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OITICICA, Hélio (1937-80). Nascido e falecido no Rio de Janeiro. Estudou com Ivan Serpa
após 1954, e entre esse ano e 1956 integrou o Grupo Frente, aderindo posteriormente ao
Movimento Neoconcreto e tomando parte nas mostras realizadas entre 1959 e 1961 no Rio de
Janeiro, Salvador e São Paulo. Integrou também a representação do Brasil na exposição
internacional de arte concreta realizada em 1960 em Zurique, na Suíça, e esteve presente nas
coletivas de vanguarda Opinião 65 e Opinião 66, Nova Objetividade Brasileira e Vanguarda
Brasileira, realizadas entre 1965 e 1967 no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, expondo ainda
na Bienal de São Paulo (1957, 1959 e 1965) e na da Bahia (1966).

Até 1959 Oiticica ainda se conservou fiel aos veículos e suportes tradicionais da pintura.
Reduziam-se seus quadros de então a efeitos cromáticos e de textura obtidos unicamente com
a aplicação de branco, e revelavam um ascetismo que o desenvolvimento posterior de seu
trabalho iria desmistificar. Nesses primeiros quadros via-se já muito nítida a tendência do artista
a superar o plano bidimensional, pela utilização da cor com evidentes intenções espaciais.
Abandonando o quadro e adotado o relevo, bem cedo incursionaria Hélio por novos domínios,
criando seus núcleos e penetráveis, para chegar em seguida à arte ambiental, em que melhor
daria vazas a seu temperamento lúdico e hedonista. Ou, como escreveu Mário Pedrosa:

- Tendo partido naturalmente da gratuidade dos valores plásticos, já hoje rara entre os artistas
vanguardeiros atuais, se mantém fiel àqueles valores, pelo rigor estrutural de seus objetos, o
disciplinamento das formas, a suntuosidade das cores e combinações de materiais, pela
pureza em suma de suas confecções. Ele quer tudo belo, impecavelmente puro e
intratavelmente precioso, como um Matisse no esplendor de sua arte de "luxo, calma e
voluptuosidade". Baudelaire das Flores do Male, talvez o padrinho longínquo desse
adolescente aristocrático, passista da Mangueira (sem contudo o senso cristão do pecado do
poeta maldito). O aprendizado concretista quase o impedia de alcançar o estágio primaveril,
ingênuo da experiência primeira. Sua expressão toma um caráter extremamente individualista
e, ao mesmo tempo, vai até à pura exaltação sensorial, sem alcançar no entanto o sólio
propriamente psíquico, onde se dá a passagem à imagem, ao signo, à emoção, à consciência.
Ele cortou cerce essa passagem. Mas seu comportamento subitamente mudou: um dia, deixa
sua torre de marfim, seu estúdio, e integra-se na Estação Primeira, onde fez sua iniciação
popular dolorosa e grave, aos pés do Morro da Mangueira, mito carioca. Ao entregar-se, então,
a um verdadeiro rito de iniciação, carregou, entretanto, consigo para o samba da Mangueira e
adjacências onde a barra é constantemente pesada, seu impenitente inconformismo estético.

Surgem assim, de 1965 em diante, suas manifestações ambientais, com capas, estandartes,
tendas (parangolés), uma sala de sinuca (1966), Tropicália (1967, um jardim com pássaros
vivos entre plantas, lado a lado com poemas-objetos), Apocalipopótese (1968, reunindo várias
manifestações de outros artistas, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro), etc. Todas essas
experiências serão objeto de importante exposição efetuada em 1969 na Whitechapel Gallery,
de Londres - no seu dizer, "uma experiência ambiental (sensorial) limite". Com sagacidade, diz
então o crítico britânico Charles Spencer:

- O dado básico da obra de Oiticica é a impermanência - ele não a trouxe para a Galeria
Whitechapel, nem dali a retirará: fazê-la foi a sua experiência, a nós transmitida.

Em setembro de 1971, de Nova York onde se fixara, o próprio Hélio Oiticica, em texto difundido
na imprensa carioca, assim se expressava:

- Se há gente interessada em minha obra anterior, melhor, mas não vou expô-la ou ficar
repetindo ad infinitum as mesmas coisas; não estou aqui para fazer retrospectivas, como um
artista acabado; estou no início de algo maior; quem não entender que se dane; procurem-se
informar melhor e respeitar idéias e trabalho feito.

E pouco adiante:

- Minhas experiências têm mais a ver hoje com o circo do que com promotores de arte; não
estou a fim de alegrar burguesias interessadas em arte. São uns chatos, além das conhecidas
qualidades reacionárias; portanto, basta. Essas experiências mencionadas acima, foram
sempre assumidas, por mim, como autênticas experiências (manifestações ambientais,
sensoriais, participação pública, etc.), não como "uma exposição a mais", o que parece ser a
preocupação da maioria de artistas aí, aqui, alhures, e com os quais nada quero ter a ver: são
entediantes, não muito brilhantes, sem qualquer compromisso com idéias mais profundas ou
limite. Pensam que estou brincando quando digo que a pintura acabou; quando durante dez
anos (só um louco!) não falo em outra coisa; minha própria obra (desconhecida no Brasil,
praticamente; não sei que interesse possa causar; moda hearsay, alienação característica
local), é o caminho duro dessa desintegração; não faço "vestimenta de vanguarda", como
muitos, para esconder idéias conservadoras: não me calo, também, esperando um
"reconhecimento futuro": estou vivo, falando. Quem não souber o que digo, que se cale e não
encha o saco; me esqueça; eu não existo.

Hélio Oiticica, que em 1970 tomou parte em Nova Iorque na mostra Information, organizada
pelo MOMA, recebendo nesse mesmo ano bolsa de estudo da Fundação Guggenheim, viveu
nos Estados Unidos até 1978, quando regressou ao Brasil e de novo se fixou no Rio de
Janeiro, iniciando então a última fase de sua breve carreira. Em 1981, um ano apenas após
sua morte, seus irmãos Cesar e Cláudio criaram o Projeto Hélio Oiticica, destinado a preservar
material e conceitualmente a obra do artista de quem a Galeria São Paulo, em 1986, levou a
cabo importante exposição intitulada O q faço é Música, cujo título retoma um texto de sua
autoria:

- Descobri que o que faço é MÚSICA e que MÚSICA não é "uma das artes" mas a síntese da
conseqüência da descoberta do corpo.

Nos últimos anos, a nível inclusive internacional, a importância de Hélio Oiticica como artista
seminal dos novos desdobramentos da arte ocidental de fins do século e do milênio tem sido
posta em destaque através de exposições itinerantes realizadas entre 1992 e 1994 em Paris,
Roterdã, Barcelona, Lisboa e Mineápolis, sala especial na Bienal de São Paulo em 1994 e
participação nas Bienais de 1996 e 1998 etc. Por fim, ressalte-se a criação no Rio de Janeiro,
em 1996, do Centro de Artes Hélio Oiticica.

                                Metaesquema I, guache, 1958;
                     0,52 X 0,64, Museu de Arte Contemporânea da USP.

                                   Parangolé, tecidos, 1964;
                            1,50 X 1,10 X 0,20, Projeto Oiticica, RJ.

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Hélio Oiticica biografia

  • 1. OITICICA, Hélio (1937-80). Nascido e falecido no Rio de Janeiro. Estudou com Ivan Serpa após 1954, e entre esse ano e 1956 integrou o Grupo Frente, aderindo posteriormente ao Movimento Neoconcreto e tomando parte nas mostras realizadas entre 1959 e 1961 no Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Integrou também a representação do Brasil na exposição internacional de arte concreta realizada em 1960 em Zurique, na Suíça, e esteve presente nas coletivas de vanguarda Opinião 65 e Opinião 66, Nova Objetividade Brasileira e Vanguarda Brasileira, realizadas entre 1965 e 1967 no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, expondo ainda na Bienal de São Paulo (1957, 1959 e 1965) e na da Bahia (1966). Até 1959 Oiticica ainda se conservou fiel aos veículos e suportes tradicionais da pintura. Reduziam-se seus quadros de então a efeitos cromáticos e de textura obtidos unicamente com a aplicação de branco, e revelavam um ascetismo que o desenvolvimento posterior de seu trabalho iria desmistificar. Nesses primeiros quadros via-se já muito nítida a tendência do artista a superar o plano bidimensional, pela utilização da cor com evidentes intenções espaciais. Abandonando o quadro e adotado o relevo, bem cedo incursionaria Hélio por novos domínios, criando seus núcleos e penetráveis, para chegar em seguida à arte ambiental, em que melhor daria vazas a seu temperamento lúdico e hedonista. Ou, como escreveu Mário Pedrosa: - Tendo partido naturalmente da gratuidade dos valores plásticos, já hoje rara entre os artistas vanguardeiros atuais, se mantém fiel àqueles valores, pelo rigor estrutural de seus objetos, o disciplinamento das formas, a suntuosidade das cores e combinações de materiais, pela pureza em suma de suas confecções. Ele quer tudo belo, impecavelmente puro e intratavelmente precioso, como um Matisse no esplendor de sua arte de "luxo, calma e voluptuosidade". Baudelaire das Flores do Male, talvez o padrinho longínquo desse adolescente aristocrático, passista da Mangueira (sem contudo o senso cristão do pecado do poeta maldito). O aprendizado concretista quase o impedia de alcançar o estágio primaveril, ingênuo da experiência primeira. Sua expressão toma um caráter extremamente individualista e, ao mesmo tempo, vai até à pura exaltação sensorial, sem alcançar no entanto o sólio propriamente psíquico, onde se dá a passagem à imagem, ao signo, à emoção, à consciência. Ele cortou cerce essa passagem. Mas seu comportamento subitamente mudou: um dia, deixa sua torre de marfim, seu estúdio, e integra-se na Estação Primeira, onde fez sua iniciação popular dolorosa e grave, aos pés do Morro da Mangueira, mito carioca. Ao entregar-se, então, a um verdadeiro rito de iniciação, carregou, entretanto, consigo para o samba da Mangueira e adjacências onde a barra é constantemente pesada, seu impenitente inconformismo estético. Surgem assim, de 1965 em diante, suas manifestações ambientais, com capas, estandartes, tendas (parangolés), uma sala de sinuca (1966), Tropicália (1967, um jardim com pássaros vivos entre plantas, lado a lado com poemas-objetos), Apocalipopótese (1968, reunindo várias manifestações de outros artistas, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro), etc. Todas essas experiências serão objeto de importante exposição efetuada em 1969 na Whitechapel Gallery, de Londres - no seu dizer, "uma experiência ambiental (sensorial) limite". Com sagacidade, diz então o crítico britânico Charles Spencer: - O dado básico da obra de Oiticica é a impermanência - ele não a trouxe para a Galeria Whitechapel, nem dali a retirará: fazê-la foi a sua experiência, a nós transmitida. Em setembro de 1971, de Nova York onde se fixara, o próprio Hélio Oiticica, em texto difundido na imprensa carioca, assim se expressava: - Se há gente interessada em minha obra anterior, melhor, mas não vou expô-la ou ficar repetindo ad infinitum as mesmas coisas; não estou aqui para fazer retrospectivas, como um artista acabado; estou no início de algo maior; quem não entender que se dane; procurem-se informar melhor e respeitar idéias e trabalho feito. E pouco adiante: - Minhas experiências têm mais a ver hoje com o circo do que com promotores de arte; não estou a fim de alegrar burguesias interessadas em arte. São uns chatos, além das conhecidas qualidades reacionárias; portanto, basta. Essas experiências mencionadas acima, foram
  • 2. sempre assumidas, por mim, como autênticas experiências (manifestações ambientais, sensoriais, participação pública, etc.), não como "uma exposição a mais", o que parece ser a preocupação da maioria de artistas aí, aqui, alhures, e com os quais nada quero ter a ver: são entediantes, não muito brilhantes, sem qualquer compromisso com idéias mais profundas ou limite. Pensam que estou brincando quando digo que a pintura acabou; quando durante dez anos (só um louco!) não falo em outra coisa; minha própria obra (desconhecida no Brasil, praticamente; não sei que interesse possa causar; moda hearsay, alienação característica local), é o caminho duro dessa desintegração; não faço "vestimenta de vanguarda", como muitos, para esconder idéias conservadoras: não me calo, também, esperando um "reconhecimento futuro": estou vivo, falando. Quem não souber o que digo, que se cale e não encha o saco; me esqueça; eu não existo. Hélio Oiticica, que em 1970 tomou parte em Nova Iorque na mostra Information, organizada pelo MOMA, recebendo nesse mesmo ano bolsa de estudo da Fundação Guggenheim, viveu nos Estados Unidos até 1978, quando regressou ao Brasil e de novo se fixou no Rio de Janeiro, iniciando então a última fase de sua breve carreira. Em 1981, um ano apenas após sua morte, seus irmãos Cesar e Cláudio criaram o Projeto Hélio Oiticica, destinado a preservar material e conceitualmente a obra do artista de quem a Galeria São Paulo, em 1986, levou a cabo importante exposição intitulada O q faço é Música, cujo título retoma um texto de sua autoria: - Descobri que o que faço é MÚSICA e que MÚSICA não é "uma das artes" mas a síntese da conseqüência da descoberta do corpo. Nos últimos anos, a nível inclusive internacional, a importância de Hélio Oiticica como artista seminal dos novos desdobramentos da arte ocidental de fins do século e do milênio tem sido posta em destaque através de exposições itinerantes realizadas entre 1992 e 1994 em Paris, Roterdã, Barcelona, Lisboa e Mineápolis, sala especial na Bienal de São Paulo em 1994 e participação nas Bienais de 1996 e 1998 etc. Por fim, ressalte-se a criação no Rio de Janeiro, em 1996, do Centro de Artes Hélio Oiticica. Metaesquema I, guache, 1958; 0,52 X 0,64, Museu de Arte Contemporânea da USP. Parangolé, tecidos, 1964; 1,50 X 1,10 X 0,20, Projeto Oiticica, RJ.