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N
a conturbada época do Terror, quando
a guilhotina cortou a cabeça de
centenas de pessoas, começou
a trajetória do então soldado, Napoleão
Bonaparte. Sua meteórica carreira militar, levou-
o desde cedo ao comando das tropas france-
sas. Enfrentando inimigos mais poderosos, as
tropas sob o comando de Napoleão obtinham
surpreendentes vitórias. Servindo à Revolução
em etapas diferentes, rapidamente Napoleão
atingiu o posto de general.
Na época do Diretório, comandando um precá-
rio exército, pouco numeroso e mal equipado, mas à
custa de uma ferrenha disciplina militar, conseguiu a
conquista de boa parte do território italiano.
Depois da vitória na Itália, foi para cima da In-
glaterra que era o inimigo mais poderoso da França.
Numa investida ousada, Napoleão atacou o Egito —
rota de passagem das mercadorias que vinham da Ín-
dia para os ingleses.
Na Campanha do Egito não obteve a vitória, mas
conseguiu um retorno triunfal driblando a poderosa es-
quadra inglesa mar Mediterrâneo. Por tudo isso, foi re-
cebido como herói em Paris.
“No clima incerto e politicamente fragmenta-
do em que governa o Diretório, o único ponto seguro
constitui-se nas vitórias militares, cujos ecos logo che-
gam a Paris.
“Povos da Itália: o exército
francês vem romper os seus
grilhões; o povo francês é
amigo de todos os povos.
Tenham confiança em nós.
Vossos bens, vossa religião,
vossos costumes serão
respeitados. Fazemos a guerra
como adversários generosos e
só sentimos rancor contra os
tiranos que vos escravizam.”
Napoleão Bonaparte
“Aterrei o abismo monárquico e pus ordem no caos”.
Napoleão. 1799
“Aterrei o abismo monárquico e pus ordem no caos”.
Napoleão. 1799
Autoria: Edgard Chaves
EuropaNapoleônica
Apesar de tudo, e com rapidez, a França am-
plia suas fronteiras incorporando Flandres e a parte
espanhola de São Domingos. Há grandes problemas
militares, mas há também homens à altura para resolvê-
los. E dentre todos, em primeiríssimo plano Bonaparte
, que ultrapassando os Alpes, penetra na
Itália, onde conduz uma campanha que
culmina com uma série de fulgurantes
batalhas estabelecendo não só as bases
de um sucesso militar, mas também fixan-
do as premissas daquela que seria, depois
sua carreira política”. 1
No outono de 1799, o Diretório
agonizava sofrendo ataques dos realistas
e dos jacobinos. Com o apoio do exército
e da burguesia, Napoleão invadiu a sessão
daAssembléia e depois de inflamado dis-
curso determinou o fim do Diretório, subs-
tituindo-o pelo regime do Consulado. Des-
tituindo o governo burguês com o Golpe
do 18 Brumário, o general respondia aos
anseios da própria burguesia. Napoleão
era o homem de maior prestigio na França,
representava para todos, a esperança de
consolidação da revolução, depois de uma década de
instabilidade.
De imediato, priorizou a organização interna
do país estruturando um sistema eficiente de cobrança
de impostos, visando coibir o desvio de recursos. A
eficácia do sistema era garantida por um numeroso cor-
po de funcionários públicos que vasculhavam o país,
punindo rigorosamente os infratores. Para centralizar
e desenvolver a economia foi criado o Banco Estatal
da França, com o objetivo inicial de canalizar recursos
para a criação de indústrias.
Com a Igreja Católica, Napoleão promoveu a
reaproximação, tornando o catolicismo a principal re-
ligião do país. O renascer da Igreja, através da
Concordata de 1801, tinha um aspecto nitidamente
ideológico, pois estava vinculado à exaltação do
regime.
Em 1804, ao mesmo tempo em que se tornou
imperador, aprovou o fantástico Código Civil – con-
siderado o legado jurídico mais importante, depois do
Direito Romano. A nova Constituição preservava a li-
berdade de consciência, igualdade perante a lei, direi-
to de escolher a profissão, além de assegurar a propri-
edade como o direito primordial do cidadão.
Paradoxalamente, em relação ao trabalho, estabelecia
a proibição das greves e impedia a associação sindical.
“Ao povo é necessário uma religião. É preciso que esta religião esteja nas mãos do governo. Hoje em
dia, cinqüenta bispos emigrados e pagos pela Inglaterra conduzem o clero francês. É necessário destruir
esta influência deles; para isso, é indispensável a autoridade do Papa. Dirão que sou papista; eu não sou
coisa alguma; eu era maometano no Egito, serei católico aqui para o bem do povo. Não acredito em
religiões... Mas é idéia de um “Deus”, e levantando as mãos para o céu: “Quem foi que fez tudo isto?” Está
você muito enganado, o clero sempre existe e existirá enquanto houver no povo um espírito religioso e este
espírito lhe é inerente. Temos visto repúblicas, democracias, tudo que vemos, mas nunca um Estado sem
religião, sem culto, sem padres. Não será melhor organizar o culto, disciplinar os padres do que deixar as
coisas como estão? Agora os padres estão pregando contra a República; será bom deportá-los? Não!
Porque para isso seria necessário mudar o sistema de governo. O que o torna amado pelo povo, é o seu
respeito pelo culto.” 2
“Na minha carreira en-
contrar-se-ão erros, sem dúvi-
da: mas Arcole, Rivoli, as
Pirâmides, Marengo,
Austerlitz, Iena, Friedland
(batalhas) são de granito; o
dente da inveja nada pode
contra elas”
Napoleão
Posse de
Napoleão, no
palácio de Petit
Luxemburg,
pintura de
Couder
Autoria: Edgard Chaves
EuropaNapoleônica
A liberdade social sob a ótica burguesa foi
mantida, porém a liberdade política foi praticamente
anulada, com o decreto da censura e o controle da
imprensa. No futuro, referindo-se com orgulho ao
Código Civil, o imperador diria: “Minha verdadeira
glória não é ter ganho 40 batalhas (...) Waterloo
apagará a lembrança de tantas vitórias (...) Mas
aquilo a que nada destruirá, que viverá para sempre
será meu Código Civil”.
“Entre 1799 e 1800, o primeiro-cônsul e seus
assessores haviam elaborado um sistema legal in-
teiramente novo. Uma década de revolução
reformara gradativamente as leis do Antigo Regime,
às vezes drástica; o novo Código Civil.- logo co-
nhecido como Código Napoleônico - consolidou
essas reformas num bloco único de legislação. O
velho direito consuetudinário do Norte da França
foi amalgamado ao direito romano do Sul, forman-
do uma unidade inconsútil. E criou-se um novo
código criminal, com juízes para aplicá-lo. Mais
tarde, o código seria ampliado para regular e trans-
formar quase todas as funções da vida francesa.
Com efeito, uma das provisões - a que insistia
na divisão igual da propriedade entre os filhos - fez
mais do que a Revolução para destruir o poder da
velha aristocracia rural da França”.3
EXPANSÃO NA EUROPAEXPANSÃO NA EUROPAEXPANSÃO NA EUROPAEXPANSÃO NA EUROPAEXPANSÃO NA EUROPA
Napoleão deu um tratamento implacável às na-
ções absolutistas. Entre 1804 e 1806, a França, sob o
comando do imperador, tornou-se a nação mais pode-
rosa da Europa. A primeira investida até que não foi
muito feliz, pois a batalha de Trafalgar (1804), com os
ingleses, resultou na derrota da esquadra francesa, que
se viu impedida de cruzar o canal da Mancha. Entretan-
to, no continente a superioridade francesa era incon-
testável. Como um castelo de cartas se desmanchando,
os exércitos inimigos foram se ajoelhando aos pés das
tropas napoleônicas. Em dezembro de 1805, foi a vez
da Áustria, na batalha de Austerlitz. O embate final foi
nos lagos gelados, a 100 quilômetros de Viena. Os
canhões bombardeando o gelo derrubavam humilhados
soldados, que se afogavam nas águas congeladas.
Após essa vitória dissolveu-se o antigo Sacro Império
Romano Germânico, nascendo em seu lugar a
Confederação do Reno - reunião de 16 Estados
germânicos aliados da França napoleônica.
OTempo da História
1789
REVOLUÇÃO
FRANCESA
1799
GOLPE
DO
18 BRUMÁRIO
1804
CÓDIGO
CIVIL
EXPANSÃO
1806
BLOQUEIO
CONTINENTAL 1812
CAMPANHA
DA
RÚSSIA
1815
DERROTA
EM
WATERLOO
Retrato de 1807.
Napoleão é
coroado
imperador
hereditário da
França.
Autoria: Edgard Chaves
EuropaNapoleônica
A Prússia, insatisfeita com o fato, preparou-se
para destruir o arrogante Napoleão. Em 1806, em Iena
realizou-se a grande batalha que, mais uma vez, provou
a força dos soldados franceses.As tropas napoleônicas
revolucionaram as táticas de guerra, atacando os inimi-
gos pelos flancos com o apoio do fogo cerrado dos
canhões. Enquanto isso, os prussianos reagiam de
forma convencional, lutando em bloco, acreditando no
poder das baionetas.
Os soldados prussianos eram, em
sua maioria, camponeses famintos que
iam para a guerra empurrados, destituí-
dos de um ideal ou um objetivo patrió-
tico. O alto comando era formado por
nobres corruptos que não abriam mão
de suas inúmeras regalias. Do outro
lado, os soldados franceses eram re-
crutados nas camadas mais humildes,
que tinham no exército revolucionário a
possibilidade de ascender na hierarquia
militar. Essas mortais desigualdades aniqui-
laram o sonho prussiano. Com a derrota, o imponente
reino da Prússia tornou-se mais um Estado vassalo de
Napoleão.
Entusiasmado com a vitória em terras austría-
cas, o imperador marchou com suas tropas para o leste
europeu na intenção de enfrentar os russos. Em fins de
1806, já haviam atravessado a Polônia onde encontra-
ram um grande destacamento inimigo. O primeiro com-
bate foi desfavorável aos franceses. Quando parecia imi-
nente a derrota, a cavalaria veio em socorro salvando
os soldados de Napoleão que estavam acuados, sem
chances de reagir.
Animados com a reação, os soldados franceses
foram, com tudo, para cima dos russos, conseguindo a
vitória em Friedland. Em 1807, Napoleão assinou um
acordo de paz com a Rússia e Prússia, reduzindo o ter-
ritório prussiano em 30% do seu tamanho anterior. Ali
o imperador constituiu o ducado de Varsóvia, que ser-
viria de embrião para a futura Polônia. As fronteiras
russas também foram reduzidas para criar um cinturão
de segurança entre o império russo e as regiões domi-
nadas pela França.
Após esse furacão militar a Europa passou a
ter outro desenho geopolítico. O território francês au-
mentou sensivelmente com a inclusão da Holanda,
Sabóia e as terras do Reno. A Suíça e Confederação
do Reno eram dependentes da França, mantidas
sob o regime de protetorado. Na Itália, a
maior parte dos reinos era subordina-
da à autoridade de Napoleão, sem fa-
lar no seu casamento com a princesa
austríaca, Maria Luísa, que lhe
garantiu direitos no reino da Áustria.
À Prússia, foi imposta a deprimente
situação de reduzir o exército a 40
000 soldados. Na Europa continen-
tal, só Portugal e Espanha não tinham
sentido a fúria napoleônica. Depois de
tantas vitórias, faltava somente um inimi-
go – a temível Inglaterra.
BLOQUEIO CONTINENTALBLOQUEIO CONTINENTALBLOQUEIO CONTINENTALBLOQUEIO CONTINENTALBLOQUEIO CONTINENTAL
Resolvido a dar um ponto final no poderio in-
glês, Napoleão decretou, em 1806, o famoso “Blo-
queio Continental”. O imperador sabia que a Inglater-
ra se garantia no ativo comércio com os países euro-
peus. Impedindo a venda das mercadorias, obrigava o
inimigo a utilizar as reservas de ouro para a compra de
alimentos e outros gêneros, não produzidos na Ingla-
terra. Os aliados eram subsidiados pelo ouro inglês,
que financiava a construção de navios, compra de ar-
mas e até calçados utilizados pelos soldados. Com base
nessa realidade, Napoleão decidiu isolar os paises eu-
ropeus, privando-os do consumo das mercadorias in-
glesas.
O elegante
serviço de jantar
ao qual pertence
o prato da
Esfinge era
composto de 66
pratos com
vistas do Egito,
criteriosamente
copiados de
desenhos feitos
no local.
“Eu limpei a Revolução. E
depois sobre o que poderiam
atacar-me de que um historiador
não pudesse defender-me? (...)
Enfim, seria a minha ambição?
Ah! sem dúvida, ele encontra-la-á
em mim - e muita; mas a maior e
mais alta que talvez jamais tenha
existido: a de estabelecer, de con-
sagrar o império da razão e o
pleno exercício, o inteiro gozo de
todas as faculdades humanas”.
Napoleão
Atravessar os
Alpes com um
enorme exército já
constitui uma
proeza. Chegando
ao lado italiano,
ainda teriam
energia para
infligir a derrota
aos austríacos.
Autoria: Edgard Chaves
EuropaNapoleônica
O Bloqueio Continental visava também prote-
ger a indústria francesa, que ainda era muito nova para
competir com a indústria inglesa. Não foi à toa, que a
burguesia deu apoio integral a Napoleão. Se nada acon-
tecesse de errado, a França tinha tudo para se tornar
uma grande potência industrializada. Para garantir o
Bloqueio, foi organizado um esquema monstruoso de
fiscalização em todos os portos da Europa. Napoleão
contava com a fidelidade dos aliados, que a princípio,
haviam concordado em colaborar.
Contudo, o plano que parecia perfeito, come-
çou a falhar quando os países ibéricos colocaram obs-
táculos ao Bloqueio Continental. A Espanha prometia
adesão, mas exigia em troca o domínio de Portugal.
Do outro lado, o rei português fazia jogo duplo, acei-
tando às escondidas, as mercadorias da Inglaterra. Vi-
sando cortar o mal pela raiz, Napoleão decidiu atacar
a península Ibérica. Na passagem pelo território espa-
nhol, forçou a renúncia do rei Fernando VII, entre-
gando o trono ao irmão José Bonaparte.
Os franceses contavam com aliados liberais,
que deram apoio à invasão, afinal, o atraso ibérico fora
provocado por uma elite conservadora e excessiva-
mente religiosa, que contrastava com as idéias liberais
e revolucionárias de Napoleão. Derrubando as antigas
e ultrapassadas monarquias absolutistas, as conquis-
tas francesas, inicialmente, estavam associadas à
liberdade e transformação.
Em Lisboa, a Família Real e centenas de no-
bres não esperaram o ataque das tropas napoleônicas,
preferindo a fuga para o Brasil. Como se verá depois,
o desdobramento das medidas tomadas por D. João VI
em terras brasileiras, marcou profundamente nossa
história. Com a conquista de Portugal, os franceses
pareciam neutralizar o último país que poderia manter
comércio com a Inglaterra. O problema é que esses
cálculos só funcionaram na teoria, pois, na prática, as
tropas napoleônicas encontraram uma feroz resistência
em terras espanholas. A junta rebelde formada em
Sevilha comandou a reação aos invasores franceses,
anulando a força dos 120.000 soldados franceses.
Aproveitando a confusão, 14.000 soldados ingleses
desembarcaram na Espanha, renovando o vigor dos
rebeldes. Com muito esforço e inúmeras perdas, o
imperador conteve a reação espanhola, mas essa vitória
momentânea não assegurou a definitiva conquista da
Espanha.Até o final, Napoleão teria de conviver com a
guerrilha, sem conseguir derrotá-la. Mais tarde diria: “a
Espanha foi a verdadeira úlcera que carreguei dentro
de mim”.
O BLOQUEIO FRACASSAO BLOQUEIO FRACASSAO BLOQUEIO FRACASSAO BLOQUEIO FRACASSAO BLOQUEIO FRACASSA
Em menos de um ano, o Bloqueio Continental
tinha virado uma grande “canoa furada”. Efetivamente,
a indústria francesa mostrara-se incapaz de suplantar a
poderosa indústria inglesa. Impedida de realizar comér-
cio com as nações européias, a Inglaterra voltou-se para
as colônias de Espanha e Portugal, forçando ou “suge-
rindo” a assinatura de tratados de livre-comércio.Avinda
da corte portuguesa para o Brasil ilustra bem essa
realidade. Em 1808, o afobado rei D. João VI decretou a
Abertura dos Portos às Nações Amigas, claramente
beneficiando a Inglaterra – única nação amiga de Portu-
gal.
Com as colônias espanholas na América não foi
muito diferente. Empenhado em lutar com as tropas fran-
cesas, o rei espanhol terminou esquecendo as colônias,
que se beneficiaram do livre-comércio com a Inglater-
ra. Mais tarde, não aceitariam a volta ao esquema anti-
go, acarretando sérios atritos com a metrópole, desen-
cadeando o processo que levaria à independência.
Impressionados
com a coragem
e o gênio
militar de
Napoleão, seus
soldados
realizavam
verdadeiros
milagres no
campo de
batalha.
Dobrando o
cabo de
Trafalgar, a
modesta frota
francesa teve um
encontro
inesperado - a
formidável
esquadra
inglesa, senhora
absoluta dos
mares. Seis
horas de terríveis
comabates e o
exército
napoleônico
sofreu a sua
primeira grande
derrota.
Autoria: Edgard Chaves
EuropaNapoleônica
Na Europa, a falta de mercadorias afetava todos
os países, incluindo a França. Por mais que as indústri-
as francesas tivessem proteção do governo, era impos-
sível, em tempo recorde, conseguir abastecer a Europa
inteira. Ironicamente, a própria França teve de comprar
produtos ingleses para que seus soldados tivessem as
botas nas frentes de combate. “O próprio governo fran-
cês não pode prescindir das mercadorias inglesas. O
exército francês estava vestido com tecido inglês e
usava sapatos ingleses. O governo francês, oficial-
mente, permitiu a compra de alguns artigos na Ingla-
terra ao mesmo tempo em que agentes franceses, por
toda a Europa, apreendiam o contrabando inglês,
cortavam em pedaços as peças de tecido inglês e quei-
mavam em fogueiras as mercadorias inglesas, bara-
tas e de excelente qualidade”. 4
O
fracasso do bloqueio expôs o império
napoleônico a inúmeras dissidências,
dentre elas a Rússia, que desenvolvia
intenso contrabando com a Inglaterra. O movimento
de navios ingleses em águas russas lembrava a época
anterior ao bloqueio. Em toda a Europa, a realidade
era a mesma. Navios ingleses desembarcando merca-
dorias, derrubando na prática o Bloqueio Continental.
Com o objetivo de retomar o controle das áreas domi-
nadas, o imperador ensejou a maior campanha militar
da história.
Foram recrutados soldados em diversos paí-
ses para compor a fantástica tropa de 650.000 homens,
no intuito de invadir a Rússia. Napoleão acreditava
que o domínio do território russo colocaria o resto do
continente de joelho aos seus pés.
A estratégia se baseava na luta contra os rus-
sos nas regiões próximas à fronteira. O exército de
650.000 soldados atacaria em bloco, para dizimar a
resistência do inimigo. Prevendo dificuldades,
Napoleão enviou um grande comboio de suprimentos
para abastecer as tropas. As reservas de alimentos dis-
poníveis na Rússia, eram muito aquém das necessida-
des francesas. No entender de Napoleão, em um mês a
Rússia estaria dominada.
Com essa expectativa, as tropas napoleônicas
invadiram o território russo em junho de 1812, aprovei-
tando das vantagens oferecidas pelo clima ameno do
verão. A certeza do sucesso impediu o imperador de
enxergar a armadilha que o esperava. Quando abriu os
olhos o desastre já era irreversível. A “grande campa-
nha” resultou na “grande derrota”.
O primeiro grande problema foi o avanço lento
das tropas. As carroças de alimentos andavam a passo
de tartaruga, facilitando o recuo das tropas russas.
Muitas vilas e plantações foram arrasadas pelos
próprios russos, acentuando a falta de alimentos.
Inúmeros combatentes do lado francês desertavam, à
medida que a fome aumentava.Afinal, muitos soldados
não tinham o menor compromisso com a causa
francesa, pois haviam sido recrutados em regiões
dominadas. O grupo de ataque frontal havia se reduzido
a 150.000 soldados que chegaram em Moscou, no mês
de setembro.
O general Kutusov defendeu a cidade abaten-
do 70.000 soldados de Napoleão. Após o estrago, o
comandante russo retirou suas tropas para o Norte,
enquanto o imperador francês colhia uma suposta vi-
tória marchando pelas ruas abandonadas de Moscou.
A Campanha daA Campanha daA Campanha daA Campanha daA Campanha da
RússiaRússiaRússiaRússiaRússia
“Envergando as cores nacionais, a águia voará de
“Uma penosa marcha de
1500 quilômetros, através de
planíceis geladas e devasta-
da, os espera, e 400.000 ho-
mens vão perecer no trajeto,
decretando o melancólico fim
do grande exército”.
Autoria: Edgard Chaves
EuropaNapoleônica
O trono do czar foi ocupado por Napoleão, que
cobrava de Alexandre I o reconhecimento da derrota.
A surpreendente resposta do czar foi um novo ataque
às tropas napoleônicas, completado pelo incêndio que
destruiu 1/3 da cidade acabando com o resto dos su-
primentos. Sem poder de reação, os franceses bate-
ram em retirada pela rota já devastada pelo avanço
anterior. No retorno, enfrentaram um inimigo que não
estava nos planos de Napoleão. Com efeito, o frio de
20° graus negativos sepultou muitos soldados sob a
neve, congelando o resto de esperança e o sonho de
vitória. Do monstruoso exército que invadira a Rússia,
apenas 40.000 homens conseguiram ultrapassar a fron-
teira da Polônia. O caminho de volta foi uma correria
desordenada, favorecendo a organização das forças ini-
migas.
Em outubro de 1813, Áustria, Prússia, Rússia
e Inglaterra reuniram 300.000 soldados para cercar
o inimigo na batalha de Leipzig. Extenuadas, as
tropas de Napoleão não puderam suportar a
pressão, recuando até o território francês. Depois
de vários meses em luta, os aliados vislumbraram a
vitória com a renúncia do imperador. Em abril de
1814, o comandante francês embarcou para a ilha
de Elba, onde se esperava que teria o exílio
definitivo. Para substituí-lo foram buscar o ambicioso
Luís XVIII, que permanecia todo esse tempo,
escondido na Inglaterra.
Contam as más línguas, que o rei havia aplau-
dido a morte do irmão Luís XVI, apostando que cedo
ou tarde, teria a sua vez no trono francês. Quando es-
tava começando a comemoração no palácio de
Versalhes, uma notícia estragou a festa dos nobres da
corte. De forma cinematográfica, Napoleão conseguiu
fugir de Elba e já se encontrava a poucos quilômetros
de Paris. Tinha como companhia um grupo fiel de sol-
dados dispostos a dar a vida pelo general. Depois de
reassumir o trono, Napoleão faria o “Governo dos Cem
Dias”.
“Luís XVIII estava longe de ser popular. A mai-
oria dos veteranos de Napoleão desprezava-o; os cam-
poneses temiam que a restauração da aristocracia lhes
custasse os poucos privilégios que a Revolução lhes
trouxera; e as classes médias eram contra um regime
que ameaçava sua nova posição. Diante da insatisfa-
ção, Napoleão arriscou sua última jogada: a 1° de
março com umas poucas centenas de seguidores de-
sembarcou perto de Cannes. As tropas enviadas por
Luís para prendê-lo bandearam-se para seu lado e, a
20 de março, ele chegou a Paris. Luís fugira e a cida-
de aclamou com alegria o seu imperador. Com menos
júbilo, os aliados proclamaram-no fora da lei. Uma
irresistível invasão da França foi planejada para ju-
lho; até então, 200.000 soldados aliados, sob o co-
mando de Wellington e do prussiano Blücher, estari-
am alertas no oeste dos Países Baixos - a atual Bélgi-
ca”. 5
Aproveitando que os aliados não estavam
completamente organizados, o imperador juntou
seu exército para o confronto no território belga.
Um erro de cálculo permitiu aos prussianos um
recuo organizado até chegarem ao lado das tro-
pas inglesas. A união das duas tropas foi fatal
para a derrota de Napoleão. Para ajudar os aliados, uma
chuva torrencial impediu a chegada da artilharia france-
sa. O movimento das tropas levou todos para um local
chamadoWaterloo, que terminaria por emprestar o nome
a essa memorável batalha.Até a invencível Guarda Im-
perial foi obrigada a bater em retirada, antes da inevitá-
vel derrota. Desprovido de soldados, lutando com tro-
pas abatidas na sua condição moral, restava a Napoleão
a dignidade de perder em pé. Dessa vez seria exilado na
pequena ilha de Santa Helena, onde morreria em 1821.
O mito Napoleão provoca sem dúvida, grande
polêmica. Analisando-se friamente a época, enxerga-
mos inicialmente um governante implacável, que repri-
miu os inimigos internos, suprimindo quase todas as
liberdades individuais.
campanário em campanário até as torres de Notre-Dame”
à esquerda: O
quadro da
batalha de
Waterloo
mostra o
momento crítico
quando um
ataque mortal
derrotou a
Guarda Imperial
de Napoleão.
à direita: O
imperador
derrotado
despede-se de
sua guarda
imperial no
palácio de
Fontainebleau
Autoria: Edgard Chaves
EuropaNapoleônica
Após o exílio
de Napoleão as po-
tências vencedoras
se reuniram em Vie-
na, com o objetivo
de jogar uma pá de
cal em tudo que
lembrasse a Revolução Francesa. Os diplomatas
construíram uma nova (ou antiga!!) Europa com base
nos princípios legitimadores das monarquias absolutas.
Para tanto, usaram como fundamento o princípio da
Legitimidade, que se contrapôs ao Liberalismo
burguês. Como afirma o historiador René Remond: “
A Legitimidade reside no valor reconhecido
da perenidade. É legítimo o regime que dura, que
representa a tradição, que tem atrás de si uma longa
história. A legitimidade é essencialmente histórica e
tradicionalista. Essa identificação com o tempo jus-
tifica-se, de modo positivo e pragmático: se um regi-
me permanece é porque correspondia às necessida-
des, é porque encontrou adesão nos espíritos, é por-
que foi eficaz, é porque foi capaz de burlar as provas
do tempo”. 7
O clima político de 1815 refletia o choque dos
princípios antagônicos. De um lado, as forças de con-
servação - rei e aristocracia, de outro, as forças de
transformação - burguesia e camadas populares. Mo-
mentaneamente a situação pendia a favor da aristocra-
cia. Restava saber por quanto tempo a burguesia e o
povo aceitariam essa realidade.
Arquiteto de uma política destinada a
defender a Revolução, Napoleão nunca es-
queceu a burguesia – que havia apoiado sua
ascensão ao poder. No continente construiu
um imenso império, que se estendeu por toda
a Europa, derrubando pelo caminho as ve-
lhas e tradicionais estruturas feudais, abrindo
espaço para a expansão da burguesia nos pa-
íses conquistados. Para reverter essa situa-
ção, as forças conservadoras convocaram o
Congresso de Viena. Entusiasmados, os líde-
res vencedores não viam que a Europa, de-
pois do furacão napoleônico, nunca mais se-
ria a mesma.
“Enquanto continua o debate sobre
Napoleão os historiadores concordam em
dois pontos. Primeiro, sua vida foi excepci-
onal. Um homem que se fez sozinho, que con-
trolou as forças revolucionárias da época e
impôs a sua vontade à história. Napoleão ti-
nha o direito de dizer que sua vida era um
romance. Sua força, seu gênio militar e se
carisma levaram-no à culminância de poder;
sua incapacidade de moderar as próprias
ambições golpeou profundamente a Europa, deformou seus critérios e provocou sua queda. Seu orgulho
sem limites, a hibrys dos dramaturgos gregos, teria espantado Sófocles; as dimensões de sua mente e as
complexidades de sua personalidade teriam intrigado Shakespeare; seu cinismo e sua total falta de es-
crúpulos teriam impressionado Maquiavel.
Em segundo lugar, os historiadores concordam em que, ao difundir
suas idéias e as instituições revolucionárias, Napoleão tornou impossível
restabelecer o Antigo Regime depois da queda do Imperador. A destruição
dos resquícios feudais, a secularização da sociedade, a transformação do
Estado dinástico no moderno Estado Nacional e a ascendência da burgue-
sia estavam assegurados. O novo conceito de guerra e o novo espírito do
nacionalismo também se tornaram parte definitiva do cenário europeu. No
curso de sucessivas gerações, os métodos da guerra total a serviço do naci-
onalismo beligerante destruíram a grandiosa visão napoleônica de uma
Europa unida e subverteram o humanismo liberal que foi o legado essencial
da Revolução Francesa”6
.
O Congresso
de Viena
Autoria: Edgard Chaves
EuropaNapoleônica
No Congresso, uma das estrelas mais
brilhantes foi o príncipe Metternich, da Áus-
tria. Obstinado, defendeu e aprovou o
“Princípio das Compensações”, garantindo um
razoável equilíbrio territorial entre as nações eu-
ropéias. O novo mapa do continente assegu-
rou vantagens para os quatros grandes
vencedores. Inglaterra, Áustria, Prússia e
Rússia, cada um por seu lado, saíram do encon-
tro inflados por várias anexações territoriais.
De início, foram prejudicados os reinos
e países aliados de Napoleão. O antigo ducado
de Varsóvia que era uma espécie de rascunho
da Polônia, foi dividido entre Áustria, Prússia e
Rússia, que terminou ficando com o maior pe-
daço. A Polônia só apareceria novamente no
mapa, após a Primeira Guerra Mundial; até lá,
estaria nas mãos dos ambiciosos inimigos. Os
Reinos Italianos do Norte foram loteados pela Áus-
tria, que exerceu um controle político na região até a
Unificação Italiana, em 1870. O anti-nacionalismo de
1815 reverteu a tendência unificadora da época de
Napoleão. A mesma deliberação foi imposta aos esta-
dos germânicos, desmanchando a Confederação do
Reno e surgindo em seu lugar a Confederação
Germânica, sob a tutela da Áustria e Prússia. Nesse
caso contou bastante a pressão da Inglaterra, que ti-
nha medo de conviver com um Estado germânico uni-
do e poderoso. Ao longo do século XIX, por diversas
vezes, os alemães tentariam a unificação para final-
mente, consegui-la em 1870.
A Inglaterra, embora não tenha obtido anexa-
ções no continente, saiu do Congresso de Viena com
um invejável patrimônio colonial. Na visão do viscon-
de de Castlereagh, não valia a pena brigar por miga-
lhas na Europa. Com sua esperta atuação, a Inglaterra
recebeu a região do Cabo, as ilhas do Ceilão, Maurícia,
Tasmânia, Hong-Kong,Trinidad e Tobago. Conseguiu
ainda a livre navegação nos mares e a proibição inter-
nacional do tráfico de escravos.
O interesse de crescimento econômico ca-
nalizava a Inglaterra para a disputa das regiões co-
loniais, que os outros países praticamente haviam
rejeitado. Curioso notar que os ingleses, durante
décadas, haviam lucrado com o tráfico de escra-
vos, vendendo-os a diversas colônias da América.
Porém o desenvolvimento de sua indústria, fez da
Inglaterra uma incansável defensora do fim do trá-
fico. Os motivos óbvios revelavam o desejo de au-
mentar o mercado consumidor para as produtivas
indústrias inglesas.
Mas nem tudo foi unanimidade entre as na-
ções vencedoras. A teoria das Compensações foi
rejeitada pelo czar Alexandre I, da Rússia. Sua in-
sistência em ganhar a maior parte dos territórios
poloneses criou obstáculos, dificultando a assina-
tura do acordo definitivo. A desunião do grupo deu
a brecha para o representante da França entrar em
cena de forma brilhante.
Tayllerand, diplomata francês de grande habili-
dade, argumentou que o equilíbrio europeu dependia
da preservação do território francês. Respaldado no
Princípio da Legitimidade, defendeu a permanência
dos mesmos limites territoriais que a França tinha antes
da Revolução em 1789. Fantástico! O argumento termi-
nou emplacando e o diplomata Tayllerand pôde acres-
centar ao seu currículo, a inacreditável integridade
territorial francesa, impedindo que o país fosse dividi-
do, como acontecera com os outros derrotados.
Bem ou mal, as decisões do Congresso de Viena
evitaram por quase cem anos, a deflagração de uma nova
guerra generalizada. “Fica claro pelo curso das dispu-
tas desse período que o material inflamável nas rela-
ções internacionais simplesmente não era explosivo o
bastante para deflagrar uma guerra de grandes pro-
porções.
No intervalo de
uma sessão do
Congresso de
Viena, o princípe
Metternich
oferece a seus
hóspedes um
magnífico baile a
fantasia.
A Europa do Congresso de Viena
Autoria: Edgard Chaves
EuropaNapoleônica
Das grandes potências, os austríacos e os
prussianos eram muito fracos para contar muito. Os
ingleses estavam satisfeitos. Por volta de 1815, eles
tinham obtido uma vitória mais completa do que qual-
quer outra potência em toda a história mundial, tendo
emergido dos 20 anos de guerra com a França como a
única economia industrializada, a única potência na-
val - em 1840 a marinha britânica tinha quase tantos
navios quanto todas as outras marinhas reunidas - e
virtualmente a única potência colonial do mundo.(...)
A Rússia, conquanto não tão saciada, tinha somente
ambições territoriais limitadas, e nada havia que pu-
desse por muito tempo - ou pelo menos assim parecia
- atrapalhar o seu avanço”. 8
A SANTA ALIANÇAA SANTA ALIANÇAA SANTA ALIANÇAA SANTA ALIANÇAA SANTA ALIANÇA
Os acontecimentos de 1815, suplantaram
momentaneamenteos ideais liberais. Entretanto, as
forças de conservação “montavam num animal bravio”
sem medir as conseqüências e os riscos da empreitada.
Ao dividir a Europa de acordo com seus interesses, os
vencedores desprezaram por completo a força do
Nacionalismo, que havia sido despertado na época
napoleônica. Era, no mínimo, ingenuidade
achar que italianos, alemães e poloneses iriam
se acomodar, abandonando as pretensões de
unidade nacional.
Os aliados vencedores criaram a Santa
Aliança – espécie de braço armado da aristo-
cracia. O grupo formado pelas nações vence-
doras tinha como objetivo, impedir o
surgimento de um novo foco revolucionário
ou movimento nacionalista.Aestratégia valia
não só para o continente europeu, estenden-
do-se a qualquer parte do mundo, onde hou-
vesse focos revolucionários. A Santa Aliança
chegou a interferir de forma repressiva nos
movimentos unificadores da Itália
(Carbonários - 1822) e nos reinos germânicos,
em 1823. De qualquer forma, envolvendo
países de interesses opostos, o destino da
Santa Aliança era o fracasso. Na tentativa de interven-
ção na América Espanhola, na época dos movimentos
de independência, teve a oposição da Inglaterra, que
foi veementemente contra a interferência dos “aliados”.
Na verdade, a união dos vencedores não era tão frater-
na, como parecia a princípio.
Na Europa, a Santa Aliança teve uma atuação
bastante contraditória. De um lado, atuou reprimindo a
revolta espanhola de 1820, mas de outro, fez vista grossa
ao movimento revolucionário português, revelando-se
conivente com a débil Revolução do Porto. Constata-
mos então que o Congresso de Viena e as forças de
conservação tiveram, em 1815, uma vitória momentâ-
nea. Em toda a Europa fermentava o descontentamento
que unia burgueses, pessoas humildes, operários e
agitados nacionalistas. Logo em seguida, um novo ven-
daval revolucionário varreria o continente europeu. A
partir de 1820, o ‘trem da revolução’ recomeçaria sua
devastadora viagem.
1 In.ARevolução Francesa. GrandesAconte-
cimentos da História. Editora Três. Pág. 79.
2 In. Carvalho, Delgado de. História Docu-
mental. Editora Record. pág. l78 e 179
3 In. Lucas, Colin. O Império de Bonaparte. A
Força da Iniciativa. Coleção Time-Life. Abril Livros.
Pág. 15.
4 In. Efimov, N. História Moderna. Centro do
Livro Brasileiro. Lisboa. Pág. 87.
5 In. Lucas, Colin. Op. Cit. ColeçãoTime-Life.
Pág. 37.
6 In. Perry, Marvin. Civilização Ocidental. Uma
História Concisa. Martins Fontes Editora. Pág. 463-
464
7 In. O Século XIX. Editora Cultrix. Pág. 18.
8 In. Hobsbawm, Eric J. A Era das Revolu-
ções. 1789 - 1748. Editora Paz e Terra. Pág. 124.
Recebendo para o Congresso de
Viena o Czar Alexandre I e Frederico
II da Prússia, o imperador austríaco,
Francisco II teria com êles um
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A ascensão de Napoleão Bonaparte

  • 1. N a conturbada época do Terror, quando a guilhotina cortou a cabeça de centenas de pessoas, começou a trajetória do então soldado, Napoleão Bonaparte. Sua meteórica carreira militar, levou- o desde cedo ao comando das tropas france- sas. Enfrentando inimigos mais poderosos, as tropas sob o comando de Napoleão obtinham surpreendentes vitórias. Servindo à Revolução em etapas diferentes, rapidamente Napoleão atingiu o posto de general. Na época do Diretório, comandando um precá- rio exército, pouco numeroso e mal equipado, mas à custa de uma ferrenha disciplina militar, conseguiu a conquista de boa parte do território italiano. Depois da vitória na Itália, foi para cima da In- glaterra que era o inimigo mais poderoso da França. Numa investida ousada, Napoleão atacou o Egito — rota de passagem das mercadorias que vinham da Ín- dia para os ingleses. Na Campanha do Egito não obteve a vitória, mas conseguiu um retorno triunfal driblando a poderosa es- quadra inglesa mar Mediterrâneo. Por tudo isso, foi re- cebido como herói em Paris. “No clima incerto e politicamente fragmenta- do em que governa o Diretório, o único ponto seguro constitui-se nas vitórias militares, cujos ecos logo che- gam a Paris. “Povos da Itália: o exército francês vem romper os seus grilhões; o povo francês é amigo de todos os povos. Tenham confiança em nós. Vossos bens, vossa religião, vossos costumes serão respeitados. Fazemos a guerra como adversários generosos e só sentimos rancor contra os tiranos que vos escravizam.” Napoleão Bonaparte “Aterrei o abismo monárquico e pus ordem no caos”. Napoleão. 1799 “Aterrei o abismo monárquico e pus ordem no caos”. Napoleão. 1799 Autoria: Edgard Chaves
  • 2. EuropaNapoleônica Apesar de tudo, e com rapidez, a França am- plia suas fronteiras incorporando Flandres e a parte espanhola de São Domingos. Há grandes problemas militares, mas há também homens à altura para resolvê- los. E dentre todos, em primeiríssimo plano Bonaparte , que ultrapassando os Alpes, penetra na Itália, onde conduz uma campanha que culmina com uma série de fulgurantes batalhas estabelecendo não só as bases de um sucesso militar, mas também fixan- do as premissas daquela que seria, depois sua carreira política”. 1 No outono de 1799, o Diretório agonizava sofrendo ataques dos realistas e dos jacobinos. Com o apoio do exército e da burguesia, Napoleão invadiu a sessão daAssembléia e depois de inflamado dis- curso determinou o fim do Diretório, subs- tituindo-o pelo regime do Consulado. Des- tituindo o governo burguês com o Golpe do 18 Brumário, o general respondia aos anseios da própria burguesia. Napoleão era o homem de maior prestigio na França, representava para todos, a esperança de consolidação da revolução, depois de uma década de instabilidade. De imediato, priorizou a organização interna do país estruturando um sistema eficiente de cobrança de impostos, visando coibir o desvio de recursos. A eficácia do sistema era garantida por um numeroso cor- po de funcionários públicos que vasculhavam o país, punindo rigorosamente os infratores. Para centralizar e desenvolver a economia foi criado o Banco Estatal da França, com o objetivo inicial de canalizar recursos para a criação de indústrias. Com a Igreja Católica, Napoleão promoveu a reaproximação, tornando o catolicismo a principal re- ligião do país. O renascer da Igreja, através da Concordata de 1801, tinha um aspecto nitidamente ideológico, pois estava vinculado à exaltação do regime. Em 1804, ao mesmo tempo em que se tornou imperador, aprovou o fantástico Código Civil – con- siderado o legado jurídico mais importante, depois do Direito Romano. A nova Constituição preservava a li- berdade de consciência, igualdade perante a lei, direi- to de escolher a profissão, além de assegurar a propri- edade como o direito primordial do cidadão. Paradoxalamente, em relação ao trabalho, estabelecia a proibição das greves e impedia a associação sindical. “Ao povo é necessário uma religião. É preciso que esta religião esteja nas mãos do governo. Hoje em dia, cinqüenta bispos emigrados e pagos pela Inglaterra conduzem o clero francês. É necessário destruir esta influência deles; para isso, é indispensável a autoridade do Papa. Dirão que sou papista; eu não sou coisa alguma; eu era maometano no Egito, serei católico aqui para o bem do povo. Não acredito em religiões... Mas é idéia de um “Deus”, e levantando as mãos para o céu: “Quem foi que fez tudo isto?” Está você muito enganado, o clero sempre existe e existirá enquanto houver no povo um espírito religioso e este espírito lhe é inerente. Temos visto repúblicas, democracias, tudo que vemos, mas nunca um Estado sem religião, sem culto, sem padres. Não será melhor organizar o culto, disciplinar os padres do que deixar as coisas como estão? Agora os padres estão pregando contra a República; será bom deportá-los? Não! Porque para isso seria necessário mudar o sistema de governo. O que o torna amado pelo povo, é o seu respeito pelo culto.” 2 “Na minha carreira en- contrar-se-ão erros, sem dúvi- da: mas Arcole, Rivoli, as Pirâmides, Marengo, Austerlitz, Iena, Friedland (batalhas) são de granito; o dente da inveja nada pode contra elas” Napoleão Posse de Napoleão, no palácio de Petit Luxemburg, pintura de Couder Autoria: Edgard Chaves
  • 3. EuropaNapoleônica A liberdade social sob a ótica burguesa foi mantida, porém a liberdade política foi praticamente anulada, com o decreto da censura e o controle da imprensa. No futuro, referindo-se com orgulho ao Código Civil, o imperador diria: “Minha verdadeira glória não é ter ganho 40 batalhas (...) Waterloo apagará a lembrança de tantas vitórias (...) Mas aquilo a que nada destruirá, que viverá para sempre será meu Código Civil”. “Entre 1799 e 1800, o primeiro-cônsul e seus assessores haviam elaborado um sistema legal in- teiramente novo. Uma década de revolução reformara gradativamente as leis do Antigo Regime, às vezes drástica; o novo Código Civil.- logo co- nhecido como Código Napoleônico - consolidou essas reformas num bloco único de legislação. O velho direito consuetudinário do Norte da França foi amalgamado ao direito romano do Sul, forman- do uma unidade inconsútil. E criou-se um novo código criminal, com juízes para aplicá-lo. Mais tarde, o código seria ampliado para regular e trans- formar quase todas as funções da vida francesa. Com efeito, uma das provisões - a que insistia na divisão igual da propriedade entre os filhos - fez mais do que a Revolução para destruir o poder da velha aristocracia rural da França”.3 EXPANSÃO NA EUROPAEXPANSÃO NA EUROPAEXPANSÃO NA EUROPAEXPANSÃO NA EUROPAEXPANSÃO NA EUROPA Napoleão deu um tratamento implacável às na- ções absolutistas. Entre 1804 e 1806, a França, sob o comando do imperador, tornou-se a nação mais pode- rosa da Europa. A primeira investida até que não foi muito feliz, pois a batalha de Trafalgar (1804), com os ingleses, resultou na derrota da esquadra francesa, que se viu impedida de cruzar o canal da Mancha. Entretan- to, no continente a superioridade francesa era incon- testável. Como um castelo de cartas se desmanchando, os exércitos inimigos foram se ajoelhando aos pés das tropas napoleônicas. Em dezembro de 1805, foi a vez da Áustria, na batalha de Austerlitz. O embate final foi nos lagos gelados, a 100 quilômetros de Viena. Os canhões bombardeando o gelo derrubavam humilhados soldados, que se afogavam nas águas congeladas. Após essa vitória dissolveu-se o antigo Sacro Império Romano Germânico, nascendo em seu lugar a Confederação do Reno - reunião de 16 Estados germânicos aliados da França napoleônica. OTempo da História 1789 REVOLUÇÃO FRANCESA 1799 GOLPE DO 18 BRUMÁRIO 1804 CÓDIGO CIVIL EXPANSÃO 1806 BLOQUEIO CONTINENTAL 1812 CAMPANHA DA RÚSSIA 1815 DERROTA EM WATERLOO Retrato de 1807. Napoleão é coroado imperador hereditário da França. Autoria: Edgard Chaves
  • 4. EuropaNapoleônica A Prússia, insatisfeita com o fato, preparou-se para destruir o arrogante Napoleão. Em 1806, em Iena realizou-se a grande batalha que, mais uma vez, provou a força dos soldados franceses.As tropas napoleônicas revolucionaram as táticas de guerra, atacando os inimi- gos pelos flancos com o apoio do fogo cerrado dos canhões. Enquanto isso, os prussianos reagiam de forma convencional, lutando em bloco, acreditando no poder das baionetas. Os soldados prussianos eram, em sua maioria, camponeses famintos que iam para a guerra empurrados, destituí- dos de um ideal ou um objetivo patrió- tico. O alto comando era formado por nobres corruptos que não abriam mão de suas inúmeras regalias. Do outro lado, os soldados franceses eram re- crutados nas camadas mais humildes, que tinham no exército revolucionário a possibilidade de ascender na hierarquia militar. Essas mortais desigualdades aniqui- laram o sonho prussiano. Com a derrota, o imponente reino da Prússia tornou-se mais um Estado vassalo de Napoleão. Entusiasmado com a vitória em terras austría- cas, o imperador marchou com suas tropas para o leste europeu na intenção de enfrentar os russos. Em fins de 1806, já haviam atravessado a Polônia onde encontra- ram um grande destacamento inimigo. O primeiro com- bate foi desfavorável aos franceses. Quando parecia imi- nente a derrota, a cavalaria veio em socorro salvando os soldados de Napoleão que estavam acuados, sem chances de reagir. Animados com a reação, os soldados franceses foram, com tudo, para cima dos russos, conseguindo a vitória em Friedland. Em 1807, Napoleão assinou um acordo de paz com a Rússia e Prússia, reduzindo o ter- ritório prussiano em 30% do seu tamanho anterior. Ali o imperador constituiu o ducado de Varsóvia, que ser- viria de embrião para a futura Polônia. As fronteiras russas também foram reduzidas para criar um cinturão de segurança entre o império russo e as regiões domi- nadas pela França. Após esse furacão militar a Europa passou a ter outro desenho geopolítico. O território francês au- mentou sensivelmente com a inclusão da Holanda, Sabóia e as terras do Reno. A Suíça e Confederação do Reno eram dependentes da França, mantidas sob o regime de protetorado. Na Itália, a maior parte dos reinos era subordina- da à autoridade de Napoleão, sem fa- lar no seu casamento com a princesa austríaca, Maria Luísa, que lhe garantiu direitos no reino da Áustria. À Prússia, foi imposta a deprimente situação de reduzir o exército a 40 000 soldados. Na Europa continen- tal, só Portugal e Espanha não tinham sentido a fúria napoleônica. Depois de tantas vitórias, faltava somente um inimi- go – a temível Inglaterra. BLOQUEIO CONTINENTALBLOQUEIO CONTINENTALBLOQUEIO CONTINENTALBLOQUEIO CONTINENTALBLOQUEIO CONTINENTAL Resolvido a dar um ponto final no poderio in- glês, Napoleão decretou, em 1806, o famoso “Blo- queio Continental”. O imperador sabia que a Inglater- ra se garantia no ativo comércio com os países euro- peus. Impedindo a venda das mercadorias, obrigava o inimigo a utilizar as reservas de ouro para a compra de alimentos e outros gêneros, não produzidos na Ingla- terra. Os aliados eram subsidiados pelo ouro inglês, que financiava a construção de navios, compra de ar- mas e até calçados utilizados pelos soldados. Com base nessa realidade, Napoleão decidiu isolar os paises eu- ropeus, privando-os do consumo das mercadorias in- glesas. O elegante serviço de jantar ao qual pertence o prato da Esfinge era composto de 66 pratos com vistas do Egito, criteriosamente copiados de desenhos feitos no local. “Eu limpei a Revolução. E depois sobre o que poderiam atacar-me de que um historiador não pudesse defender-me? (...) Enfim, seria a minha ambição? Ah! sem dúvida, ele encontra-la-á em mim - e muita; mas a maior e mais alta que talvez jamais tenha existido: a de estabelecer, de con- sagrar o império da razão e o pleno exercício, o inteiro gozo de todas as faculdades humanas”. Napoleão Atravessar os Alpes com um enorme exército já constitui uma proeza. Chegando ao lado italiano, ainda teriam energia para infligir a derrota aos austríacos. Autoria: Edgard Chaves
  • 5. EuropaNapoleônica O Bloqueio Continental visava também prote- ger a indústria francesa, que ainda era muito nova para competir com a indústria inglesa. Não foi à toa, que a burguesia deu apoio integral a Napoleão. Se nada acon- tecesse de errado, a França tinha tudo para se tornar uma grande potência industrializada. Para garantir o Bloqueio, foi organizado um esquema monstruoso de fiscalização em todos os portos da Europa. Napoleão contava com a fidelidade dos aliados, que a princípio, haviam concordado em colaborar. Contudo, o plano que parecia perfeito, come- çou a falhar quando os países ibéricos colocaram obs- táculos ao Bloqueio Continental. A Espanha prometia adesão, mas exigia em troca o domínio de Portugal. Do outro lado, o rei português fazia jogo duplo, acei- tando às escondidas, as mercadorias da Inglaterra. Vi- sando cortar o mal pela raiz, Napoleão decidiu atacar a península Ibérica. Na passagem pelo território espa- nhol, forçou a renúncia do rei Fernando VII, entre- gando o trono ao irmão José Bonaparte. Os franceses contavam com aliados liberais, que deram apoio à invasão, afinal, o atraso ibérico fora provocado por uma elite conservadora e excessiva- mente religiosa, que contrastava com as idéias liberais e revolucionárias de Napoleão. Derrubando as antigas e ultrapassadas monarquias absolutistas, as conquis- tas francesas, inicialmente, estavam associadas à liberdade e transformação. Em Lisboa, a Família Real e centenas de no- bres não esperaram o ataque das tropas napoleônicas, preferindo a fuga para o Brasil. Como se verá depois, o desdobramento das medidas tomadas por D. João VI em terras brasileiras, marcou profundamente nossa história. Com a conquista de Portugal, os franceses pareciam neutralizar o último país que poderia manter comércio com a Inglaterra. O problema é que esses cálculos só funcionaram na teoria, pois, na prática, as tropas napoleônicas encontraram uma feroz resistência em terras espanholas. A junta rebelde formada em Sevilha comandou a reação aos invasores franceses, anulando a força dos 120.000 soldados franceses. Aproveitando a confusão, 14.000 soldados ingleses desembarcaram na Espanha, renovando o vigor dos rebeldes. Com muito esforço e inúmeras perdas, o imperador conteve a reação espanhola, mas essa vitória momentânea não assegurou a definitiva conquista da Espanha.Até o final, Napoleão teria de conviver com a guerrilha, sem conseguir derrotá-la. Mais tarde diria: “a Espanha foi a verdadeira úlcera que carreguei dentro de mim”. O BLOQUEIO FRACASSAO BLOQUEIO FRACASSAO BLOQUEIO FRACASSAO BLOQUEIO FRACASSAO BLOQUEIO FRACASSA Em menos de um ano, o Bloqueio Continental tinha virado uma grande “canoa furada”. Efetivamente, a indústria francesa mostrara-se incapaz de suplantar a poderosa indústria inglesa. Impedida de realizar comér- cio com as nações européias, a Inglaterra voltou-se para as colônias de Espanha e Portugal, forçando ou “suge- rindo” a assinatura de tratados de livre-comércio.Avinda da corte portuguesa para o Brasil ilustra bem essa realidade. Em 1808, o afobado rei D. João VI decretou a Abertura dos Portos às Nações Amigas, claramente beneficiando a Inglaterra – única nação amiga de Portu- gal. Com as colônias espanholas na América não foi muito diferente. Empenhado em lutar com as tropas fran- cesas, o rei espanhol terminou esquecendo as colônias, que se beneficiaram do livre-comércio com a Inglater- ra. Mais tarde, não aceitariam a volta ao esquema anti- go, acarretando sérios atritos com a metrópole, desen- cadeando o processo que levaria à independência. Impressionados com a coragem e o gênio militar de Napoleão, seus soldados realizavam verdadeiros milagres no campo de batalha. Dobrando o cabo de Trafalgar, a modesta frota francesa teve um encontro inesperado - a formidável esquadra inglesa, senhora absoluta dos mares. Seis horas de terríveis comabates e o exército napoleônico sofreu a sua primeira grande derrota. Autoria: Edgard Chaves
  • 6. EuropaNapoleônica Na Europa, a falta de mercadorias afetava todos os países, incluindo a França. Por mais que as indústri- as francesas tivessem proteção do governo, era impos- sível, em tempo recorde, conseguir abastecer a Europa inteira. Ironicamente, a própria França teve de comprar produtos ingleses para que seus soldados tivessem as botas nas frentes de combate. “O próprio governo fran- cês não pode prescindir das mercadorias inglesas. O exército francês estava vestido com tecido inglês e usava sapatos ingleses. O governo francês, oficial- mente, permitiu a compra de alguns artigos na Ingla- terra ao mesmo tempo em que agentes franceses, por toda a Europa, apreendiam o contrabando inglês, cortavam em pedaços as peças de tecido inglês e quei- mavam em fogueiras as mercadorias inglesas, bara- tas e de excelente qualidade”. 4 O fracasso do bloqueio expôs o império napoleônico a inúmeras dissidências, dentre elas a Rússia, que desenvolvia intenso contrabando com a Inglaterra. O movimento de navios ingleses em águas russas lembrava a época anterior ao bloqueio. Em toda a Europa, a realidade era a mesma. Navios ingleses desembarcando merca- dorias, derrubando na prática o Bloqueio Continental. Com o objetivo de retomar o controle das áreas domi- nadas, o imperador ensejou a maior campanha militar da história. Foram recrutados soldados em diversos paí- ses para compor a fantástica tropa de 650.000 homens, no intuito de invadir a Rússia. Napoleão acreditava que o domínio do território russo colocaria o resto do continente de joelho aos seus pés. A estratégia se baseava na luta contra os rus- sos nas regiões próximas à fronteira. O exército de 650.000 soldados atacaria em bloco, para dizimar a resistência do inimigo. Prevendo dificuldades, Napoleão enviou um grande comboio de suprimentos para abastecer as tropas. As reservas de alimentos dis- poníveis na Rússia, eram muito aquém das necessida- des francesas. No entender de Napoleão, em um mês a Rússia estaria dominada. Com essa expectativa, as tropas napoleônicas invadiram o território russo em junho de 1812, aprovei- tando das vantagens oferecidas pelo clima ameno do verão. A certeza do sucesso impediu o imperador de enxergar a armadilha que o esperava. Quando abriu os olhos o desastre já era irreversível. A “grande campa- nha” resultou na “grande derrota”. O primeiro grande problema foi o avanço lento das tropas. As carroças de alimentos andavam a passo de tartaruga, facilitando o recuo das tropas russas. Muitas vilas e plantações foram arrasadas pelos próprios russos, acentuando a falta de alimentos. Inúmeros combatentes do lado francês desertavam, à medida que a fome aumentava.Afinal, muitos soldados não tinham o menor compromisso com a causa francesa, pois haviam sido recrutados em regiões dominadas. O grupo de ataque frontal havia se reduzido a 150.000 soldados que chegaram em Moscou, no mês de setembro. O general Kutusov defendeu a cidade abaten- do 70.000 soldados de Napoleão. Após o estrago, o comandante russo retirou suas tropas para o Norte, enquanto o imperador francês colhia uma suposta vi- tória marchando pelas ruas abandonadas de Moscou. A Campanha daA Campanha daA Campanha daA Campanha daA Campanha da RússiaRússiaRússiaRússiaRússia “Envergando as cores nacionais, a águia voará de “Uma penosa marcha de 1500 quilômetros, através de planíceis geladas e devasta- da, os espera, e 400.000 ho- mens vão perecer no trajeto, decretando o melancólico fim do grande exército”. Autoria: Edgard Chaves
  • 7. EuropaNapoleônica O trono do czar foi ocupado por Napoleão, que cobrava de Alexandre I o reconhecimento da derrota. A surpreendente resposta do czar foi um novo ataque às tropas napoleônicas, completado pelo incêndio que destruiu 1/3 da cidade acabando com o resto dos su- primentos. Sem poder de reação, os franceses bate- ram em retirada pela rota já devastada pelo avanço anterior. No retorno, enfrentaram um inimigo que não estava nos planos de Napoleão. Com efeito, o frio de 20° graus negativos sepultou muitos soldados sob a neve, congelando o resto de esperança e o sonho de vitória. Do monstruoso exército que invadira a Rússia, apenas 40.000 homens conseguiram ultrapassar a fron- teira da Polônia. O caminho de volta foi uma correria desordenada, favorecendo a organização das forças ini- migas. Em outubro de 1813, Áustria, Prússia, Rússia e Inglaterra reuniram 300.000 soldados para cercar o inimigo na batalha de Leipzig. Extenuadas, as tropas de Napoleão não puderam suportar a pressão, recuando até o território francês. Depois de vários meses em luta, os aliados vislumbraram a vitória com a renúncia do imperador. Em abril de 1814, o comandante francês embarcou para a ilha de Elba, onde se esperava que teria o exílio definitivo. Para substituí-lo foram buscar o ambicioso Luís XVIII, que permanecia todo esse tempo, escondido na Inglaterra. Contam as más línguas, que o rei havia aplau- dido a morte do irmão Luís XVI, apostando que cedo ou tarde, teria a sua vez no trono francês. Quando es- tava começando a comemoração no palácio de Versalhes, uma notícia estragou a festa dos nobres da corte. De forma cinematográfica, Napoleão conseguiu fugir de Elba e já se encontrava a poucos quilômetros de Paris. Tinha como companhia um grupo fiel de sol- dados dispostos a dar a vida pelo general. Depois de reassumir o trono, Napoleão faria o “Governo dos Cem Dias”. “Luís XVIII estava longe de ser popular. A mai- oria dos veteranos de Napoleão desprezava-o; os cam- poneses temiam que a restauração da aristocracia lhes custasse os poucos privilégios que a Revolução lhes trouxera; e as classes médias eram contra um regime que ameaçava sua nova posição. Diante da insatisfa- ção, Napoleão arriscou sua última jogada: a 1° de março com umas poucas centenas de seguidores de- sembarcou perto de Cannes. As tropas enviadas por Luís para prendê-lo bandearam-se para seu lado e, a 20 de março, ele chegou a Paris. Luís fugira e a cida- de aclamou com alegria o seu imperador. Com menos júbilo, os aliados proclamaram-no fora da lei. Uma irresistível invasão da França foi planejada para ju- lho; até então, 200.000 soldados aliados, sob o co- mando de Wellington e do prussiano Blücher, estari- am alertas no oeste dos Países Baixos - a atual Bélgi- ca”. 5 Aproveitando que os aliados não estavam completamente organizados, o imperador juntou seu exército para o confronto no território belga. Um erro de cálculo permitiu aos prussianos um recuo organizado até chegarem ao lado das tro- pas inglesas. A união das duas tropas foi fatal para a derrota de Napoleão. Para ajudar os aliados, uma chuva torrencial impediu a chegada da artilharia france- sa. O movimento das tropas levou todos para um local chamadoWaterloo, que terminaria por emprestar o nome a essa memorável batalha.Até a invencível Guarda Im- perial foi obrigada a bater em retirada, antes da inevitá- vel derrota. Desprovido de soldados, lutando com tro- pas abatidas na sua condição moral, restava a Napoleão a dignidade de perder em pé. Dessa vez seria exilado na pequena ilha de Santa Helena, onde morreria em 1821. O mito Napoleão provoca sem dúvida, grande polêmica. Analisando-se friamente a época, enxerga- mos inicialmente um governante implacável, que repri- miu os inimigos internos, suprimindo quase todas as liberdades individuais. campanário em campanário até as torres de Notre-Dame” à esquerda: O quadro da batalha de Waterloo mostra o momento crítico quando um ataque mortal derrotou a Guarda Imperial de Napoleão. à direita: O imperador derrotado despede-se de sua guarda imperial no palácio de Fontainebleau Autoria: Edgard Chaves
  • 8. EuropaNapoleônica Após o exílio de Napoleão as po- tências vencedoras se reuniram em Vie- na, com o objetivo de jogar uma pá de cal em tudo que lembrasse a Revolução Francesa. Os diplomatas construíram uma nova (ou antiga!!) Europa com base nos princípios legitimadores das monarquias absolutas. Para tanto, usaram como fundamento o princípio da Legitimidade, que se contrapôs ao Liberalismo burguês. Como afirma o historiador René Remond: “ A Legitimidade reside no valor reconhecido da perenidade. É legítimo o regime que dura, que representa a tradição, que tem atrás de si uma longa história. A legitimidade é essencialmente histórica e tradicionalista. Essa identificação com o tempo jus- tifica-se, de modo positivo e pragmático: se um regi- me permanece é porque correspondia às necessida- des, é porque encontrou adesão nos espíritos, é por- que foi eficaz, é porque foi capaz de burlar as provas do tempo”. 7 O clima político de 1815 refletia o choque dos princípios antagônicos. De um lado, as forças de con- servação - rei e aristocracia, de outro, as forças de transformação - burguesia e camadas populares. Mo- mentaneamente a situação pendia a favor da aristocra- cia. Restava saber por quanto tempo a burguesia e o povo aceitariam essa realidade. Arquiteto de uma política destinada a defender a Revolução, Napoleão nunca es- queceu a burguesia – que havia apoiado sua ascensão ao poder. No continente construiu um imenso império, que se estendeu por toda a Europa, derrubando pelo caminho as ve- lhas e tradicionais estruturas feudais, abrindo espaço para a expansão da burguesia nos pa- íses conquistados. Para reverter essa situa- ção, as forças conservadoras convocaram o Congresso de Viena. Entusiasmados, os líde- res vencedores não viam que a Europa, de- pois do furacão napoleônico, nunca mais se- ria a mesma. “Enquanto continua o debate sobre Napoleão os historiadores concordam em dois pontos. Primeiro, sua vida foi excepci- onal. Um homem que se fez sozinho, que con- trolou as forças revolucionárias da época e impôs a sua vontade à história. Napoleão ti- nha o direito de dizer que sua vida era um romance. Sua força, seu gênio militar e se carisma levaram-no à culminância de poder; sua incapacidade de moderar as próprias ambições golpeou profundamente a Europa, deformou seus critérios e provocou sua queda. Seu orgulho sem limites, a hibrys dos dramaturgos gregos, teria espantado Sófocles; as dimensões de sua mente e as complexidades de sua personalidade teriam intrigado Shakespeare; seu cinismo e sua total falta de es- crúpulos teriam impressionado Maquiavel. Em segundo lugar, os historiadores concordam em que, ao difundir suas idéias e as instituições revolucionárias, Napoleão tornou impossível restabelecer o Antigo Regime depois da queda do Imperador. A destruição dos resquícios feudais, a secularização da sociedade, a transformação do Estado dinástico no moderno Estado Nacional e a ascendência da burgue- sia estavam assegurados. O novo conceito de guerra e o novo espírito do nacionalismo também se tornaram parte definitiva do cenário europeu. No curso de sucessivas gerações, os métodos da guerra total a serviço do naci- onalismo beligerante destruíram a grandiosa visão napoleônica de uma Europa unida e subverteram o humanismo liberal que foi o legado essencial da Revolução Francesa”6 . O Congresso de Viena Autoria: Edgard Chaves
  • 9. EuropaNapoleônica No Congresso, uma das estrelas mais brilhantes foi o príncipe Metternich, da Áus- tria. Obstinado, defendeu e aprovou o “Princípio das Compensações”, garantindo um razoável equilíbrio territorial entre as nações eu- ropéias. O novo mapa do continente assegu- rou vantagens para os quatros grandes vencedores. Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia, cada um por seu lado, saíram do encon- tro inflados por várias anexações territoriais. De início, foram prejudicados os reinos e países aliados de Napoleão. O antigo ducado de Varsóvia que era uma espécie de rascunho da Polônia, foi dividido entre Áustria, Prússia e Rússia, que terminou ficando com o maior pe- daço. A Polônia só apareceria novamente no mapa, após a Primeira Guerra Mundial; até lá, estaria nas mãos dos ambiciosos inimigos. Os Reinos Italianos do Norte foram loteados pela Áus- tria, que exerceu um controle político na região até a Unificação Italiana, em 1870. O anti-nacionalismo de 1815 reverteu a tendência unificadora da época de Napoleão. A mesma deliberação foi imposta aos esta- dos germânicos, desmanchando a Confederação do Reno e surgindo em seu lugar a Confederação Germânica, sob a tutela da Áustria e Prússia. Nesse caso contou bastante a pressão da Inglaterra, que ti- nha medo de conviver com um Estado germânico uni- do e poderoso. Ao longo do século XIX, por diversas vezes, os alemães tentariam a unificação para final- mente, consegui-la em 1870. A Inglaterra, embora não tenha obtido anexa- ções no continente, saiu do Congresso de Viena com um invejável patrimônio colonial. Na visão do viscon- de de Castlereagh, não valia a pena brigar por miga- lhas na Europa. Com sua esperta atuação, a Inglaterra recebeu a região do Cabo, as ilhas do Ceilão, Maurícia, Tasmânia, Hong-Kong,Trinidad e Tobago. Conseguiu ainda a livre navegação nos mares e a proibição inter- nacional do tráfico de escravos. O interesse de crescimento econômico ca- nalizava a Inglaterra para a disputa das regiões co- loniais, que os outros países praticamente haviam rejeitado. Curioso notar que os ingleses, durante décadas, haviam lucrado com o tráfico de escra- vos, vendendo-os a diversas colônias da América. Porém o desenvolvimento de sua indústria, fez da Inglaterra uma incansável defensora do fim do trá- fico. Os motivos óbvios revelavam o desejo de au- mentar o mercado consumidor para as produtivas indústrias inglesas. Mas nem tudo foi unanimidade entre as na- ções vencedoras. A teoria das Compensações foi rejeitada pelo czar Alexandre I, da Rússia. Sua in- sistência em ganhar a maior parte dos territórios poloneses criou obstáculos, dificultando a assina- tura do acordo definitivo. A desunião do grupo deu a brecha para o representante da França entrar em cena de forma brilhante. Tayllerand, diplomata francês de grande habili- dade, argumentou que o equilíbrio europeu dependia da preservação do território francês. Respaldado no Princípio da Legitimidade, defendeu a permanência dos mesmos limites territoriais que a França tinha antes da Revolução em 1789. Fantástico! O argumento termi- nou emplacando e o diplomata Tayllerand pôde acres- centar ao seu currículo, a inacreditável integridade territorial francesa, impedindo que o país fosse dividi- do, como acontecera com os outros derrotados. Bem ou mal, as decisões do Congresso de Viena evitaram por quase cem anos, a deflagração de uma nova guerra generalizada. “Fica claro pelo curso das dispu- tas desse período que o material inflamável nas rela- ções internacionais simplesmente não era explosivo o bastante para deflagrar uma guerra de grandes pro- porções. No intervalo de uma sessão do Congresso de Viena, o princípe Metternich oferece a seus hóspedes um magnífico baile a fantasia. A Europa do Congresso de Viena Autoria: Edgard Chaves
  • 10. EuropaNapoleônica Das grandes potências, os austríacos e os prussianos eram muito fracos para contar muito. Os ingleses estavam satisfeitos. Por volta de 1815, eles tinham obtido uma vitória mais completa do que qual- quer outra potência em toda a história mundial, tendo emergido dos 20 anos de guerra com a França como a única economia industrializada, a única potência na- val - em 1840 a marinha britânica tinha quase tantos navios quanto todas as outras marinhas reunidas - e virtualmente a única potência colonial do mundo.(...) A Rússia, conquanto não tão saciada, tinha somente ambições territoriais limitadas, e nada havia que pu- desse por muito tempo - ou pelo menos assim parecia - atrapalhar o seu avanço”. 8 A SANTA ALIANÇAA SANTA ALIANÇAA SANTA ALIANÇAA SANTA ALIANÇAA SANTA ALIANÇA Os acontecimentos de 1815, suplantaram momentaneamenteos ideais liberais. Entretanto, as forças de conservação “montavam num animal bravio” sem medir as conseqüências e os riscos da empreitada. Ao dividir a Europa de acordo com seus interesses, os vencedores desprezaram por completo a força do Nacionalismo, que havia sido despertado na época napoleônica. Era, no mínimo, ingenuidade achar que italianos, alemães e poloneses iriam se acomodar, abandonando as pretensões de unidade nacional. Os aliados vencedores criaram a Santa Aliança – espécie de braço armado da aristo- cracia. O grupo formado pelas nações vence- doras tinha como objetivo, impedir o surgimento de um novo foco revolucionário ou movimento nacionalista.Aestratégia valia não só para o continente europeu, estenden- do-se a qualquer parte do mundo, onde hou- vesse focos revolucionários. A Santa Aliança chegou a interferir de forma repressiva nos movimentos unificadores da Itália (Carbonários - 1822) e nos reinos germânicos, em 1823. De qualquer forma, envolvendo países de interesses opostos, o destino da Santa Aliança era o fracasso. Na tentativa de interven- ção na América Espanhola, na época dos movimentos de independência, teve a oposição da Inglaterra, que foi veementemente contra a interferência dos “aliados”. Na verdade, a união dos vencedores não era tão frater- na, como parecia a princípio. Na Europa, a Santa Aliança teve uma atuação bastante contraditória. De um lado, atuou reprimindo a revolta espanhola de 1820, mas de outro, fez vista grossa ao movimento revolucionário português, revelando-se conivente com a débil Revolução do Porto. Constata- mos então que o Congresso de Viena e as forças de conservação tiveram, em 1815, uma vitória momentâ- nea. Em toda a Europa fermentava o descontentamento que unia burgueses, pessoas humildes, operários e agitados nacionalistas. Logo em seguida, um novo ven- daval revolucionário varreria o continente europeu. A partir de 1820, o ‘trem da revolução’ recomeçaria sua devastadora viagem. 1 In.ARevolução Francesa. GrandesAconte- cimentos da História. Editora Três. Pág. 79. 2 In. Carvalho, Delgado de. História Docu- mental. Editora Record. pág. l78 e 179 3 In. Lucas, Colin. O Império de Bonaparte. A Força da Iniciativa. Coleção Time-Life. Abril Livros. Pág. 15. 4 In. Efimov, N. História Moderna. Centro do Livro Brasileiro. Lisboa. Pág. 87. 5 In. Lucas, Colin. Op. Cit. ColeçãoTime-Life. Pág. 37. 6 In. Perry, Marvin. Civilização Ocidental. Uma História Concisa. Martins Fontes Editora. Pág. 463- 464 7 In. O Século XIX. Editora Cultrix. Pág. 18. 8 In. Hobsbawm, Eric J. A Era das Revolu- ções. 1789 - 1748. Editora Paz e Terra. Pág. 124. Recebendo para o Congresso de Viena o Czar Alexandre I e Frederico II da Prússia, o imperador austríaco, Francisco II teria com êles um mundo inteiro a dividir Autoria: Edgard Chaves