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Fundamentos Epistemológicos da Medicina
2.4. Conhecimento Filosófico
Luiz Salvador de Miranda-Sá Jr
1
Historicamente, a Filosofia foi a primeira modalidade de conhecimento que se
diferenciou do conhecimento vulgar e assumiu estatuto de maior respeitabilidade
social, o que aconteceu ainda na Antigüidade clássica. Filosofia, palavra que significa
amor ao conhecimento. Quando surgiu, o título de filósofo se atribuia aos homens mais
sábios, aos mais curiosos, aos mais desejosos de saber. Aos que explicavam melhor
os mistérios do mundo. O conhecimento deles era considerado como superior ao
comum. O conhecimento filosófico apareceu assim, como conhecimento dos filósofos.
O conhecimento filosófico não era tido como ciência como hoje. A filosofia era o
conhecimento racional. O filósofo, tido como alguém que sabia mais que os outros.
Naquele início, quando surgiu o conceito de filosofia, não havia intenção de diferenciar
a ciência do conhecimento da natureza, do homem e da sociedade; mas só o desejo de
designar o conhecimento provindo de um pensador com mais autoridade que os
demais que, por isso,l emprestava maior autoridade à sua contribuição.
Ainda que esquematicamente, possa-se acreditar que a filosofia tenha nascido do
conhecimento vulgar e que o conhecimento científico tenha se originado da filosofia. Ao
longo da história do conhecimento, a filosofia tem sempre mantido com as ciências
específicas uma espécie de relação de supervisão que é exercida através da
gnosiologia ou epistemologia. Mesmo depois que conquistam autonomia e se
configuram como disciplinas individualizadas.
A metafísica, ciência filosófica que estuda o ser enquanto ser.
No século XVII a metafísica geral é separada da especial e passa a ser chamada de
“ontologia” ou ciência do objeto. O termo trata do ser, daquilo que existe, suas
qualidades básicas. Diversos filósofos se ocuparam dessa questão, desde Aristóteles
até os modernos, passando por Parmênides, Leibniz e Heidegger. A professora de
filosofia da UFRJ Susana de Castro traz as noções básicas que norteiam as
ontologias das substâncias, as que se seguiram a e as novas ontologias
contemporâneas. A divisão da metafísica em metafísica geral (ontologia) e nas
metafísicas especiais (psicologia racional, cosmologia e teologia racional).
2
A gnosiologia é o ramo da Filosofia que trata do conhecimento em geral e a
epistemologia, o ramo da gnosiologia que tem como objeto estudar o conhecimento
científico.
À época da guerra fria, os soviéticos preferia a primeira e os americanos, a segunda.
Atualmente, os dois conceitos são considerados equivalentes.
3
A metodologia é a disciplina filosófica que trata dos meios para conhecer.
A lógica é a disciplina filosófica que ensina a pensar inteligentemente.
A ética é o ramo da Filosofia que mostra os limites do bom e do mau na conduta
humana.
Ao longo da história do conhecimento e na evolução da civilização moderna e
contemporânea, a filosofia e as ciências, ainda que possam ser concebidas
separadamente, têm se mantido como atividades extremamente próximas (cada vez
mais próximas, é verdade) e em permanente interação. Interação que determina
grande parte de seu desenvolvimento. Mesmo que não se considere a filosofia como
ciência, ela também não pode ser tida apenas como provedora da ciência, por lhe
fornecer instrumentos metodológicos e procedimentos lógicos que ela emprega na sua
busca da verdade sobre seu objeto. Ciência e filosofia são atividades cognitivas
controladas em permanente interação. Até porque compartilham a situação de um tipo
de conhecimento superior ao senso comum.
Ainda que sejam consideradas como modos qualitativamente diferentes de conhecer o
mundo, a relação que se estabelece entre a ciência e a filosofia deve ser considerada
bilateral, recíproca e complementar. Porque a filosofia se beneficia das generalizações
suficientemente amplas advindas da ciência experimental e, sobretudo, da ciência
teórica e as incorpora, enriquecendo-se com elas (como aconteceu, por exemplo, na
construção da lógica formal e da lógica dialética, métodos essenciais da filosofia e da
própria metodologia científica). E, além disto, porque o aperfeiçoamento da filosofia
enriquece a ciência e amplia suas possibilidades de elaborar generalizações válidas e
confiáveis. No curso deste processo, as generalizações científicas, que se mostrarem
suficientemente abrangentes para alcançar todos os objetos, se transmutam em
conhecimentos filosóficos. Por isto, pode-se pretender que haja um território indefinido
entre a ciência e a filosofia. Um território no qual os conhecimento guardem
caracterísricas dos dois mundos, do mundo da filosofia e do mundo da ciência.
4
Assim como é cada vez maior o número daqueles que definem a filosofia como uma
ciência particular. Uma ciência ideal (que também pode ser chamada formal), em
contraposição com as ciências factuais. Para estes, já não há diferença conceitual
entre o que é filosofia e o que é ciência. Aida que isrto se faça a custas de deslocar
algumas disciplinas, como as contidas na axiologia (dentre elas a ética e outras
disciplinas normativas, para o terreno da antropologia.
A concepção de filosofia, como uma ciência acessível ao estudo objetivo e à
investigação sistematizada, encerra um paradigma filosófico científico-natural, não
apenas sobre a filosofia, mas sobre a natureza, sobre a sociedade, sobre o homem
(sobre todo universo, enfim).
Esta concepção da filosofia como ciência, se reporta a um tipo particular de ciência,
uma ciência formal, qualitativamente diferentes das ciências factuais.
E, este paradigma científico-natural (ou materialista) que conduz à noção da filosofia
ciência, tem suas raízes no início da Medicina natural e racional grega, podendo-se
mesmo dizer que este paradigma gerou e fez nascer a Medicina leiga. Outra
concepção metafísica, idealista ou irracionalista do mundo, da Medicina, da filosofia ou
do conhecimento, por exemplo, implicaria em conceituações, explicações e definições
diferentes, em procedimentos cognitivos diversos e, por isto mesmo, em outras
conclusões.
A concepção da Filosofia como um tipo de conhecimento qualitativamente diferente
da ciência, terá sido influenciada pela necessidade de abrigar a teologia e a ética
religiosas, que ficariam órfãs no sistema das ciências.
5
Adiante, há de se ver que o conhecimento filosófico e o científico são formas
particulares do conhecimento humano que são diferenciadas, menos em função de sua
estrutura cognitiva (porque, esta, é análoga até ao conhecimento comum), do que por
causa de sua técnica de obtenção de informações e do grau de abrangência de suas
possibilidades de generalização, potencial preditivo e capacidade explicativa que
detenham. O conhecimento filosófico se reporta às questões mais gerais na natureza,
da vida, da sociedade e do pensamento, enquanto o conhecimento científico está
dirigido para objetos, situações e fenômenos particulares. A limitação definida de seu
objeto diferencia a ciência da filosofia, voltada paera as generalidades mais amplas que
possam ser abrangidas pelo pensamento.
E, caso se valorize preferentemente seus elementos de unificação ou de diferenciação,
podem ser considerados tipos de conhecimento idênticos, análogos ou diferentes, na
depemdência dos interesses, inclusive ideológicos, de quem o faz.
Filosofia e Conhecimento Filosófico
Como acontece com todas as outras manifestações do conhecimento, existe uma
indeslindável interação entre a filosofia (o processo mental de cogitação filosófica) e o
conhecimento filosófico (como acervo de informações filosóficas). A esta ambigüidade,
acrescenta-se outra, a expressão filosofia não tem o mesmo sentido para todas as
pessoas ou em todos os contextos verbais, mesmo quando é utilizada por filósofos.
6
A palavra filosofia foi empregada, ao longo do tempo e por numerosos autores, com
significados muito diferentes entre si e nem todas estas significações, ainda que muito
utilizadas, refletem com a necessária exatidão, a realidade cognitiva, técnica e
científica que desfruta presentemente. De um lado, porque filosofia enquanto
importante atividade humana significa, desde sua origem, um tipo de conhecimento
diverso do comum; e, por outro, porque lhe têm sido atribuídas significações que nada
têm a ver com ela, apesar de refletirem a diversidade de visões de mundo dos que
construíram e ou empregaram estas designações. Por isto, para não se confundir com
outras opiniões e porque se trata de matéria muito ideologizada, preliminarmente,
convém definir o sentido com o qual a palavra filosofia está sendo usada neste
trabalho.
A filosofia mantém antiga relação com as ciências (ou com a ciência)
1
; porque no seu
início, o conhecimento científico (com o sentido oposto ao que hoje se chama crença e
mito) se confundia com a filosofia, até porque era parte dela.
O conhecimento científico, significando informação confiável e válida (a mais confiável
e válida de cada momento da história da cultura) se originou do conhecimento
filosófico. Neste sentido genético, a ciência é uma filha legítima da filosofia (o
conhecimento rigoroso sobre o particular que se desprendeu do conhecimento gera).
No começo tudo o que se sabia era conhecimento comum e mais ou menos
indiferenciado, as pessoas não costumavam organizar seus conhecimentos em
estruturas lógicas deste ou daquele tipo. Aos poucos, foram sendo elaborados
conhecimentos mais confiáveis e mais verossímeis que os outros. Apareceu a
sabedoria (depois, filosofia), já diferenciada do conhecimento comum.
1
<$FAndery, M.A. et alli, Para Compreender a Ciência, Ed. Espaço e Tempo/EDUC, Rio, 1988, pp. 34 e seguintes>
7
Os conhecimento filosóficos foram se diferenciando em razão de sua
abrangência (muito mais que de sua metodologia) em conhecimentos sobre as
generalidades e conhecimentos sobre acontecimentos particulares. Estes
últimos deram origem ao conhecimento científico, à ciência tal como a
entendemos atualmente. No curso da História, quando as exigências de
delimitação do conhecimento científico assim o exigiram, ele foi separado do
conhecimento filosófico e apresentado como uma modalidade particular de
saber.
O significado etimológico rigoroso da palavra filosofia, de origem grega pré-clássica,
quer dizer “amor ao conhecimento, amor à sabedoria”, tendo evoluído por diversas
vertentes até os sentidos que tem atualmente. Surgiu quando Pitágoras recusou a
qualificação de sábio e preferiu ser chamado de amigo do conhecimento. Por esta época, na
Antiga Grécia, considerava-se como filosófico todo saber, toda convicção que não
fosse resultante de um mito ou de uma crença. Esta parece ter sido a primeira
característica significativa da palavra filosofia, ser um conhecimento liberto do mito e da
magia; momento em que se confundiam as significações de filosofia e ciência. Na velha
Grécia, chamavam-se aos sábios de filósofos.
Na antiga Grécia, o conhecimento filosófico abrangia todo o saber racional e
mais ou menos sistemático que existia. Naquele tempo, a noção de filósofo se
assemelhava à de cientista atualmente.
Num primeiro momento evolutivo, o conhecimento se dividiu em dois: o
senso comum e a filosofia (o conhecimento menos válido e menos merecedor
de confiança e o tido como mais confiável e mais válido).
Como se há de ver, bem mais tarde o conhecimento filosófico foi subdividido
em dois ramos: a ciência (ou melhor, ciências naturais) e a filosofia. Ainda que
esta dicotomização não se faça total. A filosofia da ciência (com seus aspectos
ontológicos, metodológicos e éticos) é a dimensão da filosofia que integra as
duas modalidades superiores de conhecer.
A identificação da filosofia com sabedoria perdurou por muito tempo e abrangia todas
as esferas do conhecimento humano.
8
Como se há de ver, só bem mais tarde, quando o conhecimento científico, por sua vez,
se diferenciou do conhecimento filosófico, o saber culto foi bipartido em dois ramos, o
científico e o filosófico; então, ambos tenderam a se tornar cada vez mais bem
caracterizados, deixando de se confundir, embora conservassem muitos atributos
comuns. Mas, não se pode esquecer, que houve um longo momento nas histórias
destes dois conceitos, ciência e filosofia, e destas duas atividades, a científica e a
filosófica, que elas permaneceram inseparáveis e indistinguíveis; e que este período de
identidade deixou marcas comuns em ambos os ramos do conhecimento.
É bastante provável que as diferenças entre o conhecimento filosófico e o
conhecimento científico em relação ao conhecimento vulgar tenham se originado e
sempre residido, exatamente, na confiança que se pode ter na melhor qualidade do
conhecimento científico e filosófico, principalmente por causa de sua maior
verossimilhança e credibilidade.
Desde sua origem, a Filosofia tem sido destinada a ser uma alternativa mais
acreditável aos mitos; para ser exercício e fundamento do pensamento lógico e do juízo
crítico, sucessor do pensamento mágico e das crenças míticas, as formas mais
primitivas de elaboração do pensamento e do conhecimento.
As ciências nasceram e nascem da filosofia exatamente no curso deste processo.
A filosofia sempre se diferenciou do conhecimento em geral, embora se preocupasse
em explicá-lo (pois, o conhecimento humano sempre foi um importante objeto de
cogitação filosófica). Primeiro, existia o conhecimento hoje chamado vulgar. Depois,
dele se separou a filosofia (que trazia em seu interior o conhecimento científico).
Entretanto, da Idade Clássica até o Renascimento, durante muitos séculos a filosofia e
a ciência se confundiram e ainda hoje podem ser confundidas.
9
Atualmente a tendência dominante consiste em separar a ciência e a filosofia a partir
de seus objetos (sempre limitados na ciência e universal na filosofia) e no alcance de
suas possibilidades de generalização pois as generalizações de cada tipo de
conhecimento se limitam à extensão de seu objeto.
Muitos se negam a admitir o caráter de conhecimento científico à filosofia,
considerando-a pura especulação; outros, fazem-no por considerar a filosofia uma
modalidade qualitativamente diferente de conhecimento superior, diversa da ciência.
Outros, insistem em lhe atribuir a condição de estudo do sobrenatural (a filosofia
primeira ou teológica, que provavelmente foi uma invenção de Aristóteles para evitar
ser processado por impiedade, mas agradou muito aos religiosos medievais).
Esta condição de especulação sobre a mitologia religiosa acompanha
consciência popular sobre a filosofia desde sua origem e influi na opinião que
as pesoas comuns têm sobre ela.
Para outros mais, a filosofia não é bem uma ciência, uma disciplina ou, sequer, uma
forma de conhecimento, mas apenas exercícios de raciocínio e lógica, uma perpétua
disputa inteligente, um jogo intelectual: o filosofar.
Enquanto que, para alguns, como se verá adiante, a filosofia pode ser tida como
ciência, desde que sem a teologia. Uma ciência formal para Bunge, por exemplo. A
tendência a considerar a filosofia como ciência foi muito reforçada no século passado
com o crescimento do prestígio social da atividade científica.
1
As divergências acerca do significado da filosofia têm suas raízes nas divergências
acerca do que há mais de dois mil anos se reconhece como a questão fundamental da
filosofia: a opinião acerca da natureza das relações existentes entre a matéria e as
idéias. A tendência idealista se opõe à tendência materialista e se apresentam de
diversas maneiras. Materialismo e idealismo. A tendência idealista se opõe à tendência
materialista e cada uma delas se apresenta de diversas maneiras. Assim como são
diferentes as contradições e os conflitos que opões estas duas tendências filosóficas.
Tão diferentes que podem, eventualmente, serem tidas como duas filosofias.
Os filósofos idealistas pressupõem a supremacia e primariedade do espírito, das idéias,
da palavras, enfim, do imaterial, o ideal sobre a matéria; por variados caminhos,
sustentam o imaterial determina o material. Já os filósofos materialistas sustentam o
primado do material sobre o imaterial, sejam espíritos, divindades, idéias, palavras ou
significações; e, daí, decorre sua denominação.
Desde que Pitágoras recusou ser chamado sábio (sofos), porque preferia ser
designado filósofo (amigo da sabedoria), os gregos chamaram filósofos aos mais
sábios dentre os homens, aos que detinham muito conhecimento e que propunham
explicações mais razoáveis para os mistérios da natureza, do pensamento, do
universo; mas também chamavam de filósofos aos que sabiam fazer muito bem alguma
coisa, às pessoas hábeis e engenhosas, ainda que uma atividade manual.
Neste texto, muito mais na linha de pensamento materialista gerada em Heráclito,
Demócrito e Epicuro, passando pela Filosofia Natural de Aristóteles até chegar às teses
de Marx e, mais recentemente de Bunge, a despeito destas divergências sobre o
alcance e o significado da filosofia, segue-se na vertente do seu entendimento como
um tipo de conhecimento (o conhecimento filosófico) que, desde sua origem, era
reconhecido como diverso do senso-comum, o conhecimento vulgar e que guarda
muitos elementos de analogia, senão de identidade, com o conhecimento científico.
Objeto do Conhecimento Filosófico
1
O objeto do conhecimento filosófico é o universo com tudo que contém; abarca tudo o
que existe, o conhecimento científico e o senso comum. Portanto, não é o objeto que o
distingue, porque todos os objetos estão contidos nele. O conhecimento filosófico se
define pelo alcance das possibilidades das generalizações elaboradas com ele. O
conhecimento filosófico se caracteriza pela amplitude de suas possibilidades de
generalização (tudo que existe) e pelo caráter ideal
2
(e, freqüentemente, valorativo) de
seus conceitos, enunciados e teorias.
Como manifestação particular do conhecimento, a filosofia é sempre fruto da atividade
de um sujeito. Toda filosofia é a filosofia de alguém sobre o universo considerado como
uma totalidade. Tudo isto resulta em que suas possibilidades explicativas e preditivas
se estendem sem limite conhecido (embora, é necessário de se saiba, com sacrifício
proporcional de sua verossimilitude). Pois, ao menos em princípio, é muito mais viável
generalizar sobre um objeto limitado do que sobre uma área mais ampla do universo e
conhecer as partes é a forma mais simles de iniciar o conhecimento da totalidade.
As categorias filosóficas de geral, particular e específico fundamentam e
permitem entender esta questão.
O geral é uma categoria que expressa uma totalidade. O particular se refere a
uma parte definida dos elementos componentes de uma totalidade. E o
específico ou individual diz respeito a um indivíduo singular, um elemento
singulat de uma totalidade, ainda que contido em uma das particularidades ou
categorias particulares.
O objeto da filosofia se caracteriza primordialmente por sua extensão, sua
amplitude, sua generalidade. Em seu sentido mais amplo, o conhecimento
filosófico alcança tudo o que existe, possa ser pensado ou imaginado. Os
objetos materiais e os construtos.
2
Porque composto por idéias e não por fatos.
1
Por isto, muitos autores, como
3
entre os positivistas e todos (ou quase todos) os
marxistas e marxianos, assinalando uma tendência bem definida da filosofia da ciência,
para a qual a filosofia é entendida como uma ciência, a ciência das essências e das
totalidades; ou, mesmo que alguém não a aceite como uma ciência, a filosofia deve ser
reconhecida como o tipo particular de conhecimento, o conhecimento filosófico, que
produz conclusões generalizáveis ao extremo, alcançando a tudo o que existe; cuja
estrutura cognitiva não se diferencia qualitativamente das demais atividades científicas,
embora delas varie em função da extensão de seu objeto e na natureza de sua
metodologia e, por isto, da extensão de suas conclusões.
A extensão indefinida e indefinível de suas possibilidades heurísticas e preditivas
caracterizam essencialmente o conhecimento filosófico e o distinguem do saber
científico.
A recusa dos positivistas em reconhecer as possibilidades do conhecimento
científico explicar e prever fatos e acontecimentos provoca uma das querelas
mais instigantes da ciência contemporânea.
Definição de Filosofia
Não existe convergência universal de opiniões acerca da definição de filosofia. Não
obstante, a filosofia costuma ser definida de muitas maneiras, às vezes muito
diferentes e assim o fazem muitos autores, na dependências de muitas influências
subjetivas e objetivas.
4
Dentre muitas outras definições possíveis e aceitáveis a partir deste ou daquele ponto
de vista doutrinário, escolheu-se uma que parece mais consentânea com a opinião do
autor e com o estado atual do conhecimento.
3
Bunge, M., Epistemologia, 2a. edição, 1987, Ed. T.A.Queiroz/EDUSP, São Paulo, p. 39
4
Cada tendência filosófica procura fazer com que sua definição de filosofia lhe sirva de ponto de apoio doutrinário
e reforce suas opiniões teóricas.
1
Filosofia é a modalidade particular de conhecimento que se ocupa das regularidades
universais isto é da descoberta das leis que regem tudo o que existe no universo e no
ser humano. Trata-se do conhecimento sistemático que objetiva a formulação, a
análise e a solução das principais questões de concepção do mundo, da sociedade e
do homem (inclusive sua subjetividade), configurado harmoniosamente como uma
visão teórica coesa e unitária sobre o universo e o lugar que o homem ocupa nele.
O conhecimento filosófico abrange uma visão do mundo (cosmologia) que inclui uma
visão da sociedade e do homem (sócio-antropologia), inclusive do seu conhecimento
em geral (gnosiologia) e do conhecimento científico (epistemologia). A filosofia não
pode nem deve ser reduzida a uma atitude individual (predisposição de alguém a
realizar certos comportamentos, como refletir ou intuir a verdade diretamente, por
exemplo).
A filosofia é uma modalidade superior de conhecimento, diversa do senso comum e do
conhecimento científico, que permite ao seu cultor a possibilidade conhecer melhor a si
mesmo e o mundo ao seu redor através do estabelecimento de generalizações muito
amplas. Generalizações estas que são o próprio conhecimento filosófico. Conhecer
além da aparência ilusória das coisas materiais e dos construtos abstratos. Poder
explicar a realidade do universo e poder convencer os demais por meio da explicação
objetiva, válida e confiável dos fatos. .
Como sucede às duas modalidades superiores de conhecimento (filosófico e científico),
o objetivo da filosofia consiste no estudo das atitudes mais gerais dos seres humanos e
na busca sistemática das leis gerais e nas relações universais da natureza, da
sociedade e do pen samento.
Também se deve diferenciar as filosofias particulares (processos conscientes e
inconscientes que refletem as necessidades de indivíduos ou de grupos sociais
limitados) das filosofias como artefatos culturais da civilizações (visões do mundo
propiciadas por interesses de grandes sistemas sociais).
1
A filosofia de cada momento evolutivo do processo civilizatório reflete as necessidades
e as possibilidades de certos interesses sociais bem amplos e definidos. Os interesses
e as possibilidades das classes sociais hegemônicas, por exemplo, ou do aparelho
estatal, das instituições religiosas mais importantes. Por causa da extensão de seu
objeto, a filosofia se confunde com a concepção do mundo de quem a vivencia e influi
em sua conduta.
Neste texto, cuidar-se-á de enfocar os aspectos filosóficos do conhecimento científico,
especialmente do conhecimento médico.
O Conhecimento Médico
O conhecimento médico pretende ser uma modalidade particular do conhecimento
científico que se debruça sobre a tarefa de estudar tudo o que se refere à enfermidade
e ao enfermo, especialmente à profilaxia e diagnóstico das enfermidades e ao
tratamento e à reabilitação dos enfermos.
Conhecimento que abrange a relação sa saúde e da enfermidade, da vida e da morte,
da mente e do cérebro, dos organismos como sistemas complexos, do indivíduo e o
ambiente físico e da pessoa com a sociedade (em suas quetro instâncias inseparáveis
e interativas: a sócio-econômica, sócio-cultural, sócio-política e sócio-histórica).
O Conhecimento Médico deve ser Científico e Ético
1
O conhecimento médico deve ser preferentemente científico e sempre ético,
principalmente porque a atividade profissional dos médicos está mais voltada para os
enfermos que para as enfermidades. Este é um pressuposto essencial do trabalho
médico e sempre presente no processo terapêutico, seu objeto de intervenção é
sempre o enfermo e não, a enfermidade. O enfermo é o motivo da existência dos
médicos e ajudá-lo é seu compromisso mais importante. Contudo, o conhecimento de
tudo que se relaciona aos enfermos e às enfermidades não se faz possível sem que se
conheça a saúde da pessoa sadia em sua tri dimensionalidade – biológica, psicossocial
e ambiental.
Diz-se que o conhecimento médico deve ser preferencialmente científico porque o
avanço das ciências ainda não fornecem resposta satisfatória para todas as demandas
originadas nas necessidades diagnósticas e terapêuticas dos doentes. Contudo,
nenhum procedimento médico deve contrariar fatos e conhecimento cientificamente
estabelecios nem os pressupostos éticos que o fundamentam.
Noutro plano, mas analogamente, sustenta-se que além de preferentemente científico,
o conhecimento médico deve ser essencialmente ético. Porque a ética deve ser diretiz
essencial toda conduta médica.
Não é possível entender a realidade humana particular sem ter presente que toda sua
atividade depende da interação dialética dos seguintes processos: o natural e o sócio-
cultural, o objetivo e o subjetivo, o sensorial e sentimental, o reacional e o racional, o
material e pensamento, a conduta e a consciência, a instintividade e a vontade.
Quando se pretende reduzir o homem a um animal (natural, objetivo, sensorial,
reacional, material, conduta e instintividade) este caminho veterinário mais descaminha
que encaminha o resultado do processo cognitivo, prejudicando as possibilidades de
intervenção que o conhecimento proporciona ao médicos. Ao contrário, ao pretender
especular um homem ideal (cultural, subjetivo, sentimental, racional, consciente e
voluntário), obtém-se o desvio oposto.
1
O conhecimento médico deve se dirigir para a inteireza da existência humana sadio ou
enfermo. O entendimento do conhecimento da saúde e das enfermidades (inclusive
das enfermidades psíquicas), bem como o de qualquer outra faceta essencial da
humanidade ou do ser humano só pode ser dado pela integração destas duas
vertentes teóricas em uma síntese dialética. Por isto, o conhecimento e atividades dos
médicos deve ser dirigido para essa síntese.
Tendências Filosóficas que Influem na Ciência
Muitas tendências filosóficas (visões particulares do mundo, escolas do pensamento
filosófico ou outros nomes que ienham) se mostram potencialmente capazes de
exercer influência nos procedimentos de aquisição do conhecimento científico (o que já
se vislumbrou em outro momento deste texto). Destas, algumas reduzem o
conhecimento a uma de suas fontes possíveis (sensações, raciocínios, intuição) e, por
isto são denominadas tendências reducionistas, porque reduzem a totalidade a uma de
suas partes, tais como:
Empirismo (ou empiricismo) doutrina filosófica que pretende que a única fonte de
conhecimento seja a experiência do observador, que é representada pelos sentidos;
reduz o conhecimento ao resultado da sensibilidade. (Locke, Hume, Condilac, Stuart-
Mill) e, de certa forma, inclui a Fenomenologia (Husserl, Heidegger, Jaspers), o
Positivismo (Comte) e o Neo-Posivismo (Carnap, Ryle, Austin, Wittgenstein, Feigl), pois
todas estas tendêncvia filosóficas conserva, este denominador comum de natureza
empiricista; e mais as seguintes.
Fenomenismo é a tendência filosófica que sustenta que o conhecimento só é possível
de forma sempre incompleta porque se resume à aparência das coisas.
Racionalismo é a tendência filosófica que põe ênfase na razão (a elaboração abstrata
do pensamento – ou pensamento abstrato) como fonte exclusiva do conhecimento
(Platão, Spinoza, Leibnitz, Kant);
1
Intuicionismo, cujos adeptos pretendem que o conhecimento provém da intuição
(independente da sensibilidade e da razão); a intuição é a visão direta e imediata de
algo, sem qualquer recurso intermediário, como sensações ou raciocínio. Bergson é
seu exemplo mais fiel e representativo;
Subjetivismo, ideologia que pretende a exclusividade (Berkeley) ou o primado da
subjetividade sobre a vida objetiva (Freud);
Objetivismo, cujos adeptos recusam toda contribuição subjetiva para a construção do
conhecimento (inclusive os a valoração crítica ou os valores filosóficos e científicos),
como seus principais representantes pode-se mencionar Skinner, Bandura.
Outras destas tendências, entendem o conhecimento reduzido a um de seus processos
(descrição da aparência, redução aos aspectos objetivos ou subjetivos), destas, as
principais representantes são as seguintes:
Realismo Crítico (Jolivet) que encerra uma combinação eclética dos empirismos e dos
racionalismo, evitando todos os preconceitos.
Idealismo é a tendência filosófica que sustenata a supremacia do ideal (almas,
espíritos, idéias, palavras sobre o material), o dualismo idealista, ou pretende apenas a
existência do ideal, negando todas as manifestações da matéria como ilusória (o
idealismo monista ou solipsismo).
Materialismo é a filosofia monista que vê na matéria (que inclui o conceito de energia)
a expressão de tudo que existe no universo. (Marx sustenta o materialismo dialético e
Bunge, o materialismo emergentista).
Materialismo marxiano é a concepção filosófica que sintetiza todas as anteriores (razão
e sensações, raciocínio e experiência, intelecto e intuição, análise e síntese, influências
internas e externas, objetividade e subjetividade, cognição e emoção, indução e
dedução, natureza e cultura) a partir de um exercício de integração e síntese dialéticas.
1
Regis de Morais 5
destaca que a palavra grega logos tem dois sentidos em
português, pode significar razão e inteligibilidade, que corresponde a suas
duas dimensões conceituais: a lógica e a metodológica, a explicação e o
entendimento.
ALGUNS PRESSUPOSTOS ONTOLÓGICOS FUNDAMENTAIS
DA ONTOLOGIA MATERIALISTA
Seguindo Mahner, M. E Bunge, M. (em Biofilosofia, ) os pressupostos ontológicos mais
essenciais da ontologia materialista se reumam postulados (Siglo XXI Editores, Mexico,
sd p. 19 e sgs.), que aqui seguem om algumas modificações:
1. Matéria, Materialidade e Materialismo
Matéria, tal como se usa aqui, pode se definir como tudo o que existe na realidade
objetiva, tudo que não é uma idéia ou um construto.
A ontologia materialista ou realista pressupõe o primado da matéria sobre as idéias no
entendimento do mundo isto é o universo existe por si mesmo existam ou não
observadores que o estudem.
2. Os objetos do conhecimento se compõem de coisas e de construtos e nenhum pode
pertencer às duas categorias. Objeto como objeto de observação ou estudo, que pode
ser materiais ou ideais.
As coisas são entes materiais, objetos materiais, fatos concretos que existem na
realidade. Enquanto os construtos são obteos conceituais, idéias, conceitos que se
referem a estados das coisas, mudanças, processos, acontecimento que se dão nelas
ou com elas.
Aqui se emprega o termo realidade para significar tudo que pode ser percebido ou
conhecido pelo sujeito, tudo o que julga existir. Existe a realidade material ou
objetiva, a realidade abstrata ou subjetiva (que inclui a chamada realidade virtual).
5
Regis de Morais, J.F., Ciência e Tecnologia, Ed. Cortez & Moraes, S.Paulo, 1976, p. 44.
1
3. O mundo material está composto exclusivamente por coisas às quais são agregadas
construtos.
3.1. Somente os entes materiais existem no mundo como objetos autônomos. Os
construtos são entidades ideais que manifestam certas qualidades ou tributos da coiss.
Os processos mentais contrários de reificação (imaginar os entes ideiais como objtivos)
e a ideificação Iimaginar entes abstratos como materiais) ilusões da consciência. A
energia é uma propriedade da matéria, como as idéias são propriedade da atividade
cerebral.
3.2. As propriedades não emanam das coisas são qualidades delas das quais não se
podem separa mas podem ser percebidas ou inferidas pelo observador em sua
consciência e este pode difenciá-las conceitualmente.
3.3. A observação de uma coisa faz surgir idéias na mente de que a observa idéias e
palavras, seja denominar suas características, para valorizar alguma de suas
qualidadea ou para explicar algum fenômeno que lhe aconteça. Tais idéias não
pertencem àquela coisa, nem as precedem na natureza, refletem-na na mente de que
as observa e se refletem napalavras que a expressam. As propriedades são
fenômenos conceituais que dizem respeito às qualidades que podem ser observadas
nas coisas, mas são existem independentemente dessas coisas e nem do observador
observá-las ou não.
3.4. A seguir, listam-se alguns tipos de propriedades das coisas.
2
Uma propriedade de uma coisa pode ser: intrínseca (quando independe de outra ou
outras coisas para existir, como a composição química ou a massa de uma coisa) ou
relacional (quando emerge na relação daquela coisa com outra ou outras, como o peso
em relação à gravidade ou se é o indíduo alfa em uma ninhada); primária (quando é
objetiva e independe de um observador ou secundária (quando só existe se observada
por alguém) ou secundária (como a cor, o volume, o som que preduzem; essencial
(quando indispensável para sua existência); acidental (ou accessória, quando pode existir
ou não sem ela); quantitativa (qe mudam apeas por varições de intensidade, como
altura, peso, extensão) ou qualitativa (quando varia a qualidade da coisa como gravidez,
parentalidade, morte e vida).
Bunge ainda distingue as propriedades manifestas das propensões ou
potencialidades de um objeto. As propriedades manifestas existem
por toda a existência. As propensões podem seu causais ou casuais.
2
3.5. As propriedades devem ser diferenciadas dos atributos (ou predicados, que só existem
se atribuídos por alguém à coisa observada, como acontece com as diversas formas de
valor, por exemplo). Porque os atributos quase se expressam por juízos, muitas vezes
juízos de valor, que são atribuídos às coisas materiais ou aos acontecimentos que
ocorrem nelas ou a elas.
3.6. As propriedades podem ser universais (quando se referem a tudo o que existe na
classe coisas apreciada, por exemplo, tudo o que existe está sujeito a mudar), genéricas
(ou particulares, quanse referem a um genero ou tipo específico de coisas ou construtos,
como a duração) e individuais (que se referem a um indivíduo especificamente, como
sua idade. A totalidade das propriedades de um indivíduo conforma sua identidade ou
totalidade.
4. Legalidade. As Leis são relações constantes entre duas ou mais propriedades que
se manifstam naquelas coisas em todos os lugares. O mundo (natural, o universo
material, o sistema universal e os subsistema contidos nele) existe por si mesmo,
independente de qualquer observador e obedee a algumas Leis Naturais, que se
expressam pelos chamados enunciados ou proposições legais. As leis naturais podem se
referir a:
4.1. alcance – conjunto de coisas que possuem essa propriedade. Quando uma lei
natural tem alcance tão grande que abrange todas as propridades de todas as coisas
que existem se denomina princípio universal ou lei geral (tudo o que existe muda, na natureza
nada se perde e nada se cria, tudo se transforma) e quando abrange as coisas e fatos de uma
categoria particular de coisas, denmna-se princípio particular ou lei particular (todos os
seres vivos nascem, vivem e morrem).
2
4.2 relação – quando são propriedades essenciais de uma coisa, de uma categoria
particular de coisas ou de todas as coisas que existem estão relacionadas, diz-s que
estão legalmente relacionadas, que sua relação é legal. O que nada tem a ver com leis,
como normas jurídicas. Toda propriedade essencial está sempre relacionada a outra
propriedade essencial. Porque todas as propriedades essenciais de uma coisa devem
estar relacionadas entre si. As relações pode variar de qualidade, intensidade e
duração. Tanto quanto se sabe, as leis biológicas são as mais variadas entre as
naturais por conta da complexidade das propriedades e das coisas a que se referem.
5. Estado de uma coisa é como se denomina à condição das propriedades de uma
coisa em um dado momento temporal. Os estados também podem variar de duração e
de insidade; e podem ser concretos ou abstratos. Os estados de equilíbrio e de
movimento dos corpos físicos e os de saúde e enfermidade dos organismos biológicos
são exemplos desta condição.
4. Evento, Proceso, História. Estes conceitos se baseiam no princípio de que todas as
coisas mudam (no espaço ou en quantidade) e ou se transformam (alteram sua
qualidade).
Denomina-se evento ou acontecimento a qualquer mudança de estado, ou seja, a uma
mudança simles de uma propriedade. Contudo só existem mudanças ou trasformações
legais, isto é, sujeita às leis que regem as coisas e suas propriedades. Quando duas ou
mais mudanças se encadeiam, a isso denomina-se um processo. A trajetória desde a
primeira mudança até o estado final se chama história.
Os eventos ou processos que acontecem às coisas concretas, bem como a histórias
que compõem não são entidades, coisas, são construtos. A expressão “entidade
histórica” é, na verdade, uma figura de linguagem, uma metáfora.
2
5. Materialidade e Mutabilidade são propriedades gerais das coisas, dos objetos
materais, dos entes concretos. Enquanto a idealidade e imutabilidade são propriedades
geais dos construtos, dos entes abstratos. Tudo que é material muda, os conceitosn
não. São mudados.
6. Espaçotemporalidade e Individualidade. No primeiro caso, da espaçotemporalidade,
todas as coisa materiais existem nos espaço e no tempo e só podem existir nessas
condições. Não apenas existem no espaço e no tempo, como mantêm relações
espaciais e temporais entre si e o conhecimento dessas relações e suas
consequências é essencial para explicá-las. Caso se defina indivíduo como entidade
material singular, a individuaidade também é qualidade das coisas, os construtos não
podem ser indivíduos, por são entes ideais. A individualidade é característica de
objetos materiais.
7. Fato.
A noção de fato é um dos elementos essenciais da ontologia científica.
ALGUNS PRESSUPOSTOS CIENTÍFICOS BÁSICOS
Bronowski, Diederich, Whaley e Surratt propuseram alguns pressupostos fundamentais
da atividade científica, que denominaram Atitudes Básicas do Cientista.
São os seguintes:
1. Empirismo
Dito de forma simples, um cientista prefere "ir e ver por si mesmo". Não discute se
chove lá fora - simplesmente põe a mão pela janela. Basicamente, isso expõe sua
crença em que existe um mundo real seguindo regras constantes em sua natureza, e
que é possível experimentar esse mundo real e construir um entendimento sobre ele –
o mundo não mudará se for estudado. E o mundo real também não depende do nosso
entendimento - não "votamos" em ciência.
2
2. Determinismo
"Causa e efeito" fundamenta toda atividade científica desde seu início. Principalmente
nas ciênia médicas. O mecanismo é simples, toda ação causa reação e efeitos não
ocorrem sem causas. Isso não quer dizer que não existam processos aleatórios ou
caóticos. Mas um mesmo agente causador nas mesmas circunstâncias não produz um
efeito hoje e um outro amanhã.
3. Crença em que todo problema pode ter solução.
Grandes problemas foram solucionados no passado, desde o Projeto Manhattam que
deu utilidade bélica à energia atômica, até enviar um homem à lua. Outros, como a
poluição, guerra, pobreza e ignorância são vistos como tendo causas reais e são,
portanto, solucionáveis - talvez não seja, mas é possível.
4. Parcimônia
Preferir a explicação simples à complexa: quando o complexo sistema geocêntrico com
epiciclos e o simples sistema heliocêntrico Copernicano explicam o movimento
aparente dos planetas, escolhe-se o mais simples.
5. Manipulação científica.
Qualquer idéia, mesmo simples e de acordo com observações aparentes, deve ser
confirmada por trabalhos que avaliem a possibilidade de que os efeitos sejam
causados por outros fatores.
6. Ceticismo
2
As proposições científicas devem partir de asserções prévias (hipóteses) a serem
verificadas para serem consideradas fatos. É comum que o cientista atinja um beco
sem saída na pesquisa e deve voltar e determinar se todas as asserções feitas são
verdadeiras e como os fatos acontecem. Ou que depois de diversas verificações que
apontem para a confirmação de uma tese, encontrem outra que a prove falsa.
7. Precisão
Ao conrário da libguagem vulgar. A linguagem científica recusa firmemente as
proposições vagas e mal-definidas. Um vírus causa uma doença? Quantos vírus são
necessários para infectar? Há algum hospedeiro imune ao vírus? A linguagem científica
deve ser tão exata e meticulosa quento for possível. Os conceitos científicos devem ser
isentos de polissemia.
8. Respeito por paradigmas.
Um paradigma é o entendimento genérico do mundo ou alguma de suas partes. Um
modelo de pensamento. Um conceito se "encaixa" nesse entendimento genérico ou
não se encaixa? Se não, é "estorvo" e o cientista dece descobrir se o novo conceito é
falho ou o paradigma deve ser mudado.
9. Respeito pela força da estrutura teórica.
Diederich defende que um cientista não pense que "Isso funciona na teoria mas não na
prática". Uma teoria só será confiável se confirmada na prática. A correção da teoria
está na finalidade em direção da qual o cientista está trabalhando; nenhum fato
científico é acumulado aleatoriamente. (O que bons estudantes de ciência devem
aprender!).
10. Disposição para mudar de opinião.
2
Quando Harold Urey, autor de uma teoria sobre a origem da superfície da lua,
examinou as rochas lunares obtidas na missão Apolo, logo reconheceu que sua teoria
não resistia aos fatos. "Estive errado!", declarou sem tentar defender a opinião que
sustentara com entusiasmo por várias décadas.
11. Legalidade à realidade.
O cientista é fiel aos fatos que expressam a realidade. O Dr. Urey que exemplificou o
item anterior não se converteu a nenhuma idéia nova, apenas aceitou um modelo que
sintonizava melhor à realidade. Nunca pretenderia manter uma opinião só porque
estava associada a seu nome.
12. Aversão à superstição e preferência automática por explicação científica.
Nenhum cientista pode conhecer toda a evidência experimental que baseia os
conceitos científicos atuais; assim deve adotar certos pontos de vista mesmo sem
entender suas bases. E rejeitar a superstição, prefere os paradigmas científicos como
apreciação pela força do conhecimento baseado na realidade.
13. Sede de conhecimento e "motivação intelectual."
Os cientistas são viciados em resolver quebra-cabeças. A pequena peça do quebra-
cabeça que não encaixa é a mais interessante. Entretanto, como Diederich nota, os
cientistas preferem viver com a incompletude do que "...preencher as lacunas com
explicações inadequadas."
14. Julgamento suspenso.
Novamente Diederich afirma: "Um cientista tenta arduamente não formar opinião sobre
determinado assunto até que o tenha investigado, porque é difícil desistir de uma
opinião já formada e elas tendem a nos induzir a encontrar fatos que as corroborem.
Deve haver, entretanto, disposição de agir sobre a melhor hipótese que alguém tenha
ocasião ou oportunidade de formar.
2
15. Ter consciência das proposições.
Diederich descreve como um bom cientista começa definindo termos, fazendo todas as
proposições muito claramente, e reduzindo as asserções necessárias ao menor
numero possível. Geralmente queremos que os cientistas façam afirmações amplas
sobre o complexo. Mas geralmente são bem específicos sobre o que "sabem" ou o que
têm certeza. Quando tais condições são satisfeitas, o resultado mais comum é pão,
pão e queijo, queijo.
16. Capacidade de separar os conceitos fundamentais dos irrelevantes ou
desimportantes.
Alguns jovens estudantes de ciência se enchem de observações e dados que são de
pouca importância para o conceito que eles querem investigar.
Concepção Sistêmica do Mundo
Regis de Morais
6
destaca que a palavra grega logos (razão explicativa) tem dois
sentidos em português: razão e inteligibilidade. Os sentidos que correspondem a duas
dimensões filosóficas: a lógica e a metodologia. O fator lógico do entendimento e a
base intelectual da sua operacionalidade; o pensamento e a palavra ou discurso que o
conduz ao interlocutor. A natureza, a sociedade e a personalidade constituem sistemas
e assim devem ser considerados. Daí que o conhecimento que as reflete dever
reproduzir sua sistematicidade.
Esta concepção sistêmica do mundo (sustentada por Mario Bunge, Oleg Tsukânov
entre muitos outros autores contemporâneos) se fundamenta em pressupostos,
apresentados como postulados e corolários.
Haverá ocasião de discorrer um pouco mais detalhadamente acerca do conceito de
sistema quando se tratar da sistematicidade como característica do pensamento
científico e como qualidade identificável na natureza e na sociedade.
6
Regis de Morais, J.F., Ciência e Tecnologia, Ed. Cortez & Moraes, S.Paulo, 1976, p. 44
2
Filosofia e Personalidade
Os processos individuais e sociais vivenciados pelos seres humanos estão de tal
maneira imbricados na pessoa, formando um amálgama dialético tão inseparável de
partes indestinguíveis, que é impossível saber se a personalidade é uma instância
individual socialmente condicionada ou se, ao contrário, constitui uma instância social,
conformada individualmente. Como regra geral, os fatores individuais e sociais só
podem ser diferenciados na unidade da pessoa por meio de um exercício intelectual de
abstração, uma elaboração conceitual que não pode, de maneira alguma, ser levada à
prática. Um costrut mental, enfim.
De fato, os elementos individuais e sociais são indistinguíveis na personalidade, assim
como as personalidades e seus papéis específicos são indetermináveis nas realidades
sociais que confomam (como, para exemplificar, a dificuldades de determinar o
significado da influência da personalidade nos acontecimento históricos e nos demais
processos sociais).
O termo personalidade provem da palavra latina persona que designava a máscara que o
ator do teatro grego empregava para representar a disposição anímica de seu
personagem cujoo papel representasse. A persona punha em evidência ou
caricaturava os traços mais significativos do personagem e permitia sua pronta
identificação pelos assistentes.
2
A noção de personalidade é essencialmente psicossocial, na medida em que integra
em um só significado a síntese da noção de indivíduo e sua relação dinâmica com a
sociedade na qual está inserido em um processo em permanente desenvolvimento e
adaptação (identificando-se, portanto, com a noção de pessoa com a qual se
confunde). Personificava o personagem. Da mesma maneira que integra dialeticamente
as noções de funções psicológicas, temperamento e de caráter.
Como se verá adiante, o conceito de pessoa é mais abrangente do que o de indivíduo
exatamente por causa desta relação com o social.
No plano individual mais ou menos estrito, as noções de personalidade e de dignidade
confluem para o conceito de pessoalidade. O conceito de pessoalidade reúne as
características individuais identificáveis que assinalam um indivíduo humano ssingular,
diferenciando-o de todos os demais indivíduos, do mesmo tipo, da mesma espécie ou
do mesmo gênero.
O ser humano, quando avaliado neste contexto particular presente nas idéia de
personalidade, apresenta um movimento permanente de desenvolvimento tanto no
plano ontológico (do indivíduo), quanto filológico (da espécie). O desenvolvimento
ontológico (do indivíduo) imita o filológico (da sua espécie).
O conceito de homem (com o seu sentido mais abrangente, equivalente a ser humano,
independente de sexo) é bastante amplo e costuma abranger pelos menos duas
noções específicas que, freqüentemente, são confundidas como se fossem idênticas,
apesar de corresponderem a coisas bastantes diferentes.
Tais noções são as seguintes:
= o indivíduo e
= a pessoa.
Na verdade, os conceitos de indivíduo e pessoa podem parecer idênticos porque na
linguagem comum têm iguais significados e são usados mais ou menos
3
indistintamente naquela modalidade de conhecimento. Contudo, o que não
acontece (ou não deve acontecer) na terminologia científica. Mesmo na linguagem
culta, além da terminologia científica, as palavras indivíduo e pessoa representam
conceitos diferentes, que simbolizam coisas diversas e bem definidas e seu emprego
não deve ser feito de maneira indiscriminada.
A palavra indivíduo expressa unicamente uma referência quantitativa de singularidade;
pois, se refere ao elemento mais simples presente em umacoleção de outros como ele,
uma coletividade; um componente singular de uma pluralidade, mesmo que se trate de
um conjunto inanimado.
Enquanto a noção de pessoa se refere ao componente mais elementar da humanidade,
expressão de uma diferenaça qualitativa caracterizadora de um ser humano dotado de
personalidade e de dignidade. Costuma-se denominar pessoa ao indivíduo humano (o
que se faz muitas vezes),mencionando um ente pessoal ativo e digno. Não apenas um
indivíduo, na qualidade de um ente singular e caracterizado apenas por esta
singularidade.
Embora a maioria das pessoas não dê importância para estas diferenças de
significação no senso comum, o emprego da expressão “indivíduo humano” pode
ter o mesmo significado, mas, em geral permite designar apenas suas propriedades
biológico-individuais, excluindo qualquer característica psicológica ou sócio-cultural
(atributos que são indispensáveis ao conceito de pessoa).
3
Já a expressão pessoa humana, porque é redundante, deve ser evitada (a não ser para
ser diferenciada de uma pessoa divina ou pessoa jurídica, quando se der este caso). A
não ser por isto, seu emprego pode denunciar desconhecimento do significado dos
termos empregados; posto que, por mais tolerante que seja sua apreciação, não há
possibilidade de existir pessoa que não seja humana ou ser humano agente social que
não seja pessoa, a não ser como metáfora (mesmo que necessária, como pessoa
jurídica). Pois, quando se faz referência a pessoa jurídica, por exemplo, este caso é
aquele em que o termo pessoa deve ser adjetivado. Afinal, a noção de pessoa jurídica
é uma ficção que se usa apenas em homenagem ao passado remoto do termo, para
significar um entidade jurídica com direitos e obrigações.
Os conceitos de pessoa e de indivíduo devem ser bem diferenciados, principalmente
na linguagem científica, ainda que tal diferenciação seja essencial na expressão da
linguagem comum culta.
Na linguagem científica, denomina-se indivíduo a um ser diferenciado dos demais
por ter vida separada ou características diferenciais que o assinalem como singular;
uma unidade funcional específica. Qualquer ser, de qualquer espécie pode ser
encarado como indivíduo. No indivíduo coexistem e se confundem os atributos de
singularidade e individualidade.
A singularidade é o atributo essencial da individualidade. A individualidade de algo se
reúne em um certo número de características que o diferenciam dos outros da
mesma espécie, fazendo-o único em sua singularidade.
Pode-se usar o termo indivíduo com sentido amplo para objetos indivisíveis (um
planeta no sistema solar, uma galáxia no universo, uma estrela na galáxia, uma
laranja na laranjeira, uma formiga no formigueiro, um grão de areia no areieiro).
Já pessoa, é um conceito muito mais complexo e sua definição é essencial para
caracterizar o objeto da Medicina e para entender os valores éticos que apoiam a teoria
e a prática da Medicina. Valores que se mantêm respeitados e respeitáveis ao longo
dos últimos vinte e cinco séculos.
Pessoa é uma noção que transcende o conceito de indivíduo e existe para designar
a entidade individual humana completa, inclusive sua personalidade (o que inclui
todos seus atributos biológicos anatômicos e fisiológicos, psicológicos e sociais).
3
Inclusive sua sujeiticidade, como atributo pessoal e sua condição de autonomia e de
agente de direitos e de deveres sociais).
3
A concepção de pessoa, como expressa aqui, ao menos na linguagem culta, científica
ou filosófica, ultrapassa o conceito de indivíduo em todos os planos das numerosas
possibilidades de seu entendimento. E sua principal diferenciação é que, ao menos em
tese e com exceção da lingugem metafórica, só deve ser atribuída a seres humanos,
enquanto o termo indivíduo cabe todos os entes singulares de um conjunto, sejam
concretos ou abstratos. Neste sentido, não são atributos isolados como a
racionalidade, a afetividade especial ou a psicomotricidade que caracterizariam uma
pessoa. Mas sua humanidade. A pessoalidade já não é dada pela personalidade. Um
ser humano com as mais graves limitações cognitivas, afetivas e psicomotoras
prossegue sendo merecedor do atributo de pessoa, inclusive como detentor de direitos
humanos.
A noção de pessoa, inclui uma referência à sua condição de ser social, um indivíduo
socializado, uma personalidade detentora de qualidades que, como se viu
anteriormente, a individualizam, identificam, pessoalizam, personalizam e dignificam. A
dignidade da pessoa tem sido um atributo sempre reconhecido nos homens de todos
os tempos civilizados e é um dado essencial não só da civilização, mas do humanismo
como atitude intelectual básica.
Não há, nem pode haver civilização desenvolvida sem que ali exista respeito pela
dignidade humana, por mais diferente ou estranho que possa parecer, como principal
atributo das outras pessoas. O atributo dignidade é essencial para entender a
humanidade. Muito mais que sua inteligência, que suas possibilidades verbais, que
suas habilidades psicomotoras, que sua aptidão para amar ou desempenhar papéis da
vida social. No presente momento histórico, um excelente indicador civilizatório é o
respeito aos direitos humanos.
A noção de pessoa inclui tudo isto e transcende a todos estes atributos, exatamente
pelo carácter ético de sua dignidade, o que o faz credor dos direitos humanos.
3
Os conjunto de normas sociais denominado Direitos Humanos representa um código
de direitos que a sociedade atribui às pessoas, a todas as pessoas, pelo fato de serem
humanas.
Classificação da Filosofia
Como muitos outros estudiosos do assunto, OLEG TSUKÂNOV
7
ensinava que, ≈
considerando-se o estado do conhecimento sobre a filosofia materialista e seu
significado como filosofia da ciência, prefere-se aqui classificar a filosofia em quatro
capítulos:
= ontologia,
= gnosiologia,
= lógica,
= metodologia e
= ética.
A partir de uma avaliação materialistas da filosofia, a ética e todas as demais
disciplinas axiológicas, por suas características essenciais, se situam mais como
disciplinas antropológicas e sociológicas do que filosóficas.
7
Andery, M.A. et alli, Para Compreender a Ciência, Ed. Espaço e Tempo/EDUC, Rio, 1988, pp. 34 e seguintes.
3
A teoria do ser ou ontologia, capítulo da filosofia que estuda, em seu sentido mais
amplo, a origem, a essência, a causa primeira e a explicaçao do cosmos, da vida e do
pensamento (em suma, de tudo o que existe na realidade); e, em sentido mais limitado,
atualmente, o termo ontologia pode ser empregado para referir o processo filosófico de
estudar o quê conhecer, o objeto do conhecimento; neste caso, como se faz neste
trabalho, o estudo ontológico de uma ciência é o estudo de seu objeto (sua definição e
sua objetividade). Não é possível pensar em ciência ou qualquer atividade científica
sem ter bem clara a noção de seu objeto de estudo.
Classicamente, a teoria do ser se denominava metafísica. Foi renomeada por
materialistas e positivistas cedendo à recusa do termo metafísica com sentido de
sobrenatural, mágico-sobrenatural, religioso. Isto porque identificam nesta
expressão seu sentido inicial de algo alem a física, fora de realidade natural, como se
faz quando se considera a teologia (teoria de deus) como parte da filosofia.
3
A teoria do conhecimento, também chamada epistemologia ou gnosiologia, é a
disciplina filosófica que estuda o conhecimento em geral, inclusive o conhecimento
científico, a verdade, o erro; a teoria do conhecimento é o estudo do como se conhece,
dos processos utilizados para conhecer. É com a gnosiologia ou epistemologia que se
definem as grandes diretrizes do pensamento científico.
A teoria da arquitetura lógica do pensamento, da elaboração racional das idéias,
sobretudo do manejo dos juízos, referida simplesmente como lógica (inclusive a lógica
matemática, a lógica formal, a lógica dialética) que preside a construção dos conceitos,
das categorias, das proposições e das teorias científicas. A teoria dos procedimentos
operatórios destinados a construir o conhecimento científico com suas exigências de
veracidade, ou a metodologia, o que inclui tanto a metodologia filosófica quanto a
metodologia científica e que costuma ser incluída como parte integrante da lógica na
maioria das sistematizações. (Sendo destacada aqui, principalmente, por sua
importância relativa para o tema central deste trabalho sobre a fundamentação
científica da Medicina e da psiquiatria).
Não existe praticamente qualquer aspecto da filosofia que seja isento de divergências e
opiniões contraditórias de todas as proporções possíveis. Como matéria fortemente
ideologizada, a filosofia se apresenta, simultaneamente, como instrumento de combate
e campo de batalha das mais diversas ideologias que se confrontam no mundo. Por
isto, sua classificação também costuma ser objeto de muito confronto.
A sistematização da filosofia nestes capítulos não atende à todas as opiniões dos
especialistas ou se compatibiliza obrigatoriamente com todas elas, porque nenhuma
consegue esta façanha, tantas e tamanhas são as divergências existentes neste
terreno.
3
Esta classificação foi empregada aqui, como opção do autor, porque é suficientemente
defensável, parece bastante coerente com as opiniões expostas frente à questão
central da filosofia e as outras opções doutrinárias feitas ao longo deste trabalho. E
também porque se presta muito bem ao entendimento da Filosofia do conhecimento
como instrumento do processo de conhecer, explicar e transformar o mundo.
Quando se estuda o conhecimento filosófico é bastante possível, sem qualquer
prejuízo para o entendimento do assunto, considerar a gnosiologia como o capítulo da
filosofia que estuda o conhecimento em geral, qualquer processamento cognitivo; e
encarar a epistemologia como ramo da gnosiologia dirigido especificamente para o
estudo do conhecimento científico. Com este segundo sentido, a epistemologia se
diferenciaria da gnosiologia, embora esta passe a ser considerada sua matriz como a
teoria do conhecimento, área mais ampla que a teoria do conhecimento científico.
Para muitos, no entanto, gnosiologia e epistemologia são sinônimos e ambos os termos
podem ser empregados com o significadeo de teoria geral do conhecimento. Caso em
que empregam o termo cientologia para mencionar a teoria do conhecimento científico.
Entretanto, como este termo cientologia também designa uma organização religiosa de
procedência norte-americana de péssima reputação no meio científico ocidental, seu
uso tende a ser evitado por aí.
Neste texto, em geral, a menos que se indique diferente, os dois termos, gnosiologia e
epistemologia, são empregados como equivalentes em significação, pois não parece
haver qualquer descontinuidade qualitativa entre os dois fenômenos a que estes
conceitos se referem, pois se considera que o conhecimento científico e o
conhecimento não científico não se diferenciam por sua estrutura cognitiva, mas por
sua metodologia, rigor, previsibilidade e verificabilidade.
3
Embora a Metodologia pareça ser o componente filosófico que tem mais
relacionamento com a filosofia, isto não é verdade. Toda a filosofia e cada um de seus
ramos tem importância para a atividade cientifica e para seu desenvolvimento, são
atividades huanas intercomplementares. Não é possível fazer boa ciência quando se
ignora a filosofia, porque a ciência sem filosofia é uma arquitetura sem alicerces. A
ontologia, a gnosiologia, a lógica e a ética são tão necessárias à investigação e ao
pensamento científico quanto sõ importantes às suas aplicações tecnológicas.
Aristóteles, Francis Bacon e René Descartes forneceram a fundamentação teórica da
doutrina do método científico como investigação acerca do conhecimento verdadeiro.
Antes de Karl Marx, a metodologia se confundia com a lógica e esta, com a psicologia,
até que HEGEL diferenciou o método filosófico dos métodos científicos, dando novo
rumo a este estudo. Aqui, se considera a Metodologia como o ramo da filosofia que
articula as leis do pensamento com as leis do mundo objetivo (incluindo as leis que
regem a natureza e a sociedade), sobretudo, elabora os meios utilizados pela filosofia e
pelas disciplinas científicas para atingir seus objetivos cognitivos.
Devendo-se destacar que, a cada momento, cresce a importância que se atribui ao
método no processo de aquisição do conhecimento científico; tanto, que o grau de
cientificidade de uma atividade cognitiva é determinado, em grande parte, pela
avaliação da sua metodologia; pois a cientificidade de um conhecimento qualquer pode
ser sempre determinada a partir do exame dos procedimentos metodológicos
empregados em sua obtenção.
3
Alguns autores (os que consideram a filosofia como uma ciência formal, como contece
com os marxistas e alguns positivistas) não incluem a axiologia como ramo da filosofia.
Por causa de sua dimensão essencial, característica e essencialmente valorativa,
incluem-na, como disciplina filosófica, a axiologia ou teoria dos valores, incluindo a
moral e a ética (que objetiva estudar a origem, a essência e a evolução dos valores
essenciais, dos princípios e das regras norteadoras da conduta humana).
Tradicionalmente, esta disciplina pertencia à filosofia denominada como teoria do valor
e sua presença nela é uma das razões da diferenciação do conhecimento científico do
saber filosófico.
Caso se retire a axiologia do campo da filosofia, passando a enquadrá-la como um
conhecimento antropológico, o que pode ser considerado muito pertinente, ela pode ser
considerada uma ciência formal. Isto porque a axiologia, não pode ser tida como
ciência, por falta da necessária objetividade incluída na exigência de especificidade da
ciência.
Por isto, para aqueles que querem ter a filosofia como uma ciência formal, deve ser
conveniente situar a axiologia e seus ramos (inclusive as disciplinas normativas como
as regras disciplinadoras do trânsito, as regras de boas maneiras, o direito, a moral e a
ética), face a sua subjetividade, e mais todas as disciplinas chamadas axiológicas,
junto a outras disciplina sociais normativas, como as jurídicas, que já não são mais
consideradas ciências, fora do campo da filosofia. Ordenadas, preferentemente, entra
as ciências antropológicas.
4
Considera-se a ética como o estudo dos princípios norteadores da conduta social e
moral, como o conjunto de regras que consubstanciam as prescrições e proscrições
que regem a convivência das pessoas entre si na sociedade. Desde muito
remotamente existe uma moral e uma ética médicas que sempre foram consideradas
como vertentes essenciais da Medicina e devem ser, naturalmente, subordinadas à
existência social e que serão consideradas especificamente quando se tratar dos
fundamentos históricos da Medicina e, próximo título deste trabalho sobre os
fundamentos da medicina.
No entanto, mantendo-se a ordenação tradicional tripartite do conhecimento, não há
razão para excluir estas disciplinas axiológicas do campo da filosofia.
Medicina e Ciência, Filosofia e Ideologia
A ideologia é o meio mais eficaz para exercer o controle social e buscar tornar
homogênea a consciência social dos povos mais civilizados. A palavra ideologia tem tido
variados significados apesar de sua trajetória histórica relativamente curta. Esta
diversidade de significações complica o entendimento do termo ideologia e dificulta
bastante o seu emprego como termo científico, sobretudo pelos iniciantes nos estudos
cientíoficos que não estejam afeitos aos conceitos das ciências sociais; além disto, há
mais uma dificculdade adicional, por ser uma palavra muito utilizada, todos pensam
conhecê-la e fazem-no mais ou menos imprecisamente. E, também nesta questão, o
pior desconhecimento, é o desconhecimento daquilo que se pensa conhecer. A
informação errada (desinformação) ou alienada costuma ser sempre muito mais
danosa do que a ausência de informação ou a informação incompleta.
Evolução Histórica do Conceito de Ideologia.
4
Qualquer fato, mecanismo ou processo pode ser estudado melhor e mais
proficuamente no curso de sua evolução. Por isto, uma das melhores formas de se
conhecer qualquer processo, principalmente os conceitos, é conhecer sua origem e os
caminhos de sua evolução. Principalmente, quando se trata de um conceito
controvertido e polivalente, como sucede ser o conceito de ideologia, parece importante
iniciar se estudo por uma revisão de sua história e evolução significativa. Comno se
iniciou, como evoluiu e como chegou até ao momento presente.
Ainda que esquemática, parcial e incompletamente, a história do conceito ideologia pode
ser descrita da maneira como se descreve a seguir.
Como precursor e originador do conceito que está sendo estudado aqui, FRANCIS
BACON (1561-1626) terá sido, bastante provavelmente, se não o originador, ao menos
um dos primeiros precursores do conceito moderno de ideologia, quando propôs a noção
de ídolos como idéias que serviam como elementos encobridores dos erros no
conhecimento da natureza.
Neste sentido particular, o ídolos são símbolos ou objetos materias adorados; o
ídolo é um desdobramento lógico e histórico do fetiche. Fetiche provém do
português feitiço = coisa feita; artificial. Alcança todo objeto artificial que é adorado
como divindade ou objeto que é usado em uma cerimônia mágica como
representante de uma pessoa.
4
BACON diferenciava os ídolos inatos dos adquiridos socialmente, aos quais
denominava imagens idolátricas e reconhecia quatro tipos diferentes de ídolos:
os idola tribu (os ídolos da tribo) que são característicos da espécie humana e de
suas limitações naturais;
os idola specus (os ídolos culturais) que são induzidos pela convivência social, pela
educação e pela submissão às autoridades;
os idola fori (ídolos do foro, do tribunal) que se orginam adquiridos pelo aprendizado
da linguagem, se referem a experiências concretas e ao conteúdo dos sentidos; e
os idola theatri (‘dolos do teatro) oriundos de uma edução do círculo histórico e
resultanto dos princípios e regras estabelecidos dogmaticamente pela Filosofia (algo
como os paradigmas científicos e os padrões de pensamento epistemológico).
Os ídolos de BACON se referiam às dificuldades para conhecer a natureza e não a
sociedade pois, para ele a sociedade não era accessível ao conhecimento racional da
ciência.
O primeiro autor a empregar o termo ideologia foi Destutt de Tracy (1754-1836), em
1796, na obra intitulada Project d’Élements d’Idéologie. Alí o vocábulo foi usado como
ciência das ideias; referindo-se ao estudo sistemático e crítico das idéias. Uma espécie de
psicologia cognitiva. A seguir a expressão, foi empregada por Cabanis (1757-1808) e
Desttut de Tacy em 1801, significando ciência da alma (ou da subjetividade, exatamente
com o mesmo significado que o termo psicologia defruta atualmente).
Logo depois, a palavra ideologia passou definida como ciência das idéias e, então,
significava estudo sistemático da formação e da assimilação dos conceitos enquanto
idéias elementares, posto que os conceitos são considerados como os componentes
mais simples do pensamento inteligente.
4
Quando começou a ser usado, o termo ideólogo era um indicativo de prestígio
intelectual e social naquela época. Mas esta situação de bonanca e favorecimento não
perdurou por muito tempo. Logo, os ventos mudaram.
Veja-se. Ainda no Império, Napoleão, aparentemente para se defender dos opositores
de esquerda, empregava depreciativamente o termo ideologia para designar idéias
vazias de conteúdo, sem qualquer praticidade ou utilidade, por isto, inaplicáveis à
realidade concreta; para muitos. E chamava ideólogos seus cultivadores. Essa foi a
fase preparatória para o sentido que, depois, se atribuiria à ideologia, a partir do
alvorecer do século dezoito. o filósofo CONDILAC (1715-1780) também se preocupou
com diferenciar o conhecimento científico verdadeiro das falsas convicções que não
poderiam ser chamadas de conhecimento (quanto mais científico).
Depois da Revolução Francesa e do Império, já na Ilustração francesa, HELVETIUS
(1715-1771) e D’OLBACH (1723-1789) alongaram estas noções de Bacon de modo a
explicar e contestar a influência que a religião exercia sobre o Estado, de tal modo que,
para se manter no poder, criava um mundo ilusório de felicidade eterna para encobrir o
conhecimento da realidade social concreta e para iludir as pessoas com uma
reconpensa pelo sofrimento presente a ser paga na eternidade, depois da morte.
Ambos sustentavam que a conduta dos homens era condicionada socialmente.
Logo após, já na Restauração, a expressão passou a ser tomada como uma blasfêmia
anti-religiosa e passou a designar as idéias dos livre-pensadores, dos anticlericais, dos
franco-maçons, dos anarquistas e carbonários. Chamava-se ideologias às idéias sociais e
políticas anti-religiosas, sobretudo as anti-católicas e politicamente anti-monárquicas e
progressistas; em geral, maçônicas, republicanas e liberais.
4
Por volta do fim do século XVIII e início do século XIX o termo ideologia adquiriu uma
conotação ética; então, ter ideologia significava alimentar idéias valiosas, que davam
sentido à vida, pelas quais valia a pena viver e, até, se fosse o caso, morrer por elas.
Para muitas pessoas, principalmente naquele sentido empregado na comunicação
social comum, ideologia quer dizer um sistema de idéias referente ao exercício político ou
econômico social; ou pode se confundir com um ramo da teoria política; por fim,
ideologia pode se referir a um sistema de idéias políticas, a uma concepção ideal da
sociedade e das relações sociais que a configuram. Geralmente, os sistemas políticos
socialistas são igualitários.
Este último sentido, a ideologia como sistema de idéias sociais e políticas, mesmo que
não esteja dicionarizado, é o significado com que o termo é empregado na maior parte
dos veículos de comunicação social e é aquele com o qual a maiso parte das pessoas
o utiliza na linguagem comum. Mas a ideologia é, também, uma auto-visão e auto-
julgamente que uma classe social faz de si mesma.
Marx, o atualizador e principal divulgador do conceito de ideologia. Karl Marx (1818-
1883) talvez tenha sido quem haja dado a melhor contribuição ao conceito de ideologia.
Até porque, depois dele, todos os que trataram o tema usaram sua opinião como
referência obrigatória. Se bem que, ao longo de sua obra, de 1843 a 1883, Marx
tivesse feito variar o sentido do termo (de ideologia como noção-concepção mestra,
como imaginário e, finalmente, como falsa consciência e não mais como uma idéia
singular.
Entretanto, ao contrário dos que empregavam o termo ideologias no plural, com o sentido
de idéias e de conjunto de idéias, Marx usou o termo ideologia no singular e, sempre,
como sinônimo de falsa consciência, com o sentido de convicção destituida de
razão, ou de certeza provinda do senso-comum e socialmente determinada, quanto
mais eficaz quanto mais inaparente e reconhecível.
4
Marx considerava a ideologia como representação subjetiva de uma determinada
realidade sócio-econômica e cultural que se faz incorporar à consciência de todas, ou
quase todas, as pessoas em uma sociedade qualquer. Também julgava que, embora
seja destinada à satisfação dos interesses apenas do grupo dominante (no caso, quase
sempre, a classe social hegemônica) se incorpora à consciência social de todos os
agentes sociais ou de alguns deles, gerando uma ilusão de satisfação, mesmo nas
pessoas que tivessem seus interesses individuais contrariados por ela.
Para Marx a ideologia se apresenta como uma idéia ou sistema de idéias que se
impõem à consciência de uma pessoa ou de um conjunto social. Neste sentido
marxiano, ideologia é toda consciência que não entenda a relação existente entre as
relações materiais de produção e a alienação e a coisificação.
Um dado essencial do conceito de ideologia em Marx é sua vinculação aos interesses
objetivos das classes sociais. Para ele, a ideologia não resulta apenas de necesidades
sociais, mas principal ou exclusivamente dos interesses econômicos das classes
sociais.
Adiante, retomar-se-á a relação entre ideologia e classes sociais.
MAX WEBER (1864-1920), como opositor teórico de Marx nas explicaçòes sociológicas,
recusa esta explicação da ideologia reduzida unicamente ao econômico e inclui nela os
fatores éticos e outros condicionamento culturais que considerava, também, como
motores originais e importantes das ideologias e dos demais aspectos da consciência
coletiva.
Max SCHELLER entendia ideologia como o aspecto mais importante da sociologia do
conhecimento: o conhecimento devido à influência do contexto social onde se origina e
se desenvolve. A influência da realidade social na consciência das pessoas.
MANNHEIM (1843-1947) considera a ideologia como o conhecimento que surge como um
reflexo da realidade social que, simultaneamente, revela e oculta.
4
PARETO (1848-1923), concebe as ideologias são idéias muito simplificadas provenientes
mais da afetividade que da razão que orientam e controlam as relaçòes dos indivíduos
no interior dos sistemas sociais.
Adam SCHAFF divide os significado de ideologia em três grupos: definições genéticas (que
provém de seu significado original); definições estruturais (que a opõem ao conhecimento
científico) e definições funcionais que fazem sobressair a funcão social das ideologias na
vida das sociedades.
ANDER-EGG, a partir de um ponto-de-vista marxiano, define ideologia como sendo o
conjunto de crenças, opiniões e idéias sobre o homem, a sociedade, a história e o mundo que produz um
sistema de representações mentais acerca da maneira pela qual os homens se relacionam entre sí e com o
mundo; este sistema de representações é uma resposta a interesses, aspirações ou ideais de uma classe
social e se originam nas condições objetivas de sua existência concreta e oriental e justificam suas
opiniões, crenças e comportamentos.
Neste sentido colocado por Ander-Egg, mas amplamente empregado neste fim-de
século, é preciso tentar não confundir uma ideologia com a chamada visão do homem, da
sociedade e do mundo que é, afinal, a filosofia (ou sua base formal). A ideologia pode
ser uma visão do mundo, ou de parte dele, mas se origina nos interesses da classe
hegemônica na sociedade. E é este último atributo que a caracteriza. A visão do mundo
não se resume a uma ideologia. Porque, caso se concebesse assim, a ideologia
substituiria a Filosofia, já então, tida como explicação ilusória e fátua.
No entanto, o que caracteriza uma ideologia não é seu conteúdo (filosófico, científico,
geográfico, político ou outro qualquer). Mas sua acriticidade e sua origem em
interesses sociais objetivos e de grande amplitude.
Ideologia também pode significar qualquer conjunto mais ou menos estruturado de
idéias, um sistema teórico; mas muitas vezes, a expressão traduz o significado de idéia
impossível de se concretizar, de ser praticada, uma utopia, aproximando-se do sentido
napoleônico da expressão.
4
Atualmente e na linguagem comum se usa ideologia como doutrina ou teoria política.
Exercícios de Definição da Ideologia
No senso comum.
Dcicionário de Aurélio Buarque de Holanda
De ideo + logia. 1. Ciência da formação das idéias, tratado das idéias em abstrato,
sistema de déias; 2. Filosofia. Pensamento teórico que pretende desenvolver-se sobre
seus próprios princípios abstratos, mas quew, na realidade, é a expressão de fatos.
Principalmente sociais e econômicos, que não são levados em conta ou não são
expressamente reconhecidos como detrminantes daquele pensamento.
Dicionário Priberan
Deologia – do Gr. idéa + lógos, tratado, s. f., ciência que trata da formação das ideias e
da sua origem; conjunto de ideias, crenças e doutrinas, próprias de uma sociedade, de
uma época ou de uma classe, e que são produto de uma situação histórica e das
aspirações dos grupos que as apresentam como imperativos da razão; sistema
organizado e fechado de ideias que serve de base a uma luta política.
Definição de ideología do Diccionario da Academia de la Lengua Esapñola:
(Del gr. logos: idea + -logía).1. f. Doctrina filosófica centrada en el estudio del origen de
las ideas. 2. f. Conjunto de ideas fundamentales que caracteriza el pensamiento de una
persona, colectividad o época, de un movimiento cultural, religioso o político, etc.
4
Vocabulario Filosófico-Científico, de Abarca-Fernandes, R, encontrado no sitio
http://www.ucsm.edu.pe/rabarcaf/vofici00.htm.
Ideología: Conjunto sistemático o no de ver el mundo expresado a través de un núcleo
de ideas, valores, representaciones, actitudes de un grupo social o de un individuo. La
ideología no es una teoría especulativa establecida por medio de un análisis racional y
objetivo, sino un modo de pensar o un sistema de actitudes características de una
clase o individuo, vemos que la evolución se ha convertido de este modo en una
ideología científica.
El sentido etimológico de "ideología" la connota como "ciencia de las ideas", por lo que
el ideólogo sería aquel que se ocupa de las ideas, clasificándolas, buscando su origen,
explicando sus combinaciones, etc.. Con este sentido el término fue empleado en los
siglos XVIII y XIX por un grupo de filósofos franceses que se inspiraron en Condillac, y
que precisamente fueron llamados "ideólogos". Uno de estos Antoine Destutt de Tracy,
consideró la ideología como una "filosofía prima", articulada en tres sectores de
investigación: la ideología propiamente dicha, que tiene por objeto el análisis del origen
de las ideas; la gramática, que tiene por objeto el estudio de las modalidades de su
expresión, y, la lógica, que tiene por objeto el estudio de su combinación. En 1801
Destutt designó con el término ideología "el análisis de las sensaciones y de las ideas"
siguiendo el modelo de Condillac. En este contexto la ideología fue la corriente
filosófica que señaló el tránsito del empirismo iluminista al espiritualismo tradicionalista
que floreció en la primera mitad del siglo XIX. Napoleón adoptó el término en sentido
despectivo para calificar de "ideólogos" a sus enemigos políticos. En la segunda mitad
del siglo XIX el término es utilizado por el marxismo para calificar la cultura denominada
"burguesa".
4
Según Carlos Manheim la ideología es la idea que es capaz de insertarse en la
situación, de dominarla y de adatársela; pues las "ideologías son las ideas que
trascienden la situación y que nunca lograron, de hecho, realizar su contenido virtual.
Aunque a menudo se convierten en los motivos bien intencionados de la conducta del
individuo, cuando se las aplica en la práctica se suele deformar su sentido. La idea
cristiana del amor fraternal, por ejemplo, sigue siendo, en una sociedad basada sobre
la servidumbre, una idea irrealizable y, en ese sentido, ideológica, aun cuando se
reconozca que puede actuar como motivo en la conducta del individuo" (Ideología y
Utopía).
Entendemos que la ideología es un sistema de ideas concernientes al mundo del
hombre, especialmente a los conceptos de la vida social. A diferencia de la filosofía, no
es una teoría especulativa o práctica, sino una manera de pensar o un sistema de
actitudes. Un "ismo", según el diccionario de Webster, es una doctrina o práctica de un
sistema filosófico, una teoría o un principio. Las ideologías se refieren a un modo de
pensar, a una actitud de la mente; los "ismos" se refieren a un modo de vivir, a la
práctica de un modo de pensar.
Em filosofia, existe um relativo consenso em caracterizar ideologia como falsa
consciência. Pode-se definir ideologia como crenças, opiniões, valores e outras
representações individuais que se originam acriticamente do interesse quase sempre
objetivos de entidades sociais com as quais as pessoas se identificam. Entre os
conceitos de consciência crítica e ideologia como falsa consciência, surge o conceito
de consciência possível.
Aspecto curioso da ideologia e que a distingue da psicologia é que, freqüentemente,
ela contraria os interesses individuais de seu agente, evidenciando o como e o quanto,
muitas vezes, as necessidades sociais, de grupo, de classe, se sobrepõem às
necessidades individuais e as postergam ou encobrem.
5
Tanto a ideologia quanto as diferentes modalidades de consciência individual
(consciência crítica e consciência possível) ou consciência social (religião, valores,
senso de moralidade e outros artefatos culturais) podem ser compostas por
representações individuais e coletivas capazes de determinar as regras básicas que
propulsionam, dirigem ou modulam os componentes de um sistema social e
determinam o modo de seus membros pensarem, sentirem e reagirem frente às
situações mais comuns e mais importantes.
Não parece possível separar precisa e completamente os objetos da psicologia, da
psicologia social e da sociologia, pois compõem um continuum da realidade humana.
A função principal de uma ideologia parece ser sempre justificar, manter e reproduzir a
estrutura social vigente ou outros interesses sociais, porque se presta perfeitamente
para justificar e legitimar muitos interesses sociais, sobretudo políticos e culturais (além
daqueles que estão implícitos na estrurua do Estado).
Outros exercícios de definição: Primeiro, de uma perspectiva influenciada pelo
psicologicismo condutista. Neste caso a ideologia seria definida como uma elaboração
teórica de qualquer nível (conceito, juízo ou teoria) proveniente de interesses sociais e
incorporada pela consciência de maneira acrítica. Uma concepção teórica e
ideologizada que incide neste tema, é a pretensão de negar a conação, a
voluntariedade ou rebaixá-lo à condição de conceito teórico. Embora, mesmo negando
a noção de vontade, começa a usar o de intencionalidade.
Depois, de um ponto de vista político, porque a relaciona com o fenômeno político
axial, que é o poder. Aqui a ideologia é entendida somo a dimensão individual e
subjetiva do poder social; instância coletiva e objetiva, apesar de abstrata, que resulta
da hegemonia política de uma classe ou de outro ente social sobre os demais em seu
ambito de convivência.
Neste caso, a ideologia integra o psicológico e o social em ujma síntese indissolúvel.
5
Desde a infância, as pessoas assimilam opiniões, crenças e valores e formam atitudes
que lhes vão sendo transmitidas constantemente, de maneira inteiramente ou
predominantemente automática, sem que elas se dêem conta inteiramente. Depois,
pensam, sentem e são movidos ou têm seus coportamentos modulados por aquelas
representações; que são percebidas, sentidas e reconhecidas como se fossem
autóctones, como se tivessem se originado em si mesmo. Isto é ideologia.
Ideologia e Política
Há muito, identificam-se mutuamente os conceitos de ideologia e de política. Ao menos
no sentido marxiano da expressão ideologia identifica-se a ideologia como um dos mais
importantes processos de dominação e de submissão política, a dominação e a
submissão político-ideológica.
Para Thernborn
8
podem ser identificados seis processos psicológicos e políticos
diferentes pelos quais as ideologias em todas as sociedades atuam sobre os indivíduos
e sobre os grupos sociais que coexistem nelas.
1. Adaptação. Modalidade de conformidade que induz nos dominados e dominadores a
atitude de aceitar a situação de domínio como algo natural e esperável. No máximo se
permitem pensar em mecanismos um pouco deferentes, mais brandos ou mais
severos. Destaca que a adaptação também inclui a posibilidade dos dominados
exercerem alguma oposição. Ainda que alguma modalidade adaptada de oposição. No
regime escravista, é mais provável que a ideologia induza procedimentos para um
escravo comprar a própria alforria do que se rebelar contra a escravidão.
8
Thernborn, G., Ideología del Poder y el Poder de la Ideología, Editorial S. XXI, Madrid
1987
5
2. Sentimento da inevitabilidade da dominação. Quando a obediência do dominado (e a
exigência do dominador) decorre da ignorância de cualquer possibilidade legítima de
libertação.Fundamenta um processo de alienação típico. A marginalização dos
dominados costuma ser interpretada cínicamente crítica pelos dominadores.
3. Representação (corresponde ao mecanismo psicológico de defesa denominado
substituição). O dominado obedece aos dominadores porque consideram que a
situação os favorece; que os dominanadores os beneficiam.
Podem até considerar benéfica sua condição de dominado. Como sucede quando
um dominado se acredita devedor daquela condição de dominado à vontade
superior de uma divindade que o castiga ou submete a uma prova.
5
4. Deferência. Quando o dominado crê que as qualidades superiores do dominador
justificam por si só sua dominação e que ele deve a subordinação com forma de
respeito. Qualidades que podem derivar da herança ou da educação dele próprio ou
do dominador.
5. Medo. Obediência e subordinação baseada no medo da força, da violência ou outro
atributo assustador. Quando a desobediência implica e morte certa, resta a escolha
entre optar entre moorrer resistindo ou morrer sem resistir. O problema está quando há
possibilidade de não morrer. O de sofrer uma violência mitigada. A subissão por medo
resulta do processo de dominação ideológica provocada pela aceitação de uma mal
menor, da segunda solução.
6. Resignação. Mecanismo de submissão que, como o do medo, decorre das
ponderações sobre o que é possível esperar de uma situação de desobediência ou
revolta. É a forma fria de obediência derivada da crença na impossibilidade práctica de
alternativa melhor que a submissão.
Definição Contemporânea de Ideologia
Como se pode ver, do que se depreende da evolução histórica deste conceito, pode-se
definir ideologia como: idéias, crenças, opiniões, valores e outras representações
individuais que se originam acriticamente do interesse quase sempre objetivos de
entidades sociais e influem mais ou menos imperiosamente no comportamento dos
indivíduos que as compõem. Utilizando-se este sentido, para definir ideologia, se pode
depreender que entre os conceitos já conhecidos de consciência crítica e ideologia,
muito empregados entre nós, surge o conceito mais ou menos recente de consciência
possível e de consciência do possível (integrando dialeticamente o que seria a
consciência da necessidade e a consciência da possibilidade como categorias
essenciais para o entendimento da consciência política e da evolução social.
5
Aspecto curioso da ideologia é que, freqüentemente, ela contraria os interesses
individuais de seu agente, daquele que a sustenta, evidenciando o como e o quanto,
muitas vezes, as necessidades sociais conscientes ou não, de um grupo, de uma
classe ou de uma outra entidade coletiva, se sobrepõem às necessidades individuais,
postergam-nas ou as encobrem.<$FComo acontece em todos os preconceitos, por
exemplo.> No que muito se assemelha, aliás, aos mecanismos de defesa como
processos psicossociais de manter o equilíbrio psicológico.
Tanto as ideologias quanto as diferentes modalidades de consciência (principalmente as
chamadas “consciência crítica” e “consciência possível”) que se opõem a ela, se
compoem por representações individuais e coletivas elaboradas a partir das regras
básicas que propulsionam, dirigem ou modulam os componentes de um conjunto social
em um momento histórico-social e determinam a maneira de seus membros pensarem,
sentirem e reagirem frente às situações comuns e importantes de sua vida social. A
consciência de um momento pode ser a ideologia de outro. Como se vê, não é possível
separar completamente os objetos da psicologia geral, da psicologia social e da
sociologia (e todos estes da ideologia), pois compõem um continum da realidade
humana e encerra um dos monentos mais importantes da interação do indivíduo e a
sociedade a que pertence. Por isto, não se podem diferenciar os fenômenos
ideológicos e psicológicos mediante uma linha clara e definida de separação, mas
como momentos diferentes de um processo contínuo, de uma única totalidade real.
5
Disso, depreende-se que a função principal de ideologia deve ser justificar, sustentar,
legitimar e reproduzir a estrutura social vigente em um dado macro-sistema social
influindo sobre seus componentes e promover a hegemonia de uma pessoa ou
entidade social sobre seus congêneres; mas, a ideologia também se presta para
justificar e legitimar muitos outros interesses sociais, sobretudo políticos e culturais e
não apenas aconômicos; podendo, ainda, permitir uma hipótese explicativa (se não
uma explicação) para todos os fenômenos e processos institucionais, na medida em
que todas as instituições seriam, antes de tudo, artefatos ideológicos. Uma ideologia
pode ser científica ou acientífica; pode ser comprovável ou incomprovável com o
emprego dos recuros teóricos e práticos disponíveis; além do que, pode ser codificada
ou não codificada, institucionalizada ou não institucionalizada; pode ser um reflexo
verdadeiro ou falso da realidade; pode ser completamente verdadeira, pode ser um
tanto verdadeira (porque contém um número variável de componentes de verdade) ou
pode ser inteiramente falsa. Nada disto deve importar para sua caracterização como
ideologia. O que caracteriza essencialmente uma ideologia (bem como caracteriza um
artefato ideológico) é ser um fenômeno da consciência social, originado em
necessidade objetiva da sociedade e incorporado pela consciência individual de forma
mais ou menos automática e acrítica.
As crenças e instituições sociais (religiosas, políticas, jurídicas e científicas são
excelentes exemplos de ideologias e de sistema ideológicos. Por isto, não se pode
conceber as normas sociais e suas conseqüências, as sansões sociais, senão como
artefatos ideológicos que, mesmo que não forem exclusivamente, sê-lo-ão em grande
parte. De qualquer maneira, não é possível entender claramente o papel da ética na
sociedade, inclusive na Medicina, sem lhe reconhecer a dimensão ideológica e sem
perceber o quanto esta dimensão influi em seu surgimento, em sua difusão e em suas
aplicaçòes sociais concretas.
Ideologia, Medicina e Ciência
5
Em outro texto deste trabalho, estuda-se o conceito de ideologia em sua aplicacão às
ciências e ao conhecimento científico. Aí verifica-se como esta palavra tem variados
significados por diferentes cultores das ciências sociais e mais ainda na linguagem
comum. Isto complica bastante seu entendimento, dificulta sua aprendizagem e
perturba seu uso principalmente por quem se inicia no tema. E isto se torna o problema
pior ainda, porque trata-se de uma noção e de uma palavra muito utilizadas em todos
os estratos da linguagem e, talvez por isto, quase todos pensam conhecê-la,
sobretudo, por estarem familiarizados com ela e a inclirem em seu vocabulário ativo.
As ideologias podem ser expressas por quaisquer idéias, estruturas ideativas ou
sistemas de idéias; podem assumir a forma de opiniões, crenças e, principalmente, de
atitudes cognitivas, políticas, estéticas, morais, jurídico-sociais ou filosóficas. Tal
sistema ideológico de idéias é sempre gerado, nas situações concretas, motivado pelos
interesses sociais hegemônicos nos coletivos humanos onde ele se desenvolvee é
assimilado pelos indivíduos daquela sociedade, de maneira mais ou menos automática,
acrítica e mais ou menos arraigada. Toda ideologia é utilizada como instrumento de
controle dos comportamentos coletivos (controle social). Uma ideologia pode ser
científica ou acientífica, comprovável ou incomprovável, codificada ou não codificada;
pode ser uma representação verdadeira ou falsa da realidade; mas o que caracteriza
essencialmente uma ideologia é ser um fenômeno da consciência social, um dado
subjetivo, apesar de originado na realidade objetiva da sociedade e incorporado pela
consciência individual de forma mais ou menos automática e acrítica; o que mobiliza,
sempre, um certo grau de convicção e tem suas raízes em interesses sociais objetivos
ainda que não evidentes imediatamente.
5
Os padrões de pensamento, as crenças, os valores e muitas outras atitudes cognitivas,
como os paradigmas científicos, por exemplo, freqüentemente são ideologias que,
muitas vezes, se apresentam à consciência como se fossem opiniões científicas não
ideológicas e assim são acreditadas. A história da ciência está repleta de proposições
largamente aceitas e tidas como verdades científicas que, depois, se mostraram
falsidades ideológicas; o que demonstra o caráter ideológico de certos conhecimentos
tidos como científicos por bons cientistas, tais como o da inferioridade psicológica e
biológicas das mulheres e dos negros, a superioridade racial dos arianos, para
exemplificar com alguns casos mais gritantes em que a situação sócio-econômica
gerou preconceitos extremamente frágeis do ponto-de-vista lógico, mas que foram
incorporados acriticamente como se fossem verdadeiros e científicos por muitas
pessoas, inclusive cientistas bastante reputados. E, como se sabe, uma das
características das ideologias com êxito é que elas só são reconhecidas como tais em
uma reflexão posterior.
É importante ter sempre presente qua as ideologias bem sucedidas são sempre
transparentes. Isto é, não são reconhecidas como tal pela consciência, senão depois
que seus efeitos já não são necessários e ela é abandonada ou substituída.
Ética e Ideologia
Os dispositivos éticos são construções conceituais que correspondem a valores sociais
que pretendem estar postos a serviço da sociedade. Todo princípio ético e,
principalmente, todo sistema ético, vem a ser uma construção ideológica.
5
Os princípios éticos, os valores sociais e as regras morais, como acontece com todas
as normas sociais e com a maioria dos instrumentos de controle social, devem ter, por
definição, carácter basicamente ideológico. Como acontece a todos os valores criados
no decorrer da evolução histórico-social, a moral e a ética da humanidade (mesmo a
ciência); são fenômenos ideológicos ou fortemente vulneráveis à ideologização pela
sua própria natureza de valores culturais, e de valores culturais normativos e diretores
da conduta.
Deixando de lado todas as teorias sobre a ideologição dos construtos culturais, a
relação entre ética e ideologia parece saltar ante os olhos de quem estuda este tema.
Talvez as crenças e os valores sejam os dados da consciência (individual ou social)
mais sujeitos à influência ideológica. E a ética é, essencialmente, uma mescla dinâmica
de crenças e valores.
Alguns aspectos valiosos das manifestações ideológicas das normas éticas são: quais
as pessoas às quais se aplicam, quais as circunstâncias que influem em sua aplicação
e qual a maior ou menor tolerância ou intolerância da cultura frente ao seu
cumprimento ou descumprimento.
Eficácia da Ideologia
Objetivamente, as ideologias podem ser úteis ou inúteis (em termos de utilidade ou de
pragmaticidade); podem ser eficientes ou ineficientes (eficiência, como atingir o objetivo
otimizando a relaçáo custo-benefício); podem ser eficazes ou ineficazes (eficácia como
capacidade de atingir o objetivo). Mas, é necessário que se tenha presente que as
ideologias, por definição, sempre têm alguma utilidade, ao menos na ocasião em que
foram construídas. E essa utilidade é definida por alguma necessidade social, a
necessidade social que a motivou.
5
Diz-se que uma ideologia é eficiente, quando ela atende a necessidade social que a fez
surgir. E que é eficaz, quando faz isto do modo mais rápido e econômico possível
(considerando-se o seu custo social).
O custo social de uma ideologia deve levar em conta, não apenas os recursos
materiais, humanos e financeiros investidos em sua produção, difusão e incremento,
mas os prejízos sociais que acarreta. Por exemplo, a ideologia inquisitorial (não só na
santa inquisição da igreja católica, mas outras, como o marcatismo no Estados Unidos
e as inquisições das ditaduras militares na América latina) sempre representa um custo
social tão alto que raramente resulta eficaz.
Levando tudo isto em conta, pode-se afirmar que as ideologias podem ser
consideradas como bem sucedidas quando:
a) alcançam plenamente seus objetivos,
b) permanecem invisíveis, mesmo para seus cultores, não sendo reconhecidas
como ideológicas, confundido-se com o melhor conhecimento da época e
mobilizando convicção,
c) para isto, são construídas, em geral, com as informações mais modernas,
verossímeis e avançadas, empregando os modelos e paradigmas científicos
mais atualizados em uma determinada cultura, uma vez que se destinam a
refletir, na subjetividade dos homens, as condições objetivas de sua existência
social, de suas necessidades materias e de seus interesses culturais, tendo
como objetivo preservar os interesses dominantes naquele macro-sistema
social.
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2.4. conhecimento filosófico

  • 1. Fundamentos Epistemológicos da Medicina 2.4. Conhecimento Filosófico Luiz Salvador de Miranda-Sá Jr 1
  • 2. Historicamente, a Filosofia foi a primeira modalidade de conhecimento que se diferenciou do conhecimento vulgar e assumiu estatuto de maior respeitabilidade social, o que aconteceu ainda na Antigüidade clássica. Filosofia, palavra que significa amor ao conhecimento. Quando surgiu, o título de filósofo se atribuia aos homens mais sábios, aos mais curiosos, aos mais desejosos de saber. Aos que explicavam melhor os mistérios do mundo. O conhecimento deles era considerado como superior ao comum. O conhecimento filosófico apareceu assim, como conhecimento dos filósofos. O conhecimento filosófico não era tido como ciência como hoje. A filosofia era o conhecimento racional. O filósofo, tido como alguém que sabia mais que os outros. Naquele início, quando surgiu o conceito de filosofia, não havia intenção de diferenciar a ciência do conhecimento da natureza, do homem e da sociedade; mas só o desejo de designar o conhecimento provindo de um pensador com mais autoridade que os demais que, por isso,l emprestava maior autoridade à sua contribuição. Ainda que esquematicamente, possa-se acreditar que a filosofia tenha nascido do conhecimento vulgar e que o conhecimento científico tenha se originado da filosofia. Ao longo da história do conhecimento, a filosofia tem sempre mantido com as ciências específicas uma espécie de relação de supervisão que é exercida através da gnosiologia ou epistemologia. Mesmo depois que conquistam autonomia e se configuram como disciplinas individualizadas. A metafísica, ciência filosófica que estuda o ser enquanto ser. No século XVII a metafísica geral é separada da especial e passa a ser chamada de “ontologia” ou ciência do objeto. O termo trata do ser, daquilo que existe, suas qualidades básicas. Diversos filósofos se ocuparam dessa questão, desde Aristóteles até os modernos, passando por Parmênides, Leibniz e Heidegger. A professora de filosofia da UFRJ Susana de Castro traz as noções básicas que norteiam as ontologias das substâncias, as que se seguiram a e as novas ontologias contemporâneas. A divisão da metafísica em metafísica geral (ontologia) e nas metafísicas especiais (psicologia racional, cosmologia e teologia racional). 2
  • 3. A gnosiologia é o ramo da Filosofia que trata do conhecimento em geral e a epistemologia, o ramo da gnosiologia que tem como objeto estudar o conhecimento científico. À época da guerra fria, os soviéticos preferia a primeira e os americanos, a segunda. Atualmente, os dois conceitos são considerados equivalentes. 3
  • 4. A metodologia é a disciplina filosófica que trata dos meios para conhecer. A lógica é a disciplina filosófica que ensina a pensar inteligentemente. A ética é o ramo da Filosofia que mostra os limites do bom e do mau na conduta humana. Ao longo da história do conhecimento e na evolução da civilização moderna e contemporânea, a filosofia e as ciências, ainda que possam ser concebidas separadamente, têm se mantido como atividades extremamente próximas (cada vez mais próximas, é verdade) e em permanente interação. Interação que determina grande parte de seu desenvolvimento. Mesmo que não se considere a filosofia como ciência, ela também não pode ser tida apenas como provedora da ciência, por lhe fornecer instrumentos metodológicos e procedimentos lógicos que ela emprega na sua busca da verdade sobre seu objeto. Ciência e filosofia são atividades cognitivas controladas em permanente interação. Até porque compartilham a situação de um tipo de conhecimento superior ao senso comum. Ainda que sejam consideradas como modos qualitativamente diferentes de conhecer o mundo, a relação que se estabelece entre a ciência e a filosofia deve ser considerada bilateral, recíproca e complementar. Porque a filosofia se beneficia das generalizações suficientemente amplas advindas da ciência experimental e, sobretudo, da ciência teórica e as incorpora, enriquecendo-se com elas (como aconteceu, por exemplo, na construção da lógica formal e da lógica dialética, métodos essenciais da filosofia e da própria metodologia científica). E, além disto, porque o aperfeiçoamento da filosofia enriquece a ciência e amplia suas possibilidades de elaborar generalizações válidas e confiáveis. No curso deste processo, as generalizações científicas, que se mostrarem suficientemente abrangentes para alcançar todos os objetos, se transmutam em conhecimentos filosóficos. Por isto, pode-se pretender que haja um território indefinido entre a ciência e a filosofia. Um território no qual os conhecimento guardem caracterísricas dos dois mundos, do mundo da filosofia e do mundo da ciência. 4
  • 5. Assim como é cada vez maior o número daqueles que definem a filosofia como uma ciência particular. Uma ciência ideal (que também pode ser chamada formal), em contraposição com as ciências factuais. Para estes, já não há diferença conceitual entre o que é filosofia e o que é ciência. Aida que isrto se faça a custas de deslocar algumas disciplinas, como as contidas na axiologia (dentre elas a ética e outras disciplinas normativas, para o terreno da antropologia. A concepção de filosofia, como uma ciência acessível ao estudo objetivo e à investigação sistematizada, encerra um paradigma filosófico científico-natural, não apenas sobre a filosofia, mas sobre a natureza, sobre a sociedade, sobre o homem (sobre todo universo, enfim). Esta concepção da filosofia como ciência, se reporta a um tipo particular de ciência, uma ciência formal, qualitativamente diferentes das ciências factuais. E, este paradigma científico-natural (ou materialista) que conduz à noção da filosofia ciência, tem suas raízes no início da Medicina natural e racional grega, podendo-se mesmo dizer que este paradigma gerou e fez nascer a Medicina leiga. Outra concepção metafísica, idealista ou irracionalista do mundo, da Medicina, da filosofia ou do conhecimento, por exemplo, implicaria em conceituações, explicações e definições diferentes, em procedimentos cognitivos diversos e, por isto mesmo, em outras conclusões. A concepção da Filosofia como um tipo de conhecimento qualitativamente diferente da ciência, terá sido influenciada pela necessidade de abrigar a teologia e a ética religiosas, que ficariam órfãs no sistema das ciências. 5
  • 6. Adiante, há de se ver que o conhecimento filosófico e o científico são formas particulares do conhecimento humano que são diferenciadas, menos em função de sua estrutura cognitiva (porque, esta, é análoga até ao conhecimento comum), do que por causa de sua técnica de obtenção de informações e do grau de abrangência de suas possibilidades de generalização, potencial preditivo e capacidade explicativa que detenham. O conhecimento filosófico se reporta às questões mais gerais na natureza, da vida, da sociedade e do pensamento, enquanto o conhecimento científico está dirigido para objetos, situações e fenômenos particulares. A limitação definida de seu objeto diferencia a ciência da filosofia, voltada paera as generalidades mais amplas que possam ser abrangidas pelo pensamento. E, caso se valorize preferentemente seus elementos de unificação ou de diferenciação, podem ser considerados tipos de conhecimento idênticos, análogos ou diferentes, na depemdência dos interesses, inclusive ideológicos, de quem o faz. Filosofia e Conhecimento Filosófico Como acontece com todas as outras manifestações do conhecimento, existe uma indeslindável interação entre a filosofia (o processo mental de cogitação filosófica) e o conhecimento filosófico (como acervo de informações filosóficas). A esta ambigüidade, acrescenta-se outra, a expressão filosofia não tem o mesmo sentido para todas as pessoas ou em todos os contextos verbais, mesmo quando é utilizada por filósofos. 6
  • 7. A palavra filosofia foi empregada, ao longo do tempo e por numerosos autores, com significados muito diferentes entre si e nem todas estas significações, ainda que muito utilizadas, refletem com a necessária exatidão, a realidade cognitiva, técnica e científica que desfruta presentemente. De um lado, porque filosofia enquanto importante atividade humana significa, desde sua origem, um tipo de conhecimento diverso do comum; e, por outro, porque lhe têm sido atribuídas significações que nada têm a ver com ela, apesar de refletirem a diversidade de visões de mundo dos que construíram e ou empregaram estas designações. Por isto, para não se confundir com outras opiniões e porque se trata de matéria muito ideologizada, preliminarmente, convém definir o sentido com o qual a palavra filosofia está sendo usada neste trabalho. A filosofia mantém antiga relação com as ciências (ou com a ciência) 1 ; porque no seu início, o conhecimento científico (com o sentido oposto ao que hoje se chama crença e mito) se confundia com a filosofia, até porque era parte dela. O conhecimento científico, significando informação confiável e válida (a mais confiável e válida de cada momento da história da cultura) se originou do conhecimento filosófico. Neste sentido genético, a ciência é uma filha legítima da filosofia (o conhecimento rigoroso sobre o particular que se desprendeu do conhecimento gera). No começo tudo o que se sabia era conhecimento comum e mais ou menos indiferenciado, as pessoas não costumavam organizar seus conhecimentos em estruturas lógicas deste ou daquele tipo. Aos poucos, foram sendo elaborados conhecimentos mais confiáveis e mais verossímeis que os outros. Apareceu a sabedoria (depois, filosofia), já diferenciada do conhecimento comum. 1 <$FAndery, M.A. et alli, Para Compreender a Ciência, Ed. Espaço e Tempo/EDUC, Rio, 1988, pp. 34 e seguintes> 7
  • 8. Os conhecimento filosóficos foram se diferenciando em razão de sua abrangência (muito mais que de sua metodologia) em conhecimentos sobre as generalidades e conhecimentos sobre acontecimentos particulares. Estes últimos deram origem ao conhecimento científico, à ciência tal como a entendemos atualmente. No curso da História, quando as exigências de delimitação do conhecimento científico assim o exigiram, ele foi separado do conhecimento filosófico e apresentado como uma modalidade particular de saber. O significado etimológico rigoroso da palavra filosofia, de origem grega pré-clássica, quer dizer “amor ao conhecimento, amor à sabedoria”, tendo evoluído por diversas vertentes até os sentidos que tem atualmente. Surgiu quando Pitágoras recusou a qualificação de sábio e preferiu ser chamado de amigo do conhecimento. Por esta época, na Antiga Grécia, considerava-se como filosófico todo saber, toda convicção que não fosse resultante de um mito ou de uma crença. Esta parece ter sido a primeira característica significativa da palavra filosofia, ser um conhecimento liberto do mito e da magia; momento em que se confundiam as significações de filosofia e ciência. Na velha Grécia, chamavam-se aos sábios de filósofos. Na antiga Grécia, o conhecimento filosófico abrangia todo o saber racional e mais ou menos sistemático que existia. Naquele tempo, a noção de filósofo se assemelhava à de cientista atualmente. Num primeiro momento evolutivo, o conhecimento se dividiu em dois: o senso comum e a filosofia (o conhecimento menos válido e menos merecedor de confiança e o tido como mais confiável e mais válido). Como se há de ver, bem mais tarde o conhecimento filosófico foi subdividido em dois ramos: a ciência (ou melhor, ciências naturais) e a filosofia. Ainda que esta dicotomização não se faça total. A filosofia da ciência (com seus aspectos ontológicos, metodológicos e éticos) é a dimensão da filosofia que integra as duas modalidades superiores de conhecer. A identificação da filosofia com sabedoria perdurou por muito tempo e abrangia todas as esferas do conhecimento humano. 8
  • 9. Como se há de ver, só bem mais tarde, quando o conhecimento científico, por sua vez, se diferenciou do conhecimento filosófico, o saber culto foi bipartido em dois ramos, o científico e o filosófico; então, ambos tenderam a se tornar cada vez mais bem caracterizados, deixando de se confundir, embora conservassem muitos atributos comuns. Mas, não se pode esquecer, que houve um longo momento nas histórias destes dois conceitos, ciência e filosofia, e destas duas atividades, a científica e a filosófica, que elas permaneceram inseparáveis e indistinguíveis; e que este período de identidade deixou marcas comuns em ambos os ramos do conhecimento. É bastante provável que as diferenças entre o conhecimento filosófico e o conhecimento científico em relação ao conhecimento vulgar tenham se originado e sempre residido, exatamente, na confiança que se pode ter na melhor qualidade do conhecimento científico e filosófico, principalmente por causa de sua maior verossimilhança e credibilidade. Desde sua origem, a Filosofia tem sido destinada a ser uma alternativa mais acreditável aos mitos; para ser exercício e fundamento do pensamento lógico e do juízo crítico, sucessor do pensamento mágico e das crenças míticas, as formas mais primitivas de elaboração do pensamento e do conhecimento. As ciências nasceram e nascem da filosofia exatamente no curso deste processo. A filosofia sempre se diferenciou do conhecimento em geral, embora se preocupasse em explicá-lo (pois, o conhecimento humano sempre foi um importante objeto de cogitação filosófica). Primeiro, existia o conhecimento hoje chamado vulgar. Depois, dele se separou a filosofia (que trazia em seu interior o conhecimento científico). Entretanto, da Idade Clássica até o Renascimento, durante muitos séculos a filosofia e a ciência se confundiram e ainda hoje podem ser confundidas. 9
  • 10. Atualmente a tendência dominante consiste em separar a ciência e a filosofia a partir de seus objetos (sempre limitados na ciência e universal na filosofia) e no alcance de suas possibilidades de generalização pois as generalizações de cada tipo de conhecimento se limitam à extensão de seu objeto. Muitos se negam a admitir o caráter de conhecimento científico à filosofia, considerando-a pura especulação; outros, fazem-no por considerar a filosofia uma modalidade qualitativamente diferente de conhecimento superior, diversa da ciência. Outros, insistem em lhe atribuir a condição de estudo do sobrenatural (a filosofia primeira ou teológica, que provavelmente foi uma invenção de Aristóteles para evitar ser processado por impiedade, mas agradou muito aos religiosos medievais). Esta condição de especulação sobre a mitologia religiosa acompanha consciência popular sobre a filosofia desde sua origem e influi na opinião que as pesoas comuns têm sobre ela. Para outros mais, a filosofia não é bem uma ciência, uma disciplina ou, sequer, uma forma de conhecimento, mas apenas exercícios de raciocínio e lógica, uma perpétua disputa inteligente, um jogo intelectual: o filosofar. Enquanto que, para alguns, como se verá adiante, a filosofia pode ser tida como ciência, desde que sem a teologia. Uma ciência formal para Bunge, por exemplo. A tendência a considerar a filosofia como ciência foi muito reforçada no século passado com o crescimento do prestígio social da atividade científica. 1
  • 11. As divergências acerca do significado da filosofia têm suas raízes nas divergências acerca do que há mais de dois mil anos se reconhece como a questão fundamental da filosofia: a opinião acerca da natureza das relações existentes entre a matéria e as idéias. A tendência idealista se opõe à tendência materialista e se apresentam de diversas maneiras. Materialismo e idealismo. A tendência idealista se opõe à tendência materialista e cada uma delas se apresenta de diversas maneiras. Assim como são diferentes as contradições e os conflitos que opões estas duas tendências filosóficas. Tão diferentes que podem, eventualmente, serem tidas como duas filosofias. Os filósofos idealistas pressupõem a supremacia e primariedade do espírito, das idéias, da palavras, enfim, do imaterial, o ideal sobre a matéria; por variados caminhos, sustentam o imaterial determina o material. Já os filósofos materialistas sustentam o primado do material sobre o imaterial, sejam espíritos, divindades, idéias, palavras ou significações; e, daí, decorre sua denominação. Desde que Pitágoras recusou ser chamado sábio (sofos), porque preferia ser designado filósofo (amigo da sabedoria), os gregos chamaram filósofos aos mais sábios dentre os homens, aos que detinham muito conhecimento e que propunham explicações mais razoáveis para os mistérios da natureza, do pensamento, do universo; mas também chamavam de filósofos aos que sabiam fazer muito bem alguma coisa, às pessoas hábeis e engenhosas, ainda que uma atividade manual. Neste texto, muito mais na linha de pensamento materialista gerada em Heráclito, Demócrito e Epicuro, passando pela Filosofia Natural de Aristóteles até chegar às teses de Marx e, mais recentemente de Bunge, a despeito destas divergências sobre o alcance e o significado da filosofia, segue-se na vertente do seu entendimento como um tipo de conhecimento (o conhecimento filosófico) que, desde sua origem, era reconhecido como diverso do senso-comum, o conhecimento vulgar e que guarda muitos elementos de analogia, senão de identidade, com o conhecimento científico. Objeto do Conhecimento Filosófico 1
  • 12. O objeto do conhecimento filosófico é o universo com tudo que contém; abarca tudo o que existe, o conhecimento científico e o senso comum. Portanto, não é o objeto que o distingue, porque todos os objetos estão contidos nele. O conhecimento filosófico se define pelo alcance das possibilidades das generalizações elaboradas com ele. O conhecimento filosófico se caracteriza pela amplitude de suas possibilidades de generalização (tudo que existe) e pelo caráter ideal 2 (e, freqüentemente, valorativo) de seus conceitos, enunciados e teorias. Como manifestação particular do conhecimento, a filosofia é sempre fruto da atividade de um sujeito. Toda filosofia é a filosofia de alguém sobre o universo considerado como uma totalidade. Tudo isto resulta em que suas possibilidades explicativas e preditivas se estendem sem limite conhecido (embora, é necessário de se saiba, com sacrifício proporcional de sua verossimilitude). Pois, ao menos em princípio, é muito mais viável generalizar sobre um objeto limitado do que sobre uma área mais ampla do universo e conhecer as partes é a forma mais simles de iniciar o conhecimento da totalidade. As categorias filosóficas de geral, particular e específico fundamentam e permitem entender esta questão. O geral é uma categoria que expressa uma totalidade. O particular se refere a uma parte definida dos elementos componentes de uma totalidade. E o específico ou individual diz respeito a um indivíduo singular, um elemento singulat de uma totalidade, ainda que contido em uma das particularidades ou categorias particulares. O objeto da filosofia se caracteriza primordialmente por sua extensão, sua amplitude, sua generalidade. Em seu sentido mais amplo, o conhecimento filosófico alcança tudo o que existe, possa ser pensado ou imaginado. Os objetos materiais e os construtos. 2 Porque composto por idéias e não por fatos. 1
  • 13. Por isto, muitos autores, como 3 entre os positivistas e todos (ou quase todos) os marxistas e marxianos, assinalando uma tendência bem definida da filosofia da ciência, para a qual a filosofia é entendida como uma ciência, a ciência das essências e das totalidades; ou, mesmo que alguém não a aceite como uma ciência, a filosofia deve ser reconhecida como o tipo particular de conhecimento, o conhecimento filosófico, que produz conclusões generalizáveis ao extremo, alcançando a tudo o que existe; cuja estrutura cognitiva não se diferencia qualitativamente das demais atividades científicas, embora delas varie em função da extensão de seu objeto e na natureza de sua metodologia e, por isto, da extensão de suas conclusões. A extensão indefinida e indefinível de suas possibilidades heurísticas e preditivas caracterizam essencialmente o conhecimento filosófico e o distinguem do saber científico. A recusa dos positivistas em reconhecer as possibilidades do conhecimento científico explicar e prever fatos e acontecimentos provoca uma das querelas mais instigantes da ciência contemporânea. Definição de Filosofia Não existe convergência universal de opiniões acerca da definição de filosofia. Não obstante, a filosofia costuma ser definida de muitas maneiras, às vezes muito diferentes e assim o fazem muitos autores, na dependências de muitas influências subjetivas e objetivas. 4 Dentre muitas outras definições possíveis e aceitáveis a partir deste ou daquele ponto de vista doutrinário, escolheu-se uma que parece mais consentânea com a opinião do autor e com o estado atual do conhecimento. 3 Bunge, M., Epistemologia, 2a. edição, 1987, Ed. T.A.Queiroz/EDUSP, São Paulo, p. 39 4 Cada tendência filosófica procura fazer com que sua definição de filosofia lhe sirva de ponto de apoio doutrinário e reforce suas opiniões teóricas. 1
  • 14. Filosofia é a modalidade particular de conhecimento que se ocupa das regularidades universais isto é da descoberta das leis que regem tudo o que existe no universo e no ser humano. Trata-se do conhecimento sistemático que objetiva a formulação, a análise e a solução das principais questões de concepção do mundo, da sociedade e do homem (inclusive sua subjetividade), configurado harmoniosamente como uma visão teórica coesa e unitária sobre o universo e o lugar que o homem ocupa nele. O conhecimento filosófico abrange uma visão do mundo (cosmologia) que inclui uma visão da sociedade e do homem (sócio-antropologia), inclusive do seu conhecimento em geral (gnosiologia) e do conhecimento científico (epistemologia). A filosofia não pode nem deve ser reduzida a uma atitude individual (predisposição de alguém a realizar certos comportamentos, como refletir ou intuir a verdade diretamente, por exemplo). A filosofia é uma modalidade superior de conhecimento, diversa do senso comum e do conhecimento científico, que permite ao seu cultor a possibilidade conhecer melhor a si mesmo e o mundo ao seu redor através do estabelecimento de generalizações muito amplas. Generalizações estas que são o próprio conhecimento filosófico. Conhecer além da aparência ilusória das coisas materiais e dos construtos abstratos. Poder explicar a realidade do universo e poder convencer os demais por meio da explicação objetiva, válida e confiável dos fatos. . Como sucede às duas modalidades superiores de conhecimento (filosófico e científico), o objetivo da filosofia consiste no estudo das atitudes mais gerais dos seres humanos e na busca sistemática das leis gerais e nas relações universais da natureza, da sociedade e do pen samento. Também se deve diferenciar as filosofias particulares (processos conscientes e inconscientes que refletem as necessidades de indivíduos ou de grupos sociais limitados) das filosofias como artefatos culturais da civilizações (visões do mundo propiciadas por interesses de grandes sistemas sociais). 1
  • 15. A filosofia de cada momento evolutivo do processo civilizatório reflete as necessidades e as possibilidades de certos interesses sociais bem amplos e definidos. Os interesses e as possibilidades das classes sociais hegemônicas, por exemplo, ou do aparelho estatal, das instituições religiosas mais importantes. Por causa da extensão de seu objeto, a filosofia se confunde com a concepção do mundo de quem a vivencia e influi em sua conduta. Neste texto, cuidar-se-á de enfocar os aspectos filosóficos do conhecimento científico, especialmente do conhecimento médico. O Conhecimento Médico O conhecimento médico pretende ser uma modalidade particular do conhecimento científico que se debruça sobre a tarefa de estudar tudo o que se refere à enfermidade e ao enfermo, especialmente à profilaxia e diagnóstico das enfermidades e ao tratamento e à reabilitação dos enfermos. Conhecimento que abrange a relação sa saúde e da enfermidade, da vida e da morte, da mente e do cérebro, dos organismos como sistemas complexos, do indivíduo e o ambiente físico e da pessoa com a sociedade (em suas quetro instâncias inseparáveis e interativas: a sócio-econômica, sócio-cultural, sócio-política e sócio-histórica). O Conhecimento Médico deve ser Científico e Ético 1
  • 16. O conhecimento médico deve ser preferentemente científico e sempre ético, principalmente porque a atividade profissional dos médicos está mais voltada para os enfermos que para as enfermidades. Este é um pressuposto essencial do trabalho médico e sempre presente no processo terapêutico, seu objeto de intervenção é sempre o enfermo e não, a enfermidade. O enfermo é o motivo da existência dos médicos e ajudá-lo é seu compromisso mais importante. Contudo, o conhecimento de tudo que se relaciona aos enfermos e às enfermidades não se faz possível sem que se conheça a saúde da pessoa sadia em sua tri dimensionalidade – biológica, psicossocial e ambiental. Diz-se que o conhecimento médico deve ser preferencialmente científico porque o avanço das ciências ainda não fornecem resposta satisfatória para todas as demandas originadas nas necessidades diagnósticas e terapêuticas dos doentes. Contudo, nenhum procedimento médico deve contrariar fatos e conhecimento cientificamente estabelecios nem os pressupostos éticos que o fundamentam. Noutro plano, mas analogamente, sustenta-se que além de preferentemente científico, o conhecimento médico deve ser essencialmente ético. Porque a ética deve ser diretiz essencial toda conduta médica. Não é possível entender a realidade humana particular sem ter presente que toda sua atividade depende da interação dialética dos seguintes processos: o natural e o sócio- cultural, o objetivo e o subjetivo, o sensorial e sentimental, o reacional e o racional, o material e pensamento, a conduta e a consciência, a instintividade e a vontade. Quando se pretende reduzir o homem a um animal (natural, objetivo, sensorial, reacional, material, conduta e instintividade) este caminho veterinário mais descaminha que encaminha o resultado do processo cognitivo, prejudicando as possibilidades de intervenção que o conhecimento proporciona ao médicos. Ao contrário, ao pretender especular um homem ideal (cultural, subjetivo, sentimental, racional, consciente e voluntário), obtém-se o desvio oposto. 1
  • 17. O conhecimento médico deve se dirigir para a inteireza da existência humana sadio ou enfermo. O entendimento do conhecimento da saúde e das enfermidades (inclusive das enfermidades psíquicas), bem como o de qualquer outra faceta essencial da humanidade ou do ser humano só pode ser dado pela integração destas duas vertentes teóricas em uma síntese dialética. Por isto, o conhecimento e atividades dos médicos deve ser dirigido para essa síntese. Tendências Filosóficas que Influem na Ciência Muitas tendências filosóficas (visões particulares do mundo, escolas do pensamento filosófico ou outros nomes que ienham) se mostram potencialmente capazes de exercer influência nos procedimentos de aquisição do conhecimento científico (o que já se vislumbrou em outro momento deste texto). Destas, algumas reduzem o conhecimento a uma de suas fontes possíveis (sensações, raciocínios, intuição) e, por isto são denominadas tendências reducionistas, porque reduzem a totalidade a uma de suas partes, tais como: Empirismo (ou empiricismo) doutrina filosófica que pretende que a única fonte de conhecimento seja a experiência do observador, que é representada pelos sentidos; reduz o conhecimento ao resultado da sensibilidade. (Locke, Hume, Condilac, Stuart- Mill) e, de certa forma, inclui a Fenomenologia (Husserl, Heidegger, Jaspers), o Positivismo (Comte) e o Neo-Posivismo (Carnap, Ryle, Austin, Wittgenstein, Feigl), pois todas estas tendêncvia filosóficas conserva, este denominador comum de natureza empiricista; e mais as seguintes. Fenomenismo é a tendência filosófica que sustenta que o conhecimento só é possível de forma sempre incompleta porque se resume à aparência das coisas. Racionalismo é a tendência filosófica que põe ênfase na razão (a elaboração abstrata do pensamento – ou pensamento abstrato) como fonte exclusiva do conhecimento (Platão, Spinoza, Leibnitz, Kant); 1
  • 18. Intuicionismo, cujos adeptos pretendem que o conhecimento provém da intuição (independente da sensibilidade e da razão); a intuição é a visão direta e imediata de algo, sem qualquer recurso intermediário, como sensações ou raciocínio. Bergson é seu exemplo mais fiel e representativo; Subjetivismo, ideologia que pretende a exclusividade (Berkeley) ou o primado da subjetividade sobre a vida objetiva (Freud); Objetivismo, cujos adeptos recusam toda contribuição subjetiva para a construção do conhecimento (inclusive os a valoração crítica ou os valores filosóficos e científicos), como seus principais representantes pode-se mencionar Skinner, Bandura. Outras destas tendências, entendem o conhecimento reduzido a um de seus processos (descrição da aparência, redução aos aspectos objetivos ou subjetivos), destas, as principais representantes são as seguintes: Realismo Crítico (Jolivet) que encerra uma combinação eclética dos empirismos e dos racionalismo, evitando todos os preconceitos. Idealismo é a tendência filosófica que sustenata a supremacia do ideal (almas, espíritos, idéias, palavras sobre o material), o dualismo idealista, ou pretende apenas a existência do ideal, negando todas as manifestações da matéria como ilusória (o idealismo monista ou solipsismo). Materialismo é a filosofia monista que vê na matéria (que inclui o conceito de energia) a expressão de tudo que existe no universo. (Marx sustenta o materialismo dialético e Bunge, o materialismo emergentista). Materialismo marxiano é a concepção filosófica que sintetiza todas as anteriores (razão e sensações, raciocínio e experiência, intelecto e intuição, análise e síntese, influências internas e externas, objetividade e subjetividade, cognição e emoção, indução e dedução, natureza e cultura) a partir de um exercício de integração e síntese dialéticas. 1
  • 19. Regis de Morais 5 destaca que a palavra grega logos tem dois sentidos em português, pode significar razão e inteligibilidade, que corresponde a suas duas dimensões conceituais: a lógica e a metodológica, a explicação e o entendimento. ALGUNS PRESSUPOSTOS ONTOLÓGICOS FUNDAMENTAIS DA ONTOLOGIA MATERIALISTA Seguindo Mahner, M. E Bunge, M. (em Biofilosofia, ) os pressupostos ontológicos mais essenciais da ontologia materialista se reumam postulados (Siglo XXI Editores, Mexico, sd p. 19 e sgs.), que aqui seguem om algumas modificações: 1. Matéria, Materialidade e Materialismo Matéria, tal como se usa aqui, pode se definir como tudo o que existe na realidade objetiva, tudo que não é uma idéia ou um construto. A ontologia materialista ou realista pressupõe o primado da matéria sobre as idéias no entendimento do mundo isto é o universo existe por si mesmo existam ou não observadores que o estudem. 2. Os objetos do conhecimento se compõem de coisas e de construtos e nenhum pode pertencer às duas categorias. Objeto como objeto de observação ou estudo, que pode ser materiais ou ideais. As coisas são entes materiais, objetos materiais, fatos concretos que existem na realidade. Enquanto os construtos são obteos conceituais, idéias, conceitos que se referem a estados das coisas, mudanças, processos, acontecimento que se dão nelas ou com elas. Aqui se emprega o termo realidade para significar tudo que pode ser percebido ou conhecido pelo sujeito, tudo o que julga existir. Existe a realidade material ou objetiva, a realidade abstrata ou subjetiva (que inclui a chamada realidade virtual). 5 Regis de Morais, J.F., Ciência e Tecnologia, Ed. Cortez & Moraes, S.Paulo, 1976, p. 44. 1
  • 20. 3. O mundo material está composto exclusivamente por coisas às quais são agregadas construtos. 3.1. Somente os entes materiais existem no mundo como objetos autônomos. Os construtos são entidades ideais que manifestam certas qualidades ou tributos da coiss. Os processos mentais contrários de reificação (imaginar os entes ideiais como objtivos) e a ideificação Iimaginar entes abstratos como materiais) ilusões da consciência. A energia é uma propriedade da matéria, como as idéias são propriedade da atividade cerebral. 3.2. As propriedades não emanam das coisas são qualidades delas das quais não se podem separa mas podem ser percebidas ou inferidas pelo observador em sua consciência e este pode difenciá-las conceitualmente. 3.3. A observação de uma coisa faz surgir idéias na mente de que a observa idéias e palavras, seja denominar suas características, para valorizar alguma de suas qualidadea ou para explicar algum fenômeno que lhe aconteça. Tais idéias não pertencem àquela coisa, nem as precedem na natureza, refletem-na na mente de que as observa e se refletem napalavras que a expressam. As propriedades são fenômenos conceituais que dizem respeito às qualidades que podem ser observadas nas coisas, mas são existem independentemente dessas coisas e nem do observador observá-las ou não. 3.4. A seguir, listam-se alguns tipos de propriedades das coisas. 2
  • 21. Uma propriedade de uma coisa pode ser: intrínseca (quando independe de outra ou outras coisas para existir, como a composição química ou a massa de uma coisa) ou relacional (quando emerge na relação daquela coisa com outra ou outras, como o peso em relação à gravidade ou se é o indíduo alfa em uma ninhada); primária (quando é objetiva e independe de um observador ou secundária (quando só existe se observada por alguém) ou secundária (como a cor, o volume, o som que preduzem; essencial (quando indispensável para sua existência); acidental (ou accessória, quando pode existir ou não sem ela); quantitativa (qe mudam apeas por varições de intensidade, como altura, peso, extensão) ou qualitativa (quando varia a qualidade da coisa como gravidez, parentalidade, morte e vida). Bunge ainda distingue as propriedades manifestas das propensões ou potencialidades de um objeto. As propriedades manifestas existem por toda a existência. As propensões podem seu causais ou casuais. 2
  • 22. 3.5. As propriedades devem ser diferenciadas dos atributos (ou predicados, que só existem se atribuídos por alguém à coisa observada, como acontece com as diversas formas de valor, por exemplo). Porque os atributos quase se expressam por juízos, muitas vezes juízos de valor, que são atribuídos às coisas materiais ou aos acontecimentos que ocorrem nelas ou a elas. 3.6. As propriedades podem ser universais (quando se referem a tudo o que existe na classe coisas apreciada, por exemplo, tudo o que existe está sujeito a mudar), genéricas (ou particulares, quanse referem a um genero ou tipo específico de coisas ou construtos, como a duração) e individuais (que se referem a um indivíduo especificamente, como sua idade. A totalidade das propriedades de um indivíduo conforma sua identidade ou totalidade. 4. Legalidade. As Leis são relações constantes entre duas ou mais propriedades que se manifstam naquelas coisas em todos os lugares. O mundo (natural, o universo material, o sistema universal e os subsistema contidos nele) existe por si mesmo, independente de qualquer observador e obedee a algumas Leis Naturais, que se expressam pelos chamados enunciados ou proposições legais. As leis naturais podem se referir a: 4.1. alcance – conjunto de coisas que possuem essa propriedade. Quando uma lei natural tem alcance tão grande que abrange todas as propridades de todas as coisas que existem se denomina princípio universal ou lei geral (tudo o que existe muda, na natureza nada se perde e nada se cria, tudo se transforma) e quando abrange as coisas e fatos de uma categoria particular de coisas, denmna-se princípio particular ou lei particular (todos os seres vivos nascem, vivem e morrem). 2
  • 23. 4.2 relação – quando são propriedades essenciais de uma coisa, de uma categoria particular de coisas ou de todas as coisas que existem estão relacionadas, diz-s que estão legalmente relacionadas, que sua relação é legal. O que nada tem a ver com leis, como normas jurídicas. Toda propriedade essencial está sempre relacionada a outra propriedade essencial. Porque todas as propriedades essenciais de uma coisa devem estar relacionadas entre si. As relações pode variar de qualidade, intensidade e duração. Tanto quanto se sabe, as leis biológicas são as mais variadas entre as naturais por conta da complexidade das propriedades e das coisas a que se referem. 5. Estado de uma coisa é como se denomina à condição das propriedades de uma coisa em um dado momento temporal. Os estados também podem variar de duração e de insidade; e podem ser concretos ou abstratos. Os estados de equilíbrio e de movimento dos corpos físicos e os de saúde e enfermidade dos organismos biológicos são exemplos desta condição. 4. Evento, Proceso, História. Estes conceitos se baseiam no princípio de que todas as coisas mudam (no espaço ou en quantidade) e ou se transformam (alteram sua qualidade). Denomina-se evento ou acontecimento a qualquer mudança de estado, ou seja, a uma mudança simles de uma propriedade. Contudo só existem mudanças ou trasformações legais, isto é, sujeita às leis que regem as coisas e suas propriedades. Quando duas ou mais mudanças se encadeiam, a isso denomina-se um processo. A trajetória desde a primeira mudança até o estado final se chama história. Os eventos ou processos que acontecem às coisas concretas, bem como a histórias que compõem não são entidades, coisas, são construtos. A expressão “entidade histórica” é, na verdade, uma figura de linguagem, uma metáfora. 2
  • 24. 5. Materialidade e Mutabilidade são propriedades gerais das coisas, dos objetos materais, dos entes concretos. Enquanto a idealidade e imutabilidade são propriedades geais dos construtos, dos entes abstratos. Tudo que é material muda, os conceitosn não. São mudados. 6. Espaçotemporalidade e Individualidade. No primeiro caso, da espaçotemporalidade, todas as coisa materiais existem nos espaço e no tempo e só podem existir nessas condições. Não apenas existem no espaço e no tempo, como mantêm relações espaciais e temporais entre si e o conhecimento dessas relações e suas consequências é essencial para explicá-las. Caso se defina indivíduo como entidade material singular, a individuaidade também é qualidade das coisas, os construtos não podem ser indivíduos, por são entes ideais. A individualidade é característica de objetos materiais. 7. Fato. A noção de fato é um dos elementos essenciais da ontologia científica. ALGUNS PRESSUPOSTOS CIENTÍFICOS BÁSICOS Bronowski, Diederich, Whaley e Surratt propuseram alguns pressupostos fundamentais da atividade científica, que denominaram Atitudes Básicas do Cientista. São os seguintes: 1. Empirismo Dito de forma simples, um cientista prefere "ir e ver por si mesmo". Não discute se chove lá fora - simplesmente põe a mão pela janela. Basicamente, isso expõe sua crença em que existe um mundo real seguindo regras constantes em sua natureza, e que é possível experimentar esse mundo real e construir um entendimento sobre ele – o mundo não mudará se for estudado. E o mundo real também não depende do nosso entendimento - não "votamos" em ciência. 2
  • 25. 2. Determinismo "Causa e efeito" fundamenta toda atividade científica desde seu início. Principalmente nas ciênia médicas. O mecanismo é simples, toda ação causa reação e efeitos não ocorrem sem causas. Isso não quer dizer que não existam processos aleatórios ou caóticos. Mas um mesmo agente causador nas mesmas circunstâncias não produz um efeito hoje e um outro amanhã. 3. Crença em que todo problema pode ter solução. Grandes problemas foram solucionados no passado, desde o Projeto Manhattam que deu utilidade bélica à energia atômica, até enviar um homem à lua. Outros, como a poluição, guerra, pobreza e ignorância são vistos como tendo causas reais e são, portanto, solucionáveis - talvez não seja, mas é possível. 4. Parcimônia Preferir a explicação simples à complexa: quando o complexo sistema geocêntrico com epiciclos e o simples sistema heliocêntrico Copernicano explicam o movimento aparente dos planetas, escolhe-se o mais simples. 5. Manipulação científica. Qualquer idéia, mesmo simples e de acordo com observações aparentes, deve ser confirmada por trabalhos que avaliem a possibilidade de que os efeitos sejam causados por outros fatores. 6. Ceticismo 2
  • 26. As proposições científicas devem partir de asserções prévias (hipóteses) a serem verificadas para serem consideradas fatos. É comum que o cientista atinja um beco sem saída na pesquisa e deve voltar e determinar se todas as asserções feitas são verdadeiras e como os fatos acontecem. Ou que depois de diversas verificações que apontem para a confirmação de uma tese, encontrem outra que a prove falsa. 7. Precisão Ao conrário da libguagem vulgar. A linguagem científica recusa firmemente as proposições vagas e mal-definidas. Um vírus causa uma doença? Quantos vírus são necessários para infectar? Há algum hospedeiro imune ao vírus? A linguagem científica deve ser tão exata e meticulosa quento for possível. Os conceitos científicos devem ser isentos de polissemia. 8. Respeito por paradigmas. Um paradigma é o entendimento genérico do mundo ou alguma de suas partes. Um modelo de pensamento. Um conceito se "encaixa" nesse entendimento genérico ou não se encaixa? Se não, é "estorvo" e o cientista dece descobrir se o novo conceito é falho ou o paradigma deve ser mudado. 9. Respeito pela força da estrutura teórica. Diederich defende que um cientista não pense que "Isso funciona na teoria mas não na prática". Uma teoria só será confiável se confirmada na prática. A correção da teoria está na finalidade em direção da qual o cientista está trabalhando; nenhum fato científico é acumulado aleatoriamente. (O que bons estudantes de ciência devem aprender!). 10. Disposição para mudar de opinião. 2
  • 27. Quando Harold Urey, autor de uma teoria sobre a origem da superfície da lua, examinou as rochas lunares obtidas na missão Apolo, logo reconheceu que sua teoria não resistia aos fatos. "Estive errado!", declarou sem tentar defender a opinião que sustentara com entusiasmo por várias décadas. 11. Legalidade à realidade. O cientista é fiel aos fatos que expressam a realidade. O Dr. Urey que exemplificou o item anterior não se converteu a nenhuma idéia nova, apenas aceitou um modelo que sintonizava melhor à realidade. Nunca pretenderia manter uma opinião só porque estava associada a seu nome. 12. Aversão à superstição e preferência automática por explicação científica. Nenhum cientista pode conhecer toda a evidência experimental que baseia os conceitos científicos atuais; assim deve adotar certos pontos de vista mesmo sem entender suas bases. E rejeitar a superstição, prefere os paradigmas científicos como apreciação pela força do conhecimento baseado na realidade. 13. Sede de conhecimento e "motivação intelectual." Os cientistas são viciados em resolver quebra-cabeças. A pequena peça do quebra- cabeça que não encaixa é a mais interessante. Entretanto, como Diederich nota, os cientistas preferem viver com a incompletude do que "...preencher as lacunas com explicações inadequadas." 14. Julgamento suspenso. Novamente Diederich afirma: "Um cientista tenta arduamente não formar opinião sobre determinado assunto até que o tenha investigado, porque é difícil desistir de uma opinião já formada e elas tendem a nos induzir a encontrar fatos que as corroborem. Deve haver, entretanto, disposição de agir sobre a melhor hipótese que alguém tenha ocasião ou oportunidade de formar. 2
  • 28. 15. Ter consciência das proposições. Diederich descreve como um bom cientista começa definindo termos, fazendo todas as proposições muito claramente, e reduzindo as asserções necessárias ao menor numero possível. Geralmente queremos que os cientistas façam afirmações amplas sobre o complexo. Mas geralmente são bem específicos sobre o que "sabem" ou o que têm certeza. Quando tais condições são satisfeitas, o resultado mais comum é pão, pão e queijo, queijo. 16. Capacidade de separar os conceitos fundamentais dos irrelevantes ou desimportantes. Alguns jovens estudantes de ciência se enchem de observações e dados que são de pouca importância para o conceito que eles querem investigar. Concepção Sistêmica do Mundo Regis de Morais 6 destaca que a palavra grega logos (razão explicativa) tem dois sentidos em português: razão e inteligibilidade. Os sentidos que correspondem a duas dimensões filosóficas: a lógica e a metodologia. O fator lógico do entendimento e a base intelectual da sua operacionalidade; o pensamento e a palavra ou discurso que o conduz ao interlocutor. A natureza, a sociedade e a personalidade constituem sistemas e assim devem ser considerados. Daí que o conhecimento que as reflete dever reproduzir sua sistematicidade. Esta concepção sistêmica do mundo (sustentada por Mario Bunge, Oleg Tsukânov entre muitos outros autores contemporâneos) se fundamenta em pressupostos, apresentados como postulados e corolários. Haverá ocasião de discorrer um pouco mais detalhadamente acerca do conceito de sistema quando se tratar da sistematicidade como característica do pensamento científico e como qualidade identificável na natureza e na sociedade. 6 Regis de Morais, J.F., Ciência e Tecnologia, Ed. Cortez & Moraes, S.Paulo, 1976, p. 44 2
  • 29. Filosofia e Personalidade Os processos individuais e sociais vivenciados pelos seres humanos estão de tal maneira imbricados na pessoa, formando um amálgama dialético tão inseparável de partes indestinguíveis, que é impossível saber se a personalidade é uma instância individual socialmente condicionada ou se, ao contrário, constitui uma instância social, conformada individualmente. Como regra geral, os fatores individuais e sociais só podem ser diferenciados na unidade da pessoa por meio de um exercício intelectual de abstração, uma elaboração conceitual que não pode, de maneira alguma, ser levada à prática. Um costrut mental, enfim. De fato, os elementos individuais e sociais são indistinguíveis na personalidade, assim como as personalidades e seus papéis específicos são indetermináveis nas realidades sociais que confomam (como, para exemplificar, a dificuldades de determinar o significado da influência da personalidade nos acontecimento históricos e nos demais processos sociais). O termo personalidade provem da palavra latina persona que designava a máscara que o ator do teatro grego empregava para representar a disposição anímica de seu personagem cujoo papel representasse. A persona punha em evidência ou caricaturava os traços mais significativos do personagem e permitia sua pronta identificação pelos assistentes. 2
  • 30. A noção de personalidade é essencialmente psicossocial, na medida em que integra em um só significado a síntese da noção de indivíduo e sua relação dinâmica com a sociedade na qual está inserido em um processo em permanente desenvolvimento e adaptação (identificando-se, portanto, com a noção de pessoa com a qual se confunde). Personificava o personagem. Da mesma maneira que integra dialeticamente as noções de funções psicológicas, temperamento e de caráter. Como se verá adiante, o conceito de pessoa é mais abrangente do que o de indivíduo exatamente por causa desta relação com o social. No plano individual mais ou menos estrito, as noções de personalidade e de dignidade confluem para o conceito de pessoalidade. O conceito de pessoalidade reúne as características individuais identificáveis que assinalam um indivíduo humano ssingular, diferenciando-o de todos os demais indivíduos, do mesmo tipo, da mesma espécie ou do mesmo gênero. O ser humano, quando avaliado neste contexto particular presente nas idéia de personalidade, apresenta um movimento permanente de desenvolvimento tanto no plano ontológico (do indivíduo), quanto filológico (da espécie). O desenvolvimento ontológico (do indivíduo) imita o filológico (da sua espécie). O conceito de homem (com o seu sentido mais abrangente, equivalente a ser humano, independente de sexo) é bastante amplo e costuma abranger pelos menos duas noções específicas que, freqüentemente, são confundidas como se fossem idênticas, apesar de corresponderem a coisas bastantes diferentes. Tais noções são as seguintes: = o indivíduo e = a pessoa. Na verdade, os conceitos de indivíduo e pessoa podem parecer idênticos porque na linguagem comum têm iguais significados e são usados mais ou menos 3
  • 31. indistintamente naquela modalidade de conhecimento. Contudo, o que não acontece (ou não deve acontecer) na terminologia científica. Mesmo na linguagem culta, além da terminologia científica, as palavras indivíduo e pessoa representam conceitos diferentes, que simbolizam coisas diversas e bem definidas e seu emprego não deve ser feito de maneira indiscriminada. A palavra indivíduo expressa unicamente uma referência quantitativa de singularidade; pois, se refere ao elemento mais simples presente em umacoleção de outros como ele, uma coletividade; um componente singular de uma pluralidade, mesmo que se trate de um conjunto inanimado. Enquanto a noção de pessoa se refere ao componente mais elementar da humanidade, expressão de uma diferenaça qualitativa caracterizadora de um ser humano dotado de personalidade e de dignidade. Costuma-se denominar pessoa ao indivíduo humano (o que se faz muitas vezes),mencionando um ente pessoal ativo e digno. Não apenas um indivíduo, na qualidade de um ente singular e caracterizado apenas por esta singularidade. Embora a maioria das pessoas não dê importância para estas diferenças de significação no senso comum, o emprego da expressão “indivíduo humano” pode ter o mesmo significado, mas, em geral permite designar apenas suas propriedades biológico-individuais, excluindo qualquer característica psicológica ou sócio-cultural (atributos que são indispensáveis ao conceito de pessoa). 3
  • 32. Já a expressão pessoa humana, porque é redundante, deve ser evitada (a não ser para ser diferenciada de uma pessoa divina ou pessoa jurídica, quando se der este caso). A não ser por isto, seu emprego pode denunciar desconhecimento do significado dos termos empregados; posto que, por mais tolerante que seja sua apreciação, não há possibilidade de existir pessoa que não seja humana ou ser humano agente social que não seja pessoa, a não ser como metáfora (mesmo que necessária, como pessoa jurídica). Pois, quando se faz referência a pessoa jurídica, por exemplo, este caso é aquele em que o termo pessoa deve ser adjetivado. Afinal, a noção de pessoa jurídica é uma ficção que se usa apenas em homenagem ao passado remoto do termo, para significar um entidade jurídica com direitos e obrigações. Os conceitos de pessoa e de indivíduo devem ser bem diferenciados, principalmente na linguagem científica, ainda que tal diferenciação seja essencial na expressão da linguagem comum culta. Na linguagem científica, denomina-se indivíduo a um ser diferenciado dos demais por ter vida separada ou características diferenciais que o assinalem como singular; uma unidade funcional específica. Qualquer ser, de qualquer espécie pode ser encarado como indivíduo. No indivíduo coexistem e se confundem os atributos de singularidade e individualidade. A singularidade é o atributo essencial da individualidade. A individualidade de algo se reúne em um certo número de características que o diferenciam dos outros da mesma espécie, fazendo-o único em sua singularidade. Pode-se usar o termo indivíduo com sentido amplo para objetos indivisíveis (um planeta no sistema solar, uma galáxia no universo, uma estrela na galáxia, uma laranja na laranjeira, uma formiga no formigueiro, um grão de areia no areieiro). Já pessoa, é um conceito muito mais complexo e sua definição é essencial para caracterizar o objeto da Medicina e para entender os valores éticos que apoiam a teoria e a prática da Medicina. Valores que se mantêm respeitados e respeitáveis ao longo dos últimos vinte e cinco séculos. Pessoa é uma noção que transcende o conceito de indivíduo e existe para designar a entidade individual humana completa, inclusive sua personalidade (o que inclui todos seus atributos biológicos anatômicos e fisiológicos, psicológicos e sociais). 3
  • 33. Inclusive sua sujeiticidade, como atributo pessoal e sua condição de autonomia e de agente de direitos e de deveres sociais). 3
  • 34. A concepção de pessoa, como expressa aqui, ao menos na linguagem culta, científica ou filosófica, ultrapassa o conceito de indivíduo em todos os planos das numerosas possibilidades de seu entendimento. E sua principal diferenciação é que, ao menos em tese e com exceção da lingugem metafórica, só deve ser atribuída a seres humanos, enquanto o termo indivíduo cabe todos os entes singulares de um conjunto, sejam concretos ou abstratos. Neste sentido, não são atributos isolados como a racionalidade, a afetividade especial ou a psicomotricidade que caracterizariam uma pessoa. Mas sua humanidade. A pessoalidade já não é dada pela personalidade. Um ser humano com as mais graves limitações cognitivas, afetivas e psicomotoras prossegue sendo merecedor do atributo de pessoa, inclusive como detentor de direitos humanos. A noção de pessoa, inclui uma referência à sua condição de ser social, um indivíduo socializado, uma personalidade detentora de qualidades que, como se viu anteriormente, a individualizam, identificam, pessoalizam, personalizam e dignificam. A dignidade da pessoa tem sido um atributo sempre reconhecido nos homens de todos os tempos civilizados e é um dado essencial não só da civilização, mas do humanismo como atitude intelectual básica. Não há, nem pode haver civilização desenvolvida sem que ali exista respeito pela dignidade humana, por mais diferente ou estranho que possa parecer, como principal atributo das outras pessoas. O atributo dignidade é essencial para entender a humanidade. Muito mais que sua inteligência, que suas possibilidades verbais, que suas habilidades psicomotoras, que sua aptidão para amar ou desempenhar papéis da vida social. No presente momento histórico, um excelente indicador civilizatório é o respeito aos direitos humanos. A noção de pessoa inclui tudo isto e transcende a todos estes atributos, exatamente pelo carácter ético de sua dignidade, o que o faz credor dos direitos humanos. 3
  • 35. Os conjunto de normas sociais denominado Direitos Humanos representa um código de direitos que a sociedade atribui às pessoas, a todas as pessoas, pelo fato de serem humanas. Classificação da Filosofia Como muitos outros estudiosos do assunto, OLEG TSUKÂNOV 7 ensinava que, ≈ considerando-se o estado do conhecimento sobre a filosofia materialista e seu significado como filosofia da ciência, prefere-se aqui classificar a filosofia em quatro capítulos: = ontologia, = gnosiologia, = lógica, = metodologia e = ética. A partir de uma avaliação materialistas da filosofia, a ética e todas as demais disciplinas axiológicas, por suas características essenciais, se situam mais como disciplinas antropológicas e sociológicas do que filosóficas. 7 Andery, M.A. et alli, Para Compreender a Ciência, Ed. Espaço e Tempo/EDUC, Rio, 1988, pp. 34 e seguintes. 3
  • 36. A teoria do ser ou ontologia, capítulo da filosofia que estuda, em seu sentido mais amplo, a origem, a essência, a causa primeira e a explicaçao do cosmos, da vida e do pensamento (em suma, de tudo o que existe na realidade); e, em sentido mais limitado, atualmente, o termo ontologia pode ser empregado para referir o processo filosófico de estudar o quê conhecer, o objeto do conhecimento; neste caso, como se faz neste trabalho, o estudo ontológico de uma ciência é o estudo de seu objeto (sua definição e sua objetividade). Não é possível pensar em ciência ou qualquer atividade científica sem ter bem clara a noção de seu objeto de estudo. Classicamente, a teoria do ser se denominava metafísica. Foi renomeada por materialistas e positivistas cedendo à recusa do termo metafísica com sentido de sobrenatural, mágico-sobrenatural, religioso. Isto porque identificam nesta expressão seu sentido inicial de algo alem a física, fora de realidade natural, como se faz quando se considera a teologia (teoria de deus) como parte da filosofia. 3
  • 37. A teoria do conhecimento, também chamada epistemologia ou gnosiologia, é a disciplina filosófica que estuda o conhecimento em geral, inclusive o conhecimento científico, a verdade, o erro; a teoria do conhecimento é o estudo do como se conhece, dos processos utilizados para conhecer. É com a gnosiologia ou epistemologia que se definem as grandes diretrizes do pensamento científico. A teoria da arquitetura lógica do pensamento, da elaboração racional das idéias, sobretudo do manejo dos juízos, referida simplesmente como lógica (inclusive a lógica matemática, a lógica formal, a lógica dialética) que preside a construção dos conceitos, das categorias, das proposições e das teorias científicas. A teoria dos procedimentos operatórios destinados a construir o conhecimento científico com suas exigências de veracidade, ou a metodologia, o que inclui tanto a metodologia filosófica quanto a metodologia científica e que costuma ser incluída como parte integrante da lógica na maioria das sistematizações. (Sendo destacada aqui, principalmente, por sua importância relativa para o tema central deste trabalho sobre a fundamentação científica da Medicina e da psiquiatria). Não existe praticamente qualquer aspecto da filosofia que seja isento de divergências e opiniões contraditórias de todas as proporções possíveis. Como matéria fortemente ideologizada, a filosofia se apresenta, simultaneamente, como instrumento de combate e campo de batalha das mais diversas ideologias que se confrontam no mundo. Por isto, sua classificação também costuma ser objeto de muito confronto. A sistematização da filosofia nestes capítulos não atende à todas as opiniões dos especialistas ou se compatibiliza obrigatoriamente com todas elas, porque nenhuma consegue esta façanha, tantas e tamanhas são as divergências existentes neste terreno. 3
  • 38. Esta classificação foi empregada aqui, como opção do autor, porque é suficientemente defensável, parece bastante coerente com as opiniões expostas frente à questão central da filosofia e as outras opções doutrinárias feitas ao longo deste trabalho. E também porque se presta muito bem ao entendimento da Filosofia do conhecimento como instrumento do processo de conhecer, explicar e transformar o mundo. Quando se estuda o conhecimento filosófico é bastante possível, sem qualquer prejuízo para o entendimento do assunto, considerar a gnosiologia como o capítulo da filosofia que estuda o conhecimento em geral, qualquer processamento cognitivo; e encarar a epistemologia como ramo da gnosiologia dirigido especificamente para o estudo do conhecimento científico. Com este segundo sentido, a epistemologia se diferenciaria da gnosiologia, embora esta passe a ser considerada sua matriz como a teoria do conhecimento, área mais ampla que a teoria do conhecimento científico. Para muitos, no entanto, gnosiologia e epistemologia são sinônimos e ambos os termos podem ser empregados com o significadeo de teoria geral do conhecimento. Caso em que empregam o termo cientologia para mencionar a teoria do conhecimento científico. Entretanto, como este termo cientologia também designa uma organização religiosa de procedência norte-americana de péssima reputação no meio científico ocidental, seu uso tende a ser evitado por aí. Neste texto, em geral, a menos que se indique diferente, os dois termos, gnosiologia e epistemologia, são empregados como equivalentes em significação, pois não parece haver qualquer descontinuidade qualitativa entre os dois fenômenos a que estes conceitos se referem, pois se considera que o conhecimento científico e o conhecimento não científico não se diferenciam por sua estrutura cognitiva, mas por sua metodologia, rigor, previsibilidade e verificabilidade. 3
  • 39. Embora a Metodologia pareça ser o componente filosófico que tem mais relacionamento com a filosofia, isto não é verdade. Toda a filosofia e cada um de seus ramos tem importância para a atividade cientifica e para seu desenvolvimento, são atividades huanas intercomplementares. Não é possível fazer boa ciência quando se ignora a filosofia, porque a ciência sem filosofia é uma arquitetura sem alicerces. A ontologia, a gnosiologia, a lógica e a ética são tão necessárias à investigação e ao pensamento científico quanto sõ importantes às suas aplicações tecnológicas. Aristóteles, Francis Bacon e René Descartes forneceram a fundamentação teórica da doutrina do método científico como investigação acerca do conhecimento verdadeiro. Antes de Karl Marx, a metodologia se confundia com a lógica e esta, com a psicologia, até que HEGEL diferenciou o método filosófico dos métodos científicos, dando novo rumo a este estudo. Aqui, se considera a Metodologia como o ramo da filosofia que articula as leis do pensamento com as leis do mundo objetivo (incluindo as leis que regem a natureza e a sociedade), sobretudo, elabora os meios utilizados pela filosofia e pelas disciplinas científicas para atingir seus objetivos cognitivos. Devendo-se destacar que, a cada momento, cresce a importância que se atribui ao método no processo de aquisição do conhecimento científico; tanto, que o grau de cientificidade de uma atividade cognitiva é determinado, em grande parte, pela avaliação da sua metodologia; pois a cientificidade de um conhecimento qualquer pode ser sempre determinada a partir do exame dos procedimentos metodológicos empregados em sua obtenção. 3
  • 40. Alguns autores (os que consideram a filosofia como uma ciência formal, como contece com os marxistas e alguns positivistas) não incluem a axiologia como ramo da filosofia. Por causa de sua dimensão essencial, característica e essencialmente valorativa, incluem-na, como disciplina filosófica, a axiologia ou teoria dos valores, incluindo a moral e a ética (que objetiva estudar a origem, a essência e a evolução dos valores essenciais, dos princípios e das regras norteadoras da conduta humana). Tradicionalmente, esta disciplina pertencia à filosofia denominada como teoria do valor e sua presença nela é uma das razões da diferenciação do conhecimento científico do saber filosófico. Caso se retire a axiologia do campo da filosofia, passando a enquadrá-la como um conhecimento antropológico, o que pode ser considerado muito pertinente, ela pode ser considerada uma ciência formal. Isto porque a axiologia, não pode ser tida como ciência, por falta da necessária objetividade incluída na exigência de especificidade da ciência. Por isto, para aqueles que querem ter a filosofia como uma ciência formal, deve ser conveniente situar a axiologia e seus ramos (inclusive as disciplinas normativas como as regras disciplinadoras do trânsito, as regras de boas maneiras, o direito, a moral e a ética), face a sua subjetividade, e mais todas as disciplinas chamadas axiológicas, junto a outras disciplina sociais normativas, como as jurídicas, que já não são mais consideradas ciências, fora do campo da filosofia. Ordenadas, preferentemente, entra as ciências antropológicas. 4
  • 41. Considera-se a ética como o estudo dos princípios norteadores da conduta social e moral, como o conjunto de regras que consubstanciam as prescrições e proscrições que regem a convivência das pessoas entre si na sociedade. Desde muito remotamente existe uma moral e uma ética médicas que sempre foram consideradas como vertentes essenciais da Medicina e devem ser, naturalmente, subordinadas à existência social e que serão consideradas especificamente quando se tratar dos fundamentos históricos da Medicina e, próximo título deste trabalho sobre os fundamentos da medicina. No entanto, mantendo-se a ordenação tradicional tripartite do conhecimento, não há razão para excluir estas disciplinas axiológicas do campo da filosofia. Medicina e Ciência, Filosofia e Ideologia A ideologia é o meio mais eficaz para exercer o controle social e buscar tornar homogênea a consciência social dos povos mais civilizados. A palavra ideologia tem tido variados significados apesar de sua trajetória histórica relativamente curta. Esta diversidade de significações complica o entendimento do termo ideologia e dificulta bastante o seu emprego como termo científico, sobretudo pelos iniciantes nos estudos cientíoficos que não estejam afeitos aos conceitos das ciências sociais; além disto, há mais uma dificculdade adicional, por ser uma palavra muito utilizada, todos pensam conhecê-la e fazem-no mais ou menos imprecisamente. E, também nesta questão, o pior desconhecimento, é o desconhecimento daquilo que se pensa conhecer. A informação errada (desinformação) ou alienada costuma ser sempre muito mais danosa do que a ausência de informação ou a informação incompleta. Evolução Histórica do Conceito de Ideologia. 4
  • 42. Qualquer fato, mecanismo ou processo pode ser estudado melhor e mais proficuamente no curso de sua evolução. Por isto, uma das melhores formas de se conhecer qualquer processo, principalmente os conceitos, é conhecer sua origem e os caminhos de sua evolução. Principalmente, quando se trata de um conceito controvertido e polivalente, como sucede ser o conceito de ideologia, parece importante iniciar se estudo por uma revisão de sua história e evolução significativa. Comno se iniciou, como evoluiu e como chegou até ao momento presente. Ainda que esquemática, parcial e incompletamente, a história do conceito ideologia pode ser descrita da maneira como se descreve a seguir. Como precursor e originador do conceito que está sendo estudado aqui, FRANCIS BACON (1561-1626) terá sido, bastante provavelmente, se não o originador, ao menos um dos primeiros precursores do conceito moderno de ideologia, quando propôs a noção de ídolos como idéias que serviam como elementos encobridores dos erros no conhecimento da natureza. Neste sentido particular, o ídolos são símbolos ou objetos materias adorados; o ídolo é um desdobramento lógico e histórico do fetiche. Fetiche provém do português feitiço = coisa feita; artificial. Alcança todo objeto artificial que é adorado como divindade ou objeto que é usado em uma cerimônia mágica como representante de uma pessoa. 4
  • 43. BACON diferenciava os ídolos inatos dos adquiridos socialmente, aos quais denominava imagens idolátricas e reconhecia quatro tipos diferentes de ídolos: os idola tribu (os ídolos da tribo) que são característicos da espécie humana e de suas limitações naturais; os idola specus (os ídolos culturais) que são induzidos pela convivência social, pela educação e pela submissão às autoridades; os idola fori (ídolos do foro, do tribunal) que se orginam adquiridos pelo aprendizado da linguagem, se referem a experiências concretas e ao conteúdo dos sentidos; e os idola theatri (‘dolos do teatro) oriundos de uma edução do círculo histórico e resultanto dos princípios e regras estabelecidos dogmaticamente pela Filosofia (algo como os paradigmas científicos e os padrões de pensamento epistemológico). Os ídolos de BACON se referiam às dificuldades para conhecer a natureza e não a sociedade pois, para ele a sociedade não era accessível ao conhecimento racional da ciência. O primeiro autor a empregar o termo ideologia foi Destutt de Tracy (1754-1836), em 1796, na obra intitulada Project d’Élements d’Idéologie. Alí o vocábulo foi usado como ciência das ideias; referindo-se ao estudo sistemático e crítico das idéias. Uma espécie de psicologia cognitiva. A seguir a expressão, foi empregada por Cabanis (1757-1808) e Desttut de Tacy em 1801, significando ciência da alma (ou da subjetividade, exatamente com o mesmo significado que o termo psicologia defruta atualmente). Logo depois, a palavra ideologia passou definida como ciência das idéias e, então, significava estudo sistemático da formação e da assimilação dos conceitos enquanto idéias elementares, posto que os conceitos são considerados como os componentes mais simples do pensamento inteligente. 4
  • 44. Quando começou a ser usado, o termo ideólogo era um indicativo de prestígio intelectual e social naquela época. Mas esta situação de bonanca e favorecimento não perdurou por muito tempo. Logo, os ventos mudaram. Veja-se. Ainda no Império, Napoleão, aparentemente para se defender dos opositores de esquerda, empregava depreciativamente o termo ideologia para designar idéias vazias de conteúdo, sem qualquer praticidade ou utilidade, por isto, inaplicáveis à realidade concreta; para muitos. E chamava ideólogos seus cultivadores. Essa foi a fase preparatória para o sentido que, depois, se atribuiria à ideologia, a partir do alvorecer do século dezoito. o filósofo CONDILAC (1715-1780) também se preocupou com diferenciar o conhecimento científico verdadeiro das falsas convicções que não poderiam ser chamadas de conhecimento (quanto mais científico). Depois da Revolução Francesa e do Império, já na Ilustração francesa, HELVETIUS (1715-1771) e D’OLBACH (1723-1789) alongaram estas noções de Bacon de modo a explicar e contestar a influência que a religião exercia sobre o Estado, de tal modo que, para se manter no poder, criava um mundo ilusório de felicidade eterna para encobrir o conhecimento da realidade social concreta e para iludir as pessoas com uma reconpensa pelo sofrimento presente a ser paga na eternidade, depois da morte. Ambos sustentavam que a conduta dos homens era condicionada socialmente. Logo após, já na Restauração, a expressão passou a ser tomada como uma blasfêmia anti-religiosa e passou a designar as idéias dos livre-pensadores, dos anticlericais, dos franco-maçons, dos anarquistas e carbonários. Chamava-se ideologias às idéias sociais e políticas anti-religiosas, sobretudo as anti-católicas e politicamente anti-monárquicas e progressistas; em geral, maçônicas, republicanas e liberais. 4
  • 45. Por volta do fim do século XVIII e início do século XIX o termo ideologia adquiriu uma conotação ética; então, ter ideologia significava alimentar idéias valiosas, que davam sentido à vida, pelas quais valia a pena viver e, até, se fosse o caso, morrer por elas. Para muitas pessoas, principalmente naquele sentido empregado na comunicação social comum, ideologia quer dizer um sistema de idéias referente ao exercício político ou econômico social; ou pode se confundir com um ramo da teoria política; por fim, ideologia pode se referir a um sistema de idéias políticas, a uma concepção ideal da sociedade e das relações sociais que a configuram. Geralmente, os sistemas políticos socialistas são igualitários. Este último sentido, a ideologia como sistema de idéias sociais e políticas, mesmo que não esteja dicionarizado, é o significado com que o termo é empregado na maior parte dos veículos de comunicação social e é aquele com o qual a maiso parte das pessoas o utiliza na linguagem comum. Mas a ideologia é, também, uma auto-visão e auto- julgamente que uma classe social faz de si mesma. Marx, o atualizador e principal divulgador do conceito de ideologia. Karl Marx (1818- 1883) talvez tenha sido quem haja dado a melhor contribuição ao conceito de ideologia. Até porque, depois dele, todos os que trataram o tema usaram sua opinião como referência obrigatória. Se bem que, ao longo de sua obra, de 1843 a 1883, Marx tivesse feito variar o sentido do termo (de ideologia como noção-concepção mestra, como imaginário e, finalmente, como falsa consciência e não mais como uma idéia singular. Entretanto, ao contrário dos que empregavam o termo ideologias no plural, com o sentido de idéias e de conjunto de idéias, Marx usou o termo ideologia no singular e, sempre, como sinônimo de falsa consciência, com o sentido de convicção destituida de razão, ou de certeza provinda do senso-comum e socialmente determinada, quanto mais eficaz quanto mais inaparente e reconhecível. 4
  • 46. Marx considerava a ideologia como representação subjetiva de uma determinada realidade sócio-econômica e cultural que se faz incorporar à consciência de todas, ou quase todas, as pessoas em uma sociedade qualquer. Também julgava que, embora seja destinada à satisfação dos interesses apenas do grupo dominante (no caso, quase sempre, a classe social hegemônica) se incorpora à consciência social de todos os agentes sociais ou de alguns deles, gerando uma ilusão de satisfação, mesmo nas pessoas que tivessem seus interesses individuais contrariados por ela. Para Marx a ideologia se apresenta como uma idéia ou sistema de idéias que se impõem à consciência de uma pessoa ou de um conjunto social. Neste sentido marxiano, ideologia é toda consciência que não entenda a relação existente entre as relações materiais de produção e a alienação e a coisificação. Um dado essencial do conceito de ideologia em Marx é sua vinculação aos interesses objetivos das classes sociais. Para ele, a ideologia não resulta apenas de necesidades sociais, mas principal ou exclusivamente dos interesses econômicos das classes sociais. Adiante, retomar-se-á a relação entre ideologia e classes sociais. MAX WEBER (1864-1920), como opositor teórico de Marx nas explicaçòes sociológicas, recusa esta explicação da ideologia reduzida unicamente ao econômico e inclui nela os fatores éticos e outros condicionamento culturais que considerava, também, como motores originais e importantes das ideologias e dos demais aspectos da consciência coletiva. Max SCHELLER entendia ideologia como o aspecto mais importante da sociologia do conhecimento: o conhecimento devido à influência do contexto social onde se origina e se desenvolve. A influência da realidade social na consciência das pessoas. MANNHEIM (1843-1947) considera a ideologia como o conhecimento que surge como um reflexo da realidade social que, simultaneamente, revela e oculta. 4
  • 47. PARETO (1848-1923), concebe as ideologias são idéias muito simplificadas provenientes mais da afetividade que da razão que orientam e controlam as relaçòes dos indivíduos no interior dos sistemas sociais. Adam SCHAFF divide os significado de ideologia em três grupos: definições genéticas (que provém de seu significado original); definições estruturais (que a opõem ao conhecimento científico) e definições funcionais que fazem sobressair a funcão social das ideologias na vida das sociedades. ANDER-EGG, a partir de um ponto-de-vista marxiano, define ideologia como sendo o conjunto de crenças, opiniões e idéias sobre o homem, a sociedade, a história e o mundo que produz um sistema de representações mentais acerca da maneira pela qual os homens se relacionam entre sí e com o mundo; este sistema de representações é uma resposta a interesses, aspirações ou ideais de uma classe social e se originam nas condições objetivas de sua existência concreta e oriental e justificam suas opiniões, crenças e comportamentos. Neste sentido colocado por Ander-Egg, mas amplamente empregado neste fim-de século, é preciso tentar não confundir uma ideologia com a chamada visão do homem, da sociedade e do mundo que é, afinal, a filosofia (ou sua base formal). A ideologia pode ser uma visão do mundo, ou de parte dele, mas se origina nos interesses da classe hegemônica na sociedade. E é este último atributo que a caracteriza. A visão do mundo não se resume a uma ideologia. Porque, caso se concebesse assim, a ideologia substituiria a Filosofia, já então, tida como explicação ilusória e fátua. No entanto, o que caracteriza uma ideologia não é seu conteúdo (filosófico, científico, geográfico, político ou outro qualquer). Mas sua acriticidade e sua origem em interesses sociais objetivos e de grande amplitude. Ideologia também pode significar qualquer conjunto mais ou menos estruturado de idéias, um sistema teórico; mas muitas vezes, a expressão traduz o significado de idéia impossível de se concretizar, de ser praticada, uma utopia, aproximando-se do sentido napoleônico da expressão. 4
  • 48. Atualmente e na linguagem comum se usa ideologia como doutrina ou teoria política. Exercícios de Definição da Ideologia No senso comum. Dcicionário de Aurélio Buarque de Holanda De ideo + logia. 1. Ciência da formação das idéias, tratado das idéias em abstrato, sistema de déias; 2. Filosofia. Pensamento teórico que pretende desenvolver-se sobre seus próprios princípios abstratos, mas quew, na realidade, é a expressão de fatos. Principalmente sociais e econômicos, que não são levados em conta ou não são expressamente reconhecidos como detrminantes daquele pensamento. Dicionário Priberan Deologia – do Gr. idéa + lógos, tratado, s. f., ciência que trata da formação das ideias e da sua origem; conjunto de ideias, crenças e doutrinas, próprias de uma sociedade, de uma época ou de uma classe, e que são produto de uma situação histórica e das aspirações dos grupos que as apresentam como imperativos da razão; sistema organizado e fechado de ideias que serve de base a uma luta política. Definição de ideología do Diccionario da Academia de la Lengua Esapñola: (Del gr. logos: idea + -logía).1. f. Doctrina filosófica centrada en el estudio del origen de las ideas. 2. f. Conjunto de ideas fundamentales que caracteriza el pensamiento de una persona, colectividad o época, de un movimiento cultural, religioso o político, etc. 4
  • 49. Vocabulario Filosófico-Científico, de Abarca-Fernandes, R, encontrado no sitio http://www.ucsm.edu.pe/rabarcaf/vofici00.htm. Ideología: Conjunto sistemático o no de ver el mundo expresado a través de un núcleo de ideas, valores, representaciones, actitudes de un grupo social o de un individuo. La ideología no es una teoría especulativa establecida por medio de un análisis racional y objetivo, sino un modo de pensar o un sistema de actitudes características de una clase o individuo, vemos que la evolución se ha convertido de este modo en una ideología científica. El sentido etimológico de "ideología" la connota como "ciencia de las ideas", por lo que el ideólogo sería aquel que se ocupa de las ideas, clasificándolas, buscando su origen, explicando sus combinaciones, etc.. Con este sentido el término fue empleado en los siglos XVIII y XIX por un grupo de filósofos franceses que se inspiraron en Condillac, y que precisamente fueron llamados "ideólogos". Uno de estos Antoine Destutt de Tracy, consideró la ideología como una "filosofía prima", articulada en tres sectores de investigación: la ideología propiamente dicha, que tiene por objeto el análisis del origen de las ideas; la gramática, que tiene por objeto el estudio de las modalidades de su expresión, y, la lógica, que tiene por objeto el estudio de su combinación. En 1801 Destutt designó con el término ideología "el análisis de las sensaciones y de las ideas" siguiendo el modelo de Condillac. En este contexto la ideología fue la corriente filosófica que señaló el tránsito del empirismo iluminista al espiritualismo tradicionalista que floreció en la primera mitad del siglo XIX. Napoleón adoptó el término en sentido despectivo para calificar de "ideólogos" a sus enemigos políticos. En la segunda mitad del siglo XIX el término es utilizado por el marxismo para calificar la cultura denominada "burguesa". 4
  • 50. Según Carlos Manheim la ideología es la idea que es capaz de insertarse en la situación, de dominarla y de adatársela; pues las "ideologías son las ideas que trascienden la situación y que nunca lograron, de hecho, realizar su contenido virtual. Aunque a menudo se convierten en los motivos bien intencionados de la conducta del individuo, cuando se las aplica en la práctica se suele deformar su sentido. La idea cristiana del amor fraternal, por ejemplo, sigue siendo, en una sociedad basada sobre la servidumbre, una idea irrealizable y, en ese sentido, ideológica, aun cuando se reconozca que puede actuar como motivo en la conducta del individuo" (Ideología y Utopía). Entendemos que la ideología es un sistema de ideas concernientes al mundo del hombre, especialmente a los conceptos de la vida social. A diferencia de la filosofía, no es una teoría especulativa o práctica, sino una manera de pensar o un sistema de actitudes. Un "ismo", según el diccionario de Webster, es una doctrina o práctica de un sistema filosófico, una teoría o un principio. Las ideologías se refieren a un modo de pensar, a una actitud de la mente; los "ismos" se refieren a un modo de vivir, a la práctica de un modo de pensar. Em filosofia, existe um relativo consenso em caracterizar ideologia como falsa consciência. Pode-se definir ideologia como crenças, opiniões, valores e outras representações individuais que se originam acriticamente do interesse quase sempre objetivos de entidades sociais com as quais as pessoas se identificam. Entre os conceitos de consciência crítica e ideologia como falsa consciência, surge o conceito de consciência possível. Aspecto curioso da ideologia e que a distingue da psicologia é que, freqüentemente, ela contraria os interesses individuais de seu agente, evidenciando o como e o quanto, muitas vezes, as necessidades sociais, de grupo, de classe, se sobrepõem às necessidades individuais e as postergam ou encobrem. 5
  • 51. Tanto a ideologia quanto as diferentes modalidades de consciência individual (consciência crítica e consciência possível) ou consciência social (religião, valores, senso de moralidade e outros artefatos culturais) podem ser compostas por representações individuais e coletivas capazes de determinar as regras básicas que propulsionam, dirigem ou modulam os componentes de um sistema social e determinam o modo de seus membros pensarem, sentirem e reagirem frente às situações mais comuns e mais importantes. Não parece possível separar precisa e completamente os objetos da psicologia, da psicologia social e da sociologia, pois compõem um continuum da realidade humana. A função principal de uma ideologia parece ser sempre justificar, manter e reproduzir a estrutura social vigente ou outros interesses sociais, porque se presta perfeitamente para justificar e legitimar muitos interesses sociais, sobretudo políticos e culturais (além daqueles que estão implícitos na estrurua do Estado). Outros exercícios de definição: Primeiro, de uma perspectiva influenciada pelo psicologicismo condutista. Neste caso a ideologia seria definida como uma elaboração teórica de qualquer nível (conceito, juízo ou teoria) proveniente de interesses sociais e incorporada pela consciência de maneira acrítica. Uma concepção teórica e ideologizada que incide neste tema, é a pretensão de negar a conação, a voluntariedade ou rebaixá-lo à condição de conceito teórico. Embora, mesmo negando a noção de vontade, começa a usar o de intencionalidade. Depois, de um ponto de vista político, porque a relaciona com o fenômeno político axial, que é o poder. Aqui a ideologia é entendida somo a dimensão individual e subjetiva do poder social; instância coletiva e objetiva, apesar de abstrata, que resulta da hegemonia política de uma classe ou de outro ente social sobre os demais em seu ambito de convivência. Neste caso, a ideologia integra o psicológico e o social em ujma síntese indissolúvel. 5
  • 52. Desde a infância, as pessoas assimilam opiniões, crenças e valores e formam atitudes que lhes vão sendo transmitidas constantemente, de maneira inteiramente ou predominantemente automática, sem que elas se dêem conta inteiramente. Depois, pensam, sentem e são movidos ou têm seus coportamentos modulados por aquelas representações; que são percebidas, sentidas e reconhecidas como se fossem autóctones, como se tivessem se originado em si mesmo. Isto é ideologia. Ideologia e Política Há muito, identificam-se mutuamente os conceitos de ideologia e de política. Ao menos no sentido marxiano da expressão ideologia identifica-se a ideologia como um dos mais importantes processos de dominação e de submissão política, a dominação e a submissão político-ideológica. Para Thernborn 8 podem ser identificados seis processos psicológicos e políticos diferentes pelos quais as ideologias em todas as sociedades atuam sobre os indivíduos e sobre os grupos sociais que coexistem nelas. 1. Adaptação. Modalidade de conformidade que induz nos dominados e dominadores a atitude de aceitar a situação de domínio como algo natural e esperável. No máximo se permitem pensar em mecanismos um pouco deferentes, mais brandos ou mais severos. Destaca que a adaptação também inclui a posibilidade dos dominados exercerem alguma oposição. Ainda que alguma modalidade adaptada de oposição. No regime escravista, é mais provável que a ideologia induza procedimentos para um escravo comprar a própria alforria do que se rebelar contra a escravidão. 8 Thernborn, G., Ideología del Poder y el Poder de la Ideología, Editorial S. XXI, Madrid 1987 5
  • 53. 2. Sentimento da inevitabilidade da dominação. Quando a obediência do dominado (e a exigência do dominador) decorre da ignorância de cualquer possibilidade legítima de libertação.Fundamenta um processo de alienação típico. A marginalização dos dominados costuma ser interpretada cínicamente crítica pelos dominadores. 3. Representação (corresponde ao mecanismo psicológico de defesa denominado substituição). O dominado obedece aos dominadores porque consideram que a situação os favorece; que os dominanadores os beneficiam. Podem até considerar benéfica sua condição de dominado. Como sucede quando um dominado se acredita devedor daquela condição de dominado à vontade superior de uma divindade que o castiga ou submete a uma prova. 5
  • 54. 4. Deferência. Quando o dominado crê que as qualidades superiores do dominador justificam por si só sua dominação e que ele deve a subordinação com forma de respeito. Qualidades que podem derivar da herança ou da educação dele próprio ou do dominador. 5. Medo. Obediência e subordinação baseada no medo da força, da violência ou outro atributo assustador. Quando a desobediência implica e morte certa, resta a escolha entre optar entre moorrer resistindo ou morrer sem resistir. O problema está quando há possibilidade de não morrer. O de sofrer uma violência mitigada. A subissão por medo resulta do processo de dominação ideológica provocada pela aceitação de uma mal menor, da segunda solução. 6. Resignação. Mecanismo de submissão que, como o do medo, decorre das ponderações sobre o que é possível esperar de uma situação de desobediência ou revolta. É a forma fria de obediência derivada da crença na impossibilidade práctica de alternativa melhor que a submissão. Definição Contemporânea de Ideologia Como se pode ver, do que se depreende da evolução histórica deste conceito, pode-se definir ideologia como: idéias, crenças, opiniões, valores e outras representações individuais que se originam acriticamente do interesse quase sempre objetivos de entidades sociais e influem mais ou menos imperiosamente no comportamento dos indivíduos que as compõem. Utilizando-se este sentido, para definir ideologia, se pode depreender que entre os conceitos já conhecidos de consciência crítica e ideologia, muito empregados entre nós, surge o conceito mais ou menos recente de consciência possível e de consciência do possível (integrando dialeticamente o que seria a consciência da necessidade e a consciência da possibilidade como categorias essenciais para o entendimento da consciência política e da evolução social. 5
  • 55. Aspecto curioso da ideologia é que, freqüentemente, ela contraria os interesses individuais de seu agente, daquele que a sustenta, evidenciando o como e o quanto, muitas vezes, as necessidades sociais conscientes ou não, de um grupo, de uma classe ou de uma outra entidade coletiva, se sobrepõem às necessidades individuais, postergam-nas ou as encobrem.<$FComo acontece em todos os preconceitos, por exemplo.> No que muito se assemelha, aliás, aos mecanismos de defesa como processos psicossociais de manter o equilíbrio psicológico. Tanto as ideologias quanto as diferentes modalidades de consciência (principalmente as chamadas “consciência crítica” e “consciência possível”) que se opõem a ela, se compoem por representações individuais e coletivas elaboradas a partir das regras básicas que propulsionam, dirigem ou modulam os componentes de um conjunto social em um momento histórico-social e determinam a maneira de seus membros pensarem, sentirem e reagirem frente às situações comuns e importantes de sua vida social. A consciência de um momento pode ser a ideologia de outro. Como se vê, não é possível separar completamente os objetos da psicologia geral, da psicologia social e da sociologia (e todos estes da ideologia), pois compõem um continum da realidade humana e encerra um dos monentos mais importantes da interação do indivíduo e a sociedade a que pertence. Por isto, não se podem diferenciar os fenômenos ideológicos e psicológicos mediante uma linha clara e definida de separação, mas como momentos diferentes de um processo contínuo, de uma única totalidade real. 5
  • 56. Disso, depreende-se que a função principal de ideologia deve ser justificar, sustentar, legitimar e reproduzir a estrutura social vigente em um dado macro-sistema social influindo sobre seus componentes e promover a hegemonia de uma pessoa ou entidade social sobre seus congêneres; mas, a ideologia também se presta para justificar e legitimar muitos outros interesses sociais, sobretudo políticos e culturais e não apenas aconômicos; podendo, ainda, permitir uma hipótese explicativa (se não uma explicação) para todos os fenômenos e processos institucionais, na medida em que todas as instituições seriam, antes de tudo, artefatos ideológicos. Uma ideologia pode ser científica ou acientífica; pode ser comprovável ou incomprovável com o emprego dos recuros teóricos e práticos disponíveis; além do que, pode ser codificada ou não codificada, institucionalizada ou não institucionalizada; pode ser um reflexo verdadeiro ou falso da realidade; pode ser completamente verdadeira, pode ser um tanto verdadeira (porque contém um número variável de componentes de verdade) ou pode ser inteiramente falsa. Nada disto deve importar para sua caracterização como ideologia. O que caracteriza essencialmente uma ideologia (bem como caracteriza um artefato ideológico) é ser um fenômeno da consciência social, originado em necessidade objetiva da sociedade e incorporado pela consciência individual de forma mais ou menos automática e acrítica. As crenças e instituições sociais (religiosas, políticas, jurídicas e científicas são excelentes exemplos de ideologias e de sistema ideológicos. Por isto, não se pode conceber as normas sociais e suas conseqüências, as sansões sociais, senão como artefatos ideológicos que, mesmo que não forem exclusivamente, sê-lo-ão em grande parte. De qualquer maneira, não é possível entender claramente o papel da ética na sociedade, inclusive na Medicina, sem lhe reconhecer a dimensão ideológica e sem perceber o quanto esta dimensão influi em seu surgimento, em sua difusão e em suas aplicaçòes sociais concretas. Ideologia, Medicina e Ciência 5
  • 57. Em outro texto deste trabalho, estuda-se o conceito de ideologia em sua aplicacão às ciências e ao conhecimento científico. Aí verifica-se como esta palavra tem variados significados por diferentes cultores das ciências sociais e mais ainda na linguagem comum. Isto complica bastante seu entendimento, dificulta sua aprendizagem e perturba seu uso principalmente por quem se inicia no tema. E isto se torna o problema pior ainda, porque trata-se de uma noção e de uma palavra muito utilizadas em todos os estratos da linguagem e, talvez por isto, quase todos pensam conhecê-la, sobretudo, por estarem familiarizados com ela e a inclirem em seu vocabulário ativo. As ideologias podem ser expressas por quaisquer idéias, estruturas ideativas ou sistemas de idéias; podem assumir a forma de opiniões, crenças e, principalmente, de atitudes cognitivas, políticas, estéticas, morais, jurídico-sociais ou filosóficas. Tal sistema ideológico de idéias é sempre gerado, nas situações concretas, motivado pelos interesses sociais hegemônicos nos coletivos humanos onde ele se desenvolvee é assimilado pelos indivíduos daquela sociedade, de maneira mais ou menos automática, acrítica e mais ou menos arraigada. Toda ideologia é utilizada como instrumento de controle dos comportamentos coletivos (controle social). Uma ideologia pode ser científica ou acientífica, comprovável ou incomprovável, codificada ou não codificada; pode ser uma representação verdadeira ou falsa da realidade; mas o que caracteriza essencialmente uma ideologia é ser um fenômeno da consciência social, um dado subjetivo, apesar de originado na realidade objetiva da sociedade e incorporado pela consciência individual de forma mais ou menos automática e acrítica; o que mobiliza, sempre, um certo grau de convicção e tem suas raízes em interesses sociais objetivos ainda que não evidentes imediatamente. 5
  • 58. Os padrões de pensamento, as crenças, os valores e muitas outras atitudes cognitivas, como os paradigmas científicos, por exemplo, freqüentemente são ideologias que, muitas vezes, se apresentam à consciência como se fossem opiniões científicas não ideológicas e assim são acreditadas. A história da ciência está repleta de proposições largamente aceitas e tidas como verdades científicas que, depois, se mostraram falsidades ideológicas; o que demonstra o caráter ideológico de certos conhecimentos tidos como científicos por bons cientistas, tais como o da inferioridade psicológica e biológicas das mulheres e dos negros, a superioridade racial dos arianos, para exemplificar com alguns casos mais gritantes em que a situação sócio-econômica gerou preconceitos extremamente frágeis do ponto-de-vista lógico, mas que foram incorporados acriticamente como se fossem verdadeiros e científicos por muitas pessoas, inclusive cientistas bastante reputados. E, como se sabe, uma das características das ideologias com êxito é que elas só são reconhecidas como tais em uma reflexão posterior. É importante ter sempre presente qua as ideologias bem sucedidas são sempre transparentes. Isto é, não são reconhecidas como tal pela consciência, senão depois que seus efeitos já não são necessários e ela é abandonada ou substituída. Ética e Ideologia Os dispositivos éticos são construções conceituais que correspondem a valores sociais que pretendem estar postos a serviço da sociedade. Todo princípio ético e, principalmente, todo sistema ético, vem a ser uma construção ideológica. 5
  • 59. Os princípios éticos, os valores sociais e as regras morais, como acontece com todas as normas sociais e com a maioria dos instrumentos de controle social, devem ter, por definição, carácter basicamente ideológico. Como acontece a todos os valores criados no decorrer da evolução histórico-social, a moral e a ética da humanidade (mesmo a ciência); são fenômenos ideológicos ou fortemente vulneráveis à ideologização pela sua própria natureza de valores culturais, e de valores culturais normativos e diretores da conduta. Deixando de lado todas as teorias sobre a ideologição dos construtos culturais, a relação entre ética e ideologia parece saltar ante os olhos de quem estuda este tema. Talvez as crenças e os valores sejam os dados da consciência (individual ou social) mais sujeitos à influência ideológica. E a ética é, essencialmente, uma mescla dinâmica de crenças e valores. Alguns aspectos valiosos das manifestações ideológicas das normas éticas são: quais as pessoas às quais se aplicam, quais as circunstâncias que influem em sua aplicação e qual a maior ou menor tolerância ou intolerância da cultura frente ao seu cumprimento ou descumprimento. Eficácia da Ideologia Objetivamente, as ideologias podem ser úteis ou inúteis (em termos de utilidade ou de pragmaticidade); podem ser eficientes ou ineficientes (eficiência, como atingir o objetivo otimizando a relaçáo custo-benefício); podem ser eficazes ou ineficazes (eficácia como capacidade de atingir o objetivo). Mas, é necessário que se tenha presente que as ideologias, por definição, sempre têm alguma utilidade, ao menos na ocasião em que foram construídas. E essa utilidade é definida por alguma necessidade social, a necessidade social que a motivou. 5
  • 60. Diz-se que uma ideologia é eficiente, quando ela atende a necessidade social que a fez surgir. E que é eficaz, quando faz isto do modo mais rápido e econômico possível (considerando-se o seu custo social). O custo social de uma ideologia deve levar em conta, não apenas os recursos materiais, humanos e financeiros investidos em sua produção, difusão e incremento, mas os prejízos sociais que acarreta. Por exemplo, a ideologia inquisitorial (não só na santa inquisição da igreja católica, mas outras, como o marcatismo no Estados Unidos e as inquisições das ditaduras militares na América latina) sempre representa um custo social tão alto que raramente resulta eficaz. Levando tudo isto em conta, pode-se afirmar que as ideologias podem ser consideradas como bem sucedidas quando: a) alcançam plenamente seus objetivos, b) permanecem invisíveis, mesmo para seus cultores, não sendo reconhecidas como ideológicas, confundido-se com o melhor conhecimento da época e mobilizando convicção, c) para isto, são construídas, em geral, com as informações mais modernas, verossímeis e avançadas, empregando os modelos e paradigmas científicos mais atualizados em uma determinada cultura, uma vez que se destinam a refletir, na subjetividade dos homens, as condições objetivas de sua existência social, de suas necessidades materias e de seus interesses culturais, tendo como objetivo preservar os interesses dominantes naquele macro-sistema social. 6