1. VIARO, Guido (1897-1971). Nascido em Badia Polesine (Itália) e falecido em Curitiba (PR).
Apesar de ter estudado por algum tempo com dois tios artistas, foi a rigor um autodidata, tendo
chegado praticamente sozinho a dominar as técnicas do óleo, da têmpera, da monotipia e da
aquarela, além de ter sido bom desenhista e gravador. Chegou ao Brasil em 1927, fixando-se
sucessivamente no Rio de Janeiro, em São Paulo e, após 1930, em Curitiba. Tencionava nessa
temporada brasileira amealhar dinheiro com que seguir viagem até o México, fascinado que era
pelos murais de Orozco, Siqueiros e Rivera. Mas foi-se deixando ficar na capital paranaense,
onde em 1935 constituiu família e onde, nos próximos anos, iria construir toda a sua obra, além
de lecionar a numeroso grupo de futuros artistas; retomou, assim, a seu modo, a mesma
trajetória cumprida décadas antes pelo norueguês Alfred Andersen.
Viaro foi paisagista, marinhista, pintor de figuras e de naturezas-mortas. A paisagem
paranaense, com seus pinheiros típicos e sua neblina que envelopa as formas, nele teve o
intérprete talvez mais sensível. Também fixou em marinhas aspectos do litoral, sobretudo em
Guaratuba, localidade em que trabalhou em diversas oportunidades. Mas foi acima de tudo
pintor de figuras, e ele próprio costumava explicar:
- Tudo isso é feito para chegar à figura humana; a gente faz paisagem para ser fundo da figura
humana; a gente faz natureza-morta para ser complemento da figura humana. É no homem
que se realiza toda a grandeza e a meta final da obra plástica.
Mesmo não se considerando um retratista - "não pinto as pessoas especificamente, pinto os
tipos humanos" - Viaro executou bons retratos, destacando-se entre todos o do pintor Miguel
Bakun, ao qual deu o título de Homem sem Rumo, que se revelaria tristemente premonitório,
sabido como Bakun terminaria seus dias pelo suicídio. Tipos regionais, cenas bíblicas ou
eivadas de tênue classicismo completam a bagagem temática desse artista, que em dado
instante de sua carreira chegou a abeirar-se do abstracionismo "como recurso para
desenvolver novas texturas na busca de novas formas de expressão" (Euro Brandão).
Guido Viaro só conquistou, no Salão Nacional de Belas Artes, a medalha de bronze, em 1942;
em compensação, foi contemplado no Salão Paranaense com as medalhas de prata (1947) e
ouro (1951), prêmios de viagem (1952) e de aquisição (1961, 1963). Também não realizou
muitas individuais: São Paulo (1948), Rio de Janeiro (1948 e 1963), Porto Alegre (1962) e
Curitiba (1959 e 1964). Participou de diversas coletivas, mormente no Sul do País, e ainda em
1985 a XVIII Bienal de São Paulo o inclui na sala especial Expressionismo no Brasil - Heranças
e Afinidades. Por ocasião do centenário de seu nascimento, em 1997, diversas exposições
foram-lhe consagradas em Curitiba, ressaltando não apenas a qualidade de sua obra, como
sua marcante atividade didática.
Tendo retratado a natureza paranaense em nuances delicadas, de conotação quase
impressionista, Viaro transformou-se diante do assunto social, nas cenas da vida rural e
mesmo em determinados temas religiosos, em artista expressionista. Como bem observou
Quirino Campofiorito, "exibe então uma energia expressionista que atende ao real e à
insinuação intensiva do drama, com as acentuações de uma comovente ternura". Foi pintor de
recursos e artista de nível, que a crítica e os colecionadores brasileiros ainda não
redescobriram suficientemente.
Pobreza, óleo s/ tela, 1948;
0,58 X 0,70, Museu Guido Viaro, Curitiba.