O documento descreve a queda do Império Romano no século VII e a formação do feudalismo. O Império entrou em colapso devido a problemas econômicos como a crise do sistema escravista, o alto custo militar e invasões de povos germânicos e hunos. Isso levou à fragmentação do Império e ao surgimento de pequenos reinos feudais na Europa Ocidental.
Questões de fixação de conteúdos idade modernaColegio GGE
Questões de fixação de conteúdo
Renascimento, Reforma, Absolutismo, Revolução Inglesa, Francesa, Iluminismo, Era Napoleônica, Grandes Navegações, Mercantilismo
Texto sobre a Europa Napoleônica que analisa o processo de expansão e domínio do continente e as mudanças decorrentes do período até a época do Congresso de Viena.
Texto sobre a Independência do Brasil que explica o processo de fuga da Corte Portuguesa para o Brasil e as mudanças processadas culminando com a independência.
Livro de conscientização acerca do autismo, através de uma experiência pessoal.
O autismo não limita as pessoas. Mas o preconceito sim, ele limita a forma com que as vemos e o que achamos que elas são capazes. - Letícia Butterfield.
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Formação do Feudalismo
1. A Formação do
Feudalismo
"O mundo contemplado pelos homens do século VII é completamente diverso daquele que
haviam tido sob os olhos dos homens dos séculos III ou IV: não mais existe o Império
Romano, salvo no Oriente, e sob uma forma que não é latina; novas nações o invadiram,
encontrando-se, elas mesmas ameaçadas por outros povos novos mais ferozes e mais
estranhos ainda; línguas, leis, hábitos novos se impuseram. Os deuses morreram, mortos
pelo Deus único, cujos mandamentos impõem uma regra de vida tão nova que daí em diante
o mundo terreno passará para segundo plano."
Lot, Ferdinand, in. História Geral. Claudio Vicentino. Editora Scipione. pág. 114.
N
osso estudo começa com as origens do
modo de produção feudal, que teve seu
apogeu no século VIII da Idade Mé-
dia. Para mergulhar de corpo e alma nesse maravilho-
so período da história, faremos inicialmente um breve
"replay" dos momentos finais do Império Romano, pois
na sua destruição se forjaram, desde o século III, os
indícios da Ordem Feudal.
Com efeito, os romanos consolidaram nos sé-
culos I e II da Era Cristã um império de grandes di-
mensões. No auge da expansão efetivaram um Estado
de âmbito mundial, transformando o mar Mediterrâ-
neo num autêntico lago romano. Os historiadores cha-
maram essa época de Pax Romana, que corresponde Da mesma forma foi necessário aumentar o efe-
ao maior período de estabilidade e manutenção da or- Império
tivo militar para garantir a estabilidade das fronteiras e Romano -
dem imperial. Nesse gigantesco império uma eficiente manter a ordem interna. O problema é que os romanos Expansão dos
rede de estradas permitia a circulação de mercadorias, não conseguiriam sustentar financeiramente, a imensa séculos I e II da
ativando o comércio que girava em torno da majesto- Era Cristã.
máquina burocrática e militar que até então, garantira a período da Pax
sa Roma. No auge da Pax Romana, a cidade chegou a unidade imperial. Romana
fantástica marca de O exagerado número de funcionários e solda-
hum milhão de habitan- dos drenava recursos do Estado acarretando a sangria
tes. Por tudo isso, era dos cofres públicos penalizando principalmente, a po-
impossível imaginar a pulação mais carente. A partir do século III, o exército
destruição do Império tornou-se um agente desagregador devido as lutas in-
que se tornara o dono ternas e a disputa pelo poder. Na gravura da
do mundo. esquerda,
Contudo, o por- comandante e
legionários
te gigantesco do Impé- inspecionam o
rio exigiu a formação fantástico Muro
de uma burocracia nu- - ANARQUIA MILITAR de Adriano,
merosa com a finalida- fortificação de
- CRISE DO ESCRAVISMO
120 quilômetros ,
de de gerenciar a má- construída no
- CRESCIMENTO DO CRISTIANISMO
quina administrativa. norte da
- CRISE ECONÔMICA Inglaterra
2. Para se ter uma idéia, no
século IV o império teve quase
90 imperadores, todos de origem
militar. Em pouco tempo, Roma
A Formação do Feudalismo
que havia sido o centro econômi-
co e político do poderoso Impé-
rio, transformou-se numa carica-
tura de cidade. Nas regiões mais
próximas, grandes latifúndios
buscaram alternativas para evitar
o colapso total. Foi assim que apa-
receram propriedades com carac-
terísticas de produção para con-
sumo próprio. Eram as villas que
ensejavam características econô-
micas similares aos feudos medi-
evais.
De outro lado, o fim das conquistas gerou o en- caram o Ocidente, comandados por Átila. Durante a
carecimento da mão-de-obra escrava. O alto custo de invasão Átila deixou um rastro de destruição em vári-
aquisição do escravo, minou a escravidão como alicer- as cidades.
ce de exploração. A partir do século III a escravidão Os hunos eram guerreiros excepcionais, pre-
No mapa acima foi lentamente substituída pelo colonato aonde o cam- parados para qualquer tipo de combate. Montavam pe-
você observa o ponês dividia a produção com o proprietário da terra e quenos cavalos que eram muito mais velozes que os
roteiro das
não era propriedade de um senhor. cavalos convencionais.
invasões
germânicas, que No aspecto econômico, o comércio entre as vá- Centenas de pessoas fugiram das cidades mi-
arrasaram a rias províncias foi substituído por uma estrutura mais grando para o campo em busca de proteção, acentu-
parte ocidental localizada, e o trabalho escravo fonte de sustento e ri- ando a ruralização que já existia de forma tímida, an-
do império
queza, foi permutado pelo colonato, que pode ser visto tes da chegada dos hunos. Depois de inúmeras vitórias
como esboço do trabalho servil. Por um lado, termina- os hunos marcharam de volta para o Oriente sem efe-
va a sociedade baseada no escravismo, por outro, deli- tivar as conquistas. Para isso contribuiu a morte de
neavam-se os elementos do modo de produção feudal. Átila, diluindo a força canalizada no carisma desse ex-
cepcional guerreiro.
OS HUNOS ATACAM O OCIDENTE. Depois dos hunos, a porta que
já estava aberta, ficou escancarada, per-
mitindo que os germanos se estabele-
Quanto mais o Império se enfraquecia, mais se cessem em pequenos reinos, fragmen-
abria a porta aos povos que viviam além das fronteiras. tando o lado ocidental do Império. O novo
Ali estavam os povos germanos, ou bárbaros - expres- mundo que se formou, resultou da fusão de elementos
são pejorativa usada pelos romanos. Borgúndios, da cultura romana e das contribuições trazidas pelos
visigodos, godos, ostrogodos, alamanos, francos e ou- povos germanos. A essa nova época dá-se o nome de
tros, gradativamente se incorporaram ao Império. A Ordem Feudal.
migração inicial se tornou invasão quando os hunos ata-
O CRISTIANISMO
OS PIORES PROBLEMAS ECONÔMICOS DE De inicio os cristãos eram perseguidos e o cul-
ROMA DERIVAVAM-SE DO SEU SISTEMA ESCRAVISTA to era proibido. Entretanto, a partir da crise do século
E DA ESCASSEZ DE MÃO-DE-OBRA III o Cristianismo foi se impondo como religião pre-
dominante, encontrando em Roma o terreno fértil para
O Tempo da História
27aC Séculos I e II Século III 395 450 476
Início do Pax Romana Declínio do Divisão do Átila Ataque
Império - Império Império a Roma
Apogeu e maior Romano Ataque
Otávio expansão do Invasões dos Hunos
império dos povos
germanos
3. Contudo, a tentativa de aprovei-
tar a estrutura jurídica e política dos ro-
manos, normalmente não progrediu,
porque os germanos, com freqüência, se
A Formação do Feudalismo
envolviam em guerras e conflitos inter-
nos. A maioria dos reinos germanos teve
efêmera duração.
Esses povos nômades tinham
grande tradição guerreira. Não conhe-
ciam a noção de Estado, da maneira
como os romanos haviam organizado.
A escolha do rei e chefe guerreiro se
Na gravura acima observa-se camponeses fazia em combates ou torneios milita-
trabalhando no sistema de colonato que res. A lealdade dos guerreiros com o rei se efetuava
lentamente foi substituindo a excravidão. numa relação de natureza pessoal e não se baseava em
leis escritas. A decadente estrutura política romana foi
substituída por um mundo fragmentado e dividido onde
disseminar a doutrina que pregava a igualdade dos ho- se forjaram as características políticas da Ordem Feu-
mens perante a Deus e a vida eterna do Paraíso. Até dal.
então, a religião romana se baseava no culto politeísta No aspecto jurídico também houve grandes
com deuses humanizados, clonados da religião grega. mudanças. Os romanos elaboraram um sistema de leis
O aspecto prático e material da religião romana não muito eficiente que inovara o conceito de cidadania e o
preenchia a carência espiritual da população sofrida e claro direito de propriedade. Os germanos, ao contrá-
miserável. rio, baseavam suas leis nos costumes tribais - direito
Com a expansão da crise ficou evidente que o consuetudinário - transmitidos de geração a geração.
Cristianismo e a Igreja Católica poderiam se tornar
importantes aliados do Estado Romano. Em 313, o
imperador Constantino assinou o Édito de Milão, libe-
rando o culto aos cristãos.
Em seguida o Cristianismo se tornou religião
oficial, após o Édito de Tessalônica do imperador
Teodósio, em 374. Daí em diante, a conversão defini-
tiva de milhares de romanos ao Cristianismo, permitiu
a Igreja Católica resistir como religião dominante do
mundo ocidental.
AS MUDANÇAS POLÍTICAS E
ECONÔMICAS
Os germanos que chegaram no Ocidente pro-
curaram no início preservar as estruturas políticas ro-
manas. Na Alta Idade Média surgiram vários reinos na
Europa Ocidental e norte da África. O mapa acima
mostra os reinos
germânicos da
"Na história da humanidade há períodos em que o homem não Alta Idade Média.
mais compreende seus ancestrais, seu pai, a si mesmo. Parece ter havido Todos, à exceção
dos Francos,
uma espécie de ruptura de continuidade psicológica... O mundo
tiveram curta
contemplado pelos homens do século VII é completamente diverso daquele duração
que haviam tido sob os olhos os homens do século III ou IV: não mais
existia o império romano, salvo apenas no oriente, e sob uma forma que
não era latina; nações novas o invadiram, encontrando-se elas mesmas,
ameaçadas por outros povos novos mais ferozes e mais estranhos ainda;
línguas, leis, hábitos novos se impuseram acima de tudo, renovou-se o mundo interior.
O homem afastou com indiferença ou aversão, objetos acarinhados pelos seus mais
próximos ancestrais; não mais compreendia as letras antigas porque não mais as amava; a
própria forma de transmissão, a língua escapava-lhe; a encantadora arte da plástica cessou para
agradar a sua vista... Entre o homem dos novos tempos e o homem dos tempos antigos, não
mais haverá um pensamento em comum". In. Lot, F. Le Fin de Monde Antique. História das
Sociedades. Volume 1. Aquino e outros. Ao Livro Técnico Editora.Pág. 290.
4. Não havia tribunais no estilo convencional dos
latinos e um germano só poderia ser julgado pelas leis
costumeiras de sua própria tribo. Na medida que as
terras foram adquirindo características de auto-sufici- Anotações
A Formação do Feudalismo
ência foram adotando também, as leis costumeiras e os
hábitos jurídicos germanos. As constantes invasões
desestruturaram as cidades. A vida no campo surgiu
como opção, evidenciando a necessidade das pessoas
terem algum tipo de proteção. Em muitas regiões no-
bres construíram fortificações mais seguras que as
desprotegidas cidades.
A cidade de Tréves,
no norte da Gália,
foi uma das
cidades mais
prósperas do
Império Romano.
Depois das Do ponto de vista econômico as cidades perde-
invasões boa parte ram a força, desde o fim do Império Romano. A
da população ruralização acentuada é marca da Alta Idade Média.
migrou para as
zonas rurais.
As cidades reduziram-se a pequenos entrepostos reli-
giosos e só algumas mantiveram um razoável nível co-
mercial. Dentre essas se destacam, Veneza e Gênova,
na Itália devido ao ativo comércio de importação de
sal, usado na conservação dos alimentos.
Os reinos germanos foram pulverizados e a mai-
oria desapareceu com o decorrer do tempo, não duran-
do mais do que meio século. Muitas terras foram apro-
priadas por nobres de origem germana ou romana. Os
nobres e senhores feudais mantiveram um antigo cos-
tume germânico de fidelidade pessoal chamado
comitatus, que pode ser definido como compromisso
de honra e lealdade entre dois nobres. Com o tempo o
comitatus foi se modificando originando as relações de
suserania e vassalagem.
“O PERÍODO DE FORMAÇÃO DO FEUDALISMO TEVE
EFEITOS DEVASTADORES SOBRE A VIDA URBANA (...) EM
GERAL AS CIDADES FORAM ABANDONADAS E, QUANDO
NÃO REALMENTE DESTRUÍDAS PELO FOGO, FICARAM
COMPLETAMENTE DESABITADAS”. Maurice Dobb. A Evo-
lução do capitalismo. p. 97
5. Para você saber mais
?
A Formação do Feudalismo
O Crepúsculo de Roma
O Crepúsculo de Roma
Enquanto os bárbaros se multiplicavam e se tornavam cada vez mais agressivos, o Ocidente romano
entrava em seu último período de declínio. A decadência era visível em todos os aspectos da vida romana:
na estéril pomposidade de sua arte e de sua poesia, nos espetáculos públicos chocantes, numa imoralidade
crescente que nem mesmo o cristianismo conseguia deter. A economia do Ocidente romano, já solapada
pela queda da produção nas grandes propriedades romanas e por um desequilíbrio de mercado que sugava
o ouro para o Oriente estava em falência. Em alguns distritos o dinheiro era tão escasso que as transações
eram feitas por permuta e até mesmo as taxas e salários eram muitas, vezes pagos em gêneros.
Além do mais os impostos eram exorbitantes, exigindo às vezes mais que dinheiro e gado. O
fazendeiro podia pagar um terrível preço, vendendo sua liberdade. Freqüentemente incapacitado de pagar
os impostos devidos, ele escapava às duras penas da lei transferindo
suas terras para algum grande proprietário e trabalhando como
arrendatário. Outros deixavam seus lares e iam viver sob a tutela de reis
bárbaros, ou juntavam-se a bandos de salteadores. Até mesmo os
coletores de impostos (que o historiador romano Sálvio descreve como
sendo piores que os inimigos") eram vítimas do sistema. A lei exigia que
entregassem ao governo uma quantia fixa em dinheiro; se não o
tivessem, eram obrigados a pagar de seu próprio bolso. Não podiam
abandonar seu emprego, pois herdavam, por lei, o posto de servidores
do Estado. Desesperados, alguns coletores tornaram-se ávidos
funcionários em uma burocracia de tal modo enorme e corrupta que
certo cidadão romano comentou: Os que vivem às custas dos fundos
públicos são mais numerosos que aqueles que os provêm".
O Império Romano fracassava exatamente no ponto em que dera
sua mais nobre contribuição: o governo. O Estado romano e seus
orgãos administrativos haviam deixado de servir a suas finalidades
essenciais, a manutenção da ordem e da justiça. O povo romano não
tinha mais forças para lutar contra a situação. Enquanto multidões
desmoralizadas vagavam desocupadas pelas ruas e os ricos
aristocratas davam festas em suas vilas, mercenários bárbaros lutavam
contra outros bárbaros para preservar o Império para os romanos.
Nos primeiros anos do século V uma série de acontecimentos
transformou o declínio de Roma em queda vertiginosa. No auge da crise
estava um homem que resumiu, em sua pessoa, a grande incoerência
dessa época. Seu nome era Estilicão. Vândalo de nascimento e general
romano por profissão, ele comandava o exército da Roma Ocidental e
durante uma década havia sido o esteio militar do Império do Ocidente.
Dividindo com habilidade suas reduzidas tropas, enviando legiões para
deter invasões onde quer que ocorressem, Estilicão conseguira afastar
a derrota final. Em sinal de gratidão os romanos haviam erigido no Após a queda do
Forum de Roma urna bela estátua em sua homenagem. Uma inscrição floreada louvava sua bravura e Império Romano,
fidelidade, ressaltando "o extraordinário amor" que o povo de Roma sentia por ele. nasceu na
Europa a era da
Porém nem mesmo os esforços de Estilicão puderam adiar o inevitável. Os visigodos, desviando sua
cavalaria,
atenção dos Bálcãs, vinham atacando freqüentemente a própria Itália. Para defender o coração da terra quando senhores
romana , Estilicão viu-se forçado a convocar as tropas acampadas na fronteira do Reno, deixando ricos o suficiente
desprotegido todo o norte da Gália, que passou a contar apenas com as defesas dos imprevisíveis aliados para assegurar
francos. Na última noite do ano de 406 as tribos germânicas, lideradas pelos vândalos, atravessaram o Reno cavalos, armas e
congelado. A seguir, toda a fronteira romana foi invadida e cenas de violência e de destruição tornaram-se armaduras
comuns na Gália romana. "Vejam com que rapidez a morte cai sobre o mundo", escreveu o poeta romano prestaram
Orientius, "e quantas pessoas foram atingidas pela violência da guerra. vassalagem aos
reis germanos.
Alguns jaziam para servirem de alimento aos cães; outros foram mortos pelas chamas que varreram
suas casas. Nas aldeias e nas fazendas, nos campos e nos distritos, em cada estrada havia morte, dor,
carnificina, fogo e lamentações. Toda a Gália fumegava em uma grande pira funerária". In Gerald Simons.
Os Bárbaros na Europa. História Universal. Time-Life. Liv. José Olympio Editora. Pág. 20
6. A Formação do Feudalismo
A Formação do Feudalismo
Os Bárbaros
O ESPIRITO BARBARO
As ondas de tribos guerreiras que varreram a Europa a partir do século IV deram o
golpe de misericórdia no decadente Império Romano e mantiveram o continente em
constante tumulto durante mais de quinhentos anos. Ao mesmo tempo, entretanto, os
invasores infundiram no Ocidente um vigor que lentamente se mesclaria com as
antigas tradições para formar uma nova Europa. Muitos aspectos do espírito desses
povos - vikings, vândalos, gôdos, saxões -refletem-se em seus artefatos primitivos,
mas vigorosos, tais como o medalhão de bronze do alto da página, onde vemos um
guerreiro a cavalo investindo com sua lança contra algum inimigo. Este objeto leva a
marca inconfundível dos bárbaros, que deram à civilização ocidental uma nova visão
da guerra e das armas, da natureza e da religião, e do espírito humano.
FERRENHO INDIVIDUALISMO E TEMOR DO DESCONHECIDO
Para os bárbaros, assim como para a maioria dos povos primitivos, a vida
era uma constante luta pela sobrevivência - contra o tempestuoso
ambiente setentrional, contra os animais selvagens, contra as tribos
vizinhas. Essa vida gerava homens de obstinada independência, como o
anônimo guerreiro viking que vemos à direita, com seu feroz perfil
esculpido em chifre de alce.
Gerava também homens de imaginação fértil. Na tentativa de explicar ou
influenciar as forças que modelavam suas vidas, os povos bárbaros
inventaram mitos e lendas, cultos e deuses. Muitas vezes representavam
esses deuses à sua semelhança, como a divindade celta Cerramos, cujo
rosto barbudo e poderoso. Outras e mais recentes encarnações do
sobrenatural exprimiam o senso místico dos bárbaros: a estatueta de
volumosa cabeça, no canto direito, combina as feições desagradáveis de
um ídolo pagão com inscrições secretas dos primitivos cristãos.
Retrato de Carlos Magno,
feito pelo pintor
renscentista Albrecht
AMOR ÀS ARMAS Dürer
Acima de todos os outros bens, os bárbaros entesouravam seus utensílios de guerra,
atribuindo-lhes freqüentemente poderes sobrenaturais. Muitas lendas falam de espadas
possuídas pelo demônio, ou atuando como agentes dos deuses. As armas e aprestos de guerra
que vemos aqui - um magnífico elmo de aço guarnecido de bronze e duas espadas
ornamentadas -pertenciam aos vikings; os saxões preferiam uma adaga de dois gumes
chamada seax e os francos usavam machados.
A competência no uso das armas não era o único fator que fazia das tribos setentrionais
adversárias tão terríveis. Sua ferocidade e sua tática de atacar e fugir confundiam os romanos,
que estavam habituados a batalhas campais em formações organizadas. Sidônio, bispo de
Auvergne no século V, relatou que os lanceiros francos “aproximavam-se tão rapidamente que
pareciam voar com mais velocidade do que seus dardos”.
Textos de Gerald Simons. Os Bárbaros na Europa. História Universal Life.
José Olympio Editora.