2. ASPECTOS GERAIS!
Infância, de Graciliano Ramos
Segunda
Geração
do
Modernismo
Brasileiro
1945 39
capítulos
que
acompanham
a
vida
do
protagonista
até
os
12
anos
de
idade
a segunda geração do modernismo brasileiro
NARRATIVA REGIONAL NARRATIVA PSICOLÓGICA
engajada intimista
social psicológica
neonaturalista neorrealista
3. ASPECTOS HISTORIOGRÁFICOS!
Infância, de Graciliano Ramos
ROMANCE
PSICOLÓGICO
ROMANCE
SOCIAL
NEORREALISTA
OU
DE
TENSÃO
INTERIORIZADA
NEONATURALISTA
OU
DE
TENSÃO
EXTERIORIZADA
ambientação
rural
e
urbana
classes
médias
análise
psicológica
o
meio
determina
o
comportamento
do
homem
discurso
indireto
livre
e
monólogo
interior
poucas
oportunidades
de
ascensão
social
visão
desidealizada
das
relações
humanas
e
sociais
coloquialismo
transparente
4. ENREDO COMENTADO: MANHÃ!
Infância, de Graciliano Ramos
Espaço:
clima
árido
nordesVno;
Tempo:
infância;
Apesar
de
distante,
a
enunciação
contamina
o
enunciado,
ou
seja,
é
por
uma
perspecVva
críVca
e
distanciada
que
os
eventos
serão
mostrados,
diferentemente,
por
exemplo,
da
perspecVva
saudosista
e
solar
de
Menino
de
engenho,
de
José
Lins
do
Rego;
É
por
intermédio
da
metonímia
que
as
personagens
se
configuram
diante
do
leitor:
gritos,
pancadas,
rugas,
boca
sem
lábios;
No
dia-‐a-‐dia
da
fazenda,
fala-‐se
do
avô
materno,
homem
de
ação
[meio
bárbaro],
da
irmã
natural
[fruto
das
falhas
do
pai]
e
do
avô
paterno
que
possuía
a
vocação
para
as
coisas
inúteis
[fabricava
urupemas,
metáfora
metalinguísVca
do
fazer
literário];
Urupemas:
cestas
[tecidas,
à
maneira
do
texto
literário]
em
cuja
feitura
o
avô
perdia
seu
tempo;
ENREDO COMENTADO: VERÃO!
Infância, de Graciliano Ramos
A
seca
modifica
o
comportamento
das
personagens,
principalmente
o
do
pai
[determinismo];
O
protagonista
passa
pela
terrível
experiência
da
seca;
As
diferenças
sociais
são
observadas
pelas
vesVmentas:
o
pai
se
veste
de
forma
diferente
dos
outros
homens;
segundo
a
professora
Vivina
de
Assis
Viana,
a
violência
aparece
dentro
da
família
essencialmente
patriarcal,
na
organização
social;
na
análise
distanciada
que
o
narrador
promove,
busca-‐se
compreender
o
Real;
5. ENREDO COMENTADO: UM CINTURÃO!
Infância, de Graciliano Ramos
Primeiro
contato
do
narrador
com
a
injusVça
humana:
o
pai,
que
esVvera
dormindo
na
rede,
se
levanta
e
procura
por
um
cinturão;
Atordoado,
o
pequeno,
que
não
sabia
onde
estava
o
cinto,
se
exaspera;
Resultado:
leva
uma
surra;
Minutos
depois,
o
pai
acha
o
cinto,
na
rede
onde
dormira,
mas
não
tem
coragem
de
pedir
perdão
à
criança;
ENREDO COMENTADO: A VILA!
Infância, de Graciliano Ramos
A
família
se
muda
para
um
núcleo
urbano,
Buíque,
em
Pernambuco;
Algumas
famílias
importantes:
os
CavalcanV
e
os
Albuquerque;
Alguns
moradores:
Seu
Quinca,
marido
da
professora,
o
barbeiro
André
Laerte,
o
alfaiate
Mestre
Firmo,
Padre
João,
Dona
Marocas
e
Seu
Afro;
Estes
dois
úlVmos,
casados,
viviam
na
mesma
casa
que
um
“compadre”,
por
isso
sofriam
preconceito
dos
moradores
do
povoado
e
também
por
parte
do
narrador;
ENREDO COMENTADO: INFERNO!
Infância, de Graciliano Ramos
Capítulo
que
guarda
semelhança
com
Vidas
secas;
aqui
o
menino
contesta
a
mãe
sobre
o
assunto:
Os
padres
foram
lá?
Sua
rebeldia
lhe
vale
algumas
chineladas
e
o
aprendizado
da
dissimulação.
6. ENREDO COMENTADO: O MOLEQUE JOSÉ!
Infância, de Graciliano Ramos
Filho
da
Negra
Luiza,
metaforiza
o
tratamento
dado
aos
negros;
O
moleque
é
obrigado
a
chamar
o
protagonista
de
senhor;
Protege
o
narrador
das
palavras
maliciosas
de
outros
meninos,
como,
por
exemplo,
no
episódio
em
que
se
associa
a
flor
do
mulungu
aos
órgãos
sexuais;
esse
protetor
do
protagonista
sofre,
como
todos,
as
iras
do
pai
do
narrador,
quando
os
negócios
não
vão
bem.
ENREDO COMENTADO: INCÊNDIO!
Infância, de Graciliano Ramos
O
moleque
José
chama
o
narrador
para
ver
um
incêndio
em
uns
casebres
dos
negros;
O
menino
fica
profundamente
emocionado
com
algo
que
vira:
uma
negra
morta,
reduzida
a
um
tronco
queimado,
despida
de
qualquer
traço
que
lembre
que
um
dia
foi
humana;
Reforço
do
ateísmo.
ENREDO COMENTADO: JOSÉ DA LUZ!
Infância, de Graciliano Ramos
Autoridade
policial
da
vida,
propicia
duas
experiências
posiVvas:
a
amizade
e
a
proximidade
com
alguém
cuja
intenção
não
é
humilhar
ou
massacrar
o
protagonista.
7. ENREDO COMENTADO: LEITURA!
Infância, de Graciliano Ramos
Primeiras
experiências
com
a
palavra
escrita;
O
pai,
certo
dia,
apresenta
ao
menino
um
livro
e
diz
que
as
pessoas
que
conhecem
aqueles
códigos
são
muito
respeitadas;
Ante
o
interesse
da
criança,
ensina
tortuosamente
as
primeiras
letras,
mas
o
que
aprende
está
muito
distante
da
realidade;
Empacado,
não
disVngue
o
d
do
t
tampouco
entende
a
frase:
Fala
pouco
e
ter-‐te-‐ão
por
alguém.
ENREDO COMENTADO: O BARÃO DE MACAÚBAS!
Infância, de Graciliano Ramos
O
narrador
sente
verdadeira
aversão
pelas
histórias
arVficiais
e
de
cunho
moralizante
reunidas
no
livro
do
Barão;
criVca
a
linguagem
posVça
atribuída
às
personagens
e
o
fato
de
a
literatura
ser
usada
para
transmiVr
ensinamentos
moralizantes;
aos
sete
anos,
estuda
Os
lusíadas
e
abomina!
ENREDO COMENTADO: OS ASTRÔNOMOS!
Infância, de Graciliano Ramos
Aos
nove
anos,
ainda
é
semianalfabeto,
o
que
o
faz
se
senVr
inferiorizado;
Um
dia,
o
pai
pega
um
livro
de
aventuras
e
pede
que
o
menino
leia;
A
história
de
um
casal
de
filhos
perdidos
na
floresta
entusiasma
o
menino;
quando
o
pai
abandona
a
empreitada,
pede
ajuda
à
prima
que
sugere
que
leia
sozinho;
Aprende
com
ela
que
poderia
ler
até
mesmo
as
estrelas,
tal
qual
os
astrônomos.
8. ENREDO COMENTADO: SAMUEL SMILES!
Infância, de Graciliano Ramos
Embrião
do
livro,
foi
publicado
em
1938;
trata
de
uma
seleta
escolar
que
oferece
conselhos
aos
alunos;
o
enredo
trata
da
pronúncia
que
variava
conforme
o
dia;
outro
tema
é
a
ignorância
dos
professores
das
cidades
pequenas
[a
professora
do
menino
desconhecia
pronúncia
certa];
o
novo
professor
do
protagonista
ensina
a
pronúncia
certa;
o
menino
é
zombado,
mas
se
enche
de
si.
ENREDO COMENTADO: CEGUEIRA!
Infância, de Graciliano Ramos
Após
passar
um
tempo
com
o
avô,
aprendendo
a
ler;
o
menino
enfrenta
um
problema
de
visão;
impossibilitado
de
ir
à
escola,
fica
em
casa
e
recebe
demonstrações
pouco
carinhosas
da
mãe,
que
o
chama
de
cabra
cega
e
de
bezerro
encourado;
recorda-‐se
das
canVgas
que
a
mãe
cantava.
ENREDO COMENTADO: CHICO BRABO!
Infância, de Graciliano Ramos
Durante
o
período
da
cegueira,
enxarga
o
mundo
pelos
ouvidos;
de
seu
quarto,
o
menino
forja,
pelo
que
ouve,
duas
imagens
de
Chico
Brabo,
cuja
casa
ficava
poucos
metros
adiante
da
sua:
uma,
externa,
do
farmacêuVco
zeloso,
que
sempre
se
condoía
do
sofrimento
e
se
emprenhava
na
cura
do
doente
e
outra,
interna,
a
do
homem
desumano
que
agredia
o
pobre
menino
João.
9. ENREDO COMENTADO: JOSÉ LEONARDO!
Infância, de Graciliano Ramos
O
senhor
de
engenho
José
Leonardo
é
considerado
justo,
limpo,
ordenado
e
calmo
pelo
narrador.
ENREDO COMENTADO: MINHA IRMÃ NATURAL!
Infância, de Graciliano Ramos
Capítulo
que
trata
da
mesquinharia
do
pai:
senVa-‐se
diminuído
por
não
ter
espalhados
filhos
pelo
mundo,
mas
tratava
distanciada
e
rudemente
a
filha
que
Vvera
de
relacionamento
anterior
ao
casamento;
a
menina,
linda,
começa
a
namorar,
mas
tem
oposição
do
pai,
que,
depois
se
sente
aliviado,
por
não
mais
ter
que
se
preocupar
com
as
despesas
matrimoniais.
ENREDO COMENTADO: ANTÔNIO VALE!
Infância, de Graciliano Ramos
A
personagem
que
inVtula
o
capítulo
tem
fama
de
mau
pagador;
em
meio
as
agruras
financeiras,
O
pai
do
narrador
se
maldiz
por
ter
feito
negócio
com
tal
homem;
A
nopcia
de
que
Antônio
está
de
viagem
marcada
exaspera
o
comerciante;
Vale,
entretanto,
quita
sua
dívida
antes
de
parVr.
10. ENREDO COMENTADO: MUDANÇA!
Infância, de Graciliano Ramos
Diante
de
enorme
dificuldade
financeira,
o
pai
abandona
o
comércio
e
volta
para
Viçosa-‐AL.
ENREDO COMENTADO: ADELAIDE!
Infância, de Graciliano Ramos
De
volta
à
escola,
o
narrador
direciona
seus
petardos
racistas
contra
a
professora
mulata,
Maria
do
Ó;
A
prima
Adelaide
é
maltratada
pela
professora
e
pelas
irmãs
desta
que
obrigam
a
menina
a
fazer
serviços
domésVcos,
apesar
das
fartas
contribuições
que
a
família
dela
enviava
à
escola.
ENREDO COMENTADO: UM ENTERRO!
Infância, de Graciliano Ramos
Falta-‐se
à
aula
para
ir
ao
enterro
de
um
colega;
De
início,
tudo
é
uma
algazarra;
o
encontro
com
um
depósito
de
ossos,
desperta,
no
locutor,
um
profundo
senVmento
niilista.
ENREDO COMENTADO: UM NOVO PROFESSOR!
Infância, de Graciliano Ramos
O
novo
professor
é
apresentado
como
um
mulato
efeminado
cuja
preocupação
era
empoar
o
rosto
e
alisar
o
cabelo;
quando
não
conseguia
isso,
dava
notas
ruins
aos
alunos;
evidencia-‐se
que
os
negros
são
víVmas
de
preconceito
e
q
lutam
por
espaço
em
meio
a
uma
sociedade
preconceituosa
11. ENREDO COMENTADO: UM INTERVALO!
Infância, de Graciliano Ramos
TentaVva
malograda
de
se
tornar
coroinha:
o
menino
não
leva
jeito
para
as
coisas
da
Igreja.
ENREDO COMENTADO: O MENINO DA MATA...!
Infância, de Graciliano Ramos
O
locutor
começa
a
ler
o
livro
O
menino
da
mata
e
seu
cão
piloto,
mas
a
prima
diz
que
se
trata
de
um
livro
pecaminoso,
pois
foi
escrito
por
um
protestante;
reluta,
mas
acaba
por
abandonar
o
livro.
ENREDO COMENTADO: A CRIANÇA INFELIZ!
Infância, de Graciliano Ramos
História
de
um
menino
que
era
bode
expiatório
e
saco
de
pancadas
de
todos.
Acaba
assassinado.
ENREDO COMENTADO: FERNANDO!
Infância, de Graciliano Ramos
Parente
e
braço
direito
dos
coroneis
da
região,
Fernando
é
um
homem
mau,
não
sorri,
perpetra
violências
contra
os
fracos,
dentre
as
quais
desvirginar
moças
pobres
que
depois
irão
se
prosVtuir.
Depois
de
ler
sobre
as
maldades
praVcadas
pelo
Imperador
Nero,
o
maior
facínora
que
o
mundo
já
abrigou,
o
menino
pensa:
ninguém
suplantava
Fernando
em
maucaraVsmo;
certo
dia,
assusta-‐se
porque
Fernando
se
preocupara
com
as
crianças
que
poderiam
furar
o
pé
numa
tábua
de
caixote.
12. ENREDO COMENTADO: JERÔNIMO BARRETO!
Infância, de Graciliano Ramos
É
Jerônimo
quem
empresta
livros
ao
narrador;
através
destes,
o
menino
conhece
o
outro
lado
da
literatura;
lê
os
românVcos,
os
naturalistas,
autores
europeus
e,
apesar
da
sua
dificuldade
em
redação
e
das
notas
baixas,
torna-‐se
respeitado
por
ser
possuidor
de
um
conhecimento
de
mundo
que
estava
além
dos
ensinamentos
memorizados
pelos
alunos
de
sua
idade.
ENREDO COMENTADO: VENTA ROMBA!
Infância, de Graciliano Ramos
Capítulo
irmão
de
“Um
cinturão”;
Novamente
avulta
a
injusVça:
Venta
Romba,
por
ingenuidade,
invade
a
casa
do
“juiz
subsVtuto”,
e
vai
preso;
o
menino
se
torna
desafiador
e
desrespeitador.
ENREDO COMENTADO: SEU RAMIRO!
Infância, de Graciliano Ramos
Por
ocasião
em
que
estava
juiz
subsVtuto
da
cidade,
o
pai
do
narrador
hospeda
Seu
Ramiro,
fundador
de
uma
casa
maçônica
na
cidade;
o
pai
do
narrador
faz-‐lhe
um
emprésVmo,
mas
não
é
ressarcido;
isso
o
faz
abandonar
a
simpaVa
pelos
maçons.
13. ENREDO COMENTADO: LAURA!
Infância, de Graciliano Ramos
O
úlVmo
capítulo
do
livro
traz,
em
seu
ptulo,
o
nome
da
musa
de
Petrarca
e
também
do
narrador;
Laura
é
uma
colega
de
escola
por
quem
o
narrador
se
apaixonara;
O
corpo
[e
a
mente]
do
nosso
protagonista
passa
por
mudanças;
apesar
da
Vmidez
para
com
a
musa,
o
protagonista
em
sua
iniciação
sexual
com
uma
meretriz,
Oplia;
eis
o
fim
da
infância.
14. UM ROMANCE BIOGRÁFICO?!
Infância, de Graciliano Ramos
a narrativa
39
capítulos
independentes
que
podem
ser
lidos
como
contos;
lidos
na
ordem
disposta
no
livro
enfeixam
as
memórias
de
Graciliano
Ramos
até
os
12
anos.
um romance de memórias?
Dado
que
a
memória
é
lacunar
e
é
impossível
se
recordar
dos
fatos
tais
quais
ocorreram,
todo
exercícios
autobiográfico
sempre
trará
um
pouco
de
ficção.
a biografia se nutre de aspectos do romance
quase
metade
dos
capítulos
dizem
respeito
a
personagens
diferentes
do
protagonista
15. ESTRURURA DAS MEMÓRIAS!
Infância, de Graciliano Ramos
PRIMEIRO NÚCLEO
TEMA despertar
do
conhecimento
da
própria
existência
em
face
ao
ambiente
ESPAÇO Quebrangulo
e
Buíque
TEMPO 1884
SEGUNDO NÚCLEO
TEMA o
conhecimento
daqueles
que
influenciaram
o
narrador-‐protagonista
ESPAÇO Buíque
TEMPO 1894
a
1900
TERCEIRO NÚCLEO
TEMA descoberta de si e das suas capacidades físicas e intelectuais
ESPAÇO Viçosa
TEMPO pós-‐1900
16. A LINGUAGEM!
Infância, de Graciliano Ramos
a metonímia
um
termo
subsVtui
o
outro
com
base
numa
relação
lógica
entre
eles
como aparece em “Infância”?
traços,
retalhos,
pedaços,
fragmentos,
farrapos
Sinhá
Leopoldina:
cara
morena,
brincos;
Amaro
Vaqueiro:
Gibão;
José
Baía:
dentes
brancos;
Mãe:
boca
irritada
e
sem
lábios.
Minha
mãe
e
eu
ficamos
cercados
de
saias.
E
nessa
neblina
flutuavam
moscas,
aranhas
e
passarinhos,
nomes
ditceis,
vastas
barbas
pedagógicas.
Na
casa
de
Seu
Chico
Brabo
não
havia
saias:
todo
o
serviço
estava
ao
cargo
de
João,
um
garoto
de
dez
anos.
17. A LINGUAGEM!
Infância, de Graciliano Ramos
procedimentos metafóricos
Ainda
hoje,
se
fingem
tolerar-‐me
um
romance,
observo-‐lhe
cuidadosamente
as
mangas,
as
costuras,
e
vejo
como
ele
é
realmente:
chinfrim
e
cor
de
macaco.
METÁFORA o
livro
é
desprezível
tal
qual
o
paletó
cor
de
macaco
do
narrador;
METONÍMIA a
cor
ocupa
o
lugar
do
animal.
procedimentos zoomórficos
o
encadeamento
homem/animal,
herdado
do
Naturalismo,
é
constante
em
Infância
Eu
aparentava
pendurar
nos
ombros
um
casaco
alheio.
Bezerro
encourado.
Mas
não
me
fazia
tolerar.
Essa
injúria
revelou
muito
cedo
minha
condição
na
família:
comparado
ao
bicho
infeliz,
considerei-‐me
um
pupilo
enfadonho,
aceito
a
custo.
a personificação
Construía
uma
sociedade,
sapos
negociantes,
sapos
vaqueiros,
o
reverendo
sapo
João
Inácio,
o
sapo
José
da
Luz,
amigo
da
disVnta
farda,
sapos
traquinas,
filhos
do
cururu
Teotoninho
Sabiá,
o
sapo
alfaiate
mestre
Firmo,
a
sapa
Rosenda
lavadeira
a
tagarelar
os
mexericos
da
beira
da
água.
18. O ESPAÇO!
Infância, de Graciliano Ramos
determinismo mesológico-social
o
comportamento
das
personagens
é
determinado
pelo
meio
tsico
e
social:
consoante
à
natureza
hosVl
e
severa,
neste
ambiente
não
haverá
espaço
para
carinho
e
ternura.
o regionalismo na linguagem
Tomava-‐se
de
pavores,
meVa-‐se
na
camarinha
[quarto
de
dormir].
Corríamos
dali
para
o
copiar
[varanda,
alpendre].
A
máquina
a
devorar
capulhos
[cápsulas
dentro
das
quais
se
forma
o
algodão].
O
aió
sujo
pesava-‐lhe
no
ombro
[bolsa
feita
de
fibras].
19. INTERTEXTUALIDADE E METALINGUAGEM!
Infância, de Graciliano Ramos
um livro de aprendizagens
da
leitura
do
mundo
da
injusVça
do
preconceito
da
escrita
do
religião
do
medo
da
indiferença
escrita e ideologia
Por
intermédio
do
livro
do
Barão
de
Macaúbas,
criVca-‐se
metalinguisVcamente
a
literatura
de
caráter
moralizante.
Outra
críVca
se
dirige
às
escolas
e
professores
de
formação
insuficientes
que
fazem
uma
criança
de
sete
anos
ler
Os
lusíadas.
literatura e efabulação
É
por
intermédio
do
contato
com
a
literatura
que
o
menino
se
firma
como
indivíduo
numa
sociedade
severa.
A
leitura
e
a
instrução
também
possibilitam
o
contato
com
realidades
diferentes
da
vividas
pelo
locutor.
20. UMA VISÃO DESENCANTADA DO MUNDO!
Infância, de Graciliano Ramos
o
narrador
apresenta
personagens
e
situações
por
uma
óVca
desencantada,
irônica
e
amarga
desse
modo,
a
infância
emerge
como
um
tempo
de
injusVça,
intolerância
e
desamor;
veja,
a
propósito,
como
o
narrador
apresenta
personagens,
ambientes
e
situações:
a irmã natural
Minha
irmã
natural
se
desenvolvia
recebendo
com
frequência
arranhões
nos
melindres.
A
aversão
que
inspirava
traduzia-‐se
em
remoques
e
muxoxos:
quando
tomava
feição
agressiva,
fazia
ricochete
e
vinha
aVngir-‐nos.
Se
não
exisVsse
aquele
pecado,
estou
certo
de
que
minha
mãe
teria
sido
mais
humana.
o pai
Hoje
acho
naturais
as
violências
que
o
cegavam.
Se
ele
esVvesse
em
baixo,
livre
de
ambições,
ou
em
cima,
na
propriedade,
eu
e
o
moleque
José
teríamos
vivido
no
sossego.
Mas
no
meio,
receando
cair,
avançando
a
custo,
perseguido
pelo
verão,
arruinado
pela
epizooVa,
indeciso,
obediente
ao
chefe
políVco,
à
jusVça
e
ao
fisco,
precisava
desabafar,
soltar
a
zanga
concentrada.
Aperreava
o
devedor
e
afligia-‐se
temendo
calotes.
Venerava
o
credor
e,
pontual
no
pagamento,
economizava
com
avareza.
Só
não
economizava
pancadas
e
repressões.
Éramos
repreendidos
e
baVzados.
21. UMA VISÃO DESENCANTADA DO MUNDO!
Infância, de Graciliano Ramos
a honra sertaneja
Uma
se
disVnguia,
morena,
grande,
vermelha,
risonha,
barulhenta.
Senhorita.
Vinte
anos
depois,
ao
saber
que
ela
havia
dado
com
os
burros
n’água,
afligi-‐me.
Arruinou,
provavelmente
acabou
depressa.
A
honra
sertaneja
encolheu-‐se,
uma
tradição
reduziu-‐se
a
cacos.
Todavia
conVnuarão
a
espalhar
menVras
na
cidade.
A
literatura
popular
e
os
cancioneiros
matutos
gastar-‐se-‐ão
repisando
camponeses
brabos
e
vingaVvos,
donzelas
ingênuas,
puras
demais.
Engano,
Senhorinha,
educada
perto
do
curral,
conhecia
os
mistérios
da
procriação
e
era
simples.
Filha
de
proprietários,
submeteu-‐se
à
honesVdade
e
aguardou
casamento.
Mas
as
dívidas
se
avolumaram,
a
fazenda
se
despovoou,
tombaram
as
cercas,
o
coronel,
sem
correntão
nem
guarda-‐chuva,
aderiu
à
canalha
e
Senhorinha
renunciou
à
virtude,
infringiu
a
moral,
curvou-‐se
à
lei
do
insVnto.
a classe dominante
–
Só
raramente,
em
casos
de
ofensas
pessoais,
questões
de
família,
se
eliminavam
membros
da
classe
elevada.
A
esses
tomavam-‐se
os
bens,
por
meio
mais
ou
menos
legais.
Mas
a
canalha
era
dizimada,
os
cabras
ruins
do
velho
Frade
morriam
em
abundância,
e
a
gente
se
habituava
aos
cadáveres
que
manchavam
a
cidade.