1. BARROS, Geraldo de (1923-1998). Nascido em Xavantes (SP) e falecido em São Paulo.
Realizou seus estudos de 1945 a 1947 com Clóvis Graciano, Colette Pujol e Takaoka, obtendo
já nesse último ano menção honrosa na Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes.
Também em 1947 funda, juntamente com Ataíde de Barros, Antonio Carelli, Takaoka e outros o
Grupo dos 15. Passando a se dedicar logo em seguida à gravura e à fotografia, organiza em
1949 o Laboratório de Fotografia do Museu de Arte de São Paulo, onde no ano seguinte
exporia suas fotoformas, fotografias experimentais abstratas. Com bolsa do Governo Francês
viaja em 1951 para Paris, estudando litografia na École des Beaux Arts e gravura em metal no
ateliê de Hayter. Espichando a viagem até Ulm, na Hochschule für Gestaltung estuda artes
gráficas com Otl Aicher e trava conhecimento com Max Bill. No regresso ao Brasil, em 1952,
torna-se um dos fundadores do Grupo Ruptura, cujo manifesto assina e de cuja exposição
participa. No ano seguinte obtém primeiro prêmio no concurso de cartazes do IV Centenário de
São Paulo e, ao lado de Alexandre Wollner, os primeiros prêmios nos concursos de cartazes do
Festival Internacional de Cinema e da Revoada Internacional. Na Bienal de Veneza de 1956
recebe prêmio de aquisição. No mesmo ano participa no MAM-SP da I Exposição Nacional de
Arte Concreta, e em 1960 estaria presente na mostra Arte Concreta - 50 Anos de
Desenvolvimento realizada em Zurique, na Suíça. Foi também um dos fundadores, em 1966,
do Grupo Rex, que iniciou em São Paulo as exposições de rua.
Criador em 1954 da cooperativa Unilabor, destinada à produção de móveis, em 1959 da
Forminform (de criação de marcas e logotipos) e em 1964 da Hobjeto Móveis, suas atividades
de bem-sucedido empresário e designer desviaram-no por longos anos das puramente
artísticas, às quais contudo retornou em 1965, produzindo então trabalhos figurativos dentro de
uma linguagem Pop. Em 1977 o Museu de Arte de São Paulo realizou exposição de suas
pinturas realizadas entre 1964 e 1976, ocasião em que Radha Abramo enfatizou como
preocupação básica do artista a massa anônima, acrescentando: "Todo o seu trabalho é
multiplicável e encerra evidentemente uma filosofia e um comprometimento social. A criação do
cartaz, da foto e do design envolve o objetivo da seriação, distribuição e consumo em larga
escala".
O artista realizou a primeira individual em 1952, no MAM-SP; tornaria a expor outras vezes em
São Paulo, bem como no Rio de Janeiro e em Zurique, Campinas e Lausanne, destacando-se
a exposição de 1990 no MAM-RJ (Jogo de Dados) e a retrospectiva de 1993 na Casa das
Rosas, em São Paulo; também participou de importantes coletivas, como - fora as já
mencionadas - as I, II, III, IX, XIV, XV e XXI Bienais de São Paulo, o Salão Paulista de Arte
Moderna (1956), Arte Moderno en Brasil ( Buenos Aires, Santiago e Lima, 1957), Do
Modernismo à Bienal (MAM-SP, 1982), Tradição e Ruptura (MASP, 1984), Bienal Brasil Século
XX (São Paulo, 1994) e Arte Construtiva no Brasil - Coleção Adolpho Leirner (MAM-SP, 1998).
Talvez a melhor análise de sua posição no panorama da arte construtiva brasileira e
internacional deva-se ao poeta e teórico alemão Eugen Gomriger em texto de apresentação no
catálogo da exposição de 1987 na Galeria Tschudi Glarus, de Zurique:
- Geraldo de Barros pertence desde 1952 ao movimento da arte concreta brasileiro, fazendo
parte do núcleo sul-americano desse movimento. Em ligação com poetas e com a revista
Noigandres - com papel semelhante à revista Spirale em Berna - surgiu o movimento de
vanguarda dos anos cinqüenta: a nova geração da arte concreta e da poesia concreta. Na
Alemanha encontrou o movimento brasileiro recepção entusiástica. Max Bense, em Stuttgart,
fundador da nova estética baseada na Teoria da Informação, celebrou de forma entusiástica a
intelectualidade brasileira. Dessa forma está situada a orígem intelectual de Geraldo de Barros:
estamos frente a uma pessoa com parentesco artístico, que certamente encontrará na Suíça
antigos amigos e fará novos. Geraldo de Barros é na verdade um concreto especial, na medida
em que - como Max Bill - não limitou sua criatividade apenas à pintura, vinculando-a ao
desenho industrial, à comunicação visual e à fotografia. Sua preocupação é, de forma
conseqüente, não a de pintar uma tela à maneira construtivista, mas antes de alcançar uma
comunicação geral. Trata-se de prouzir uma linguagem objetiva, que possa ser reproduzida em
distintos campos. Cerne espritual, agente central ou idéia central dessa produção é o conceito
de Gestalt, que não pode ser traduzido, tornando-se por isso uma mercadoria de exportação,
cuja orígem encontra-se ligada à lingua alemã. Os dois conceitos, de Gestalt por um lado e de
linguagem objetiva do design por outro, formam a base que orienta os trabalhos de Geraldo de
Barros desde o princípio e através da qual estes devem ser compreendidos.