O canto IX e início do X de Os Lusíadas descrevem a recompensa divina oferecida por Vénus aos heróis portugueses: uma ilha paradisíaca repleta de belezas naturais e ninfas onde podem saciar todos os sentidos e desfrutar de relações amorosas. A ilha representa a dignificação épica dos navegadores e a supremacia do amor como força motriz do ser humano e do universo, divinizando os heróis e humanizando os deuses.
1. “Ínsula divina”
(Ilha dos Amores)
in Os Lusíadas, Camões
Canto IX (est. 18 – 92)
Canto X (est. 1 – 141)
2. Glorificação dos Heróis
• Viagem de regresso à Pátria por mares já
conhecidos…
• MOMENTO de RECOMPENSAR a CORAGEM
dos NAVEGADORES
– Por quem e como?
• RECOMPENSA de VÉNUS
(Canto IX, Estâncias 18 a 24)
3. Estratégia de Vénus
• Auxílio de Cupido
– preparava expedição contra os humanos: culpados de
mal amarem:
• Amavam-se mais a si que aos outros;
• Vendiam adulação no paço;
• Amavam «mandos e riquezas» em vez de Deus e o povo;
• Consideravam legítima a «feia tirania»
(Canto IX, Estâncias 25 a 29)
• 5 estrofes de pendor político: reptos e chamadas
de atenção a D. Sebastião
4. Estratégia de Vénus
• Recompensar os navegadores (humanos que
bem amavam)
• Recompensa: ligações amorosas com Ninfas;
– Dos «casamentos» nasceria «progénie forte e
bela»
– Contentamento de Cupido: a nova geração de
humanos povoaria o Universo.
5. A Recompensa!
ILHA
Em pleno Oceano;
Repleta de coisas belas;
Festa para os 5 sentidos;
Marinheiros descansam e saciam-se.
6. Vénus
• Divindade protetora dos portugueses;
• Principal adjuvante no sucesso da missão;
– Advoga a causa dos portugueses no Consílio dos
Deuses no Olimpo;
– Procura a proteção de Júpiter;
– Salva-os das armadilhas de Baco
– Prepara-lhes, com Cupido, a sua Ilha.
7. Vénus
• Símbolo…
– Da beleza;
– Da sensualidade instintiva;
– Do caráter humano, natural;
– Do Amor-força;
– Energia vital;
Impulsiona os humanos para o Bem, a Grandeza,
a Honra, a Glória
8. A «ínsula divina»
• Avistada pelos marinheiros – IX, 52;
• Ilha repleta de árvores, frutos apetitosos,
odoríferos e coloridos = sensualidade;
• Prazer para os 5 sentidos: visão, olfato,
paladar, audição, tato.
• Água + Verde + Animais = fecundidade
9. A «ínsula divina»
• Desembarque dos marinheiros – IX, 64
• Aguardam-nos outras maravilhas…
–Ninfas e deusas + Música
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• Jogos do amor (Lionardo e Ninfa – IX, 75 - 81)
• Alegria
• Plenitude
10. A «ínsula divina» =
dignificação épica dos heróis
• Atmosfera amorosa – IX, 83:
– «famintos beijos»
– «mimoso choro»
– «afagos suaves»
– «ira honesta»
– «risinhos alegres»
= relações amorosas entre nautas e deusas
AMOR SENSUAL =
GRANDEZA de
PRÉMIO ESPIRITUAL MÁXIMO
12. Significado da Ilha (I)
• PRÉMIO/ MERECIDA RECOMPENSA:
– «as deleitosas honras/ que a vida fazem sublimada»
• Suprema honra e plenitude alcançadas…
• Despertando do ócio;
• Refreando a ambição e a cobiça;
• Recusando o vício da tirania;
• Sendo justo em tempo de paz;
• Não dando aos «grandes» o que é dos «pequenos»
• Sendo valente na guerra contra os Mouros;
• Aconselhando bem o Rei
13. Thétis e Gama
Thétis mostra a Gama a «Máquina do Mundo»:
universo à maneira de Ptolomeu
Empíreo: céu (envolvendo o universo) - onde estão as almas puras dos heróis
14. Thétis e Gama
• Deuses: ficções humanas
–Verdadeiro só um DEUS existe.
• Possibilidade de «bichos da terra tão pequenos»
tornarem-se imortais.
• Verdadeiro maravilhoso?
Os humanos
15. Significado da Ilha (II)
• Prémio para corpo (não é espiritual no sentido
cristão) – todos os sentidos são saciados:
plenitude e alegria;
• AMOR pagão (Eros) = FORÇA SUPREMA –
conduz…
– A um novo ser humano;
– Harmoniza o universo;
– Coloca o ser humano acima dos deuses.
16. Significado da Ilha (II)
• AMOR dá atributos divinos aos humanos;
• Narração pagã incluindo a Fé – ligando o
passado ao futuro: missionários no Oriente;
• Camões integra-se como figura épica,
imortalizando-se com e no seu canto;
• Consumação das profecias e receios de Baco:
os portugueses divinizam-se e os deuses
humanizam-se.
17. Em suma…
E citando Jorge de Sena:
«Trata-se sobretudo de sublinhar, quando a
intolerância e a crueldade se instalaram oficialmente
como formas sociais, como o Amor é conquista e
rendição, mas é acima de tudo posse e dádiva,
e prazer que nenhuma moral tem o direito de limitar;
os actos do Amor são a
divinização dos heróis.»
(in «Actas da I Reunião Internacional de Camonistas - adaptado)