1. POMPÉIA, Raul. O Ateneu. 16ª ed., São Paulo: Ática, 1996
Tema: Critica severa e sarcástica ao regime dos internatos, que procuravam
dar uma formação erronia aos jovens, como no que tange a formação cultural,
social e psicológica.
Temas mais frequentes: agressividade, violência, erotismo, homossexualismo,
incesto, desejo, ...
Tempo
O tempo cronológico não supera dois anos, que vão desde a entrada de
Sérgio no colégio até o incêndio que o destrói totalmente, por volta da última
década do séc. XIX. Predomina, assim, o chamado tempo psicológico por ser
um romance de memória em que fatos e pessoas vêm à tona da consciência
conforme sua importância no momento da narração. Esta é feita basicamente
por meio de flash back, tornando visível o que era invisível, porém, de forma
bastante tênue, sem intensidade, marcada apenas pela impressão sensorial.
Espaço
O colégio localizava-se na cidade do Rio de Janeiro. "O Ateneu,
quarenta janelas, resplendentes do gás interior, dava-se ares de encantamento
com a iluminação de fora..." Figurativamente podemos enquadrá-lo entre dois
mundos: a família e a sociedade.
Principais personagens
Sérgio: Personagem central, pois é a partir da sua ótica que a história é
contada. Menino de onze anos, criado no aconchego do lar, sob os carinhos
maternos, penetra no mundo do Ateneu com intensa fragilidade e inocência.
Para ele, a escola representava um mundo de ilusões e fantasias: ele a vira em
dias de festa. Mas, já como aluno interno, sozinho, toma contato com as leis
que regem aquele lugar e aos poucos vai-se familiarizando e se fortalecendo.
Assim, conhece a amizade, a força, o autoritarismo, o sexo, vivências que
marcam sua vida, influenciando-o posteriormente. Em relação ao Ateneu, são
incontáveis suas experiências e quanto a Aristarco, até conseguiu enfrentá-lo.
Aristarco: Aristarco Argolo dos Ramos é o diretor do Ateneu – e a
encarnação do autoritarismo, da insensibilidade e da vaidade: "Acima de
Aristarco – Deus ! Deus tão somente: abaixo de Deus – Aristarco". Mostrava
sua visão de negociante ao difundir a imagem do colégio, colocando-o numa
vistosa vitrine, sob o olhar admirado da sociedade. Assim, ao exaltar o colégio,
exaltava-se: "Soldavam-se nele o educador e o empresário com uma perfeição
rigorosa de acordo, dois lados da mesma medalha: opostos, mas justapostos"
(cap.II) – "tinha maneira de todos os graus, segundo a condição social da
pessoa." Inicialmente, o narrador mostra sua face de educador dedicado aos
alunos, um segundo pai; depois, mostra a outra face, a verdadeira, a
mesquinha.
2. D. Ema: Nome tomado de empréstimo da personagem de Gustave
Flaubert, escritor francês que imortalizou uma figura feminina com Ema Bovary.
Em O Ateneu, D. Ema é a esposa do autoritário diretor e sua figura a ele se
opõe: "bela mulher em plena prosperidade dos trinta anos de Balzac, formas
alongadas por sua graciosa magreza, erigindo, porem, o tronco sobre os
quadris amplos, fortes como a maternidade; olhos negros, pupilas retintas de
uma cor só... de um moreno rosa que algumas formosuras possuem, e que
seria a cor do jambo...Adiantava-se por movimentos oscilados, cadência de
minueto harmonioso e mole que o corpo alternava. Vestia cetim preto justo
sobre as formas, reluzente como pano molhado ..." Quando Sérgio fica doente,
ela se mostra uma enfermeira maternal, faz-lhe carinhos. "Não! eu não amara
nunca assim a minha mãe." Muitos meninos vêem D. Ema com olhos divididos:
ora mãe, ora mulher (afinal, ela era a presença feminina junto àqueles
adolescentes em processo de descoberta da sexualidade.)
Ângela: É uma empregada do colégio, "Grande, carnuda, sangüínea e
fogosa" – é a materialização do sexo e da classe social inferior a serviço, quer
no plano do trabalho ou no da sexualidade, de uma sociedade mais elevada.
Embora seja bela, torna-se o símbolo do mal.
Os colegas: São apresentados como tipos, personagens nas quais se
fixam características especificas que as definem. São personagens planas com
comportamentos previsíveis.
Egbert: Um verdadeiro amigo: "Conheci pela primeira vez a amizade", "a
ternura de irmão mais velho", disse Sérgio.
Rebelo: É o aluno modelo, exemplar, para o qual todos os demais são
inferiores e sem importância.
Franco: É a vítima, o mártir, o alvo sobre o qual se descarrega toda a violência
do internato, "a humildade vencida", "não ria nunca, sorria", "vivia isolado...".
Sanches: É o sedutor, que oferece proteção aos meninos novos e indefesos e
ainda os ajuda nos estudos. Salva Sérgio de um afogamento na piscina, talvez,
provocado pelo próprio Sanches, insinua o narrador, Sérgio se refere ao amigo
dizendo "ele me provocava repugnância de gosma". "Sanches foi se
aproximando. Encostava-se, depois, muito a mim. Fechava o livro dele e lia no
meu, bafejando-me o rosto com uma respiração de cansaço. "Aquele sujeito
queria tratar-me definitivamente como um bebê" – "Notei que ele variava de
atitude quando um inspetor mostrava a cabeça à entrada da sala..." - "Sanches
esteve pio... Tive medo de perdê-lo. Deu-me as lições sem uma só das
intragáveis ternuras."- "Sanches passou a ser um desconhecido".
Bento Alves: "estimei-o femininamente, porque era grande, forte, bravo;
porque me podia valer; porque me respeitava, quase tímido, como se não
tivesse ânimo de ser amigo."
Barreto: É um aluno, fanático religioso.
Rômulo: É o "Mestre Cook", por causa de sua paixão por comida.
3. Enredo
A história é narrada pelo personagem principal, Sérgio, já adulto, em
primeira pessoa e de forma não linear. O livro inicia-se com os primeiros
contatos de Sérgio com o Ateneu, colégio interno no qual o seu pai o matricula,
ainda mesmo antes de ser admitido para matrícula pelo rígido diretor do
estabelecimento, Aristarco. A entrada de Sérgio no Ateneu representa, para o
próprio, a passagem para a idade adulta, por conta de seu afastamento dos
pais, sobretudo dos carinhos e da proteção materna. Antes disso, cursara
apenas algumas aulas num externato familiar e tivera aulas com um preceptor.
O Ateneu era uma instituição de ensino para filhos de famílias
abastadas, ainda que admitisse alguns alunos pelas vias da caridade. Por isso,
seus educandos representavam "a fina flor da mocidade brasileira", recebendo
alunos de diversos estados brasileiros que eram enviados à corte e ao
estabelecimento de Aristarco por conta da fama do pedagogo e dos livros que
este enviava a todos os cantos do país à guisa de propaganda de sua
instituição. Localizava-se no bairro do Rio Comprido, que teve sua urbanização
iniciada em 1812 e já no século XIX recebeu uma pequena leva de imigrantes
ingleses, depois de ter sido usada como área de cultivo da cana-de-açúcar
(século XVII) e do café (século XVIII e século XIX).
Antes de sua matrícula, Sérgio e o pai foram recebidos por Aristarco em
sua residência, a qual se localizava ao lado do Ateneu. Nesta ocasião, Sérgio
conhece D. Ema, a única pessoa que lhe iria tratar com candura
desinteressada em seus anos no Ateneu e por quem irá nutrir uma paixão
platônica. No primeiro dia de aula, Sérgio foi recebido na sala do professor, e
vislumbra as diferenças na recepção dada pelo professor aos alunos, de
acordo com o grau de importância de sua família. Após se despedir do pai,
Sérgio sentiu-se deslocado, mas foi de imediato recomendado pelo professor,
Mânlio, a um dos melhores alunos, Rebelo, que lhe deu, então, inúmeras
recomendações sobre o "microcosmo" do Ateneu – e as amizades que deveria
evitar, as atitudes das quais deveria se esquivar, os tipos nos quais não deveria
se transformar, sobretudo recomenda-o sobre as deturpações de gênero que
se observam naquela realidade de colégio interno de rapazes, aconselhando-o
a ser forte e não admitir protetores. A narrativa, então, faz uma pausa para uma
descrição de alguns dos primeiros colegas de classe de Sérgio, com destaque
para o Sanches, o primeiro da turma, de quem Sérgio iria se aproximar mais
adiante. Conheceu também outros alunos do Ateneu, como o Franco, sempre
usado por Aristarco como exemplo negativo e, por conta disso, continuamente
humilhado.
Na primeira aula, ao ser chamado pelo professor Mânlio ao quadro,
Sérgio sofreu um desmaio e é levado para a rouparia, onde vê por acaso um
4. exemplar de folheto obsceno. Depois do vexame do desmaio, começa a ser
ridicularizado e assediado por Barbalho, com quem tem sua primeira briga. Ao
final deste primeiro dia de aulas, Sérgio sentiu que seus ideais de
camaradagem, de crescimento pelo conhecimento, de grandeza moral
despertados pelos eventos que assistira antes de entrar no Ateneu dificilmente
seriam aplicáveis àquela realidade.
A narrativa salta para um episódio no qual Sérgio é salvo de um
afogamento por Sanches – um acidente que Sérgio suspeita ter sido provocado
pelo próprio Sanches durante uma aula de natação; tal hipótese parece
acertada pela proximidade que se criou a posteriori: por conta do salvamento,
Sérgio sentiu-se em compromisso de gratidão com o Sanches, e se tornou
muito próximo a este. Sérgio viu em Sanches um protetor e uma companhia
vantajosa em termos acadêmicos, já que este último era o primeiro da classe.
Com o tempo, contudo, Sanches forçou uma aproximação, insinuando-se para
Sérgio, que o repeliu; isso fez com que Sanches se tornasse inimigo de Sérgio
e, como vigilante que era, ele começou a usar sua ascendência como tal para
prejudicar e ferir Sérgio.
O episódio com o Sanches fez com que Sérgio se tornasse de bom
aluno a um dos que frequentavam o temido "livro de notas" de Aristarco, no
qual os professores anotavam as supostas indisciplinas dos alunos faltosos, as
quais sempre rendiam humilhações públicas comandadas por Aristarco por
ocasião das refeições. Ele converteu-se também em religioso, mas para uma
espécie de religiosidade particular, mística, sem respaldo dos sacramentos
católicos. Sua condição de deprimido e faltoso contumaz fez com que ele se
aproximasse do Franco – uma amizade que despertou o desprezo dos
inspetores e do próprio diretor. Após uma terrível traquinagem de Franco que,
por sorte, não rendera frutos, Sérgio decidiu-se por se tornar independente,
sobretudo depois de uma breve aproximação com o Barreto, um aluno beato
para quem a religião girava em torno de um sem-número de objetos de
adoração e dos castigos do inferno guardados para os pecadores – uma
religiosidade que fez apagar as últimas chamas de fervor de Sérgio. Tornou-se,
depois de uma visita ao pai, na qual lhe contou a "verdade" sobre o Ateneu,
mais altivo e independente e, por isso, angariou a animosidade de muitos.
Chegou, então, à escola um novo aluno, o Nearco, filho de uma nobre
família pernambucana e atleta valoroso, além de excelente orador, destacado
no grêmio literário do colégio, chamado "Grêmio Amor ao Saber". Nas reuniões
do tal grêmio, Sérgio comparecia como simples assistente e, como a
agremiação possuía farta biblioteca, Sérgio começou a frequentá-la, travando
amizade com o Bento Alves, um aluno gaúcho, mais velho que ele e que
trabalhava como bibliotecário. A amizade entre os dois tornou-se imensamente
5. íntima e próxima; Sérgio assim o permitiu, e logo a proximidade entre ele e o
Bento Alves começou a gerar comentários no Ateneu. Paralelamente a estes
fatos, ocorre um assassinato passional nas dependências da escola: um
jardineiro mata, a facadas, um outro funcionário, por amor a uma mulher,
Ângela, uma espanhola que trabalhava em casa de Aristarco e D. Ema.
Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ambiente do livro
Sérgio narra, então, os exames primários e a ocorrência de uma
exposição artística: é o início de um novo ano, e o narrador fala dos passeios e
jornadas programados por Aristarco, em especial de um jantar no Jardim
Botânico no qual ficam evidenciados os maus modos de alunos e inspetores.
Bento Alves, que no início do ano mostra-se amoroso com Sérgio,
repentinamente voltou-se contra este e espancou-o sem maiores explicações;
Sérgio reagiu e, no calor da briga, acaba por agredir também Aristarco, que
surgiu a tempo de apartar os dois alunos. Curiosamente, Sérgio não é
castigado pelo gesto ousado. Há, a seguir, a revelação pelo diretor da
descoberta de um caso de "amor" entre dois alunos, feita a partir de uma carta
encontrada por um dos inspetores na qual Cândido – que no bilhete assina
como "Cândida" – aceita um convite de outro aluno, Emílio, para um encontro
no jardim. Aristarco humilha-os publicamente, a eles e aos supostos cúmplices,
outros alunos que conheciam o fato e não teriam denunciado ao diretor. Em
seguida ao evento, alunos amotinam-se contra Silvino, um inspetor que
resolveu humilhar Franco sem razão aparente, e o motim de alunos é motivo
de escândalo do diretor que, no entanto, por razões econômicas – para não
perder os alunos – resolveu amainar a situação, conversando mansamente
com os alunos e colocando "panos quentes" no assunto.
Sérgio conquistou um amigo verdadeiro, Egbert, de origem inglesa, com
quem o narrador construiu uma amizade sem interesses, com quem
compartilhou o amor ao saber e arriscou-se a escrever seus primeiros versos.
Com Egbert, foi também a um jantar em casa de Aristarco, por conta de terem
se destacado nos estudos, e teve a oportunidade de rever D. Ema, que o
reconheceu.
Chegaram, então, os tempos dos exames na secretaria de Instrução
Pública. À época, Sérgio já dormia no alojamento dos alunos maiores, onde
viveu um ambiente mais "adulto" e, também, mais propício para novas
peripécias, como a de espiar o sono do inspetor Silvino ou entrar no grupo dos
que haviam criado uma passagem secreta por uma janela para o jardim de
Aristarco; por conta desta passagem é que engendra uma vingança a Rômulo,
6. que lhe espancara no passado, deixando-o do lado de fora do prédio, no jardim
do diretor, sem jeito de voltar ao alojamento. Morre o amigo Franco, vítima dos
maus tratos que sempre sofrera tanto em casa, quanto dos funcionários do
Ateneu.
Ao término do ano letivo, os alunos cotizaram-se e mandaram erigir um
busto em bronze do diretor que, orgulhoso, primeiramente se sente lisonjeado
com a homenagem e, posteriormente, em insensata competição com a estátua.
"O Ateneu" termina com o fim da própria instituição, consumida por um
incêndio que acreditam ser criminoso, causado por um aluno recém-admitido,
Américo, que ali estava forçado pelo pai. Aristarco viu seu patrimônio ser
dilapidado pelas chamas, enquanto Sérgio, que por dias e dias estava na casa
do diretor sob os cuidados de D. Ema, que demonstrou ter imenso amor
maternal pelo jovem, acompanhava a derrocada final do impassível diretor
Conflito
Começa com o pensamento de Aristarco, diretor do colégio, onde o valor
maior era o dinheiro, o prestígio dos alunos, portanto, vinha da riqueza de suas
famílias. Por quanta disso os que tinham ―menos dinheiro‖ eram abusados
sexualmente.
Clímax
Ocorre na ocasião do incêndio da escola; porque naquele momento, é
como se o autor quisesse apagar tudo de ruim que o personagem Sérgio
passou no internato.
Desfecho
Quando a escola é incendiada no final da história por um aluno durante
as férias.
Foco narrativo
É uma narrativa de confissão, narrada em 1ª pessoa por Sérgio
(personagem-narrador). A obra é memorialista, seu narrador, Sérgio, apresenta
suas memórias de infância e adolescência num colégio interno chamado
Ateneu. Assim, o foco narrativo em primeira pessoa impede a tão valorizada
objetividade e imparcialidade do Realismo-Naturalismo.
Sérgio é o alter-ego, ou seja, um outro ―eu‖ de Raul Pompéia. Em outras
palavras, o narrador recebe a personalidade e também as memórias do autor,
já que este também estudou num internato, o Colégio Abílio, do Rio de Janeiro.
Mais uma vez, carrega-se nas tintas do pessoalismo.
Gênero Literário: romance
Tipo Textual: Narrativo
Linear
7. Discurso:
Discurso direto:
"— Quantos anos tem? perguntou-me.
— Onze anos…
— Parece ter seis, com estes lindos cabelos."
Época: realismo (séc. XIX) – 2ª metade
Contexto econômico-social: Brasil Império, oligarquia cafeeira do Vale do
Paraíba, cuja mão de obra era escrava e sua posterior decadência.
Movimentos pró-abolição e república. Grupos sociais heterogêneos:
latifundiários escravistas, bacharéis, brancos livres,escravos e operários,
imigrantes europeus, garimpeiros, camponeses, funcionários.
Realismo: denuncia política social, ideias de fatos; (denuncia o abuso sofrido
pelas crianças no Colégio interno)
Naturalismo: observação fiel da realidade e na experiência, mostrando que o
indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade; (A relação
sexual forçada que os alunos maiores impuseram à força nas crianças
menores).
8. A narrativa naturalista é marcada pela vigorosa análise social a partir de
grupos humanos marginalizados, valorizando-se o coletivo. Interessa notar que
a preocupação com o coletivo já está explicitada no próprio título dos principais
romances: O Cortiço, Casa de pensão, O Ateneu. É tradicional a tese de que,
em O Cortiço, o principal personagem não é João Romão, nem Bertoleza, nem
Rita Baiana, mas sim o próprio cortiço.
Por outro lado, o naturalismo apresenta romances experimentais
preocupados em formular regras, em consequência de seu caráter cientifista. A
influência de Darwin se faz sentir na máxima naturalista, que enfatiza a
natureza animal do homem (portanto, no embate instinto versus razão, o
homem, como todo animal, é dominado num primeiro momento pelas reações
instintivas particularmente no comportamento sexual, que a falsa moral
burguesa não é capaz de reprimir). Os textos naturalistas acabam por tocar em
tema até então proibidos, como o homossexualismo, tanto masculino, como em
O Ateneu, quanto feminino, em O Cortiço.