O documento descreve alguns dos principais padres e doutores da Igreja Católica pós-Concílio de Niceia, incluindo João Crisóstomo, Teodoro de Mopsuéstia, Eusébio de Cesareia, Jerônimo, Ambrósio e Agostinho. O documento também discute brevemente a importância do monasticismo e obras importantes de Agostinho como as Confissões e Cidade de Deus.
Vivendo a vontade de Deus para adolescentes - Cleide Silva
História da Igreja I: Aula 7: Desenvolvimento da Igreja Católica
1. Desenvolvimento da Igreja Católica
Pais pós-nicenos, monasticismo e progressos
História Eclesiástica I
Pr. André dos Santos Falcão Nascimento
Blog: http://prfalcao.blogspot.com
Email: goldhawk@globo.com
Seminário Teológico Shalom
2. Pais pós-nicenos do Oriente
João Crisóstomo (c. 347-407) foi assim chamado
por sua eloquência (Crisóstomo – “boca de ouro”).
Filho de uma viúva que não se casou para cuidar de
sua educação, foi aluno do sofista Libânio, amigo
do imperador Juliano. Foi instruído nos clássicos
gregos e na retórica, base de sua oratória.
Exerceu o direito até 368, quando se batizou e se
tornou monge. Passou a seguir um ascetismo
rigoroso após a morte da mãe, em 374, até 380,
quando, com saúde debilitada, deixou o regime
rigoroso. Ordenado em 386, pregou em Antioquia até 398, quando foi feito
patriarca de Constantinopla, ali ficando até ser banido em 404 pela
Imperatriz Eudóxia, denunciada por usar roupas extravagantes e por
colocar uma estátua de prata de si mesma próxima à catedral de Santa
Sofia, onde ele pregava. Acabou morrendo no exílio, em 407.
3. Pais pós-nicenos do Oriente
Sua vida simples de pureza foi, por si só, censura
aos seus paroquianos de Constantinopla, cujo
padrão de vida era altíssimo.
Era educado, amigo e prestativo, mas nem sempre
agia com moderação quando precisava exortar
alguém.
Possivelmente sua qualidade oratória veio de
alguns anos de estudo com Diodoro de Tarso.
Cerca de 640 homilias suas sobreviveram, na maioria exposições das
Epístolas de Paulo. Não conhecia hebraico, motivo pelo qual não fazia
uma investigação crítica do AT, mas sempre buscava o contexto e o
sentido literal dado pelo autor, fazendo aplicações práticas e morais.
4. Pais pós-nicenos do Oriente
Teodoro de Mopsuéstia (c. 350-428) também estudou a
Bíblia com Diodoro de Tarso, conseguida por ser de família
rica.
Ordenado presbítero em 383 e bispo da Mopsuéstia em
392.
Foi considerado o príncipe dos exegetas antigos, opondo-
se ao sistema alegórico de interpretação e propondo uma
compreensão gramatical e histórica do texto, buscando o
sentido autoral. Escreveu comentários sobre livros da Bíblia como Colossenses e
Tessalonicenses, e tanto ele como Crisóstomo enriqueceram a
interpretação da Bíblia no seu tempo, com obras que contrastavam com
as interpretações forçadas da Bíblia geradas pelo método alegórico de
interpretação.
5. Pais pós-nicenos do Oriente
Eusébio de Cesareia (c. 260-340) é um dos
mais estudados pais da Igreja, por conta de
sua História Eclesiástica.
Recebeu instrução de Panfilo em Cesareia,
ajudando o amigo a organizar sua
biblioteca. Ali, serviu-se de literatura tanto
profana quanto sacra para seus estudos.
De espírito refinado e cordato, detestava as querelas
suscitadas pela controvérsia ariana. Formulou um credo que
foi alterado e aceito em Niceia.
6. Pais pós-nicenos do Oriente
Sua maior obra é a História Eclesiástica, panorama da
história da Igreja dos tempos apostólicos a 324.
Pretendia relatar as dificuldades passadas da Igreja,
até seu período de prosperidade nascente.
Útil ainda hoje, por conta do acesso de Eusébio à
biblioteca de Cesareia e aos registros imperiais, tentou
ser objetivo e honesto no uso das fontes primárias de
pesquisa.
Autor também da Crônica, história universal dos tempos de Abraão até
323, e da Vida de Constantino, um apêndice à História que conta a vida
do imperador de forma um tanto laudatória.
Sua obra foi continuada por dois sucessores, Sócrates e Sozômeno, com
o primeiro continuando a história de Constantino de 305 a 439 e o
segundo praticamente plagiando o primeiro, favorecendo o ascetismo.
7. Pais pós-nicenos do Ocidente
Jerônimo (c. 331-420), natural de Veneza, batizado em
360, adotou a vida monástica em Antioquia na década
seguinte, onde aprendeu hebraico.
Em 382, torna-se secretário de Dâmaso, bispo de Roma,
que lhe sugere uma nova tradução da Bíblia. 4 anos
depois, segue para a Palestina, onde, graças à
generosidade de uma rica senhora romana a quem
ensinou hebraico, vive em retiro monástico por 35 anos. Sua grande obra foi a tradução latina da Bíblia, a Vulgata. Antes de 391 já
havia revisado o NT latino, cotejado com o grego. Foi além do grego da
Septuaginta, traduzindo o AT do hebraico, cotejando com os livros
deuterocanônicos, concluindo seu trabalho em 385. Foi, até recentemente, a
Bíblia oficial da Igreja Católica, desde o Concílio de Trento.
Também foi um exímio comentarista, escrevendo muitos trabalhos usados até
hoje. Também escreveu uma obra, De Viris Illustribus, com breves resumos
biográficos de importantes autores cristãos e suas obras.
8. Pais pós-nicenos do Ocidente
Ambrósio (c. 339-397), grande pregador e teólogo,
obteve educação jurídica graças à família procedente
dos altos círculos imperiais de Roma.
Tornou-se governador imperial da região de Milão,
tornando-se bispo após eleição unânime do povo da
cidade. Aceitou o cargo de imediato, vendendo seus
bens, dando-os aos pobres e começando a estudar
intensamente a Bíblia e a teologia. Mostrou-se hábil administrador eclesiástico, usado e capaz, levantando-se
contra poderosas facções arianas e se opondo ao Imperador Teodósio,
interditando seu acesso à Ceia do Senhor enquanto não se humilhasse e se
arrependesse de um atentado contra a população de Tessalônica,
exterminando-a após o governador da cidade ter sido assassinado.
Foi utilizador do método alegórico de interpretação bíblica, sendo um
talentoso pregador em sua cidade. Ali em Milão, foi um instrumento para
alcançar Agostinho, que seria conhecido como um dos maiores teólogos da
igreja. Também foi quem introduziu o cântico de hinos e salmódia antifonal na
9. Pais pós-nicenos do Ocidente
Agostinho (c. 354-430): Filho de oficial romano da cidade
de Tagasta, no norte da África, foi educado por sua mãe,
Mônica, que também se dedicou a introduzi-lo à fé cristã.
Estudou inicialmente na escola local, aprendendo latim à
força de muitos açoites. Odiou tanto o grego que jamais o
aprenderia de forma fluente. Foi enviado posteriormente
para Madaura e depois para Cartago, para estudar
retórica. Sem a influência familiar, entregou-se às paixões humanas unindo-se a
uma concubina. Seu filho, Adeodato, nasceu desta união em 372. Um ano
depois, buscando a verdade, aceitou os ensinos maniqueístas, mas
considerou-os insuficientes, voltando-se à filosofia de Cícero e ao
neoplatonismo. Após ensinar retórica em sua cidade natal e em Cartago,
mudou-se para Milão em 384.
Dois anos depois, aconteceu sua crise de conversão. Meditando num
jardim sobre sua situação espiritual, ouviu uma voz próxima à porta que
10. Pais pós-nicenos do Ocidente
Com sua conversão, resolveu mudar de vida,
separando-se de sua concubina e abandonando sua
profissão na retórica. Sua mãe morreu pouco depois de
seu batismo.
De volta a Cartago, foi ordenado sacerdote em 391 e,
cinco anos depois, foi consagrado bispo de Hipona. Daí
até sua morte, em 430, dedicou-se à administração
episcopal, estudando e escrevendo. É considerado o
maior pai da Igreja, com mais de 100 livros, 500
sermões e 200 cartas.
Escreveu diversas obras de interesse da igreja. Entre elas estão:
Confissões: Obra autobiográfica onde conta sua história de conversão.
Retractaciones: Apresentação de suas obras em ordem cronológica.
De Doctrina Christiana: Obra exegética e de orientação sobre hermenêntica
e ciência da interpretação da Bíblia.
De Trinitate: Obra sobre a Trindade.
Cidade de Deus: Obra apologética.
11. Obras de Agostinho
Confissões: Provavelmente uma das obras autobiográficas mais
conhecidas na história, descreve a vida de Agostinho antes de sua
conversão (Livros I a VII), os eventos em torno de sua conversão (Livro
VIII), os acontecimentos imediatamente posteriores (Livros IX e X) e
comentários aos primeiros capítulos de Gênesis (Livros XI a XIII), com
bastante uso do método alegórico.
Retractaciones: Apresentação de suas obras ao longo do tempo, em
ordem cronológica, demonstrando a alteração de seu pensamento ao
longo dos anos. Na obra, lamenta sua aproximação inicial com a filosofia
pagã, a qual jamais pode levar o homem à verdade como o cristianismo.
Elabora esta oposição melhor na obra Contra Acadêmicos.
De Doctrina Christiana: Breve manual exegético onde demonstra suas
ideias sobre hermenêutica. Desenvolve o grande princípio da analogia da
fé, onde diz que nenhum ensino contrário ao sentido geral da Bíblia pode
12. Obras de Agostinho
Cidade de Deus: Obra máxima de Agostinho, escrita entre 413 e 426, foi
motivada pelo saque de Roma por Alarico, em 410. Os romanos acreditavam
que o desastre havia sido permitido por conta do abandono da velha religião
clássica e adoção do cristianismo como religião oficial do Império (o que
ocorreu em 391). A obra põe-se a responder esta acusação a pedido de seu
amigo, Marcelino.
Os livros I a X constituem a parte apologética da obra.
Livros I a V: A prosperidade do estado independe do velho culto politeísta, pois os
romanos já haviam sofrido catástrofes antes do advento do cristianismo. Também
afirma que o sucesso que tiveram foi pela providência do Deus que ignoravam.
Livros VI a X: O culto aos deuses romanos não é necessário para se conseguir a
bênção eterna, pois eles não ajudam seus devotos no âmbito temporal nem no
espiritual, ao contrário do cristianismo, que pode dar e tem dado bênçãos
espirituais a todos aqueles que o abraçam.
13. Obras de Agostinho
Nos livros XI a XXII, Agostinho escreve uma filosofia da história:
Livros XI a XIV: A origem das duas cidades
Cidade de Deus: Formada por todos os seres humanos e celestiais unidos no
amor a Deus e interessados somente na glória Dele.
Cidade da Terra (ou dos homens): Composta pelos seres que, amando apenas
a si mesmos, procuram sua própria glória e seu próprio bem.
Livros XV a XVIII: Crescimento e progresso das cidades ao longo da história
bíblica e secular.
Livros XIX a XXII: Relato do destino das duas cidades. Os membros da Cidade de
Deus vivem em felicidade eterna e os da Cidade da Terra vivem em castigo e
tormento eternos.
Para Agostinho, a era da Igreja é o milênio e o dualismo das duas cidades é
apenas temporal e tolerado, cessando por um ato de Deus.
A obra não trabalha a questão do lugar dos judeus no futuro.
14. Importância de Agostinho
Formulação de uma interpretação cristã da história.
Deus é senhor da história e nada o limita.
Tudo o que vem a ser é consequência de sua vontade.
Antes mesmo da criação, Deus tinha um plano para ela.
Tal plano é realizado parcialmente no tempo, na luta entre
as duas cidades na terra e depois completada fora da
história, pelo poder sobrenatural de Deus.
A história é universal e unitária, onde todos os homens estão incluídos.
O progresso tem contornos mais morais e espirituais e é resultado do conflito
com o mal, onde o homem pode contar com a graça de Deus ao seu lado.
Teologia considerada precursora do protestantismo, por sua ênfase na
salvação do pecado original como resultado da graça de Deus que salva
irresistivelmente os que elegeu.
15. Questões sobre Agostinho
Ênfase sobre a Igreja como instituição visível, com
credos, sacramentos e ministério verdadeiros, faz dele,
na visão católica, o Pai da Eclesiologia romana, apesar
de ter escrito para combater pelagianos e donatistas.
Contribuiu para a formulação da doutrina do purgatório.
Enfatizou por demais o valor dos dois sacramentos,
levando à visão da doutrina da regeneração batismal e
da graça sacramental. Sua interpretação do milênio, que ele via como o período entre a
Encarnação e a Segunda Vinda de Cristo, em que a Igreja venceria o
mundo, gerou o ensino romano sobre a Igreja de Roma como a Igreja
universal destinada a agrupar todos dentro de seu aprisco, além da visão
pós-milenista do fim dos tempos.
16. Monasticismo
Monasticismo é o nome que se dá à prática de
isolamento social por parte de alguns devotos,
que desejam se aproximar mais de Deus
afastando-se dos males do mundo e da
degradação da sociedade que os envolve.
As pessoas que aderem a este estilo de vida geralmente buscam um
espaço isolado das distrações do mundo para viver uma vida
contemplativa e/ou de serviço à comunidade.
Envolve, em geral, um ascetismo (vida afastada do pecado, dos prazeres
da carne e dos confortos do mundo) rigoroso, um afastamento para áreas
remotas e de difícil acesso.
Possuiu algumas eras áureas, como no final do século VI, com a regra
beneditina, sécs. X e XI com as reformas monásticas, séc. XIII com a era
17. Causas do monasticismo
Doutrina dualista sobre carne e espírito,
característica do Oriente, levava os cristãos a
considerarem a fuga do mundo como uma
opção para crucificar a carne e desenvolver a
vida espiritual pela meditação e pela ascese.
Apoio aparente de alguns textos bíblicos, como 1 Co. 7, levando pais da
Igreja como Orígenes, Cipriano, Tertuliano e Jerônimo a ver o celibato
como a interpretação correta do texto e algo a ser almejado.
Tendências psicológicas de fuga de condições adversas da vida,
causadas por eras de desordem civil, como as crises no Império do final
do séc. I ao final do séc. III. O desejo pelo martírio, após as perseguições,
também podia ser satisfeito com uma mortificação da carne nos mosteiros.
Forma mais individualista de se aproximar de Deus, contrário à adoração
coletiva e formal da época.
18. Causas do monasticismo
Invasões bárbaras e conversões em massa
destas populações levaram à entrada de
práticas semipagãs para a Igreja, gerando a
revolta de várias pessoas.
Decadência moral da alta sociedade.
Clima quente e seco do Egito favoreceu a opção pela vida monástica
primitiva, com as pessoas isolando-se da sociedade para viverem em
cavernas ou regiões afastadas junto ao Nilo, onde poderiam ter acesso a
alimentos.
Proximidade do cenário desolado e inóspito do deserto favorecia e
estimulava a meditação.
19. Evolução do monasticismo - Oriente
Oriente: Antônio (c. 250-c.356): Geralmente visto como fundador do
monasticismo, aos vinte anos, vendeu seus bens, deu o dinheiro aos pobres
e se retirou a uma caverna solitária no Egito, para meditação. Sua vida de
santidade deu-lhe tamanha reputação que outros passaram a viver perto
dele em outras cavernas. Não houve formação de comunidade, cada um
praticava sua ascese dentro de sua própria caverna.
Nem todos os monges eremitas eram equilibrados como Antônio. Simeão
Estilista (c. 390-459) viveu enterrado até o pescoço por vários meses, antes
de tentar alcançar a santidade sentando-se numa estaca. Passou mais de
30 anos no topo de uma coluna de dezoito metros perto de Antioquia. Outros
pastavam no campo como bois. Um certo Amom conseguiu certa fama de
santidade por não se despir ou tomar banho após ter se tornado monge.
Outro andou nu nas proximidades do Monte Sinai por 50 anos.
20. Evolução do monasticismo - Oriente
Pacômio (290-346) foi considerado o fundador do monasticismo cenobítico,
ou coletivo. Soldado desertor, depois de viver 12 anos como Eremita,
organizou o primeiro mosteiro por volta de 320, em Tabennisi, na margem
direita do Nilo. Logo, sete mil monges estavam sob sua liderança direta no
Egito e na Síria. Os pontos-chave da organização eram simplicidade de vida,
trabalho, devoção e obediência.
Basílio de Cesareia (c. 330-379) popularizou a organização monástica
comunitária. Recebeu excelente educação em Atenas e Constantinopla. Aos
27 anos, trocou as conquistas do mundo pela vida ascética. Feito bispo de
uma enorme região na Capadócia, em 370, permaneceu no posto até
morrer. Tornou o espírito monástico mais útil e social, solicitando que os
membros de sua ordem trabalhassem, orassem, lessem a Bíblia e
praticassem boas obras. Desencorajou o ascetismo extremado. Seu
movimento chegou a ter perto de 100 mosteiros na Europa, na época da
21. Evolução do monasticismo - Ocidente
O clima mais frio tornou a organização comunal inevitável para que os
monges pudessem ter abrigo e alimento com a chegada do inverno. Tomou
também uma direção mais prática, rejeitando o ócio e deplorando atos
meramente ascéticos. Trabalho e devoção eram enfatizados.
Atanásio provavelmente foi o responsável pela introdução do monasticismo
no Ocidente. Publicou uma obra sobre a vida de Antônio e conheceu o
movimento em um de seus exílios periódicos em Constantinopla.
O retorno de peregrinos que se dirigiam à Palestina e tiveram contato com o
movimento em Constantinopla e na Síria também se interessaram pelo estilo
de vida monástico.
Martinho de Tours, Jerônimo, Agostinho e Ambrósio escreveram em favor do
monasticismo, popularizando-o no Império Romano. Os escritos de
Jerônimo sobre o ascetismo foram considerados próximos em importância à
22. Evolução do monasticismo - Ocidente
O líder do movimento na Igreja Ocidental foi Bento de
Núrsia (c. 480-543).
Chocado com a vida pecaminosa em Roma, retirou-se para
viver como eremita em uma caverna nas montanhas
orientais de Roma, por volta de 500.
Em 529, funda o mosteiro de Monte Cassino, que
permaneceu em atividade até a Segunda Guerra Mundial
Criou uma regra de conduta para o mosteiro, baseado em organização,
trabalho e culto, que orientou vários mosteiros sob sua liderança. Cada
mosteiro era autossuficiente e autodirigido.
Dia era dividido em períodos onde leitura, adoração e trabalho tinham papel
importante. Era previsto pouca alimentação aos monges, mas permitia
fartura de peixe, azeite, manteiga, pão, vegetais e frutas.
Três votos deveriam ser seguidos: Pobreza, castidade e obediência.
23. Avaliação do monasticismo
Implantação e desenvolvimento de técnicas de agricultura, repassando a
tecnologia aos agricultores do entorno dos mosteiros. Os monges tinham por
costume limpar florestas, drenar pântanos, abrir estradas e cultivas
sementes e viveiros.
Mantiveram a erudição no Ocidente com o término da vida urbana entre 500
e 1000 com a tomada do Império Romano pelos bárbaros. Suas escolas
proporcionavam educação de nível superior aos vizinhos. Ali também se
copiavam manuscritos precisos, ajudando a preservá-los.
Elaboraram obras históricas que ajudaram a preservar os fatos que
aconteceram no período.
Fontes de missionários da Igreja medieval (em especial na Bretanha),
enviados para formar novos mosteiros para se tornar centros de propagação
do evangelho a povos inalcançados. Columba e Aidano eram monges que
24. Avaliação do monasticismo
Refúgio para os que se isolavam e precisavam de ajuda ou hospitalidade.
Peregrinos e viajantes podiam receber abrigo e alimento no albergue dos
mosteiros.
Isolamento de grandes homens e mulheres do Império fizeram com que o
mundo perdesse acesso a sua contribuição.
Criação de padrões de moralidade distintos para os monges (celibato) e
para o homem comum.
Arrogância espiritual, com monges que se orgulhavam de seus atos
ascéticos, realizados em benefício de suas próprias almas.
Acumulação de riquezas por parte dos mosteiros (devido a parcimônia
comunitária e propriedade comum) geraram ócio, avareza e glutonaria em
alguns mosteiros.
Hierarquização da igreja, com monges devendo obediência a seus
25. Desenvolvimentos eclesiásticos
Predominância do bispo romano: Até 313, o bispo de Roma era considerado
apenas um dos muitos iguais entre si em posição, autoridade e função.
A partir desta época, até 590, começou-se a se reconhecer o bispo de Roma
como o primeiro entre iguais.
Com a ascensão de Leão I ao trono episcopal em 440, porém, o bispo
romano começou a reivindicar a supremacia sobre os demais bispos.
A motivação era supostamente melhorar a centralização do poder e a
guarda da ortodoxia, porém muitos bispos da época eram homens jovens
que desejavam o poder.
O fato de Roma ser o centro tradicional de autoridade para o mundo romano
e a maior cidade do Ocidente ajudou tal visão.
A transferência da capital do Império para Constantinopla em 330 também
facilitou, pois o centro de gravidade política migrou e deixou o bispo romano
26. Predominância do bispo de Roma
As circunstâncias que se seguiram ajudaram a fortalecer a imagem do bispo
de Roma:
Saque de Roma em 410 por Alarico: A cidade foi poupada do incêndio por conta
da hábil diplomacia de Inocêncio I.
Queda do Império do Ocidente em 476 levou o povo de Roma a aceitar o bispo
romano como seu líder político e espiritual.
Associação de Paulo e Pedro a Roma em seu martírio ajudou na propagação da
importância da cidade.
A teoria da supremacia petrina, baseada em Mateus 16.16-18, era amplamente
aceita em 590. Esta teoria afirmava que Pedro recebeu a primogenitura
eclesiástica sobre seus companheiros, sendo que sua posição superior passou
dele aos seus sucessores, os bispos de Roma, por sucessão apostólica. O
primeiro a usar tais textos para requerer tal benefício foi Estêvão I, em 250.
27. Predominância do bispo de Roma
As circunstâncias que se seguiram ajudaram a fortalecer a imagem do bispo
de Roma:
Grandes teólogos como Cipriano, Tertuliano e Agostinho se destacaram no
Ocidente e estiveram sob a liderança do bispo de Roma.
Isenção do Ocidente de grandes controvérsias teológicas, ao contrário do Oriente.
Dos cinco grandes líderes eclesiásticos metropolitanos, apenas o patriarca de
Constantinopla e o bispo de Roma viviam em cidades de importância mundial em
590. O bispo de Jerusalém perdera seu prestígio com a rebelião judaica do séc. II
e Alexandria e Antioquia decaíram com o tempo, chegando ao extermínio com as
invasões islâmicas do séc. VII.
Reconhecimento da primazia da sé romana em 381, no Concílio de
Constantinopla, com o patriarca de Constantinopla recebendo primazia “logo
depois” do bispo romano.
Reconhecimento da supremacia do bispo de Roma pelo Imperador Valentiniano
III, em 445, tornando “lei para todos” o que ele estabelecesse.
28. Predominância do bispo de Roma
Os bispos que fomentaram tal visão foram:
Dâmaso I (366-384): Possivelmente primeiro bispo de Roma a descrever sua
diocese como “sé apostólica”. Jerônimo, tradutor da Bíblia para o latim a pedido de
Dâmaso, apoiou-o numa carta onde afirma categoricamente que a cadeira de
Pedro é a rocha sobre a qual a Igreja foi construída.
Leão I (440-461): Chamado de “O Grande” por sua capacidade, usou muito o título
papas, de onde vem o termo papa. Convenceu Átila, o Huno, a deixar Roma em
452, e Genserico e seus seguidores vândalos a pouparem a cidade do fogo e da
pilhagem, fazendo ele ser visto como o salvador da cidade. Teve sua importância
destacada ainda mais com o edito de Valentiniano III. Insistiu que as apelações
das cortes eclesiásticas fossem enviadas para sua corte e que suas decisões
seriam definitivas. Definiu a ortodoxia em seu Tome e escreveu contra a heresia
maniqueísta e donatista.
Gelásio I (492-496): Disse que Deus dera ao papa e ao rei os poderes sacro e
régio. Como o papa teria que prestar contas a Deus pelo rei no dia do julgamento,
29. Progresso da liturgia
Adoção de imagens: O afluxo de bárbaros à igreja, acostumados aos cultos
às imagens, fez com que muitos líderes eclesiásticos entendessem ser
necessário materializar a liturgia para tornar Deus mais acessível. A
veneração de anjos, santos, relíquias, imagens e estátuas foi a
consequência lógica.
Hierarquia monárquica: Intimidade com o Império determinou uma mudança
no culto, de uma forma democrática simples a outra mais aristocrática e
colorida, gerando uma clara distinção entre clero e laicato.
Domingo: Dia principal do calendário eclesiástico, após Constantino
estabelecer que seria um dia de culto cívico e religioso.
Natal: Festa com prática regular a partir de meados do séc. IV, adotando-se
a data de dezembro originalmente usada pelos pagãos.
Festa da Epifania: Comemoração à visita dos magos a Cristo também entrou
30. Progresso da liturgia - sacramentos
Expansão do calendário: Com acréscimos ao ano sacro judaico de
narrativas dos evangelhos e da vida dos mártires propiciou uma expansão
constante do número de dias santos no calendário.
Aumento de cerimônias com funções sacramentais:
Casamento: Apoiado por Agostinho.
Penitência: Apoiada por Cipriano.
Ordenação: Necessária por conta da separação clero-laicato.
Confirmação e extrema-unção: Por volta de 400.
Batismo: Função sacramental devida à teoria do pecado original de Agostinho,
aumenta a importância do batismo infantil. Tertuliano e Cipriano, porém,
consideravam um fato aceito já no séc. III.
Ceia do Senhor: Cipriano entendia que o sacerdote agia no lugar de Cristo na
Ceia e oferecia “um sacrifício verdadeiro e pleno a Deus, o Pai”. O Cânone da
Missa, alterado profundamente por Gregório I, destacava a natureza sacrificial do
31. Progresso da liturgia – Veneração a Maria
Veneração a Maria: Desenvolve-se rapidamente por volta de 590, levando à
adoção das doutrinas de sua imaculada conceição, em 1854, e de sua
assunção miraculosa aos céus, em 1950. A aceitação dela como “Mãe de
Deus” por conta da controvérsia nestoriana e outras a partir do séc. IV
deram a ela um lugar de honra especial na liturgia.
Virgindade eterna de Maria: Teoria adotada por Clemente, Jerônimo e
Tertuliano. Agostinho entendia que a mãe do Cristo sem pecado jamais
cometera pecado. O monasticismo, com sua ênfase à virgindade, acentuou
seu valor. A posição elevada de Maria na liturgia como mãe de Cristo
transformou-se em crença em seus poderes intercessórios, por se pensar
que o Filho ficaria alegre por ouvir os pedidos de sua mãe.
Oração de Efraim Sírio (antes de 400): Primeira invocação formal a Maria.
Em meados do séc. V, foi colocada como a principal de todos os santos.
Festas ligadas ao seu nome brotaram no séc. V. No séc. VI, Justiniano pediu
32. Progresso da liturgia – veneração aos santos
Veneração aos santos: Surgiu do desejo natural da Igreja em honrar os que
tinham sido mártires na época da perseguição estatal. Além disso, os
pagãos estavam acostumados à veneração de seus heróis. Com sua
entrada na igreja, pareceu natural substituir seus heróis pelos santos e lhes
dar honras de semidivindades.
Até 300, a celebração em túmulos era apenas orações pelo descanso da
alma do santo. Em 590, a oração por eles havia se tornado oração a Deus
por intermédio deles. Igrejas e capelas foram construídas sobre esses
túmulos e festas foram organizadas em sua honra. O comércio de relíquias,
como cadáveres, dentes, cabelos ou ossos, tornou-se um problema tão
grave que foi proibido em 381.
O uso de imagens e esculturas no culto rapidamente se propagou conforme
mais bárbaros entraram na Igreja. Tinham função educativa e decorativa. Os
Pais da Igreja tentaram distinguir a devoção a tais imagens, parte da liturgia,
33. Progresso da liturgia
Ações de graças e procissões de penitência: Parte do culto a partir de 313.
Peregrinações, primeiro a Palestina e depois a tumbas de santos famosos,
também se tornam comuns. Helena, mãe de Constantino, chegou a afirmar
ter encontrado a verdadeira cruz em uma visita à Palestina, em 326.
Construção de templos: Com a ajuda do governo e liberdade de culto, os
cristãos usaram a arquitetura das basílicas romanas. As basílicas são
construções grandes retangulares em forma de cruz, com um pórtico na
parte ocidental para os não-batizados, uma nave para os batizados e uma
capela na parte oriental onde o coro, os sacerdotes e o bispo participavam
do culto. Essa capela geralmente era separada da nave por um biombo de
ferro.
O cântico na igreja era regido por um líder a quem o povo respondia. O
cântico antifonal, onde dois coros separados cantam alternadamente,
34. Fontes
Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma
história da igreja cristã. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar
Kroker. São Paulo: Vida Nova, 2008.
Textos auxiliares:
DREHER, Martin N. Coleção História da Igreja, 4 vols. 4 ed. São Leopoldo:
Sinodal, 1996.
GONZALEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo. 10 vols. São Paulo:
Vida Nova, 1983