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PORTINARI, Cândido (1903-62). Nascido em Brodósqui (SP) e falecido no Rio de Janeiro.
Filho de imigrantes italianos naturais do Vêneto, cursava ainda o primário quando se tornou
auxiliar de um grupo de pintores incumbidos da decoração da Matriz de sua cidade natal. Mais
ou menos pela mesma época, jogando futebol com outros molecotes na Praça Santo Antônio
(hoje Praça Cândido Portinari), destroncou a coxa direita, o que o levou a claudicar até o fim da
vida.

Em 1918 transfere-se definitivamente para o Rio de Janeiro, disposto a seguir sua vocação.
Era tão pobre que dormia no banheiro de uma casa de cômodos e só se alimentava uma vez
ao dia para poder freqüentar a Escola Nacional de Belas Artes, na qual estudaria desenho com
Lucílio de Albuquerque (talvez o primeiro a lhe reconhecer e incentivar o talento), e pintura com
Rodolfo Amoedo e Batista da Costa.

Por volta de 1920 compôs sua primeira pintura de importância: Baile na Roça, de dois por dois
metros, vendida por 200 mil réis e não faz muito tempo reencontrada. Dois anos depois expôs
pela primeira vez no Salão Nacional de Belas Artes um retrato, que passou desapercebido.
Mas já no ano seguinte seu retrato do escultor Paulo Mazzuchelli lhe garantia a medalha de
bronze e um prêmio de estímulo de 500 mil réis. A medalha de prata viria em 1925, e a grande
medalha de prata em 1927. Comentando seu envio ao Salão de 1926, o crítico Flexa Ribeiro
emitia os seguintes conceitos, que bem caracterizam seu estilo na época:

- No Sr. Cândido Portinari a elegância do desenho, o romantismo de outras eras sobrelevam as
demais qualidades. É um jovem que ficou à margem da evolução pictural. Dir-se-ia um
tradicionalista: mas sua fatura recebeu o influxo de certas modalidades da pintura moderna,
onde também aquele sentimento predomina. E não é outra a razão que o levou a filiar-se a
Zuloaga, mestre que sempre se conservou estranho às correntes que revolucionam a arte
desde o Impressionismo. Sua sensibilidade fina leva-o a assimilar com facilidade as
dominantes expressionais de certos artistas.

Flexa Ribeiro conclui suas observações com uma frase profética:

- Do seu sentimento, muito devemos esperar: alguma coisa da alma florentina tenta renascer
nesse adolescente, que é, desde já, um espiritualista.

Em 1928, com o Retrato de Olegário Mariano, é-lhe afinal atribuído o prêmio de viagem ao
estrangeiro. Portinari segue para a Europa e percorre França, Itália, Inglaterra e Espanha,
observando muito e pouco produzindo. Em 1930 retorna ao Brasil, casado com a jovem
uruguaia Maria Martinelli. Fixando-se de novo no Rio de Janeiro, começa a produzir
furiosamente. Se, durante a permanência européia, somente executou três pequenas
naturezas-mortas, agora chega a produzir até cinco pinturas por semana! O seu amor pela
pintura era de tal modo absorvente, escreveu Manuel Bandeira, que - Portinari como Paolo
Ucello séculos antes, preocupado com a perspectiva -, "muitas noites rolava insone na cama,
ansioso por que despontasse a luz do dia para poder pintar".

O novo estilo pictórico de Portinari, em começos da década de 1930, é uma curiosa mistura de
elementos quatrocentescos italianos (em especial de Piero della Francesca) e de
reminiscências de pintores modernos, como Modigliani. O retrato domina então sua produção,
lado a lado com algumas paisagens e naturezas-mortas. No Salão Revolucionário de 1931 tais
obras começam a interessar vivamente à crítica e aos intelectuais, e toda uma clientela surge
em torno ao jovem retratista, de estilo ao mesmo tempo clássico e renovador. O crítico Paulo
Boneschi, de orientação conservadora, faz então a respeito do artista um reparo que o tempo
felizmente se incumbiria de desmentir:

- Portinari pinta retratos bem desenhados e compostos, simples e sintéticos, executados com
uma técnica moderna. Já alcançou o máximo de sua evolução artística, e dificilmente poderá
fazer obras melhores que as pintadas até hoje.
Ao contrário, de 1932 a 1935 a obra de Portinari amadurece rapidamente, sob o influxo da
pintura mexicana. É sob o peso dessa influência de Rivera, Orozco e Siqueiros que o artista
brasileiro, debruçado sobre as memórias da infância em Brodósqui e perseguindo, como eles, a
meta do nacionalismo artístico, começa a produzir uma série de obras marcantes, das quais a
mais notável, Café, conquistará menção honrosa na exposição internacional de arte moderna
efetuada pelo Instituto Carnegie de Pittsburgh, em 1935. Esse prêmio dado nos Estados
Unidos a um pintor moderno brasileiro é, mais do que a consagração do artista, o triunfo da
própria arte moderna no Brasil.

Os quadros executados entre 1932 e 1939 formam a série marrom de Portinari. São obras de
ambiência brodosquiana, visões de favelas e morros do Rio de Janeiro e composições com
trabalhadores do campo, marcadas, já, por um sentimento de calma monumentalidade que
preludia o futuro muralista. Em 1936, com efeito, Portinari executa seu primeiro mural, para o
Monumento Rodoviário, na Estrada Rio-São Paulo. No mesmo ano leciona pintura na
Universidade do Distrito Federal, logo extinta. De 1937 a 1945 desenvolverá uma atividade
inacreditável: pinta, então, os murais para o gabinete de espera e os aposentos do ministro no
edifício-sede do Ministério da Educação, por encomenda de Gustavo Capanema; executa, para
o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova Iorque, três grandes murais (1939); expõe
individualmente no Rio de Janeiro, em Washington e Detroit (1939-40), e para a biblioteca do
Congresso da capital norte-americana realiza quatro murais; pinta as têmperas, mais tarde
destruídas num incêndio, para a Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, e outras, com temas bíblicos,
para a Rádio Tupi de São Paulo; e ainda acha tempo para decorar a capelinha que mandara
erguer junto à casa paterna, em Brodósqui, e a Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, e para
pintar uma Via Sacra para a Catedral da capital mineira.

Uma incursão pela política torna-o candidato a deputado federal em 1945 e candidato a
senador em 1947, por São Paulo, perdendo, nesse último ano, por exígua margem de votos.
No intervalo, expõe na Galeria Charpentier, de Paris, e recebe a Legião de Honra do Governo
francês, o qual também lhe adquire, para o Museu de Arte Moderna de Paris, uma tela da série
Emigrantes.

Novos murais serão executados em 1948 (Primeira Missa no Brasil, Banco Boavista), 1949
(Tiradentes, para o Colégio de Cataguazes, hoje no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo),
e 1952 (Chegada de Dom João VI, Salvador). Nesse mesmo ano dá início à execução de dois
enormes painéis, Guerra e Paz, cada qual medindo 14 x 10 metros e executados a óleo sobre
madeira. A obra, ofertada pelo governo brasileiro, é colocada em 1956 no edifício-sede da
Organização das Nações Unidas, em Nova lorque.

Em 1950 Portinari realiza nova viagem à Europa, demorando-se na Itália e participando da
Bienal de Veneza. Em 1953 decora a Igreja de Batatais, em São Pauto, e realiza grande
exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Recuperado, no ano seguinte, de
uma primeira crise de saturnismo, realiza outro mural, O Descobrimento do Brasil, e nova Via
Sacra para a mesma igreja de Batatais. Na III Bienal de São Paulo, em 1955, expõe os
primeiros estudos dos murais Guerra e Paz.

Em 1956 vai a Israel, a convite do governo, realizando exposições em Tel Aviv e Haifa.
Encantado com o país e seus habitantes, pinta inúmeras obras, nas quais avulta a nota lírica, a
cor revelando-se então mais vívida, a composição resolvida em pinceladas destacadas, de
conotação divisionista. No mesmo ano, por ocasião da inauguração dos seus painéis na ONU,
recebe em Nova Iorque os prêmios Guggenheim e Hallmark Art.

Diversas outras individuais realizaria a partir de 1957 em Paris e Munique, Bolonha, Lima e
Buenos Aires, Praga, Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto em 1958 participava da Bienal
Internacional do México (nela obtendo o Prêmio Ciudad de Mexico) e da grande exposição 50
Anos de Arte Moderna em Bruxelas e em 1959 ilustrava, para a Gallimard, a edição francesa
de O poder e a glória de Graham Greene.

Viajando, em 1961, mais uma vez para a Europa, adoece gravemente em Paris, minado pelo
chumbo que já o intoxicara havia alguns anos. Retornando ao Rio de Janeiro, ali faleceu a 6 de
fevereiro de 1962, com 58 anos, pois nascera a 29 de dezembro de 1903: tinham-no vitimado
as próprias cores a que devia toda a sua celebridade.

A evolução artística de Portinari pode ser reconstituída desde suas primeiras obras, que tanto
devem a Zorn e Zuloaga, às últimas composições, de um cromatismo fragmentado
reminiscente de Jacques Villon. Entre os dois extremos situam-se influências dos pré-
renascentistas italianos e de Modigliani, De Chirico e outros mestres modernos; a fase marrom,
marcada pelo muralismo mexicano; o encontro decisivo, em Nova lorque, com a obra-prima de
Picasso, Guernica, que iria marcá-lo e de certo modo preludia tema e técnica do mural Guerra;
em dado instante, quando mais acesa ia a luta no Brasil entre abstracionistas e figurativistas,
curto namoro com a arte não-figurativista, tal como, alguns anos antes, já flertara, na série dos
Espantalhos, com o Surrealismo.

Mas não se pense que Portinari era alguém à procura de um estilo: o artista possuiu seu estilo
pessoal, embora tivesse sido permeável à grande arte do passado e à arte dos criadores de
formas do Séc. XX. O desenho portinariano é, por exemplo, clássico, clássico no sentido de
que o são Cézanne, ou Braque; desenho sólido e de um virtuose acabado, configurado em
linhas ao mesmo tempo sensíveis e expressivas. Já no que respeita à cor, ora limitada a uns
poucos contrastes entre pretos e brancos ora explosiva, atravessa todo um périplo até chegar
aos tons claros e alegres dos retratos da netinha Denise, nascida em 1960.

Portinari deforma com violência, para expressar; e com freqüência atinge o dramático e o
patético, como nos quadros da série Retirantes - em especial Enterro na Rede ou Menino
Morto, ambos de 1944. Em muitas de suas melhores obras de cavalete, e logicamente nos
murais, atinge, sem esforço, a uma monumentalidade sóbria e plena de eloqüência. Certa
geometrizaçào, o afastamento gradativo da atmosfera naturalista-romântica de obras anteriores
manifestam-se a partir de 1947, primeiro no mural Primeira Missa no Brasil, marcado pela
contenção formal e despido de qualquer arroubo romântico. Nesses momentos, Portinari
combina os postulados racionalistas oriundos do Cubismo a seu inato Expressionismo,
produzindo obras de grande apuro formal e fundo sentimento contido. Finalmente, as obras do
último período, executadas durante a permanência em Israel, com seus tons amarelos, laranjas
e violetas, e sobretudo as inspiradas pelo nascimento da netinha Denise são marcadas pelo
lirismo: Portinari parece renovar-se, embora tecnicamente seja licito falar numa dependência de
Jacques Villon e até longinquamente de Van Gogh.

Influenciado por muitos, não deixou Portinari também de por sua vez influenciar inúmeros
jovens pintores: na verdade, toda a década de 1940 foi marcada pela sua presença,
entrechocando-se, no cenário pictórico nacional, o portinarismo e o antiportinarismo. Hoje, mais
de 35 anos decorridos de sua morte, seu prestígio é imenso, inclusive internacionalmente:
Portinari é considerado um dos maiores artistas da América Latina e o mais brasileiro dos
pintores, pois ninguém, mais do que ele, soube fixar, com fidelidade e emoção, as favelas
cariocas, o trabalho nos cafezais e nas plantações de tabaco, o drama dos retirantes ou a
inocência dos jogos infantis.

                                  Mestiço, óleo s/ tela, 1934;
                       0,81 X 0,65, Pinacoteca do Estado de São Paulo.

                                  Floresta, óleo s/ tela, 1937;
                            1,50 X 2,20, Palácio Bandeirantes, SP.

                                 O lavrador, óleo s/ tela, 1939;
                           1,00 X 0,81, Museu de Arte de São Paulo.

                                  A barca, óleo s/ tela, 1941;
                            2,00 X 2,00, Museus Castro Maya, RJ.

                                Lavadeiras, óleo s / tela, 1943;
                            0,55 X 0,46, Museus Castro Maya, RJ.
Menino com carneiro, óleo s/ tela, 1953;
  0,46 X 0,26, Museus Castro Maya, RJ.

 A barca de São Pedro, óleo s/ tela, 1955;
  2,10 X 5,13, Palácio Bandeirantes, SP.

D. Quixote e Sancho Pança, desenho, 1955;
   0,33 X 0,29, Museus Castro Maya, RJ.

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Portinari, cândido

  • 1. PORTINARI, Cândido (1903-62). Nascido em Brodósqui (SP) e falecido no Rio de Janeiro. Filho de imigrantes italianos naturais do Vêneto, cursava ainda o primário quando se tornou auxiliar de um grupo de pintores incumbidos da decoração da Matriz de sua cidade natal. Mais ou menos pela mesma época, jogando futebol com outros molecotes na Praça Santo Antônio (hoje Praça Cândido Portinari), destroncou a coxa direita, o que o levou a claudicar até o fim da vida. Em 1918 transfere-se definitivamente para o Rio de Janeiro, disposto a seguir sua vocação. Era tão pobre que dormia no banheiro de uma casa de cômodos e só se alimentava uma vez ao dia para poder freqüentar a Escola Nacional de Belas Artes, na qual estudaria desenho com Lucílio de Albuquerque (talvez o primeiro a lhe reconhecer e incentivar o talento), e pintura com Rodolfo Amoedo e Batista da Costa. Por volta de 1920 compôs sua primeira pintura de importância: Baile na Roça, de dois por dois metros, vendida por 200 mil réis e não faz muito tempo reencontrada. Dois anos depois expôs pela primeira vez no Salão Nacional de Belas Artes um retrato, que passou desapercebido. Mas já no ano seguinte seu retrato do escultor Paulo Mazzuchelli lhe garantia a medalha de bronze e um prêmio de estímulo de 500 mil réis. A medalha de prata viria em 1925, e a grande medalha de prata em 1927. Comentando seu envio ao Salão de 1926, o crítico Flexa Ribeiro emitia os seguintes conceitos, que bem caracterizam seu estilo na época: - No Sr. Cândido Portinari a elegância do desenho, o romantismo de outras eras sobrelevam as demais qualidades. É um jovem que ficou à margem da evolução pictural. Dir-se-ia um tradicionalista: mas sua fatura recebeu o influxo de certas modalidades da pintura moderna, onde também aquele sentimento predomina. E não é outra a razão que o levou a filiar-se a Zuloaga, mestre que sempre se conservou estranho às correntes que revolucionam a arte desde o Impressionismo. Sua sensibilidade fina leva-o a assimilar com facilidade as dominantes expressionais de certos artistas. Flexa Ribeiro conclui suas observações com uma frase profética: - Do seu sentimento, muito devemos esperar: alguma coisa da alma florentina tenta renascer nesse adolescente, que é, desde já, um espiritualista. Em 1928, com o Retrato de Olegário Mariano, é-lhe afinal atribuído o prêmio de viagem ao estrangeiro. Portinari segue para a Europa e percorre França, Itália, Inglaterra e Espanha, observando muito e pouco produzindo. Em 1930 retorna ao Brasil, casado com a jovem uruguaia Maria Martinelli. Fixando-se de novo no Rio de Janeiro, começa a produzir furiosamente. Se, durante a permanência européia, somente executou três pequenas naturezas-mortas, agora chega a produzir até cinco pinturas por semana! O seu amor pela pintura era de tal modo absorvente, escreveu Manuel Bandeira, que - Portinari como Paolo Ucello séculos antes, preocupado com a perspectiva -, "muitas noites rolava insone na cama, ansioso por que despontasse a luz do dia para poder pintar". O novo estilo pictórico de Portinari, em começos da década de 1930, é uma curiosa mistura de elementos quatrocentescos italianos (em especial de Piero della Francesca) e de reminiscências de pintores modernos, como Modigliani. O retrato domina então sua produção, lado a lado com algumas paisagens e naturezas-mortas. No Salão Revolucionário de 1931 tais obras começam a interessar vivamente à crítica e aos intelectuais, e toda uma clientela surge em torno ao jovem retratista, de estilo ao mesmo tempo clássico e renovador. O crítico Paulo Boneschi, de orientação conservadora, faz então a respeito do artista um reparo que o tempo felizmente se incumbiria de desmentir: - Portinari pinta retratos bem desenhados e compostos, simples e sintéticos, executados com uma técnica moderna. Já alcançou o máximo de sua evolução artística, e dificilmente poderá fazer obras melhores que as pintadas até hoje.
  • 2. Ao contrário, de 1932 a 1935 a obra de Portinari amadurece rapidamente, sob o influxo da pintura mexicana. É sob o peso dessa influência de Rivera, Orozco e Siqueiros que o artista brasileiro, debruçado sobre as memórias da infância em Brodósqui e perseguindo, como eles, a meta do nacionalismo artístico, começa a produzir uma série de obras marcantes, das quais a mais notável, Café, conquistará menção honrosa na exposição internacional de arte moderna efetuada pelo Instituto Carnegie de Pittsburgh, em 1935. Esse prêmio dado nos Estados Unidos a um pintor moderno brasileiro é, mais do que a consagração do artista, o triunfo da própria arte moderna no Brasil. Os quadros executados entre 1932 e 1939 formam a série marrom de Portinari. São obras de ambiência brodosquiana, visões de favelas e morros do Rio de Janeiro e composições com trabalhadores do campo, marcadas, já, por um sentimento de calma monumentalidade que preludia o futuro muralista. Em 1936, com efeito, Portinari executa seu primeiro mural, para o Monumento Rodoviário, na Estrada Rio-São Paulo. No mesmo ano leciona pintura na Universidade do Distrito Federal, logo extinta. De 1937 a 1945 desenvolverá uma atividade inacreditável: pinta, então, os murais para o gabinete de espera e os aposentos do ministro no edifício-sede do Ministério da Educação, por encomenda de Gustavo Capanema; executa, para o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova Iorque, três grandes murais (1939); expõe individualmente no Rio de Janeiro, em Washington e Detroit (1939-40), e para a biblioteca do Congresso da capital norte-americana realiza quatro murais; pinta as têmperas, mais tarde destruídas num incêndio, para a Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, e outras, com temas bíblicos, para a Rádio Tupi de São Paulo; e ainda acha tempo para decorar a capelinha que mandara erguer junto à casa paterna, em Brodósqui, e a Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, e para pintar uma Via Sacra para a Catedral da capital mineira. Uma incursão pela política torna-o candidato a deputado federal em 1945 e candidato a senador em 1947, por São Paulo, perdendo, nesse último ano, por exígua margem de votos. No intervalo, expõe na Galeria Charpentier, de Paris, e recebe a Legião de Honra do Governo francês, o qual também lhe adquire, para o Museu de Arte Moderna de Paris, uma tela da série Emigrantes. Novos murais serão executados em 1948 (Primeira Missa no Brasil, Banco Boavista), 1949 (Tiradentes, para o Colégio de Cataguazes, hoje no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo), e 1952 (Chegada de Dom João VI, Salvador). Nesse mesmo ano dá início à execução de dois enormes painéis, Guerra e Paz, cada qual medindo 14 x 10 metros e executados a óleo sobre madeira. A obra, ofertada pelo governo brasileiro, é colocada em 1956 no edifício-sede da Organização das Nações Unidas, em Nova lorque. Em 1950 Portinari realiza nova viagem à Europa, demorando-se na Itália e participando da Bienal de Veneza. Em 1953 decora a Igreja de Batatais, em São Pauto, e realiza grande exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Recuperado, no ano seguinte, de uma primeira crise de saturnismo, realiza outro mural, O Descobrimento do Brasil, e nova Via Sacra para a mesma igreja de Batatais. Na III Bienal de São Paulo, em 1955, expõe os primeiros estudos dos murais Guerra e Paz. Em 1956 vai a Israel, a convite do governo, realizando exposições em Tel Aviv e Haifa. Encantado com o país e seus habitantes, pinta inúmeras obras, nas quais avulta a nota lírica, a cor revelando-se então mais vívida, a composição resolvida em pinceladas destacadas, de conotação divisionista. No mesmo ano, por ocasião da inauguração dos seus painéis na ONU, recebe em Nova Iorque os prêmios Guggenheim e Hallmark Art. Diversas outras individuais realizaria a partir de 1957 em Paris e Munique, Bolonha, Lima e Buenos Aires, Praga, Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto em 1958 participava da Bienal Internacional do México (nela obtendo o Prêmio Ciudad de Mexico) e da grande exposição 50 Anos de Arte Moderna em Bruxelas e em 1959 ilustrava, para a Gallimard, a edição francesa de O poder e a glória de Graham Greene. Viajando, em 1961, mais uma vez para a Europa, adoece gravemente em Paris, minado pelo chumbo que já o intoxicara havia alguns anos. Retornando ao Rio de Janeiro, ali faleceu a 6 de
  • 3. fevereiro de 1962, com 58 anos, pois nascera a 29 de dezembro de 1903: tinham-no vitimado as próprias cores a que devia toda a sua celebridade. A evolução artística de Portinari pode ser reconstituída desde suas primeiras obras, que tanto devem a Zorn e Zuloaga, às últimas composições, de um cromatismo fragmentado reminiscente de Jacques Villon. Entre os dois extremos situam-se influências dos pré- renascentistas italianos e de Modigliani, De Chirico e outros mestres modernos; a fase marrom, marcada pelo muralismo mexicano; o encontro decisivo, em Nova lorque, com a obra-prima de Picasso, Guernica, que iria marcá-lo e de certo modo preludia tema e técnica do mural Guerra; em dado instante, quando mais acesa ia a luta no Brasil entre abstracionistas e figurativistas, curto namoro com a arte não-figurativista, tal como, alguns anos antes, já flertara, na série dos Espantalhos, com o Surrealismo. Mas não se pense que Portinari era alguém à procura de um estilo: o artista possuiu seu estilo pessoal, embora tivesse sido permeável à grande arte do passado e à arte dos criadores de formas do Séc. XX. O desenho portinariano é, por exemplo, clássico, clássico no sentido de que o são Cézanne, ou Braque; desenho sólido e de um virtuose acabado, configurado em linhas ao mesmo tempo sensíveis e expressivas. Já no que respeita à cor, ora limitada a uns poucos contrastes entre pretos e brancos ora explosiva, atravessa todo um périplo até chegar aos tons claros e alegres dos retratos da netinha Denise, nascida em 1960. Portinari deforma com violência, para expressar; e com freqüência atinge o dramático e o patético, como nos quadros da série Retirantes - em especial Enterro na Rede ou Menino Morto, ambos de 1944. Em muitas de suas melhores obras de cavalete, e logicamente nos murais, atinge, sem esforço, a uma monumentalidade sóbria e plena de eloqüência. Certa geometrizaçào, o afastamento gradativo da atmosfera naturalista-romântica de obras anteriores manifestam-se a partir de 1947, primeiro no mural Primeira Missa no Brasil, marcado pela contenção formal e despido de qualquer arroubo romântico. Nesses momentos, Portinari combina os postulados racionalistas oriundos do Cubismo a seu inato Expressionismo, produzindo obras de grande apuro formal e fundo sentimento contido. Finalmente, as obras do último período, executadas durante a permanência em Israel, com seus tons amarelos, laranjas e violetas, e sobretudo as inspiradas pelo nascimento da netinha Denise são marcadas pelo lirismo: Portinari parece renovar-se, embora tecnicamente seja licito falar numa dependência de Jacques Villon e até longinquamente de Van Gogh. Influenciado por muitos, não deixou Portinari também de por sua vez influenciar inúmeros jovens pintores: na verdade, toda a década de 1940 foi marcada pela sua presença, entrechocando-se, no cenário pictórico nacional, o portinarismo e o antiportinarismo. Hoje, mais de 35 anos decorridos de sua morte, seu prestígio é imenso, inclusive internacionalmente: Portinari é considerado um dos maiores artistas da América Latina e o mais brasileiro dos pintores, pois ninguém, mais do que ele, soube fixar, com fidelidade e emoção, as favelas cariocas, o trabalho nos cafezais e nas plantações de tabaco, o drama dos retirantes ou a inocência dos jogos infantis. Mestiço, óleo s/ tela, 1934; 0,81 X 0,65, Pinacoteca do Estado de São Paulo. Floresta, óleo s/ tela, 1937; 1,50 X 2,20, Palácio Bandeirantes, SP. O lavrador, óleo s/ tela, 1939; 1,00 X 0,81, Museu de Arte de São Paulo. A barca, óleo s/ tela, 1941; 2,00 X 2,00, Museus Castro Maya, RJ. Lavadeiras, óleo s / tela, 1943; 0,55 X 0,46, Museus Castro Maya, RJ.
  • 4. Menino com carneiro, óleo s/ tela, 1953; 0,46 X 0,26, Museus Castro Maya, RJ. A barca de São Pedro, óleo s/ tela, 1955; 2,10 X 5,13, Palácio Bandeirantes, SP. D. Quixote e Sancho Pança, desenho, 1955; 0,33 X 0,29, Museus Castro Maya, RJ.