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A REFORMA PROTESTANTE 
ECCLESIA REFORMATA SEMPER REFORMANDA.
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A REFORMA PROTESTANTE 
ECCLESIA REFORMATA SEMPER REFORMANDA. 
INTRODUÇÃO. 
A Reforma Protestante do século XVI foi o maior evento restaurador da igreja cristã. Atingiu a dimensão de tornar o Protestantismo nascente a maior força propulsora na história da civilização moderna. A partir desse evento, o Cristianismo passou a possuir dois ramos: o Catolicismo e o Protestantismo. O Catolicismo ficou caracterizado pelo Cristianismo legalista, que serviu às nações bárbaras da Idade Média, sendo ritualista, tradicional, hierárquico, conservador e governado pelo princípio da autoridade. Já o Protestantismo é Cristianismo evangélico, correspondendo à era da independência humana, sendo bíblico, democrático, espiritual, progressivo e defensor do princípio da legítima liberdade. Além disso, o objetivo do Protestantismo desde o seu início foi trazer cada pessoa à comunhão com Deus, através de Jesus Cristo, o único e todo suficiente Senhor e Salvador do pecado e da morte eterna. 
Na verdade, a Reforma foi um movimento de profundas repercussões culturais, sociais e políticas, porém, nesse estudo desejamos destacar também os seus fundamentos teológicos e, em especial, a doutrina da salvação dos reformadores. 
De qualquer que seja a perspectiva, todos os cristãos evangélicos são herdeiros da Reforma Protestante do século XVI. Daí, ser de grande proveito que continuemos a estudar em que consistiu essa herança. 
A AURORA DA REFORMA. 
Cerca de 150 anos antes da Reforma (1375), John Wycliff na Inglaterra entrou em luta com o papado. Ele era o mais culto e destacado professor da Universidade de Oxford, ao mesmo tempo em que atuava como padre na paróquia de Lutterworth. Suas posições políticas e doutrinárias consistiam em ser contra a cobrança de impostos pelo papa à Inglaterra, achava que não deveria haver distinções de classes dentro da igreja e era contrário à transubstanciação.
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Apesar de ter sido declarado herege, as autoridades eclesiásticas nada fizeram contra ele devido à sua posição e à credibilidade perante todos. Wycliff traduziu a Bíblia (Vulgata Latina) do latim para o inglês, escreveu inúmeros tratados e preparou um grande número de pregadores itinerantes, os quais percorreram toda a Inglaterra instruindo o povo. Formavam a ordem dos sacerdotes pobres, também chamados, pejorativamente pelos seus inimigos, de lolardos (termo derivado de uma palavra holandesa que quer dizer murmuradores). Os lolardos cresceram grandemente em número e se constituíram numa força poderosa na disseminação do Evangelho. Apesar de terem sido perseguidos e martirizados no século XV, continuaram sua missão até o tempo da Reforma. 
Os ensinos de Wycliff inspiraram John Huss na Boêmia, o que conduziu a um movimento de maior revolta contra a Igreja Romana. Huss, além de sacerdote, era um homem muito culto e de grande influência na Universidade de Praga. Também era estimado pregador, assim como contava com a simpatia e o respeito de todo o povo devido a sua vida de pureza e caráter. Na verdade, era um grande líder nacional. 
Ensinou ao povo as ideias elaboradas por Wycliff, pelo que foi condenado como herege. A história demonstra que seu julgamento foi uma grande farsa. Condenado à fogueira, sofreu martírio na cidade de Constança. Como resultado, os boêmios se revoltaram com grande ira, iniciando uma guerra contra o imperador alemão e defendendo, inclusive, a sua independência. 
O AMBIENTE RELIGIOSO E SOCIAL. 
A Alemanha vivia uma situação religiosa e econômica bastante crítica no início do século XVI. A Igreja Romana agia com bastante opressão, cobrando elevados impostos e ingerindo sobre assuntos de nomeação. Além disso, a administração eclesiástica desenvolvida pela cúria papal era corrupta e onerosa: a postura dos clérigos era repreensível, os mosteiros estavam desvirtuados, o clero era isento de impostos, havia proibição de aplicação de juros, uma elevada mendicância estava nas ruas, havia muitos dias santos e uma incerteza religiosa quanto à obtenção da salvação. Daí, muitos se sentiam submetidos a grandes
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temores, ansiedades e insegurança. 
Era um tempo de rápidas mudanças sociais, quando o sistema feudal se desgastava sob o impacto de novas forças emergentes. Nessa época 90% das pessoas trabalhavam a terra e dela tiravam o seu sustento. Os camponeses, que tinham sido oprimidos por séculos, se rebelavam mais frequentemente à medida que o sistema feudal perdia parte do seu poder. Novas cidades iam surgindo, nas quais uma nova classe social composta por artesãos, banqueiros, homens de negócios, advogados, professores etc., constituíam uma classe média. 
Além disso, a invenção da imprensa por Gutemberg tornou acessível às pessoas que viviam fora dos mosteiros e de outros círculos o pensamento do passado e toda a sua riqueza literária. 
Enquanto isso, a religião oficial sustentava todo um sistema de dominação e opressão, nos seguintes aspectos: 
1. A própria Igreja Católica era parte integrante dos sistemas econômico e político, usando sua influência religiosa para apoiá- los; 
2. Boa parte da teologia da Igreja Medieval contribuía para sacralizar o sistema, dando legitimidade divina; 
3. O verdadeiro poder de dominação que sustentava o sistema era exercido dentro da esfera espiritual através do sistema hierárquico-sacramental. 
Considerando o fato da Igreja estar no centro da sociedade, fazendo com que a religião estabelecesse o ambiente no qual as pessoas viviam e se moviam, a luta pela mudança necessariamente tinha de ser religiosa. Esta é a razão porque Martinho Lutero surgiu como o grande libertador na Europa do século XVI. 
Além disso, a vida da Igreja Romana era indigna. Nela ocorriam muitos abusos financeiros, o alto clero (papas, cardeais e bispos) demonstrava uma vida escandalosa e de despreparo religioso, vivendo cercados de luxo e interessados mais em questões políticas e financeiras do que em valores espirituais. Por exemplo, o papa Inocêncio VIII (1484/1492) criou novos cargos de secretário apostólico para arrecadar mais dinheiro e casou seu filho com a filha de Lourenço de Médicis, governante de Florença, que em recompensa teve um filho de apenas 13 anos nomeado
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cardeal. Já o papa Leão X (1513-1521), pontífice da época inicial da Reforma, dedicava seu tempo às artes, festas, caças e teatro. Por outro lado, o baixo clero, formado pelos curas e vigários das paróquias, era pouco instruído e muito pobre, sobrevivendo às custas do aumento das taxas para a celebração de batizados, casamentos, funerais etc. Muitos deles trabalhavam administrando lojas ou albergues e, não raro, eram dados aos jogos e à bebida, vivendo também em concubinato. Convém destacar, também, que o número de padres e bispos que não sabia ministrar os sacramentos, rezar a missa e apresentar aos fiéis a mensagem do evangelho era cada vez maior. 
A REFORMA PROTESTANTE. 
Na época da Reforma a Alemanha representava as terras do Reno até as fronteiras da Hungria e da Polônia, excluindo a Suíça. Não era, contudo, uma nação unificada com um poder central, como a Inglaterra, a França e a Espanha. O Santo Império Romano, o Império Alemão, compreendia muitos territórios separados de variados tamanhos. Em cada território governava, com relativa independência, os príncipes, também chamados de Eleitor, Landgrave ou Margrave, todos sob a liderança do imperador, o senhor feudal. A Dieta, como poder central, consistia numa assembleia formada pelos príncipes e pelos nobres. 
O monarca que mais se envolveu com a Reforma foi Carlos V, que era de sangue alemão e espanhol. Ele era um homem da Idade Média que, apesar de desejar uma reforma da Igreja, resistia a qualquer mudança de doutrina. Não era subserviente ao papa, mas admitia que um concílio geral representava a mais alta autoridade na Igreja. Possuía como rival, às vezes inimigo e às vezes aliado, Francisco I, o ambicioso rei da França. 
Martinho Lutero (1483-1546) nasceu em Eisleben, na Saxônia, descendente de uma família de camponeses. Aos 18 anos ingressou na Universidade de Erfurt, a mais famosa da Alemanha, a fim de tornar-se advogado. Era um estudante aplicado, estudioso, orador fluente e polemista, que gostava de música e da convivência com as pessoas. Quando estava para ingressar na vida profissional, mudou a sua direção, fazendo-se monge no Convento dos Agostinianos. Foi considerado um
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monge de vida modelar, tentando seguir o caminho da salvação segundo o ensino da Igreja Medieval, excedendo-se em jejuns, vigílias, flagelações e confissões. Apesar dessa intensa batalha espiritual, não encontrou a paz e a segurança de alguém que está no caminho de Deus. 
O ensino da Igreja Medieval dizia que o ser humano pode alcançar a salvação pelas obras e pelos sacramentos que ela prescrevia, como entidade divinamente autorizada. Lutero, contudo, tinha uma alma que ardia com o sentimento de pecado e de estar debaixo da ira de Deus. Na sua busca pela certeza da salvação, ele recebeu a orientação do seu vigário geral, Staupitz, que afirmava que Deus era misericordioso e não apenas justo. Além disso, leu sobre a graça divina nos escritos de Bernardo de Claraval e na própria Bíblia. Livrou-se dessa angústia quando, enquanto lia a Carta aos Romanos (Rm 1.17), encontrou que o justo viverá pela fé. Isso inflamou seu coração, trazendo a luz da compreensão de que a salvação lhe pertencia simplesmente pela confiança, pela fé em Deus através de Jesus Cristo. 
Por um pouco mais de quatro anos Lutero ensinou na Universidade de Wittenberg sem romper com a Igreja, tornando-se, inclusive, um líder da sua Ordem. Suas aulas e preleções na Universidade tinham uma nova orientação, compreendendo explicações aprofundadas das Escrituras e aplicação contextualizada à vida, ao invés de repetições dos pais e dos doutores da Igreja. Esses ensinos atraíam multidões ao salão de conferências. 
Em 1517, Tetzel, um enviado do arcebispo da Mogúncia, apareceu nas regiões próximas de Wittenberg vendendo indulgências emitidas pelo papa, que eram pagamentos para redução das penas do purgatório ou perdão dos pecados. Lutero indignou-se contra as indulgências. Naquela época era costume afixar-se em lugares públicos a defesa ou o ataque de opiniões, chamadas de teses, nas quais se debatiam as ideias e se convidavam os interessados para o debate. Assim, em 31 de outubro de 1517, véspera do Dia de Todos os Santos, quando uma enorme multidão afluiu à Igreja do Castelo em Wittenberg, Lutero afixou nas portas dessa igreja as 95 Teses que combatiam as indulgências. O conteúdo dessas teses afirmava que o cristão arrependido obtinha o seu perdão diretamente de Deus, sem a intervenção de indulgências. Porém, as
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teses traziam também a negação do pretenso poder da Igreja Católica Romana de ser mediadora entre o ser humano e Deus e de conferir perdão aos pecadores. Cópias dessas teses foram impressas, vendidas e disseminadas por toda a Alemanha. Como consequência o papa da época, Leão X, começou a agir contra esse monge rebelde. Como primeiro passo intimou Lutero a comparecer perante as autoridades em Roma, o que significaria morte certa. Frederico, o Eleitor da Saxônia, contudo, protegendo Lutero, ordenou que seu caso fosse discutido na própria Alemanha. Diversas conferências aconteceram com os enviados do Papa, sendo que em uma delas, a de Leipzig, Lutero declarou, baseado em seus estudos das Escrituras, duas coisas de destaque: 
1. Que o papa não tinha autoridade divina; 
2. Que os concílios eclesiásticos não eram infalíveis. 
Essas afirmações significaram o rompimento definitivo e irrevogável de Lutero com a Igreja. A partir daí, Lutero prossegue com grande coragem e rapidez, desenvolvendo uma intensa atividade literária, divulgando e ensinando o povo alemão as virtudes do Evangelho. Seu livro À Nobreza Cristã da Alemanha era uma convocação a toda a Alemanha para unir-se contra Roma. 
Por outro lado, Lutero expunha os desvios da Igreja Romana, que ensinava que o papa e o clero tinham poderes sobrenaturais. Negou que somente o papa pudesse interpretar a Bíblia. Denunciou a corrupção do papado, suas ambições e extorsões. Adicionalmente, ele traçou um plano para organização de uma igreja nacional alemã, independente e reformada. 
A reação de Roma consistiu em sentenciar Lutero e seus simpatizantes à excomunhão. A bula papal de excomunhão é apresentada a Lutero em 1520, trazendo o conteúdo de se não se retratassem, seriam tratados como hereges, isto é, seriam presos e condenados à morte. O jovem Felipe Melanchton, professor e companheiro de Lutero, anunciou ao povo um grande acontecimento público: a queima dos decretos papais e de escritos dos teólogos escolásticos. Esta cena representa uma nova era na história humana, pois se traduz no rompimento com todo o sistema medieval. 
Entretanto, a bula papal de excomunhão para ter efeito necessitava do
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poder civil. O caso foi levado à Dieta de Worms, em 1521, sob a presidência do Imperador Carlos V. Lutero chega à Dieta com o apoio do povo e dos nobres. Perante o imperador e de todos os eleitores das províncias, clérigos e leigos, inclusive quatro cardeais, Lutero falou vagarosa, calma e confiantemente, com um poder que emocionou todos os corações, recusando alterar a sua posição. A Dieta dissolveu-se em meio a grande confusão: enquanto os espanhóis gritavam para levar Lutero à fogueira, os alemães empunhavam suas armas e, ladeados a Lutero, o conduziram para fora da audiência. O Édito de Worms condenou Lutero e seus simpatizantes à destruição, mas nenhuma tentativa séria foi feita para levar a efeito a sentença. O povo alemão zombava do referido decreto. Lutero estava condenado, mas se encontrava seguro, como líder do movimento religioso nacional. 
O movimento se propagou através dos ensinos reformados. A maioria dos monges deixou o claustro para pregar as boas novas do Evangelho. Muitos sacerdotes das paróquias se tornaram luteranos, seguidos dos seus fiéis. Vários bispos foram favoráveis às novas doutrinas. Nos templos, quando não se encontravam clérigos para pregar, os leigos o faziam. O movimento se espalhou como um forte reavivamento espiritual. 
Outro movimento de reforma surgiu na Suíça alemã, sob a liderança de Ulrico Zuínglio. Assim, na Dieta de 1526, os luteranos e zuinglianos dominaram a assembleia, assegurando a decisão de que cada governo podia escolher a religião do seu domínio. Já na Dieta de 1529, em Spira, os católicos estavam mais organizados e conseguiram aprovar a decisão de impedir qualquer propaganda da Reforma. Contra isso, os partidários da Reforma elaboraram um protesto formal. A partir daí os seguidores do Cristianismo reformado foram chamados de protestantes. 
Objetivando pôr fim a disputa religiosa entre católicos e protestantes foi realizada a Dieta de Augsburgo, em 1530. Nela, os luteranos apresentaram uma declaração de princípios, denominada de Confissão de Augsburgo, que teve como principal redator Melanchton. Não houve acordo na Dieta e os católicos declararam guerra aos protestantes. Lutero faleceu antes que viesse a guerra. 
Muitas coisas Lutero realizou, mas o seu legado consistiu
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principalmente de: 
1. Grande número de livros escritos; 
2. Preparação de pregadores; 
3. Tradução das Escrituras das línguas originais para a língua do povo alemão; 
4. Composição de vários hinos, sendo o mais conhecido Castelo Forte, considerado a Marselhesa da Reforma. 
5. Instituição de escolas conjugadas com as igrejas. 
6. Influências em muitos países, tais como Boêmia, Hungria, Polônia, Inglaterra, Escócia, França, Países Baixos, Escandinávia e mesmo a Espanha e a Itália. 
A guerra do imperador Carlos V contra os protestantes foi iniciada em 1546, tendo a princípio vitória a seu favor. Porém, Maurício da Saxônia o expulsou da Alemanha, fazendo abandonar o trono. Na Dieta de 1555 foi acordada a Paz de Augsburgo, reconhecendo o protestantismo como movimento legal e ficando para cada príncipe escolher a religião do seu território. 
A DOUTRINA CENTRAL DA REFORMA. 
A Igreja Medieval exercia o sacerdócio entre as pessoas e Deus. A Reforma rompe com essa posição reafirmando o princípio bíblico de que como indivíduos, todos os cristãos são igualmente sacerdotes. Esse é o sacerdócio daqueles que, pela fé, foram unidos com Cristo (IPd 2.5 e 9). Isso quer dizer, também, que cada membro individual tem comunhão pessoal direta com a Cabeça Divina, possui responsabilidade imediata diante dele e que diretamente dele é que obtém perdão e adquire força. 
Lutero ao proclamar o sacerdócio universal de todos os crentes (IPd 2.9 e Ap 1.6) tornou impossível para um grupo na igreja manter outros em posição inferior, ao mesmo tempo que recolocou todos os fiéis, incluindo os considerados mais baixos, à condição privilegiada de sacerdote. Todos estão nivelados perante Deus. 
Como cada crente é um sacerdote, então cada um é capaz de fazer com que o Evangelho e seus benefícios estejam disponíveis para os outros. Entretanto, pessoas são vocacionadas por Deus para ministérios específicos, a fim de fazer a igreja funcionar efetivamente e assumir
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uma administração em seu favor. Tais ministérios devem ser vistos como chamados a proclamar uma mensagem doadora de vida e transformadora do mundo, para servir, ao invés de ter poder sobre outros. Desse modo, Lutero rompeu decisivamente com a divisão tradicional da igreja nas classes de clero e laicato. 
Essa doutrina não quer dizer que devemos abolir o ministério pastoral como ordem distinta dentro da igreja, como fizeram os quacres. Nem tampouco que cada crente é seu próprio sacerdote, possuindo o direito do julgamento privado. Na verdade, a doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes quer dizer que todo cristão é sacerdote de alguém, e somos todos sacerdotes uns dos outros (GEORGE, 1994, p. 96). 
O sacerdócio de todos os crentes é ao mesmo tempo um privilégio, quanto uma responsabilidade; uma posição, quanto um serviço. Duas consequências práticas daí surgem: 
1. Ninguém pode ser um crente sozinho, vivendo sua fé na solidão. Não podemos servir a Deus sozinhos. Isso conduz a definição de igreja como a comunhão dos santos, onde os creem em Cristo é que são os santos. Portanto, a igreja não é o conjunto dos supercristãos que estão na glória celeste, em cujos méritos se pode conseguir ajuda para os caminhos da vida. Além disso, não é a comunhão de uns para com os outros que vai formar a Igreja. A base fundamental é a comunhão com Cristo que, sendo comum a todos, produz comunhão entre os irmãos. Quando individualmente uma pessoa passa a ter comunhão pessoal com Cristo, no mesmo momento e por essa causa, passa a ter comunhão também com todos os que já a possuem. Cristo é o nosso ponto de encontro e de identificação. 
2. A igreja é o povo. São as pessoas que formam a igreja, com suas próprias vidas, e não os aspectos associativos dela em sua organização e programas. Igreja é a gente da Igreja, não as formas de seu agrupamento. Desse modo, em sentido bíblico mais profundo, não formamos a Igreja, mas somos pessoalmente a Igreja, se Deus é que nos está chamando, Cristo congregando, o Espírito aperfeiçoando e a Palavra orientando e ensinando.
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QUATRO GRANDES POSTULADOS DA REFORMA. 1. SOLA GRATIA. 
Os reformadores ensinaram que o pecador é justificado unicamente pela graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo. Aqui, a graça é o favor divino que o ser humano não merece, mas que, em sua soberania e bondade, Deus quer lhe dar. Desse modo, a salvação é obra de Deus, não da pessoa (Ef 2.8-9; Rm 11.6). O ser humano não está em condições de dar, mas Deus o capacita a receber. Simplesmente a pessoa estende a mão vazia para receber, não a mão cheia para oferecer, pois não possui nada que possa ofertar em troca da salvação. Nem ao menos pode cooperar com a graça divina para salvar-se. Sua situação é de morte (Ef 2.1-3), estando apenas disponível para receber o favor de Deus. 
Esse conceito de só pela graça é um golpe contundente no orgulho humano, pois confronta a nossa própria miséria espiritual e moral. Não há, portanto, lugar para a autossuficiência, nem para a arrogância de quem pretende salvar-se a si mesmo e a outros, mesmo por meio de esforços que, na perspectiva da sociedade, pareçam nobres e heroicos. A ideia de que o ser humano é bom por natureza e que pode auto-levantar- se cai por terra ante a manifestação da doutrina de só pela graça de Deus. 
O ser humano é pecador por herança, pecador por natureza, pecador por pensamento, palavra e ação; pecador como indivíduo, pecador como ente social, criador de estruturas corruptas e perversas, a serviço das forças demoníacas que operam neste universo. A sociedade total está enferma. Esse é o quadro sombrio e deprimente que devemos considerar, a fim de percebermos melhor o significado da graça de Deus e pregar fielmente o Evangelho. 
Por outro lado, devemos observar que a graça também revela o valor imenso que o ser humano possui diante de Deus. O ser humano tem sua origem em Deus e leva em si, ainda que afetada pelo pecado, a imagem do seu Criador. Isto lhe concede uma dignidade especial que o eleva bem acima das outras criaturas do mundo e lhe permite exercer domínio sobre a natureza. É especialmente objeto do amor de Deus (Jo 3.16). Deus é sempre o Deus de toda a graça (IPd 5.10). O Protestantismo,
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assim, nega todos os esquemas de salvação que promovem o homem e suas atividades e cerimônias religiosas como meio de vida eterna e perdão. Insiste ainda que a salvação vem através do puro e imerecido favor de Deus. 2. SOLA CHRISTUS 
A mensagem dos reformadores era de Cristo, sobre Cristo e centrada em Cristo (Jo 1.17; IICo 9.15; Jo 14.6; At 4.12). Essa mensagem que ainda ressoa é ao mesmo tempo inclusiva e exclusiva: inclui todos os que recebem a Cristo como único mediador entre Deus e os homens, e exclui todos que resistem à graça de Deus. Portanto, não nos cabe incluir o que Deus não incluiu nem excluir o que Ele não excluiu. Só Cristo salva! Mas, que Cristo? 
1. O Cristo Deus, associado eternamente com o Pai e o Espírito Santo; 
2. O Cristo Histórico, manifestado no tempo e no espaço da plenitude da história humana; 
3. O Cristo Humano, participante da carne e do sangue, identificado plenamente com a humanidade; 
4. O Cristo Pobre, que nasceu, viveu e morreu em profunda pobreza, como os pobres de seu povo; 
5. O Cristo Profeta, arauto de Deus Pai, intérprete da Divindade, revelador da vontade divina para o seu povo e para humanidade; 
6. O Cristo Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo através da entrega total para a nossa redenção; 
7. O Cristo Vivente, que destrói por meio da morte o império da morte, e triunfa sobre o sepulcro através da ressurreição; 
8. O Cristo Sacerdote, que está à direita da Majestade intercedendo por nós; 
9. O Cristo Rei, que virá, glorificador da sua Igreja, Rei dos reis e Senhor dos senhores. 3. SOLA FIDE. 
A descoberta de Lutero de que o justo vive pela fé (Rm 1.17) chegou a ser um grito de batalha na Reforma: só a fé. A fé é a mão que recebe a dádiva de Deus em Jesus Cristo. É por meio da fé que fazemos nossos
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os benefícios do Cristo crucificado e ressuscitado, fazendo com que nossas almas e a nossa segurança eterna de salvação repousem. 
Essa fé, contudo, não é cega e nem é mera credulidade. Tampouco é um assentimento à verdade revelada. Pelo contrário, a fé se traduz em confiar, abandonar-se nas mãos de Jesus Cristo, reconhecendo a enormidade de nossa culpa e a totalidade de nossa incapacidade para nos libertarmos por nós mesmos do pecado. É admitir que os méritos humanos são inúteis para fins de justificação, lançando mão do valor infinito da pessoa e obra do Filho de Deus. Ter fé em Jesus Cristo é deixar-se salvar por ele. 
A fé implica também em obediência (At 6.7; IITs 1.8). Quando a pessoa crê que o Evangelho é a verdade, sente-se na obrigação de obedecê-lo. Os reformadores afirmaram que a fé que justifica a pessoa não é uma fé estéril e vazia, mas se harmoniza com as obras. Portanto, não somos salvos por obras, mas, sim, para boas obras (Ef 1.10). Essas boas obras são fruto da salvação, não a causa dela. Desse modo, a fé será mostrada não apenas em palavras, mas também em atos que glorificam a Deus e beneficiam o próximo e a sociedade. 
Crer em Jesus Cristo significa também entrar em sério compromisso com Ele e com a sua Igreja. Assim, depois de adquirirmos a nossa apólice de seguro para a eternidade, somos compelidos a demonstrar um excelente caráter ético. 4. SOLA SCRIPTURA. 
Foi sob a declaração de só a Escritura que os reformadores e a igreja oficial daqueles tempos dividiram os seus caminhos. Aceitaram os reformadores a supremacia das Escrituras Sagradas sobre todas as questões de fé e prática, proclamando a Bíblia como sua norma objetiva e eficaz. Fizeram com que o assim diz Jeová e o escrito está ressonassem poderosamente no âmbito de toda a comunidade cristã. Os reformadores advogaram não a livre interpretação, mas o livre exame das Escrituras. Isso sugere que devemos retirar do texto o significado que o escritor sagrado quis imprimir dentro de um contexto cultural determinado. Daí, faremos todo esforço possível para aplicar este significado à nossa própria vida e à realidade que nos rodeia,
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perguntando ao texto o que tem ele para dizer-nos nesta situação sociocultural. Por outro lado, também levaremos ao texto as nossas perguntas, deixando que ele mesmo nos responda, sem fazer com que o texto seja distorcido para trazer palavras que adocem os nossos ouvidos ou ofereça apoio às nossas posturas doutrinárias preconcebidas. 
Desse modo, necessitamos reafirmar nossa confiança na integridade e na eficácia da Bíblia, renovando nosso compromisso de obediência à autoridade das Escrituras. Além disso, devemos nos submeter ao ministério do Espírito Santo, que pode nos guiar a toda verdade, assim como nos mantermos dentro da comunhão dos santos, a fim de sermos instruídos, exortados e edificados por nossos irmãos na fé, os quais têm também a Palavra de Deus e nos quais também mora o Espírito da Verdade e do Amor. Os reformadores fizeram o máximo para transformar as Escrituras no fundamento e na autoridade para toda a doutrina que criam e ensinavam. Esse zelo pela autoridade suprema da Bíblia é uma das grandes heranças da Reforma. 
OUTRAS CONSIDERAÇÕES. 
A Reforma Protestante provocou na Igreja Católica inúmeras modificações internas, fazendo-a abrir novas ações de serviço, na tentativa de recuperar os povos e regiões que estava perdendo na Europa. A América, descoberta alguns anos antes do início do processo reformador, foi a mais importante área para a expansão do Catolicismo. 
O objetivo fundamental da Contra Reforma foi a contenção da expansão do protestantismo na Europa. Desse modo, a Igreja Católica reuniu-se na cidade de Trento, no final do ano de 1535, e após muitas hesitações e desentendimentos entre o Papa, bispos e reis, editou um documento contendo as principais medidas que julgava, no momento, necessárias. O Concílio de Trento reforçou o poder do Papa, criou o Índex (relação de livros proibidos à leitura dos cristãos), eliminou a comunhão de ambos os tipos (pão e vinho), mantendo apenas a comunhão do pão. Além disso, obrigou os bispos a residirem em suas sedes, conservou os sete sacramentos, reforçou o Tribunal da Inquisição, afirmou que somente a Igreja poderia interpretar a Sagrada Escritura e fixou regras para a formação e a vida dos padres.
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A fundação da Companhia de Jesus foi a principal arma utilizada pela Contra Reforma Católica. Essa companhia, fundada pelo nobre militar espanhol Ignácio de Loyola, adotou uma estrutura militar, chegando mesmo a ser conhecida como o Exército de Cristo. Ao contrário das antigas ordens religiosas, não se afastavam do mundo, mas atuavam nele, procurando ter o apoio dos governantes europeus na sua luta contra o Protestantismo, fundando escolas e catequizando os nativos dos novos mundos surgidos com a expansão marítima. 
Atualmente, o escândalo da pedofilia (envolvimento sexual com crianças) que avassala a Igreja Católica dos Estados Unidos tem sido tratado pelo Vaticano como um acontecimento circunscrito ao excepcionalismo americano, produto de uma comunicação social hostil à Igreja e de uma sociedade dominada por advogados obcecados pela rapina das indenizações. 
A Igreja Católica não tem nos EUA o poder que tem, por exemplo, na Europa ou na América Latina. Implantada com os imigrantes irlandeses em meados do século 19, a Igreja Católica dos EUA conheceu, ao longo do século 20, um grande desenvolvimento, mas a sua implantação social foi sempre superior à política. Sendo uma igreja que se tem mantido distante das cruzadas mais recentes da política norte-americana, sejam elas a Guerra do Golfo, a política pró-israelita, a luta contra o terrorismo ou a pena de morte, é uma instituição politicamente vulnerável e os seus críticos não deixarão de capitalizar o seu descrédito. O que se passa na igreja norte-americana é a versão dramática de um mal-estar moral e institucional que atravessa todo o mundo católico. 
O mal-estar se assenta em dois fatores principais. O primeiro é a falência, cada vez mais evidente, de um modelo institucional autoritário e arrogante, que não aceita a efetiva participação da comunidade dos crentes no governo da igreja, da gestão pastoral à gestão financeira; que se assenta no trato secreto dos problemas, principalmente a respeito da má conduta de bispos e padres para tornar possível a combinação de cumplicidade com impunidade. 
A imposição do celibato, a partir do século 12 e dos Concílios de Latrão, foi motivado pelo medo do Vaticano de que os filhos dos padres viessem a herdar os bens da igreja.
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Os problemas atuais da Igreja Católica não têm, aparentemente, nada a ver com o sacro negócio da compra e venda de bulas e indulgências, que tanto revoltou Lutero. Mas, no fundo, estamos diante do mesmo abuso de uma posição de autoridade privilegiada, que trafica com a ingenuidade ou a indefensabilidade das pessoas a quem vende Deus para delas receber o corpo e a dignidade. 
CONCLUSÃO. 
A Reforma Protestante ocorrida no século XVI foi, na verdade, a oportunidade mais promissora e importante de libertação que ocorreu na Europa Ocidental na época. Consistiu numa resposta dinâmica dada pelo poder do Espírito Santo à situação humana, através do Evangelho que demonstrou o seu poder transformador. Assim, o Cristianismo, muitas vezes feito prisioneiro de estruturas causadoras de falência e desfiguração, foi portador de Boas Novas para o amanhã, recriando as respostas necessárias para os novos desafios. 
Muitos fatores tornaram a Reforma inevitável. A relutância da Igreja em aceitar as mudanças sugeridas pelos teólogos, líderes conciliares e humanistas e a fixação na tradição e no passado, indiferente às forças dinâmicas de uma nova sociedade emergente, a tornou uma Igreja alienada da realidade. Assim, a Reforma foi para o católico romano apenas como uma revolta de protestantes contra a Igreja de Roma; para os pensadores seculares, um movimento revolucionário, mas para o protestante ela fez com que a vida religiosa voltasse aos padrões do Novo Testamento.
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Apêndice 1. 
ALGUMAS DOUTRINAS QUE NÃO TEM APOIO NA BÍBLIA. 
Ano – Apostasia 
310 – Reza pelos Defuntos 
320 – Uso de Velas 
375 – Culto aos Santos 
394 – Instituição da Missa 
431 – Culto à Virgem Maria 
503 – Doutrina do Purgatório 
528 – Extrema Unção 
606 – Bonifácio III se declara Bispo Universal “Papa” 
709 – Obrigatoriedade de beijar os pés do “Bispo Universal” 
754 – Doutrina do Poder Temporal da Igreja 
783 – Adoração das Imagens e Relíquias 
850 – Uso da Água Benta 
890 – Culto a São José (Protodulia) 
993 – Canonização dos Santos 
1003 – Instituição da Festa dos “Fiéis Defuntos” 
1074 – Celibato Sacerdotal 
1076 – Dogma da “Infalibilidade da Igreja” 
1090 – Invensão do Rosário 
1184 – Instituição da “Santa Inquisição” 
1190 – Vendas de “Indulgências” 
1200 – O Pão na Comunhão foi substituído pela Óstia 
1215 – Criou-se a Confissão Auricular 
1215 – Dogma da Transubstanciação 
1220 – Adoração da Óstia 
1229 – Proibição da Leitura da Bíblia 
1245 – Uso das Campainhas na Missa 
1316 – Instituição da Reza da “Ave Maria” 
1415 – Eliminação do Vinho na Comunhão 
1546 – Doutrina que Equipara a Tradição com a Bíblia 
1546 – Introdução dos Livros Apócrifos 
1600 – Invenção do Escapulário (Bentinhos) 
1854 – Dogma da Imaculada Conceição de Maria 
1864 – Condenação da Separação da Igreja do Estado 
1870 – Dogma da Infalibilidade Papal 
1908 – Pio X anula qualquer Matrimônio Efetuado sem Sacerdote Romano 
1950 – Dogma da “Presença Real e Corporal de Maria no Céu” (Ascenção de Maria)
17 
BIBLIOGRAFIA. 
GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Mundo Cristão, 1994. 
GONZALES, Justo L. A era dos reformadores. São Paulo: Mundo Cristão, 1983. 
LATOURETTE, Kenneth Scott. Historia del cristianismo – Tomo 2. 5.ed. El Paso, EUA: Casa Bautista de Publicaciones, 1983. 
NICHOLS, Robert Hastings. História da igreja cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1979. 
NÚÑEZ, Emílio Antonio. Herdeiros da Reforma. In: CLADE II. O presente, o futuro e a esperança cristã. São Paulo: ABU, s.d. 
SHAULL, Richard. A Reforma Protestante e a teologia da libertação. São Paulo: Pendão Real, 1993. 
WALKER, Williston. História da igreja cristã. São Paulo: ASTE, 1983.

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A Reforma Protestante e seus fundamentos teológicos

  • 1. A REFORMA PROTESTANTE ECCLESIA REFORMATA SEMPER REFORMANDA.
  • 2. 1 A REFORMA PROTESTANTE ECCLESIA REFORMATA SEMPER REFORMANDA. INTRODUÇÃO. A Reforma Protestante do século XVI foi o maior evento restaurador da igreja cristã. Atingiu a dimensão de tornar o Protestantismo nascente a maior força propulsora na história da civilização moderna. A partir desse evento, o Cristianismo passou a possuir dois ramos: o Catolicismo e o Protestantismo. O Catolicismo ficou caracterizado pelo Cristianismo legalista, que serviu às nações bárbaras da Idade Média, sendo ritualista, tradicional, hierárquico, conservador e governado pelo princípio da autoridade. Já o Protestantismo é Cristianismo evangélico, correspondendo à era da independência humana, sendo bíblico, democrático, espiritual, progressivo e defensor do princípio da legítima liberdade. Além disso, o objetivo do Protestantismo desde o seu início foi trazer cada pessoa à comunhão com Deus, através de Jesus Cristo, o único e todo suficiente Senhor e Salvador do pecado e da morte eterna. Na verdade, a Reforma foi um movimento de profundas repercussões culturais, sociais e políticas, porém, nesse estudo desejamos destacar também os seus fundamentos teológicos e, em especial, a doutrina da salvação dos reformadores. De qualquer que seja a perspectiva, todos os cristãos evangélicos são herdeiros da Reforma Protestante do século XVI. Daí, ser de grande proveito que continuemos a estudar em que consistiu essa herança. A AURORA DA REFORMA. Cerca de 150 anos antes da Reforma (1375), John Wycliff na Inglaterra entrou em luta com o papado. Ele era o mais culto e destacado professor da Universidade de Oxford, ao mesmo tempo em que atuava como padre na paróquia de Lutterworth. Suas posições políticas e doutrinárias consistiam em ser contra a cobrança de impostos pelo papa à Inglaterra, achava que não deveria haver distinções de classes dentro da igreja e era contrário à transubstanciação.
  • 3. 2 Apesar de ter sido declarado herege, as autoridades eclesiásticas nada fizeram contra ele devido à sua posição e à credibilidade perante todos. Wycliff traduziu a Bíblia (Vulgata Latina) do latim para o inglês, escreveu inúmeros tratados e preparou um grande número de pregadores itinerantes, os quais percorreram toda a Inglaterra instruindo o povo. Formavam a ordem dos sacerdotes pobres, também chamados, pejorativamente pelos seus inimigos, de lolardos (termo derivado de uma palavra holandesa que quer dizer murmuradores). Os lolardos cresceram grandemente em número e se constituíram numa força poderosa na disseminação do Evangelho. Apesar de terem sido perseguidos e martirizados no século XV, continuaram sua missão até o tempo da Reforma. Os ensinos de Wycliff inspiraram John Huss na Boêmia, o que conduziu a um movimento de maior revolta contra a Igreja Romana. Huss, além de sacerdote, era um homem muito culto e de grande influência na Universidade de Praga. Também era estimado pregador, assim como contava com a simpatia e o respeito de todo o povo devido a sua vida de pureza e caráter. Na verdade, era um grande líder nacional. Ensinou ao povo as ideias elaboradas por Wycliff, pelo que foi condenado como herege. A história demonstra que seu julgamento foi uma grande farsa. Condenado à fogueira, sofreu martírio na cidade de Constança. Como resultado, os boêmios se revoltaram com grande ira, iniciando uma guerra contra o imperador alemão e defendendo, inclusive, a sua independência. O AMBIENTE RELIGIOSO E SOCIAL. A Alemanha vivia uma situação religiosa e econômica bastante crítica no início do século XVI. A Igreja Romana agia com bastante opressão, cobrando elevados impostos e ingerindo sobre assuntos de nomeação. Além disso, a administração eclesiástica desenvolvida pela cúria papal era corrupta e onerosa: a postura dos clérigos era repreensível, os mosteiros estavam desvirtuados, o clero era isento de impostos, havia proibição de aplicação de juros, uma elevada mendicância estava nas ruas, havia muitos dias santos e uma incerteza religiosa quanto à obtenção da salvação. Daí, muitos se sentiam submetidos a grandes
  • 4. 3 temores, ansiedades e insegurança. Era um tempo de rápidas mudanças sociais, quando o sistema feudal se desgastava sob o impacto de novas forças emergentes. Nessa época 90% das pessoas trabalhavam a terra e dela tiravam o seu sustento. Os camponeses, que tinham sido oprimidos por séculos, se rebelavam mais frequentemente à medida que o sistema feudal perdia parte do seu poder. Novas cidades iam surgindo, nas quais uma nova classe social composta por artesãos, banqueiros, homens de negócios, advogados, professores etc., constituíam uma classe média. Além disso, a invenção da imprensa por Gutemberg tornou acessível às pessoas que viviam fora dos mosteiros e de outros círculos o pensamento do passado e toda a sua riqueza literária. Enquanto isso, a religião oficial sustentava todo um sistema de dominação e opressão, nos seguintes aspectos: 1. A própria Igreja Católica era parte integrante dos sistemas econômico e político, usando sua influência religiosa para apoiá- los; 2. Boa parte da teologia da Igreja Medieval contribuía para sacralizar o sistema, dando legitimidade divina; 3. O verdadeiro poder de dominação que sustentava o sistema era exercido dentro da esfera espiritual através do sistema hierárquico-sacramental. Considerando o fato da Igreja estar no centro da sociedade, fazendo com que a religião estabelecesse o ambiente no qual as pessoas viviam e se moviam, a luta pela mudança necessariamente tinha de ser religiosa. Esta é a razão porque Martinho Lutero surgiu como o grande libertador na Europa do século XVI. Além disso, a vida da Igreja Romana era indigna. Nela ocorriam muitos abusos financeiros, o alto clero (papas, cardeais e bispos) demonstrava uma vida escandalosa e de despreparo religioso, vivendo cercados de luxo e interessados mais em questões políticas e financeiras do que em valores espirituais. Por exemplo, o papa Inocêncio VIII (1484/1492) criou novos cargos de secretário apostólico para arrecadar mais dinheiro e casou seu filho com a filha de Lourenço de Médicis, governante de Florença, que em recompensa teve um filho de apenas 13 anos nomeado
  • 5. 4 cardeal. Já o papa Leão X (1513-1521), pontífice da época inicial da Reforma, dedicava seu tempo às artes, festas, caças e teatro. Por outro lado, o baixo clero, formado pelos curas e vigários das paróquias, era pouco instruído e muito pobre, sobrevivendo às custas do aumento das taxas para a celebração de batizados, casamentos, funerais etc. Muitos deles trabalhavam administrando lojas ou albergues e, não raro, eram dados aos jogos e à bebida, vivendo também em concubinato. Convém destacar, também, que o número de padres e bispos que não sabia ministrar os sacramentos, rezar a missa e apresentar aos fiéis a mensagem do evangelho era cada vez maior. A REFORMA PROTESTANTE. Na época da Reforma a Alemanha representava as terras do Reno até as fronteiras da Hungria e da Polônia, excluindo a Suíça. Não era, contudo, uma nação unificada com um poder central, como a Inglaterra, a França e a Espanha. O Santo Império Romano, o Império Alemão, compreendia muitos territórios separados de variados tamanhos. Em cada território governava, com relativa independência, os príncipes, também chamados de Eleitor, Landgrave ou Margrave, todos sob a liderança do imperador, o senhor feudal. A Dieta, como poder central, consistia numa assembleia formada pelos príncipes e pelos nobres. O monarca que mais se envolveu com a Reforma foi Carlos V, que era de sangue alemão e espanhol. Ele era um homem da Idade Média que, apesar de desejar uma reforma da Igreja, resistia a qualquer mudança de doutrina. Não era subserviente ao papa, mas admitia que um concílio geral representava a mais alta autoridade na Igreja. Possuía como rival, às vezes inimigo e às vezes aliado, Francisco I, o ambicioso rei da França. Martinho Lutero (1483-1546) nasceu em Eisleben, na Saxônia, descendente de uma família de camponeses. Aos 18 anos ingressou na Universidade de Erfurt, a mais famosa da Alemanha, a fim de tornar-se advogado. Era um estudante aplicado, estudioso, orador fluente e polemista, que gostava de música e da convivência com as pessoas. Quando estava para ingressar na vida profissional, mudou a sua direção, fazendo-se monge no Convento dos Agostinianos. Foi considerado um
  • 6. 5 monge de vida modelar, tentando seguir o caminho da salvação segundo o ensino da Igreja Medieval, excedendo-se em jejuns, vigílias, flagelações e confissões. Apesar dessa intensa batalha espiritual, não encontrou a paz e a segurança de alguém que está no caminho de Deus. O ensino da Igreja Medieval dizia que o ser humano pode alcançar a salvação pelas obras e pelos sacramentos que ela prescrevia, como entidade divinamente autorizada. Lutero, contudo, tinha uma alma que ardia com o sentimento de pecado e de estar debaixo da ira de Deus. Na sua busca pela certeza da salvação, ele recebeu a orientação do seu vigário geral, Staupitz, que afirmava que Deus era misericordioso e não apenas justo. Além disso, leu sobre a graça divina nos escritos de Bernardo de Claraval e na própria Bíblia. Livrou-se dessa angústia quando, enquanto lia a Carta aos Romanos (Rm 1.17), encontrou que o justo viverá pela fé. Isso inflamou seu coração, trazendo a luz da compreensão de que a salvação lhe pertencia simplesmente pela confiança, pela fé em Deus através de Jesus Cristo. Por um pouco mais de quatro anos Lutero ensinou na Universidade de Wittenberg sem romper com a Igreja, tornando-se, inclusive, um líder da sua Ordem. Suas aulas e preleções na Universidade tinham uma nova orientação, compreendendo explicações aprofundadas das Escrituras e aplicação contextualizada à vida, ao invés de repetições dos pais e dos doutores da Igreja. Esses ensinos atraíam multidões ao salão de conferências. Em 1517, Tetzel, um enviado do arcebispo da Mogúncia, apareceu nas regiões próximas de Wittenberg vendendo indulgências emitidas pelo papa, que eram pagamentos para redução das penas do purgatório ou perdão dos pecados. Lutero indignou-se contra as indulgências. Naquela época era costume afixar-se em lugares públicos a defesa ou o ataque de opiniões, chamadas de teses, nas quais se debatiam as ideias e se convidavam os interessados para o debate. Assim, em 31 de outubro de 1517, véspera do Dia de Todos os Santos, quando uma enorme multidão afluiu à Igreja do Castelo em Wittenberg, Lutero afixou nas portas dessa igreja as 95 Teses que combatiam as indulgências. O conteúdo dessas teses afirmava que o cristão arrependido obtinha o seu perdão diretamente de Deus, sem a intervenção de indulgências. Porém, as
  • 7. 6 teses traziam também a negação do pretenso poder da Igreja Católica Romana de ser mediadora entre o ser humano e Deus e de conferir perdão aos pecadores. Cópias dessas teses foram impressas, vendidas e disseminadas por toda a Alemanha. Como consequência o papa da época, Leão X, começou a agir contra esse monge rebelde. Como primeiro passo intimou Lutero a comparecer perante as autoridades em Roma, o que significaria morte certa. Frederico, o Eleitor da Saxônia, contudo, protegendo Lutero, ordenou que seu caso fosse discutido na própria Alemanha. Diversas conferências aconteceram com os enviados do Papa, sendo que em uma delas, a de Leipzig, Lutero declarou, baseado em seus estudos das Escrituras, duas coisas de destaque: 1. Que o papa não tinha autoridade divina; 2. Que os concílios eclesiásticos não eram infalíveis. Essas afirmações significaram o rompimento definitivo e irrevogável de Lutero com a Igreja. A partir daí, Lutero prossegue com grande coragem e rapidez, desenvolvendo uma intensa atividade literária, divulgando e ensinando o povo alemão as virtudes do Evangelho. Seu livro À Nobreza Cristã da Alemanha era uma convocação a toda a Alemanha para unir-se contra Roma. Por outro lado, Lutero expunha os desvios da Igreja Romana, que ensinava que o papa e o clero tinham poderes sobrenaturais. Negou que somente o papa pudesse interpretar a Bíblia. Denunciou a corrupção do papado, suas ambições e extorsões. Adicionalmente, ele traçou um plano para organização de uma igreja nacional alemã, independente e reformada. A reação de Roma consistiu em sentenciar Lutero e seus simpatizantes à excomunhão. A bula papal de excomunhão é apresentada a Lutero em 1520, trazendo o conteúdo de se não se retratassem, seriam tratados como hereges, isto é, seriam presos e condenados à morte. O jovem Felipe Melanchton, professor e companheiro de Lutero, anunciou ao povo um grande acontecimento público: a queima dos decretos papais e de escritos dos teólogos escolásticos. Esta cena representa uma nova era na história humana, pois se traduz no rompimento com todo o sistema medieval. Entretanto, a bula papal de excomunhão para ter efeito necessitava do
  • 8. 7 poder civil. O caso foi levado à Dieta de Worms, em 1521, sob a presidência do Imperador Carlos V. Lutero chega à Dieta com o apoio do povo e dos nobres. Perante o imperador e de todos os eleitores das províncias, clérigos e leigos, inclusive quatro cardeais, Lutero falou vagarosa, calma e confiantemente, com um poder que emocionou todos os corações, recusando alterar a sua posição. A Dieta dissolveu-se em meio a grande confusão: enquanto os espanhóis gritavam para levar Lutero à fogueira, os alemães empunhavam suas armas e, ladeados a Lutero, o conduziram para fora da audiência. O Édito de Worms condenou Lutero e seus simpatizantes à destruição, mas nenhuma tentativa séria foi feita para levar a efeito a sentença. O povo alemão zombava do referido decreto. Lutero estava condenado, mas se encontrava seguro, como líder do movimento religioso nacional. O movimento se propagou através dos ensinos reformados. A maioria dos monges deixou o claustro para pregar as boas novas do Evangelho. Muitos sacerdotes das paróquias se tornaram luteranos, seguidos dos seus fiéis. Vários bispos foram favoráveis às novas doutrinas. Nos templos, quando não se encontravam clérigos para pregar, os leigos o faziam. O movimento se espalhou como um forte reavivamento espiritual. Outro movimento de reforma surgiu na Suíça alemã, sob a liderança de Ulrico Zuínglio. Assim, na Dieta de 1526, os luteranos e zuinglianos dominaram a assembleia, assegurando a decisão de que cada governo podia escolher a religião do seu domínio. Já na Dieta de 1529, em Spira, os católicos estavam mais organizados e conseguiram aprovar a decisão de impedir qualquer propaganda da Reforma. Contra isso, os partidários da Reforma elaboraram um protesto formal. A partir daí os seguidores do Cristianismo reformado foram chamados de protestantes. Objetivando pôr fim a disputa religiosa entre católicos e protestantes foi realizada a Dieta de Augsburgo, em 1530. Nela, os luteranos apresentaram uma declaração de princípios, denominada de Confissão de Augsburgo, que teve como principal redator Melanchton. Não houve acordo na Dieta e os católicos declararam guerra aos protestantes. Lutero faleceu antes que viesse a guerra. Muitas coisas Lutero realizou, mas o seu legado consistiu
  • 9. 8 principalmente de: 1. Grande número de livros escritos; 2. Preparação de pregadores; 3. Tradução das Escrituras das línguas originais para a língua do povo alemão; 4. Composição de vários hinos, sendo o mais conhecido Castelo Forte, considerado a Marselhesa da Reforma. 5. Instituição de escolas conjugadas com as igrejas. 6. Influências em muitos países, tais como Boêmia, Hungria, Polônia, Inglaterra, Escócia, França, Países Baixos, Escandinávia e mesmo a Espanha e a Itália. A guerra do imperador Carlos V contra os protestantes foi iniciada em 1546, tendo a princípio vitória a seu favor. Porém, Maurício da Saxônia o expulsou da Alemanha, fazendo abandonar o trono. Na Dieta de 1555 foi acordada a Paz de Augsburgo, reconhecendo o protestantismo como movimento legal e ficando para cada príncipe escolher a religião do seu território. A DOUTRINA CENTRAL DA REFORMA. A Igreja Medieval exercia o sacerdócio entre as pessoas e Deus. A Reforma rompe com essa posição reafirmando o princípio bíblico de que como indivíduos, todos os cristãos são igualmente sacerdotes. Esse é o sacerdócio daqueles que, pela fé, foram unidos com Cristo (IPd 2.5 e 9). Isso quer dizer, também, que cada membro individual tem comunhão pessoal direta com a Cabeça Divina, possui responsabilidade imediata diante dele e que diretamente dele é que obtém perdão e adquire força. Lutero ao proclamar o sacerdócio universal de todos os crentes (IPd 2.9 e Ap 1.6) tornou impossível para um grupo na igreja manter outros em posição inferior, ao mesmo tempo que recolocou todos os fiéis, incluindo os considerados mais baixos, à condição privilegiada de sacerdote. Todos estão nivelados perante Deus. Como cada crente é um sacerdote, então cada um é capaz de fazer com que o Evangelho e seus benefícios estejam disponíveis para os outros. Entretanto, pessoas são vocacionadas por Deus para ministérios específicos, a fim de fazer a igreja funcionar efetivamente e assumir
  • 10. 9 uma administração em seu favor. Tais ministérios devem ser vistos como chamados a proclamar uma mensagem doadora de vida e transformadora do mundo, para servir, ao invés de ter poder sobre outros. Desse modo, Lutero rompeu decisivamente com a divisão tradicional da igreja nas classes de clero e laicato. Essa doutrina não quer dizer que devemos abolir o ministério pastoral como ordem distinta dentro da igreja, como fizeram os quacres. Nem tampouco que cada crente é seu próprio sacerdote, possuindo o direito do julgamento privado. Na verdade, a doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes quer dizer que todo cristão é sacerdote de alguém, e somos todos sacerdotes uns dos outros (GEORGE, 1994, p. 96). O sacerdócio de todos os crentes é ao mesmo tempo um privilégio, quanto uma responsabilidade; uma posição, quanto um serviço. Duas consequências práticas daí surgem: 1. Ninguém pode ser um crente sozinho, vivendo sua fé na solidão. Não podemos servir a Deus sozinhos. Isso conduz a definição de igreja como a comunhão dos santos, onde os creem em Cristo é que são os santos. Portanto, a igreja não é o conjunto dos supercristãos que estão na glória celeste, em cujos méritos se pode conseguir ajuda para os caminhos da vida. Além disso, não é a comunhão de uns para com os outros que vai formar a Igreja. A base fundamental é a comunhão com Cristo que, sendo comum a todos, produz comunhão entre os irmãos. Quando individualmente uma pessoa passa a ter comunhão pessoal com Cristo, no mesmo momento e por essa causa, passa a ter comunhão também com todos os que já a possuem. Cristo é o nosso ponto de encontro e de identificação. 2. A igreja é o povo. São as pessoas que formam a igreja, com suas próprias vidas, e não os aspectos associativos dela em sua organização e programas. Igreja é a gente da Igreja, não as formas de seu agrupamento. Desse modo, em sentido bíblico mais profundo, não formamos a Igreja, mas somos pessoalmente a Igreja, se Deus é que nos está chamando, Cristo congregando, o Espírito aperfeiçoando e a Palavra orientando e ensinando.
  • 11. 10 QUATRO GRANDES POSTULADOS DA REFORMA. 1. SOLA GRATIA. Os reformadores ensinaram que o pecador é justificado unicamente pela graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo. Aqui, a graça é o favor divino que o ser humano não merece, mas que, em sua soberania e bondade, Deus quer lhe dar. Desse modo, a salvação é obra de Deus, não da pessoa (Ef 2.8-9; Rm 11.6). O ser humano não está em condições de dar, mas Deus o capacita a receber. Simplesmente a pessoa estende a mão vazia para receber, não a mão cheia para oferecer, pois não possui nada que possa ofertar em troca da salvação. Nem ao menos pode cooperar com a graça divina para salvar-se. Sua situação é de morte (Ef 2.1-3), estando apenas disponível para receber o favor de Deus. Esse conceito de só pela graça é um golpe contundente no orgulho humano, pois confronta a nossa própria miséria espiritual e moral. Não há, portanto, lugar para a autossuficiência, nem para a arrogância de quem pretende salvar-se a si mesmo e a outros, mesmo por meio de esforços que, na perspectiva da sociedade, pareçam nobres e heroicos. A ideia de que o ser humano é bom por natureza e que pode auto-levantar- se cai por terra ante a manifestação da doutrina de só pela graça de Deus. O ser humano é pecador por herança, pecador por natureza, pecador por pensamento, palavra e ação; pecador como indivíduo, pecador como ente social, criador de estruturas corruptas e perversas, a serviço das forças demoníacas que operam neste universo. A sociedade total está enferma. Esse é o quadro sombrio e deprimente que devemos considerar, a fim de percebermos melhor o significado da graça de Deus e pregar fielmente o Evangelho. Por outro lado, devemos observar que a graça também revela o valor imenso que o ser humano possui diante de Deus. O ser humano tem sua origem em Deus e leva em si, ainda que afetada pelo pecado, a imagem do seu Criador. Isto lhe concede uma dignidade especial que o eleva bem acima das outras criaturas do mundo e lhe permite exercer domínio sobre a natureza. É especialmente objeto do amor de Deus (Jo 3.16). Deus é sempre o Deus de toda a graça (IPd 5.10). O Protestantismo,
  • 12. 11 assim, nega todos os esquemas de salvação que promovem o homem e suas atividades e cerimônias religiosas como meio de vida eterna e perdão. Insiste ainda que a salvação vem através do puro e imerecido favor de Deus. 2. SOLA CHRISTUS A mensagem dos reformadores era de Cristo, sobre Cristo e centrada em Cristo (Jo 1.17; IICo 9.15; Jo 14.6; At 4.12). Essa mensagem que ainda ressoa é ao mesmo tempo inclusiva e exclusiva: inclui todos os que recebem a Cristo como único mediador entre Deus e os homens, e exclui todos que resistem à graça de Deus. Portanto, não nos cabe incluir o que Deus não incluiu nem excluir o que Ele não excluiu. Só Cristo salva! Mas, que Cristo? 1. O Cristo Deus, associado eternamente com o Pai e o Espírito Santo; 2. O Cristo Histórico, manifestado no tempo e no espaço da plenitude da história humana; 3. O Cristo Humano, participante da carne e do sangue, identificado plenamente com a humanidade; 4. O Cristo Pobre, que nasceu, viveu e morreu em profunda pobreza, como os pobres de seu povo; 5. O Cristo Profeta, arauto de Deus Pai, intérprete da Divindade, revelador da vontade divina para o seu povo e para humanidade; 6. O Cristo Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo através da entrega total para a nossa redenção; 7. O Cristo Vivente, que destrói por meio da morte o império da morte, e triunfa sobre o sepulcro através da ressurreição; 8. O Cristo Sacerdote, que está à direita da Majestade intercedendo por nós; 9. O Cristo Rei, que virá, glorificador da sua Igreja, Rei dos reis e Senhor dos senhores. 3. SOLA FIDE. A descoberta de Lutero de que o justo vive pela fé (Rm 1.17) chegou a ser um grito de batalha na Reforma: só a fé. A fé é a mão que recebe a dádiva de Deus em Jesus Cristo. É por meio da fé que fazemos nossos
  • 13. 12 os benefícios do Cristo crucificado e ressuscitado, fazendo com que nossas almas e a nossa segurança eterna de salvação repousem. Essa fé, contudo, não é cega e nem é mera credulidade. Tampouco é um assentimento à verdade revelada. Pelo contrário, a fé se traduz em confiar, abandonar-se nas mãos de Jesus Cristo, reconhecendo a enormidade de nossa culpa e a totalidade de nossa incapacidade para nos libertarmos por nós mesmos do pecado. É admitir que os méritos humanos são inúteis para fins de justificação, lançando mão do valor infinito da pessoa e obra do Filho de Deus. Ter fé em Jesus Cristo é deixar-se salvar por ele. A fé implica também em obediência (At 6.7; IITs 1.8). Quando a pessoa crê que o Evangelho é a verdade, sente-se na obrigação de obedecê-lo. Os reformadores afirmaram que a fé que justifica a pessoa não é uma fé estéril e vazia, mas se harmoniza com as obras. Portanto, não somos salvos por obras, mas, sim, para boas obras (Ef 1.10). Essas boas obras são fruto da salvação, não a causa dela. Desse modo, a fé será mostrada não apenas em palavras, mas também em atos que glorificam a Deus e beneficiam o próximo e a sociedade. Crer em Jesus Cristo significa também entrar em sério compromisso com Ele e com a sua Igreja. Assim, depois de adquirirmos a nossa apólice de seguro para a eternidade, somos compelidos a demonstrar um excelente caráter ético. 4. SOLA SCRIPTURA. Foi sob a declaração de só a Escritura que os reformadores e a igreja oficial daqueles tempos dividiram os seus caminhos. Aceitaram os reformadores a supremacia das Escrituras Sagradas sobre todas as questões de fé e prática, proclamando a Bíblia como sua norma objetiva e eficaz. Fizeram com que o assim diz Jeová e o escrito está ressonassem poderosamente no âmbito de toda a comunidade cristã. Os reformadores advogaram não a livre interpretação, mas o livre exame das Escrituras. Isso sugere que devemos retirar do texto o significado que o escritor sagrado quis imprimir dentro de um contexto cultural determinado. Daí, faremos todo esforço possível para aplicar este significado à nossa própria vida e à realidade que nos rodeia,
  • 14. 13 perguntando ao texto o que tem ele para dizer-nos nesta situação sociocultural. Por outro lado, também levaremos ao texto as nossas perguntas, deixando que ele mesmo nos responda, sem fazer com que o texto seja distorcido para trazer palavras que adocem os nossos ouvidos ou ofereça apoio às nossas posturas doutrinárias preconcebidas. Desse modo, necessitamos reafirmar nossa confiança na integridade e na eficácia da Bíblia, renovando nosso compromisso de obediência à autoridade das Escrituras. Além disso, devemos nos submeter ao ministério do Espírito Santo, que pode nos guiar a toda verdade, assim como nos mantermos dentro da comunhão dos santos, a fim de sermos instruídos, exortados e edificados por nossos irmãos na fé, os quais têm também a Palavra de Deus e nos quais também mora o Espírito da Verdade e do Amor. Os reformadores fizeram o máximo para transformar as Escrituras no fundamento e na autoridade para toda a doutrina que criam e ensinavam. Esse zelo pela autoridade suprema da Bíblia é uma das grandes heranças da Reforma. OUTRAS CONSIDERAÇÕES. A Reforma Protestante provocou na Igreja Católica inúmeras modificações internas, fazendo-a abrir novas ações de serviço, na tentativa de recuperar os povos e regiões que estava perdendo na Europa. A América, descoberta alguns anos antes do início do processo reformador, foi a mais importante área para a expansão do Catolicismo. O objetivo fundamental da Contra Reforma foi a contenção da expansão do protestantismo na Europa. Desse modo, a Igreja Católica reuniu-se na cidade de Trento, no final do ano de 1535, e após muitas hesitações e desentendimentos entre o Papa, bispos e reis, editou um documento contendo as principais medidas que julgava, no momento, necessárias. O Concílio de Trento reforçou o poder do Papa, criou o Índex (relação de livros proibidos à leitura dos cristãos), eliminou a comunhão de ambos os tipos (pão e vinho), mantendo apenas a comunhão do pão. Além disso, obrigou os bispos a residirem em suas sedes, conservou os sete sacramentos, reforçou o Tribunal da Inquisição, afirmou que somente a Igreja poderia interpretar a Sagrada Escritura e fixou regras para a formação e a vida dos padres.
  • 15. 14 A fundação da Companhia de Jesus foi a principal arma utilizada pela Contra Reforma Católica. Essa companhia, fundada pelo nobre militar espanhol Ignácio de Loyola, adotou uma estrutura militar, chegando mesmo a ser conhecida como o Exército de Cristo. Ao contrário das antigas ordens religiosas, não se afastavam do mundo, mas atuavam nele, procurando ter o apoio dos governantes europeus na sua luta contra o Protestantismo, fundando escolas e catequizando os nativos dos novos mundos surgidos com a expansão marítima. Atualmente, o escândalo da pedofilia (envolvimento sexual com crianças) que avassala a Igreja Católica dos Estados Unidos tem sido tratado pelo Vaticano como um acontecimento circunscrito ao excepcionalismo americano, produto de uma comunicação social hostil à Igreja e de uma sociedade dominada por advogados obcecados pela rapina das indenizações. A Igreja Católica não tem nos EUA o poder que tem, por exemplo, na Europa ou na América Latina. Implantada com os imigrantes irlandeses em meados do século 19, a Igreja Católica dos EUA conheceu, ao longo do século 20, um grande desenvolvimento, mas a sua implantação social foi sempre superior à política. Sendo uma igreja que se tem mantido distante das cruzadas mais recentes da política norte-americana, sejam elas a Guerra do Golfo, a política pró-israelita, a luta contra o terrorismo ou a pena de morte, é uma instituição politicamente vulnerável e os seus críticos não deixarão de capitalizar o seu descrédito. O que se passa na igreja norte-americana é a versão dramática de um mal-estar moral e institucional que atravessa todo o mundo católico. O mal-estar se assenta em dois fatores principais. O primeiro é a falência, cada vez mais evidente, de um modelo institucional autoritário e arrogante, que não aceita a efetiva participação da comunidade dos crentes no governo da igreja, da gestão pastoral à gestão financeira; que se assenta no trato secreto dos problemas, principalmente a respeito da má conduta de bispos e padres para tornar possível a combinação de cumplicidade com impunidade. A imposição do celibato, a partir do século 12 e dos Concílios de Latrão, foi motivado pelo medo do Vaticano de que os filhos dos padres viessem a herdar os bens da igreja.
  • 16. 15 Os problemas atuais da Igreja Católica não têm, aparentemente, nada a ver com o sacro negócio da compra e venda de bulas e indulgências, que tanto revoltou Lutero. Mas, no fundo, estamos diante do mesmo abuso de uma posição de autoridade privilegiada, que trafica com a ingenuidade ou a indefensabilidade das pessoas a quem vende Deus para delas receber o corpo e a dignidade. CONCLUSÃO. A Reforma Protestante ocorrida no século XVI foi, na verdade, a oportunidade mais promissora e importante de libertação que ocorreu na Europa Ocidental na época. Consistiu numa resposta dinâmica dada pelo poder do Espírito Santo à situação humana, através do Evangelho que demonstrou o seu poder transformador. Assim, o Cristianismo, muitas vezes feito prisioneiro de estruturas causadoras de falência e desfiguração, foi portador de Boas Novas para o amanhã, recriando as respostas necessárias para os novos desafios. Muitos fatores tornaram a Reforma inevitável. A relutância da Igreja em aceitar as mudanças sugeridas pelos teólogos, líderes conciliares e humanistas e a fixação na tradição e no passado, indiferente às forças dinâmicas de uma nova sociedade emergente, a tornou uma Igreja alienada da realidade. Assim, a Reforma foi para o católico romano apenas como uma revolta de protestantes contra a Igreja de Roma; para os pensadores seculares, um movimento revolucionário, mas para o protestante ela fez com que a vida religiosa voltasse aos padrões do Novo Testamento.
  • 17. 16 Apêndice 1. ALGUMAS DOUTRINAS QUE NÃO TEM APOIO NA BÍBLIA. Ano – Apostasia 310 – Reza pelos Defuntos 320 – Uso de Velas 375 – Culto aos Santos 394 – Instituição da Missa 431 – Culto à Virgem Maria 503 – Doutrina do Purgatório 528 – Extrema Unção 606 – Bonifácio III se declara Bispo Universal “Papa” 709 – Obrigatoriedade de beijar os pés do “Bispo Universal” 754 – Doutrina do Poder Temporal da Igreja 783 – Adoração das Imagens e Relíquias 850 – Uso da Água Benta 890 – Culto a São José (Protodulia) 993 – Canonização dos Santos 1003 – Instituição da Festa dos “Fiéis Defuntos” 1074 – Celibato Sacerdotal 1076 – Dogma da “Infalibilidade da Igreja” 1090 – Invensão do Rosário 1184 – Instituição da “Santa Inquisição” 1190 – Vendas de “Indulgências” 1200 – O Pão na Comunhão foi substituído pela Óstia 1215 – Criou-se a Confissão Auricular 1215 – Dogma da Transubstanciação 1220 – Adoração da Óstia 1229 – Proibição da Leitura da Bíblia 1245 – Uso das Campainhas na Missa 1316 – Instituição da Reza da “Ave Maria” 1415 – Eliminação do Vinho na Comunhão 1546 – Doutrina que Equipara a Tradição com a Bíblia 1546 – Introdução dos Livros Apócrifos 1600 – Invenção do Escapulário (Bentinhos) 1854 – Dogma da Imaculada Conceição de Maria 1864 – Condenação da Separação da Igreja do Estado 1870 – Dogma da Infalibilidade Papal 1908 – Pio X anula qualquer Matrimônio Efetuado sem Sacerdote Romano 1950 – Dogma da “Presença Real e Corporal de Maria no Céu” (Ascenção de Maria)
  • 18. 17 BIBLIOGRAFIA. GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Mundo Cristão, 1994. GONZALES, Justo L. A era dos reformadores. São Paulo: Mundo Cristão, 1983. LATOURETTE, Kenneth Scott. Historia del cristianismo – Tomo 2. 5.ed. El Paso, EUA: Casa Bautista de Publicaciones, 1983. NICHOLS, Robert Hastings. História da igreja cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1979. NÚÑEZ, Emílio Antonio. Herdeiros da Reforma. In: CLADE II. O presente, o futuro e a esperança cristã. São Paulo: ABU, s.d. SHAULL, Richard. A Reforma Protestante e a teologia da libertação. São Paulo: Pendão Real, 1993. WALKER, Williston. História da igreja cristã. São Paulo: ASTE, 1983.