- Narrado em primeira pessoa pelo protagonista Sérgio, o romance descreve suas experiências traumáticas nos dois anos que passou no internato Ateneu, sob a direção do Dr. Aristarco;
- A narrativa é marcada por impressões do menino Sérgio e reflexões do adulto que relembra os fatos, com distanciamento entre sentimentos infantis e análise madura;
- O colégio é retratado como um ambiente de corrupção moral que deforma em vez de formar caracter, onde impera a lei do mais forte sobre
5. O IMPRESSIONISMO EM NOSSA
FICÇÃO: O ATENEU
A novidade do livro concentra-se no caráter
descritivo das cenas que evoca, como se se tratasse
de uma sucessão de quadros cuja ordem e cujo
enfoque nada tem a ver com o objetivismo dos
textos naturalistas, nem com a densidade da
análise psicológica machadiana.
Com fortes traços autobiográficos, este romance
iniciou no Brasil o deslocamento da postura
racionalista para a postura intimista, da análise
para o devaneio das impressões deixadas pelos
acontecimentos. Além disso, alia traços
impressionistas de seu estilo a traços
expressionistas (quando faz a caricatura dos tipos e
cenas mais chocantes).
6. O IMPRESSIONISMO EM NOSSA
FICÇÃO: O ATENEU
Tendo por cenário um internato e por
protagonista um menino de onze anos, n’O Ateneu é
tematizado o drma da solidão, o desajuste do
indivíduo em relação ao meio que lhe é hostil.
7. I
Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à
porta do Ateneu. Coragem para a luta.” Bastante
experimentei depois a verdade deste aviso, que me
despia, num gesto, das ilusões de criança educada
exoticamente na estufa de carinho que é o regime
do amor doméstico, diferente do que se encontra
fora, tão diferente, que parece o poema dos
cuidados maternos um artifício sentimental, com a
vantagem única de fazer mais sensível a criatura à
impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera
brusca da vitalidade na influência de um novo
clima rigoroso. (...)
8.
9. I
Eu tinha onze anos.
Frequentara como externo, durante alguns
meses, uma escola familiar do Caminho Novo, onde
algumas senhoras inglesas, sob a direção do pai,
distribuíam educação à infância como melhor lhes
parecia. Entrava às nove horas, timidamente,
ignorando as lições com a maior regularidade, e
bocejava até às duas, torcendo-me de insipidez
sobre os carcomidos bancos que o colégio comprara,
de pinho e usados, lustrosos do contato da
malandragem de não sei quantas gerações de
pequenos. Ao meio-dia, davam-nos pão com
manteiga. Esta recordação gulosa é o que mais
pronunciadamente me ficou dos meses de
10. NARRADOR:
Narrado em primeira pessoa pelo próprio
protagonista, Sérgio, O Ateneu mostra elementos
importantes de seu foco narrativo, em que
percebemos nitidamente uma distância entre os
sentimentos infantis e as reflexões de adulto;
Ao relatar os episódios emocionalmente mais
marcantes, mais traumatizantes do Sérgio-
menino durante os dois anos em que esteve no
internato, o Sérgio-adulto não rememora apenas
o próprio sofrimento, mas procura refletir o que
viveu, o que sentiu, construindo uma certa
opinião a respeito das pessoas e da solidariedade
(ou falta dela).
11. NARRADOR:
“Eu me sentia compenetrado dauilo tudo, não
tanto por entender bem, como pela facilidade da fé
cega a que estava disposto...”
(reflexões Sérgio adulto)
“Oh, que não seria o colégio, tradução concreta da
alegria, ronda angélica de corações à porta de um
templo, dulia permanente das almas jovens no
ritual da virtude!”
(impressões infantis)
12. LINGUAGEM
Embora haja personagens que se aproximam do
Naturalismo no romance, principalmente aquelas
em que se faz a caricatura de cenas e de certos
personagens, esta não é a tendência
predominante. Sérgio, por exemplo, não é
mudado pelo ambiente de malícia e perversão –
ele continua frágil, submisso, arredio e tímido.
13. LINGUAGEM: TRECHO QUE SE
APROXIMA DA LINGUAGEM
NATURALISTA:
Os olhos riam destilando uma lágrima de desejo;
as narinas ofegavam; adejavam trêmulas por
intervalos, com a vivacidade espasmódica do amor
das aves; os lábios, animados de convulsões
tetânicas, balbuciavam desafios, prometendo
submissão de
cadela e a doçura dos sonhos orientais. Dominada
então pela oferta abusiva, de repente abatia-se à
derradeira humilhação, para atrair de baixo, como
as vertigens. Ali estava, por terra, a prostituição da
vestal, o himeneu da donzela, a deturpação da
inocente, três servilismos reclamando um dono;
apetite para esta orgia rara sem convivas!
14. LINGUAGEM
Se lembrarmos dos episódios do romance como
“sucessão de quadros”, o mais importante não são
exatamente os quadros, mas as impressões que
causam em Sérgio. A falta de rigidez cronológica
entre os 12 capítulos acentua o caráter
impressionista da estrutura do livro.
15. LINGUAGEM IMPRESSIONISTA
A sala do Professor Mânlio era ao nível do pátio,
em pavilhão independente do edifício principal,
com duas outras do curso primário, o alojamento da
banda de música e o salão suplementar de recreio,
vantajoso em dias de chuva. Formando ângulo reto
com esta casa, uma extensa construção de tijolo e
tábuas pintadas, sala geral do estudo no pavimento
térreo e dormitório em cima, concorria para fechar
metade do quadrilátero do pátio, que o grande
edifício completava, estendendo-se em duas alas,
como os braços da reclusão severa.
16. LINGUAGEM IMPRESSIONISTA
No fundo desta caixa desmedida de paredes,
dilatava-se um areal claro, estéril, insípido como a
alegria obrigatória, algumas árvores de cambucá
mostravam, em roda, a folhagem fixa, com o verdor
morto das palmas de igreja, alourada a esmo da
senilidade precoce dos ramos que sofrem, como se
não coubesse a vegetação no internato; a um canto,
esgalgado cipreste subia até às goteiras, tentando
fugir pelos telhados.
17. ENREDO
o Sérgio, já adulto, relata a convivência em um
internato, intitulado Ateneu, um ambiente
corrupto e moralista, sendo dirigido pelo Dr.
Aristarco, um homem que visava apenas o lucro e
o ganho de bens materiais, então diretor do
colégio.
o Sérgio atende as necessidades do pai e, ao longo
de toda a narrativa, relata seus medos,
decepções, as disciplinas impostas duramente, os
relacionamentos e as amizades.
18. ENREDO
o Como um diário de bordo, Sérgio não deixa
perder nenhuma memória sobre os seus dois anos
no internato. O seu cotidiano, como os lazeres, os
encontros, as aulas e os banhos de piscina são
retratados a partir de uma perspectiva
particular.
19. ENREDO
oEm uma fatídica manhã, todos gritavam por fogo,
um incêndio provocado supostamente pelo novo
aluno, Américo. Deixado no internato contra sua
vontade, o pai do jovem Américo faz um pedido ao
diretor Aristarco: ele deseja ver seu filho
disciplinado às normas rígidas, curando-lhe o mau
comportamento. Com o incêndio, D. Emma
desaparece misteriosamente. Junto com o Ateneu,
que foi destruído pelo fogo, Sérgio encerra suas
memórias sobre uma vida de aprendizagem na
escola.
20. PERSONAGENS
Sérgio: personagem principal. Entra aos 11 anos
no internato Ateneu e ali tem várias experiências
que são narradas no livro.
Aristarco: diretor do colégio e pedagogo
reconhecido por suas obras. Ao mesmo tempo em
que é rígido, possui uma alma paternal.
D. Ema: esposa de Aristarco. Sérgio nutre um
amor platônico por ela.
21. PERSONAGENS
Professor Mânlio: Primeiro professor de Sérgio.
Rebelo: primeiro amigo de Sérgio. É bondoso e
um ótimo aluno. Ajudou Sérgio nas lições.
Sanches: à primeira vista, é considerado
antipático por Sérgio, salva ele de um
afogamento e os dois tornam-se amigos.
Barbalho: aluno indisciplinado com quem Sérgio
tem uma briga.
Ribas: menino feio, que cantava músicas
27. ESPAÇO
A obra é claramente dividida em dois espaços:
fora e dentro do colégio. O primeiro é visto como
ambiência do mundo natural. O segundo funciona
como rito de iniciação, acontecimento traumático
por meio do qual ocorre a passagem do universo
infantil para o adulto, espaço para a formação do
homem.
O Ateneu, contudo, em vez de formar, deforma
o homem. Trata-se de uma formação às avessas,
ou seja, o que se espera de uma instituição é
subvertido por uma educação bárbara. O ensino
no colégio é determinado por um espaço no qual
impera o ideal da força sobre os mais fracos.
28. CONTEXTO
o Quando, em 1888, culminava o Naturalismo, a
Gazeta de Notícias começou a publicar o romance
“estranho” de Raul Pompeia, misto de romance e
memórias.
o O século XIX foi marcado pela falsa estruturação
do sistema educacional brasileiro, principalmente
dos colégios internos frequentados pelos filhos da
elite. Internatos onde a educação era impregnada
de modelos severos e regimes autoritários, onde a
educação moral rígida era vista como objetivo
final da escola.
29. ANÁLISE DA OBRA
Pode ser considerado desde um relato
autobiográfico até um romance de formação, ou
ainda uma típica narrativa de cunho naturalista,
ou melhor: impressionista. Vistas isoladamente,
no entanto, essas abordagens deixam a dever no
entendimento final da obra;
No romance, o colégio interno não gera a
corrupção da sociedade, ele a reflete;
A preocupação formal é um elemento importante
do livro.
30.
31. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, E.; ANTÔNIO, S.; PATROCÍNIO, M. F. Raul Pompéia: O
Ateneu. In: Português: redação, gramática, literatura e
interpretação de texto. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 420-
426.
http://www.estudopratico.com.br/resumo-do-livro-o-ateneu-de-raul-
pompeia/
http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/o-
ateneu.html