O conto descreve as reminiscências da infância do narrador e suas brincadeiras com os irmãos em uma cidadezinha mineira no início do século XX. Aborda temas como a mineiridade, a família, o comportamento infantil e as missões religiosas que marcaram a população local.
2. CONTOS DE APRENDIZ
segunda geração do modernismo
quinze
narra*vas
1951 contos
*rados
do
co*diano
e
da
imaginação
A LINGUAGEM
simplicidade despojamento tradição da oralidade
A EPÍGRAFE
infância locutor ouve histórias particularidade q encanta
O TÍTULO
modéstia simplicidade aprendizagem
A SEGUNDA GERAÇÃO
psicologismo memória afetiva problemas sociais
3. CONTOS DE APRENDIZ
temáticas desenvolvidas
A INFÂNCIA
reminiscências
comportamento infantil
oposição/complementaridade
criança x mundo, criança x criança, criança x adulto
“Salvação da alma”
“O sorvete”
“A doida”
“Nossa amiga”
“Conversa de velho com criança”
4. SALVAÇÃO DA ALMA
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador o locutor de terceira pessoa passa a narrativa para Augusto [de 3ª. para 1ª.]
personagens Augusto, Tito, Miguel, Edison e Ester
tempo o enunciado localiza-se trinta anos antes da enunciação
espaço cidadezinha do interior [Minas Gerais]
técnicas diálogos, coloquialismo, memória afetiva
O ENREDO
Trata
das
reminiscências
infan/s:
brigas
e
brincadeiras
com
os
irmãos.
A
mineiridade
destaca-‐se
na
narra/va
símbolo
de
ordem
e
de
moderação,
terra
de
bois
pacíficos
e
de
polí4cos
suaves
e
bem
comportados,
mas
traz
força
acumulada,
energia
q
sobrou
do
tempo
da
luta
com
os
emboabas.
Augusto,
o
caçula,
vivia
acompanhado
dos
irmãos.
Um
dia,
ficam
sabendo
da
chegada
das
missões.
Os
missionários
alertavam
a
população
da
pquena
cidade
dos
horrores
do
inferno.
Tito
era
o
único
que
prestava
atenção;
os
garotos
vão
confessar;
após
isso,
Tito
convida
Augusto
para
1
vol/nha,
o
efeito
da
confissão
é
visível
nos
dois,
principalmente
em
Tito,
q
promete
mudar
de
vida
e
não
mais
surrar
seu
irmão.
Pede
que
Augusto
o
humilhe,
pq
quer
expiar
seu
pecados.
Augusto,
5. SALVAÇÃO DA ALMA
Carlos Drummond de Andrade
então,
pede
para
ser
carregado
nas
costas
até
sua
casa.
E
não
fica
só
nisso:
pede,
ainda,
que
o
irmão,
a
cada
50
passos
pare
e
grite
Sou
burro
e
quero
capim.
Tito
carrega
seu
irmão,
que
ia
/rando
desforra
de
tantas
surras
E
para
fazer
com
que
o
burro
caminhasse
mais
rápido,
Augusto
dá,
com
os
calcanhares,
um
golpe
duplo
nas
virilhas.
Tito,
uivando
de
dor,
rola
pelo
chão,
e
passam
a
brigar.
No
dia
seguinte,
eles
não
podem
comungar.
ANÁLISE E TEMÁTICAS
O
episódio
q
deu
origem
à
narra/va
aconteceu
qdo
Augusto
/nha
09
anos
–
trinta
anos
antes
da
enunciação.
A
temá/ca
do
conto
é
o
comportamento
infan/l,
que
aparece
analisado
em
trechos
como
o
citado
a
seguir:
Mas a confissão infiltrara em nós seu óleo espesso e triste, e um desejo de nos pacificarmos, de
atingirmos a bondade e a compreensão, nos tornava indiferentes à matéria cotidiana.
O
orgulho
do
clã
e
o
tema
da
família
é
outro
tema
desenvolvido
magistralmente
no
conto,
como
se
vê
em:
O orgulho dos Novais repontava nessa recriminação, porque um Novais não podia apanhar, e se não
fosse ele, Tito, eu, Augusto Novais Jr., apanharia em público, para gozo dos Teixeiras, dos Andrada, dos
Guimarães, de outros clãs rivais.
6. O SORVETE
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador não nomeado, conta um evento de sua infância
personagens narrador [11] e Joel [13]
tempo 1916
espaço A Belo Horizonte do início do século XX
técnicas memória afetiva, diálogos, análise psicológica
O ENREDO
A
narra/va
centra-‐se
num
evento
ocorrido
numa
tarde
de
domingo
do
ano
de
1916
na
cidade
de
BH.
O
locutor
e
seu
amigo
Joel
estudavam
em
um
colégio
interno
e,
aos
domingos,
/nham
licença
para
andar
pela
cidade.
Dedicavam
o
tempo
a
ma/nês,
passeios,
gulodices;
o
dinheiro
era
limitado.
Às
vezes,
iam
à
casa
de
parentes.
Certo
domingo,
quando
estavam
indo
a
uma
ma/nê,
vêem
um
quadro
negro
em
uma
confeitaria,
anunciando:
Delicioso
sorvete
de
abacaxi.
Nunca
/nham
visto
aquilo
e
queriam,
ambos,
experimentar.
Deixam
o
cinema
e
entram
na
confeitaria,
mas
o
gosto
do
sorvete
decepciona
os
garotos:
7. O SORVETE
Carlos Drummond de Andrade
O sorvete era detestável, de um frio doloroso, do qual se excluía toda lembrança de abacaxi, para só ficar
a ideia de uma coisa ao mesmo tempo pétrea e frágil, agressiva aos dentes, e, mais para além deles, a
uma região íntima do ser em que está o núcleo da personalidade.
Para
intensificar
o
sofrimento
dos
rapazes,
ao
final
de
tudo,
o
dinheiro
dos
dois
é
insuficiente
para
a
conta.
ANÁLISE E TEMÁTICAS
O
cenário
desta
vez
é
a
cidade
grande.
Analisa-‐se
o
comportamento
infan/l
e
sua
psicologia:
Arrependimento da proibição imposta a mim mesmo e a um amigo, insatisfação, espírito de aventura,
volubilidade da alma humana, ou qualquer outro móvel não esclarecido, o certo é que Joel, cutucando-
me o braço, murmurou: – Vamos lá, vamos?
As
reminiscências
–
lembranças
de
eventos
mínimos,
mas
significa/vos
para
o
locutor,
dão
a
tônica
do
conto:
Sim, nenhuma das operações de que se compunha o programa parecia por si mesma extraordinária, mas
á medida que se iam consumando, ficavam registrados em nós como outros tantos episódios
memoráveis, cujo esplendor atravessaria as horas mornas, projetando-se para além da mediocridade de
nossos destinos.
Os
valores
familiares
ajudam
a
compor
um
panorama
psicológico
da
elite
agrária
mineira
do
século
XX:
Era um pensamento, uma noção dos Mendonça, formada na educação burguesa de várias gerações, que
ele ministrava a um membro de outra família não menos rica de princípios respeitáveis, os Caldeira
Lemos.
8. A DOIDA
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador terceira pessoa
personagens grupo de crianças, a doida
tempo indefinido [início do século XX?]
espaço cidadezinha do interior de MG
técnicas coloquialismo, memória afetiva
O ENREDO
Em
uma
pequena
cidade,
morava
a
doida
a
q
todas
as
crianças
insultavam.
Várias
versões
circulavam
acerca
do
q
teria
levado
a
mulher
à
loucura,
uma
delas
fala
do
repúdio
do
noivo
no
dia
do
casamento,
e
a
sua
tenta/va
de
envenenar
o
próprio
pai.
As
crianças
/nham
uma
certeza
–
a
doida
carregava
uma
culpa
grave.
Três
meninos
passam
pela
casa,
a/ram
pedras,
mas
ñ
escutam
as
reações
de
praxe.
Intrigado
com
o
silêncio,
um
deles
entra
na
casa,
e
vê
a
doida
deitada
numa
cama.
Perde
a
vontade
de
maltratá-‐la,
reconhece
que
ela
está
doente
e
estaria
prestes
a
morrer.
Compadecido,
ajuda-‐a
a
beber
água:
9. A DOIDA
Carlos Drummond de Andrade
Fazia tudo natauralmente, e nem se lembrava mais porque entrara ali; nem conservava qualquer espécie
de aversão pela doida. A própria ideia de doida desaparecera. Havia ali somente uma velha com sede e
que talvez estivesse morrendo.
.
E
o
menino
fica
ao
lado
da
velha,
procurando
ajudá-‐la:
Pegar-‐lhe
nas
mãos
e
esperar
o
que
ia
acontecer.
ANÁLISE E TEMÁTICAS
A
narra/va
trata
do
comportamento
infan/l
face
a
loucura
[agressão],
aliás,
reflexo
do
comportamento
da
sociedade
que
se
disfarça
em
indiferença,
restrição:
tomar
bênção
da
doida,
morar
com
a
doida,
aliás,
são
expressões
criadas
pelo
povo
para
amedrontar
as
crianças.
O
comportamento
infan/l
em
face
da
morte
[solidariedade],
funciona
como
sinal
da
possível
iden/ficação
de
todos
os
homens,
crianças
ou
adultos,
loucos
ou
não,
diante
de
uma
mesma
fatalidade.
10. NOSSA AMIGA
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador terceira pessoa
personagens Luci Machado da Silva, sua mãe, Catarina e Pepino
tempo indefinido [início do século XX?]
espaço Rio de Janeiro
técnicas intertextualidade bíblica, memória afetiva, enredo mínimo [assemelha-se à crônica]
O ENREDO
Luci
Machado
da
Silva
tem
3
anos.
Não
tem
tamanho
sequer
para
tocar
a
campainha
da
casa
do
vizinho
q
está
sempre
a
visitar.
De
dentro
da
casa,
a
voz
pergunta:
Quem
está
ai?
É
de
paz
ou
de
guerra?
De
fora
respondem.
A
garo/nha
então
fala,
com
autoridade:
É
Luci
Machado
da
Silva.
Abre
que
eu
quero
entrar.
De
acordo
c/
o
narrador,
ela
é
dona
das
duas
casas.
Gosta
mais
da
casa
onde
ganha
doces.
Catarina
é
uma
bonequinha
que
fica
pregada
na
parede
pq,
segundo
o
narrador,
fora
uma
menininha
que
brincou
com
um
cachorro
de
vidro
s/
autorização
da
mãe.
Pepino
era
o
bêbado
da
vizinhanza.
Luci
gosta
de
festas
e
de
brincar
c/
objetos
variados,
que
sua
imaginação
transforma
em
criança
no
colo
da
mãe,
cujas
frases
usava
nas
conversas
com
adultos.
11. NOSSA AMIGA
Carlos Drummond de Andrade
ANÁLISE E TEMÁTICAS
Não
há
propriamente
enredo
neste
conto.
O
que
há
são
fragmentos
de
fatos
banais,
corriqueiros,
de
uma
densidade
lírica
ou
filosófica
incomum,
q
levam
o
leitor
a
refle/r
sobre
a
infância,
a
amizade,
a
beleza
ou
a
passagem
do
tempo.
Trata-‐se
de
uma
composição
de
matriz
poé4ca,
que
contorna
o
lirismo
do
mundo
infan/l.
Ao
final
do
conto,
há
uma
intertextualidade
bíblica,
que
coloca
o
conto
no
sen/do
da
compaixão
humana:
Perguntas e respostas, recolhidas em conversas de adulto, saem da mesma boca inexperiente. O objeto
que serve de filho embalado com seriedade. A doença existe, existem os sustos maternais. Mas tudo se
desfaz, se acaso um intruso vem surpreender a criação, tirada em partes iguais da vida e do sonho, e que
os prolonga. Assim pudesse a mãe antiga tornar invisível seu filho ante os soldados de Herodes.
12. CONVERSA DE VELHO COM CRIANÇA
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador primeira pessoa: narrador testemunha que se autodenomina Carlos
personagens narrador, Maria de Lurdes Guimarães Almeida Xavier, Ferreira [ironia]
tempo indefinido [início do século XX?]
espaço Rio de Janeiro
técnicas lirismo, caráter existencial/filosófico, enredo mínimo, semelhança com a crônica
O ENREDO
Bonde
cheio,
o
locutor
que
se
autodenomina
Carlos
acompanha
a
conversa
entre
o
velho
Ferreira
e
a
garo/nha
Maria
de
Lurdes
Guimarães
Almeida
Xavier,
de
5
anos.
O
velho
carregava
um
guarda-‐chuva
e
alguns
embrulhos
Em
pé,
segurava
no
estribo
do
bonde,
arriscando-‐se
até
a
cair
na
rua.
A
menina
segurava
um
pacote
de
balas.
Ela
pede
uma
bala
ao
Ferreira.
Ele
/ra
a
mão
do
estribo
e
oferece
o
doce.
Na
hora
d
pagar
a
passagem,
a
moeda
cai
de
sua
mão
e
se
perde
nos
trilhos.
O
amável
cobrador
procura,
e
não
encontra
a
moedinha.
Não
aceita
outra
em
pagamento:
O
senhor
não
paga
nada.
O
narrador
admira-‐se
com
o
tratamento
espontâneo
entre
os
dois
e
ques/ona
se
eram
parentes
ou
apenas
amigos.
Prefere
acreditar
q
são
amigos,
indiferentes
à
diferença
de
idade
13. CONVERSA DE VELHO COM CRIANÇA
Carlos Drummond de Andrade
E imaginei Ferreira vizinho de Maria de Lurdes, afeiçoando-se à pequena, subornando-lhe o coração à
custa de carinhos diários, roubando-a, enfim, para si. Amiga Maria de Lurdes, amigo Ferreira; os
cinquenta e cinco anos de diferença faziam o entendimento mais perfeito, já que as pessoas da mesma
idade dificilmente se entendem.
O
narrador
tenta
estabelecer
diálogo
c/
a
menina
e
não
consegue,
daí
a
reflexão
de
caráter
poé/co
e
metamsico
ao
final
da
história:
Quando
encontrarás,
Carlos,
a
chave
de
outra
criatura?
A
menina
murmura
alguma
coisa
no
ouvido
do
velho
e
os
dois
descem
do
bonde
e
o
locutor
reflete,
lembrando-‐se
do
pai:
Meu
pai
dizia
que
os
amigos
são
para
as
ocasiões.
ANÁLISE E TEMÁTICAS
Texto
altamente
lírico,
que
apresenta
um
enredo
mínimo,
através
do
qual
se
faz
uma
reflexão
metamsica.
Os
elementos
mencionados
acima
aproximam
o
conto
em
análise
do
gênero
literário
crônica.
14. CONTOS DE APRENDIZ
temáticas desenvolvidas
RETRATOS E IMPRESSÕES
enfoque em certos estados de ânimo
fixação de das impressões do locutor/personagem
sondagem do mundo do protagonista
sensibilidade do locutor
“O presépio”
“Extraordinária conversa com uma senhora...”
“Meu companheiro”
15. PRESÉPIO
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador terceira pessoa
personagens Dasdores [e Abelardo]
tempo 24 de dezembro [referência à Missa do Galo]
espaço cidadezinha do interior
técnicas intertextualidade, ironia, intrusão do narrador
O ENREDO
Noite
de
Natal,
Dasdores
está
dividida
entre
a
construção
do
Presépio
e
a
ida
à
Missa
do
Galo.
Se
fosse
à
Igreja,
o
Presépio
não
ficaria
pronto.
Se
terminasse
o
Presépio,
não
conseguiria
ver
seu
namorado
durante
a
Missa.
O
caráter
irônico
do
texto
ocorre
na
relação
sagrado/profano,
pois
Dasdores
é
dividida
entre
seus
dois
deuses.
Temos,
pois,
um
tema
barroco
tratado
modernamente.
Dasdores
é
quem
faz
tudo
em
casa,
mas
acha
tempo
para
pensar
no
namorado.
O
tempo
é
curto,
personificado
pelo
narrador,
que,
por
três
vezes,
entre
parênteses
anuncia
agarra-‐me.
As
amigas
aparecem
p/
interrompê-‐la.
Dasdores
vê
o
namorado
em
cada
peça
do
presépio:
16. PRESÉPIO
Carlos Drummond de Andrade
Ou um sentimento de culpa, ao misturar o sagrado ao profano, dando talvez preferência a este último,
pois no fundo da caminha de palha suas mãos acariciavam o menino, mas o que a pele queria sentir –
sentia, Deus me perdoe, era um calor humano, já sabeis de quem.
Note-‐se
a
semelhança
da
a/tude
da
protagonista
c/
a
de
Nogueira,
do
conto
“Missa
do
galo”.
Os
dois,
ao
invés
de
se
focarem
no
elemento
sagrado,
imbricam
seus
desejos
aos
pensamentos
[que
deveriam
ser]
sagrados.
ANÁLISE E TEMÁTICAS
Destaquem-‐se
a
ironia,
a
intertextualidade
e
o
ques/onamento
do
papel
da
mulher
na
sociedade
patriarcal:
Os pais exigem-lhe o máximo, não porque a casa seja pobre, mas o primeiro mandamento da educação
feminina é: trabalharás dia e noite. Se não trabalhar sempre, se não ocupar todos os minutos, quem sabe
de que será capaz a mulher.
Observe
que
o
narrador
finge
ironicamente
adotar
a
postura
machista,
para
discu/r
a
mentalidade
do
mundo
em
que
vive.
O
conto
não
apresenta
enredo
definido,
o
que
o
aproxima
da
crônica.
17. EXTRAORDINÁRIA CONVERSA...
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador primeira pessoa
personagens narrador, senhora
tempo período de uma viagem de ônibus
espaço urbano
técnicas intertextualidades [Machado de Asis, Valéry, Mallarmé, Salvador Dali]
O ENREDO
O
locutor
está
num
ônibus
cheio,
encontra
uma
conhecida
e
começa
uma
conversa
meio
sem
rumo.
Ele,
em
pé,
segurado
a
umas
argolas
q
ficavam
no
teto.
Ela,
sentada.
Como
se
conheciam,
trocaram
um
sorriso.
Ela
o
cumprimenta;
ele
não
consegue
se
lembrar
especificamente
de
onde
a
conhecia.
Ela
pergunta
ao
narrador
como
vai.
Ele
responde
com
uns
versos.
Só
da
2ª.
vez,
diz
vou
bem;
e
a
senhora
como
vai?
Ela,
então,
fala
s/
preocupações
com
um
gato,
eletrocardiogramas,
entre
outras
coisas.
Mas,
ele
não
a
ouvia,
pois
se
ques/onava
e
deveria
ou
não
ultrapassar
os
limites.
Seu
discurso
se
assemelha
a
um
monólogo
e
é
pontuado
por
lembrança
de
leituras
de
Mallarmé
e
Paul
Valéry,
autores
que
vêm
à
tona
devido
ao
alumbramento
eró/co
/do
pelo
locuto
18. EXTRAORDINÁRIA CONVERSA...
Carlos Drummond de Andrade
A
cena
q
deu
origem
às
divagações
eró/co-‐literárias
do
locutor
foi
a
em
q
a
sra.
agachou-‐se
p/
pegar
a
bolsa
e
as
luvas
q,
num
solavanco,
foram
a/radas
no
chão.
O
narrador
tb
se
abaixa
e
vê
os
seios
da
mulher.
Sublima
a
visão
transcendente
evocando
um
fragmento
do
poema
“As
romãs”,
de
Paul
Valéry:
Duras romãs entreabertas/ Pelo excesso dos grãos de ouro,/ Eu vejo reis, todo um tesouro/ Nascer de
suas descobertas.
ANÁLISE E TEMÁTICAS
O
início
da
narra/va
evoca
novamente
a
“Missa
do
galo”,
de
Machado
de
Assis,
que
começa
assim:
Nunca
pude
entender
a
conversação
q
4ve
com
uma
senhora,
há
muitos
anos.
O
conto
de
Drummond
termina
desse
modo:
Mas confesso que esta me pareceu a conversa mais extraordinária de quantas, até o presente, hei tido
com uma senhora de minhas relações. Desculpai-me, se não a considerais sequer uma conversa.
O
conto
lembra
uma
crônica,
pq
registra
um
flagrante
do
co/diano.
O
narrador
faz
reflexões
acerca
da
beleza
da
mulher
que
era
algo
insólito
naquele
lugar
e
naquela
sua
posição
incômoda
de
fruição.
A
conversa
entre
ambos
nada
tem
de
extraordinário
–
só
falam
de
coisas
banais
e
formais.
Mas
o
que
a
faz
é
o
embaraço
do
narrador,
extasiado
ante
o
decote
da
mulher,
q
recita
mentalmente
versos
sensuais
que
falam
das
curvas
sensuais
do
corpo
feminino.
Há
ainda,
referências
à
pintura
surrealista
de
Salvador
Dalí.
19. MEU COMPANHEIRO
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador primeira pessoa
personagens Professor Motinha [narrador protagonista], cachorro Pirolito, mulher e filhos
tempo indefinido
espaço cidadezinha do interior
técnicas intertextualidade, reflexão existencial a partir de um evento do cotidiano [crônica?]
O ENREDO
O
narrador,
professor
Mo/nha,
fala
d
seu
relacionamento
com
Pirolinho,
cãozinho
vira-‐latas
comprado
há
pouco
tempo.
O
nome
foi
originado
de
uma
música
infan/l
cantada
pela
vizinha.
A
esposa
do
narrador,
Margarida
e
os
filhos
recebem
bem
o
cão,
q
passou
a
exis/r
como
parte
integrante
da
família
e
se
torna
confidente
do
narrador
Abanar o rabo, lamber, levantar ou descer as orelhas, contemplar-me de boca aberta, resfolegando, eram
outras tantas maneiras de exprimir seus conceitos sobre as coisas do tempo, que eu traduzia para a
linguagem humana.
O
cachorro
chega
mesmo
a
se
transformar
na
voz
da
consciência
do
narrador:
mo4nha
está
pensando
que
vai
ganhar
na
loteria?
Que
esperança!
Trate
de
dar
suas
aulas
no
ginásio,
se
não
quer
4rar
o
leite
dos
garotos.
20. MEU COMPANHEIRO
Carlos Drummond de Andrade
Há
um
perfeito
relacionamento
entre
o
chefe
de
família
e
o
cão.
Ele
acredita
mesmo
que
tem
um
temperament
igual.
Um
dia,
inexplicavelmente
Pirolito
desaparece.
O
professor
desconfia
de
Margarida,
que
uma
vez
dera
sumiço
em
um
gato.
Conclui,
entretanto,
q
muitas
pessoas
[e,
por
que
não,
animais]
somem
sem
dar
explicação
ANÁLISE E TEMÁTICAS
O
conto
evidencia
um
intenso
senso
de
observação
do
animal:
Todo cão tem seus instantes de alegria louca, geralmente depois do banho, quando se põe a correr pela
casa afora, sem nenhum objetivo de caça, e desafiando nossa agilidade em persegui-lo; é no mais puro
sentido da palavra um esporte. Percorre invariavelmente os mesmo lugares, passa chispando à nossa
frente, e afinal dá por findo o exercício.
A
amizade
do
cão,
além
de
exercer
função
moral
de
consciência
ao
narrador,
recupera
a
sua
infância
e
autoriza
a
pra/car
atos
que
a
condição
de
adulto
não
permi/a.
O
texto
também
faz
análise
do
temperamento
humano,
seu
desejo
de
evasão
e
suas
limitações;
já
o
narrador
se
iden/fica
com
o
cachorrinho
em
sua
prisão
domés/ca.
Combino o espírito prático, o desenganado e realista, a um sentimento meio utópico e furioso. Não sou
bastante forte para me libertar, nem suficientemente dócil para me submeter.
21. CONTOS DE APRENDIZ
temáticas desenvolvidas
PREOCUPAÇÃO SOCIAL
abordagem dos problemas sociais
opressão da sociedade capitalista sobre o indivíduo
“Câmara e cadeia”
“Beira-rio”
“Um escritor nasce e morre”
22. CÂMARA E CADEIA
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador terceira pessoa
personagens vereadores [destaque: Valdemar e João Batista] e preso
tempo governo de Epitácio Pessoa [1919]
espaço cidadezinha do interior
técnicas diálogos, ênfase no enredo [conto anedótico], discurso indireto livre
O ENREDO
Os
vereadores
de
uma
cidadezinha
discutem
o
orçamento
para
o
ano
de
1920
e
a
criação
de
impostos
e
taxas.
Aventa-‐se,
então,
a
hipótese
de
criar
imposto
para
afinadores
de
piano,
barbeiros
e
mãos
d
engenho
fabricadas
no
país.
Os
vereadores
Valdemar
[o
da
taxa
para
afinadores]
e
João
Ba/sta
[comerciante]
discutem
bastante.
Enquanto
isso,
o
Major
Ponciano
ronca,
o
farmacêu/co
Meireles
faz
anotações
par/culares
num
caderninho
e
o
presidente
da
Câmara,
Coronel
Lindolfo,
está
com
cara
de
quem
sofre
dor
de
cabeça
crônica.
Apesar
de
a
maioria
discu/r
os
impostos,
entre
todos
aqueles
homens
só
um
fazia
o
trabalho
[Valdemar].
Como
o
calor
abafava
a
sala,
Valdemar
foi
até
a
janela,
ficou
olhando
as
redondezas.
Embaixo
da
câmara,
ficava
a
cadeia.
23. CÂMARA E CADEIA
Carlos Drummond de Andrade
Valdemar
se
lembra
de
quando
era
menino
e
como
a
imagem
dos
presos
lhe
era
familiar.
Foi
em
meio
a
isso
q
ouviu
barulhos
que
o
fizeram
voltar
à
realidade.
Um
preso
havia
fugido
e
ido
para
a
câmara,
os
homens
gritavam,
querendo
submetê-‐lo
à
autoridade.
Chegam
a
lhe
dar
voz
de
prisão.
Valdemar
convence
o
homem
a
se
sentar.
O
preso
conta,
então,
que
abrira
a
fechadura
e
saíra.
Tinha
ido
até
a
câmara
para
ver
os
homens
que
pisavam
na
cabeça
deles.
Contou,
ainda,
do
calor
e
das
nojentas
refeições
da
prisão.
Valdemar
diz
que
teria
de
o
prender,
mas
o
preso
se
levanta
diz
que
não
vão
detê-‐lo
e
foge.
ANÁLISE E TEMÁTICAS
No
conto,
são
cri/cadas
não
só
as
desumanas
condições
das
prisões,
onde
impera
a
promiscuidade,
mas
ainda
o
comportamento
dos
vereadores,
que
[salvo
raras
exceções]
não
cuidam
da
coisa
pública.
Merece
destaque
o
grande
volume
de
diálogos,
a
ênfase
no
enredo
e
o
uso
do
discurso
indireto
livre,
como
se
vê
a
seguir:
Mãos na fronte, olhos cerrados, tinha uma cara de dor, enjôo, tédio e resignação forçada. Como é duro
presidir! Imaginem então o Epitácio, lá no Catete.
24. BEIRA-RIO
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador terceira pessoa
personagens Simplício da Costa [Vosso Criado], companhia [trabalhadores e agentes]
tempo indefinido
espaço cidadezinha do interior
técnicas diálogos, coloquialismo [fala de Simplício], interlocução com o leitor [ironia]
O ENREDO
Numa
cidade
do
interior,
uma
poderosa
companhia
está
em
obras
para
a
instalação
d
uma
indústria.
Ao
lado
do
rio,
cresce
a
cidade
Capitão
Borges,
explorada
pela
Companhia.
Tudo
pertencia
a
ela.
Lá
não
havia
botequim
Era
proibido
beber,
dizia
a
empresa,
em
interesse
de
seus
servidores.
Apenas
os
técnicos
/nham
regalias,
como
jogo
e
bebida.
Mesmo
assim,
há
um
comércio
subterrâneo
de
garrafas,
há
trabalhadores
q
aparecem
bêbados
no
serviço:
Bebe-‐se
p/
esquecer,
para
lembrar,
para
fazer
de
conta,
para
cortar
doença,
para
aguentar
o
repuxo
p/
zombar
da
administração.
Um
dia,
o
apontador
e
o
balseiro
encontram
um
negro,
Simplício,
vindo
d
Pirapora
q
tenciona
montar
ali,
à
beira
do
rio,
desafiando
a
companhia,
a
sua
vendinha
de
cigarros,
pasteis
e
aguardente
25. BEIRA-RIO
Carlos Drummond de Andrade
– A companhia manda do lado de lá do rio. Do lado de cá manda Simplício da Costa, coma a autoridade
do governo. Tirei licença do governo para negociar. A Companhia não se meta comigo, que eu racho ela,
irmãozinho.
Simplício
improvisa
ali
sua
venda.
O
comportamento
dos
trabalhadores
agora
é
outro,
dispostos
pelo
álcool,
trabalham
cantando.
A
Companhia
toma
providências
p/
remover
o
negro
dali,
mas
ele
é
renitente.
Defende-‐se
c/
uma
pistola.
Os
enviados
da
Companhia
acabam
bebendo
também
e
contam
uma
história
atrapalhada.
O
.
subdiretor
chama,
então,
o
destacamento
policial.
Fecham
a
venda
do
negro,
a/ram
garrafas
e
moedas
no
rio,
ante
o
olhar
resignado
de
Simplício
q
ñ
pode
se
defender.
Os
apontadores
contemplam
a
venda
em
ruínas.
ANÁLISE E TEMÁTICAS
O
texto
apresenta
passagens
irônicas,
enfocando
o
sotaque
americano
do
subdiretor,
que
era
brasileiro,
e
a
a/tude
dos
técnicos
da
alta
administração,
que
quanto
mais
bebem
e
jogam
–
é
admirável
–
mais
trabalham.
É
gritante
a
diferença
entre
os
operários
macilentos
e
curvados
e
os
americanos
nutridos
que
dirigem
a
Cia.,
q
representa
no
conto,
o
império
capitalista,
uma
vez
q
tudo
ali
lhe
pertencia.
Simplício
representa
a
dignidade
do
homem
que
lutava
contra
a
opressão;
a
bebida,
a
possibilidade
de
evasão,
o
poder
de
imaginar
coisas
boas.
26. UM ESCRITOR NASCE E MORRE
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador primeira pessoa
personagens Juquita [escritor]
tempo indefinido
espaço cidadezinha do interior
técnicas autobiografia fictícia [metalinguagem]
O ENREDO
Estruturado
em
4
pequenos
capítulos
e
narrado
na
primeira
pessoa
pelo
protagonista
Juquita,
trata-‐se
de
uma
autobiografia
ficucia
em
q
se
percebem
pontos
em
comum
entre
o
autor
e
seu
personagem
de
Turmalina.
Aliás,
a
cidade
ficucia
contém
elementos
de
Itabira,
como
o
Pico
do
amor
ou
a
fonte
das
Sempre-‐vivas.
Essa
história
abrange
a
vida
literária
d
um
escritor
que
nasceu
no
3º.
ano
escolar,
qdo
imaginou
a
história
de
uma
viagem
fantás/ca
de
Turmalinas
até
o
Polo
Norte.
Elogiado
pela
professora,
o
menino
passa
a
escrever
mais,
torna-‐se
o
talento
da
pequena
cidade.
No
colégio
interno,
escreve
e
p/
o
jornal
e
colabora
em
revistas
literárias
Mais
tarde,
publica
vários
livros,
sempre
elogiado.
Sua
literatura,
porém,
queria-‐se
pura,
comprome/da
apenas
27. UM ESCRITOR NASCE E MORRE
Carlos Drummond de Andrade
com
a
Beleza
e
não
com
a
vida
social.
Por
isso,
quando
um
amigo
seu
colabora
no
jornal
Grito
operário,
sofre,
por
sua
parte,
descrédito.
Toda
sua
geração
vai
vencendo
na
vida,
galgando
altos
cargos
no
governo,
formando
grupos,
clubes;
porém,
era
sempre
solitário,
na
escuridão
d
si
mesmo,
foi
definhando
até
morrer
como
escritor:
Risquei um fósforo, já sob a escuridão absoluta, e na lâmpada que minhas mãos em concha formavam,
percebi que tinha feito 30 anos. Então morri. Dou minha palavra de honra que morri, estou morto, bem
morto.
ANÁLISE E TEMÁTICAS
O
conto
tem
por
núcleo
a
reflexão
s/
o
papel
do
escritor,
sua
posição
como
ser
social
considerada
+
importante
q
sua
posição
como
literato;
a
literatura
q
deve
ser
dirigida
p/
uma
realidade
social
e
não
se
perder
na
escuridão
nebulosa
do
eu.
Daí
advém
a
morte
do
escritor;
na
ânsia
de
trabalhar
somente
com
o
espírito,
vai
cavando
sua
sepultura
ficando
distante
do
sol.
A
relação
entre
a
terra
de
minérios
e
o
indivíduo
tb
está
presente
na
narra/va
Meus requintes espasmódicos eram pouco estranhos a uma terra em que a hematita calçava as ruas,
dando às almas uma rigidez triste. Entretanto meu nome em letra de forma comovia a pequena cidade,
dava-lhe esperança de que o meu talento viesse a resgatar o melancólico abandono em que, anos a fio, ela
se arrastava, com o progresso a 50 quilômetros de distância e cabritos pastando na rua.
28. CONTOS DE APRENDIZ
temáticas desenvolvidas
O FANTÁSTICO [macabro, estranho]
situações patéticas, misteriosas, absurdas
o insólito no comportamento e no cotidiano do homem
“Flor, telefone, moça”
“A baronesa”
“O gerente”
“Miguel e seu furto”
29. FLOR, TELEFONE, MOÇA
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador terceira pessoa [conta a história que ouviu de uma amiga]
personagens moça, voz que telefona para a moça, família
tempo indefinido
espaço Rio de Janeiro
técnicas resgate da narrativa oral; identificação do narrador com o autor [metalinguagem]
O ENREDO
A
protagonista
mora
no
RJ,
nas
proximidades
do
cemitério
S.
João
Ba/sta.
Sua
única
distração
era
passear
entre
os
túmulos,
lendo
as
inscrições,
observando
os
anjos
de
mármore.
Caminhando
um
dia
pela
parte
do
cemitério
onde
havia
as
covas
das
pessoas
pobres,
apanha
uma
flor
de
uma
sepultura
e
depois
a
joga
fora.
Chegando
a
casa,
o
telefone
toca
e
uma
voz
pede
a
flor
q
a
moça
/rara
da
sepultura.
A
moça
pensa
q
é
trote,
mas
o
telefone
con/nua
a
chamar,
a
mesma
voz
fria
e
longínqua
suplica
pela
florzinha.
Semrpe
a
mesma
coisa,
em
linguagem
coloquial:
Quede
a
flor
que
vc
4rou
da
sepultura?
A
irritação
da
moça
passa
a
ser
preocupação
e
medo.
Os
pais
fazem
tudo
p/
descobrir:
vigiam
telefones
públicos,
telefonam
p/
casas
das
redondezas
conferindo
a
voz,
vão
30. FLOR, TELEFONE, MOÇA
Carlos Drummond de Andrade
à
companhia
telefônica,
nada
conseguem.
Inclusive
a
polícia
é
impotente;
ironicamente,
comenta
a
narradora
q
a
polícia
estava
muito
ocupada
em
prender
comunista,
o
que
remete
para
o
contexto
histórico
dos
anos
1930,
época
do
Estado
Novo.
Aliás,
numa
das
falas,
da
moça
à
voz
misteriosa,
ela
usa
a
seguinte
gíria:
Olhe,
vire
a
chapa.
Já
está
pau.
[mude
de
assunto;
isso
já
está
chato].
A
mãe
compra
flores,
coloca
em
todas
as
sepulturas
da
parte
nova
do
cemitério,
mas
a
voz
não
silenciava,
fazia
questão
daquela
flor.
Apelou-‐se
espiri/smo,
mas
de
nada
adiantou.
Ao
fim
de
alguns
meses,
exausta,
a
moça
morre.
E
a
voz
não
incomoda
mais
ANÁLISE E TEMÁTICAS
O
utulo
é
sinté/co,
recolhi/vo,
contendo
3
nomes
que
são
os
elementos
estruturais
do
conto.
Há
2
diálogos
interessantes
q
atravessam
o
texto:
o
do
narrador
com
a
amiga
e
o
da
moça
com
a
voz.
Ao
se
referir
à
amiga,
o
narrador
faz
essa
digressão:
Naquele
dia
escutei,
certamente
porque
era
a
amiga
que
falava,
e
é
doce
ouvir
os
amigos,
ainda
quando
não
falem,
porque
amigo
tem
o
dom
de
se
fazer
compreender
até
sem
sinais.
Até
sem
olhos.
Essa
narra/va
segue
a
linha
das
narra/vas
populares
de
assombração,
criando
um
clima
de
mistério
e
suspense
culminando
com
a
vitória
do
sobrenatural.
Não
há
explicação
lógica
para
o
q
acontece,
o
importante
é
o
envolvimento
q
a
narra/va
oral
obtém,
em
q
o
medo
a/nge
a
personagem
e
o
receptor
da
história.
31. A BARONESA
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador terceira pessoa
personagens sobrinho da baronesa, baronesa [Ana Moutinho], Renato [sobrinho neto], Luís
tempo primeiras décadas do século XX
espaço Rio de Janeiro
técnicas humor negro, crítica social, jogos de oposição
O ENREDO
O
sobrinho
da
baronesa
D.
Ana
Clemen/na
de
Soromenho
Pinheiro
Lobo
Figueiredo
Mou/nho
descobre
q
a
/a
morrera
e
se
põe
a
avisar
os
parentes.
Sua
principal
preocupação
é
avisar
Renato,
sobrinho
neto
da
morta.
De
início,
há
um
suspense,
pq
se
imagina
q
o
jovem
seja
muito
ligado
à
morta.
Vê-‐se,
entretanto,
q
a
pressa
em
chegar
ao
velório
tem
outra
mo/vação.
Em
fins
do
século
XIX,
Ana
Mou/nho
fora
uma
das
mais
celebradas
damas
do
II
Império.
Sua
beleza
era,
então,
adornada
por
riquíssimas
joias.
Após
serem
comunicados
da
morte,
os
parentes
chegam
aos
montes
para
roubar
as
joias.
O
senador
se
desespera
com
o
atraso
de
seu
filho
Renato:
não
pegaria
nada.
Imagina,
então,
que
o
jovem
estaria
dormindo
na
casa
de
Deia,
a
mais
duradoura
das
32. A BARONESA
Carlos Drummond de Andrade
amantes.
Enfim,
Renato
chega
e
vai
p/
o
quarto
da
baronesa.
Passa
as
mãos
com
jeito,
discretamente,
no
rosto
da
morta
e
ainda
consegue
arrancar
de
suas
orelhas
um
par
de
brincos
que
divide,
honesto,
com
Luís.
Vai
ao
banheiro,
passa
a
loção
de
cabelo
do
pai,
telefona
pra
uma
de
suas
amantes
e
volta
p/
a
diversão.
Ao
final
da
narra/va,
entre
lacônico
e
cínico,
o
narrador
avisa:
Assim
acabou
o
Segundo
Reinado.
ANÁLISE E TEMÁTICAS
Jogos
de
opostos:
linguagem
formal
do
Senador
x
gírias
usados
por
Luís;
Jogos
de
opostos:
objetos
an/quados
do
quarto
da
baronesa
x
apartamento
de
móveis
modernos;
Humor
negro:
a
morte
é
tratada
de
forma
saurica
e
irônica,
na
medida
em
que
opõe
a
nobreza
e
a
avareza;
Temá*cas:
desagregação
da
família,
da
memória
e
dos
valores
tradicionais.
33. O GERENTE
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador terceira pessoa [conta a história a partir do que leu no diário de Samuel]
personagens Samuel, presidente do banco, senhoras, delegado
tempo primeiras décadas do século XX
espaço Rio de Janeiro
técnicas fantástico, alegoria, metalinguagem, intertextualidade
O ENREDO
Samuel
nasceu
no
Se;
/nha
modos
educados;
apesar
de
namorar
muitas
senhoras,
decidiu-‐se
pelo
celibato.
Frequentou
a
alta
sociedade,
era
amável,
bem
relacionado.
Certo
dia,
após
beijar
a
mão
de
uma
sra.,
o
dedo
dela
começou
a
sangrar
[Mme.
Souza]:
Teria
sido
espetada
por
um
alfinete?
Qdo
beija
a
mão
d
D.Guiomar,
pass
um
rapaz
de
roupa
xadrez
c/
um
papel
na
mão,
s/
chapéu,
em
velocidade
de
navalha.
O
dedo
da
sra.
é
cortado.
Num
baile,
Samuel
beija
a
mão
da
sra.
Figueiroa.
Um
garçom
chegava
c/
uma
bandeja.
Súbito,
o
ves/do
da
sra.
fica
vermelho
e
ela,
s/
uma
falangeta.
Segundo
os
médicos,
a
sra.
foi
ví/ma
de
uma
dentada
humana.
O
caso
para
na
polícia.
Interrogam
o
garçom
e
Samuel.
O
caso
foi
abafado
pela
ausência
de
provas.
As
mulheres,
então
34. O GERENTE
Carlos Drummond de Andrade
evitam
Samuel.
Noutra
festa,
beija
a
mão
de
D.Deolinda
Gualberto.
No
mesmo
instante,
passa
um
propagandist
q
anuncia
um
aparelho
de
barba.
A
sra.
geme
d
dor.
O
dedo
está
cortado.
No
dia
seguinte,
os
jornais
anunciam
mais
uma
ví/ma
do
vampiro
dos
salões.
Samuel
é
indiciado.
Nada
conseguem
provar.
Apesar
disso,
muda-‐se
p/
São
Paulo.
8
anos
depois,
volta
ao
RJ
p/
resolver
uns
negócios,
recebe
um
telefonema
de
D.Deolinda,
saem.
Durante
o
encontro,
conta
q
teve
q
amputar
o
braço
devido
à
mordida.
Bêbada,
faz-‐lhe
uma
declaração
de
amor.
O
gerente
sente
remorso
e
aversão.
Leva-‐a
p/
casa,
ajeita-‐a
na
cama,
toma-‐lhe
a
mão
e
a
leva
aos
lábios.
O
contato
dura
muito
tempo.
Regressa
a
SP,
de
acordo
com
o
narrador,
sem
liquidar
o
negócio
[ambiguidade].
ANÁLISE E TEMÁTICAS
Metalinguagem:
O
narrador
conta
a
história
a
par/r
dos
relatos
que
lera
no
diário
de
Samuel.
Fantás*co:
Tanto
o
senso
comum
quanto
o
locutor
acreditam
q
Samuel
come
dedos
de
senhoras.
Intertextualidade:
A
epígrafe
da
novela
rela/viza
a
veracidade
dos
fatos
narrados:
Que
é
a
verdade?
Sá*ra
à
sociedade
capitalista:
Samuel,
o
gerente
de
banco
doce
e
suave
esconde
sua
inclinação
criminosa
por
trás
da
máscara
social.
Metaforicamente,
Samuel
a
sociedade
capitalista
q,
resguardadas
as
aparências,
age
de
forma
devoradora
[sá/ra
ao
capitalismo].
35. MIGUEL E SEU FURTO
Carlos Drummond de Andrade
ELEMENTOS DA NARRATIVA
narrador terceira pessoa
personagens Miguel, seus parentes, garoto que toma banho de mar
tempo indefinido
espaço urbano
técnicas fantástico, alegoria
O ENREDO
Miguel
era
um
homem
simpá/co,
embora
nunca
tenha
tomado
uma
posição
na
vida;
finda
a
fonte
de
seu
sustento,
passou
a
dormir
em
jornais.
Foi
num
deles
que
certo
dia
captou
a
ideia
de
roubar
o
mar.
Mesmo
o
mar
ficando
no
mesmo
local,
novas
regras
foram
estabelecidas,
como
o
imposto
pago
a
Miguel
e
a
proibição
dos
banhos
para
manter
a
moralidade.
Tornou-‐se
tão
rico
que
passou
a
queimar
parte
de
sua
riqueza
por
não
ter
onde
guardá-‐la.
Um
dia,
porém,
um
garoto
saiu
correndo,
arrancou
as
roupas
e
se
jogou
no
mar.
Desde
então,
todos
se
apoderaram
novamente
do
mar.
Miguel
depositou
sua
fortuna
em
bancos
seguros
e
passou
a
colecionar
conchinhas
para
se
lembrar
de
sua
ex-‐propriedade.
36. MIGUEL E SEU FURTO
Carlos Drummond de Andrade
ANÁLISE E TEMÁTICAS
Intertextualidade
e
Alegoria:
alegoria
de
caráter
social
e
dialoga
com
“A
nova
roupa
do
rei”
O
garoto
de
oito
anos,
morador
de
Ramos,
q
desafia
a
ordem
estabelecida
representa
a
possibilidade
de
ruptura
com
os
sistemas
de
dominação
arbitrária.
A
infância,
tal
qual
acontece
em
“Nossa
amiga”,
“A
doida”
e
“Conversa
de
velha
com
criança”
é
vista
como
um
momento
de
pureza,
de
inocência,
de
liberdade:
como
uma
recusa
da
injus/ça
e
da
arbitrariedade.
Nesse
sen/do,
esse
conto
se
aproxima
de
“Beira-‐rio”
e
“Câmara
e
cadeia”,
textos
com
forte
pendor
social.