Machado de Assis foi um autor universal brasileiro que se destacou por seu realismo psicológico. Sua obra incluiu centenas de crônicas, contos e romances que exploraram temas como a condição humana e a sociedade brasileira de forma inovadora. Seu estilo evoluiu do Romantismo para um realismo irônico e metafísico que o tornou um dos maiores nomes da literatura brasileira e mundial.
2. Singularidade
Seu “Realismo” se distanciava do programa
Realista literário, pois sua maior preocupação
não era com a representação da sociedade,
mas sim da verdade;
Inaugurou na literatura brasileira o chamado
romance psicológico (análise do caráter e do
comportamento humano).
3. A obra machadiana
Machado atuou como jornalista, cronista,
contista, romancista, crítico literário e teatral,
poeta e teatrólogo;
Sua obra ficcional começou a ser produzida
quando o Romantismo ainda fazia muito
sucesso entre o público leitor, portanto, ele
começou como um escritor romântico.
4. A obra machadiana
Sua obra literária foi amadurecendo aos poucos;
Alcançou plenitude como escritor graças à leitura
de obras de grande valor literário, como as de
Shakespeare;
A partir de sua obra de vertente realista torna-se
o mais extraordinário contista de língua
portuguesa e um dos raros romancistas
brasileiros a alcançar interesse universal.
5. A obra machadiana: Crônica
“Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei
no dia seguinte, por não me escovar bem as botas; efeitos da
liberdade. Mas eu expliquei-lhe o peteleco, sendo um impulso
natural, não podia anular o direito civil adquirido por um
direito que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor;
eram dois estados naturais, quase divinos.
Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí para cá, tenho-
lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de
orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe chamo filho do diabo;
coisas todas que ele recebe humildemente, e (Deus me
perdoe!) creio que até alegre.”
Abolição e liberdade
6. A obra machadiana: Crônica
Publicada em 19 de maio de 1888, um homem reúne
seus amigos para um jantar e anuncia que, mesmo sem a
escravidão ser abolida, dar alforria ao seu escravo
Pancrácio. Tamanho ato de humanidade é elogiado por
todos os seus companheiros. O homem permite que o
negro continue morando em sua casa e trabalhando em
troca de um salário. No entanto, mesmo alforriado, o
negro apanha constantemente do patrão, o qual almeja
um cargo na política. O autor busca, através deste irônico
caso em particular, demonstrar sua opinião acerca da
escravidão e, sobretudo, criticar a postura hipócrita
daqueles que buscam, através de demonstrações públicas
de um falso caráter, angariar a simpatia e admiração da
sociedade, quando, em seus íntimos, continuam a ser
pessoas mesquinhas e pobres de espírito.
7. A obra machadiana: Crônica
Escreveu mais de 600 crônicas;
Geralmente os cronistas do tempo de Machado eram
escritores (jornalismo – literatura);
A “arte das transições” (habilidade para transitar entre
assuntos aparentemente díspares) foi treinada em alto
grau por Machado em suas crônicas;
Ajudam a mapear seu desenvolvimento intelectual
(Montaigne, Xavier de Maistre, Sterne, Stendal etc.)
8. A obra machadiana: Crônica
Suas crônicas nos dizem muito sobre a
história intelectual do Brasil em geral e sua
história em particular:
a. Era discreto (não temos cartas);
b. Crônicas escritas “ao correr da pena”;
c. Revelam seu interesse por outras sociedades
(em especial porque forneciam meios de ele
entender sua própria sociedade);
9. A obra machadiana: Crônica
As crônicas dos Bons Dias! revelam suas opiniões
políticas, por coincidirem com a abolição da
escravatura e o fim gradual e inevitável do
Império:
a. Não era a favor do fim do Império (o
federalismo só iria fortalecer um regime
oligárquico);
b. É pessimista e esclarecido, consciente do que a
natureza social pode ou não permitir.
10. A obra machadiana: Contos
“Era decisivo. Simão Bacamarte curvou a cabeça juntamente alegre e triste, e
ainda mais alegre do que triste. Ato continuo, recolheu-se à Casa Verde. Em vão a
mulher e os amigos lhe disseram que ficasse, que estava perfeitamente são e
equilibrado: nem rogos nem sugestões nem lágrimas o detiveram um só instante.
—A questão é científica, dizia ele; trata-se de uma doutrina nova, cujo primeiro
exemplo sou eu. Reúno em mim mesmo a teoria e a prática.
—Simão! Simão! meu amor! dizia-lhe a esposa com o rosto lavado em lágrimas.
Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção científica, trancou os
ouvidos à saudade da mulher, e brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa
Verde, entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem os cronistas que ele
morreu dali a dezessete meses no mesmo estado em que entrou, sem ter podido
alcançar nada. Alguns chegam ao ponto de conjeturar que nunca houve outro
louco além dele em Itaguaí mas esta opinião fundada em um boato que correu
desde que o alienista expirou, não tem outra prova senão o boato; e boato
duvidoso, pois é atribuído ao Padre Lopes. que com tanto fogo realçara as
qualidades do grande homem. Seja como for, efetuou-se o enterro com muita
pompa e rara solenidade.”
O Alienista, 1882
11. A obra machadiana: Contos
Simão Bacamarte é o protagonista. Médico conceituado
em Portugal e na Espanha, decide enveredar-se pelo campo
dapsiquiatria e inicia um estudo sobre a loucura e seus graus,
classificando-os. Instalou-se em Itaguaí, onde funda a Casa Verde,
um hospício, e abastece-o de cobaias humanas para as suas
pesquisas. Passa a internar todas as pessoas da cidade que ele
julgue loucas; o vaidoso, o bajulador, a supersticiosa, a indecisa,
sendo que na verdade eram apenas comportamentos, às vezes,
estranhos. Durante o trama, a opinião das pessoas sobre a Casa
Verdes irá mudar inúmeras vezes, por vez apoiando Simão
Bacamarte, e por vez querendo matá-lo. Tão revolucionária foi
essa história que a Casa Verde chega a mudar até a política da
cidade. No final, o Alienista então percebe que todos ali eram
diferentes, sendo ele apenas o único ser perfeito, assim se julga o
único louco e anormal de Itaguaí. (Wikipédia)
12. A obra machadiana: Contos
Escreveu por volta de 200 contos.
Duas fases: Estreou em pleno Romantismo
(Contos fluminenses, 1869) e sofreu
significativa mudança de perspectiva e de
linguagem a partir da coletânea Papéis avulsos
(1882).
13. A obra machadiana: Contos
Contos de destaque:
O alienista (alguns teóricos classificam como novela)
Missa do galo
A cartomante
Noite de almirante
Teoria do medalhão
O espelho
Cantigas de esponsais
Sereníssima república
Verba testamentária
14. A obra machadiana: Romance
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo
princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu
nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja
começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a
adotar diferente método: a primeira é que eu não sou
propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para
quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito
ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também
contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo:
diferença radical entre este livro e o Pentateuco.”
Memórias póstumas de Brás Cubas, 1880-1881
15. A obra machadiana: Romance
Nesta história fantasticamente narrada por um
defunto-autor, Machado de Assis utiliza-se da
pretensa superioridade do narrador-
protagonista, Brás Cubas, para denunciar a
precariedade da condição humana, num
exemplo universal e intemporal de Realismo
irônico, niilista, filosófico e metafísico.
16. A obra machadiana: Romance
Seus romances são divididos em dois grandes
grupos:
a. Os romances ainda dentro dos moldes do
Romantismo (Ressurreição, Iaiá Garcia,
Helena, A mão e a luva)
b. Os romances realistas (Memórias póstumas
de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom
Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires)
17. A obra machadiana: Romance
Mesmo seus romances escritos nos moldes
do Romantismo do século XIX já apresentam
aspectos que prenunciam a fase madura do
escritor:
a. sondagem psicológica dos personagens;
b. compreensão dos mecanismos que regem as
ações humanas.
18. A obra machadiana: Romance
Com a publicação de Memórias póstumas de
Brás Cubas (1881), dá-se:
a. O início do Realismo na literatura brasileira;
b. A produção dos romances maduros do
escritor.
19. A obra machadiana: Romance
Os romances da segunda fase:
a. Trazem perspectiva inovadora da linguagem;
b. rompem com seu trabalho anterior e;
c. Com um modo mais ingênuo de se fazer
literatura no Brasil.
20. A obra machadiana: Crítica literária
“O que se deve exigir do escritor, antes de tudo,
é certo sentimento íntimo, que o torne homem
do seu tempo e do seu país, ainda quando trate
de assuntos remotos no tempo e no espaço.”
Instinto de nacionalidade
21. A obra machadiana: Crítica teatral
(1859-1865)
“as duas missões do teatro, a moral e a poética,
demandam dos poderes superiores alento e
iniciativa.”
Periódico O Futuro, 1862
22. A obra machadiana: Crítica teatral
A comédia realista deve conciliar moralidade
e naturalidade;
Demonstrou preocupação com o trabalho dos
artistas;
Defendeu a ideia de que o Governo deveria
dar mais atenção à arte.
23. A obra machadiana: Poemas
Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.
Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
1906
24. A obra machadiana: Poemas
Na década de 1860 escreveu todas as suas
comédias e os versos ainda românticos de
Crisálidas.
25. Os recursos estilísticos
“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse;
eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros
capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um
pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a
sepulcro, traz certa contração cadavérica, vício grave, e aliás
ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens
pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a
narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este
livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à
esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham,
ameaçam o céu, escorregam e caem…”
Memórias póstumas de Brás Cubas, 1881
26. Os recursos estilísticos
“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse;
eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros
capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um
pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a
sepulcro, traz certa contração cadavérica, vício grave, e aliás
ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens
pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a
narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este
livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à
esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham,
ameaçam o céu, escorregam e caem…”
Memórias póstumas de Brás Cubas, 1881
Metalinguagem
irônica e digressiva.
27. Os recursos estilísticos
“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse;
eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros
capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um
pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a
sepulcro, traz certa contração cadavérica, vício grave, e aliás
ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens
pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a
narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este
livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à
esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham,
ameaçam o céu, escorregam e caem…”
Memórias póstumas de Brás Cubas, 1881
Humor corrosivo,
demolidor das ilusões
românticas.
28. Os recursos estilísticos
“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse;
eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros
capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um
pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a
sepulcro, traz certa contração cadavérica, vício grave, e aliás
ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens
pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a
narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este
livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à
esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham,
ameaçam o céu, escorregam e caem…”
Memórias póstumas de Brás Cubas, 1881
Conversa provocativa com o
leitor, fazendo parecer sem
importância o que é
fundamental e vice-versa.
29. Os recursos estilísticos
“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse;
eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros
capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um
pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a
sepulcro, traz certa contração cadavérica, vício grave, e aliás
ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens
pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a
narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este
livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à
esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham,
ameaçam o céu, escorregam e caem…”
Memórias póstumas de Brás Cubas, 1881
Comparação insólita, que
ironiza o leitor acostumado
com o folhetim romântico e dá
pistas de leitura do romance.
30. Os recursos estilísticos
“Aqui é que eu quisera ter dado a este livro o método de
tantos outros, — velhos todos, — em que a matéria do
capítulo era posta no sumário: "De como aconteceu isto
assim, e mais assim.”Aí está Bernardim Ribeiro; aí estão outros
livros gloriosos. Das línguas estranhas, sem querer subir a
Cervantes nem a Rabelais, bastavam-me Fielding e Smollet,
muitos capítulos dos quais só pelo sumário estão lidos. Pegai
em Tom Jones, livro IV, cap. I, lede este título: Contendo cinco
folhas de papel. É claro, é simples, não engana a ninguém; são
cinco folhas, mais nada, quem não quer não lê, e quem quer
lê, para os últimos é que o autor conclui obsequiosamente: "E
agora, sem mais prefácio, vamos ao seguinte capítulo". “
Quincas Borba, (1886-1891) 1892
31. Os recursos estilísticos
“Aqui é que eu quisera ter dado a este livro o método de
tantos outros, — velhos todos, — em que a matéria do
capítulo era posta no sumário: "De como aconteceu isto
assim, e mais assim.”Aí está Bernardim Ribeiro; aí estão outros
livros gloriosos. Das línguas estranhas, sem querer subir a
Cervantes nem a Rabelais, bastavam-me Fielding e Smollet,
muitos capítulos dos quais só pelo sumário estão lidos. Pegai
em Tom Jones, livro IV, cap. I, lede este título: Contendo cinco
folhas de papel. É claro, é simples, não engana a ninguém; são
cinco folhas, mais nada, quem não quer não lê, e quem quer
lê, para os últimos é que o autor conclui obsequiosamente: "E
agora, sem mais prefácio, vamos ao seguinte capítulo". “
Quincas Borba, (1886-1891) 1892
Digressão metalinguística
32. Os recursos estilísticos
“Aqui é que eu quisera ter dado a este livro o método de
tantos outros, — velhos todos, — em que a matéria do
capítulo era posta no sumário: "De como aconteceu isto
assim, e mais assim.”Aí está Bernardim Ribeiro; aí estão outros
livros gloriosos. Das línguas estranhas, sem querer subir a
Cervantes nem a Rabelais, bastavam-me Fielding e Smollet,
muitos capítulos dos quais só pelo sumário estão lidos. Pegai
em Tom Jones, livro IV, cap. I, lede este título: Contendo cinco
folhas de papel. É claro, é simples, não engana a ninguém; são
cinco folhas, mais nada, quem não quer não lê, e quem quer
lê, para os últimos é que o autor conclui obsequiosamente: "E
agora, sem mais prefácio, vamos ao seguinte capítulo". “
Quincas Borba, (1886-1891) 1892
Citação irônica de fontes
literárias
33. Os recursos estilísticos
“Aqui é que eu quisera ter dado a este livro o método de
tantos outros, — velhos todos, — em que a matéria do
capítulo era posta no sumário: "De como aconteceu isto
assim, e mais assim.”Aí está Bernardim Ribeiro; aí estão outros
livros gloriosos. Das línguas estranhas, sem querer subir a
Cervantes nem a Rabelais, bastavam-me Fielding e Smollet,
muitos capítulos dos quais só pelo sumário estão lidos. Pegai
em Tom Jones, livro IV, cap. I, lede este título: Contendo cinco
folhas de papel. É claro, é simples, não engana a ninguém; são
cinco folhas, mais nada, quem não quer não lê, e quem quer
lê, para os últimos é que o autor conclui obsequiosamente: "E
agora, sem mais prefácio, vamos ao seguinte capítulo". “
Quincas Borba, (1886-1891) 1892
Conversa com o leitor, questionando
o processo de criação literária
34. Os recursos estilísticos
“Aqui é que eu quisera ter dado a este livro o método de
tantos outros, — velhos todos, — em que a matéria do
capítulo era posta no sumário: "De como aconteceu isto
assim, e mais assim.”Aí está Bernardim Ribeiro; aí estão outros
livros gloriosos. Das línguas estranhas, sem querer subir a
Cervantes nem a Rabelais, bastavam-me Fielding e Smollet,
muitos capítulos dos quais só pelo sumário estão lidos. Pegai
em Tom Jones, livro IV, cap. I, lede este título: Contendo cinco
folhas de papel. É claro, é simples, não engana a ninguém; são
cinco folhas, mais nada, quem não quer não lê, e quem quer
lê, para os últimos é que o autor conclui obsequiosamente: "E
agora, sem mais prefácio, vamos ao seguinte capítulo". “
Quincas Borba, (1886-1891) 1892
Microcapítulo metalinguístico
35. Os recursos estilísticos
“A peça era um dramalhão, cosido a facadas, ouriçado de
imprecações e remorsos; mas Fortunato ouvia-a com
singular interesse. Nos lances dolorosos, a atenção dele
redobrava, os olhos iam avidamente de um personagem a
outro, a tal ponto que o estudante suspeitou haver na
peça reminiscências pessoais do vizinho. No fim do
drama, veio uma farsa; mas Fortunato não esperou por
ela e saiu; Garcia saiu atrás dele. Fortunato foi pelo beco
do Cotovelo, rua de S. José, até o largo da Carioca. Ia
devagar, cabisbaixo, parando às vezes, para dar uma
bengalada em algum cão que dormia; o cão ficava
ganindo e ele ia andando.”
A causa secreta, 1885
36. Os recursos estilísticos
“A peça era um dramalhão, cosido a facadas, ouriçado de
imprecações e remorsos; mas Fortunato ouvia-a com
singular interesse. Nos lances dolorosos, a atenção dele
redobrava, os olhos iam avidamente de um personagem a
outro, a tal ponto que o estudante suspeitou haver na
peça reminiscências pessoais do vizinho. No fim do
drama, veio uma farsa; mas Fortunato não esperou por
ela e saiu; Garcia saiu atrás dele. Fortunato foi pelo beco
do Cotovelo, rua de S. José, até o largo da Carioca. Ia
devagar, cabisbaixo, parando às vezes, para dar uma
bengalada em algum cão que dormia; o cão ficava
ganindo e ele ia andando.”
A causa secreta, 1885
Imagens irônicas,
inesperadas
37. Os recursos estilísticos
“A peça era um dramalhão, cosido a facadas, ouriçado de
imprecações e remorsos; mas Fortunato ouvia-a com
singular interesse. Nos lances dolorosos, a atenção dele
redobrava, os olhos iam avidamente de um personagem a
outro, a tal ponto que o estudante suspeitou haver na
peça reminiscências pessoais do vizinho. No fim do
drama, veio uma farsa; mas Fortunato não esperou por
ela e saiu; Garcia saiu atrás dele. Fortunato foi pelo beco
do Cotovelo, rua de S. José, até o largo da Carioca. Ia
devagar, cabisbaixo, parando às vezes, para dar uma
bengalada em algum cão que dormia; o cão ficava
ganindo e ele ia andando.”
A causa secreta, 1885Caracterização substantiva e refinada
de um tipo sádico
38. Principais características literárias de
Machado de Assis
Antecipação da modernidade literária:
a. Enredo não linear;
b. Presença constante de digressões;
c. Metalinguagem;
d. Diálogo com o leitor e com outras tradições literárias;
e. Análise psicológica / psicanalítica dos personagens;
f. Humor sutil e permanente;
g. Ironia fina e corrosiva;
h. Visão metafísica relativista dos valores humanos
(pessimismo).
39. Principais temas da prosa de
Machado de Assis
Explorando intensamente o lado psicológico
de seus personagens, trabalhou de maneira
minuciosa a sua vida interior;
Traços do ser humano como a inveja, o ciúme,
a culpa, a cobiça e o desejo de ascensão social
são percebidos principalmente pela ação dos
personagens, que são concebidos de maneira
bastante complexa.
40. Principais temas da prosa de
Machado de Assis
Abordando principalmente o modo de vida da
classe dominante carioca, mostrou:
a. como, no Segundo Reinado, as vantagens e os
privilégios sustentavam os mais ricos e
permitiam que eles subjugassem e humilhassem
os mais pobres;
b. Assim, o escritor traçou um painel desencantado
e melancólico da sociedade brasileira de sua
época.
41. Principais temas da prosa de
Machado de Assis
Entre os temas mais gerais tratados pelo autor, estão:
a. A identidade (em que medida existimos por meio da
imagem que os outros fazem de nós?);
b. A loucura (quais são as fronteiras que separam os
loucos e os sãos?);
c. A relação entre o fato real e o fato imaginado (em que
medida modificamos a realidade para atender aos
nossos interesses pessoais?);
d. A transformação do homem em objeto do próprio
homem (por que e como submetemos as outras
pessoas as nossos desejos e interesses pessoais?).
42. Por que Machado de Assis continua
atual
O escritor tem sido considerado um “autor moderno”,
mesmo que sua obra tenha se encerrado em pouco mais de
um século, porque:
a. Explorando o jogo construído entre essência e aparência
dos seres e das coisas, criou personagens e histórias
profundamente brasileiras que desnudaram o modo de
funcionamento da nossa sociedade;
b. Sua obra ultrapassa os limites estreitos ao abordar
problemas e sentimentos que dizem respeito às pessoas
de outros tempos e lugares, ainda que seus romances se
limitem historicamente e geograficamente à capital (Rio
de Janeiro) do Segundo Reinado (1840-1889) do então
Império brasileiro.
43. Referências desta apostila:
ALVES, Roberta Hernandes; MARTIN, Vilma Lia. Principais temas da
prosa de Machado de Assis. In: Língua portuguesa. Curitiba: Positivo:
2013., v. II., 247-248 pp.
AMARAL, Emília; FERREIRA, Mauro; LEITE, Ricardo; ANTÔNIO,
Severino. Os recursos estilísticos. In: Novas palavras. 2 ed. São Paulo:
FTD, 2013, V. 2, 126 p.
ASSIS, Machado. Introdução (por John Gledson). In: Bons dias! São
Paulo: Editora Hucitec / Editora da Unicamp, 1990, 11-27 pp.
CARLOS, Édson. Fuga do hospício e outras crônicas, de Machado de
Assis. Disponível em:
http://www.passeiweb.com/estudos/livros/fuga_do_hospicio_e_outra
s_crônicas. Acesso em 19/08/2015.
CEREJA, Willian Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Machado de
Assis: o grande salto na ficção brasileira. In: Português: linguagens. 9
ed. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 2., 288 p.