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Contos de aprendiz,
Carlos Drummond de Andrade
        Manoel Neves
CONTOS DE APRENDIZ
                  segunda geração do modernismo
                                       quinze	
  narra*vas	
  
1951                 contos	
  *rados	
  do	
  co*diano	
  e	
  da	
  imaginação	
  

                            A LINGUAGEM

   simplicidade                   despojamento                             tradição da oralidade

                              A EPÍGRAFE

       infância              locutor ouve histórias                     particularidade q encanta

                                O TÍTULO

       modéstia                    simplicidade                                 aprendizagem

                      A SEGUNDA GERAÇÃO

   psicologismo                  memória afetiva                             problemas sociais
CONTOS DE APRENDIZ
         temáticas desenvolvidas
                  A INFÂNCIA

                  reminiscências
              comportamento infantil

           oposição/complementaridade
criança x mundo, criança x criança, criança x adulto
               “Salvação da alma”
                   “O sorvete”

                    “A doida”
                 “Nossa amiga”
       “Conversa de velho com criança”
SALVAÇÃO DA ALMA
                                                Carlos Drummond de Andrade
                                                         ELEMENTOS DA NARRATIVA

      narrador                      o locutor de terceira pessoa passa a narrativa para Augusto [de 3ª. para 1ª.]

   personagens                                                      Augusto, Tito, Miguel, Edison e Ester

        tempo                                       o enunciado localiza-se trinta anos antes da enunciação

        espaço                                                     cidadezinha do interior [Minas Gerais]

       técnicas                                                  diálogos, coloquialismo, memória afetiva

                                                                          O ENREDO

  Trata	
  das	
  reminiscências	
  infan/s:	
  brigas	
  e	
  brincadeiras	
  com	
  os	
  irmãos.	
  A	
  mineiridade	
  destaca-­‐se	
  na	
  narra/va	
  

  símbolo	
  de	
  ordem	
  e	
  de	
  moderação,	
  terra	
  de	
  bois	
  pacíficos	
  e	
  de	
  polí4cos	
  suaves	
  e	
  bem	
  comportados,	
  mas	
  traz	
  
 força	
  acumulada,	
  energia	
  q	
  sobrou	
  do	
  tempo	
  da	
  luta	
  com	
  os	
  emboabas.	
  Augusto,	
  o	
  caçula,	
  vivia	
  acompanhado
dos	
  irmãos.	
  Um	
  dia,	
  ficam	
  sabendo	
  da	
  chegada	
  das	
  	
  missões.	
  Os	
  missionários	
  alertavam	
  a	
  população	
  da	
  pquena

    cidade	
  dos	
  horrores	
  do	
  inferno.	
  Tito	
  era	
  o	
  único	
  que	
  prestava	
  atenção;	
  os	
  garotos	
  vão	
  confessar;	
  após	
  isso,	
  
Tito	
  convida	
  Augusto	
  para	
  1	
  vol/nha,	
  o	
  efeito	
  da	
  confissão	
  é	
  visível	
  nos	
  dois,	
  principalmente	
  em	
  Tito,	
  q	
  promete
mudar	
  de	
  vida	
  e	
  não	
  mais	
  surrar	
  seu	
  irmão.	
  Pede	
  que	
  Augusto	
  o	
  humilhe,	
  pq	
  quer	
  expiar	
  seu	
  pecados.	
  Augusto,
SALVAÇÃO DA ALMA
                                                  Carlos Drummond de Andrade
  então,	
  pede	
  para	
  ser	
  carregado	
  nas	
  costas	
  até	
  sua	
  casa.	
  E	
  não	
  fica	
  só	
  nisso:	
  pede,	
  ainda,	
  que	
  o	
  irmão,	
  a	
  cada	
  

50	
  passos	
  pare	
  e	
  grite	
  Sou	
  burro	
  e	
  quero	
  capim.	
  Tito	
  carrega	
  seu	
  irmão,	
  que	
  ia	
  /rando	
  desforra	
  de	
  tantas	
  surras
   E	
  para	
  fazer	
  com	
  que	
  o	
  burro	
  caminhasse	
  mais	
  rápido,	
  Augusto	
  dá,	
  com	
  os	
  calcanhares,	
  um	
  golpe	
  duplo	
  nas	
  
  virilhas.	
  Tito,	
  uivando	
  de	
  dor,	
  rola	
  pelo	
  chão,	
  e	
  passam	
  a	
  brigar.	
  No	
  dia	
  seguinte,	
  eles	
  não	
  podem	
  comungar.	
  

                                                                 ANÁLISE E TEMÁTICAS

 O	
  episódio	
  q	
  deu	
  origem	
  à	
  narra/va	
  aconteceu	
  qdo	
  Augusto	
  /nha	
  09	
  anos	
  –	
  trinta	
  anos	
  antes	
  da	
  enunciação.	
  

  A	
  	
  temá/ca	
  do	
  conto	
  é	
  o	
  comportamento	
  infan/l,	
  que	
  aparece	
  analisado	
  em	
  trechos	
  como	
  o	
  citado	
  a	
  seguir:	
  

 Mas a confissão infiltrara em nós seu óleo espesso e triste, e um desejo de nos pacificarmos, de
 atingirmos a bondade e a compreensão, nos tornava indiferentes à matéria cotidiana.
   O	
  orgulho	
  do	
  clã	
  e	
  o	
  tema	
  da	
  família	
  é	
  outro	
  tema	
  desenvolvido	
  magistralmente	
  no	
  conto,	
  como	
  se	
  vê	
  em:	
  

  O orgulho dos Novais repontava nessa recriminação, porque um Novais não podia apanhar, e se não
  fosse ele, Tito, eu, Augusto Novais Jr., apanharia em público, para gozo dos Teixeiras, dos Andrada, dos
  Guimarães, de outros clãs rivais.
O SORVETE
                                              Carlos Drummond de Andrade
                                                       ELEMENTOS DA NARRATIVA

     narrador                                            não nomeado, conta um evento de sua infância

  personagens                                                               narrador [11] e Joel [13]

       tempo                                                                               1916

       espaço                                                  A Belo Horizonte do início do século XX

      técnicas                                            memória afetiva, diálogos, análise psicológica

                                                                       O ENREDO

A	
  narra/va	
  centra-­‐se	
  num	
  evento	
  ocorrido	
  numa	
  tarde	
  de	
  domingo	
  do	
  ano	
  de	
  1916	
  na	
  cidade	
  de	
  BH.	
  O	
  locutor

  e	
  seu	
  amigo	
  Joel	
  estudavam	
  em	
  um	
  colégio	
  interno	
  e,	
  aos	
  domingos,	
  /nham	
  licença	
  para	
  andar	
  pela	
  cidade.	
  	
  
 Dedicavam	
  o	
  tempo	
  a	
  ma/nês,	
  passeios,	
  gulodices;	
  o	
  dinheiro	
  era	
  limitado.	
  Às	
  vezes,	
  iam	
  à	
  casa	
  de	
  parentes.	
  
         Certo	
  domingo,	
  quando	
  estavam	
  indo	
  a	
  uma	
  ma/nê,	
  vêem	
  um	
  quadro	
  negro	
  em	
  uma	
  confeitaria,	
  

                 anunciando:	
  Delicioso	
  sorvete	
  de	
  abacaxi.	
  Nunca	
  /nham	
  visto	
  aquilo	
  e	
  queriam,	
  ambos,	
  
    experimentar.	
  Deixam	
  o	
  cinema	
  e	
  entram	
  na	
  confeitaria,	
  mas	
  o	
  gosto	
  do	
  sorvete	
  decepciona	
  os	
  garotos:	
  
O SORVETE
                                              Carlos Drummond de Andrade
O sorvete era detestável, de um frio doloroso, do qual se excluía toda lembrança de abacaxi, para só ficar
a ideia de uma coisa ao mesmo tempo pétrea e frágil, agressiva aos dentes, e, mais para além deles, a
uma região íntima do ser em que está o núcleo da personalidade.
  Para	
  intensificar	
  o	
  sofrimento	
  dos	
  rapazes,	
  ao	
  final	
  de	
  tudo,	
  o	
  dinheiro	
  dos	
  dois	
  é	
  insuficiente	
  para	
  a	
  conta.	
  

                                                             ANÁLISE E TEMÁTICAS

            O	
  cenário	
  desta	
  vez	
  é	
  a	
  cidade	
  grande.	
  Analisa-­‐se	
  o	
  comportamento	
  infan/l	
  e	
  sua	
  psicologia:	
  
Arrependimento da proibição imposta a mim mesmo e a um amigo, insatisfação, espírito de aventura,
volubilidade da alma humana, ou qualquer outro móvel não esclarecido, o certo é que Joel, cutucando-
me o braço, murmurou: – Vamos lá, vamos?
As	
  reminiscências	
  –	
  lembranças	
  de	
  eventos	
  mínimos,	
  mas	
  significa/vos	
  para	
  o	
  locutor,	
  dão	
  a	
  tônica	
  do	
  conto:	
  
Sim, nenhuma das operações de que se compunha o programa parecia por si mesma extraordinária, mas
á medida que se iam consumando, ficavam registrados em nós como outros tantos episódios
memoráveis, cujo esplendor atravessaria as horas mornas, projetando-se para além da mediocridade de
nossos destinos.
    Os	
  valores	
  familiares	
  ajudam	
  a	
  compor	
  um	
  panorama	
  psicológico	
  da	
  elite	
  agrária	
  mineira	
  do	
  século	
  XX:	
  
Era um pensamento, uma noção dos Mendonça, formada na educação burguesa de várias gerações, que
ele ministrava a um membro de outra família não menos rica de princípios respeitáveis, os Caldeira
Lemos.
A DOIDA
                                                  Carlos Drummond de Andrade
                                                           ELEMENTOS DA NARRATIVA

      narrador                                                                           terceira pessoa

  personagens                                                                  grupo de crianças, a doida

         tempo                                                             indefinido [início do século XX?]

        espaço                                                              cidadezinha do interior de MG

       técnicas                                                            coloquialismo, memória afetiva

                                                                             O ENREDO

Em	
  uma	
  pequena	
  cidade,	
  morava	
  a	
  doida	
  a	
  q	
  todas	
  as	
  crianças	
  insultavam.	
  Várias	
  versões	
  circulavam	
  acerca	
  do

q	
  teria	
  levado	
  a	
  mulher	
  à	
  loucura,	
  uma	
  delas	
  fala	
  do	
  repúdio	
  do	
  noivo	
  no	
  dia	
  do	
  casamento,	
  e	
  a	
  sua	
  tenta/va	
  de
  envenenar	
  o	
  próprio	
  pai.	
  As	
  crianças	
  /nham	
  uma	
  certeza	
  –	
  a	
  doida	
  carregava	
  uma	
  culpa	
  grave.	
  Três	
  meninos	
  
passam	
  pela	
  casa,	
  a/ram	
  pedras,	
  mas	
  ñ	
  escutam	
  as	
  reações	
  de	
  praxe.	
  Intrigado	
  com	
  o	
  silêncio,	
  um	
  deles	
  entra	
  

   na	
  casa,	
  e	
  vê	
  a	
  doida	
  deitada	
  numa	
  cama.	
  Perde	
  a	
  vontade	
  de	
  maltratá-­‐la,	
  reconhece	
  que	
  ela	
  está	
  doente	
  e	
  
                                      estaria	
  prestes	
  a	
  morrer.	
  Compadecido,	
  ajuda-­‐a	
  a	
  beber	
  água:	
  
A DOIDA
                                               Carlos Drummond de Andrade
Fazia tudo natauralmente, e nem se lembrava mais porque entrara ali; nem conservava qualquer espécie
de aversão pela doida. A própria ideia de doida desaparecera. Havia ali somente uma velha com sede e
que talvez estivesse morrendo.
 .	
  E	
  o	
  menino	
  fica	
  ao	
  lado	
  da	
  velha,	
  procurando	
  ajudá-­‐la:	
  Pegar-­‐lhe	
  nas	
  mãos	
  e	
  esperar	
  o	
  que	
  ia	
  acontecer.	
  

                                                              ANÁLISE E TEMÁTICAS

A	
  narra/va	
  trata	
  do	
  comportamento	
  infan/l	
  face	
  a	
  loucura	
  [agressão],	
  aliás,	
  reflexo	
  do	
  comportamento	
  da	
  
 	
  sociedade	
  que	
  se	
  disfarça	
  em	
  indiferença,	
  restrição:	
  tomar	
  bênção	
  da	
  doida,	
  morar	
  com	
  a	
  doida,	
  aliás,	
  são	
  
                                      expressões	
  criadas	
  pelo	
  povo	
  para	
  amedrontar	
  as	
  crianças.	
  
           O	
  comportamento	
  infan/l	
  em	
  face	
  da	
  morte	
  [solidariedade],	
  funciona	
  como	
  sinal	
  da	
  possível	
  

   iden/ficação	
  de	
  todos	
  os	
  homens,	
  crianças	
  ou	
  adultos,	
  loucos	
  ou	
  não,	
  diante	
  de	
  uma	
  mesma	
  fatalidade.	
  
NOSSA AMIGA
                                                 Carlos Drummond de Andrade
                                                          ELEMENTOS DA NARRATIVA

      narrador                                                                         terceira pessoa

   personagens                                          Luci Machado da Silva, sua mãe, Catarina e Pepino

        tempo                                                            indefinido [início do século XX?]

        espaço                                                                          Rio de Janeiro

       técnicas               intertextualidade bíblica, memória afetiva, enredo mínimo [assemelha-se à crônica]

                                                                           O ENREDO

 Luci	
  Machado	
  da	
  Silva	
  tem	
  3	
  anos.	
  Não	
  tem	
  tamanho	
  sequer	
  para	
  tocar	
  a	
  campainha	
  da	
  casa	
  do	
  vizinho	
  q	
  está	
  

 sempre	
  a	
  visitar.	
  De	
  dentro	
  da	
  casa,	
  a	
  voz	
  pergunta:	
  Quem	
  está	
  ai?	
  É	
  de	
  paz	
  ou	
  de	
  guerra?	
  De	
  fora	
  respondem.
       A	
  garo/nha	
  então	
  fala,	
  com	
  autoridade:	
  É	
  Luci	
  Machado	
  da	
  Silva.	
  Abre	
  que	
  eu	
  quero	
  entrar.	
  De	
  acordo	
  
  c/	
  o	
  narrador,	
  ela	
  é	
  dona	
  das	
  duas	
  casas.	
  Gosta	
  mais	
  da	
  casa	
  onde	
  ganha	
  doces.	
  Catarina	
  é	
  uma	
  bonequinha	
  

que	
  fica	
  pregada	
  na	
  parede	
  pq,	
  segundo	
  o	
  narrador,	
  fora	
  uma	
  menininha	
  que	
  brincou	
  com	
  um	
  cachorro	
  de	
  vidro
s/	
  autorização	
  da	
  mãe.	
  Pepino	
  era	
  o	
  bêbado	
  da	
  vizinhanza.	
  Luci	
  gosta	
  de	
  festas	
  e	
  de	
  brincar	
  c/	
  objetos	
  variados,
    que	
  sua	
  imaginação	
  transforma	
  em	
  criança	
  no	
  colo	
  da	
  mãe,	
  cujas	
  frases	
  usava	
  nas	
  conversas	
  com	
  adultos.	
  
NOSSA AMIGA
                                                Carlos Drummond de Andrade
                                                               ANÁLISE E TEMÁTICAS

   Não	
  há	
  propriamente	
  enredo	
  neste	
  conto.	
  O	
  que	
  há	
  são	
  fragmentos	
  de	
  fatos	
  banais,	
  corriqueiros,	
  de	
  uma	
  
   densidade	
  lírica	
  ou	
  filosófica	
  incomum,	
  q	
  levam	
  o	
  leitor	
  a	
  refle/r	
  sobre	
  a	
  infância,	
  a	
  amizade,	
  a	
  beleza	
  ou	
  a	
  
passagem	
  do	
  tempo.	
  Trata-­‐se	
  de	
  uma	
  composição	
  de	
  matriz	
  poé4ca,	
  que	
  contorna	
  o	
  lirismo	
  do	
  mundo	
  infan/l.

   Ao	
  final	
  do	
  conto,	
  há	
  uma	
  intertextualidade	
  bíblica,	
  que	
  coloca	
  o	
  conto	
  no	
  sen/do	
  da	
  compaixão	
  humana:	
  
 Perguntas e respostas, recolhidas em conversas de adulto, saem da mesma boca inexperiente. O objeto
 que serve de filho embalado com seriedade. A doença existe, existem os sustos maternais. Mas tudo se
 desfaz, se acaso um intruso vem surpreender a criação, tirada em partes iguais da vida e do sonho, e que
 os prolonga. Assim pudesse a mãe antiga tornar invisível seu filho ante os soldados de Herodes.
CONVERSA DE VELHO COM CRIANÇA
                                                   Carlos Drummond de Andrade
                                                            ELEMENTOS DA NARRATIVA

       narrador                              primeira pessoa: narrador testemunha que se autodenomina Carlos

   personagens                             narrador, Maria de Lurdes Guimarães Almeida Xavier, Ferreira [ironia]

         tempo                                                              indefinido [início do século XX?]

         espaço                                                                            Rio de Janeiro

       técnicas                   lirismo, caráter existencial/filosófico, enredo mínimo, semelhança com a crônica

                                                                              O ENREDO

Bonde	
  cheio,	
  o	
  locutor	
  que	
  se	
  autodenomina	
  Carlos	
  acompanha	
  a	
  conversa	
  entre	
  o	
  velho	
  Ferreira	
  e	
  a	
  garo/nha

Maria	
  de	
  Lurdes	
  Guimarães	
  Almeida	
  Xavier,	
  de	
  5	
  anos.	
  O	
  velho	
  carregava	
  um	
  guarda-­‐chuva	
  e	
  alguns	
  embrulhos
  Em	
  pé,	
  segurava	
  no	
  estribo	
  do	
  bonde,	
  arriscando-­‐se	
  até	
  a	
  cair	
  na	
  rua.	
  A	
  menina	
  segurava	
  um	
  pacote	
  de	
  balas.	
  
Ela	
  pede	
  uma	
  bala	
  ao	
  Ferreira.	
  Ele	
  /ra	
  a	
  mão	
  do	
  estribo	
  e	
  oferece	
  o	
  doce.	
  Na	
  hora	
  d	
  pagar	
  a	
  passagem,	
  a	
  moeda

cai	
  de	
  sua	
  mão	
  e	
  se	
  perde	
  nos	
  trilhos.	
  O	
  amável	
  cobrador	
  procura,	
  e	
  não	
  encontra	
  a	
  moedinha.	
  Não	
  aceita	
  outra
 em	
  pagamento:	
  O	
  senhor	
  não	
  paga	
  nada.	
  O	
  narrador	
  admira-­‐se	
  com	
  o	
  tratamento	
  espontâneo	
  entre	
  os	
  dois	
  e	
  
ques/ona	
  se	
  eram	
  parentes	
  ou	
  apenas	
  amigos.	
  Prefere	
  acreditar	
  q	
  são	
  amigos,	
  indiferentes	
  à	
  diferença	
  de	
  idade
CONVERSA DE VELHO COM CRIANÇA
                                                 Carlos Drummond de Andrade
  E imaginei Ferreira vizinho de Maria de Lurdes, afeiçoando-se à pequena, subornando-lhe o coração à
  custa de carinhos diários, roubando-a, enfim, para si. Amiga Maria de Lurdes, amigo Ferreira; os
  cinquenta e cinco anos de diferença faziam o entendimento mais perfeito, já que as pessoas da mesma
  idade dificilmente se entendem.
O	
  narrador	
  tenta	
  estabelecer	
  diálogo	
  c/	
  a	
  menina	
  e	
  não	
  consegue,	
  daí	
  a	
  reflexão	
  de	
  caráter	
  poé/co	
  e	
  metamsico

  ao	
  final	
  da	
  história:	
  Quando	
  encontrarás,	
  Carlos,	
  a	
  chave	
  de	
  outra	
  criatura?	
  A	
  menina	
  murmura	
  alguma	
  coisa	
  
       no	
  ouvido	
  do	
  velho	
  e	
  os	
  dois	
  descem	
  do	
  bonde	
  e	
  o	
  locutor	
  reflete,	
  lembrando-­‐se	
  do	
  pai:	
  Meu	
  pai	
  dizia	
  
                                                          que	
  os	
  amigos	
  são	
  para	
  as	
  ocasiões.	
  

                                                                ANÁLISE E TEMÁTICAS

    Texto	
  altamente	
  lírico,	
  que	
  apresenta	
  um	
  enredo	
  mínimo,	
  através	
  do	
  qual	
  se	
  faz	
  uma	
  reflexão	
  metamsica.	
  
             Os	
  elementos	
  mencionados	
  acima	
  aproximam	
  o	
  conto	
  em	
  análise	
  do	
  gênero	
  literário	
  crônica.	
  
CONTOS DE APRENDIZ
       temáticas desenvolvidas
        RETRATOS E IMPRESSÕES

      enfoque em certos estados de ânimo
fixação de das impressões do locutor/personagem

      sondagem do mundo do protagonista
            sensibilidade do locutor
                “O presépio”
“Extraordinária conversa com uma senhora...”

             “Meu companheiro”
PRESÉPIO
                                                   Carlos Drummond de Andrade
                                                           ELEMENTOS DA NARRATIVA

      narrador                                                                           terceira pessoa

  personagens                                                                      Dasdores [e Abelardo]

        tempo                                                  24 de dezembro [referência à Missa do Galo]

        espaço                                                                     cidadezinha do interior

       técnicas                                                intertextualidade, ironia, intrusão do narrador

                                                                             O ENREDO

Noite	
  de	
  Natal,	
  Dasdores	
  está	
  dividida	
  entre	
  a	
  construção	
  do	
  Presépio	
  e	
  a	
  ida	
  à	
  Missa	
  do	
  Galo.	
  Se	
  fosse	
  à	
  Igreja,

o	
  Presépio	
  não	
  ficaria	
  pronto.	
  Se	
  terminasse	
  o	
  Presépio,	
  não	
  conseguiria	
  ver	
  seu	
  namorado	
  durante	
  a	
  Missa.	
  O	
  
  caráter	
  irônico	
  do	
  texto	
  ocorre	
  na	
  relação	
  sagrado/profano,	
  pois	
  Dasdores	
  é	
  dividida	
  entre	
  seus	
  dois	
  deuses.	
  
  Temos,	
  pois,	
  um	
  tema	
  barroco	
  tratado	
  modernamente.	
  Dasdores	
  é	
  quem	
  faz	
  tudo	
  em	
  casa,	
  mas	
  acha	
  tempo	
  

para	
  pensar	
  no	
  namorado.	
  O	
  tempo	
  é	
  curto,	
  personificado	
  pelo	
  narrador,	
  que,	
  por	
  três	
  vezes,	
  entre	
  parênteses
anuncia	
  agarra-­‐me.	
  As	
  amigas	
  aparecem	
  p/	
  interrompê-­‐la.	
  Dasdores	
  vê	
  o	
  namorado	
  em	
  cada	
  peça	
  do	
  presépio:
PRESÉPIO
                                               Carlos Drummond de Andrade
Ou um sentimento de culpa, ao misturar o sagrado ao profano, dando talvez preferência a este último,
pois no fundo da caminha de palha suas mãos acariciavam o menino, mas o que a pele queria sentir –
sentia, Deus me perdoe, era um calor humano, já sabeis de quem.
Note-­‐se	
  a	
  semelhança	
  da	
  a/tude	
  da	
  protagonista	
  c/	
  a	
  de	
  Nogueira,	
  do	
  conto	
  “Missa	
  do	
  galo”.	
  Os	
  dois,	
  ao	
  invés

  de	
  se	
  focarem	
  no	
  elemento	
  sagrado,	
  imbricam	
  seus	
  desejos	
  aos	
  pensamentos	
  [que	
  deveriam	
  ser]	
  sagrados.	
  

                                                             ANÁLISE E TEMÁTICAS

Destaquem-­‐se	
  a	
  ironia,	
  a	
  intertextualidade	
  e	
  o	
  ques/onamento	
  do	
  papel	
  da	
  mulher	
  na	
  sociedade	
  patriarcal:	
  
 Os pais exigem-lhe o máximo, não porque a casa seja pobre, mas o primeiro mandamento da educação
 feminina é: trabalharás dia e noite. Se não trabalhar sempre, se não ocupar todos os minutos, quem sabe
 de que será capaz a mulher.
Observe	
  que	
  o	
  narrador	
  finge	
  ironicamente	
  adotar	
  a	
  postura	
  machista,	
  para	
  discu/r	
  a	
  mentalidade	
  do	
  mundo	
  
                   	
  em	
  que	
  vive.	
  O	
  conto	
  não	
  apresenta	
  enredo	
  definido,	
  o	
  que	
  o	
  aproxima	
  da	
  crônica.	
  
EXTRAORDINÁRIA CONVERSA...
                                                      Carlos Drummond de Andrade
                                                               ELEMENTOS DA NARRATIVA

       narrador                                                                              primeira pessoa

    personagens                                                                             narrador, senhora

          tempo                                                              período de uma viagem de ônibus

         espaço                                                                                      urbano

        técnicas                             intertextualidades [Machado de Asis, Valéry, Mallarmé, Salvador Dali]

                                                                                 O ENREDO

 O	
  locutor	
  está	
  num	
  ônibus	
  cheio,	
  encontra	
  uma	
  conhecida	
  e	
  começa	
  uma	
  conversa	
  meio	
  sem	
  rumo.	
  Ele,	
  em	
  pé,

      segurado	
  a	
  umas	
  argolas	
  q	
  ficavam	
  no	
  teto.	
  Ela,	
  sentada.	
  Como	
  se	
  conheciam,	
  trocaram	
  um	
  sorriso.	
  Ela	
  o	
  
     cumprimenta;	
  ele	
  não	
  consegue	
  se	
  lembrar	
  especificamente	
  de	
  onde	
  a	
  conhecia.	
  Ela	
  pergunta	
  ao	
  narrador	
  
    como	
  vai.	
  Ele	
  responde	
  com	
  uns	
  versos.	
  Só	
  da	
  2ª.	
  vez,	
  diz	
  vou	
  bem;	
  e	
  a	
  senhora	
  como	
  vai?	
  Ela,	
  então,	
  fala	
  s/	
  

  preocupações	
  com	
  um	
  gato,	
  eletrocardiogramas,	
  entre	
  outras	
  coisas.	
  Mas,	
  ele	
  não	
  a	
  ouvia,	
  pois	
  se	
  ques/onava
 e	
  deveria	
  ou	
  não	
  ultrapassar	
  os	
  limites.	
  Seu	
  discurso	
  se	
  assemelha	
  a	
  um	
  monólogo	
  e	
  é	
  pontuado	
  por	
  lembrança
de	
  leituras	
  de	
  Mallarmé	
  e	
  Paul	
  Valéry,	
  autores	
  que	
  vêm	
  à	
  tona	
  devido	
  ao	
  alumbramento	
  eró/co	
  /do	
  pelo	
  locuto
EXTRAORDINÁRIA CONVERSA...
                                                   Carlos Drummond de Andrade
 A	
  cena	
  q	
  deu	
  origem	
  às	
  divagações	
  eró/co-­‐literárias	
  do	
  locutor	
  foi	
  a	
  em	
  q	
  a	
  sra.	
  agachou-­‐se	
  p/	
  pegar	
  a	
  bolsa	
  e	
  

 as	
  luvas	
  q,	
  num	
  solavanco,	
  foram	
  a/radas	
  no	
  chão.	
  O	
  narrador	
  tb	
  se	
  abaixa	
  e	
  vê	
  os	
  seios	
  da	
  mulher.	
  Sublima	
  a	
  

                     visão	
  transcendente	
  evocando	
  um	
  fragmento	
  do	
  poema	
  “As	
  romãs”,	
  de	
  Paul	
  Valéry:	
  
 Duras romãs entreabertas/ Pelo excesso dos grãos de ouro,/ Eu vejo reis, todo um tesouro/ Nascer de
 suas descobertas.
                                                                   ANÁLISE E TEMÁTICAS

O	
  início	
  da	
  narra/va	
  evoca	
  novamente	
  a	
  “Missa	
  do	
  galo”,	
  de	
  Machado	
  de	
  Assis,	
  que	
  começa	
  assim:	
  Nunca	
  pude
entender	
  a	
  conversação	
  q	
  4ve	
  com	
  uma	
  senhora,	
  há	
  muitos	
  anos.	
  O	
  conto	
  de	
  Drummond	
  termina	
  desse	
  modo:	
  
 Mas confesso que esta me pareceu a conversa mais extraordinária de quantas, até o presente, hei tido
 com uma senhora de minhas relações. Desculpai-me, se não a considerais sequer uma conversa.
         O	
  conto	
  lembra	
  uma	
  crônica,	
  pq	
  registra	
  um	
  flagrante	
  do	
  co/diano.	
  O	
  narrador	
  faz	
  reflexões	
  acerca	
  

         da	
  beleza	
  da	
  mulher	
  que	
  era	
  algo	
  insólito	
  naquele	
  lugar	
  e	
  naquela	
  sua	
  posição	
  incômoda	
  de	
  fruição.	
  	
  
   A	
  conversa	
  entre	
  ambos	
  nada	
  tem	
  de	
  extraordinário	
  –	
  só	
  falam	
  de	
  coisas	
  banais	
  e	
  formais.	
  Mas	
  o	
  que	
  a	
  faz	
  
        é	
  o	
  embaraço	
  do	
  narrador,	
  extasiado	
  ante	
  o	
  decote	
  da	
  mulher,	
  q	
  recita	
  mentalmente	
  versos	
  sensuais	
  
 que	
  falam	
  das	
  curvas	
  sensuais	
  do	
  corpo	
  feminino.	
  Há	
  ainda,	
  referências	
  à	
  pintura	
  surrealista	
  de	
  Salvador	
  Dalí.	
  
MEU COMPANHEIRO
                                                    Carlos Drummond de Andrade
                                                            ELEMENTOS DA NARRATIVA

       narrador                                                                           primeira pessoa

   personagens                        Professor Motinha [narrador protagonista], cachorro Pirolito, mulher e filhos

         tempo                                                                                 indefinido

         espaço                                                                     cidadezinha do interior

        técnicas                intertextualidade, reflexão existencial a partir de um evento do cotidiano [crônica?]

                                                                              O ENREDO

O	
  narrador,	
  professor	
  Mo/nha,	
  fala	
  d	
  seu	
  relacionamento	
  com	
  Pirolinho,	
  cãozinho	
  vira-­‐latas	
  comprado	
  há	
  pouco

tempo.	
  O	
  nome	
  foi	
  originado	
  de	
  uma	
  música	
  infan/l	
  cantada	
  pela	
  vizinha.	
  A	
  esposa	
  do	
  narrador,	
  Margarida	
  e	
  os
filhos	
  recebem	
  bem	
  o	
  cão,	
  q	
  passou	
  a	
  exis/r	
  como	
  parte	
  integrante	
  da	
  família	
  e	
  se	
  torna	
  confidente	
  do	
  narrador
  Abanar o rabo, lamber, levantar ou descer as orelhas, contemplar-me de boca aberta, resfolegando, eram
  outras tantas maneiras de exprimir seus conceitos sobre as coisas do tempo, que eu traduzia para a
  linguagem humana.
     O	
  cachorro	
  chega	
  mesmo	
  a	
  se	
  transformar	
  na	
  voz	
  da	
  consciência	
  do	
  narrador:	
  mo4nha	
  está	
  pensando	
  que	
  

  vai	
  ganhar	
  na	
  loteria?	
  Que	
  esperança!	
  Trate	
  de	
  dar	
  suas	
  aulas	
  no	
  ginásio,	
  se	
  não	
  quer	
  4rar	
  o	
  leite	
  dos	
  garotos.	
  
MEU COMPANHEIRO
                                               Carlos Drummond de Andrade
Há	
  um	
  perfeito	
  relacionamento	
  entre	
  o	
  chefe	
  de	
  família	
  e	
  o	
  cão.	
  Ele	
  acredita	
  mesmo	
  que	
  tem	
  um	
  temperament

   igual.	
  Um	
  dia,	
  inexplicavelmente	
  Pirolito	
  desaparece.	
  O	
  professor	
  desconfia	
  de	
  Margarida,	
  que	
  uma	
  vez	
  dera	
  

sumiço	
  em	
  um	
  gato.	
  Conclui,	
  entretanto,	
  q	
  muitas	
  pessoas	
  [e,	
  por	
  que	
  não,	
  animais]	
  somem	
  sem	
  dar	
  explicação

                                                              ANÁLISE E TEMÁTICAS

                                    O	
  conto	
  evidencia	
  um	
  intenso	
  senso	
  de	
  observação	
  do	
  animal:	
  
  Todo cão tem seus instantes de alegria louca, geralmente depois do banho, quando se põe a correr pela
  casa afora, sem nenhum objetivo de caça, e desafiando nossa agilidade em persegui-lo; é no mais puro
  sentido da palavra um esporte. Percorre invariavelmente os mesmo lugares, passa chispando à nossa
  frente, e afinal dá por findo o exercício.
 A	
  amizade	
  do	
  cão,	
  além	
  de	
  exercer	
  função	
  moral	
  de	
  consciência	
  ao	
  narrador,	
  recupera	
  a	
  sua	
  infância	
  e	
  autoriza
 a	
  pra/car	
  atos	
  que	
  a	
  condição	
  de	
  adulto	
  não	
  permi/a.	
  O	
  texto	
  também	
  faz	
  análise	
  do	
  temperamento	
  humano,
 	
  seu	
  desejo	
  de	
  evasão	
  e	
  suas	
  limitações;	
  já	
  o	
  narrador	
  se	
  iden/fica	
  com	
  o	
  cachorrinho	
  em	
  sua	
  prisão	
  domés/ca.
  Combino o espírito prático, o desenganado e realista, a um sentimento meio utópico e furioso. Não sou
  bastante forte para me libertar, nem suficientemente dócil para me submeter.
CONTOS DE APRENDIZ
         temáticas desenvolvidas
           PREOCUPAÇÃO SOCIAL

        abordagem dos problemas sociais
opressão da sociedade capitalista sobre o indivíduo
               “Câmara e cadeia”
                   “Beira-rio”

          “Um escritor nasce e morre”
CÂMARA E CADEIA
                                                Carlos Drummond de Andrade
                                                        ELEMENTOS DA NARRATIVA

      narrador                                                                      terceira pessoa

  personagens                                      vereadores [destaque: Valdemar e João Batista] e preso

        tempo                                                       governo de Epitácio Pessoa [1919]

       espaço                                                                 cidadezinha do interior

      técnicas                            diálogos, ênfase no enredo [conto anedótico], discurso indireto livre

                                                                         O ENREDO

Os	
  vereadores	
  de	
  uma	
  cidadezinha	
  discutem	
  o	
  orçamento	
  para	
  o	
  ano	
  de	
  1920	
  e	
  a	
  criação	
  de	
  impostos	
  e	
  taxas.	
  

Aventa-­‐se,	
  então,	
  a	
  hipótese	
  de	
  criar	
  imposto	
  para	
  afinadores	
  de	
  piano,	
  barbeiros	
  e	
  mãos	
  d	
  engenho	
  fabricadas
 no	
  país.	
  Os	
  vereadores	
  Valdemar	
  [o	
  da	
  taxa	
  para	
  afinadores]	
  e	
  João	
  Ba/sta	
  [comerciante]	
  discutem	
  bastante.	
  
Enquanto	
  isso,	
  o	
  Major	
  Ponciano	
  ronca,	
  o	
  farmacêu/co	
  Meireles	
  faz	
  anotações	
  par/culares	
  num	
  caderninho	
  e	
  

   o	
  presidente	
  da	
  Câmara,	
  Coronel	
  Lindolfo,	
  está	
  com	
  cara	
  de	
  quem	
  sofre	
  dor	
  de	
  cabeça	
  crônica.	
  Apesar	
  de	
  a	
  
   maioria	
  discu/r	
  os	
  impostos,	
  entre	
  todos	
  aqueles	
  homens	
  só	
  um	
  fazia	
  o	
  trabalho	
  [Valdemar].	
  Como	
  o	
  calor	
  

   abafava	
  a	
  sala,	
  Valdemar	
  foi	
  até	
  a	
  janela,	
  ficou	
  olhando	
  as	
  redondezas.	
  Embaixo	
  da	
  câmara,	
  ficava	
  a	
  cadeia.	
  
CÂMARA E CADEIA
                                                 Carlos Drummond de Andrade
Valdemar	
  se	
  lembra	
  de	
  quando	
  era	
  menino	
  e	
  como	
  a	
  imagem	
  dos	
  presos	
  lhe	
  era	
  familiar.	
  Foi	
  em	
  meio	
  a	
  isso	
  q	
  

     ouviu	
  barulhos	
  que	
  o	
  fizeram	
  voltar	
  à	
  realidade.	
  Um	
  preso	
  havia	
  fugido	
  e	
  ido	
  para	
  a	
  câmara,	
  os	
  homens	
  

 	
  gritavam,	
  querendo	
  submetê-­‐lo	
  à	
  autoridade.	
  Chegam	
  a	
  lhe	
  dar	
  voz	
  de	
  prisão.	
  Valdemar	
  convence	
  o	
  homem	
  

 a	
  se	
  sentar.	
  O	
  preso	
  conta,	
  então,	
  que	
  abrira	
  a	
  fechadura	
  e	
  saíra.	
  Tinha	
  ido	
  até	
  a	
  câmara	
  para	
  ver	
  os	
  homens	
  

  que	
  pisavam	
  na	
  cabeça	
  deles.	
  Contou,	
  ainda,	
  do	
  calor	
  e	
  das	
  nojentas	
  refeições	
  da	
  prisão.	
  Valdemar	
  diz	
  que	
  

                            teria	
  de	
  o	
  prender,	
  mas	
  o	
  preso	
  se	
  levanta	
  diz	
  que	
  não	
  vão	
  detê-­‐lo	
  e	
  foge.	
  

                                                                 ANÁLISE E TEMÁTICAS

No	
  conto,	
  são	
  cri/cadas	
  não	
  só	
  as	
  desumanas	
  condições	
  das	
  prisões,	
  onde	
  impera	
  a	
  promiscuidade,	
  mas	
  ainda	
  
o	
  comportamento	
  dos	
  vereadores,	
  que	
  [salvo	
  raras	
  exceções]	
  não	
  cuidam	
  da	
  coisa	
  pública.	
  Merece	
  destaque	
  
    o	
  grande	
  volume	
  de	
  diálogos,	
  a	
  ênfase	
  no	
  enredo	
  e	
  o	
  uso	
  do	
  discurso	
  indireto	
  livre,	
  como	
  se	
  vê	
  a	
  seguir:	
  
 Mãos na fronte, olhos cerrados, tinha uma cara de dor, enjôo, tédio e resignação forçada. Como é duro
 presidir! Imaginem então o Epitácio, lá no Catete.
BEIRA-RIO
                                                Carlos Drummond de Andrade
                                                        ELEMENTOS DA NARRATIVA

       narrador                                                                    terceira pessoa

   personagens                       Simplício da Costa [Vosso Criado], companhia [trabalhadores e agentes]

         tempo                                                                          indefinido

        espaço                                                                cidadezinha do interior

       técnicas                     diálogos, coloquialismo [fala de Simplício], interlocução com o leitor [ironia]

                                                                        O ENREDO

  Numa	
  cidade	
  do	
  interior,	
  uma	
  poderosa	
  companhia	
  está	
  em	
  obras	
  para	
  a	
  instalação	
  d	
  uma	
  indústria.	
  Ao	
  lado	
  

do	
  rio,	
  cresce	
  a	
  cidade	
  Capitão	
  Borges,	
  explorada	
  pela	
  Companhia.	
  Tudo	
  pertencia	
  a	
  ela.	
  Lá	
  não	
  havia	
  botequim
 Era	
  proibido	
  beber,	
  dizia	
  a	
  empresa,	
  em	
  interesse	
  de	
  seus	
  servidores.	
  Apenas	
  os	
  técnicos	
  /nham	
  regalias,	
  como
  jogo	
  e	
  bebida.	
  Mesmo	
  assim,	
  há	
  um	
  comércio	
  subterrâneo	
  de	
  garrafas,	
  há	
  trabalhadores	
  q	
  aparecem	
  bêbados

no	
  serviço:	
  Bebe-­‐se	
  p/	
  esquecer,	
  para	
  lembrar,	
  para	
  fazer	
  de	
  conta,	
  para	
  cortar	
  doença,	
  para	
  aguentar	
  o	
  repuxo
p/	
  zombar	
  da	
  administração.	
  Um	
  dia,	
  o	
  apontador	
  e	
  o	
  balseiro	
  encontram	
  um	
  negro,	
  Simplício,	
  vindo	
  d	
  Pirapora

q	
  tenciona	
  montar	
  ali,	
  à	
  beira	
  do	
  rio,	
  desafiando	
  a	
  companhia,	
  a	
  sua	
  vendinha	
  de	
  cigarros,	
  pasteis	
  e	
  aguardente
BEIRA-RIO
                                               Carlos Drummond de Andrade
 – A companhia manda do lado de lá do rio. Do lado de cá manda Simplício da Costa, coma a autoridade
 do governo. Tirei licença do governo para negociar. A Companhia não se meta comigo, que eu racho ela,
 irmãozinho.
  Simplício	
  improvisa	
  ali	
  sua	
  venda.	
  O	
  comportamento	
  dos	
  trabalhadores	
  agora	
  é	
  outro,	
  dispostos	
  pelo	
  álcool,	
  

trabalham	
  cantando.	
  A	
  Companhia	
  toma	
  providências	
  p/	
  remover	
  o	
  negro	
  dali,	
  mas	
  ele	
  é	
  renitente.	
  Defende-­‐se
  c/	
  uma	
  pistola.	
  Os	
  enviados	
  da	
  Companhia	
  acabam	
  bebendo	
  também	
  e	
  contam	
  uma	
  história	
  atrapalhada.	
  O	
  

.	
  subdiretor	
  chama,	
  então,	
  o	
  destacamento	
  policial.	
  Fecham	
  a	
  venda	
  do	
  negro,	
  a/ram	
  garrafas	
  e	
  moedas	
  no	
  rio,
   ante	
  o	
  olhar	
  resignado	
  de	
  Simplício	
  q	
  ñ	
  pode	
  se	
  defender.	
  Os	
  apontadores	
  contemplam	
  a	
  venda	
  em	
  ruínas.	
  

                                                             ANÁLISE E TEMÁTICAS

   O	
  texto	
  apresenta	
  passagens	
  irônicas,	
  enfocando	
  o	
  sotaque	
  americano	
  do	
  subdiretor,	
  que	
  era	
  brasileiro,	
  e	
  
a	
  a/tude	
  dos	
  técnicos	
  da	
  alta	
  administração,	
  que	
  quanto	
  mais	
  bebem	
  e	
  jogam	
  –	
  é	
  admirável	
  –	
  mais	
  trabalham.	
  
  É	
  gritante	
  a	
  diferença	
  entre	
  os	
  operários	
  macilentos	
  e	
  curvados	
  e	
  os	
  americanos	
  nutridos	
  que	
  dirigem	
  a	
  Cia.,	
  
q	
  representa	
  no	
  conto,	
  o	
  império	
  capitalista,	
  uma	
  vez	
  q	
  tudo	
  ali	
  lhe	
  pertencia.	
  Simplício	
  representa	
  a	
  dignidade
do	
  homem	
  que	
  lutava	
  contra	
  a	
  opressão;	
  a	
  bebida,	
  a	
  possibilidade	
  de	
  evasão,	
  o	
  poder	
  de	
  imaginar	
  coisas	
  boas.	
  
UM ESCRITOR NASCE E MORRE
                                                  Carlos Drummond de Andrade
                                                          ELEMENTOS DA NARRATIVA

      narrador                                                                         primeira pessoa

   personagens                                                                        Juquita [escritor]

        tempo                                                                               indefinido

        espaço                                                                   cidadezinha do interior

       técnicas                                                      autobiografia fictícia [metalinguagem]

                                                                           O ENREDO

Estruturado	
  em	
  4	
  pequenos	
  capítulos	
  e	
  narrado	
  na	
  primeira	
  pessoa	
  pelo	
  protagonista	
  Juquita,	
  trata-­‐se	
  de	
  uma	
  

    autobiografia	
  ficucia	
  em	
  q	
  se	
  percebem	
  pontos	
  em	
  comum	
  entre	
  o	
  autor	
  e	
  seu	
  personagem	
  de	
  Turmalina.	
  
   Aliás,	
  a	
  cidade	
  ficucia	
  contém	
  elementos	
  de	
  Itabira,	
  como	
  o	
  Pico	
  do	
  amor	
  ou	
  a	
  fonte	
  das	
  Sempre-­‐vivas.	
  Essa	
  
  história	
  abrange	
  a	
  vida	
  literária	
  d	
  um	
  escritor	
  que	
  nasceu	
  no	
  3º.	
  ano	
  escolar,	
  qdo	
  imaginou	
  a	
  história	
  de	
  uma	
  

  viagem	
  fantás/ca	
  de	
  Turmalinas	
  até	
  o	
  Polo	
  Norte.	
  Elogiado	
  pela	
  professora,	
  o	
  menino	
  passa	
  a	
  escrever	
  mais,	
  
torna-­‐se	
  o	
  talento	
  da	
  pequena	
  cidade.	
  No	
  colégio	
  interno,	
  escreve	
  e	
  p/	
  o	
  jornal	
  e	
  colabora	
  em	
  revistas	
  literárias

Mais	
  tarde,	
  publica	
  vários	
  livros,	
  sempre	
  elogiado.	
  Sua	
  literatura,	
  porém,	
  queria-­‐se	
  pura,	
  comprome/da	
  apenas
UM ESCRITOR NASCE E MORRE
                                                  Carlos Drummond de Andrade
  com	
  a	
  Beleza	
  e	
  não	
  com	
  a	
  vida	
  social.	
  Por	
  isso,	
  quando	
  um	
  amigo	
  seu	
  colabora	
  no	
  jornal	
  Grito	
  operário,	
  sofre,	
  

 por	
  sua	
  parte,	
  descrédito.	
  Toda	
  sua	
  geração	
  vai	
  vencendo	
  na	
  vida,	
  galgando	
  altos	
  cargos	
  no	
  governo,	
  formando
grupos,	
  clubes;	
  porém,	
  era	
  sempre	
  solitário,	
  na	
  escuridão	
  d	
  si	
  mesmo,	
  foi	
  definhando	
  até	
  morrer	
  como	
  escritor:
   Risquei um fósforo, já sob a escuridão absoluta, e na lâmpada que minhas mãos em concha formavam,
   percebi que tinha feito 30 anos. Então morri. Dou minha palavra de honra que morri, estou morto, bem
   morto.

                                                                 ANÁLISE E TEMÁTICAS

 O	
  conto	
  tem	
  por	
  núcleo	
  a	
  reflexão	
  s/	
  o	
  papel	
  do	
  escritor,	
  sua	
  posição	
  como	
  ser	
  social	
  considerada	
  +	
  importante
q	
  sua	
  posição	
  como	
  literato;	
  a	
  literatura	
  q	
  deve	
  ser	
  dirigida	
  p/	
  uma	
  realidade	
  social	
  e	
  não	
  se	
  perder	
  na	
  escuridão
 nebulosa	
  do	
  eu.	
  Daí	
  advém	
  a	
  morte	
  do	
  escritor;	
  na	
  ânsia	
  de	
  trabalhar	
  somente	
  com	
  o	
  espírito,	
  vai	
  cavando	
  sua	
  
sepultura	
  ficando	
  distante	
  do	
  sol.	
  A	
  relação	
  entre	
  a	
  terra	
  de	
  minérios	
  e	
  o	
  indivíduo	
  tb	
  está	
  presente	
  na	
  narra/va
   Meus requintes espasmódicos eram pouco estranhos a uma terra em que a hematita calçava as ruas,
   dando às almas uma rigidez triste. Entretanto meu nome em letra de forma comovia a pequena cidade,
   dava-lhe esperança de que o meu talento viesse a resgatar o melancólico abandono em que, anos a fio, ela
   se arrastava, com o progresso a 50 quilômetros de distância e cabritos pastando na rua.
CONTOS DE APRENDIZ
         temáticas desenvolvidas
   O FANTÁSTICO [macabro, estranho]

     situações patéticas, misteriosas, absurdas
o insólito no comportamento e no cotidiano do homem
              “Flor, telefone, moça”
                  “A baronesa”

                   “O gerente”
               “Miguel e seu furto”
FLOR, TELEFONE, MOÇA
                                                     Carlos Drummond de Andrade
                                                             ELEMENTOS DA NARRATIVA

       narrador                                       terceira pessoa [conta a história que ouviu de uma amiga]

   personagens                                                    moça, voz que telefona para a moça, família

         tempo                                                                                   indefinido

         espaço                                                                              Rio de Janeiro

       técnicas                   resgate da narrativa oral; identificação do narrador com o autor [metalinguagem]

                                                                               O ENREDO

A	
  protagonista	
  mora	
  no	
  RJ,	
  nas	
  proximidades	
  do	
  cemitério	
  S.	
  João	
  Ba/sta.	
  Sua	
  única	
  distração	
  era	
  passear	
  entre

 os	
  túmulos,	
  lendo	
  as	
  inscrições,	
  observando	
  os	
  anjos	
  de	
  mármore.	
  Caminhando	
  um	
  dia	
  pela	
  parte	
  do	
  cemitério
  onde	
  havia	
  as	
  covas	
  das	
  pessoas	
  pobres,	
  apanha	
  uma	
  flor	
  de	
  uma	
  sepultura	
  e	
  depois	
  a	
  joga	
  fora.	
  Chegando	
  a	
  
casa,	
  o	
  telefone	
  toca	
  e	
  uma	
  voz	
  pede	
  a	
  flor	
  q	
  a	
  moça	
  /rara	
  da	
  sepultura.	
  A	
  moça	
  pensa	
  q	
  é	
  trote,	
  mas	
  o	
  telefone

 con/nua	
  a	
  chamar,	
  a	
  mesma	
  voz	
  fria	
  e	
  longínqua	
  suplica	
  pela	
  florzinha.	
  Semrpe	
  a	
  mesma	
  coisa,	
  em	
  linguagem	
  
 coloquial:	
  Quede	
  a	
  flor	
  que	
  vc	
  4rou	
  da	
  sepultura?	
  A	
  irritação	
  da	
  moça	
  passa	
  a	
  ser	
  preocupação	
  e	
  medo.	
  Os	
  pais

  fazem	
  tudo	
  p/	
  descobrir:	
  vigiam	
  telefones	
  públicos,	
  telefonam	
  p/	
  casas	
  das	
  redondezas	
  conferindo	
  a	
  voz,	
  vão	
  
FLOR, TELEFONE, MOÇA
                                                   Carlos Drummond de Andrade
à	
  companhia	
  telefônica,	
  nada	
  conseguem.	
  Inclusive	
  a	
  polícia	
  é	
  impotente;	
  ironicamente,	
  comenta	
  a	
  narradora	
  q

 a	
  polícia	
  estava	
  muito	
  ocupada	
  em	
  prender	
  comunista,	
  o	
  que	
  remete	
  para	
  o	
  contexto	
  histórico	
  dos	
  anos	
  1930,	
  
   época	
  do	
  Estado	
  Novo.	
  Aliás,	
  numa	
  das	
  falas,	
  da	
  moça	
  à	
  voz	
  misteriosa,	
  ela	
  usa	
  a	
  seguinte	
  gíria:	
  Olhe,	
  vire	
  a	
  
          chapa.	
  Já	
  está	
  pau.	
  [mude	
  de	
  assunto;	
  isso	
  já	
  está	
  chato].	
  A	
  mãe	
  compra	
  flores,	
  coloca	
  em	
  todas	
  as	
  
        sepulturas	
  da	
  parte	
  nova	
  do	
  cemitério,	
  mas	
  a	
  voz	
  não	
  silenciava,	
  fazia	
  questão	
  daquela	
  flor.	
  Apelou-­‐se	
  
espiri/smo,	
  mas	
  de	
  nada	
  adiantou.	
  Ao	
  fim	
  de	
  alguns	
  meses,	
  exausta,	
  a	
  moça	
  morre.	
  E	
  a	
  voz	
  não	
  incomoda	
  mais

                                                                   ANÁLISE E TEMÁTICAS

  O	
  utulo	
  é	
  sinté/co,	
  recolhi/vo,	
  contendo	
  3	
  nomes	
  que	
  são	
  os	
  elementos	
  estruturais	
  do	
  conto.	
  Há	
  2	
  diálogos	
  
  interessantes	
  q	
  atravessam	
  o	
  texto:	
  o	
  do	
  narrador	
  com	
  a	
  amiga	
  e	
  o	
  da	
  moça	
  com	
  a	
  voz.	
  Ao	
  se	
  referir	
  à	
  amiga,	
  
  o	
  narrador	
  faz	
  essa	
  digressão:	
  Naquele	
  dia	
  escutei,	
  certamente	
  porque	
  era	
  a	
  amiga	
  que	
  falava,	
  e	
  é	
  doce	
  ouvir	
  
   os	
  amigos,	
  ainda	
  quando	
  não	
  falem,	
  porque	
  amigo	
  tem	
  o	
  dom	
  de	
  se	
  fazer	
  compreender	
  até	
  sem	
  sinais.	
  Até	
  

	
  sem	
  olhos.	
  Essa	
  narra/va	
  segue	
  a	
  linha	
  das	
  narra/vas	
  populares	
  de	
  assombração,	
  criando	
  um	
  clima	
  de	
  mistério
e	
  suspense	
  culminando	
  com	
  a	
  vitória	
  do	
  sobrenatural.	
  Não	
  há	
  explicação	
  lógica	
  para	
  o	
  q	
  acontece,	
  o	
  importante

       é	
  o	
  envolvimento	
  q	
  a	
  narra/va	
  oral	
  obtém,	
  em	
  q	
  o	
  medo	
  a/nge	
  a	
  personagem	
  e	
  o	
  receptor	
  da	
  história.	
  
A BARONESA
                                                  Carlos Drummond de Andrade
                                                           ELEMENTOS DA NARRATIVA

      narrador                                                                          terceira pessoa

  personagens                      sobrinho da baronesa, baronesa [Ana Moutinho], Renato [sobrinho neto], Luís

        tempo                                                             primeiras décadas do século XX

        espaço                                                                           Rio de Janeiro

      técnicas                                                humor negro, crítica social, jogos de oposição

                                                                            O ENREDO

  O	
  sobrinho	
  da	
  baronesa	
  D.	
  Ana	
  Clemen/na	
  de	
  Soromenho	
  Pinheiro	
  Lobo	
  Figueiredo	
  Mou/nho	
  descobre	
  q	
  a	
  

 /a	
  morrera	
  e	
  se	
  põe	
  a	
  avisar	
  os	
  parentes.	
  Sua	
  principal	
  preocupação	
  é	
  avisar	
  Renato,	
  sobrinho	
  neto	
  da	
  morta.	
  
De	
  início,	
  há	
  um	
  suspense,	
  pq	
  se	
  imagina	
  q	
  o	
  jovem	
  seja	
  muito	
  ligado	
  à	
  morta.	
  Vê-­‐se,	
  entretanto,	
  q	
  a	
  pressa	
  em
   chegar	
  ao	
  velório	
  tem	
  outra	
  mo/vação.	
  Em	
  fins	
  do	
  século	
  XIX,	
  Ana	
  Mou/nho	
  fora	
  uma	
  das	
  mais	
  celebradas	
  

damas	
  do	
  II	
  Império.	
  Sua	
  beleza	
  era,	
  então,	
  adornada	
  por	
  riquíssimas	
  joias.	
  Após	
  serem	
  comunicados	
  da	
  morte,
os	
  parentes	
  chegam	
  aos	
  montes	
  para	
  roubar	
  as	
  joias.	
  O	
  senador	
  se	
  desespera	
  com	
  o	
  atraso	
  de	
  seu	
  filho	
  Renato:

     não	
  pegaria	
  nada.	
  Imagina,	
  então,	
  que	
  o	
  jovem	
  estaria	
  dormindo	
  na	
  casa	
  de	
  Deia,	
  a	
  mais	
  duradoura	
  das	
  
A BARONESA
                                                Carlos Drummond de Andrade
amantes.	
  Enfim,	
  Renato	
  chega	
  e	
  vai	
  p/	
  o	
  quarto	
  da	
  baronesa.	
  Passa	
  as	
  mãos	
  com	
  jeito,	
  discretamente,	
  no	
  rosto

          da	
  morta	
  e	
  ainda	
  consegue	
  arrancar	
  de	
  suas	
  orelhas	
  um	
  par	
  de	
  brincos	
  que	
  divide,	
  honesto,	
  com	
  
           Luís.	
  Vai	
  ao	
  banheiro,	
  passa	
  a	
  loção	
  de	
  cabelo	
  do	
  pai,	
  telefona	
  pra	
  uma	
  de	
  suas	
  amantes	
  e	
  volta	
  
p/	
  a	
  diversão.	
  Ao	
  final	
  da	
  narra/va,	
  entre	
  lacônico	
  e	
  cínico,	
  o	
  narrador	
  avisa:	
  Assim	
  acabou	
  o	
  Segundo	
  Reinado.

                                                               ANÁLISE E TEMÁTICAS

                             Jogos	
  de	
  opostos:	
  linguagem	
  formal	
  do	
  Senador	
  x	
  gírias	
  usados	
  por	
  Luís;	
  
        Jogos	
  de	
  opostos:	
  objetos	
  an/quados	
  do	
  quarto	
  da	
  baronesa	
  x	
  apartamento	
  de	
  móveis	
  modernos;	
  
  Humor	
  negro:	
  a	
  morte	
  é	
  tratada	
  de	
  forma	
  saurica	
  e	
  irônica,	
  na	
  medida	
  em	
  que	
  opõe	
  a	
  nobreza	
  e	
  a	
  avareza;	
  
                          Temá*cas:	
  desagregação	
  da	
  família,	
  da	
  memória	
  e	
  dos	
  valores	
  tradicionais.	
  
O GERENTE
                                                  Carlos Drummond de Andrade
                                                          ELEMENTOS DA NARRATIVA

       narrador                        terceira pessoa [conta a história a partir do que leu no diário de Samuel]

   personagens                                           Samuel, presidente do banco, senhoras, delegado

         tempo                                                           primeiras décadas do século XX

        espaço                                                                          Rio de Janeiro

       técnicas                                        fantástico, alegoria, metalinguagem, intertextualidade

                                                                           O ENREDO

   Samuel	
  nasceu	
  no	
  Se;	
  /nha	
  modos	
  educados;	
  apesar	
  de	
  namorar	
  muitas	
  senhoras,	
  decidiu-­‐se	
  pelo	
  celibato.	
  

   Frequentou	
  a	
  alta	
  sociedade,	
  era	
  amável,	
  bem	
  relacionado.	
  Certo	
  dia,	
  após	
  beijar	
  a	
  mão	
  de	
  uma	
  sra.,	
  o	
  dedo	
  
dela	
  começou	
  a	
  sangrar	
  [Mme.	
  Souza]:	
  Teria	
  sido	
  espetada	
  por	
  um	
  alfinete?	
  Qdo	
  beija	
  a	
  mão	
  d	
  D.Guiomar,	
  pass
 um	
  rapaz	
  de	
  roupa	
  xadrez	
  c/	
  um	
  papel	
  na	
  mão,	
  s/	
  chapéu,	
  em	
  velocidade	
  de	
  navalha.	
  O	
  dedo	
  da	
  sra.	
  é	
  cortado.

 Num	
  baile,	
  Samuel	
  beija	
  a	
  mão	
  da	
  sra.	
  Figueiroa.	
  Um	
  garçom	
  chegava	
  c/	
  uma	
  bandeja.	
  Súbito,	
  o	
  ves/do	
  da	
  sra.
  fica	
  vermelho	
  e	
  ela,	
  s/	
  uma	
  falangeta.	
  Segundo	
  os	
  médicos,	
  a	
  sra.	
  foi	
  ví/ma	
  de	
  uma	
  dentada	
  humana.	
  O	
  caso	
  

para	
  na	
  polícia.	
  Interrogam	
  o	
  garçom	
  e	
  Samuel.	
  O	
  caso	
  foi	
  abafado	
  pela	
  ausência	
  de	
  provas.	
  As	
  mulheres,	
  então
O GERENTE
                                                  Carlos Drummond de Andrade
evitam	
  Samuel.	
  Noutra	
  festa,	
  beija	
  a	
  mão	
  de	
  D.Deolinda	
  Gualberto.	
  No	
  mesmo	
  instante,	
  passa	
  um	
  propagandist

 q	
  anuncia	
  um	
  aparelho	
  de	
  barba.	
  A	
  sra.	
  geme	
  d	
  dor.	
  O	
  dedo	
  está	
  cortado.	
  No	
  dia	
  seguinte,	
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  jornais	
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   mais	
  uma	
  ví/ma	
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  vampiro	
  dos	
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  Samuel	
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  indiciado.	
  Nada	
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  p/	
  São	
  Paulo.	
  8	
  anos	
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  D.Deolinda,	
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    Durante	
  o	
  encontro,	
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  braço	
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  mordida.	
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  declaração	
  de	
  
 amor.	
  O	
  gerente	
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  Leva-­‐a	
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 O	
  contato	
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  Regressa	
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  SP,	
  de	
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  [ambiguidade].

                                                                  ANÁLISE E TEMÁTICAS

              Metalinguagem:	
  O	
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  A	
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MIGUEL E SEU FURTO
                                              Carlos Drummond de Andrade
                                                       ELEMENTOS DA NARRATIVA

 narrador                                                                           terceira pessoa

personagens                                        Miguel, seus parentes, garoto que toma banho de mar

   tempo                                                                                  indefinido

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  técnicas                                                                       fantástico, alegoria

                                                                        O ENREDO

     Miguel	
  era	
  um	
  homem	
  simpá/co,	
  embora	
  nunca	
  tenha	
  tomado	
  uma	
  posição	
  na	
  vida;	
  finda	
  a	
  fonte	
  

de	
  seu	
  sustento,	
  passou	
  a	
  dormir	
  em	
  jornais.	
  Foi	
  num	
  deles	
  que	
  certo	
  dia	
  captou	
  a	
  ideia	
  de	
  roubar	
  o	
  mar.	
  
      Mesmo	
  o	
  mar	
  ficando	
  no	
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  regras	
  foram	
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  como	
  o	
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  a	
  
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  e	
  a	
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  dos	
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  Tornou-­‐se	
  tão	
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  queimar	
  

    parte	
  de	
  sua	
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  por	
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  onde	
  guardá-­‐la.	
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  Miguel	
  depositou	
  
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  e	
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MIGUEL E SEU FURTO
                                            Carlos Drummond de Andrade
                                                          ANÁLISE E TEMÁTICAS

          Intertextualidade	
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  alegoria	
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  social	
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Terceira aplicação do ENEM-2017: Artes
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Análise da Prova de Redação da UERJ-2010
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Contos de aprendiz de Drummond abordam a infância

  • 1. Contos de aprendiz, Carlos Drummond de Andrade Manoel Neves
  • 2. CONTOS DE APRENDIZ segunda geração do modernismo quinze  narra*vas   1951 contos  *rados  do  co*diano  e  da  imaginação   A LINGUAGEM simplicidade despojamento tradição da oralidade A EPÍGRAFE infância locutor ouve histórias particularidade q encanta O TÍTULO modéstia simplicidade aprendizagem A SEGUNDA GERAÇÃO psicologismo memória afetiva problemas sociais
  • 3. CONTOS DE APRENDIZ temáticas desenvolvidas A INFÂNCIA reminiscências comportamento infantil oposição/complementaridade criança x mundo, criança x criança, criança x adulto “Salvação da alma” “O sorvete” “A doida” “Nossa amiga” “Conversa de velho com criança”
  • 4. SALVAÇÃO DA ALMA Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador o locutor de terceira pessoa passa a narrativa para Augusto [de 3ª. para 1ª.] personagens Augusto, Tito, Miguel, Edison e Ester tempo o enunciado localiza-se trinta anos antes da enunciação espaço cidadezinha do interior [Minas Gerais] técnicas diálogos, coloquialismo, memória afetiva O ENREDO Trata  das  reminiscências  infan/s:  brigas  e  brincadeiras  com  os  irmãos.  A  mineiridade  destaca-­‐se  na  narra/va   símbolo  de  ordem  e  de  moderação,  terra  de  bois  pacíficos  e  de  polí4cos  suaves  e  bem  comportados,  mas  traz   força  acumulada,  energia  q  sobrou  do  tempo  da  luta  com  os  emboabas.  Augusto,  o  caçula,  vivia  acompanhado dos  irmãos.  Um  dia,  ficam  sabendo  da  chegada  das    missões.  Os  missionários  alertavam  a  população  da  pquena cidade  dos  horrores  do  inferno.  Tito  era  o  único  que  prestava  atenção;  os  garotos  vão  confessar;  após  isso,   Tito  convida  Augusto  para  1  vol/nha,  o  efeito  da  confissão  é  visível  nos  dois,  principalmente  em  Tito,  q  promete mudar  de  vida  e  não  mais  surrar  seu  irmão.  Pede  que  Augusto  o  humilhe,  pq  quer  expiar  seu  pecados.  Augusto,
  • 5. SALVAÇÃO DA ALMA Carlos Drummond de Andrade então,  pede  para  ser  carregado  nas  costas  até  sua  casa.  E  não  fica  só  nisso:  pede,  ainda,  que  o  irmão,  a  cada   50  passos  pare  e  grite  Sou  burro  e  quero  capim.  Tito  carrega  seu  irmão,  que  ia  /rando  desforra  de  tantas  surras E  para  fazer  com  que  o  burro  caminhasse  mais  rápido,  Augusto  dá,  com  os  calcanhares,  um  golpe  duplo  nas   virilhas.  Tito,  uivando  de  dor,  rola  pelo  chão,  e  passam  a  brigar.  No  dia  seguinte,  eles  não  podem  comungar.   ANÁLISE E TEMÁTICAS O  episódio  q  deu  origem  à  narra/va  aconteceu  qdo  Augusto  /nha  09  anos  –  trinta  anos  antes  da  enunciação.   A    temá/ca  do  conto  é  o  comportamento  infan/l,  que  aparece  analisado  em  trechos  como  o  citado  a  seguir:   Mas a confissão infiltrara em nós seu óleo espesso e triste, e um desejo de nos pacificarmos, de atingirmos a bondade e a compreensão, nos tornava indiferentes à matéria cotidiana. O  orgulho  do  clã  e  o  tema  da  família  é  outro  tema  desenvolvido  magistralmente  no  conto,  como  se  vê  em:   O orgulho dos Novais repontava nessa recriminação, porque um Novais não podia apanhar, e se não fosse ele, Tito, eu, Augusto Novais Jr., apanharia em público, para gozo dos Teixeiras, dos Andrada, dos Guimarães, de outros clãs rivais.
  • 6. O SORVETE Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador não nomeado, conta um evento de sua infância personagens narrador [11] e Joel [13] tempo 1916 espaço A Belo Horizonte do início do século XX técnicas memória afetiva, diálogos, análise psicológica O ENREDO A  narra/va  centra-­‐se  num  evento  ocorrido  numa  tarde  de  domingo  do  ano  de  1916  na  cidade  de  BH.  O  locutor e  seu  amigo  Joel  estudavam  em  um  colégio  interno  e,  aos  domingos,  /nham  licença  para  andar  pela  cidade.     Dedicavam  o  tempo  a  ma/nês,  passeios,  gulodices;  o  dinheiro  era  limitado.  Às  vezes,  iam  à  casa  de  parentes.   Certo  domingo,  quando  estavam  indo  a  uma  ma/nê,  vêem  um  quadro  negro  em  uma  confeitaria,   anunciando:  Delicioso  sorvete  de  abacaxi.  Nunca  /nham  visto  aquilo  e  queriam,  ambos,   experimentar.  Deixam  o  cinema  e  entram  na  confeitaria,  mas  o  gosto  do  sorvete  decepciona  os  garotos:  
  • 7. O SORVETE Carlos Drummond de Andrade O sorvete era detestável, de um frio doloroso, do qual se excluía toda lembrança de abacaxi, para só ficar a ideia de uma coisa ao mesmo tempo pétrea e frágil, agressiva aos dentes, e, mais para além deles, a uma região íntima do ser em que está o núcleo da personalidade. Para  intensificar  o  sofrimento  dos  rapazes,  ao  final  de  tudo,  o  dinheiro  dos  dois  é  insuficiente  para  a  conta.   ANÁLISE E TEMÁTICAS O  cenário  desta  vez  é  a  cidade  grande.  Analisa-­‐se  o  comportamento  infan/l  e  sua  psicologia:   Arrependimento da proibição imposta a mim mesmo e a um amigo, insatisfação, espírito de aventura, volubilidade da alma humana, ou qualquer outro móvel não esclarecido, o certo é que Joel, cutucando- me o braço, murmurou: – Vamos lá, vamos? As  reminiscências  –  lembranças  de  eventos  mínimos,  mas  significa/vos  para  o  locutor,  dão  a  tônica  do  conto:   Sim, nenhuma das operações de que se compunha o programa parecia por si mesma extraordinária, mas á medida que se iam consumando, ficavam registrados em nós como outros tantos episódios memoráveis, cujo esplendor atravessaria as horas mornas, projetando-se para além da mediocridade de nossos destinos. Os  valores  familiares  ajudam  a  compor  um  panorama  psicológico  da  elite  agrária  mineira  do  século  XX:   Era um pensamento, uma noção dos Mendonça, formada na educação burguesa de várias gerações, que ele ministrava a um membro de outra família não menos rica de princípios respeitáveis, os Caldeira Lemos.
  • 8. A DOIDA Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador terceira pessoa personagens grupo de crianças, a doida tempo indefinido [início do século XX?] espaço cidadezinha do interior de MG técnicas coloquialismo, memória afetiva O ENREDO Em  uma  pequena  cidade,  morava  a  doida  a  q  todas  as  crianças  insultavam.  Várias  versões  circulavam  acerca  do q  teria  levado  a  mulher  à  loucura,  uma  delas  fala  do  repúdio  do  noivo  no  dia  do  casamento,  e  a  sua  tenta/va  de envenenar  o  próprio  pai.  As  crianças  /nham  uma  certeza  –  a  doida  carregava  uma  culpa  grave.  Três  meninos   passam  pela  casa,  a/ram  pedras,  mas  ñ  escutam  as  reações  de  praxe.  Intrigado  com  o  silêncio,  um  deles  entra   na  casa,  e  vê  a  doida  deitada  numa  cama.  Perde  a  vontade  de  maltratá-­‐la,  reconhece  que  ela  está  doente  e   estaria  prestes  a  morrer.  Compadecido,  ajuda-­‐a  a  beber  água:  
  • 9. A DOIDA Carlos Drummond de Andrade Fazia tudo natauralmente, e nem se lembrava mais porque entrara ali; nem conservava qualquer espécie de aversão pela doida. A própria ideia de doida desaparecera. Havia ali somente uma velha com sede e que talvez estivesse morrendo. .  E  o  menino  fica  ao  lado  da  velha,  procurando  ajudá-­‐la:  Pegar-­‐lhe  nas  mãos  e  esperar  o  que  ia  acontecer.   ANÁLISE E TEMÁTICAS A  narra/va  trata  do  comportamento  infan/l  face  a  loucura  [agressão],  aliás,  reflexo  do  comportamento  da    sociedade  que  se  disfarça  em  indiferença,  restrição:  tomar  bênção  da  doida,  morar  com  a  doida,  aliás,  são   expressões  criadas  pelo  povo  para  amedrontar  as  crianças.   O  comportamento  infan/l  em  face  da  morte  [solidariedade],  funciona  como  sinal  da  possível   iden/ficação  de  todos  os  homens,  crianças  ou  adultos,  loucos  ou  não,  diante  de  uma  mesma  fatalidade.  
  • 10. NOSSA AMIGA Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador terceira pessoa personagens Luci Machado da Silva, sua mãe, Catarina e Pepino tempo indefinido [início do século XX?] espaço Rio de Janeiro técnicas intertextualidade bíblica, memória afetiva, enredo mínimo [assemelha-se à crônica] O ENREDO Luci  Machado  da  Silva  tem  3  anos.  Não  tem  tamanho  sequer  para  tocar  a  campainha  da  casa  do  vizinho  q  está   sempre  a  visitar.  De  dentro  da  casa,  a  voz  pergunta:  Quem  está  ai?  É  de  paz  ou  de  guerra?  De  fora  respondem. A  garo/nha  então  fala,  com  autoridade:  É  Luci  Machado  da  Silva.  Abre  que  eu  quero  entrar.  De  acordo   c/  o  narrador,  ela  é  dona  das  duas  casas.  Gosta  mais  da  casa  onde  ganha  doces.  Catarina  é  uma  bonequinha   que  fica  pregada  na  parede  pq,  segundo  o  narrador,  fora  uma  menininha  que  brincou  com  um  cachorro  de  vidro s/  autorização  da  mãe.  Pepino  era  o  bêbado  da  vizinhanza.  Luci  gosta  de  festas  e  de  brincar  c/  objetos  variados, que  sua  imaginação  transforma  em  criança  no  colo  da  mãe,  cujas  frases  usava  nas  conversas  com  adultos.  
  • 11. NOSSA AMIGA Carlos Drummond de Andrade ANÁLISE E TEMÁTICAS Não  há  propriamente  enredo  neste  conto.  O  que  há  são  fragmentos  de  fatos  banais,  corriqueiros,  de  uma   densidade  lírica  ou  filosófica  incomum,  q  levam  o  leitor  a  refle/r  sobre  a  infância,  a  amizade,  a  beleza  ou  a   passagem  do  tempo.  Trata-­‐se  de  uma  composição  de  matriz  poé4ca,  que  contorna  o  lirismo  do  mundo  infan/l. Ao  final  do  conto,  há  uma  intertextualidade  bíblica,  que  coloca  o  conto  no  sen/do  da  compaixão  humana:   Perguntas e respostas, recolhidas em conversas de adulto, saem da mesma boca inexperiente. O objeto que serve de filho embalado com seriedade. A doença existe, existem os sustos maternais. Mas tudo se desfaz, se acaso um intruso vem surpreender a criação, tirada em partes iguais da vida e do sonho, e que os prolonga. Assim pudesse a mãe antiga tornar invisível seu filho ante os soldados de Herodes.
  • 12. CONVERSA DE VELHO COM CRIANÇA Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador primeira pessoa: narrador testemunha que se autodenomina Carlos personagens narrador, Maria de Lurdes Guimarães Almeida Xavier, Ferreira [ironia] tempo indefinido [início do século XX?] espaço Rio de Janeiro técnicas lirismo, caráter existencial/filosófico, enredo mínimo, semelhança com a crônica O ENREDO Bonde  cheio,  o  locutor  que  se  autodenomina  Carlos  acompanha  a  conversa  entre  o  velho  Ferreira  e  a  garo/nha Maria  de  Lurdes  Guimarães  Almeida  Xavier,  de  5  anos.  O  velho  carregava  um  guarda-­‐chuva  e  alguns  embrulhos Em  pé,  segurava  no  estribo  do  bonde,  arriscando-­‐se  até  a  cair  na  rua.  A  menina  segurava  um  pacote  de  balas.   Ela  pede  uma  bala  ao  Ferreira.  Ele  /ra  a  mão  do  estribo  e  oferece  o  doce.  Na  hora  d  pagar  a  passagem,  a  moeda cai  de  sua  mão  e  se  perde  nos  trilhos.  O  amável  cobrador  procura,  e  não  encontra  a  moedinha.  Não  aceita  outra em  pagamento:  O  senhor  não  paga  nada.  O  narrador  admira-­‐se  com  o  tratamento  espontâneo  entre  os  dois  e   ques/ona  se  eram  parentes  ou  apenas  amigos.  Prefere  acreditar  q  são  amigos,  indiferentes  à  diferença  de  idade
  • 13. CONVERSA DE VELHO COM CRIANÇA Carlos Drummond de Andrade E imaginei Ferreira vizinho de Maria de Lurdes, afeiçoando-se à pequena, subornando-lhe o coração à custa de carinhos diários, roubando-a, enfim, para si. Amiga Maria de Lurdes, amigo Ferreira; os cinquenta e cinco anos de diferença faziam o entendimento mais perfeito, já que as pessoas da mesma idade dificilmente se entendem. O  narrador  tenta  estabelecer  diálogo  c/  a  menina  e  não  consegue,  daí  a  reflexão  de  caráter  poé/co  e  metamsico ao  final  da  história:  Quando  encontrarás,  Carlos,  a  chave  de  outra  criatura?  A  menina  murmura  alguma  coisa   no  ouvido  do  velho  e  os  dois  descem  do  bonde  e  o  locutor  reflete,  lembrando-­‐se  do  pai:  Meu  pai  dizia   que  os  amigos  são  para  as  ocasiões.   ANÁLISE E TEMÁTICAS Texto  altamente  lírico,  que  apresenta  um  enredo  mínimo,  através  do  qual  se  faz  uma  reflexão  metamsica.   Os  elementos  mencionados  acima  aproximam  o  conto  em  análise  do  gênero  literário  crônica.  
  • 14. CONTOS DE APRENDIZ temáticas desenvolvidas RETRATOS E IMPRESSÕES enfoque em certos estados de ânimo fixação de das impressões do locutor/personagem sondagem do mundo do protagonista sensibilidade do locutor “O presépio” “Extraordinária conversa com uma senhora...” “Meu companheiro”
  • 15. PRESÉPIO Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador terceira pessoa personagens Dasdores [e Abelardo] tempo 24 de dezembro [referência à Missa do Galo] espaço cidadezinha do interior técnicas intertextualidade, ironia, intrusão do narrador O ENREDO Noite  de  Natal,  Dasdores  está  dividida  entre  a  construção  do  Presépio  e  a  ida  à  Missa  do  Galo.  Se  fosse  à  Igreja, o  Presépio  não  ficaria  pronto.  Se  terminasse  o  Presépio,  não  conseguiria  ver  seu  namorado  durante  a  Missa.  O   caráter  irônico  do  texto  ocorre  na  relação  sagrado/profano,  pois  Dasdores  é  dividida  entre  seus  dois  deuses.   Temos,  pois,  um  tema  barroco  tratado  modernamente.  Dasdores  é  quem  faz  tudo  em  casa,  mas  acha  tempo   para  pensar  no  namorado.  O  tempo  é  curto,  personificado  pelo  narrador,  que,  por  três  vezes,  entre  parênteses anuncia  agarra-­‐me.  As  amigas  aparecem  p/  interrompê-­‐la.  Dasdores  vê  o  namorado  em  cada  peça  do  presépio:
  • 16. PRESÉPIO Carlos Drummond de Andrade Ou um sentimento de culpa, ao misturar o sagrado ao profano, dando talvez preferência a este último, pois no fundo da caminha de palha suas mãos acariciavam o menino, mas o que a pele queria sentir – sentia, Deus me perdoe, era um calor humano, já sabeis de quem. Note-­‐se  a  semelhança  da  a/tude  da  protagonista  c/  a  de  Nogueira,  do  conto  “Missa  do  galo”.  Os  dois,  ao  invés de  se  focarem  no  elemento  sagrado,  imbricam  seus  desejos  aos  pensamentos  [que  deveriam  ser]  sagrados.   ANÁLISE E TEMÁTICAS Destaquem-­‐se  a  ironia,  a  intertextualidade  e  o  ques/onamento  do  papel  da  mulher  na  sociedade  patriarcal:   Os pais exigem-lhe o máximo, não porque a casa seja pobre, mas o primeiro mandamento da educação feminina é: trabalharás dia e noite. Se não trabalhar sempre, se não ocupar todos os minutos, quem sabe de que será capaz a mulher. Observe  que  o  narrador  finge  ironicamente  adotar  a  postura  machista,  para  discu/r  a  mentalidade  do  mundo    em  que  vive.  O  conto  não  apresenta  enredo  definido,  o  que  o  aproxima  da  crônica.  
  • 17. EXTRAORDINÁRIA CONVERSA... Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador primeira pessoa personagens narrador, senhora tempo período de uma viagem de ônibus espaço urbano técnicas intertextualidades [Machado de Asis, Valéry, Mallarmé, Salvador Dali] O ENREDO O  locutor  está  num  ônibus  cheio,  encontra  uma  conhecida  e  começa  uma  conversa  meio  sem  rumo.  Ele,  em  pé, segurado  a  umas  argolas  q  ficavam  no  teto.  Ela,  sentada.  Como  se  conheciam,  trocaram  um  sorriso.  Ela  o   cumprimenta;  ele  não  consegue  se  lembrar  especificamente  de  onde  a  conhecia.  Ela  pergunta  ao  narrador   como  vai.  Ele  responde  com  uns  versos.  Só  da  2ª.  vez,  diz  vou  bem;  e  a  senhora  como  vai?  Ela,  então,  fala  s/   preocupações  com  um  gato,  eletrocardiogramas,  entre  outras  coisas.  Mas,  ele  não  a  ouvia,  pois  se  ques/onava e  deveria  ou  não  ultrapassar  os  limites.  Seu  discurso  se  assemelha  a  um  monólogo  e  é  pontuado  por  lembrança de  leituras  de  Mallarmé  e  Paul  Valéry,  autores  que  vêm  à  tona  devido  ao  alumbramento  eró/co  /do  pelo  locuto
  • 18. EXTRAORDINÁRIA CONVERSA... Carlos Drummond de Andrade A  cena  q  deu  origem  às  divagações  eró/co-­‐literárias  do  locutor  foi  a  em  q  a  sra.  agachou-­‐se  p/  pegar  a  bolsa  e   as  luvas  q,  num  solavanco,  foram  a/radas  no  chão.  O  narrador  tb  se  abaixa  e  vê  os  seios  da  mulher.  Sublima  a   visão  transcendente  evocando  um  fragmento  do  poema  “As  romãs”,  de  Paul  Valéry:   Duras romãs entreabertas/ Pelo excesso dos grãos de ouro,/ Eu vejo reis, todo um tesouro/ Nascer de suas descobertas. ANÁLISE E TEMÁTICAS O  início  da  narra/va  evoca  novamente  a  “Missa  do  galo”,  de  Machado  de  Assis,  que  começa  assim:  Nunca  pude entender  a  conversação  q  4ve  com  uma  senhora,  há  muitos  anos.  O  conto  de  Drummond  termina  desse  modo:   Mas confesso que esta me pareceu a conversa mais extraordinária de quantas, até o presente, hei tido com uma senhora de minhas relações. Desculpai-me, se não a considerais sequer uma conversa. O  conto  lembra  uma  crônica,  pq  registra  um  flagrante  do  co/diano.  O  narrador  faz  reflexões  acerca   da  beleza  da  mulher  que  era  algo  insólito  naquele  lugar  e  naquela  sua  posição  incômoda  de  fruição.     A  conversa  entre  ambos  nada  tem  de  extraordinário  –  só  falam  de  coisas  banais  e  formais.  Mas  o  que  a  faz   é  o  embaraço  do  narrador,  extasiado  ante  o  decote  da  mulher,  q  recita  mentalmente  versos  sensuais   que  falam  das  curvas  sensuais  do  corpo  feminino.  Há  ainda,  referências  à  pintura  surrealista  de  Salvador  Dalí.  
  • 19. MEU COMPANHEIRO Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador primeira pessoa personagens Professor Motinha [narrador protagonista], cachorro Pirolito, mulher e filhos tempo indefinido espaço cidadezinha do interior técnicas intertextualidade, reflexão existencial a partir de um evento do cotidiano [crônica?] O ENREDO O  narrador,  professor  Mo/nha,  fala  d  seu  relacionamento  com  Pirolinho,  cãozinho  vira-­‐latas  comprado  há  pouco tempo.  O  nome  foi  originado  de  uma  música  infan/l  cantada  pela  vizinha.  A  esposa  do  narrador,  Margarida  e  os filhos  recebem  bem  o  cão,  q  passou  a  exis/r  como  parte  integrante  da  família  e  se  torna  confidente  do  narrador Abanar o rabo, lamber, levantar ou descer as orelhas, contemplar-me de boca aberta, resfolegando, eram outras tantas maneiras de exprimir seus conceitos sobre as coisas do tempo, que eu traduzia para a linguagem humana. O  cachorro  chega  mesmo  a  se  transformar  na  voz  da  consciência  do  narrador:  mo4nha  está  pensando  que   vai  ganhar  na  loteria?  Que  esperança!  Trate  de  dar  suas  aulas  no  ginásio,  se  não  quer  4rar  o  leite  dos  garotos.  
  • 20. MEU COMPANHEIRO Carlos Drummond de Andrade Há  um  perfeito  relacionamento  entre  o  chefe  de  família  e  o  cão.  Ele  acredita  mesmo  que  tem  um  temperament igual.  Um  dia,  inexplicavelmente  Pirolito  desaparece.  O  professor  desconfia  de  Margarida,  que  uma  vez  dera   sumiço  em  um  gato.  Conclui,  entretanto,  q  muitas  pessoas  [e,  por  que  não,  animais]  somem  sem  dar  explicação ANÁLISE E TEMÁTICAS O  conto  evidencia  um  intenso  senso  de  observação  do  animal:   Todo cão tem seus instantes de alegria louca, geralmente depois do banho, quando se põe a correr pela casa afora, sem nenhum objetivo de caça, e desafiando nossa agilidade em persegui-lo; é no mais puro sentido da palavra um esporte. Percorre invariavelmente os mesmo lugares, passa chispando à nossa frente, e afinal dá por findo o exercício. A  amizade  do  cão,  além  de  exercer  função  moral  de  consciência  ao  narrador,  recupera  a  sua  infância  e  autoriza a  pra/car  atos  que  a  condição  de  adulto  não  permi/a.  O  texto  também  faz  análise  do  temperamento  humano,  seu  desejo  de  evasão  e  suas  limitações;  já  o  narrador  se  iden/fica  com  o  cachorrinho  em  sua  prisão  domés/ca. Combino o espírito prático, o desenganado e realista, a um sentimento meio utópico e furioso. Não sou bastante forte para me libertar, nem suficientemente dócil para me submeter.
  • 21. CONTOS DE APRENDIZ temáticas desenvolvidas PREOCUPAÇÃO SOCIAL abordagem dos problemas sociais opressão da sociedade capitalista sobre o indivíduo “Câmara e cadeia” “Beira-rio” “Um escritor nasce e morre”
  • 22. CÂMARA E CADEIA Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador terceira pessoa personagens vereadores [destaque: Valdemar e João Batista] e preso tempo governo de Epitácio Pessoa [1919] espaço cidadezinha do interior técnicas diálogos, ênfase no enredo [conto anedótico], discurso indireto livre O ENREDO Os  vereadores  de  uma  cidadezinha  discutem  o  orçamento  para  o  ano  de  1920  e  a  criação  de  impostos  e  taxas.   Aventa-­‐se,  então,  a  hipótese  de  criar  imposto  para  afinadores  de  piano,  barbeiros  e  mãos  d  engenho  fabricadas no  país.  Os  vereadores  Valdemar  [o  da  taxa  para  afinadores]  e  João  Ba/sta  [comerciante]  discutem  bastante.   Enquanto  isso,  o  Major  Ponciano  ronca,  o  farmacêu/co  Meireles  faz  anotações  par/culares  num  caderninho  e   o  presidente  da  Câmara,  Coronel  Lindolfo,  está  com  cara  de  quem  sofre  dor  de  cabeça  crônica.  Apesar  de  a   maioria  discu/r  os  impostos,  entre  todos  aqueles  homens  só  um  fazia  o  trabalho  [Valdemar].  Como  o  calor   abafava  a  sala,  Valdemar  foi  até  a  janela,  ficou  olhando  as  redondezas.  Embaixo  da  câmara,  ficava  a  cadeia.  
  • 23. CÂMARA E CADEIA Carlos Drummond de Andrade Valdemar  se  lembra  de  quando  era  menino  e  como  a  imagem  dos  presos  lhe  era  familiar.  Foi  em  meio  a  isso  q   ouviu  barulhos  que  o  fizeram  voltar  à  realidade.  Um  preso  havia  fugido  e  ido  para  a  câmara,  os  homens    gritavam,  querendo  submetê-­‐lo  à  autoridade.  Chegam  a  lhe  dar  voz  de  prisão.  Valdemar  convence  o  homem   a  se  sentar.  O  preso  conta,  então,  que  abrira  a  fechadura  e  saíra.  Tinha  ido  até  a  câmara  para  ver  os  homens   que  pisavam  na  cabeça  deles.  Contou,  ainda,  do  calor  e  das  nojentas  refeições  da  prisão.  Valdemar  diz  que   teria  de  o  prender,  mas  o  preso  se  levanta  diz  que  não  vão  detê-­‐lo  e  foge.   ANÁLISE E TEMÁTICAS No  conto,  são  cri/cadas  não  só  as  desumanas  condições  das  prisões,  onde  impera  a  promiscuidade,  mas  ainda   o  comportamento  dos  vereadores,  que  [salvo  raras  exceções]  não  cuidam  da  coisa  pública.  Merece  destaque   o  grande  volume  de  diálogos,  a  ênfase  no  enredo  e  o  uso  do  discurso  indireto  livre,  como  se  vê  a  seguir:   Mãos na fronte, olhos cerrados, tinha uma cara de dor, enjôo, tédio e resignação forçada. Como é duro presidir! Imaginem então o Epitácio, lá no Catete.
  • 24. BEIRA-RIO Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador terceira pessoa personagens Simplício da Costa [Vosso Criado], companhia [trabalhadores e agentes] tempo indefinido espaço cidadezinha do interior técnicas diálogos, coloquialismo [fala de Simplício], interlocução com o leitor [ironia] O ENREDO Numa  cidade  do  interior,  uma  poderosa  companhia  está  em  obras  para  a  instalação  d  uma  indústria.  Ao  lado   do  rio,  cresce  a  cidade  Capitão  Borges,  explorada  pela  Companhia.  Tudo  pertencia  a  ela.  Lá  não  havia  botequim Era  proibido  beber,  dizia  a  empresa,  em  interesse  de  seus  servidores.  Apenas  os  técnicos  /nham  regalias,  como jogo  e  bebida.  Mesmo  assim,  há  um  comércio  subterrâneo  de  garrafas,  há  trabalhadores  q  aparecem  bêbados no  serviço:  Bebe-­‐se  p/  esquecer,  para  lembrar,  para  fazer  de  conta,  para  cortar  doença,  para  aguentar  o  repuxo p/  zombar  da  administração.  Um  dia,  o  apontador  e  o  balseiro  encontram  um  negro,  Simplício,  vindo  d  Pirapora q  tenciona  montar  ali,  à  beira  do  rio,  desafiando  a  companhia,  a  sua  vendinha  de  cigarros,  pasteis  e  aguardente
  • 25. BEIRA-RIO Carlos Drummond de Andrade – A companhia manda do lado de lá do rio. Do lado de cá manda Simplício da Costa, coma a autoridade do governo. Tirei licença do governo para negociar. A Companhia não se meta comigo, que eu racho ela, irmãozinho. Simplício  improvisa  ali  sua  venda.  O  comportamento  dos  trabalhadores  agora  é  outro,  dispostos  pelo  álcool,   trabalham  cantando.  A  Companhia  toma  providências  p/  remover  o  negro  dali,  mas  ele  é  renitente.  Defende-­‐se c/  uma  pistola.  Os  enviados  da  Companhia  acabam  bebendo  também  e  contam  uma  história  atrapalhada.  O   .  subdiretor  chama,  então,  o  destacamento  policial.  Fecham  a  venda  do  negro,  a/ram  garrafas  e  moedas  no  rio, ante  o  olhar  resignado  de  Simplício  q  ñ  pode  se  defender.  Os  apontadores  contemplam  a  venda  em  ruínas.   ANÁLISE E TEMÁTICAS O  texto  apresenta  passagens  irônicas,  enfocando  o  sotaque  americano  do  subdiretor,  que  era  brasileiro,  e   a  a/tude  dos  técnicos  da  alta  administração,  que  quanto  mais  bebem  e  jogam  –  é  admirável  –  mais  trabalham.   É  gritante  a  diferença  entre  os  operários  macilentos  e  curvados  e  os  americanos  nutridos  que  dirigem  a  Cia.,   q  representa  no  conto,  o  império  capitalista,  uma  vez  q  tudo  ali  lhe  pertencia.  Simplício  representa  a  dignidade do  homem  que  lutava  contra  a  opressão;  a  bebida,  a  possibilidade  de  evasão,  o  poder  de  imaginar  coisas  boas.  
  • 26. UM ESCRITOR NASCE E MORRE Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador primeira pessoa personagens Juquita [escritor] tempo indefinido espaço cidadezinha do interior técnicas autobiografia fictícia [metalinguagem] O ENREDO Estruturado  em  4  pequenos  capítulos  e  narrado  na  primeira  pessoa  pelo  protagonista  Juquita,  trata-­‐se  de  uma   autobiografia  ficucia  em  q  se  percebem  pontos  em  comum  entre  o  autor  e  seu  personagem  de  Turmalina.   Aliás,  a  cidade  ficucia  contém  elementos  de  Itabira,  como  o  Pico  do  amor  ou  a  fonte  das  Sempre-­‐vivas.  Essa   história  abrange  a  vida  literária  d  um  escritor  que  nasceu  no  3º.  ano  escolar,  qdo  imaginou  a  história  de  uma   viagem  fantás/ca  de  Turmalinas  até  o  Polo  Norte.  Elogiado  pela  professora,  o  menino  passa  a  escrever  mais,   torna-­‐se  o  talento  da  pequena  cidade.  No  colégio  interno,  escreve  e  p/  o  jornal  e  colabora  em  revistas  literárias Mais  tarde,  publica  vários  livros,  sempre  elogiado.  Sua  literatura,  porém,  queria-­‐se  pura,  comprome/da  apenas
  • 27. UM ESCRITOR NASCE E MORRE Carlos Drummond de Andrade com  a  Beleza  e  não  com  a  vida  social.  Por  isso,  quando  um  amigo  seu  colabora  no  jornal  Grito  operário,  sofre,   por  sua  parte,  descrédito.  Toda  sua  geração  vai  vencendo  na  vida,  galgando  altos  cargos  no  governo,  formando grupos,  clubes;  porém,  era  sempre  solitário,  na  escuridão  d  si  mesmo,  foi  definhando  até  morrer  como  escritor: Risquei um fósforo, já sob a escuridão absoluta, e na lâmpada que minhas mãos em concha formavam, percebi que tinha feito 30 anos. Então morri. Dou minha palavra de honra que morri, estou morto, bem morto. ANÁLISE E TEMÁTICAS O  conto  tem  por  núcleo  a  reflexão  s/  o  papel  do  escritor,  sua  posição  como  ser  social  considerada  +  importante q  sua  posição  como  literato;  a  literatura  q  deve  ser  dirigida  p/  uma  realidade  social  e  não  se  perder  na  escuridão nebulosa  do  eu.  Daí  advém  a  morte  do  escritor;  na  ânsia  de  trabalhar  somente  com  o  espírito,  vai  cavando  sua   sepultura  ficando  distante  do  sol.  A  relação  entre  a  terra  de  minérios  e  o  indivíduo  tb  está  presente  na  narra/va Meus requintes espasmódicos eram pouco estranhos a uma terra em que a hematita calçava as ruas, dando às almas uma rigidez triste. Entretanto meu nome em letra de forma comovia a pequena cidade, dava-lhe esperança de que o meu talento viesse a resgatar o melancólico abandono em que, anos a fio, ela se arrastava, com o progresso a 50 quilômetros de distância e cabritos pastando na rua.
  • 28. CONTOS DE APRENDIZ temáticas desenvolvidas O FANTÁSTICO [macabro, estranho] situações patéticas, misteriosas, absurdas o insólito no comportamento e no cotidiano do homem “Flor, telefone, moça” “A baronesa” “O gerente” “Miguel e seu furto”
  • 29. FLOR, TELEFONE, MOÇA Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador terceira pessoa [conta a história que ouviu de uma amiga] personagens moça, voz que telefona para a moça, família tempo indefinido espaço Rio de Janeiro técnicas resgate da narrativa oral; identificação do narrador com o autor [metalinguagem] O ENREDO A  protagonista  mora  no  RJ,  nas  proximidades  do  cemitério  S.  João  Ba/sta.  Sua  única  distração  era  passear  entre os  túmulos,  lendo  as  inscrições,  observando  os  anjos  de  mármore.  Caminhando  um  dia  pela  parte  do  cemitério onde  havia  as  covas  das  pessoas  pobres,  apanha  uma  flor  de  uma  sepultura  e  depois  a  joga  fora.  Chegando  a   casa,  o  telefone  toca  e  uma  voz  pede  a  flor  q  a  moça  /rara  da  sepultura.  A  moça  pensa  q  é  trote,  mas  o  telefone con/nua  a  chamar,  a  mesma  voz  fria  e  longínqua  suplica  pela  florzinha.  Semrpe  a  mesma  coisa,  em  linguagem   coloquial:  Quede  a  flor  que  vc  4rou  da  sepultura?  A  irritação  da  moça  passa  a  ser  preocupação  e  medo.  Os  pais fazem  tudo  p/  descobrir:  vigiam  telefones  públicos,  telefonam  p/  casas  das  redondezas  conferindo  a  voz,  vão  
  • 30. FLOR, TELEFONE, MOÇA Carlos Drummond de Andrade à  companhia  telefônica,  nada  conseguem.  Inclusive  a  polícia  é  impotente;  ironicamente,  comenta  a  narradora  q a  polícia  estava  muito  ocupada  em  prender  comunista,  o  que  remete  para  o  contexto  histórico  dos  anos  1930,   época  do  Estado  Novo.  Aliás,  numa  das  falas,  da  moça  à  voz  misteriosa,  ela  usa  a  seguinte  gíria:  Olhe,  vire  a   chapa.  Já  está  pau.  [mude  de  assunto;  isso  já  está  chato].  A  mãe  compra  flores,  coloca  em  todas  as   sepulturas  da  parte  nova  do  cemitério,  mas  a  voz  não  silenciava,  fazia  questão  daquela  flor.  Apelou-­‐se   espiri/smo,  mas  de  nada  adiantou.  Ao  fim  de  alguns  meses,  exausta,  a  moça  morre.  E  a  voz  não  incomoda  mais ANÁLISE E TEMÁTICAS O  utulo  é  sinté/co,  recolhi/vo,  contendo  3  nomes  que  são  os  elementos  estruturais  do  conto.  Há  2  diálogos   interessantes  q  atravessam  o  texto:  o  do  narrador  com  a  amiga  e  o  da  moça  com  a  voz.  Ao  se  referir  à  amiga,   o  narrador  faz  essa  digressão:  Naquele  dia  escutei,  certamente  porque  era  a  amiga  que  falava,  e  é  doce  ouvir   os  amigos,  ainda  quando  não  falem,  porque  amigo  tem  o  dom  de  se  fazer  compreender  até  sem  sinais.  Até    sem  olhos.  Essa  narra/va  segue  a  linha  das  narra/vas  populares  de  assombração,  criando  um  clima  de  mistério e  suspense  culminando  com  a  vitória  do  sobrenatural.  Não  há  explicação  lógica  para  o  q  acontece,  o  importante é  o  envolvimento  q  a  narra/va  oral  obtém,  em  q  o  medo  a/nge  a  personagem  e  o  receptor  da  história.  
  • 31. A BARONESA Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador terceira pessoa personagens sobrinho da baronesa, baronesa [Ana Moutinho], Renato [sobrinho neto], Luís tempo primeiras décadas do século XX espaço Rio de Janeiro técnicas humor negro, crítica social, jogos de oposição O ENREDO O  sobrinho  da  baronesa  D.  Ana  Clemen/na  de  Soromenho  Pinheiro  Lobo  Figueiredo  Mou/nho  descobre  q  a   /a  morrera  e  se  põe  a  avisar  os  parentes.  Sua  principal  preocupação  é  avisar  Renato,  sobrinho  neto  da  morta.   De  início,  há  um  suspense,  pq  se  imagina  q  o  jovem  seja  muito  ligado  à  morta.  Vê-­‐se,  entretanto,  q  a  pressa  em chegar  ao  velório  tem  outra  mo/vação.  Em  fins  do  século  XIX,  Ana  Mou/nho  fora  uma  das  mais  celebradas   damas  do  II  Império.  Sua  beleza  era,  então,  adornada  por  riquíssimas  joias.  Após  serem  comunicados  da  morte, os  parentes  chegam  aos  montes  para  roubar  as  joias.  O  senador  se  desespera  com  o  atraso  de  seu  filho  Renato: não  pegaria  nada.  Imagina,  então,  que  o  jovem  estaria  dormindo  na  casa  de  Deia,  a  mais  duradoura  das  
  • 32. A BARONESA Carlos Drummond de Andrade amantes.  Enfim,  Renato  chega  e  vai  p/  o  quarto  da  baronesa.  Passa  as  mãos  com  jeito,  discretamente,  no  rosto da  morta  e  ainda  consegue  arrancar  de  suas  orelhas  um  par  de  brincos  que  divide,  honesto,  com   Luís.  Vai  ao  banheiro,  passa  a  loção  de  cabelo  do  pai,  telefona  pra  uma  de  suas  amantes  e  volta   p/  a  diversão.  Ao  final  da  narra/va,  entre  lacônico  e  cínico,  o  narrador  avisa:  Assim  acabou  o  Segundo  Reinado. ANÁLISE E TEMÁTICAS Jogos  de  opostos:  linguagem  formal  do  Senador  x  gírias  usados  por  Luís;   Jogos  de  opostos:  objetos  an/quados  do  quarto  da  baronesa  x  apartamento  de  móveis  modernos;   Humor  negro:  a  morte  é  tratada  de  forma  saurica  e  irônica,  na  medida  em  que  opõe  a  nobreza  e  a  avareza;   Temá*cas:  desagregação  da  família,  da  memória  e  dos  valores  tradicionais.  
  • 33. O GERENTE Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador terceira pessoa [conta a história a partir do que leu no diário de Samuel] personagens Samuel, presidente do banco, senhoras, delegado tempo primeiras décadas do século XX espaço Rio de Janeiro técnicas fantástico, alegoria, metalinguagem, intertextualidade O ENREDO Samuel  nasceu  no  Se;  /nha  modos  educados;  apesar  de  namorar  muitas  senhoras,  decidiu-­‐se  pelo  celibato.   Frequentou  a  alta  sociedade,  era  amável,  bem  relacionado.  Certo  dia,  após  beijar  a  mão  de  uma  sra.,  o  dedo   dela  começou  a  sangrar  [Mme.  Souza]:  Teria  sido  espetada  por  um  alfinete?  Qdo  beija  a  mão  d  D.Guiomar,  pass um  rapaz  de  roupa  xadrez  c/  um  papel  na  mão,  s/  chapéu,  em  velocidade  de  navalha.  O  dedo  da  sra.  é  cortado. Num  baile,  Samuel  beija  a  mão  da  sra.  Figueiroa.  Um  garçom  chegava  c/  uma  bandeja.  Súbito,  o  ves/do  da  sra. fica  vermelho  e  ela,  s/  uma  falangeta.  Segundo  os  médicos,  a  sra.  foi  ví/ma  de  uma  dentada  humana.  O  caso   para  na  polícia.  Interrogam  o  garçom  e  Samuel.  O  caso  foi  abafado  pela  ausência  de  provas.  As  mulheres,  então
  • 34. O GERENTE Carlos Drummond de Andrade evitam  Samuel.  Noutra  festa,  beija  a  mão  de  D.Deolinda  Gualberto.  No  mesmo  instante,  passa  um  propagandist q  anuncia  um  aparelho  de  barba.  A  sra.  geme  d  dor.  O  dedo  está  cortado.  No  dia  seguinte,  os  jornais  anunciam mais  uma  ví/ma  do  vampiro  dos  salões.  Samuel  é  indiciado.  Nada  conseguem  provar.  Apesar  disso,  muda-­‐se   p/  São  Paulo.  8  anos  depois,  volta  ao  RJ  p/  resolver  uns  negócios,  recebe  um  telefonema  de  D.Deolinda,  saem.   Durante  o  encontro,  conta  q  teve  q  amputar  o  braço  devido  à  mordida.  Bêbada,  faz-­‐lhe  uma  declaração  de   amor.  O  gerente  sente  remorso  e  aversão.  Leva-­‐a  p/  casa,  ajeita-­‐a  na  cama,  toma-­‐lhe  a  mão  e  a  leva  aos  lábios. O  contato  dura  muito  tempo.  Regressa  a  SP,  de  acordo  com  o  narrador,  sem  liquidar  o  negócio  [ambiguidade]. ANÁLISE E TEMÁTICAS Metalinguagem:  O  narrador  conta  a  história  a  par/r  dos  relatos  que  lera  no  diário  de  Samuel.   Fantás*co:  Tanto  o  senso  comum  quanto  o  locutor  acreditam  q  Samuel  come  dedos  de  senhoras.   Intertextualidade:  A  epígrafe  da  novela  rela/viza  a  veracidade  dos  fatos  narrados:  Que  é  a  verdade?   Sá*ra  à  sociedade  capitalista:  Samuel,  o  gerente  de  banco  doce  e  suave  esconde  sua   inclinação  criminosa  por  trás  da  máscara  social.  Metaforicamente,  Samuel   a  sociedade  capitalista  q,  resguardadas  as  aparências,  age  de  forma  devoradora  [sá/ra  ao  capitalismo].  
  • 35. MIGUEL E SEU FURTO Carlos Drummond de Andrade ELEMENTOS DA NARRATIVA narrador terceira pessoa personagens Miguel, seus parentes, garoto que toma banho de mar tempo indefinido espaço urbano técnicas fantástico, alegoria O ENREDO Miguel  era  um  homem  simpá/co,  embora  nunca  tenha  tomado  uma  posição  na  vida;  finda  a  fonte   de  seu  sustento,  passou  a  dormir  em  jornais.  Foi  num  deles  que  certo  dia  captou  a  ideia  de  roubar  o  mar.   Mesmo  o  mar  ficando  no  mesmo  local,  novas  regras  foram  estabelecidas,  como  o  imposto  pago  a   Miguel  e  a  proibição  dos  banhos  para  manter  a  moralidade.  Tornou-­‐se  tão  rico  que  passou  a  queimar   parte  de  sua  riqueza  por  não  ter  onde  guardá-­‐la.  Um  dia,  porém,  um  garoto  saiu  correndo,  arrancou   as  roupas  e  se  jogou  no  mar.  Desde  então,  todos  se  apoderaram  novamente  do  mar.  Miguel  depositou   sua  fortuna  em  bancos  seguros  e  passou  a  colecionar  conchinhas  para  se  lembrar  de  sua  ex-­‐propriedade.  
  • 36. MIGUEL E SEU FURTO Carlos Drummond de Andrade ANÁLISE E TEMÁTICAS Intertextualidade  e  Alegoria:  alegoria  de  caráter  social  e  dialoga  com  “A  nova  roupa  do  rei”   O  garoto  de  oito  anos,  morador  de  Ramos,  q  desafia  a  ordem  estabelecida  representa  a  possibilidade  de   ruptura  com  os  sistemas  de  dominação  arbitrária.   A  infância,  tal  qual  acontece  em  “Nossa  amiga”,  “A  doida”  e  “Conversa  de  velha  com  criança”  é  vista  como   um  momento  de  pureza,  de  inocência,  de  liberdade:  como  uma  recusa  da  injus/ça  e  da  arbitrariedade.     Nesse  sen/do,  esse  conto  se  aproxima  de  “Beira-­‐rio”  e  “Câmara  e  cadeia”,  textos  com  forte  pendor  social.