3. «O Mostrengo»
«Mar Português»
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
4. «O Mostrengo»
«Mar Português»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D.João Segundo!»
5. «O Mostrengo»
«Mar Português»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
7. Análise
comparativa
Caracterização das
personagens
Não acabava, quando ua figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.
Os Lusíadas, Canto V – Est. 39
8. Análise
comparativa
Caracterização das
personagens
Texto (não incluído no
PowerPoint – apoio à
apresentação)
Apesar de semelhantes, as duas personagens
apresentam personalidades distintas. O Adamastor é-
nos apresentado como uma criatura horrível, e
Camões referencia, por exemplo, o seu “rosto
carregado”, “a sua postura medonha” e os seus “dentes
amarelos”, como é possível verificar na estrofe
apresentada. Ao longo de 24 estrofes, é relatada a
melancólica história do passado de Adamastor e,
nestas circunstâncias, é exposto o seu fracasso
amoroso, em relação a Tétis. O Adamastor é-nos
apresentado como um indivíduo com atributos e
sentimentos humanos.
9. Análise
comparativa
Caracterização das
personagens
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
A Mensagem, O Mostrengo – Est. 1
10. Análise
comparativa
Caracterização das
personagens
Texto (não incluído no
PowerPoint – apoio à
apresentação)
O mesmo não se verifica com o Mostrengo. Em
apenas 3 estrofes, Pessoa apresenta-nos a sua
personagem como a imagem de uma criatura que é
capaz de voar e “chiar”, um ser “imundo e grosso”.
Quando o mostrengo pergunta quem ousou entrar nas
suas cavernas, as quais não desvenda, Pessoa
desumaniza-o, afirmando que este habita nas
“cavernas”, metáfora dos perigos do mar.
11. Análise
comparativa
Discurso
“E da primeira armada que passagem
Fizer por estas ondas insofridas,
Eu farei de improviso tal castigo
Que seja mor o dano que o perigo!”
Os Lusíadas, Canto V – Est. 43 (vv. 5-8)
12. Análise
comparativa
Discurso
Texto (não incluído no
PowerPoint – apoio à
apresentação)
A nível do discurso, o Adamastor, inicialmente, intimida Vasco da
Gama e os seus navegadores, iniciando o seu discurso com um tom
assustador, como indicam os versos. Porém, deixa transparecer uma
certa admiração e espanto por este povo aventureiro que ousou
navegar os seus mares. Tentando manter o seu aterrorizante
temperamento, é de notar igualmente a presença de funestas
profecias, por parte do Adamastor. Ao referi-las, ao invés de
assustar os portugueses, o gigante fez com que estes começassem a
admirá-lo. Neste ponto da história, o Adamastor começa a relatar o
seu passado, fazendo com que o seu discurso perdesse o tom
assustador e se convertesse num tom mais melancólico, quando nos
deparamos com o fracasso amoroso entre o Adamastor e a Tétis.
Esta conversão, onde o antagonista demonstra um lado sensível, não
ocorre no poema de Pessoa.
14. Análise
comparativa
Discurso
Texto (não incluído no
PowerPoint – apoio à
apresentação)
O mostrengo não era autor de profecias. No entanto, nota-se um tom
de ameaça e agressividade mais intensos do que o Adamastor, os
quais se mantêm durante todo o seu discurso. Notamos este tom
porque o homem do leme revela sentimentos de temor e receio,
perante a primeira vez que deve responder. Contudo, após as
primeiras hesitações do homem do leme, que sente vontade de
fugir, de largar o leme, este acaba por reunir toda a sua
determinação e permanecer no seu posto. Ele sente que essa não é
apenas a sua vontade, mas a do povo português por ordem de D.
João II, como indica o verso 5, da estrofe 3. Até ao final do poema,
o tom ameaçador do antagonista não o volta a assustar.
15. Análise
comparativa
Simbologia
Texto (não incluído no
PowerPoint – apoio à
apresentação)
Adamastor e o mostrengo, embora associados à representação do
denominado Cabo das Tormentas, são personificações do medo e do
receio que os navegadores revelavam ao enfrentar o desconhecido e
o nunca antes navegado. Estes monstros também representam
guardiões de um objetivo inatingível, o que obriga o Homem a
praticar um ato heróico e a vencer o medo.
Para além disso, Pessoa decide usar apenas um protagonista na sua
história: o homem do leme, o qual simboliza todo o povo português
em um só. Remete-nos à ideia de unidade entre os portugueses.
Enquanto isso, Camões usa Vasco da Gama, mas este faz sempre
questão de mencionar que pertence a um grupo, cuja visão é
apoiada pelo Adamastor. Neste sentido, Camões não apresenta a
mesma unidade entre os portugueses, como uma só entidade.
16. O Mostrengo e
O Adamastor
Semelhanças e diferenças
SÍNTESE
3
17. Semelhanças
▹ Representação da forma
invencível do mar;
▹ Discurso ameaçador do
Adamastor e Mostrengo;
▹ Temor, seguido de
ousadia dos portugueses;
▹ Personificação dos
perigos e receios do mar
desconhecido.
Semelhanças/
Diferenças
Diferenças
▹ Atitude melancólica d’O
Adamastor;
▹ Mostrengo como
criatura desumana e
Adamastor como
sentimentalista;
▹ Unidade protagonista
d’O Mostrengo e entidade
protagonista n’O
Adamastor.