2. Exposição e Confirmação
Capítulos II, III, IV e V.
Cap. V –Repreensões aos peixes em particular
– os roncadores;
– os pegadores;
– os voadores;
– o polvo.
3. Repreensões
em particular
RONCADORES
- embora tão
pequenos roncam
muito (simbolizam a
arrogância e a
soberba);
PEGADORES
- sendo pequenos,
pregam-se nos
maiores, não os
largando mais
(simbolizam o
parasitismo);
VOADORES
- sendo
peixes, também se
metem a ser aves
(simbolizam a
presunção (vaidade) e
a ambição);
POLVO
- com aparência de
santo, é o maior
traidor do mar
(simboliza a traição).
"É possível que sendo vós
uns peixinhos tão
pequenos, haveis de ser
as roncas do mar?"
"Pegadores se chamam estes
de que agora falo, e com
grande propriedade, porque
sendo pequenos, não só se
chegam a outros maiores,
mas de tal sorte se lhes
pegam aos costados, que
jamais os desferram."
"Dizei-me, voadores, não
vos fez Deus para peixes?
Pois porque vos meteis a
ser aves? (...) Contentaivos com o mar e com
nadar, e não queirais
voar, pois sois peixes."
"E debaixo desta
aparência tão modesta,
ou desta hipocrisia tão
santa (...) o dito polvo é o
maior traidor do mar."
4. Os roncadores
Peixes de diversos tamanhos, sendo que os referidos pelo
Padre António Vieira são particularmente pequenos e o ruído
que emitem é um ronco. Têm como vício:
arrogância
soberba, orgulho
5. RONCADORES
Sendo peixes muito pequenos, roncam muito,
mostrando arrogância e soberba.
Ex: "É possível que sendo vos uns peixinhos tão
pequenos, haveis de ser as roncas do mar?”
● Roncam muito exatamente por serem muito
pequenos, para quererem fazer-se grandes. O
espadarte não tem essa necessidade por ter outros
argumentos. Mas Deus não quer roncadores e abate
os que muito roncam.
6. Atitude do Orador
O Padre António Vieira repreende a arrogância e o orgulho
dos colonos.
“E começando aqui pela nossa costa, (…), tanto me moveram
o riso como a ira.”
“Isto não é regra geral; mas é regra geral que Deus não quer
roncadores, e que tem particular cuidado de abater e
humilhar aos que muito roncam.”
7. Correspondência entre plano figurado e real
Plano Figurado
Plano Real
Roncar
Ser arrogante e altivo
Espada
Coragem
Língua
Falar, exprimir
Barbatear
Exibir, gabar-se
Inchar
Envaidecer, ter o ego alto
8. O Roncador: Comparação com o mundo dos homens
• soberbos e
orgulhosos,
facilmente
pescados
Os Roncadores:
Santo António
• tendo tanto saber e tanto
poder, não se orgulhou
disso, antes se calou. Não
foi abatido, mas a sua voz
ficou para sempre.
• Pedro
• Golias
• Caifás
• Pilatos
Exemplo de homens
que se identificam
com o roncador:
9. Características /
Virtudes
•Apesar da sua espada, o espadarte não se
exibe e ao contrario do roncador não é
soberbo nem orgulhoso.
Ex: “Dizei-me: o espadarte porque não ronca? Porque,
ordinariamente, quem tem muita espada, tem pouca língua.
Isto não é regra geral; mas é regra que Deus não quer
roncadores, e que tem particular cuidado de abater e
humilhar aos que muito roncam.”
10. O Espadarte:
Comparação com o mundo dos homens
Santo António
• muita espada e ainda
assim não ronca.
• sabia o que dizia e ainda
assim não se tornou
arrogante e orgulhoso,
pois cumpre a vontade
de Deus.
O Espadarte
12. Exemplo
● Aconteceu com S. Pedro, que acabou depois por
negar o próprio Cristo. Mesmos os peixes grandes,
como as baleias, não teriam segurança na sua
arrogância. Apresenta o exemplo de David e Golias.
Ideia síntese sobre a repreensão feita
Os arrogantes e soberbos confrontam Deus e
acabam por perder. Por isso, o melhor é calar e imitar
Santo António. O saber e o poder é que costumam
fazer dos homens roncadores.
13.
Um dos 12 discípulos
Possui a chave do Céu
Renegou a Jesus 3 vezes
Roncador
deslealdade
“Tinha roncado e barbateado Pedro que, se todos fraqueassem, só ele
havia de ser constante até morrer, se fosse necessário; e foi tanto pelo
contrário, que só ele fraqueou mais que todos, e bastou a voz de uma
mulherzinha para o fazer tremer e negar.”
14.
Gigante da cidade de Gate
Fixou-se em Israel durante 40 dias
Davi derrotou-o
Roncador
arrogância
“Quarenta dias contínuos esteve armado no campo, desafiando a todos
os arraiais de Israel, sem haver quem se lhe atrevesse; e no cabo, que
fim teve toda aquela arrogância? Bastou um pastorzinho com um
cajado e uma funda, para dar com ele em terra.”
15.
Líder Judeu no primeiro século.
Participou no julgamento de Jesus no supremo tribunal dos judeus
Acusou Jesus de blasfémia
Roncador
“Caifás roncava de saber: Vos nescitis quidquam.” (Vós não sabeis nada.)
Age com superioridade
16.
Foi contemporâneo de Jesus Cristo
Foi prefeito da província romana da Judeia
Condenou Jesus Cristo à cruz
Roncador
“Pilatos roncava de poder: Nescis quia potestatem habeo?” (Não sabeis
que tenho poder?)
Gabava o seu poder
17. Repreensões feitas aos colonos
Os colonos eram repreendidos:
Por prometerem o que não iriam cumprir;
Por gabarem o seu saber;
Por gabarem o seu poder.
Conselhos aos colonos
O Padre António Vieira aconselha os colonos a calarem-se e a imitarem
Santo António.
“Assim que, amigos roncadores, o verdadeiro conselho é calar e imitar
a Santo António.”
18. A estrutura das alegorias para repreender os vícios
Roncadores
A alegoria da arrogância, da soberba da vaidade
Queixa:
“…ouvindo os
roncadores e vendo
o seu tamanho,
tanto me moveram
a riso como a ira …
porque haveis de
roncar tanto?”
Aforismo:
Conselho:
Analogia:
“O muito roncar
antes da
ocasião, é sinal
de dormir nela”
“Medi-vos, e logo
vereis quão
pouco
fundamento
tendes de
blasonar nem
roncar”
“Os arrogantes e
soberbos tomam-se
como Deus. …Duas
cousas há nos homens
que os costumam fazer
roncadores, porque
ambas incham: o saber e
o poder.”
20. PEGADORES
Chegam-se aos maiores, defeito que tomaram dos
homens, e pegam-se-lhes aos costados, não mais os
largando, para se sustentarem.
Estes peixes terão aprendido este modo de vida
com os portugueses.
21. Padre António Vieira critica estes peixes pelo seu parasitismo, podendo
ser verificada essa crítica na frase: «sendo pequenos, não só se chegam
a outros maiores, mas de tal sorte lhes pegam aos costados, que já mais
os desferram».
Estes pegadores juntam-se aos grandes aproveitando-se deles e do que
fazem, como pode ser verificado na frase: «De alguns animais de menos
força e indústria se conta que vão seguindo de longe os leões na caça,
para se sustentarem do que a eles sobeja. O mesmo fazem estes
pegadores (…)». Estando mais perto dos grandes acabam por estar
protegidos por eles.
22. Oportunistas
Porque se aproveitam da grandiosidade dos grandes e usam a sua vaidade
graxista com o objetivo de obterem algo mais para além da pessoa, beneficiando de
características ou "coisas" que essa pessoa lhes disponibiliza, como segurança e
alimento.
Parasitas
Porque usam como suporte para a sua vida uma "vítima", beneficiando de
todas as vantagens provenientes da mesma.
Ignorantes
Porque nas suas vidas de oportunistas apesar de beneficiarem de alimento e
proteção (neste caso os peixes) deixam-se pescar com eles, morrendo com eles,
fazem tudo o que os grandes fazem sem pensar nas consequências.
23. Exemplos:
● Vice-rei ou governador, rodeado dos seus
pegadores; os menos ignorantes despegam-se e
seguem outra vida, os outros vêm a ter o fim dos
pegadores do mar;
● Tubarão. Morre o tubarão e morrem os pegadores
que a ele estão agarrados.
● Exemplo bíblico: Herodes e os seus seguidores.
24. O Padre António Vieira, refere no seu sermão o
tubarão para reforçar a imagem de
aproveitador do pegador. O pegador como um
peixe pequeno e indefeso associa-se ao
tubarão, alimentando-se dos restos de comida
que o tubarão deixa. Se este morre por alguma
razão os pegadores que lhe estão associados
morrem também.
Padre António Vieira compara assim este caso
àqueles que estão gananciosos e ávidos de
fortuna e que quando os seus «hóspedes» ( as
suas minas de ouro ) se extinguem, de uma
maneira ou de outra, os que estão pegados a
eles deixam de ter o lucro fácil que tinham.
25. O que se passa com o tubarão passa-se com
Herodes, rei da Palestina, que era o homem mais
rico e poderoso do seu país. A sua família, como
ele era rei, não trabalhava, vivia apenas à custa
dele, o que significa que se Herodes morresse, a
sua família e seguidores (governantes das cidades)
“morreriam” também.
Este, juntamente com os seus seguidores
pretendia matar Jesus, o que levou José a fugir
com a sua família. Quando Herodes morreu, José
pôde voltar a sua casa visto que morrendo
Herodes, todos os seus aderentes morrem com
ele, ou seja, perdem todo o poder e fortuna que
tinham. Os «pegadores» não são nada sem a
pessoa a que estão ligados.
26. Os pegadores são comparados a Santo António
na medida em que, como os pegadores se
pegam de tanta ignorância, e fazem o que as
“vitimas” fazem ao ponto de morrerem com
eles, Santo António pegou-se com Cristo, a
Deus nosso senhor e tornou-se imortal. A
única diferença entre Santo António e os
pegadores é que estes pegadores evidenciados
no texto escolheram o caminho errado,
escolhendo as “vitimas” para se pegarem
acabando por morrer com elas enquanto
Santo António seguiu um caminho de
sabedoria, tornando-se imortal com Cristo.
27. No sermão, St. António fala-nos de Adão e
Eva pois compara o facto de, nós homens,
pagarmos pela gulodice que estes tiveram,
mas também de termos a possibilidade de
nos livrarmos deste pecado original com a
água do batismo, como os pegadores que
quando o tubarão morre, morrem
juntamente com ele como vemos no texto
« Que morra o Tubarão, porque comeu,
matou a sua gula; mas que morra o
Pegador pelo que não comeu ».
28. Os pegadores são também
pecadores mas não se podem
livrar dele mesmo vivendo no
elemento água « Mas nós lavamonos desta desgraça com ũa pouca
de água, e vós não vos podeis
lavar da vossa ignorância com
quanta água tem no mar ».
29. Ideia síntese da repreensão feita
Chegai-vos aos grandes, mas não de maneira a
"morrer" por eles ou com eles. Crítica ao parasitismo e
à adulação.
30. A estrutura das alegorias para repreender os vícios
Pegadores
A alegoria do oportunismo, da bajulação
Queixa:
Aforismo:
“… e me admirou que se
“… os que se deixam estar
houvesse estendido esta
pegados à mercê e fortuna dos
ronha e pegado também
maiores, vem-lhes a suceder no
aos peixes”
fim o (mesmo) que aos
pegadores do mar”
31. A estrutura das alegorias para repreender os vícios
Pegadores
A alegoria do oportunismo, da bajulação
Conselho:
Analogia:
“Este modo de vida … sem dúvida que
“Chegai-vos embora aos
o aprenderam os peixes … depois que
grandes; mas não de tal maneira
os nossos portugueses navegaram;
pegados, que vos mateis por
eles, nem morrais com eles”
porque não parte vice-rei ou
Governador para as conquistas, que
não vá rodeado de pegadores.”
33. VOADORES
A presunção, o capricho, a vaidade e a ambição
destes peixes, que são peixes e querem ser também
aves, leva-os à perdição.
Sofrem, assim, os perigos do mar e os do ar. O
início da argumentação com exemplos é marcado pela
presença de um provérbio: "Quem quer mais do que
lhe convém, perde o que quer e o que tem" (ll. 104105).
34. Peixe-voador
– Nadando a uma
velocidade que alcança 29 km por hora,
o peixe sai da água até pôr de fora
metade de seu corpo. Nesse momento
abre as “asas” e golpeia a água
rapidamente com a cauda. Num
segundo alcança a velocidade de
descolagem, entre 48 e 88 km por hora.
Inicia então um planeio que chega a
durar dez segundos e se estende de 1 a
400 m. O único problema é que durante
o voo ele pode ser apanhado por uma
ave marinha ou então pode acabar por
bater nas estruturas do barco ou na
vela. Quando salta fora da água para
“voar”, ele pode atingir uma altura de 6
metros e planar por uma distância de
90 metros.
35. Exemplos
● Simão Mago, um voador da terra. Fingindo-se o
filho de Deus, quis subir ao céu e voou muito alto, mas
acabou por cair, por oração de S. Pedro e castigo de
Deus, partindo os pés e desfazendo a sua reputação
aos olhos de todos. O castigo aparece justificado com
a autoridade do Papa S. Máximo, com a sentença para
tal ousadia.
● Breve referência a Ícaro que, na sua ambição, subiu
demasiado alto. Tão perto do Sol chegou que a cera
que colava as suas asas derreteu e acabou por cair no
Mar Egeu, onde se afogou.
36. ● Através de uma apóstrofe, o pregador invoca ainda
a alma de Santo António, apresentando o seu
exemplo: teve as asas da sabedoria natural e
sobrenatural para "voar para baixo" (ll. 122-123). Na
sua humildade era reputado de homem de pouca
ciência.
Ideia síntese da repreensão feita
Cada um deve contentar-se com o seu elemento. Se as
barbatanas parecem asas, que sejam usadas para
descer a lugares onde a segurança seja maior.
37. A estrutura das alegorias para repreender os vícios
Peixes-voadores
A alegoria da vaidade, da ambição
Queixa:
Aforismo:
Conselho:
Analogia:
“Dizeime, voadores, não
vos fez Deus para
peixes? Pois
porque vos meteis
a ser aves?”
“”Quem quer
“Se vos parece que as
vossas barbatanas vos
podem servir de asas,
não as estendais para
subir … encolhei-as
para descer.”
“Eis aqui, voadores
do mar, o que
sucede aos da
terra, para que cada
um se contente
com o seu
elemento.”
mais do que lhe
convém, perde o
que quer e o que
tem.”
39. POLVO
A alegoria da dissimulação,
do disfarce, da hipocrisia, da traição
Caracterização do polvo como
figuração humana na sua aparência
Caracterização do polvo como
figuração humana na sua essência
Parece
O polvo é um traidor, o maior
traidor do mar,
um monge, uma estrela, a
própria brandura e mansidão,
e, por isso, aparenta
santidade, brandura e
mansidão
porque
se esconde, mudando de cor,
para, com malícia e mentira,
atacar as suas vítimas.
40. POLVO
A relação semântica das palavras:
capelo / monge; raios / estrela; não ter / brandura
“O polvo
com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge;
A presença
da anáfora
com aqueles raios estendidos, parece uma estrela;
com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma
brandura, a mesma mansidão.”
Anáfora salientada nas comparações citadas,
onde o termo de comparação “como” é substituído por “parece”.
Outros há: lembra; faz lembrar; faz pensar.
A relação de semelhança está na base da comparação
A relação metónímica (a parte sugere o todo)
que permite a comparação nas duas primeiras transcrições.
41. POLVO
A relação semântica das palavras:
A presença
da simetria
A presença da
metáfora
A presença da
antítese
A presença da
personificaçã
o
“As cores, que no camaleão são gala,
no polvo são malícia;
As figuras, que em Proteu são fábula,
no polvo são verdade e artifício.”
“ O polvo dos próprios braços faz as cordas.”
“traçou a traição às escuras,
mas executou-a muito às claras.”
“E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão
santa, (…) o dito polvo é o maior traidor do mar.”
42. POLVO:
a alegoria da dissimulação, do disfarce, da hipocrisia, da traição
A consequência que advém para os outros, da desconformidade entre
aparência e essência
A completa desconformidade
entre aquilo que o polvo mostra ser
e aquilo que é verdadeiramente,
faz com que os outros sejam enganados.
Então o polvo,
apanhando-os desprevenidos, ataca-os em segurança.
43. POLVO:
a alegoria da dissimulação, do disfarce, da hipocrisia, da traição
A escolha do caso de Judas como a última ampliação dos argumentos
Este é não só conhecido do auditório,
como tem o valor de exemplo recolhido nos textos sagrados, valendo, por
isso, como argumento de autoridade.
A amplificação
da traição do polvo reside no facto de este ser apresentado como mais
traidor do que Judas,
o símbolo da traição por excelência para os cristãos.
Um remate que surpreende e deleita pelo arrojo da argumentação
44. POLVO: a alegoria
da dissimulação, do disfarce, da hipocrisia, da traição (concl.)
Comparação das características
da água com as do polvo
A água,
pura, clara, cristalina, espelho natural da terra e do céu, diáfana, transparente, em que nada
se pode ocultar, encobrir ou dissimular,
acentua
o contraste com o polvo, pondo em evidência o que este tem de monstro dissimulado, de
fingido, de astuto, de enganosos, de
traidor.