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esde o desembarque de Cabral em 1500,
os portugueses vasculharam como pu
deram o território brasileiro atrás de re-
servas de metais preciosos. Muitos exploradores se
embrenharam no interior da colônia, iludidos em pistas
falsas e caminhos inúteis, Depois de muito quebrar a
cara, em 1640, exploradores bandeirantes encontra-
ram indícios de ouro, nas regiões ribeirinhas do in-
terior paulista. Na época da invasão holandesa os
bandeirantes vasculharam regiões, até então
inexploradas, chegando ao caminho dos rios que
nascem na região das Minas Gerais. Nas águas
dos rios estavam as pedras de ouro fornecendo a
pista que faltava para a grande descoberta.
Após a expulsão dos holandeses, os ban-
deirantes concentraram-se na busca do caminho das
reservas auríferas, esperando realizar o “sonho doura-
do” de Portugal. Entre 1674 e 1681, Fernão Dias Paes
comandou um grupo de exploradores que vasculharam
minuciosamente a enorme região do interior paulista,
até o sul de Minas Gerais. Embora não encontrassem
metais preciosos, conseguiram o domínio geográfico
da região que serviu de orientação nas incursões pos-
teriores.
Em 1684, os exploradores encontraram ouro na
região de Itaverava, nas Minas Gerais. De imediato, a
notícia provocou euforia e cobiça. Colônia e Metrópo-
le se mobilizaram para sugar o ouro das Minas Gerais.
Considerando as dificuldades da corte portuguesa, a
hora não poderia ser melhor, pois aliviava os efeitos
desastrosos da queda do açúcar. Já a colônia continua-
va a sina de sustentar a monarquia portuguesa, entre-
gando-lhe o que havia de melhor nas terras brasileiras.
Na Europa a escassez crônica de metais preciosos pos-
sibilitava, a quem tivesse reservas de ouro e prata, uma
grande vantagem em relação às outras nações. Dessa
vez, a história parecia estar do lado de Portugal.
“No anfiteatro das montanhas, os profetas do Aleijadinho monumentalizam a
paisagem. As cúpulas dos Passos e os cocares verdes das palmeiras são degraus da
arte do meu país onde ninguém mais subiu: Bíblia de pedra-sabão banhada com ouro
das Minas”
Oswald de Andrade.
Ociclodoouro
OS CAMINHOS DO OUROOS CAMINHOS DO OUROOS CAMINHOS DO OUROOS CAMINHOS DO OUROOS CAMINHOS DO OURO
A corrida do ouro provocou um alvoroço na
metrópole, gerando um êxodo de razoáveis propor-
ções, a ponto da monarquia adotar severas restrições
visando conter a migração para o Brasil. Na pressa
exploradores abriam inúmeros caminhos na mata, sul-
cando a região atrás das reservas de ouro. Gigantes-
cas extensões de terra foram queimadas, com o objeti-
vo de facilitar a prospecção do metal. O desmatamento
provocou danos irreparáveis no ecossistema, além de
expulsar várias tribos indígenas.
A região das Minas Gerais viu-se articulada
com o restante da colônia através de dois caminhos
que partiam de São Paulo e Parati (Rio de Janeiro). O
caminho para o Rio de Janeiro por ser menos aciden-
tado era mais utilizado pelos viajantes. O crescimento
da economia aurífera provocou, em meados do século
XVIII, a mudança do centro administrativo de Salva-
dorparaoRiodeJaneiro.Deslocoudeformairreversível
o eixo econômico do Nordeste para o Centro-Sul, ani-
quilando a economia nordestina.
Com o objetivo de evitar o contrabando do ouro,
Bandeirantes
Eles foram os piratas do sertão. Pera-
mbulavam pelos atalhos, pelos planaltos e
pelas planícies armados até os dentes, com
seus sons de guerra e suas bandeiras desfral-
dadas. Eram grupos paramilitares rasgando a
mata e caçando homens – para além da lei e
das fronteiras; para aquém da ética. À sua
passagem, restava apenas um rastro de cida-
des devastadas; velhos, mulheres e crianças
passados a fio de espada; altares profanados,
sangue, lágrimas e chamas. Incendiados pela
ganância e em nome do avanço da civilização,
escravizaram índios aos milhares. Foram cha-
mados de “raça de gigantes” ---e, com certe-za,
eram sujeitos intrépidos e indomáveis. São tidos como os principais responsáveis pela expansão territorial do
Brasil ---e não há dúvida que foram. Embora tenham sido heróis brasileiros, se tomaram também os maiores
criminosos de seu tempo.
Em apenas três décadas -as primeiras do século XVII –os bandeirantes e seus mamelucos mataram ou
escravizaram cerca de 500 mil índios, destruindo mais de 50 reduções jesuíticas nas regiões do Guairá, do Itatim
e do Tape. Desafiaram as leis e os reis de Portugal e da Espanha. Blasfemaram contra Roma, foram
excomungados pelo papa. Ainda assim, ignoraram as ameaças e só foram contidos pela força das armas.
Transformaram sua capital, São Paulo, num dos maiores centros do escravagismo indígena de todo o conti-nente.
Mais: fizeram dela uma cidade sem lei – reino de terror, ganância e miséria. E também o pólo a partir do qual todo
o Sul do Brasil pôde, enfim, crescer, desenvolver-se e se endinheirar.
Por que justamente São Paulo? Porque a cidade fundada pelos jesuítas estava no centro das rotas para o
sertão, porque os carijós do litoral e os guaranis do Paraguai estavam próximos e eram presa fácil e, acima de
tudo, porque São Paulo nascera pobre. “Buscar o remédio para sua pobreza” -assim os paulistas expli-cavam o
motivo os impelia aos rigores do sertão em busca de “peças”.
Nos anos 1940, dois devotados historiadores, Afonso Taunay e Alfredo Ellis k, deram início à fabricação do
mito bandeirante. Os documentos que acharam e publicaram revelam uma saga de horrores.Ainda assim, Taunay
e Ellis Jr. preferiram forjar a imagem do bandeirante altivo e galhardo, como se esses caçadores de homens
fossem os “Três Mosqueteiros”. Mas ambos sabiam que muitos dos bandeirantes andavam descalços, mal
falavam português e estavam treinados para escravizar e matar. In. Eduardo Bueno. História do Brasil. Publifolha
militares portugueses colocaram barreiras nas estradas,
forçando os colonos a declararem ao fisco o ouro en-
contrado. Os exploradores faziam várias peripécias para
burlar a cobrança de impostos, tentando driblar a vigi-
lância dos fiscais portugueses. Visando aumentar a
arrecadação a corte determinou a cobrança de impostos
sobre qualquer tipo de mercadoria que circulasse na
colônia.Asimples passagem pelas estradas já era mo-
tivo para cobrança de taxas, provocando um clima de
confronto das autoridades portuguesas com os colo-
nos da região mineradora.
“A sede insaciável de ouro estimulou tantos a
deixarem suas terras e a meterem-se por caminhos
tão ásperos como são os das minas, que
dificultosamente se poderá dar conta do número de
pessoas que atualmente lá estão. Contudo, os que
assistiram nesses últimos anos por largo tempo, e as
correram todas, dizem que mais de trinta mil almas se
ocupam, umas em catar e outras em mandar catar
nos ribeiros do ouro, e outras em negociar, vendendo
e comprando o que se há de mister não só para a
vida, mas para o regalo, mais do que nos portos do
mar “. 1
Ociclodoouro
Nos principais pontos de parada e cruzamento,
desenvolveram-se inúmeros centros urbanos. Enquanto
a zona açucareira, era essencialmente rural e organi-
zada socialmente dentro dos engenhos, a região
mineradora foi moldada com feições urbanas.. Embo-
ra a prospecção do ouro fosse na beira dos rios, era
nas cidades que se desenvolviam as atividades com-
plementares de pesagem do metal precioso, taxação
de impostos, venda de ferramentas etc.
A colonização do interior foi outra característi-
ca marcante da região mineradora.Até então, a coloni-
zação se restringia ao litoral e o máximo de incursão no
interior se dava em função da pecuária. A mineração,
ao contrário, assentou suas bases na ocupação do
interior, incentivando o aparecimento de várias vilas e
povoados interligados por inúmeras estradas, a exem-
plo dos caminhos do rio São Francisco. Pelo “Velho
Chico” centenas de mineradores aproveitaram o cami-
nho mais escondido para fugir do fisco, além de peões
boiadeiros que vendiam gado de corte. A vastidão
das áreas ribeirinhas do São Francisco serviu de
cobertura para contrabando da região mineradora.
“Justamente por seu caráter ilegal, não ha-
via estimativa sobre o montante desse comércio. A
partir de relatos de viajantes e da quantidade de no-
vos decretos metropolitanos, facilmente chega-se à
conclusão de que atingiu uma intensidade notável.
A conivência das autoridades encarregadas do peso,
da cobrança e da circulação do ouro tornava impos-
sível o seu controle. Para o Sul, o ouro era desviado
para a bacia do Prata, principalmente em operações
feitas pelos ingleses, em troca de mercadorias manu-
faturadas. Vários meios foram utilizados para enga-
nar a fiscalização: objetos de ouro revestidos de ou-
tros materiais; imagens ocas, feitas em madeira, den-
tro das quais se carregava o ouro (os chamados san-
tos do pau-oco); e, entre os escravos, o transporte de
ouro em pó nos cabelos”. 2
O baixo custo da atividade mineradora permitiu
o afluxo de todo tipo de exploradores. Para começar a
prospecção, bastavam algumas ferramentas e alguns
escravos. No final das contas, os mais afortunados ter-
minavam sendo mais privilegiados, porque a Corte dis-
tribuía terras na proporção da quantidade de escravos
que o minerador possuisse. Os mais pobres estavam a
desvantagem, embora tivessem a chance de disputar
um lugar de prospecção. Apesar das injustiças, a reali-
dade mineradora foi mais flexível do
que a colonização açucareira que exi-
gia altos investimentos na montagem
do engenho.
A sociedade formada nas Mi-
nas Gerais foi mais liberal, ou melhor
dizendo, menos rigorosa e rígida que
a sociedade açucareira. Nas cidades
um contingente razoável vivia do co-
mércio e atividades complementares,
como ferreiros, carpinteiros e outras mais, além de pro-
fissionais liberais, como advogados, dentistas etc.
Mas apesar das vantagens, a sociedade
mineradora continuava sendo aristocrática e conserva-
dora, marca registrada da colonização, desde o seu iní-
cio. Na população local o número de escravos era bem
maior que a população livre. A mão-de-obra escrava
proporcionou o rápido enriquecimento dos mineradores
que possuíam os maiores veios auríferos No auge do
ciclo do ouro ingressaram anualmente 10.000
escravos, quantidade infinitamente maior em
comparação com a sociedade açucareira.
“A sede insaciável do ouro
estimulou a tantos a deixarem suas
terras e a meterem-se por cami-
nhos, tão ásperos como são os das
minas, que dificultosamente se
poderá dar conta do número de
pessoas que atualmente lá estão”.
Antonil
Mais do que uma
mera versão
fluvial das
marchas
sertanistas, as
monções foram
um
desdobramento da
expansão
bandeirante.
Ociclodoouro
O TRATADO DE METHUENO TRATADO DE METHUENO TRATADO DE METHUENO TRATADO DE METHUENO TRATADO DE METHUEN
Por ironia do destino, apesar da enorme
quantidade de ouro, não houve alteração na falida
economia lusitana. O ouro entrava por um lado e saía
pelo outro, drenado para outros cofres que não estavam
em Portugal. Os conflitos europeus do início do século
XVIII aniquilaram a corte portuguesa, impedindo a
ilusória redenção de Portugal. Com efeito, a Guerra de
Sucessão Espanhola (1701-1702) provocou desastro-
sos reflexos. O estopim foi a morte do rei Carlos II da
Espanha, sem herdeiros que assumissem o trono. O
pretendente mais próximo era o duque D’Anjou (Felipe
V), neto do rei Luís XIV da França. Com isso, se
evidenciava uma eventual aliança entre França e
Espanha. De imediato reagiram as outras nações con-
tra os eventuais aliados.
Formou-se então a Aliança de Haia que unia
Inglaterra, Holanda, Sacro Império Romano Germânico
e de “contrapeso” Portugal, que aderiu quando o con-
flito estava em pleno andamento. A guerra desgastou
o reinado de Luís XIV, praticamente afundando a cam-
baleante economia do país. Pressionado, o rei francês
colocou ponto final no seu projeto ambicioso de do-
minar o continente, reconhecendo a derrota no Trata-
do de Utrecht e Rastald.
A Inglaterra foi a grande vencedora, receben-
do as regiões francesas de Acádia e Terra Nova na
América do Norte. A Espanha cedeu à Inglaterra, o
controle sobre o estreito de Gibraltar e o direito de
asiento, permitindo aos ingleses a venda de escravos
africanos em colônias espanholas da América.
Com Portugal, a Inglaterra assinou o Tratado
de Methuen, em 1703. O acordo estabelecia o livre-
comércio na troca de algumas mercadorias. Os portu-
gueses ganhavam o direito da venda de vinhos em
território inglês sem a taxação de impostos, enquanto
a Inglaterra teria o mercado português franqueado à
venda de seus tecidos.
O Tratado de Methuen aniquilou as incipientes
manufaturas portuguesas que não puderam competir
com os tecidos ingleses. Criou a ilusão que os vinhos
poderiam compensar a compra de tecidos. Entretanto,
com o desenrolar do acordo, Portugal gastava muito
mais consumindo tecidos, do que recebia com a venda
dos vinhos. A balança comercial portuguesa, foi ani-
quilada aumentando a subserviência do país em relação
à Inglaterra.
“Os escravos se chamavam Peças da Índia quando eram medidos,
pesados e embarcados em Luanda: os que sobreviviam à travessia do
oceano se convertiam, já no Brasil, em mãos e pés do amo branco. Angola
exportava escravos bantus e presas de elefante em troca de roupa, bebidas
e armas de fogo; porém os mineiros de Ouro Preto preferiam
os negros que vinham da pequena praia de Whydahn, na
costa da Guiné, porque eram mais vigorosos, duravam um
pouco mais e tinham poderes mágicos para descobrir ouro.
Cada mineiro necessitava, ademais, de pelo menos uma
amante negra de Whydah para que a sorte o acompanhasse
nas explorações. A explosão do ouro não somente
incrementou a importação de escravos, mas, além disso,
absorveu boa parte da mão-de-obra negra de outras partes
do Brasil, que ficaram sem braços escravos. Um decreto real
de 1711 proibiu a venda de escravos envolvidos em tarefas
agrícolas com destino ao serviço das minas, com exceção
dos que mostraram “perversidade de caráter”. Era insaciável
a fome de escravos em Ouro Preto. Os negros morriam
rapidamente; só em casos excepcionais chegavam a
suportar sete anos contínuos de trabalho. Isto sim: antes de
cruzarem o Atlântico, os portugueses batizavam todos. E no
Brasil tinham a obrigação de assistir à missa, embora lhes
estivesse proibido de entrar na capela maior ou sentar nos
bancos.” 4
“Cada ano, vêm nas frotas
quantidades de portugueses e es-
trangeiros para passarem às minas.
Das cidades, vilas e recôncavos e
sertões do Brasil, vão brancos, par-
dos e pretos, e muitos índios, de que
os paulistas se servem. A mistura é
de toda a condição de pessoas: ho-
mens e mulheres, moços e velhos,
pobres e ricos, nobres e plebeus,
seculares e clérigos, e religiosos de
diversos institutos, muitos dos quais
não têm no Brasil convento nem
casa”. 3
Ociclodoouro
No final das contas, boa parte do ouro da colô-
nia, foi deslocada para os cofres ingleses para com-
pensar o rombo financeiro do Tratado de Methuen.
No auge da mineração foi possível mascarar a situa-
ção absurda provocada pelo tratado, mas no final do
século XVIII, quando o ouro sumiu foi difícil esconder
que Portugal era uma nação falida. Atentativa de usar
a colônia para estancar a sangria de suas contas, pro-
vocaria nas Minas Gerais a primeira contestação ao
Pacto Colonial, através da Conjuração Mineira, em
1789.
GUERRA DOS EMBOABASGUERRA DOS EMBOABASGUERRA DOS EMBOABASGUERRA DOS EMBOABASGUERRA DOS EMBOABAS
A região mineradora foi primeiramente povoa-
da pelos paulistas, que estavam nas proximidades da
área da mineração, além disso, os bandeirantes
paulistas foram os pioneiros na descoberta dos veios
auríferos. Inicialmente, os colonos paulistas conse-
guiram inúmeras regalias nas zonas de exploração. Mais
tarde, para azar dos paulistas, em menos de
uma década, havia mais forasteiros do que pioneiros.A
nova realidade desfavorável aos exploradores de São
Paulo provocou um clima de tensão, desencadeando a
Guerra dos Emboabas – palavra que designava foras-
teiros que usavam vários apetrechos, ao contrário dos
paulistas que andavam descalços.
Os paulistas eram liderados por Manuel Borba
Gato, bandeirante de grande influência junto a seus
conterrâneos, já os forasteiros foram comandados pelo
rico comerciante, Manuel Nunes Viana. A briga come-
çou depois linchamento de dois paulistas que haviam
hostilizado os emboabas. Em 1708, por ordem das auto-
ridades confiscaram-se várias armas dos paulistas aba-
lando a força do grupo.A situação aparentemente defi-
nida em favor dos forasteiros, levou-os a defender Nunes
Viana, depois que Borba Gato exigira a expulsão do líder
forasteiro.
Depois de vários embates, os forasteiros conse-
guiram cercar um grupo de paulistas. Iludidos pela pro-
messa de perdão, os paulistas saíram da mata onde
foram assassinados sem chances de reação, no que se
chamou Capão da Traição.Abriga motivou a interven-
ção do governador do Rio de Janeiro, que se
deslocou para as Minas Gerais interessado em
pacificar os inimigos. O governador pendeu
para o lado dos paulistas, impedindo os
emboabas de explorar o ouro em algumas
regiões.
Em 1709, a corte portuguesa nomeou
Antônio de Albuquerque para o posto de
governador legal da região mineradora.
Esperando contar com apoio das autoridades,
os paulistas ainda fizeram a última tentativa de
reintegrar as terras perdidas. Sob o comando
de Amador Bueno da Veiga um enorme grupo
deslocou-se para as Minas Gerais. Quando
chegaram em Guaratinguetá enfrentaram os
emboabas, sem muito sucesso, apesar da
ligeira vantagem militar em favor dos paulistas.
AUTORIDADES REAIS
MINERADORES
CAMADAS
MÉDIAS
COMERCIANTES
ARTESÃOS
PEQ
MINERADORES
ESCRAVOS
SOCIEDADE MINERATÓRIA
URBANA
MENOS RÍGIDA
MAIOR
MOBILIDADE
PRODUÇÃO DE OURO NO BRASIL
ANO
PRODUÇÃO MEDIAL
ANUAL (kg)
1701-1720 2 750
1721-1740 8 850
1741-1760 14 600
1762- 1780 10 350
1781-1800 5 450
1801-1820 2750
Ociclodoouro
A guerra só terminou, em 1710, após a delimita-
ção da Capitania de São Paulo e das Minas de Ouro. A
vila de São Paulo obteve o status de cidade e sede de
bispado. O acordo estabeleceu a reintegração dos
paulistas às regiões onde haviam sido expulsos. For-
mou-se um batalhão de soldados com a finalidade de
intervir nos distúrbios entre os colonos. Novas vilas
foram criadas na área da mineração, com os cargos das
Câmaras Municipais, distribuídos eqüitativamente en-
tre paulistas e emboabas. A solução para a crise não
prejudicou os paulistas embora a maioria tenha se des-
locado para ás áreas de Goiás, seguindo o rastro da
descoberta de reservas de diamantes.
A FISCALIZAÇÃOA FISCALIZAÇÃOA FISCALIZAÇÃOA FISCALIZAÇÃOA FISCALIZAÇÃO
A quantidade absurda de ouro exigiu da corte
portuguesa a fiscalização rigorosa de toda a região.
Nos séculos anteriores quase não se fiscalizava a colô-
nia, pela própria característica do açúcar ser uma mer-
cadoria difícil de contrabandear. Além do mais, os se-
nhores de engenho tinham o mesmo interesse que a
corte portuguesa. Sem a venda do açúcar no mercado
europeu a colonização perdia o sentido e arrochava o
lucro da elite colonial. Contudo, a mineração apresen-
tava um perfil diferente do que ocorria no Nordeste
açucareiro, pois o ouro poderia ser facilmente escondi-
do e contrabandeado. Por força de lei, os mineradores
deveriam comunicar a descoberta do ouro, para que se
fizesse a demarcação do local e o cálculo do ouro a ser
explorado.
A fiscalização era coordenada pela Intendência
das Minas, responsável pela cobrança de impostos e
exploração do minério. Porém, muito cedo ficou evi-
dente que a espontaneidade dos colonos no pagamen-
to de impostos era mera ficção.Amaioria dava um jeito
de burlar a cobrança e driblar o fisco português. Para
coibir o desvio de impostos, a corte portuguesa criou,
em 1713, a Casa de Fundição com a pretensão de só
permitir a circulação do ouro, marcado com selo real.
Os colonos deveriam também quitar uma taxa anual que
seria paga por todos, sem distinção caso contrário
seriam rigorosamente punidos.
Inúmeros
comerciantes
trabalhavam para
abastecer a
região das minas,
criando rancho
de tropeiros.
Ociclodoouro
A REVOLTA DE VILA RICAA REVOLTA DE VILA RICAA REVOLTA DE VILA RICAA REVOLTA DE VILA RICAA REVOLTA DE VILA RICA
Reagindo à criação das Casas de Fun
dição e protestando contra as arbi-
trariedades do ouvidor local, juntaram-se duas
mil pessoas, comandadas pelo português Filipe
dos Santos. Os rebeldes tiveram a vantagem
inicial devido a presença de poucos soldados
na vila. Radicalizando os objetivos, exigiram o
final da fundição. A pressão levou o governa-
dor acuado a negociar com os rebeldes. Mas
tudo não passava de uma trama para ganhar tem-
po e esperar a chegada de reforços. Após a in-
tervenção das tropas portuguesas, o governa-
dor expediu a ordem de prisão dos rebeldes e o
enforcamento do líder Filipe dos Santos, que
teve seu corpo arrastado por várias ruas de Vila Rica.
Após o fim da rebelião os portugueses suspenderam a
fundição do ouro, alegando problemas operacionais
de execução da tarefa.
O exagero na repressão à rebelião criou o ter-
reno fértil para eclodirem outras revoltas. “Os motins
de Pitangui (1718) contra a cobrança das oitavas de
ouro por escravo empregado na mineração, devendo
a arrecadação mineira perfazer 25 arrobas anuais; a
rebelião de Vila Rica em 1720, contra o estabeleci-
mento das Casas de Fundição e o excesso de impos-
tos sobre alimentos e instrumentos necessários aos
trabalhos da mineração; a Sedição de São Francisco
em 1736 contra o sistema de capitação, sistema no
qual praticamente toda a população ativa residente
na Capitania ficava sujeita ao imposto do quinto, são
exemplos do confronto direto entre as autoridades e
a população. Indistintamente, mazombos (filhos de
portugueses nascidos no Brasil) e reinóis aparecem
lado a lado nestas manifestações contra o poder da
Coroa. Toda a seqüência de mudanças na cobrança
do imposto do quinto mostra o interesse da Coroa em
ampliar a arrecadação e criar obstáculos ao
contrabando. Em contrapartida, a ação da popula-
ção sempre se dirige no sentido de combater os di-
versos sistemas de arrecadação e”. manter a fraude
através do contrabando. Em todo o século do ouro o
problema não se resolve. A população permanecerá
sempre insatisfeita com os diversos modos de
cobrança e a Coroa jamais conseguirá impedir o
contrabando.” 5
1 In. Antonil. Cultura e Opulência no Brasil.
Pág 263.Apud. Piletti, Nelson. História do Brasil. Edi-
tora Ática. Pág 83.
2 In. Koshiba, Luiz e Denise Manzi Pereira.
História do Brasil.Atual Editora. Pág. 98.
3 In.Antonil. Op Cit. Pág. 263.
4 In. Galeano, Eduardo. As Veias Abertas da
América Latina. Editora Paz e Terra. Pág. 64.
5 In. Resende, Maria Efigênia.AInconfidência
Mineira. Coleção História Popular. Editora Global. Pág.
18/19.
Filipe dos
Santos, tropeiro
português foi o
grande líder da
Revolta deVila
Rica em Minas
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Os caminhos do ouro na colonização brasileira

  • 1. D esde o desembarque de Cabral em 1500, os portugueses vasculharam como pu deram o território brasileiro atrás de re- servas de metais preciosos. Muitos exploradores se embrenharam no interior da colônia, iludidos em pistas falsas e caminhos inúteis, Depois de muito quebrar a cara, em 1640, exploradores bandeirantes encontra- ram indícios de ouro, nas regiões ribeirinhas do in- terior paulista. Na época da invasão holandesa os bandeirantes vasculharam regiões, até então inexploradas, chegando ao caminho dos rios que nascem na região das Minas Gerais. Nas águas dos rios estavam as pedras de ouro fornecendo a pista que faltava para a grande descoberta. Após a expulsão dos holandeses, os ban- deirantes concentraram-se na busca do caminho das reservas auríferas, esperando realizar o “sonho doura- do” de Portugal. Entre 1674 e 1681, Fernão Dias Paes comandou um grupo de exploradores que vasculharam minuciosamente a enorme região do interior paulista, até o sul de Minas Gerais. Embora não encontrassem metais preciosos, conseguiram o domínio geográfico da região que serviu de orientação nas incursões pos- teriores. Em 1684, os exploradores encontraram ouro na região de Itaverava, nas Minas Gerais. De imediato, a notícia provocou euforia e cobiça. Colônia e Metrópo- le se mobilizaram para sugar o ouro das Minas Gerais. Considerando as dificuldades da corte portuguesa, a hora não poderia ser melhor, pois aliviava os efeitos desastrosos da queda do açúcar. Já a colônia continua- va a sina de sustentar a monarquia portuguesa, entre- gando-lhe o que havia de melhor nas terras brasileiras. Na Europa a escassez crônica de metais preciosos pos- sibilitava, a quem tivesse reservas de ouro e prata, uma grande vantagem em relação às outras nações. Dessa vez, a história parecia estar do lado de Portugal. “No anfiteatro das montanhas, os profetas do Aleijadinho monumentalizam a paisagem. As cúpulas dos Passos e os cocares verdes das palmeiras são degraus da arte do meu país onde ninguém mais subiu: Bíblia de pedra-sabão banhada com ouro das Minas” Oswald de Andrade.
  • 2. Ociclodoouro OS CAMINHOS DO OUROOS CAMINHOS DO OUROOS CAMINHOS DO OUROOS CAMINHOS DO OUROOS CAMINHOS DO OURO A corrida do ouro provocou um alvoroço na metrópole, gerando um êxodo de razoáveis propor- ções, a ponto da monarquia adotar severas restrições visando conter a migração para o Brasil. Na pressa exploradores abriam inúmeros caminhos na mata, sul- cando a região atrás das reservas de ouro. Gigantes- cas extensões de terra foram queimadas, com o objeti- vo de facilitar a prospecção do metal. O desmatamento provocou danos irreparáveis no ecossistema, além de expulsar várias tribos indígenas. A região das Minas Gerais viu-se articulada com o restante da colônia através de dois caminhos que partiam de São Paulo e Parati (Rio de Janeiro). O caminho para o Rio de Janeiro por ser menos aciden- tado era mais utilizado pelos viajantes. O crescimento da economia aurífera provocou, em meados do século XVIII, a mudança do centro administrativo de Salva- dorparaoRiodeJaneiro.Deslocoudeformairreversível o eixo econômico do Nordeste para o Centro-Sul, ani- quilando a economia nordestina. Com o objetivo de evitar o contrabando do ouro, Bandeirantes Eles foram os piratas do sertão. Pera- mbulavam pelos atalhos, pelos planaltos e pelas planícies armados até os dentes, com seus sons de guerra e suas bandeiras desfral- dadas. Eram grupos paramilitares rasgando a mata e caçando homens – para além da lei e das fronteiras; para aquém da ética. À sua passagem, restava apenas um rastro de cida- des devastadas; velhos, mulheres e crianças passados a fio de espada; altares profanados, sangue, lágrimas e chamas. Incendiados pela ganância e em nome do avanço da civilização, escravizaram índios aos milhares. Foram cha- mados de “raça de gigantes” ---e, com certe-za, eram sujeitos intrépidos e indomáveis. São tidos como os principais responsáveis pela expansão territorial do Brasil ---e não há dúvida que foram. Embora tenham sido heróis brasileiros, se tomaram também os maiores criminosos de seu tempo. Em apenas três décadas -as primeiras do século XVII –os bandeirantes e seus mamelucos mataram ou escravizaram cerca de 500 mil índios, destruindo mais de 50 reduções jesuíticas nas regiões do Guairá, do Itatim e do Tape. Desafiaram as leis e os reis de Portugal e da Espanha. Blasfemaram contra Roma, foram excomungados pelo papa. Ainda assim, ignoraram as ameaças e só foram contidos pela força das armas. Transformaram sua capital, São Paulo, num dos maiores centros do escravagismo indígena de todo o conti-nente. Mais: fizeram dela uma cidade sem lei – reino de terror, ganância e miséria. E também o pólo a partir do qual todo o Sul do Brasil pôde, enfim, crescer, desenvolver-se e se endinheirar. Por que justamente São Paulo? Porque a cidade fundada pelos jesuítas estava no centro das rotas para o sertão, porque os carijós do litoral e os guaranis do Paraguai estavam próximos e eram presa fácil e, acima de tudo, porque São Paulo nascera pobre. “Buscar o remédio para sua pobreza” -assim os paulistas expli-cavam o motivo os impelia aos rigores do sertão em busca de “peças”. Nos anos 1940, dois devotados historiadores, Afonso Taunay e Alfredo Ellis k, deram início à fabricação do mito bandeirante. Os documentos que acharam e publicaram revelam uma saga de horrores.Ainda assim, Taunay e Ellis Jr. preferiram forjar a imagem do bandeirante altivo e galhardo, como se esses caçadores de homens fossem os “Três Mosqueteiros”. Mas ambos sabiam que muitos dos bandeirantes andavam descalços, mal falavam português e estavam treinados para escravizar e matar. In. Eduardo Bueno. História do Brasil. Publifolha militares portugueses colocaram barreiras nas estradas, forçando os colonos a declararem ao fisco o ouro en- contrado. Os exploradores faziam várias peripécias para burlar a cobrança de impostos, tentando driblar a vigi- lância dos fiscais portugueses. Visando aumentar a arrecadação a corte determinou a cobrança de impostos sobre qualquer tipo de mercadoria que circulasse na colônia.Asimples passagem pelas estradas já era mo- tivo para cobrança de taxas, provocando um clima de confronto das autoridades portuguesas com os colo- nos da região mineradora. “A sede insaciável de ouro estimulou tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por caminhos tão ásperos como são os das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do número de pessoas que atualmente lá estão. Contudo, os que assistiram nesses últimos anos por largo tempo, e as correram todas, dizem que mais de trinta mil almas se ocupam, umas em catar e outras em mandar catar nos ribeiros do ouro, e outras em negociar, vendendo e comprando o que se há de mister não só para a vida, mas para o regalo, mais do que nos portos do mar “. 1
  • 3. Ociclodoouro Nos principais pontos de parada e cruzamento, desenvolveram-se inúmeros centros urbanos. Enquanto a zona açucareira, era essencialmente rural e organi- zada socialmente dentro dos engenhos, a região mineradora foi moldada com feições urbanas.. Embo- ra a prospecção do ouro fosse na beira dos rios, era nas cidades que se desenvolviam as atividades com- plementares de pesagem do metal precioso, taxação de impostos, venda de ferramentas etc. A colonização do interior foi outra característi- ca marcante da região mineradora.Até então, a coloni- zação se restringia ao litoral e o máximo de incursão no interior se dava em função da pecuária. A mineração, ao contrário, assentou suas bases na ocupação do interior, incentivando o aparecimento de várias vilas e povoados interligados por inúmeras estradas, a exem- plo dos caminhos do rio São Francisco. Pelo “Velho Chico” centenas de mineradores aproveitaram o cami- nho mais escondido para fugir do fisco, além de peões boiadeiros que vendiam gado de corte. A vastidão das áreas ribeirinhas do São Francisco serviu de cobertura para contrabando da região mineradora. “Justamente por seu caráter ilegal, não ha- via estimativa sobre o montante desse comércio. A partir de relatos de viajantes e da quantidade de no- vos decretos metropolitanos, facilmente chega-se à conclusão de que atingiu uma intensidade notável. A conivência das autoridades encarregadas do peso, da cobrança e da circulação do ouro tornava impos- sível o seu controle. Para o Sul, o ouro era desviado para a bacia do Prata, principalmente em operações feitas pelos ingleses, em troca de mercadorias manu- faturadas. Vários meios foram utilizados para enga- nar a fiscalização: objetos de ouro revestidos de ou- tros materiais; imagens ocas, feitas em madeira, den- tro das quais se carregava o ouro (os chamados san- tos do pau-oco); e, entre os escravos, o transporte de ouro em pó nos cabelos”. 2 O baixo custo da atividade mineradora permitiu o afluxo de todo tipo de exploradores. Para começar a prospecção, bastavam algumas ferramentas e alguns escravos. No final das contas, os mais afortunados ter- minavam sendo mais privilegiados, porque a Corte dis- tribuía terras na proporção da quantidade de escravos que o minerador possuisse. Os mais pobres estavam a desvantagem, embora tivessem a chance de disputar um lugar de prospecção. Apesar das injustiças, a reali- dade mineradora foi mais flexível do que a colonização açucareira que exi- gia altos investimentos na montagem do engenho. A sociedade formada nas Mi- nas Gerais foi mais liberal, ou melhor dizendo, menos rigorosa e rígida que a sociedade açucareira. Nas cidades um contingente razoável vivia do co- mércio e atividades complementares, como ferreiros, carpinteiros e outras mais, além de pro- fissionais liberais, como advogados, dentistas etc. Mas apesar das vantagens, a sociedade mineradora continuava sendo aristocrática e conserva- dora, marca registrada da colonização, desde o seu iní- cio. Na população local o número de escravos era bem maior que a população livre. A mão-de-obra escrava proporcionou o rápido enriquecimento dos mineradores que possuíam os maiores veios auríferos No auge do ciclo do ouro ingressaram anualmente 10.000 escravos, quantidade infinitamente maior em comparação com a sociedade açucareira. “A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por cami- nhos, tão ásperos como são os das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do número de pessoas que atualmente lá estão”. Antonil Mais do que uma mera versão fluvial das marchas sertanistas, as monções foram um desdobramento da expansão bandeirante.
  • 4. Ociclodoouro O TRATADO DE METHUENO TRATADO DE METHUENO TRATADO DE METHUENO TRATADO DE METHUENO TRATADO DE METHUEN Por ironia do destino, apesar da enorme quantidade de ouro, não houve alteração na falida economia lusitana. O ouro entrava por um lado e saía pelo outro, drenado para outros cofres que não estavam em Portugal. Os conflitos europeus do início do século XVIII aniquilaram a corte portuguesa, impedindo a ilusória redenção de Portugal. Com efeito, a Guerra de Sucessão Espanhola (1701-1702) provocou desastro- sos reflexos. O estopim foi a morte do rei Carlos II da Espanha, sem herdeiros que assumissem o trono. O pretendente mais próximo era o duque D’Anjou (Felipe V), neto do rei Luís XIV da França. Com isso, se evidenciava uma eventual aliança entre França e Espanha. De imediato reagiram as outras nações con- tra os eventuais aliados. Formou-se então a Aliança de Haia que unia Inglaterra, Holanda, Sacro Império Romano Germânico e de “contrapeso” Portugal, que aderiu quando o con- flito estava em pleno andamento. A guerra desgastou o reinado de Luís XIV, praticamente afundando a cam- baleante economia do país. Pressionado, o rei francês colocou ponto final no seu projeto ambicioso de do- minar o continente, reconhecendo a derrota no Trata- do de Utrecht e Rastald. A Inglaterra foi a grande vencedora, receben- do as regiões francesas de Acádia e Terra Nova na América do Norte. A Espanha cedeu à Inglaterra, o controle sobre o estreito de Gibraltar e o direito de asiento, permitindo aos ingleses a venda de escravos africanos em colônias espanholas da América. Com Portugal, a Inglaterra assinou o Tratado de Methuen, em 1703. O acordo estabelecia o livre- comércio na troca de algumas mercadorias. Os portu- gueses ganhavam o direito da venda de vinhos em território inglês sem a taxação de impostos, enquanto a Inglaterra teria o mercado português franqueado à venda de seus tecidos. O Tratado de Methuen aniquilou as incipientes manufaturas portuguesas que não puderam competir com os tecidos ingleses. Criou a ilusão que os vinhos poderiam compensar a compra de tecidos. Entretanto, com o desenrolar do acordo, Portugal gastava muito mais consumindo tecidos, do que recebia com a venda dos vinhos. A balança comercial portuguesa, foi ani- quilada aumentando a subserviência do país em relação à Inglaterra. “Os escravos se chamavam Peças da Índia quando eram medidos, pesados e embarcados em Luanda: os que sobreviviam à travessia do oceano se convertiam, já no Brasil, em mãos e pés do amo branco. Angola exportava escravos bantus e presas de elefante em troca de roupa, bebidas e armas de fogo; porém os mineiros de Ouro Preto preferiam os negros que vinham da pequena praia de Whydahn, na costa da Guiné, porque eram mais vigorosos, duravam um pouco mais e tinham poderes mágicos para descobrir ouro. Cada mineiro necessitava, ademais, de pelo menos uma amante negra de Whydah para que a sorte o acompanhasse nas explorações. A explosão do ouro não somente incrementou a importação de escravos, mas, além disso, absorveu boa parte da mão-de-obra negra de outras partes do Brasil, que ficaram sem braços escravos. Um decreto real de 1711 proibiu a venda de escravos envolvidos em tarefas agrícolas com destino ao serviço das minas, com exceção dos que mostraram “perversidade de caráter”. Era insaciável a fome de escravos em Ouro Preto. Os negros morriam rapidamente; só em casos excepcionais chegavam a suportar sete anos contínuos de trabalho. Isto sim: antes de cruzarem o Atlântico, os portugueses batizavam todos. E no Brasil tinham a obrigação de assistir à missa, embora lhes estivesse proibido de entrar na capela maior ou sentar nos bancos.” 4 “Cada ano, vêm nas frotas quantidades de portugueses e es- trangeiros para passarem às minas. Das cidades, vilas e recôncavos e sertões do Brasil, vão brancos, par- dos e pretos, e muitos índios, de que os paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: ho- mens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, seculares e clérigos, e religiosos de diversos institutos, muitos dos quais não têm no Brasil convento nem casa”. 3
  • 5. Ociclodoouro No final das contas, boa parte do ouro da colô- nia, foi deslocada para os cofres ingleses para com- pensar o rombo financeiro do Tratado de Methuen. No auge da mineração foi possível mascarar a situa- ção absurda provocada pelo tratado, mas no final do século XVIII, quando o ouro sumiu foi difícil esconder que Portugal era uma nação falida. Atentativa de usar a colônia para estancar a sangria de suas contas, pro- vocaria nas Minas Gerais a primeira contestação ao Pacto Colonial, através da Conjuração Mineira, em 1789. GUERRA DOS EMBOABASGUERRA DOS EMBOABASGUERRA DOS EMBOABASGUERRA DOS EMBOABASGUERRA DOS EMBOABAS A região mineradora foi primeiramente povoa- da pelos paulistas, que estavam nas proximidades da área da mineração, além disso, os bandeirantes paulistas foram os pioneiros na descoberta dos veios auríferos. Inicialmente, os colonos paulistas conse- guiram inúmeras regalias nas zonas de exploração. Mais tarde, para azar dos paulistas, em menos de uma década, havia mais forasteiros do que pioneiros.A nova realidade desfavorável aos exploradores de São Paulo provocou um clima de tensão, desencadeando a Guerra dos Emboabas – palavra que designava foras- teiros que usavam vários apetrechos, ao contrário dos paulistas que andavam descalços. Os paulistas eram liderados por Manuel Borba Gato, bandeirante de grande influência junto a seus conterrâneos, já os forasteiros foram comandados pelo rico comerciante, Manuel Nunes Viana. A briga come- çou depois linchamento de dois paulistas que haviam hostilizado os emboabas. Em 1708, por ordem das auto- ridades confiscaram-se várias armas dos paulistas aba- lando a força do grupo.A situação aparentemente defi- nida em favor dos forasteiros, levou-os a defender Nunes Viana, depois que Borba Gato exigira a expulsão do líder forasteiro. Depois de vários embates, os forasteiros conse- guiram cercar um grupo de paulistas. Iludidos pela pro- messa de perdão, os paulistas saíram da mata onde foram assassinados sem chances de reação, no que se chamou Capão da Traição.Abriga motivou a interven- ção do governador do Rio de Janeiro, que se deslocou para as Minas Gerais interessado em pacificar os inimigos. O governador pendeu para o lado dos paulistas, impedindo os emboabas de explorar o ouro em algumas regiões. Em 1709, a corte portuguesa nomeou Antônio de Albuquerque para o posto de governador legal da região mineradora. Esperando contar com apoio das autoridades, os paulistas ainda fizeram a última tentativa de reintegrar as terras perdidas. Sob o comando de Amador Bueno da Veiga um enorme grupo deslocou-se para as Minas Gerais. Quando chegaram em Guaratinguetá enfrentaram os emboabas, sem muito sucesso, apesar da ligeira vantagem militar em favor dos paulistas. AUTORIDADES REAIS MINERADORES CAMADAS MÉDIAS COMERCIANTES ARTESÃOS PEQ MINERADORES ESCRAVOS SOCIEDADE MINERATÓRIA URBANA MENOS RÍGIDA MAIOR MOBILIDADE PRODUÇÃO DE OURO NO BRASIL ANO PRODUÇÃO MEDIAL ANUAL (kg) 1701-1720 2 750 1721-1740 8 850 1741-1760 14 600 1762- 1780 10 350 1781-1800 5 450 1801-1820 2750
  • 6. Ociclodoouro A guerra só terminou, em 1710, após a delimita- ção da Capitania de São Paulo e das Minas de Ouro. A vila de São Paulo obteve o status de cidade e sede de bispado. O acordo estabeleceu a reintegração dos paulistas às regiões onde haviam sido expulsos. For- mou-se um batalhão de soldados com a finalidade de intervir nos distúrbios entre os colonos. Novas vilas foram criadas na área da mineração, com os cargos das Câmaras Municipais, distribuídos eqüitativamente en- tre paulistas e emboabas. A solução para a crise não prejudicou os paulistas embora a maioria tenha se des- locado para ás áreas de Goiás, seguindo o rastro da descoberta de reservas de diamantes. A FISCALIZAÇÃOA FISCALIZAÇÃOA FISCALIZAÇÃOA FISCALIZAÇÃOA FISCALIZAÇÃO A quantidade absurda de ouro exigiu da corte portuguesa a fiscalização rigorosa de toda a região. Nos séculos anteriores quase não se fiscalizava a colô- nia, pela própria característica do açúcar ser uma mer- cadoria difícil de contrabandear. Além do mais, os se- nhores de engenho tinham o mesmo interesse que a corte portuguesa. Sem a venda do açúcar no mercado europeu a colonização perdia o sentido e arrochava o lucro da elite colonial. Contudo, a mineração apresen- tava um perfil diferente do que ocorria no Nordeste açucareiro, pois o ouro poderia ser facilmente escondi- do e contrabandeado. Por força de lei, os mineradores deveriam comunicar a descoberta do ouro, para que se fizesse a demarcação do local e o cálculo do ouro a ser explorado. A fiscalização era coordenada pela Intendência das Minas, responsável pela cobrança de impostos e exploração do minério. Porém, muito cedo ficou evi- dente que a espontaneidade dos colonos no pagamen- to de impostos era mera ficção.Amaioria dava um jeito de burlar a cobrança e driblar o fisco português. Para coibir o desvio de impostos, a corte portuguesa criou, em 1713, a Casa de Fundição com a pretensão de só permitir a circulação do ouro, marcado com selo real. Os colonos deveriam também quitar uma taxa anual que seria paga por todos, sem distinção caso contrário seriam rigorosamente punidos. Inúmeros comerciantes trabalhavam para abastecer a região das minas, criando rancho de tropeiros.
  • 7. Ociclodoouro A REVOLTA DE VILA RICAA REVOLTA DE VILA RICAA REVOLTA DE VILA RICAA REVOLTA DE VILA RICAA REVOLTA DE VILA RICA Reagindo à criação das Casas de Fun dição e protestando contra as arbi- trariedades do ouvidor local, juntaram-se duas mil pessoas, comandadas pelo português Filipe dos Santos. Os rebeldes tiveram a vantagem inicial devido a presença de poucos soldados na vila. Radicalizando os objetivos, exigiram o final da fundição. A pressão levou o governa- dor acuado a negociar com os rebeldes. Mas tudo não passava de uma trama para ganhar tem- po e esperar a chegada de reforços. Após a in- tervenção das tropas portuguesas, o governa- dor expediu a ordem de prisão dos rebeldes e o enforcamento do líder Filipe dos Santos, que teve seu corpo arrastado por várias ruas de Vila Rica. Após o fim da rebelião os portugueses suspenderam a fundição do ouro, alegando problemas operacionais de execução da tarefa. O exagero na repressão à rebelião criou o ter- reno fértil para eclodirem outras revoltas. “Os motins de Pitangui (1718) contra a cobrança das oitavas de ouro por escravo empregado na mineração, devendo a arrecadação mineira perfazer 25 arrobas anuais; a rebelião de Vila Rica em 1720, contra o estabeleci- mento das Casas de Fundição e o excesso de impos- tos sobre alimentos e instrumentos necessários aos trabalhos da mineração; a Sedição de São Francisco em 1736 contra o sistema de capitação, sistema no qual praticamente toda a população ativa residente na Capitania ficava sujeita ao imposto do quinto, são exemplos do confronto direto entre as autoridades e a população. Indistintamente, mazombos (filhos de portugueses nascidos no Brasil) e reinóis aparecem lado a lado nestas manifestações contra o poder da Coroa. Toda a seqüência de mudanças na cobrança do imposto do quinto mostra o interesse da Coroa em ampliar a arrecadação e criar obstáculos ao contrabando. Em contrapartida, a ação da popula- ção sempre se dirige no sentido de combater os di- versos sistemas de arrecadação e”. manter a fraude através do contrabando. Em todo o século do ouro o problema não se resolve. A população permanecerá sempre insatisfeita com os diversos modos de cobrança e a Coroa jamais conseguirá impedir o contrabando.” 5 1 In. Antonil. Cultura e Opulência no Brasil. Pág 263.Apud. Piletti, Nelson. História do Brasil. Edi- tora Ática. Pág 83. 2 In. Koshiba, Luiz e Denise Manzi Pereira. História do Brasil.Atual Editora. Pág. 98. 3 In.Antonil. Op Cit. Pág. 263. 4 In. Galeano, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. Editora Paz e Terra. Pág. 64. 5 In. Resende, Maria Efigênia.AInconfidência Mineira. Coleção História Popular. Editora Global. Pág. 18/19. Filipe dos Santos, tropeiro português foi o grande líder da Revolta deVila Rica em Minas Gerais