2. O ESPELHOMachado de Assis
Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis),
jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo,
nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e
faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de
1908.
É o fundador da cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de
Letras. Velho amigo e admirador de José de Alencar, que
morrera cerca de vinte anos antes da fundação da ABL, era
natural que Machado escolhesse o nome do autor de O
Guarani para seu patrono. Ocupou por mais de dez anos a
presidência da Academia, que passou a ser chamada também
de Casa de Machado de Assis.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
4. O ESPELHOMachado de Assis
O conto "O espelho", do maior ficcionista brasileiro, Machado de Assis, foi
originalmente publicado no jornal Gazeta de Notícias no dia 8 de setembro de
1882.
A narrativa breve possuía como subtítulo a pomposa proposição: Esboço de
uma nova teoria da alma humana. O conto venceu a perenidade dos jornais
diários tendo sido reunido na antologia , publicada no mesmo ano.
Esta obra, segundo alguns críticos de Machado, é uma espécie de divisor de
águas e marca o ápice de seu amadurecimento literário e, portanto, é
considerada um de seus melhores livros de contos.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
6. O ESPELHOMachado de Assis
O conto "O espelho", do maior ficcionista brasileiro, Machado de Assis, foi
originalmente publicado no jornal Gazeta de Notícias no dia 8 de setembro de
1882.
A narrativa breve possuía como subtítulo a pomposa proposição: Esboço de
uma nova teoria da alma humana. O conto venceu a perenidade dos jornais
diários tendo sido reunido na antologia , publicada no mesmo ano.
Esta obra, segundo alguns críticos de Machado, é uma espécie de divisor de
águas e marca o ápice de seu amadurecimento literário e, portanto, é
considerada um de seus melhores livros de contos.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
8. O ESPELHOMachado de Assis
Certa noite, cinco amigos conversavam sobre temas filosóficos. Um deles,
de sobrenome Jacobina, permanecia em silêncio.
Argumentava que não era dado a polêmicas e que os anjos também não
discutem.
No sobrenome do personagem percebe-se a ironia de Machado, visto que o
termo jacobino passou para história como sinônimo de radical, afinal, seu
líder, Robespierre, era um exímio cortador de cabeças na Revolução
Francesa.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
9. O ESPELHOMachado de Assis
Jacobina é instado pelos amigos a explicar essa questão angélica e, assim,
participa da conversa, que se torna cada vez mais profunda.
Por fim, derivam para a questão da alma humana e Jacobina elabora uma
afirmação surpreendente: não há apenas uma alma humana, mas duas.
Os amigos ficam perplexos e ele diz que não irá compor uma teoria sobre
assunto, mas irá exemplificá-la com um episódio de sua juventude. Tem
início a complicação.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
10. COMPLICAÇÃO
“Ocorre quando o estado de coisas inicial
é perturbado por alguma força, o que
provoca uma tensão, um desequilíbrio.”
11. O ESPELHOMachado de Assis
Jacobina tinha 25 anos e era um jovem pobre que morava em uma
cidadezinha. Nessa época, foi nomeado alferes, um cargo militar que hoje é
equivalente a subtenente.
A família exultou com a nomeação e o cobriu de elogios. Uma tia,
Marcolina, ficou tão contente que o chamou para passar um mês no seu
sítio, que ficava isolado da cidadezinha.
Chegando lá, é ainda mais festejado do que fora em sua casa. Logo, é
chamado apenas de “seu Alferes” pela tia e pelos escravos.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
12. O ESPELHOMachado de Assis
Era o primeiro a ser servido à mesa e tinha todas as regalias. A maior delas
foi quando mandaram instalar um ESPELHO em seu quarto. O objeto,
segundo uma tradição familiar, pertenceu a uma nobre que viera na comitiva
de D. João VI, em 1808. Era, portanto, uma relíquia.
Toda essa bajulação causou uma transformação em Jacobina. Já não era
mais um rapaz que gostava de admirar a natureza, já não se importava com
os problemas alheios, mas pensava apenas na sua “nova identidade”.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
13. O ESPELHOMachado de Assis
Quando estava mergulhado em sua nova situação, sua tia recebeu a notícia
de que a filha estava muito doente e foi visitá-la. O jovem alferes ficou
sozinho na casa e já não havia mais ninguém para o bajular.
Ficou na propriedade apenas em companhia de uns poucos escravos que,
notando o ponto fraco do jovem, começaram a elogiá-lo com o objetivo de
distraí-lo e, assim, fugir. Estava sozinho.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
15. O ESPELHOMachado de Assis
Nessa solidão, Jacobina lembra-se do espelho. Porém, ao olhar para o
objeto, não vê sua aparência nítida, mas como se visse uma sombra.
Ficou muito nervoso com o fato, pois acreditava estar doente. Lembrou-se,
então, de vestir a farda de alferes. Para sua surpresa, apresentou-se uma
imagem nítida e clara de si mesmo:
(...) Era eu mesmo, o alferes, que achava, enfim, a alma exterior. Essa
alma ausente com a dona do sítio, dispersa e fugida com os escravos,
ei-la recolhida no espelho.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
16. DESFECHO
“Restabelece o equilíbrio através da resolução
das tensões anteriores. Contudo, em alguns
contos, o leitor precisa imaginar qual será o
desfecho, visto que o final fica em aberto.”
17. O ESPELHOMachado de Assis
Jacobina terminou a sua história e, enquanto os amigos estavam
boquiabertos, desceu as escadas sem dizer nada e foi embora.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
19. O ESPELHOMachado de Assis
O espelho é um conto alegórico. O que isso significa?
Alegoria é “toda concretização, por meio de imagens, figuras e pessoas,
de ideias, qualidades ou entidades abstratas” e tem como objetivo revelar
de forma indireta o aspecto moral.
Assim, no conto, Machado recorre a um personagem, Jacobina, para elaborar
a sua teoria da existência humana.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
20. O ESPELHOMachado de Assis
Qual a teoria de Machado? Que as pessoas, por motivos diversos, deixam-se levar
pelas aparências, pelo que elas parecem ser ou são aos olhos dos outros e se
esquecem de quem verdadeiramente são.
Já no início da narrativa de Jacobina, percebe-se que ele é uma boa pessoa que se
deixa levar pela vaidade.
O que é a vaidade? É a estima desmedida pela opinião alheia, causada pelo desejo de
mostrar aos outros a própria excelência.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
21. O ESPELHOMachado de Assis
Assim que é elogiado pelos familiares e amigos, começa a assumir uma
nova identidade, uma nova roupa, quase que literalmente, pois o alferes,
sua aparência exterior ou um dos traços de sua personalidade, é visto como
um todo.
Tanto é assim que a tia, mesmo sob a insistência de Jacobina para que o
trate pelo apelido de infância, Joãozinho, só o trata por alferes. Sua história
lembra o poema Tabacaria, de Fernando Pessoa, do qual selecionamos um
trecho:
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
22. O ESPELHOMachado de Assis
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
Fiz de mim o que não pude
E o que eu podia fazer de mim não o fiz
O dominó que eu vesti era errado
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
23. O ESPELHOMachado de Assis
Jacobina não se percebe envelhecido, mas, assim como o eu-lírico de “Tabacaria”,
deixa-se levar pelo o que os outros pensavam dele. Em um breve momento, o
protagonista de “O espelho” percebe sua transformação:
“Aconteceu então que a alma exterior, que era dantes o sol, o ar, o campo, os olhos
das moças, mudou de natureza, e passou a ser a cortesia e os rapapés da casa, tudo o
que me falava do posto, nada do que me falava do homem. A única parte do cidadão
que ficou comigo foi aquela que entendia com o exercício da patente; a outra
dispersou-se no ar e no passado.”
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
24. O ESPELHOMachado de Assis
No entanto, a máscara já “estava pegada à cara”, isto é, gostou dessa nova
situação e não a quis perder.
Talvez o filósofo Aristóteles nos dê um motivo para esse modo de agir. De
acordo com ele, o vaidoso é aquele que se julga com muito valor sem o
ter.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor
25. O ESPELHOMachado de Assis
Se assim é, o único antidoto para a vaidade é o conhecimento próprio, a
verdade sobre si mesmo.
Mas esse aspecto Machado de Assis não menciona. O seu objetivo é revelar
o que acontece debaixo do sol e, como sabemos desde o Eclesiastes, TUDO
É VAIDADE.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura -
www.literaturaeshow.com.br
o autor