
exércitos dos príncipes, e Müntzer é preso, torturado e
decapitado em 27/05/1525.
8. A Contribuição Teológica de Müntzer
Mensagem aos príncipes da Saxônia em 1525 (Daniel 2):
1ª parte: A história da igreja é a história da progressiva
deterioração de uma situação ideal inicial. A ligação da igreja
com o Estado, com aquela dando apoio a este, serviu apenas
para ocultar dos camponeses o caráter revolucionário de Cristo.
2ª parte: O luteranismo também engana o povo ao negar que
Deus não revela seus segredos divinos a seus filhos através de
visões verdadeiras ou palavra audível.
3ª parte: O homem deve buscar ouvir a palavra interna no
“abismo da alma”, sem o qual ninguém pode falar nada profundo
de Deus.
9. A Contribuição Teológica de Müntzer
Mensagem aos príncipes da Saxônia em 1525 (Daniel 2):
4ª parte: O núcleo da mensagem de Müntzer.
Nenhuma pessoa com “apetites carnais” (riqueza, glória,
honra, poder) pode entender a Palavra de Deus.
A verdadeira finalidade da pessoa é uma vida com e em
Deus.
É necessária uma mudança das condições externas
(sistema político) e internas da vida.
O Espírito se derrama sobre toda carne, conforme Joel 2 e
Atos 2.
10. A Contribuição Teológica de Müntzer
Mensagem aos príncipes da Saxônia em 1525 (Daniel 2):
4ª parte: O núcleo da mensagem de Müntzer.
Em Daniel 2, o pé de barro e ferro demonstra a fragilidade da aliança
igreja-estado.
Os príncipes devem aceitar a liderança de um novo Daniel (Müntzer),
que marchará à frente da Reforma, e os inimigos devem ser eliminados,
assim como Ezequias, Josias, Ciro, Daniel e Elias exterminaram os
profetas de Baal.
O fim da velha igreja não deve ser confiado apenas à “palavra”, mas
deve gerar uma nova ordem social, onde os governantes ímpios,
especialmente os líderes hereges como “freis e monges” devem ser
extintos.
Caso uma autoridade negue obediência ao evangelho, deve-se negar
toda autoridade e liquidá-la.
11. O Movimento Anabatista
Origem Camponesa
Desejo de rompimento entre Igreja e Estado
Pertença à igreja pela fé, e não por nascimento
Batismo somente para adultos (não infantil), antecedido
de profissão de fé
Realização de novos batismos
Liderança difusa e conflitante
Pacifismo (Sermão do Monte lido literalmente)
Igualdade de gênero e classes sociais (“todos são
irmãos”)
12. As fases do movimento anabatista
Anabatismo Primitivo (1522 – 1529)
Anabatismo Revolucionário (1526 – 1535)
Anabatismo Posterior (1535 – )
Divisão apresentada por Justo L. Gonzalez
13. Anabatismo Primitivo
Surge na Zurique de Zuínglio, a partir de
alguns de seus seguidores.
O primeiro nome forte é Conrad Grebel,
que inicialmente, em 1522, aparece
interrompendo mensagens de monges que
estimulavam a veneração aos santos.
Ainda em 1522, Simon Stumpf se nega a pagar o dízimo. O
Convento de Wettingen, a quem o dízimo era devido, pede
providências ao bispo de Constança, mas o Conselho se
envolve, resolvendo passar da igreja.
14. Anabatismo Primitivo
Lideradas por Wilhelm Reublin, várias comunidades se
recusam a pagar o dízimo aos “padrecos preguiçosos” da
Catedral de Zurique. Eles entendem que o dízimo, como é
cobrado, não é bíblico. O Conselho o mantém, mas
promete eliminar os abusos.
Conrad Grebel e Simon Stumpf criticam a decisão do
Conselho, pois queriam uma reforma a partir da Palavra de
Deus, e não da autoridade civil.
Entrementes, no sul da Alemanha, camponeses se agitam,
solicitando eliminação do dízimo e eleição própria dos
párocos.
15. Anabatismo Primitivo
O movimento camponês inicia uma série de campanhas
iconoclastas, contra a vontade de Zuínglio, que queria que
a autoridade civil decidisse a questão. Como o Conselho
não se mexeu, os radicais se sentiram chamados à ação.
O passo seguinte foi a decisão de não se batizar mais
crianças, como um ataque anticlerical. O Conselho de
Zurique declara os radicais perdedores, em 15/01/1525.
Dez dias depois, porém, George Blaurock é batizado por
Grebel na fonte da praça principal de Zurique e em
seguida batiza a este e vários outros (inicialmente por
afusão, depois por imersão).
16. Anabatismo Primitivo
Zuínglio, neste ponto, desiste de sua noção inicial da falta de
necessidade do batismo infantil, pois isso afetaria a cidadania
de muitas pessoas e afetaria seus esforços de convencer o
Conselho a adotar suas ideias reformadas.
As ideias dos anabatistas foram tidas como subversivas. Como
consequência, o Conselho decide, em 06/03/1526, decretar a
pena de morte ao anabatismo. Um ano antes, os territórios
católicos já adotavam a pena capital, e em 1528 a pena foi
aprovada na Alemanha, com base numa antiga lei romana para
acabar com o donatismo. A lei foi aprovada na Dieta de Spira de
1529 (a mesma do “protesto” dos príncipes protestantes).
17. Anabatismo Primitivo
O número de mártires pela
perseguição aos anabatistas foi
enorme. Os métodos de execução
eram os mais diversos, desde
decapitação e desmembramento a
afogamentos, como no caso de
Felix Manz, um dos líderes iniciais
do movimento em Zurique.
Com a perseguição, o movimento
anabatista torna-se mais e mais
violento, com ânsias de justiça.
18. Anabatismo Revolucionário
Durante as perseguições, vários movimentos surgem
na Europa. O mais famoso é o de Melchior Hoffman,
pregador da região do Báltico e de Schleswig-
Holstein.
Hoffman procurava localidades em que não havia
decisão nem pela velha nem pela nova fé (Rompe
com Lutero por conta da Ceia).
Segue para Estrasburgo em 1529, onde se converte ao
anabatismo e começa a anunciar a proximidade do dia do
Senhor para 1533. Hoffman alega que será encarcerado por seis
meses e então virá o fim. Também abandona o pacifismo
original, conclamando os fieis às armas na batalha final.
19. Anabatismo Revolucionário
Hoffman é encarcerado, alimentando a chama
revolucionária do povo.
É sucedido por Jan Matthys, padeiro que declara ser
Enoque e que a Nova Jerusalém seria a cidade de
Münster, onde uma trégua entre católicos e
protestantes permitia que os anabatistas não fossem
perseguidos.
Tomando posse do Conselho, os anabatistas fundaram uma teocracia e
expulsam os católicos e os protestantes que não os apoiavam. O bispo
expulso cria um exército e sitia Münster, gerando fome e exageros
escatológicos.
20. Anabatismo Revolucionário
Numa tentativa de ofensiva, Matthys morre, sendo
sucedido por Jan van Leiden, que resolve implantar
a poligamia como forma de compensar pela falta
de varões na cidade, escassez gerada pela guerra.
Leiden se casa com 16 mulheres.
Com a ascensão de van Leiden, a cidade é
transformada em reino, com van Leiden seu rei-profeta.
Após algum tempo vivendo sob regime comunal de bens e com a ideia
de estarem revivendo o cristianismo dos tempos apostólicos, o grupo é
traído por alguns habitantes da cidade, que abrem os portões para as
forças do bispo. Van Leiden e seus principais assessores são presos,
exibidos em várias cidades, torturados e executados.
21. Anabatismo Posterior
Com a queda de Münster, o movimento se
pulverizou em várias áreas da Europa, sendo
resgatado por Menno Simmons (1496-1561), ex-sacerdote
católico holandês que abraçou o
anabatismo em 1536 após ter contato com as
ideias de Melchior Hoffman e renegar as doutrinas
dos sacramentos e leitura de textos reformadores.
Hoffman também foi perseguido, porém sobreviveu
pregando na Holanda e norte da Alemanha até sua
morte, destacando-se ao ponto de seu grupo ser
chamado de “menonitas”.
Seus seguidores fugiram pros EUA e Rússia e,
posteriormente, para a América do Sul.
22. Teologia de Menno Simmons
A pregação de Simmons era centrada em um
afastamento da vida carnal, incluindo da sociedade em
geral, com a igreja vivendo em comunidades “sem
mácula” e pacifistas.
Estas comunidades deveriam ser refúgios, onde os
renascidos deveriam se separar de todo ser pecaminoso
do mundo, não devendo se impor à sociedade.
Por querer afastamento das comunidades da sociedade
em geral, pregava que os fieis não poderiam exercer
cargos públicos nem prestar juramentos.
O batismo (por afusão) e a ceia não conferem graça, mas são sinais externos
do que acontece internamente entre o cristão e Deus.
23. Outros expoentes anabatistas
Jacob Hutter (1500-1536), fundador dos
Hutteritas, foi o organizador dos anabatistas
moravianos.
Para Hutter, a comunhão de bens dos primeiros
cristãos era o sinal de que a comunidade havia
conseguido deixar de lado a ideia do proveito
próprio, incorporando as ideias do Sermão do
Monte.
Foi preso e queimado na fogueira ao viajar para o
Tirol.
É uma das denominações que ainda resistem
hoje.
24. Outros expoentes anabatistas
Jakob Ammann (1644-1712), fundador dos
Amish, era um suíço iletrado filho de um
alfaiate. Foi consagrado por volta de 1693,
gerando um racha entre os Irmãos Suíços,
como ficaram conhecidos os anabatistas da
região.
Suas crenças eram semelhante a Jakob Hutter
e Menno Simmons. Até hoje, comunidades de
amish e menonitas se avizinham e se
confundem nos EUA, apenas não
compartilhando da comunhão.
25. Fontes
Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma
história da igreja cristã. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar
Kroker. São Paulo: Vida Nova, 2008.
Textos auxiliares:
DREHER, Martin N. Coleção História da Igreja, 4 vols. 4 ed. São Leopoldo:
Sinodal, 1996.
GONZALEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo. 10 vols. São Paulo:
Vida Nova, 1983