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A Formação do
                   Feudalismo
   "O mundo contemplado pelos homens do século VII é completamente diverso daquele que
   haviam tido sob os olhos dos homens dos séculos III ou IV: não mais existe o Império
   Romano, salvo no Oriente, e sob uma forma que não é latina; novas nações o invadiram,
   encontrando-se, elas mesmas ameaçadas por outros povos novos mais ferozes e mais
   estranhos ainda; línguas, leis, hábitos novos se impuseram. Os deuses morreram, mortos
   pelo Deus único, cujos mandamentos impõem uma regra de vida tão nova que daí em diante
   o mundo terreno passará para segundo plano."
   Lot, Ferdinand, in. História Geral. Claudio Vicentino. Editora Scipione. pág. 114.




       N
                osso estudo começa com as origens do
                modo de produção feudal, que teve seu
                apogeu no século VIII da Idade Mé-
dia. Para mergulhar de corpo e alma nesse maravilho-
so período da história, faremos inicialmente um breve
"replay" dos momentos finais do Império Romano, pois
na sua destruição se forjaram, desde o século III, os
indícios da Ordem Feudal.
       Com efeito, os romanos consolidaram nos sé-
culos I e II da Era Cristã um império de grandes di-
mensões. No auge da expansão efetivaram um Estado
de âmbito mundial, transformando o mar Mediterrâ-
neo num autêntico lago romano. Os historiadores cha-
maram essa época de Pax Romana, que corresponde                     Da mesma forma foi necessário aumentar o efe-
ao maior período de estabilidade e manutenção da or-                                                                      Império
                                                             tivo militar para garantir a estabilidade das fronteiras e   Romano -
dem imperial. Nesse gigantesco império uma eficiente         manter a ordem interna. O problema é que os romanos          Expansão dos
rede de estradas permitia a circulação de mercadorias,       não conseguiriam sustentar financeiramente, a imensa         séculos I e II da
ativando o comércio que girava em torno da majesto-                                                                       Era Cristã.
                                                             máquina burocrática e militar que até então, garantira a     período da Pax
sa Roma. No auge da Pax Romana, a cidade chegou a            unidade imperial.                                            Romana
                                fantástica marca de                 O exagerado número de funcionários e solda-
                                hum milhão de habitan-       dos drenava recursos do Estado acarretando a sangria
                                tes. Por tudo isso, era      dos cofres públicos penalizando principalmente, a po-
                                impossível imaginar a        pulação mais carente. A partir do século III, o exército
                                destruição do Império        tornou-se um agente desagregador devido as lutas in-
                                que se tornara o dono        ternas e a disputa pelo poder.                             Na gravura da
                                do mundo.                                                                                esquerda,
                                        Contudo, o por-                                                                  comandante e
                                                                                                                         legionários
                                te gigantesco do Impé-                                                                   inspecionam o
                                rio exigiu a formação                                                                    fantástico Muro
                                de uma burocracia nu-                           - ANARQUIA MILITAR                       de Adriano,
                                merosa com a finalida-                                                                   fortificação de
                                                                                - CRISE DO ESCRAVISMO
                                                                                                                         120 quilômetros ,
                                 de de gerenciar a má-                                                                   construída no
                                                                                - CRESCIMENTO DO CRISTIANISMO
                                 quina administrativa.                                                                   norte da
                                                                                - CRISE ECONÔMICA                        Inglaterra
Para se ter uma idéia, no
                                    século IV o império teve quase
                                    90 imperadores, todos de origem
                                    militar. Em pouco tempo, Roma
        A Formação do Feudalismo




                                    que havia sido o centro econômi-
                                    co e político do poderoso Impé-
                                    rio, transformou-se numa carica-
                                    tura de cidade. Nas regiões mais
                                    próximas, grandes latifúndios
                                    buscaram alternativas para evitar
                                    o colapso total. Foi assim que apa-
                                    receram propriedades com carac-
                                    terísticas de produção para con-
                                    sumo próprio. Eram as villas que
                                    ensejavam características econô-
                                    micas similares aos feudos medi-
                                    evais.
                                            De outro lado, o fim das conquistas gerou o en-    caram o Ocidente, comandados por Átila. Durante a
                                    carecimento da mão-de-obra escrava. O alto custo de        invasão Átila deixou um rastro de destruição em vári-
                                    aquisição do escravo, minou a escravidão como alicer-      as cidades.
                                    ce de exploração. A partir do século III a escravidão              Os hunos eram guerreiros excepcionais, pre-
No mapa acima                       foi lentamente substituída pelo colonato aonde o cam-      parados para qualquer tipo de combate. Montavam pe-
você observa o                      ponês dividia a produção com o proprietário da terra e     quenos cavalos que eram muito mais velozes que os
roteiro das
                                    não era propriedade de um senhor.                          cavalos convencionais.
invasões
germânicas, que                             No aspecto econômico, o comércio entre as vá-              Centenas de pessoas fugiram das cidades mi-
arrasaram a                         rias províncias foi substituído por uma estrutura mais     grando para o campo em busca de proteção, acentu-
parte ocidental                     localizada, e o trabalho escravo fonte de sustento e ri-   ando a ruralização que já existia de forma tímida, an-
do império
                                    queza, foi permutado pelo colonato, que pode ser visto     tes da chegada dos hunos. Depois de inúmeras vitórias
                                    como esboço do trabalho servil. Por um lado, termina-      os hunos marcharam de volta para o Oriente sem efe-
                                    va a sociedade baseada no escravismo, por outro, deli-     tivar as conquistas. Para isso contribuiu a morte de
                                    neavam-se os elementos do modo de produção feudal.         Átila, diluindo a força canalizada no carisma desse ex-
                                                                                                            cepcional guerreiro.
                                    OS HUNOS ATACAM O OCIDENTE.                                                        Depois dos hunos, a porta que
                                                                                                               já estava aberta, ficou escancarada, per-
                                                                                                                mitindo que os germanos se estabele-
                                            Quanto mais o Império se enfraquecia, mais se                       cessem em pequenos reinos, fragmen-
                                    abria a porta aos povos que viviam além das fronteiras.               tando o lado ocidental do Império. O novo
                                    Ali estavam os povos germanos, ou bárbaros - expres-       mundo que se formou, resultou da fusão de elementos
                                    são pejorativa usada pelos romanos. Borgúndios,            da cultura romana e das contribuições trazidas pelos
                                    visigodos, godos, ostrogodos, alamanos, francos e ou-      povos germanos. A essa nova época dá-se o nome de
                                    tros, gradativamente se incorporaram ao Império. A         Ordem Feudal.
                                    migração inicial se tornou invasão quando os hunos ata-
                                                                                               O CRISTIANISMO

           OS PIORES PROBLEMAS ECONÔMICOS DE                                                           De inicio os cristãos eram perseguidos e o cul-
      ROMA DERIVAVAM-SE DO SEU SISTEMA ESCRAVISTA                                              to era proibido. Entretanto, a partir da crise do século
      E DA ESCASSEZ DE MÃO-DE-OBRA                                                             III o Cristianismo foi se impondo como religião pre-
                                                                                               dominante, encontrando em Roma o terreno fértil para


   O Tempo da História

    27aC                           Séculos I e II                           Século III         395               450                      476

    Início do                      Pax Romana                               Declínio do        Divisão do        Átila                    Ataque
    Império -                                                               Império            Império                                    a Roma
                                   Apogeu e maior                           Romano                               Ataque
    Otávio                         expansão do                                                 Invasões          dos Hunos
                                   império                                                     dos povos
                                                                                               germanos
Contudo, a tentativa de aprovei-
                                                                           tar a estrutura jurídica e política dos ro-
                                                                           manos, normalmente não progrediu,
                                                                           porque os germanos, com freqüência, se




                                                                                                                                  A Formação do Feudalismo
                                                                           envolviam em guerras e conflitos inter-
                                                                           nos. A maioria dos reinos germanos teve
                                                                           efêmera duração.
                                                                                   Esses povos nômades tinham
                                                                           grande tradição guerreira. Não conhe-
                                                                           ciam a noção de Estado, da maneira
                                                                           como os romanos haviam organizado.
                                                                           A escolha do rei e chefe guerreiro se
   Na gravura acima observa-se camponeses                                  fazia em combates ou torneios milita-
   trabalhando no sistema de colonato que                 res. A lealdade dos guerreiros com o rei se efetuava
   lentamente foi substituindo a excravidão.              numa relação de natureza pessoal e não se baseava em
                                                          leis escritas. A decadente estrutura política romana foi
                                                          substituída por um mundo fragmentado e dividido onde
disseminar a doutrina que pregava a igualdade dos ho-     se forjaram as características políticas da Ordem Feu-
mens perante a Deus e a vida eterna do Paraíso. Até       dal.
então, a religião romana se baseava no culto politeísta           No aspecto jurídico também houve grandes
com deuses humanizados, clonados da religião grega.       mudanças. Os romanos elaboraram um sistema de leis
O aspecto prático e material da religião romana não       muito eficiente que inovara o conceito de cidadania e o
preenchia a carência espiritual da população sofrida e    claro direito de propriedade. Os germanos, ao contrá-
miserável.                                                rio, baseavam suas leis nos costumes tribais - direito
        Com a expansão da crise ficou evidente que o      consuetudinário - transmitidos de geração a geração.
Cristianismo e a Igreja Católica poderiam se tornar
importantes aliados do Estado Romano. Em 313, o
imperador Constantino assinou o Édito de Milão, libe-
rando o culto aos cristãos.
        Em seguida o Cristianismo se tornou religião
oficial, após o Édito de Tessalônica do imperador
Teodósio, em 374. Daí em diante, a conversão defini-
tiva de milhares de romanos ao Cristianismo, permitiu
a Igreja Católica resistir como religião dominante do
mundo ocidental.

AS MUDANÇAS POLÍTICAS E
ECONÔMICAS

      Os germanos que chegaram no Ocidente pro-
curaram no início preservar as estruturas políticas ro-
manas. Na Alta Idade Média surgiram vários reinos na
Europa Ocidental e norte da África.                                                                                      O mapa acima
                                                                                                                         mostra os reinos
                                                                                                                         germânicos da
                                      "Na história da humanidade há períodos em que o homem não                          Alta Idade Média.
                           mais compreende seus ancestrais, seu pai, a si mesmo. Parece ter havido                       Todos, à exceção
                                                                                                                         dos Francos,
                                uma espécie de ruptura de continuidade psicológica... O mundo
                                                                                                                         tiveram curta
                          contemplado pelos homens do século VII é completamente diverso daquele                         duração
                             que haviam tido sob os olhos os homens do século III ou IV: não mais
                            existia o império romano, salvo apenas no oriente, e sob uma forma que
                            não era latina; nações novas o invadiram, encontrando-se elas mesmas,
                           ameaçadas por outros povos novos mais ferozes e mais estranhos ainda;
        línguas, leis, hábitos novos se impuseram acima de tudo, renovou-se o mundo interior.
              O homem afastou com indiferença ou aversão, objetos acarinhados pelos seus mais
      próximos ancestrais; não mais compreendia as letras antigas porque não mais as amava; a
   própria forma de transmissão, a língua escapava-lhe; a encantadora arte da plástica cessou para
     agradar a sua vista... Entre o homem dos novos tempos e o homem dos tempos antigos, não
       mais haverá um pensamento em comum". In. Lot, F. Le Fin de Monde Antique. História das
                Sociedades. Volume 1. Aquino e outros. Ao Livro Técnico Editora.Pág. 290.
Não havia tribunais no estilo convencional dos
                                    latinos e um germano só poderia ser julgado pelas leis
                                    costumeiras de sua própria tribo. Na medida que as
                                    terras foram adquirindo características de auto-sufici-   Anotações
         A Formação do Feudalismo




                                    ência foram adotando também, as leis costumeiras e os
                                    hábitos jurídicos germanos. As constantes invasões
                                    desestruturaram as cidades. A vida no campo surgiu
                                    como opção, evidenciando a necessidade das pessoas
                                    terem algum tipo de proteção. Em muitas regiões no-
                                    bres construíram fortificações mais seguras que as
                                    desprotegidas cidades.




A cidade de Tréves,
no norte da Gália,
foi uma das
cidades mais
prósperas do
Império Romano.
Depois das                                  Do ponto de vista econômico as cidades perde-
invasões boa parte                  ram a força, desde o fim do Império Romano. A
da população                        ruralização acentuada é marca da Alta Idade Média.
migrou para as
zonas rurais.
                                    As cidades reduziram-se a pequenos entrepostos reli-
                                    giosos e só algumas mantiveram um razoável nível co-
                                    mercial. Dentre essas se destacam, Veneza e Gênova,
                                    na Itália devido ao ativo comércio de importação de
                                    sal, usado na conservação dos alimentos.
                                            Os reinos germanos foram pulverizados e a mai-
                                    oria desapareceu com o decorrer do tempo, não duran-
                                    do mais do que meio século. Muitas terras foram apro-
                                    priadas por nobres de origem germana ou romana. Os
                                    nobres e senhores feudais mantiveram um antigo cos-
                                    tume germânico de fidelidade pessoal chamado
                                    comitatus, que pode ser definido como compromisso
                                    de honra e lealdade entre dois nobres. Com o tempo o
                                    comitatus foi se modificando originando as relações de
                                    suserania e vassalagem.


       “O PERÍODO DE FORMAÇÃO DO FEUDALISMO TEVE
 EFEITOS DEVASTADORES SOBRE A VIDA URBANA (...) EM
 GERAL AS CIDADES FORAM ABANDONADAS E, QUANDO
 NÃO REALMENTE DESTRUÍDAS PELO FOGO, FICARAM
 COMPLETAMENTE DESABITADAS”. Maurice Dobb. A Evo-
 lução do capitalismo. p. 97
Para você saber mais
                                                                        ?




                                                                                                                         A Formação do Feudalismo
                     O Crepúsculo de Roma
                     O Crepúsculo de Roma
           Enquanto os bárbaros se multiplicavam e se tornavam cada vez mais agressivos, o Ocidente romano
  entrava em seu último período de declínio. A decadência era visível em todos os aspectos da vida romana:
na estéril pomposidade de sua arte e de sua poesia, nos espetáculos públicos chocantes, numa imoralidade
   crescente que nem mesmo o cristianismo conseguia deter. A economia do Ocidente romano, já solapada
 pela queda da produção nas grandes propriedades romanas e por um desequilíbrio de mercado que sugava
 o ouro para o Oriente estava em falência. Em alguns distritos o dinheiro era tão escasso que as transações
         eram feitas por permuta e até mesmo as taxas e salários eram muitas, vezes pagos em gêneros.
               Além do mais os impostos eram exorbitantes, exigindo às vezes mais que dinheiro e gado. O
  fazendeiro podia pagar um terrível preço, vendendo sua liberdade. Freqüentemente incapacitado de pagar
   os impostos devidos, ele escapava às duras penas da lei transferindo
       suas terras para algum grande proprietário e trabalhando como
arrendatário. Outros deixavam seus lares e iam viver sob a tutela de reis
     bárbaros, ou juntavam-se a bandos de salteadores. Até mesmo os
 coletores de impostos (que o historiador romano Sálvio descreve como
sendo piores que os inimigos") eram vítimas do sistema. A lei exigia que
       entregassem ao governo uma quantia fixa em dinheiro; se não o
   tivessem, eram obrigados a pagar de seu próprio bolso. Não podiam
 abandonar seu emprego, pois herdavam, por lei, o posto de servidores
       do Estado. Desesperados, alguns coletores tornaram-se ávidos
    funcionários em uma burocracia de tal modo enorme e corrupta que
   certo cidadão romano comentou: Os que vivem às custas dos fundos
          públicos são mais numerosos que aqueles que os provêm".
          O Império Romano fracassava exatamente no ponto em que dera
    sua mais nobre contribuição: o governo. O Estado romano e seus
     orgãos administrativos haviam deixado de servir a suas finalidades
   essenciais, a manutenção da ordem e da justiça. O povo romano não
     tinha mais forças para lutar contra a situação. Enquanto multidões
        desmoralizadas vagavam desocupadas pelas ruas e os ricos
 aristocratas davam festas em suas vilas, mercenários bárbaros lutavam
      contra outros bárbaros para preservar o Império para os romanos.
            Nos primeiros anos do século V uma série de acontecimentos
transformou o declínio de Roma em queda vertiginosa. No auge da crise
  estava um homem que resumiu, em sua pessoa, a grande incoerência
dessa época. Seu nome era Estilicão. Vândalo de nascimento e general
  romano por profissão, ele comandava o exército da Roma Ocidental e
 durante uma década havia sido o esteio militar do Império do Ocidente.
 Dividindo com habilidade suas reduzidas tropas, enviando legiões para
 deter invasões onde quer que ocorressem, Estilicão conseguira afastar
     a derrota final. Em sinal de gratidão os romanos haviam erigido no                                        Após a queda do
      Forum de Roma urna bela estátua em sua homenagem. Uma inscrição floreada louvava sua bravura e           Império Romano,
                 fidelidade, ressaltando "o extraordinário amor" que o povo de Roma sentia por ele.            nasceu na
                                                                                                               Europa a era da
           Porém nem mesmo os esforços de Estilicão puderam adiar o inevitável. Os visigodos, desviando sua
                                                                                                               cavalaria,
    atenção dos Bálcãs, vinham atacando freqüentemente a própria Itália. Para defender o coração da terra      quando senhores
       romana , Estilicão viu-se forçado a convocar as tropas acampadas na fronteira do Reno, deixando         ricos o suficiente
  desprotegido todo o norte da Gália, que passou a contar apenas com as defesas dos imprevisíveis aliados      para assegurar
francos. Na última noite do ano de 406 as tribos germânicas, lideradas pelos vândalos, atravessaram o Reno     cavalos, armas e
  congelado. A seguir, toda a fronteira romana foi invadida e cenas de violência e de destruição tornaram-se   armaduras
   comuns na Gália romana. "Vejam com que rapidez a morte cai sobre o mundo", escreveu o poeta romano          prestaram
                        Orientius, "e quantas pessoas foram atingidas pela violência da guerra.                vassalagem aos
                                                                                                               reis germanos.
           Alguns jaziam para servirem de alimento aos cães; outros foram mortos pelas chamas que varreram
     suas casas. Nas aldeias e nas fazendas, nos campos e nos distritos, em cada estrada havia morte, dor,
  carnificina, fogo e lamentações. Toda a Gália fumegava em uma grande pira funerária". In Gerald Simons.
           Os Bárbaros na Europa. História Universal. Time-Life. Liv. José Olympio Editora. Pág. 20
A Formação do Feudalismo
A Formação do Feudalismo




                                          Os Bárbaros
                                  O ESPIRITO BARBARO

                                    As ondas de tribos guerreiras que varreram a Europa a partir do século IV deram o
                                   golpe de misericórdia no decadente Império Romano e mantiveram o continente em
                                  constante tumulto durante mais de quinhentos anos. Ao mesmo tempo, entretanto, os
                                     invasores infundiram no Ocidente um vigor que lentamente se mesclaria com as
                                   antigas tradições para formar uma nova Europa. Muitos aspectos do espírito desses
                                   povos - vikings, vândalos, gôdos, saxões -refletem-se em seus artefatos primitivos,
                                   mas vigorosos, tais como o medalhão de bronze do alto da página, onde vemos um
                                  guerreiro a cavalo investindo com sua lança contra algum inimigo. Este objeto leva a
                                  marca inconfundível dos bárbaros, que deram à civilização ocidental uma nova visão
                                         da guerra e das armas, da natureza e da religião, e do espírito humano.



FERRENHO INDIVIDUALISMO E TEMOR DO DESCONHECIDO

    Para os bárbaros, assim como para a maioria dos povos primitivos, a vida
          era uma constante luta pela sobrevivência - contra o tempestuoso
       ambiente setentrional, contra os animais selvagens, contra as tribos
     vizinhas. Essa vida gerava homens de obstinada independência, como o
         anônimo guerreiro viking que vemos à direita, com seu feroz perfil
                             esculpido em chifre de alce.
     Gerava também homens de imaginação fértil. Na tentativa de explicar ou
        influenciar as forças que modelavam suas vidas, os povos bárbaros
    inventaram mitos e lendas, cultos e deuses. Muitas vezes representavam
     esses deuses à sua semelhança, como a divindade celta Cerramos, cujo
         rosto barbudo e poderoso. Outras e mais recentes encarnações do
       sobrenatural exprimiam o senso místico dos bárbaros: a estatueta de
    volumosa cabeça, no canto direito, combina as feições desagradáveis de
           um ídolo pagão com inscrições secretas dos primitivos cristãos.

                                                                     Retrato de Carlos Magno,
                                                                     feito pelo pintor
                                                                     renscentista Albrecht
                      AMOR ÀS ARMAS                                  Dürer


                          Acima de todos os outros bens, os bárbaros entesouravam seus utensílios de guerra,
                         atribuindo-lhes freqüentemente poderes sobrenaturais. Muitas lendas falam de espadas
                      possuídas pelo demônio, ou atuando como agentes dos deuses. As armas e aprestos de guerra
                            que vemos aqui - um magnífico elmo de aço guarnecido de bronze e duas espadas
                         ornamentadas -pertenciam aos vikings; os saxões preferiam uma adaga de dois gumes
                                               chamada seax e os francos usavam machados.
                         A competência no uso das armas não era o único fator que fazia das tribos setentrionais
                      adversárias tão terríveis. Sua ferocidade e sua tática de atacar e fugir confundiam os romanos,
                        que estavam habituados a batalhas campais em formações organizadas. Sidônio, bispo de
                      Auvergne no século V, relatou que os lanceiros francos “aproximavam-se tão rapidamente que
                                         pareciam voar com mais velocidade do que seus dardos”.

                                  Textos de Gerald Simons. Os Bárbaros na Europa. História Universal Life.
                                                       José Olympio Editora.

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Formação do Feudalismo

  • 1. A Formação do Feudalismo "O mundo contemplado pelos homens do século VII é completamente diverso daquele que haviam tido sob os olhos dos homens dos séculos III ou IV: não mais existe o Império Romano, salvo no Oriente, e sob uma forma que não é latina; novas nações o invadiram, encontrando-se, elas mesmas ameaçadas por outros povos novos mais ferozes e mais estranhos ainda; línguas, leis, hábitos novos se impuseram. Os deuses morreram, mortos pelo Deus único, cujos mandamentos impõem uma regra de vida tão nova que daí em diante o mundo terreno passará para segundo plano." Lot, Ferdinand, in. História Geral. Claudio Vicentino. Editora Scipione. pág. 114. N osso estudo começa com as origens do modo de produção feudal, que teve seu apogeu no século VIII da Idade Mé- dia. Para mergulhar de corpo e alma nesse maravilho- so período da história, faremos inicialmente um breve "replay" dos momentos finais do Império Romano, pois na sua destruição se forjaram, desde o século III, os indícios da Ordem Feudal. Com efeito, os romanos consolidaram nos sé- culos I e II da Era Cristã um império de grandes di- mensões. No auge da expansão efetivaram um Estado de âmbito mundial, transformando o mar Mediterrâ- neo num autêntico lago romano. Os historiadores cha- maram essa época de Pax Romana, que corresponde Da mesma forma foi necessário aumentar o efe- ao maior período de estabilidade e manutenção da or- Império tivo militar para garantir a estabilidade das fronteiras e Romano - dem imperial. Nesse gigantesco império uma eficiente manter a ordem interna. O problema é que os romanos Expansão dos rede de estradas permitia a circulação de mercadorias, não conseguiriam sustentar financeiramente, a imensa séculos I e II da ativando o comércio que girava em torno da majesto- Era Cristã. máquina burocrática e militar que até então, garantira a período da Pax sa Roma. No auge da Pax Romana, a cidade chegou a unidade imperial. Romana fantástica marca de O exagerado número de funcionários e solda- hum milhão de habitan- dos drenava recursos do Estado acarretando a sangria tes. Por tudo isso, era dos cofres públicos penalizando principalmente, a po- impossível imaginar a pulação mais carente. A partir do século III, o exército destruição do Império tornou-se um agente desagregador devido as lutas in- que se tornara o dono ternas e a disputa pelo poder. Na gravura da do mundo. esquerda, Contudo, o por- comandante e legionários te gigantesco do Impé- inspecionam o rio exigiu a formação fantástico Muro de uma burocracia nu- - ANARQUIA MILITAR de Adriano, merosa com a finalida- fortificação de - CRISE DO ESCRAVISMO 120 quilômetros , de de gerenciar a má- construída no - CRESCIMENTO DO CRISTIANISMO quina administrativa. norte da - CRISE ECONÔMICA Inglaterra
  • 2. Para se ter uma idéia, no século IV o império teve quase 90 imperadores, todos de origem militar. Em pouco tempo, Roma A Formação do Feudalismo que havia sido o centro econômi- co e político do poderoso Impé- rio, transformou-se numa carica- tura de cidade. Nas regiões mais próximas, grandes latifúndios buscaram alternativas para evitar o colapso total. Foi assim que apa- receram propriedades com carac- terísticas de produção para con- sumo próprio. Eram as villas que ensejavam características econô- micas similares aos feudos medi- evais. De outro lado, o fim das conquistas gerou o en- caram o Ocidente, comandados por Átila. Durante a carecimento da mão-de-obra escrava. O alto custo de invasão Átila deixou um rastro de destruição em vári- aquisição do escravo, minou a escravidão como alicer- as cidades. ce de exploração. A partir do século III a escravidão Os hunos eram guerreiros excepcionais, pre- No mapa acima foi lentamente substituída pelo colonato aonde o cam- parados para qualquer tipo de combate. Montavam pe- você observa o ponês dividia a produção com o proprietário da terra e quenos cavalos que eram muito mais velozes que os roteiro das não era propriedade de um senhor. cavalos convencionais. invasões germânicas, que No aspecto econômico, o comércio entre as vá- Centenas de pessoas fugiram das cidades mi- arrasaram a rias províncias foi substituído por uma estrutura mais grando para o campo em busca de proteção, acentu- parte ocidental localizada, e o trabalho escravo fonte de sustento e ri- ando a ruralização que já existia de forma tímida, an- do império queza, foi permutado pelo colonato, que pode ser visto tes da chegada dos hunos. Depois de inúmeras vitórias como esboço do trabalho servil. Por um lado, termina- os hunos marcharam de volta para o Oriente sem efe- va a sociedade baseada no escravismo, por outro, deli- tivar as conquistas. Para isso contribuiu a morte de neavam-se os elementos do modo de produção feudal. Átila, diluindo a força canalizada no carisma desse ex- cepcional guerreiro. OS HUNOS ATACAM O OCIDENTE. Depois dos hunos, a porta que já estava aberta, ficou escancarada, per- mitindo que os germanos se estabele- Quanto mais o Império se enfraquecia, mais se cessem em pequenos reinos, fragmen- abria a porta aos povos que viviam além das fronteiras. tando o lado ocidental do Império. O novo Ali estavam os povos germanos, ou bárbaros - expres- mundo que se formou, resultou da fusão de elementos são pejorativa usada pelos romanos. Borgúndios, da cultura romana e das contribuições trazidas pelos visigodos, godos, ostrogodos, alamanos, francos e ou- povos germanos. A essa nova época dá-se o nome de tros, gradativamente se incorporaram ao Império. A Ordem Feudal. migração inicial se tornou invasão quando os hunos ata- O CRISTIANISMO OS PIORES PROBLEMAS ECONÔMICOS DE De inicio os cristãos eram perseguidos e o cul- ROMA DERIVAVAM-SE DO SEU SISTEMA ESCRAVISTA to era proibido. Entretanto, a partir da crise do século E DA ESCASSEZ DE MÃO-DE-OBRA III o Cristianismo foi se impondo como religião pre- dominante, encontrando em Roma o terreno fértil para O Tempo da História 27aC Séculos I e II Século III 395 450 476 Início do Pax Romana Declínio do Divisão do Átila Ataque Império - Império Império a Roma Apogeu e maior Romano Ataque Otávio expansão do Invasões dos Hunos império dos povos germanos
  • 3. Contudo, a tentativa de aprovei- tar a estrutura jurídica e política dos ro- manos, normalmente não progrediu, porque os germanos, com freqüência, se A Formação do Feudalismo envolviam em guerras e conflitos inter- nos. A maioria dos reinos germanos teve efêmera duração. Esses povos nômades tinham grande tradição guerreira. Não conhe- ciam a noção de Estado, da maneira como os romanos haviam organizado. A escolha do rei e chefe guerreiro se Na gravura acima observa-se camponeses fazia em combates ou torneios milita- trabalhando no sistema de colonato que res. A lealdade dos guerreiros com o rei se efetuava lentamente foi substituindo a excravidão. numa relação de natureza pessoal e não se baseava em leis escritas. A decadente estrutura política romana foi substituída por um mundo fragmentado e dividido onde disseminar a doutrina que pregava a igualdade dos ho- se forjaram as características políticas da Ordem Feu- mens perante a Deus e a vida eterna do Paraíso. Até dal. então, a religião romana se baseava no culto politeísta No aspecto jurídico também houve grandes com deuses humanizados, clonados da religião grega. mudanças. Os romanos elaboraram um sistema de leis O aspecto prático e material da religião romana não muito eficiente que inovara o conceito de cidadania e o preenchia a carência espiritual da população sofrida e claro direito de propriedade. Os germanos, ao contrá- miserável. rio, baseavam suas leis nos costumes tribais - direito Com a expansão da crise ficou evidente que o consuetudinário - transmitidos de geração a geração. Cristianismo e a Igreja Católica poderiam se tornar importantes aliados do Estado Romano. Em 313, o imperador Constantino assinou o Édito de Milão, libe- rando o culto aos cristãos. Em seguida o Cristianismo se tornou religião oficial, após o Édito de Tessalônica do imperador Teodósio, em 374. Daí em diante, a conversão defini- tiva de milhares de romanos ao Cristianismo, permitiu a Igreja Católica resistir como religião dominante do mundo ocidental. AS MUDANÇAS POLÍTICAS E ECONÔMICAS Os germanos que chegaram no Ocidente pro- curaram no início preservar as estruturas políticas ro- manas. Na Alta Idade Média surgiram vários reinos na Europa Ocidental e norte da África. O mapa acima mostra os reinos germânicos da "Na história da humanidade há períodos em que o homem não Alta Idade Média. mais compreende seus ancestrais, seu pai, a si mesmo. Parece ter havido Todos, à exceção dos Francos, uma espécie de ruptura de continuidade psicológica... O mundo tiveram curta contemplado pelos homens do século VII é completamente diverso daquele duração que haviam tido sob os olhos os homens do século III ou IV: não mais existia o império romano, salvo apenas no oriente, e sob uma forma que não era latina; nações novas o invadiram, encontrando-se elas mesmas, ameaçadas por outros povos novos mais ferozes e mais estranhos ainda; línguas, leis, hábitos novos se impuseram acima de tudo, renovou-se o mundo interior. O homem afastou com indiferença ou aversão, objetos acarinhados pelos seus mais próximos ancestrais; não mais compreendia as letras antigas porque não mais as amava; a própria forma de transmissão, a língua escapava-lhe; a encantadora arte da plástica cessou para agradar a sua vista... Entre o homem dos novos tempos e o homem dos tempos antigos, não mais haverá um pensamento em comum". In. Lot, F. Le Fin de Monde Antique. História das Sociedades. Volume 1. Aquino e outros. Ao Livro Técnico Editora.Pág. 290.
  • 4. Não havia tribunais no estilo convencional dos latinos e um germano só poderia ser julgado pelas leis costumeiras de sua própria tribo. Na medida que as terras foram adquirindo características de auto-sufici- Anotações A Formação do Feudalismo ência foram adotando também, as leis costumeiras e os hábitos jurídicos germanos. As constantes invasões desestruturaram as cidades. A vida no campo surgiu como opção, evidenciando a necessidade das pessoas terem algum tipo de proteção. Em muitas regiões no- bres construíram fortificações mais seguras que as desprotegidas cidades. A cidade de Tréves, no norte da Gália, foi uma das cidades mais prósperas do Império Romano. Depois das Do ponto de vista econômico as cidades perde- invasões boa parte ram a força, desde o fim do Império Romano. A da população ruralização acentuada é marca da Alta Idade Média. migrou para as zonas rurais. As cidades reduziram-se a pequenos entrepostos reli- giosos e só algumas mantiveram um razoável nível co- mercial. Dentre essas se destacam, Veneza e Gênova, na Itália devido ao ativo comércio de importação de sal, usado na conservação dos alimentos. Os reinos germanos foram pulverizados e a mai- oria desapareceu com o decorrer do tempo, não duran- do mais do que meio século. Muitas terras foram apro- priadas por nobres de origem germana ou romana. Os nobres e senhores feudais mantiveram um antigo cos- tume germânico de fidelidade pessoal chamado comitatus, que pode ser definido como compromisso de honra e lealdade entre dois nobres. Com o tempo o comitatus foi se modificando originando as relações de suserania e vassalagem. “O PERÍODO DE FORMAÇÃO DO FEUDALISMO TEVE EFEITOS DEVASTADORES SOBRE A VIDA URBANA (...) EM GERAL AS CIDADES FORAM ABANDONADAS E, QUANDO NÃO REALMENTE DESTRUÍDAS PELO FOGO, FICARAM COMPLETAMENTE DESABITADAS”. Maurice Dobb. A Evo- lução do capitalismo. p. 97
  • 5. Para você saber mais ? A Formação do Feudalismo O Crepúsculo de Roma O Crepúsculo de Roma Enquanto os bárbaros se multiplicavam e se tornavam cada vez mais agressivos, o Ocidente romano entrava em seu último período de declínio. A decadência era visível em todos os aspectos da vida romana: na estéril pomposidade de sua arte e de sua poesia, nos espetáculos públicos chocantes, numa imoralidade crescente que nem mesmo o cristianismo conseguia deter. A economia do Ocidente romano, já solapada pela queda da produção nas grandes propriedades romanas e por um desequilíbrio de mercado que sugava o ouro para o Oriente estava em falência. Em alguns distritos o dinheiro era tão escasso que as transações eram feitas por permuta e até mesmo as taxas e salários eram muitas, vezes pagos em gêneros. Além do mais os impostos eram exorbitantes, exigindo às vezes mais que dinheiro e gado. O fazendeiro podia pagar um terrível preço, vendendo sua liberdade. Freqüentemente incapacitado de pagar os impostos devidos, ele escapava às duras penas da lei transferindo suas terras para algum grande proprietário e trabalhando como arrendatário. Outros deixavam seus lares e iam viver sob a tutela de reis bárbaros, ou juntavam-se a bandos de salteadores. Até mesmo os coletores de impostos (que o historiador romano Sálvio descreve como sendo piores que os inimigos") eram vítimas do sistema. A lei exigia que entregassem ao governo uma quantia fixa em dinheiro; se não o tivessem, eram obrigados a pagar de seu próprio bolso. Não podiam abandonar seu emprego, pois herdavam, por lei, o posto de servidores do Estado. Desesperados, alguns coletores tornaram-se ávidos funcionários em uma burocracia de tal modo enorme e corrupta que certo cidadão romano comentou: Os que vivem às custas dos fundos públicos são mais numerosos que aqueles que os provêm". O Império Romano fracassava exatamente no ponto em que dera sua mais nobre contribuição: o governo. O Estado romano e seus orgãos administrativos haviam deixado de servir a suas finalidades essenciais, a manutenção da ordem e da justiça. O povo romano não tinha mais forças para lutar contra a situação. Enquanto multidões desmoralizadas vagavam desocupadas pelas ruas e os ricos aristocratas davam festas em suas vilas, mercenários bárbaros lutavam contra outros bárbaros para preservar o Império para os romanos. Nos primeiros anos do século V uma série de acontecimentos transformou o declínio de Roma em queda vertiginosa. No auge da crise estava um homem que resumiu, em sua pessoa, a grande incoerência dessa época. Seu nome era Estilicão. Vândalo de nascimento e general romano por profissão, ele comandava o exército da Roma Ocidental e durante uma década havia sido o esteio militar do Império do Ocidente. Dividindo com habilidade suas reduzidas tropas, enviando legiões para deter invasões onde quer que ocorressem, Estilicão conseguira afastar a derrota final. Em sinal de gratidão os romanos haviam erigido no Após a queda do Forum de Roma urna bela estátua em sua homenagem. Uma inscrição floreada louvava sua bravura e Império Romano, fidelidade, ressaltando "o extraordinário amor" que o povo de Roma sentia por ele. nasceu na Europa a era da Porém nem mesmo os esforços de Estilicão puderam adiar o inevitável. Os visigodos, desviando sua cavalaria, atenção dos Bálcãs, vinham atacando freqüentemente a própria Itália. Para defender o coração da terra quando senhores romana , Estilicão viu-se forçado a convocar as tropas acampadas na fronteira do Reno, deixando ricos o suficiente desprotegido todo o norte da Gália, que passou a contar apenas com as defesas dos imprevisíveis aliados para assegurar francos. Na última noite do ano de 406 as tribos germânicas, lideradas pelos vândalos, atravessaram o Reno cavalos, armas e congelado. A seguir, toda a fronteira romana foi invadida e cenas de violência e de destruição tornaram-se armaduras comuns na Gália romana. "Vejam com que rapidez a morte cai sobre o mundo", escreveu o poeta romano prestaram Orientius, "e quantas pessoas foram atingidas pela violência da guerra. vassalagem aos reis germanos. Alguns jaziam para servirem de alimento aos cães; outros foram mortos pelas chamas que varreram suas casas. Nas aldeias e nas fazendas, nos campos e nos distritos, em cada estrada havia morte, dor, carnificina, fogo e lamentações. Toda a Gália fumegava em uma grande pira funerária". In Gerald Simons. Os Bárbaros na Europa. História Universal. Time-Life. Liv. José Olympio Editora. Pág. 20
  • 6. A Formação do Feudalismo A Formação do Feudalismo Os Bárbaros O ESPIRITO BARBARO As ondas de tribos guerreiras que varreram a Europa a partir do século IV deram o golpe de misericórdia no decadente Império Romano e mantiveram o continente em constante tumulto durante mais de quinhentos anos. Ao mesmo tempo, entretanto, os invasores infundiram no Ocidente um vigor que lentamente se mesclaria com as antigas tradições para formar uma nova Europa. Muitos aspectos do espírito desses povos - vikings, vândalos, gôdos, saxões -refletem-se em seus artefatos primitivos, mas vigorosos, tais como o medalhão de bronze do alto da página, onde vemos um guerreiro a cavalo investindo com sua lança contra algum inimigo. Este objeto leva a marca inconfundível dos bárbaros, que deram à civilização ocidental uma nova visão da guerra e das armas, da natureza e da religião, e do espírito humano. FERRENHO INDIVIDUALISMO E TEMOR DO DESCONHECIDO Para os bárbaros, assim como para a maioria dos povos primitivos, a vida era uma constante luta pela sobrevivência - contra o tempestuoso ambiente setentrional, contra os animais selvagens, contra as tribos vizinhas. Essa vida gerava homens de obstinada independência, como o anônimo guerreiro viking que vemos à direita, com seu feroz perfil esculpido em chifre de alce. Gerava também homens de imaginação fértil. Na tentativa de explicar ou influenciar as forças que modelavam suas vidas, os povos bárbaros inventaram mitos e lendas, cultos e deuses. Muitas vezes representavam esses deuses à sua semelhança, como a divindade celta Cerramos, cujo rosto barbudo e poderoso. Outras e mais recentes encarnações do sobrenatural exprimiam o senso místico dos bárbaros: a estatueta de volumosa cabeça, no canto direito, combina as feições desagradáveis de um ídolo pagão com inscrições secretas dos primitivos cristãos. Retrato de Carlos Magno, feito pelo pintor renscentista Albrecht AMOR ÀS ARMAS Dürer Acima de todos os outros bens, os bárbaros entesouravam seus utensílios de guerra, atribuindo-lhes freqüentemente poderes sobrenaturais. Muitas lendas falam de espadas possuídas pelo demônio, ou atuando como agentes dos deuses. As armas e aprestos de guerra que vemos aqui - um magnífico elmo de aço guarnecido de bronze e duas espadas ornamentadas -pertenciam aos vikings; os saxões preferiam uma adaga de dois gumes chamada seax e os francos usavam machados. A competência no uso das armas não era o único fator que fazia das tribos setentrionais adversárias tão terríveis. Sua ferocidade e sua tática de atacar e fugir confundiam os romanos, que estavam habituados a batalhas campais em formações organizadas. Sidônio, bispo de Auvergne no século V, relatou que os lanceiros francos “aproximavam-se tão rapidamente que pareciam voar com mais velocidade do que seus dardos”. Textos de Gerald Simons. Os Bárbaros na Europa. História Universal Life. José Olympio Editora.