1) O documento discute a sistematicidade das teorias científicas e a importância de estruturar conceitos e proposições de forma lógica e coerente.
2) É definido que sistemas teóricos são estruturas unitárias de conceitos, categorias, leis e princípios que formam uma unidade coerente em relação ao objeto de estudo de uma ciência.
3) Discutem-se os requisitos para que um conjunto de doutrinas seja considerado um sistema teórico, ainda que incompleto, e a importância
1. Fundamentos Epistemológicos da Medicina
SISTEMATICIDADE DAS TEORIAS
Luiz Salvador de Miranda Sá Jr.
Não basta que uma ciência ou qualquer outra produção científica,
disponha de uma massa crítica razoável de conceitos e categorias
verossímeis; nem é suficiente que reúna e possa construir proposições
científicas razoavelmente válidas e fidedignas, também é indispensável
que possa reunir estes conceitos e proposições em um estrutura lógica e
harmônica para explicar seu objeto e prever os fatos que lhe devem
acontecer, como com as teorias da ciência. Este último requisito,
configura a sistematicidade da ciência. Qualidade reconhecida como uma
exigência essencial de todo conhecimento científico.
A exigência de sistematicidade científica impõe que os conceitos da
ciência estejam suficientemente estruturados aptos a construir
proposições; que disponha de um corpo de leis que lhe permita
construções teóricas.
No início deste capítulo, os sistemas lógicos (sistemas doutrinários,
teorias ou sistemas teóricos) foram definidos como estruturas unitárias de
conceitos, categorias , leis e princípios que configuram uma unidade
sistêmica coerente, tanto do ponto de vista interno quanto externo,
naquilo que refere ao objeto de uma ciência ou a um segmento bem
definido dele. Ali também se propõe designar de sistemas teóricos ou
teorias aos sistemas lógicos incompletos, nos quais nem todos os
componentes estejam comprovados, mas possam ser razoavelmente
inferidos. Embora muitos prefiram designar sistemas lógicos aos sistemas
teóricos formais e sistemas teóricos às teorias factuais.
2. Os sistemas teóricos são sempre construções intelectuais que resultam
do trabalho intelectual ou científico. De um ponto de vista mais atual e
rigoroso, uma teoria é um sistema dedutivo de conceitos, categorias, leis
e princípios obtidos a partir de fatos observados e tendo, ao menos,
suas hipóteses fundamentais comprovadas por uma metodologia
cientificamente aceitável e reprodutível. Uma teoria é uma configuração
que busca circunscrever a totalidade de um sistema teórico provável.
Sistema teórico ou teoria são conceitos sinônimos da Filosofia do
Conhecimento Científico que podem ser definidos, de maneira
suficientemente exigente para satisfazer aos requisitos científicos, como
conjunto de doutrinas que formam um todo organizado e, na maior parte
dos casos, perfeitamente harmônico como configuração teórica, ainda que
permaneça inacabado e incompleto, ao menos, do ponto de vista de
suas possibilidades de desenvolvimento e da comprovação de todos os
seus elementos.
A existência de um corpo de conhecimentos sobre seu objeto que possa
ser reconhecido como suficientemente amplo e coerente para que seja
denominado um sistema lógico ou um sistema teórico é um componente
essencial à exigência de sistematicidade para tipificar a atividade
científica no plano das teorias. O que vai se delinear na estrutura da
linguagem daquela ciência: sua terminologia, sua sintaxe e a consistência
de seus enunciados particulares e sistemas teóricos. De certa forma,
uma ciência é a sua linguagem, especialmente a estrutura do seu
vocabulário e a organização de seus juízos e raciocínios.
Contudo, esta exigência formal da ciência para a formulação das teorias
não acontece na Psicologia e na Psiquiatria, por diversas razões, como
já se mencionou. E, parece certo, o primeiro passo para atender a esta
exigência de sistematicidade científica será a construção de uma
3. terminologia, um vocabulário que expresse, ao menos, os conceitos
psicológicos e psiquiátricos mais elementares e mais significativos de
modo a permitir a elaboração de teorias comprováveis.
Uma deformação da atividade científica que denota grave
comprometimento da sistematicidade em seu arcabouço doutrinário com
evidente prejuízo de cientificidade de sua produção. Neste caso, o
sistema teórico costuma ser bem organizado, seus conceitos estão
hierarquizados, bem estruturados e a coerência interna do corpo
doutrinário pode ser impecável; seu defeito reside, principalmente, na
elaboração do raciocínio. Que consiste no seguinte: num primeiro
momento, levantam-se algumas hipóteses, dispensando-se de comprová-
las naquele momento; um pouco ou muito adiante, estas hipóteses são
invocadas, como se fossem fatos comprovados. A invalidade das
premissas fundamentais (hipóteses, suposições ou especulações tomadas
como fatos) compromete as conclusões resultantes de sua elaboração.
Consiste em interessante exercício, avaliar muito do que se publica em
psiquiatria e psicologia buscando diagnosticar estes recursos infratores do
princípio da sistematicidade da produção científica. E uma das finalidades
deste trabalho, talvez a mais importante, seja instrumentar o estudante
para permitir-lhe fazer isto.
Por tudo isto, por mais que se possam fazer objeções aos programas
nosográficos (como os DSM e as CID), restam-lhes a inegável vantagem
de permitirem a unificação da linguagem dos psiquiatras e lhes permitir
melhor conhecimento da realidade epidemiológica e necessidades
assistenciais.
Neste terreno, com em outros trabalhos deste autor, denuncia-se outro
tipo de infração técnica à exigência de sistematicidade muito praticada
em textos técnicos de Medicina (mas, muito especialmente de psicologia
4. e psiquiatria), que consiste no seguinte: conceitos mais ou menos
definidos, mais ou menos comprovados, mas também mais ou menos
preconcebidos, são misturados a assertivas sem qualquer evidência de
realidade, reunidas ao sabor dos interesses, imaginação ou crenças de
seus autores; estes, findam por utilizar tal amontoado de dados para
fundamentar conclusões que não poderiam deixar de ser insubsistentes
e, frequentemente, sem qualquer compatibilidade mesmo entre sí ou com
a realidade, guiados unicamente pela intenção pré-estabelecida de
comprovar” suas opiniões pré-existentes. Este amontoado de ideias
resulta em um aglomerado que não pode ser chamado sistema, porque
desarmônico, mal-estruturado e, frequentemente, inestético (além de
aético) mas que é invocado muitas vezes, sem qualquer consideração
pela inteligência, pelo bom gosto, pelo conhecimento ou, até mesmo,
pelo senso comum do leitor; apresentado como se fosse coisa séria,
como se fosse produção científica.
Muita literatura psicológica, muito do que se escreve ou se propaga
acerca de numerosos aspectos da psicologia (incluindo a psicoanálise),
da psiquiatria e da antipsiquiatria, padece deste defeito original, que não
pode e não deve ser minimizado em nome de possíveis boas intenções
originais, mesmo quando este for o caso.
5. O CONHECIMENTO:
SISTEMA COGNITIVO OU SISTEMA
LÓGICO
DE INFORMAÇÕES
Em geral, o processo de construção, aperfeiçoamento e conservação dos
conhecimentos não se dá de maneira casual ou aleatória. Tão pouco, se
adquirem conhecimentos de modo mecânico, como a acumulação e
armazenamento de objetos em um recipiente, o registro de informações
em uma folha de papel, a gravação de dados em meio magnético como
um disco de computador ou o reflexo da realidade em um espelho. Os
conhecimentos, mesmo os menos complexos, se estruturam como
sistemas ativos e dinâmicos, lógicos e psicológicos, sujeitos, como
quaisquer outros sistemas, às suas próprias regras e às leis genéricas
dos sistemas. (von Bertalanffy, L., Teoria Geral dos Sistemas, Ed. Vozes,
Petrópolis, 1977.)
O conceito de sistema não é, na verdade, pacífico ou tão simples como
se mostra aqui em uma versão deliberadamente simplificada.
O conhecimento científico se organiza como um grande sistema lógico,
com seus sub-sistemas. A sistematicidade é uma exigência geral a toda
estrutura de conhecimento que possa ser chamada de científica. Todo
conhecimento, sobretudo o conhecimento científico, pode, sempre, ser
estudado como um sistema lógico. Quer se trate de uma estrutura de
obter saber, quer se trate do resultado produzido, o saber obtido. Uma
estrutura de produzir conhecimento ou um sistema de conhecimentos.
6. A ideia de conhecimento como um sistema simultaneamente lógico e
psicológico impõe a necessidade de uma breve revisão acerca dos
elementos mais essenciais do conceito de sistema, de modo a permitir
sua aplicação tanto no entendimento dos procedimentos cognitivos,
quanto no estudo da estruturação do resultado destes procedimentos.
Como o conhecimento comum e, mais ainda, o conhecimento científico
podem ser tidos como sistemas de ideias, parece importante fazer uma
breve revisão da noção de sistema e verificar sua aplicabilidade ao
processo de conhecimento.
O estudo dos sistemas e da teoria geral dos sistemas é dos aspectos
mais fascinantes e mais importantes do conhecimento atual, tão grande é
sua influência no saber contemporâneo. Tão importante tem se tornado
sua influência que há quem divida o mundo do conhecimento em dois
momentos: antes e depois da teoria geral dos sistemas. Ainda que se
saiba que a noção de sistema é bastante anterior à formulação da
Teoria Geral dos Sistemas, em meados da primeira metade deste século,
como há de se ver logo adiante.
Sistema e Sistematicidade
O desenvolvimento da noção de sistema e o reconhecimento de sua
utilidade para o conhecimento científico são das maiores conquistas
7. cognitivas deste século e propiciador de recursos conceituais essenciais
para o desenvolvimento científico. Por isto, merece atenção especial aqui.
Sistema é a organização de um conjunto mais ou menos complexo de
elementos que mantêm conexões entre si por meio de interações
recíprocas de suas características essenciais; os sistemas e seus
componente em interação se integram em uma unidade hierarquizada e
interdependente, obedecendo, todos, a uma única lei. Cada componente
de um sistema qualquer pode ser um subsistema com identidade própria,
coordenado com outros que se situem em seu nível hierárquico ou
congregando outros sistemas que lhe sejam subordinados como
elementos seus.
A noção de sistema parece tão importante para o estudo do
conhecimento científicos da atualidade que é cada vez maior o número
daqueles que dividem a ciência em dois momentos qualitativamente
diferentes: antes e depois da teoria geral dos sistemas proposta por von
Bertalanfy nos anos trinta, mas só divulgada depois da Segunda Guerra
Mundial.
Os componentes dos sistemas podem ser extremamente simples ou
muito complexos, integrando diversos níveis de subsistemas; também
podem apresentar variados grau de estabilidade temporal.
Sistematicidade é a qualidade de tudo aquilo que é sistêmico, do que se
configura como um sistema de qualquer natureza. A sistematicidade que
está implícita nos processos naturais, sociais, lógicos e psicológicos
estruturados impõe a todos os cientistas e a todas as pessoas cultas a
necessidade de se estudar e entender cada vez mais sobre a teoria dos
sistemas. (Bertalanffy, L. von, Teoria Geral dos Sistemas, Ed. Vozes,
Petrópolis, 1968.)
8. A noção de sistematicidade interessa a todas as áreas do saber, uma
vez que os sistemas podem ser classificados em sistemas naturais
(físicos, químicos e biológicos), sistemas sociais e sistemas lógicos. Na
interseção destes, situam-se os sistemas psicológicos e os sistemas
teóricos factuais.
O conhecimento inteligente é, por sua própria natureza, uma estrutura
lógica e dinâmica de ideias, por isto, pode ser caracterizado como
dotado de sistematicidade.
Os sistemas teóricos das ciências factuais são estruturas lógicas
construídos pela integração intercomplementar de conceitos, categorias,
juízos e leis, organizados como uma estrutura de informações acerca de
um objeto específico e que devem refletir, em seu âmbito e o mais
exatamente possível, as leis que regem a organização dois sistemas em
geral, sobretudo aquela que afirma que todo sistema se caracteriza por
obedecer a uma única lei geral que o alcança inteiramente.
@DEF2 = Um sistema pode ser composto por um número bastante
variável de estruturas interdependentes que se organizem segundo uma
certa ordem de sucessão ou obedeçam a uma localização espacial
particular. A natureza é um sistema extremamente complexo, composto
por imensa rede de subsistemas de níveis e ordens infinitamente
decrescentes; o organismo também é um sistema complexo, contendo
subsistemas compostos por outros sistemas (análogos aos sucessivos
níveis e as ordens de organização dos sistemas da natureza, por
exemplo). Os menores sistemas possíveis contêm dois elementos. O par
(conjunto interativo de dois elementos sistêmicos) é, pois, o menor dos
sistemas sociais conhecidos; como o juízo é o menor dos sistemas
lógicos (relação asseverativa de dois conceitos, o sujeito e o objeto do
juízo).
9. Sabe-se que os sistemas naturais obedecem às leis gerais dos sistemas,
além de estarem subordinadas às leis naturais de seu nível de
organização da natureza; também se sabe que os achados específicos
referentes a cada um destes níveis de sua organização não podem ser
transpostos para os demais, sem grave risco de distorção e de
invalidade para suas conclusões. Mas que as leis gerais dos sistemas
são aplicáveis em todos os níveis de organização natural. Isto é, no
mundo, tudo aquilo que é sistêmico, pode ser explicado e previsto a
partir das leis dos sistemas. Inclusive que cada segmento da natureza
deva estar submetido às mesmas leis e que estas não possam ser
transpostas mecanicamente para outros estratos.
O conhecimento das propriedades heurísticas dos sistemas inspirou e
norteou a instituição da classificação como instrumento de investigação
científica, como foi a classificação biológica de LINEU, que considerava a
natureza como um grande sistema composto por subsistemas de níveis
cada vez menos elevados.
PLATÃO, ARISTÓTELES e KANT descreveram o conhecimento como se
fosse um sistema estruturado, ainda que este conceito científico de
sistema só tenha surgido no século XX. No entanto, é preciso saber que
o conhecimento sobre a teoria dos sistemas, bem como o conhecimento
filosófico, são incapazes de substituir os estudos científicos específicos. A
sistematicidade assinala a forma do conhecimento científico.
A noção de sistematicidade deve ser considerada hoje como uma das
exigências essenciais para a caracterização do conhecimento científico.
O conceito de sistema interage e se confunde com a noção de estrutura.
O conceito de sistema parece ser necessário para entender a noção,
mesmo pré-estruralista (anterior a LEVY-STRAUSS), (Câmara, J.MJr., O
Estruturalismo Linguístico, Revista Tempo Brasileiro, 15/16, Rio, s/d, p.
10. 5.) de estrutura com o qual frequentemente se confunde (pois, todo
sistema é uma estrutura dinâmica).
Por isto, a noção de estrutura necessita do conceito de sistema. Uma
estrutura pode ser definida como disposição ordenada dos elementos
interdependentes que compõem uma totalidade organizada; (Thines, G. e
Lempereur, A.G., op. cit.) ou a elementos organizados no interior de um
sistema que constituem uma unidade de conexões estáveis, assim como
das leis que regem estas conexões; (Dicionário de Filosofia. op. Cit.) ou,
ainda, a configuração das relações dos elementos que estejam situados
no interior de um sistema.
O método de classificação utilizado por PLATÃOcomo instrumento do
conhecimento científico e adotado pelas ciências naturais no século
passado, evidencia o emprego da sistematicidade (de fato, o grau de
sistematicidade contido em um sistema lógico) como critério de
cientificidade (Prado, C. Jr., Dialética do Conhecimento, 6a. edição, Ed,
Brasiliense, S.Paulo, 1980, p. 168.) e como procedimento avaliador de
um instrumento da metodologia científica. Porque presume a unidade
sistêmica do ente classificado e, por isto, a possibilidade de descobrir a
explicação de sua essencialidade e conteúdo a partir do rearranjo de
suas partes e da identificação das principais interconexões internas que
intermediam as relações estáveis entre seus componentes.
O grau de sistematicidade de um conjunto taxonômico é um dos
elementos lógicos mais importantes para caracterizar sua cientificidade,
isto é seu significado para explicar e prever acontecimentos com certa
segurança. A credibilidade científica de uma classificação é dada por sua
sistematicidade. E sua sistematicidade, em todos os casos, resulta da
presença das três características gerais de todos os sistemas.
11. Conhecem-se três características essenciais de todos os sistemas. Para
CORBISIER, (Corbisier, R., Enciclopédia Filosófica, Ed. Vozes, Petrópolis,
1974, p. 182) o conceito de sistema é composto por três noções
essenciais, sendo todas indispensáveis ao seu entendimento: a
totalidade, a unidade e a interdependência.
= a noção de totalidade, pressupõe a existência das partes, que são
seus elementos componentes, mas sua função integrada é sempre mais
que a soma de suas partes integrantes;
= a noção de unidade pressupõe sempre um certo grau de organização
e hierarquização dos seus componentes numa configuração única que
garante a individualidade ou a identidade da coisa a que se refere; e
= a noção da interdependência se encontra estreitamente vinculada à
interação e interrelação de todas as suas as partes, como se relacionam
seus componentes.
Estes três elementos fundamentais contidos no conceito de sistema e
que se estruturam na configuração de todos os sistemas reais, quando
considerados do ponto de vista da teoria do conhecimento e da teoria
geral dos sistemas, apontam para três pares de categorias lógicas que
estão sempre presentes no núcleo do conceito de sistema e que vão ser
importantes quando se tiver que considerar a sistematicidade de um
sistema teórico como índice de cientificidade.
Tais categorias lógicas presentes em todos os sistemas são: o todo e a
parte, a unidade e a pluralidade, a dependência e a autonomia. Sendo
importante considerar cada uma delas quando se promover a avaliação
do grau de sistematicidade de uma teoria científica (o que não abrange
apenas sua coerência ou consistência interna, mas sua compatibilidade
com a realidade que pretende retratar.
12. Totalidade Sistêmica
O conceito de totalidade sistêmica não pode ser entendido senão como
um aspecto particular da totalidade como conceito da filosofia da ciência.
A totalidade deve ser entendida, sempre, como a configuração do todo
completo resultante da reunião de suas partes em sua ordem; a
totalidade dos elementos que compõem um todo integral; também
presume a intercomplementação e a perfeita disposição de todas as
partes que a compõem, mas a configuração completa de todos os
elementos é sua característica mais importante. Todo sistema possui leis
próprias que determinam sua totalidade. Não há sistema sem isto.
A noção de totalidade se identifica com a categoria filosófica de todo,
do que é geral. Enquanto que a categoria filosófica de parte abrange as
particularidades (subconjuntos ou subsistema homogêneos) e os
elementos específicos individuais.
Tudo que tem partes diferenciáveis se configura como uma totalidade,
mas num sistema, a totalidade segue as mesmas leis.
A noção de totalidade é completamente indispensável para quem lida
com conceitos, objetos ou fenômenos que possam ser subdivididos em
partes constituintes.
O entendimento da totalidade sistêmica como característica essencial de
um sistema é essencial para seu entendimento, mesmo que ele integre
outro sistema de nível mais elevado, constituindo-se em subsistema
como parte de uma outra totalidade situada em um nível superior da
organização natural, social ou lógica; pois cada sistema há de ser
entendido como uma totalidade particular.
13. No entanto, deve-se ter presente que o conceito de totalidade aplicado a
um sistema, o que se chama totalidade sistêmica, não se resume a uma
noção quantitativa de soma das partes, ou sua reunião mais ou menos
casual no espaço, mas de uma organização hierarquizada delas em
razão de suas funções, porque o conceito de totalidade sistêmica implica
na noção de comunidade entre as partes em interação, e se refere à
ação recíproca que se dá entre os elementos que compõem a totalidade
sistêmica.
Uma da mais importantes contribuições do conhecimento dos sistemas à
ciência, sobretudo à Psicologia Social, é o conhecimento estabelecido de
que o valor da totalidade sistêmica ultrapassa a importância da soma de
suas partes, exatamente em função das relações que existem entre elas.
Esta noção da importância desempenhada pelas relações objetivas que
se estabelecem entre os elementos de um sistema ou de um processo
em sua finalidade e em seu desenvolvimento é uma das dimensões mais
importantes e mais pertinentes da Filosofia da ciência, mas não cabe
nos limites postos pelos propósitos deste trabalho.
A totalidade sistêmica inclui a noção de que ele é sempre mais ou
menos fechado (ainda que possa se alimentar de matéria ou energia
proveniente do exterior e excluir os resultados de sua atividade), mas se
configura sempre como uma estrutura de limites definidos. A noção de
sistema aberto é uma referência a esta abertura para o exterior. Um
sistema aberto é aquele que efetua algum tipo de troca com o exterior.
A melhor sistematização dos sistemas é a que os apresenta como
estáveis e instáveis, considerando a duração de seu funcionamento mais
ou menos regular.
14. Unidade Sistêmica
Outra característica essencial dos sistemas é a unidade sistêmica. A
unidade de qualquer coisa, como conceito da Filosofia da ciência, pode
ser entendida como uma configuração completa obtida pela reunião de
suas partes, seus componentes ou suas sub-unidades.
A questão da unidade das coisas (principalmente das mais ou menos
complexas) é uma das mais importantes da filosofia do conhecimento,
sobretudo, quando se considera sua implicação na teoria dos sistemas.
Quando se estuda os sistemas, é preciso saber que sua unidade não
deve resultar apenas da coexistência, casual ou intencional, de seus
elementos (ou componentes) em um mesmo lugar do espaço, como
acontece na linguagem comum. A simples reunião de diversas coisas em
um local não caracteriza uma unidade sistêmica porque a unidade
sistêmica resulta sempre da configuração de elementos interdependentes
articulados.
@DEF = A noção de unidade se confunde com a de individualidade ou,
mesmo, de identidade garantida pela articulação dos elementos da
totalidade. Todo sistema muda apreciavelmente se sua unidade é
comprometida, isto é, quando dele é retirado algum componente ou este
é substituído por outro, diferente.
O conceito de unidade pode ser entendido de três maneiras diferentes:
= a) de uma maneira mecanicista, pode-se entender uma unidade como
mera justaposição mecânica de componentes em uma totalidade (como
os passageiros de um ônibus, os passantes em uma calçada, os
assistente de um espetáculo artístico ou esportivo);
= b) um segundo sentido consiste em considerar a unidade como a
completa identidade, excluindo-se todas as diferenças (como a unidade
fundamentalista de natureza política ou religiosa);
15. = c) de uma maneira sistêmica e dialética, pode-se considerar a unidade
como a vinculação dinâmica e interior da identidade e da diferença (a
interdependência decorrentes de atributos essenciais dos componentes).
O estudo da unidade sistêmica obriga a considerar a questão das
categorias lógicas de qualidade e quantidade. Não é possível fazer
ciência para além da descrição se na forem usadas estas categorias.
Nas totalidades não-sistêmicas apenas quantitativas, como os livros
arrumados em uma biblioteca ou uma lista de enfermidades em uma
tabela nosográfica, sua unidade não é determinada por algo que é
interior ao próprio conjunto, não depende de sua estrutura ou da
configuração interna de seus elementos; mas resulta de algo que lhe é
exterior, porque os elementos ou partes que constituem estas totalidades
não estão articulados em função de características essenciais e internas
em relação à estrutura considerada, sua unidade depende unicamente de
qualidades mais ou menos acidentais, exteriores e contingentes em
relação à sua essência. Nestes conjuntos, diz-se que sua unidade é
contingente; não é uma unidade necessária.
@DEF = Nos conjuntos que não têm unidade necessária, mas uma
unidade contingente, sua reunião espacial (ou outra) quase sempre é
arbitrada exclusivamente pelo interesse de quem os reuniu e não por
características essenciais suas. Nos sistemas a unidade de seus
elementos é sempre necessária.
Necessário é aquilo que não pode ser de outra maneira, que é
indispensável e se refere à essência e ao conteúdo de uma coisa; um
acontecimento inevitável; algo que tem que acontecer. Contingente é
tudo que é concebido como podendo ser ou não, acontecer ou não, tudo
o que não se refere à essência ou pode ser algo que se não refira ao
16. conteúdo de uma coisa, mas apenas à sua forma ou aparência; tudo o
que se opõe ao necessário. Um objeto ou fenômeno qualquer pode ser
necessário em um processo (ou em um determinado momento de um
processo) e contingente em outro processo ou outras circunstâncias.
Por esta razões, existem totalidades e conjuntos que não são sistemas.
A unidade, embora seja indispensável ao conceito de sistema, tampouco
lhe é essencial, porque, se bem que todo sistema seja necessariamente
uma unidade, nem toda unidade é um sistema. Pois, quando a unidade
de um conjunto não é derivada de uma característica que lhe seja
interior e necessária, mas resulta de atributos exteriores e contingentes,
como a conjugação espacial de seus elementos, e não é determinada
por alguma característica essencial de sua natureza ou de sua essência,
mas de algo que lhe é exterior, como a vontade, o senso estético, a
utilidade ou algum outro interesse de quem a organizou, ela poderia
muito bem ser outra, se aquilo que foi sua motivação assim o
determinasse. Por tudo isto, as noções de totalidade e de unidade,
embora essenciais ao conceito de sistema, não bastam, por si mesmas,
para caracterizar e possibilitar definir o que é um sistema.
A unidade e a totalidade sistêmica configuram seus limites espaciais ou
funcionais e o grau de continuidade ou descontinuidade que existem
entre os componentes dos sistemas.
@DEF = Os sistemas processam qualquer combinação destes três
elementos: energia, matéria e informação.
Os sistemas podem ser chamados abertos (quando necessitam manter
algum tipo de intercâmbio com o meio, principalmente em termos de
troca de matéria, energia ou informação) ou fechados, quando não
necessitam receber matéria, energia ou informação do exterior.
17. Outra forma de classificar os sistemas, segundo o grau de enticidade
real de seus componentes, pode ser ordenando-os em sistemas reais ou
sistemas concretos (quando os sistemas correspondem a entidades
existente na realidade, como acontece com os organismos, as células, as
nosologias que agrupam enfermidades); sistemas nominais (quando
correspondem a sistemas lógicos, entes que existem apenas no campo
conceitual, não tendo existência real, como as nosografias que agrupam
conceitos, diagnósticos); e sistemas combinados que reunam
características dos dois primeiros. Muitos dos sistemas psicossociais
podem ser considerados enquadrados neste último grupo.
Entre os sistemas reais, é possível reconhecer: fisiossistemas,
quimiossistemas, biossistemas, sociosisstemas, tecnosistemas.
Interdependência Sistêmica
Os conjuntos só formam um sistema quando seus elementos
componentes, além de configurarem uma totalidade e uma unidade,
forem interdependentes por estarem reciprocamente articulados e
interdependentes, uns em relação aos outros. Todos os sistemas se
configuram a partir da organização interdependente de seus elementos
(que pode ser linear unidirecional ou recíproca).
A noção de interdependência sistêmica obriga, preliminarmente, ao
reconhecimento do carácter dinâmico da estrutura a que se aplica. Todo
sistema deve ser reconhecido como uma estrutura dinâmica.
Por causa desta exigência necessária, a lista dos livros de uma
biblioteca, um rol de roupa para a lavanderia, uma lista nosográfica ou,
mesmo uma lista de nosologias agrupadas em razão de características
18. acidentais ou uma lista de compras para o supermercado, apesar de
serem totalidades, de configurarem uma unidade, não são sistemas
porque lhes falta a necessária interdependência que deve existir entre os
elementos para que se caracterize a unidade sistêmica. Nem basta haver
unidade e totalidade estrutural para que se reconheça ali um sistema. Os
sistemas devem ser estruturas dotadas de unidade e totalidade, mas
também devem ser estruturas dinâmicas nas quais se reconheça a
indispensável interdependência entre seus elementos.
Num sistema, cada elemento singular ou subsistema, deve guardar,
obrigatoriamente, uma relação de interdependência com os demais e não
serem totalidades apenas quantitativas.
A noção de interdependência sistêmica ultrapassa a de interação.
Interação e interrelação são dois conceitos diversos, mas que muitos
confundem indevidamente em seus raciocínios. Ainda que haja totalidade
e unidade, não há sistema no qual não se dê interdependência entre
seus componentes. A estrutura de um sistema é definida pela relação de
seus componentes entre si e pela relação entre estes componentes e o
ambiente.
Interação é a ação que exercem mutuamente entre si duas ou mais
coisas.
Inter-relação (ou interconexão) é o relacionamento ou a mútua influência
entre duas ou mais coisas ou componentes de uma estrutura. A
interpelação pode ser apenas espacial e não influir na ação, como a
interação.
O ambiente de um sistema é o conjunto de coisas concretas que não
integram o sistema mas se relacionam com ele de alguma maneira.
19. @DEF = A interação e a interrelação estão contidas no conceito de
interdependência (dependência recíproca necessária) que se exterioriza
nas categorias de dependência x autonomia dos sistemas, essenciais a
este conceito porque configuram sua organização interna, a estrutura do
sistema.
Na psiquiatria moderna ninguém pode evitar o bombardeio de noções
como sistema classificatório e classificações nosológicas, por exemplo,
para mencionar os DDSSMM e, atualmente, a CID/10. Esta atribuição de
carácter sistêmico a estes instrumentos nosográficos resulta de um
equívoco ou de uma tentativa deliberada de engodo.
Estas listas nosográficas, amplamente empregadas em todo mundo, não
são sistemas (porque carecem da necessária sistematicidade), nem são
classificações heurísticas (as únicas classificações que podem postular o
carácter de instrumentos científicos) porque não são classificações
naturais, embora sejam instrumentos muito práticos para assegurar a
mínima confiabilidade aos diagnósticos psiquiátricos.
A importância que a estabilidade diagnóstica assumiu (para a
credibilidade dos psiquiatras e para facilitar o financiamento do
tratamento pelas empresas seguradoras) obriga a uma breve revisão de
alguns conceitos essenciais, como os de nosologia, nosografia e
nosotaxia, porque, embora conceitos próximos, detêm algumas diferenças.
Reconhecer esta diferenças pode ser importante para um especialista em
psiquiatria porque todos os instrumentos modernos de registro diagnóstico
para fins administrativos são referidos como classificações de a
enfermidades, o que não são.
Embora a CID/10 e os manuais diagnósticos norte-americanos sejam
classificações, em sentido lato, ainda que não sejam classificações
20. cientificamente utilizáveis, mas não se referem a enfermidades, mas a
diagnósticos ou critérios para diagnosticar.
É preciso diferenciar entre os conceitos de nosotaxia, nosologia e
nosografia.
Nosotaxia é como se denomina a uma classificação de enfermidades ou
de diagnósticos de patologias.
Nosologia é a classificação da enfermidades, entendidas como entidades
patológicas explicadas.
Nosografia é a classificação dos diagnósticos e dos elementos descritivos
das patologias.
Em um sistema (seja teórico, físico, biológico, lógico, natural, social,
qualquer outro), sua “sistematicidade” depende essencialmente da
natureza da interconexão e da qualidade da interdependência que se
houver estabelecido entre seus componentes. Em qualquer sistema, a
qualidade da interdependência entre seus elementos é reconhecida a
partir do conhecimento de que tal interdependência se dá através da
conexão de características essenciais, de atributos que desempenhem
papel essencial naquele sistema particular. Nos sistema teóricos
conhecidos como teorias científicas há uma extrema exigência destes
fatores de interdependência que se manifestam no grau de organização
e na hierarquização das partes.
Num sistema nosológico, a interdependência sistêmica há de ser dada
pela natureza essencial do critério que determina a ordenação
sistemática (com o sentido de sistêmica) das entidades clínicas
classificadas. Por exemplo, fator etiológico, mecanismo patogênico.
Quando se faz uma lista alfabética de diagnósticos de enfermidades,
uma nosografia, um catálogo nosográfico, falta-lhe a necessária
21. interdependência de seus componentes para que possa ser considerada
um sistema.
Tensão dos Sistemas
O funcionamento dos sistemas impõe-lhes um certo grau de tensão que
lhe é inerente e assim deve ser entendido, pois nenhum sistema
funciona sem ele, pois é a própria essência do movimento (no mais
amplo sentido deste termo). Este estado de tensão ou pressão<$FO que
inclui aquilo que os dialetas denominam tensão da contradição ou
energia da luta dos contrários ou outras expressões análogas e equivale
ao conceito de ansiedade em psicopatologia.> interior costuma ser
importante para manter a coesão sistêmica e permitir-lhe desempenhar
suas atividades com eficiência e eficácia. Contudo, quando este estado
tensional ultrapassa limites convenientes, pode se dar uma perturbação
ou uma distorção de seu funcionamento.
Exatamente como acontece com os estados de ansiedade nos
comportamentos humanos. Indispensável em quantidades razoáveis,
invalida o desempenho quando passa de limites suportáveis.
@DEF = Em todos os sistemas, seu funcionamento gera um certo grau
de tensão que pode melhorar ou prejudicar seu rendimento.
O antigo conceito de irritação proposto por Broussais para explicar as
doenças psiquiátricas está sendo substituído pelo de estresse. A noção
de estresse se confunde com a de tensão dos sistema operantes, de
eficiência e eficácia funcional, que parecem contribuir para explicar
alguns casos de patologias psíquicas e somáticas nos sistemas orgânicos
e psicológicos. Constitui um interessante campo de investigação o estudo
da tensão nos sistemas sociais e orgânicos.
22. Os conceitos de estresse positivo e estresse patogênico também devem
ser relacionados com esta noção de tensão sistêmica, como conflito de
energias ou tendências opostas na raiz do dinamismo dos sistemas.
O conceito de tensão dos sistemas parece essencial para elucidar e
explicar numerosos problemas da patologia geral e da psicopatologia.
Parece essencial, por exemplo, para estabelecer a ligação entre os
conceitos de psicogênese e estresse, muito necessária para a evolução
da psiquiatria.
Organização e Hierarquia Sistêmicas
A exigência de uma organização hierarquizadas implica em que cada
uma das partes de um sistema não pode ocupar, na totalidade, qualquer
lugar, mas apenas aquele que é determinado pela função que ele
desempenhe no conjunto. A sua própria estrutura particular deve ser
determinada pela função que exerce no sistema, o que equivale a dizer
que o sistema, enquanto totalidade, está presente em todas as suas
partes, determinando a estrutura e a forma de cada uma
delas.<$FCorbisier, R., op. cit. p. 182.>
A natureza da organização e da hierarquia sistêmica, que é uma
característica essencial de sua intercomplementariedade, pode ser física,
natural, social ou lógica, na dependência da natureza do sistema, pois
pode haver sistemas de cada uma destas ordens.
Nos sistemas, quaisquer que for sua classe, seus componentes,
elementos individualizados ou subsistemas, podem estar justapostos no
espaço, como nos sistemas físicos (máquinas ou motores) ou naturais
(organismos vivos); caracterizando-se como sistemas por esta relação de
interdependência. Neles, em geral, não é possível alterar sua ordenação
ou substituir uns pelos outros nas funções que desempenham.
23. Por isto, pode-se inferir que a configuração espacial (ou qualquer outra)
dos elementos sistêmicos é uma característica de sua organização, um
atributo hierárquico que caracteriza aquele sistema. Além da configuração
espacial, a hierarquia dos elementos dos sistemas pode se definir em
termos de coordenação ou de subordinação.
As noções de coordenação e subordinação já foram definidas atrás. No
entanto, é necessário avaliar sua importância em todos os sistemas,
sejam eles sistemas naturais, sistemas lógicos, sistemas psicológicos ou
sistemas sociais. Nos sistemas naturais, a hierarquização é uma
imposição da própria estrutura e ninguém aparece para discutir se o
fígado deveria fazer o papel de rim ou vice-versa. Já nos sistemas
sociais, na medida em que são construções humanas, a necessidades e
as condições de sua hierarquia podem e devem ser discutidas.
Sobretudo, porque devem estar subordinadas às finalidades dos sistemas
e moduladas pelos direitos individuais e sociais.
A interdependência nos sistemas naturais é bastante diversa da que
existe nos sistemas sociais. A ideologia naturalista e biologicista que
tentou explicar a hierarquia dos sistemas sociais humanos estabelecendo
analogias entre eles e os sistemas naturais não conseguiu chegar a
qualquer resultado convincente e findou por se revelar um esforço
ideológico para consagrar e legitimar desigualdades sociais.
Analogamente, as pretensões igualitárias que recusam quer
hierarquização nos sistemas sociais e pretendem toda autoridade e
subordinação como desumanas, também não conseguiram comprovar
suas hipóteses basilares. Provavelmente ambas fracassaram porque se
originaram em pressupostos apriorísticos incomprováveis; no primeiro
extremo, na concepção cristã do homem mau (necessitado de disciplina
e de castigo) e, no outro extremo, no extremo jacobino, o mito
ideológico igualitarista do homem bom, ainda que eventualmente
corrompido pela sociedade por causa injustiça e da desigualdade
24. reinante entre as pessoas. Estas duas tendências se evidenciaram
parciais e ideologizadas, sendo provável que a verdade se situe em
algum ponto intermediário entre elas.
@DEF = Desta rápida súmula sobre algumas informações essenciais
sobre a teoria dos sistemas, pode-se depreender pelos menos duas
conclusões: a) que não basta uma coleção, ainda que numerosa, de
conhecimentos, mesmo verdadeiros, para caracterizar um sistema
científico, um sistema teórico ou um sistema racional; b) a existência de
um sistema depende fundamentalmente de que a
intercomplementariedade de seus elementos se dê a partir das conexões
de propriedades ou atributos essenciais de seus componentes.
A noção de sistema, ainda que não muito bem estruturada, e muitas de
suas consequências lógicas, como a subordinação da forma à função,
por exemplo, são antigos conhecidos das ciências médicas desde a
velha Grécia, tendo emprestado notável contributo aos conhecimento de
anatomia e, principalmente, por suas inferências no avanço da fisiologia
e da fisiopatologia, ao longo de toda sua história.
Recentemente, o conhecimento destas noções referentes aos sistemas
têm se mostrado muito valioso no estudo das estruturas sociais, como
grupos (inclusive as famílias), instituições, organizações e comunidades,
quer sejam considerados como objeto de investigação que busca explicar
sua dinâmica, quer seja considerado para orientar os procedimentos de
intervenção política ou sócio psicológica, sobretudo os de natureza
preventiva sobre os sistemas sociais.
O processo de construção de um sistema cognitivo, uma teoria científica,
como se chama o conhecimento que se tem sobre alguma coisa ou
algum fenômeno, se dá como uma elaboração mais ou menos complexa
que se desenvolve em patamares inter-relacionados, mas mais ou menos
definidos, como se verá a seguir.
25. O CONHECIMENTO: SISTEMA COGNITIVO OU SISTEMA LÓGICO DE
INFORMAÇÕES
Em geral, o processo de construção, aperfeiçoamento e conservação
dos conhecimentos não se dá de maneira casual ou aleatória. Tão
pouco, se adquirem conhecimentos de modo mecânico, como a
acumulação e armazenamento de objetos em um recipiente, o registro de
informações em uma folha de papel, a gravação de dados em meio
magnético como um disco de computador ou o reflexo da realidade em
um espelho. Os conhecimentos, mesmo os menos complexos, se
estruturam como sistemas ativos e dinâmicos, lógicos e psicológicos,
sujeitos, como quaisquer outros sistemas, às suas próprias regras e às
leis genéricas dos sistemas.<$Fvon Bertalanffy, L., Teoria Geral dos
Sistemas, Ed. Vozes, Petrópolis, 1977.>
@COMENT = O conceito de sistema não é, na verdade, pacífico ou tão simples
como se mostra aqui em uma versão deliberadamente simplificada.
@DEF = A sistematicidade é uma exigência geral a tudo que é cognitivo.Todo
conhecimento, sobretudo o conhecimento científico, pode, sempre,ser estudado
como um sistema lógico. Quer se trate de uma estrutura
de obter saber, quer se trate do resultado produzido, o saber obtido.Uma
_estrutura_ de produzir conhecimento ou um _sistema_ de
conhecimentos.@DEF2 = A ideia de conhecimento como um _sistema_
simultaneamentelógico e psicológico impõe a necessidade de uma breve
revisãoacerca dos elementos mais essenciais do conceito de sistema, de modoa
permitir sua aplicação tanto no entendimento dos procedimentoscognitivos,
quanto no estudo da estruturação do resultado destesprocedimentos. Como o
conhecimento comum e, mais ainda, o conhecimentocientífico podem ser tidos
como sistemas de ideias, parece importantefazer uma breve revisão da noção
de sistema e verificar suaaplicabilidade ao processo de conhecimento.
@DEF2 = O estudo dos sistemas e da teoria geral dos sistemas é dosaspectos
mais fascinantes e mais importantes do conhecimento atual,tão grande é sua
26. influência no saber contemporâneo. Tão importantetem se tornado sua influência
que há quem divida o mundo do conhecimentoem dois momentos: antes e
depois da teoria geral dos sistemas. Aindaque se saiba que a noção de sistema
é bastante anterior Àformulaçãoda Teoria Geral dos Sistemas, em meados da
primeira metade deste século,como há de se ver logo adiante.
@MINOR HEADING = Sistema e Sistematicidade
@INICIALGR = O desenvolvimento da noção de sistema e o reconhecimentode
sua utilidade para o conhecimento científico são das maioresconquistas
cognitivas deste século e propiciador de recursos conceituaisessenciais para o
desenvolvimento científico. Por isto, merece atençãoespecial aqui.
_Sistema_ é a organização de um conjunto mais ou menos complexode
elementos que mantêm conexões entre si por meio de interaçõesrecíprocas de
suas características essenciais; os sistemas e seuscomponente em interação se
integram em uma unidade hierarquizadae interdependente, obedecendo, todos,
a uma única lei. Cada componentede um sistema qualquer pode ser um
subsistema com identidade própria,coordenado com outros que se situem em
seu nível hierárquico ou congregandooutros sistemas que lhe sejam
subordinados como elementos seus.
@COMENT = A noção de sistema parece tão importante para oestudo do
conhecimento científicos da atualidade que é cada vez maioro número daqueles
que dividem a ciência em dois momentos qualitativamentediferenctes: antes e
depois da teoria geral dos sistemas propostapor von Bertalanfy nos anos trinta,
mas só divulgada depois da SegundaGuerra Mundial.
Os componentes dos sistemas podem ser extremamente simples ou
muitocomplexos, integrando diversos níveis de sub-sistemas; também
podemapresentar variados grau de estabilidade temporal._Sistematicidade_ é a
qualidade de tudo aquilo que é sistêmico, doque se configura como um sistema
de qualquer natureza. A sistematicidadeque está implícita nos processos
naturais, sociais, lógicos e psicológicosestruturados impõe a todos os cientistas
e a todas as pessoascultas a necessidade de se estudar e entender cada vez
mais sobrea teoria dos sistemas. <$FBertalanffy, L. von, Teoria Geral dos
Sistemas,Ed. Vozes, Petrópolis, 1968.>
@DEF = A noção de sistematiciade interessa a todas as áreas dosaber, uma
vez que os sistemas podem ser classificados em sistemasnaturais (físicos,
químicos e biológicos), sistemas sociaise sistemas lógicos. Na intersecção
destes, situam-se os sistemaspsicológicos e os sistemas teóricos factuais.
@COMENT = O conhecimento inteligente é, por sua própria natureza, uma
estrutura lógica e dinâmica de ideías, por isto, pode ser caracterizadocomo
dotado de sistematicidade.
Os sistemas teóricos das ciências factuais são estruturas lógicasconstruídos
pela integração intercomplementar de conceitos, categorias,juízos e leis,
organizados como uma estrura de informações acercade um objeto específico e
que devem refletir, em seu âmbito e o maisexatamente possível, as leis que
regem a organização dois sistemasem geral, sobretudo aquela que afirma que
todo sistema se caracterizapor obedecer a uma única lei geral que o alcança
inteiramente.
27. @DEF2 = Um sistema pode ser composto por um número bastante variávelde
estruturas interdependentes que se organizem segundo uma certa ordem de
sucessão ou obedeçam a uma localização espacial particular. A natureza é um
sistema extremamente complexo, composto por imensa rede de subsistemas de
níveis e ordens infinitamente decrescentes; o organismo também é um sistema
complexo, contendo sub-sistemas compostos por outros sistemas (análogos aos
sucessivos níveis e as ordens de organização dos sistemas da natureza, por
exemplo). Os menores sistemas possíveis têm dois elementos. O par (conjunto
interativo de dois elementos) é, pois, o menor dos sistemas sociais conhecidos;
como o juízo é o menor dos sistemas lógicos (relação asseverativa de dois
conceitos, o sujeito e o objeto do juízo).
@COMENT = Sabe-se que os sistemas naturais obedecem _Ö_s leis gerais dos
sistemas, além de estarem subordinadas _Ö_s leis naturais de seu nível de
organização da natureza; também se sabe que os achados específicos
referentes a cada um destes níveis de sua organização não podem ser
transpostos para os demais, sem grave risco de distorção e de invalidade para
suas conclusões. Mas que as leis gerais dos sistemas são aplicáveis em todos
os níveis de organização natural. Isto é, no mundo, tudo aquilo que é sistêmico,
pode ser explicado e previsto a partir das leis dos sistemas. Inclusive que cada
segmento da natureza deva estar submetido _Ö_s mesmas leis e que estas não
possam ser transpostas mecanicamente para outros estratos.
@COMENT = O conhecimento das propriedades heurísticas dos sistemas
inspirou e norteou a instituição da classificação como instrumento de
investigação científica, como foi a classificação biológica de <MS>LINEU<D>,
que considerava a natureza como um grande sistema composto por subsistemas
de níveis cada vez menos elevados.
@COMENT = <MS>PLAT<183>O<D>, <MS>ARISTÓTELES <D>e
<MS>KANT<D> descreveram o conhecimento como um sistema estruturado,
ainda que este conceito científico de sistema só tenha surgido neste século. No
entanto, é preciso saber que o conhecimento sobre a teoria dos sistemas, bem
como o conhecimento filosófico, são incapazes de substituir os estudos
científicos específicos.
A noção de sistematicidade deve ser considerada hoje como uma das
exigências essenciais para a caracterização do conhecimento científico
@COMENT = O conceito de sistema interage e se confunde com a noção de
estrutura. O conceito de sistema parece ser necessário para entender a noção,
mesmo pré-estruralista (anterior a <MS>LEVY-STRAUSS<D>),<$FCâmara,
J.MJr., O Estruturalismo Ling_Å_ístico, Revista Tempo Brasileiro, 15/16, Rio, s/d,
p. 5.> de _estrutura_ com o qual freq_Å_entemente se confunde (pois, todo
sistema é uma estrutura dinâmica).
@COMENT = Por isto, a noção de estrutura necessita do conceito
de sistema. Uma estrutura pode ser definida como _disposição
ordenada dos elementos interdependentes que compõem uma totalidade
organizada; _<$FThines, G. e Lempereur, A.G., op. cit.>_ _ou _a elementos
organizados no interior de um sistema que constituem uma unidade de
conexões estáveis, assim como das leis que regem estas conexões;
28. _<$FDicionário de Filosofia. op. cit.>ou, ainda, _a configuração
das relações dos elementos que estejam situados no interior de
um sistema.
O método de classificação utilizado por <MS>PLAT<183>O<D>como
instrumento do conhecimento científico e adotado pelas ciências naturais
no século passado, evidencia o emprego da sistematicidade (de fato,
o grau de sistematicidade contido em um sistema lógico) como critério
de cientificidade<$FPrado, C. Jr., Dialética do Conhecimento, 6a.
edição, Ed, Brasiliense, S.Paulo, 1980, p. 168.>e comoprocedimento
avaliador de um instrumento da metodologia científica. Porque presume
a unidade sistêmica do ente classificado e, por isto, a possibilidade
de descobrir a explicação de sua essencialidade e conteúdo a partir
do rearranjo de suas partes e da identificação das principais
interconexões internas que intermediam as relações estáveis
entre seus componentes.
O grau de sistematicidade de um conjunto taxonômico é um dos elementos
lógicos mais importantes para caracterizar sua cientificidade, isto
é seu significado para explicar e prever acontecimentos com certa
segurança. A credibilidade científica de uma classificação é dada
por sua sistematicidade. E sua sistematicidade, em todos os casos,
resulta da presença das três características gerais de todos os sistemas.
Conhecem-se três características essenciais de todod os sistemas.
Para <MS>CORBISIER<D>,<$FCorbisier, R., Enciclopédia Filosófica, Ed.
Vozes, Petrópolis, 1974, p. 182> o conceito de sistema é composto
por três noções essenciais, sendo todas indispensáveis ao seu
entendimento: a totalidade, a unidade e a interdependência.
@BULLET = a noção de _totalidade_, pressupõe a existência
das partes, que são seus elementos componentes, mas sua função
integrada é sempre mais que a soma de suas partes integrantes;
@BULLET = a noção de _unidade_ pressupõe sempre um certo grau
de organização e hierarquização dos seus componentes numa
configuração única que garante a individuaalidade ou a identidade
da coisa a que se refere; e
@BULLET = a noção da _interdependência_ se encontra estreitamente
vinculada Àinteração e inter-relação de todas as suas as
partes, como se relacionam seus componentes.
Estes três elementos fundamentais contidos no conceito de sistema
e que se estruturam na configuração de todos os sistemas reais,
quando considerados do ponto de vista da teoria do conhecimento e
da teoria geral dos sistemas, apontam para três pares de categorias
lógicas que estão sempre presentes no núcleo do conceito de sistema
e que vão ser importantes quado se tiver que considerar a sistemativcidade
de um sistema teórico como índice de cientificidade.
Tais categorias lógicas presentes em todos os sistemas são: o
todo e a parte_, _a unidade e a pluralidade_, _a dependência e a autonomia_._
Sendo importante considerar cada uma delas quando se promover a avaliação
29. do grau de sistematicidade de uma teoria científica (o que não
abrange apenas sua coerência ou consistência interna, mas sua compatibilidade
com a realidade que pretende retratar.
@MINOR HEADING = Totalidade Sistêmica
@INICIALGR = O conceito de totalidade sistêmica não pode ser entendido
senão como um aspecto particular da totalidade como conceito da
filosofia da cIência. A totalidade deve ser entendida, sempre, como
a configuração do todo completo resultante da reunião de suas
partes em sua ordem; a totalidade dos elementos que compõem um
todo integral; também presume a intercompletação e a perfeita
disposição de todas as partes que a compõem, mas a configuração
completa de todos os elementos é sua característica mais importante.
Todo sistema possui leis próprias que determinam sua totalidade. Não
há sistema sem isto.
@COMENT = A noção de totalidade se identifica com a categoria
filosófica de todo, do que é geral. Enquanto que a categoria filosófica
de parte abrange as particularidades (sub-conjuntos ou sub-sistema
homogêneos) e os elementos específicos individuais.
@DEF = Tudo que tem partes difernciáveis se configura como uma totalidade,
mas num sistema, a totalidade segue as mesmas leis.
A noção de totalidade é completamente indispensável para quem
lida com conceitos, objetos ou fenômenos que possam ser subdivididos
em partes constituintes.
O entendimento da totalidade sistêmica como característica essencia
de um sistema é essencial para seu entendimento, mesmo que ele integre
outro sistema de nível mais elevado, constituindo-se em sub-sistema
como parte de uma outra totalidade situada em um nível superior da
organização natural, social ou lógica; pois cada sistema há de
ser entendido como uma totalidade particular.
No entanto, deve-se ter presente que o conceito de totalidade aplicado
a um sistema, o que se chama _totalidade sistêmica_, não se resume
a uma noção quantitativa de soma das partes, ou sua reunião
mais ou menos casual no espaço, mas de uma organização hierarquizada
delas em razão de suas funções, porque o conceito de totalidade
sistêmica implica na noção de comunidade entre as partes em interação,
e se refere Àação recíproca que se dá entre os elementos que
compõem a totalidade sistêmica.
Uma da mais importantes contribuições do conhecimento dos sistemas
Àciência, sobretudo ÀPsicologia Social, é o conhecimento estabelecido
de que o valor da totalidade sistêmica ultrapassa a importância da
soma de suas partes, exatamente em função das relações que
existem entre elas.
@COMENT = Esta noção da importância desempenhada pelas relações
objetivas que se estabelecem entre os elementos de um sistema ou de
um processo em sua finalidade e em seu desenvolvimento é uma das
dimensões
30. mais importantes e mais pertinentes da Filosofia da ciência, mas não
cabe nos limites postos pelos propósitos deste trabalho.
@COMENT = A totalidade sistêmica inclui a noção de que ele é sempre
mais ou menos fechado (ainda que possa se alimentar de matéria ou
energia proveniente do exterior e excluir os resultados de sua atividade),
mas se configura sempre como uma estrutura de limites definidos. A
noção de sistema aberto é uma referência a esta abertura para
o exterior. Um sistema aberto é aquele que efetua algum tipo de troca
com o exterior.
@COMENT = A melhor sistematização dos sistemas é a que os apresenta
como estáveis e instáveis, considerando a duração de seu funcionamento
mais ou menos regular.
@MINOR HEADING = Unidade Sistêmica
@INICIALGR = Outra característica essencial dos sistemas é a _unidade
sistêmica_. A unidade de qualquer coisa, como conceito da Filosofia
da ciência, pode ser entendida como uma _configuração completa
obtida pela reunião de suas partes, seus componentes ou suas sub-unidades_.
@COMENT = A questão da _unidade_ das coisas (principalmente das
mais ou menos complexas) é uma das mais importantes da filosofia do
conhecimento, sobretudo, quando se considera sua implicação na
teoria dos sistemas. Quando se estuda os sistemas, é preciso saber
que sua unidade não deve resultar apenas da coexistência, casual
ou intencional, de seus elementos (ou componentes) em um mesmo lugar
do espaço, como acontece na linguagem comum. A simples reunião
de diversas coisas em um local não caracteriza uma unidade sistêmica
porque a unidade sistêmica resulta sempre da configuração de elementos
interdependentes articulados.
@DEF = A noção de unidade se confunde com a de individualidade
ou, mesmo, de identidade garantida pela articulação dos elementos
da totalidade. Todo sistema muda apreciavelmente se sua unidade é
comprometida, isto é, quando dele é retirado algum componente ou este
é substituido por outro, diferente.
O conceito de _unidade_ pode ser entendido de três maneiras diferentes:
@BULLET = a) de uma maneira mecanicista, pode-se entender uma unidade
como mera justaposição mecânica de componentes em uma totalidade
(como os passageiros de um ônibus, os passantes em uma calçada);
@BULLET = b) um segundo sentido consiste em considerar a unidade como
a completa identidade, excluindo-se todas as diferenças (como a unidade
política ou religiosa);
@BULLET = c) de uma maneira sistêmica e dialética, pode-se considerar
a unidade como a vinculação dinâmica e interior da identidade
e da diferença (a interdependência decorrentes de atributos essenciais
dos componentes).
O estudo da unidade sistêmica obriga a considerar a questão das
categorias lógicas de qualidade e quantidade. Não é possível fazer
ciência para além da descrição se na forem usadas estas categorias.
31. Nas totalidades não-sistêmicas apenas quantitativas, como os livros
arrumados em uma biblioteca ou uma lista de enfermidades em uma tabela
nosolgráfica, sua unidade não é determinada por algo que é interior
ao próprio conjunto, não depende de sua estrutura ou da configuração
interna de seus elementos; mas resulta de algo que lhe é exterior,
porque os elementos ou partes que constituem estas totalidades não
estão articulados em função de características essenciais
e internas em relação Àestrutura considerada, sua unidade depende
unicamente de qualidades mais ou menos acidentais, exteriores e contingentes
em relação Àsua essência. Nestes conjuntos, diz-se que sua unidade
é contingente; não é uma unidade necessária.
@DEF = Nos conjuntos que não têm _unidade necessária_, mas uma
_unidade contingente_, sua reunião espacial (ou outra) quase sempre
é arbitrada exclusivamente pelo interesse de quem os reuniu e não
por características essenciais suas. Nos sistemas a unidade de seus
elementos é sempre necessária.
@COMENT = _Necessário_ é aquilo que não pode ser de outra maneira,
que é indispensável e se refere Àessência e ao conteúdo de uma coisa;
um acontecimento inevitável; algo que tem que acontecer. _Contingente_
é tudo que é concebido como podendo ser ou não, acontecer ou não,
tudo o que não se refere Àessência ou pode ser algo que se não
refira ao conteúdo de uma coisa, mas apenas Àsua forma ou aparência;
tudo o que se opõe ao necessário. Um objeto ou fenômeno qualquer
pode ser necessário em um processo (ou em um determinado momento de
um processo) e contingente em outro processo ou outras circunstâncias.
Por esta razões, existem totalidades e conjuntos que não são
sistemas. A unidade, embora seja indispensável ao conceito de sistema,
tampouco lhe é essencial, porque, se bem que todo sistema seja
necessariamente
uma unidade, nem toda unidade é um sistema. Pois, quando a unidade
de um conjunto não é derivada de uma característica que lhe seja
interior e necessária, mas resulta de atributos exteriores e contingentes,
como a conjugação espacial de seus elementos, e não é determinada
por alguma característica essencial de sua natureza ou de sua essência,
mas de algo que lhe é exterior, como a vontade, o senso estético,
a utilidade ou algum outro interesse de quem a organizou, ela poderia
muito bem ser outra, se aquilo que foi sua motivação assim o determinasse.
Por tudo isto, as noções de totalidade e de unidade, embora essenciais
ao conceito de sistema, não bastam, por si mesmas, para caracterizar
e possibilitar definir o que é um sistema.
A unidade e a totalidade sistêmica configuram seus limites espaciais
ou funcionais e o grau de continuidade ou descontinuidade que existem
entre os componentes dos sistemas.
@DEF = Os sistemas processam qualquer combinação destes três elementos:
energia, matéria e informação.
Os sistemas podem ser chamados abertos (quando necessitam manter
32. algum tipo de intercâmbio com o meio, principalmente em termos de
troca de matéria, energia ou informação) ou fechados, quando
não necessitam receber matéria, energia ou informação do exterior.
Outra forma de classificar os sistemas, segundo o grau de _enticidade
real_ de seus componentes, pode ser ordenando-os em sistemas reais
ou sistemas concretos (quando os sistemas correspondem a entidades
existente na realidade, como acontece com os organismos, as células,
as nosologias que agrupam enfermidades); sistemas nominais (quando
correspondem a sistemas lógicos, entes que existem apenas no campo
conceitual, não tendo existência real, como as nosografias que
agrupam conceitos, diagnósticos); e sistemas combinados que reunam
características dos dois primeiros. Muitos dos sistemas psicossociais
podem ser considerados enquadrados neste último grupo.
@COMENT = Entre os sistemas reais, é possível reconhecer: fisiossistemas,
quimiossistemas, biossistemas, sociosisstemas, tecnosistemas.
@MINOR HEADING = Interdependência Sistêmica
@INICIALGR = Os conjuntos só formam um _sistema_ quando seus elementos
componentes, além de configurarem uma totalidade e uma unidade, forem
_interdependentes_ por estarem reciprocamente articulados e interdependentes,
uns em relação aos outros. Todos os sistemas se configuram a partir
da organização interdependente de seus elementos (que pode ser
linear unidirecional ou recíproca).
@COMENT = A noção de interdependência sistêmica obriga, preliminarmente,
ao reconhecimento do carácter dinâmico da estrutura a que se aplica.
Todo sistema deve ser reconhecido como uma estrutura dinâmica.
@COMENT = Por causa desta exigência necessária, a lista dos livros
de uma biblioteca, um rol de roupa para a lavanderia, uma lista nosográfica
ou, mesmo uma lista de nosologias agrupadas em razão de características
acidentais ou uma lista de compras para o super-mercado, apesar de
serem totalidades, de configurarem uma unidade, não são sistemas
porque lhes falta a necessária interdependência que deve existir entre
os elementos para que se caracterize a unidade sistêmica. Nem basta
haver unidade e totalidade estrutural para que se reconheça ali um
sistema. Os sistemas devem ser estruturas dotadas de unidade e totalidade,
mas também devem ser estruturas dinâmicas nas quais se reconheça a
indispensável interdependência entre seus elementos.
@COMENT = Num sistema, cada elemento singular ou subsistema, deve
guardar, obrigatoriamente, uma relação de interdependência com
os demais e não serem totalidades apenas quantitativas.
A noção de interdependência sistêmica ultrapassa a de interação.
Interação e interelação são dois conceitos diversos, mas
que muitos confundem indevidamente em seus raciocínios. Ainda que
haja totalidade e unidade, não há sistema no qual não se dê
interdependência entre seus componentes. A estrutura de um sistema
é definida pela relação de seus componentes entre si e pela relação
33. entre estes compoentes e o ambiente.
@COMENT = _Interação_ é a ação que exercem mutuamente entre
si duas ou mais coisas.
@COMENT = _Inter-relação_ (ou inter-conexão) é o relacionamento
ou a mútua influência entre duas ou mais coisas ou componentes de
uma estrutura. A inter-relação pode ser apenas espacial e não
influir na ação, como a interação.
@COMENT = O _ambiente de um sistema_ é o conjunto de coisas concretas
que não integram o sistema mas se relacionam com ele de alguma
maneira.
@COMENT =
@DEF = A interação e a inter-relação estão contidas no
conceito de _interdependência_ (dependência recíproca necessária)
que se exterioriza nas categorias de dependência x autonomia dos sistemas,
essenciais a este conceito porque configuram sua organização interna,
a estrutura do sistema.
@COMENT = Na psiquiatria moderna ninguém pode evitar o bombardeio
de noções como _sistema classificatório_ e _classificações
nosológicas_, por exemplo, para mencionar os DDSSMM e, atualmente,
a CID/10. Esta atribuição de carácter sistêmico a estes instrumentos
nosográficos resulta de um equívoco ou de uma tentativa deliberada
de engodo.
@COMENT = Estas listas nosográficas, amplamente empregadas em todo
mundo, não são _sistemas_ (porque carecem da necessária sistematicidade),
nem são classificações heurísticas (as únicas classificaç_ï_es
que podem postular o carácter de instrumentos científicos) porque
não são classificações naturais, embora sejam instrumentos
muito práticos para assegurar a mínima confiabilidade aos diagnósticos
psiquiátricos.
A importância que a estabilidade diagnóstica assumiu (para a credibilidade
dos psiquiatras e para facilitar o financiamento do tratamento pelas
empresas seguradoras) obriga a uma breve revisão de alguns conceitos
essenciais, como os de nosologia, nosografia e nosotaxia, porque,
embora conceitos próximos, detêm algumas diferenças. Reconhecer esta
diferenças pode ser importante para um especialista em psiquiatria
porque todos os instrumentos modernos de registro diagnóstico para
fins administrativos são referidos como classificações de
a enfermidades, o que não são.
@COMENT = Embora a CID/10 e os manuais diagnósticos norteamericanos
sejam _classificações_, em sentido lato, ainda que não sejam
classificações cientificamente utilizáveis, mas não se referem
a enfermidades, mas a diagnósticos ou critérios para diagnosticar.
é preciso diferenciar entre os conceitos de nosotaxia, nosologia e
nosografia.
_Nosotaxia_ é como se denomina a uma classificação de enfermidades
34. ou de diagnósticos de patologias.
_Nosologia_ é a classificação da enfermidades, entendidas como
entidades patológicas explicadas.
_Nosografia_ é a classificação dos diagnósticos e dos elementos
descritivos das patologias.
Em um sistema (seja teórico, físico, biológico, lógico, natural, social,
qualquer outro), sua _"sistematicidade"_ depende essencialmente da
natureza da interconexão e da qualidade da interdependência que
se houver estabelecido entre seus componentes. Em qualquer sistema,
a qualidade da interdependência entre seus elementos é reconhecida
a partir do conhecimento de que tal interdependência se dá através
da conexão de características essenciais, de atributos que desempenhem
papel essencial naquele sistema particular. Nos sistema teóricos conhecidos
como teorias científicas há uma extrema exigência destes fatores de
interdependência que se manifestam no grau de organização e na
hierarquização das partes.
@COMENT = Num sistema nosológico, a interdependência sistêmica há
de ser dada pela natureza essencial do critério que determina a ordenação
sistemática (com o sentido de sistêmica) das entidades clínicas classificadas.
Por exemplo, fator etiológico, mecanismo patogênico. Quando se faz
uma lista alfabética de diagnósticos de enfermidades, uma nosografia,
um catálogo nosográfico, falta-lhe a necessária interdependência de
seus componentes para que possa ser considerada um sistema.
@MINOR HEADING = Tensão dos Sistemas
@INICIALGR = O funcionamento dos sistemas impõe-lhes um certo
grau de tensão que lhe é inerente e assim deve ser entendido,
pois nenhum sistema funciona sem ele, pois é a própria essência do
movimento (no mais amplo sentido deste termo). Este estado de tensão
ou pressão<$FO que inclui aquilo que os dialetas denominam tensão
da contradição ou energia da luta dos contráriosou outras expressões
análogas e equivale ao conceito de ansiedade em psicopatologia.> interior
costuma ser importante para manter a coesão sistêmica e permitir-lhe
desempenahr suas atividades com eficiência e eficácia. Contudo, quando
este estado tensional ultrapassa limites convenientes, pode se dar
uma perturbação ou uma distorção de seu funcionamento.
@COMENT = Exatamente como acontece com os estados de ansiedade nos
comportamentos humanos. Indispensável em quantidades razoáveis, invalida
o desempenho quando passa de limites suportáveis.
@COMENT =
@DEF = Em todos os sitemas, seu funcionamento gera um certo grau de
tensão que pode melhorrar ou prejudicar seu rendimento.
@COMENT =
@COMENT = O antigo conceito de irritação proposto por Broussais
para explicar as doenças psiquiátricas está sendo substituído pelo
de estresse. A noção de _estresse_ se confunde com a de tensão
dos sistema operantes, de eficiência e eficácia funcional, que parecem
35. contribuir para explicar alguns casos de patologias psíquicas e somáticas
nos sistemas orgânicos e psicológicos. Constitui um interessante campo
de investigação o estudo da tensão nos sistemas sociais e
orgânicos.
@COMENT = Os conceitos de estresse positivo e estresse patogênico
também devem ser relacionados com esta noção de tensão sistêmica,
como conflito de energias ou tendências opostas na raíz do dinamismo
dos sistemas.
O conceito de tensão dos sistemas parece essencial para elucidar
e explicar numerosos problemas da patologia geral e da psicopatologia.
Parece essencial, por exemplo, para estabeler a ligação entre
os conceitos de psicogênese e estresse, muito necessária para a evolução
da psiquiatria.
@COMENT =
@COMENT =
@MINOR HEADING = Organização e Hierarquia Sistêmicas
@INICIALGR = A exigência de uma organização hierarquizadas implica
em que cada uma das partes de um sistema não pode ocupar, na totalidade,
qualquer lugar, mas apenas aquele que é determinado pela função
que ele desempenhe no conjunto. A sua própria estrutura particular
deve ser determinada pela função que exerce no sistema, o que
equivale a dizer que o sistema, enquanto totalidade, está presente
em todas as suas partes, determinando a estrutura e a forma de cada
uma delas.<$FCorbisier, R., op. cit. p. 182.>
A natureza da organização e da hierarquia sistêmica, que é uma
característica essencial de sua intercomplementariedade, pode ser
física, natural, social ou lógica, na dependência da natureza do sistema,
pois pode haver sistemas de cada uma destas ordens.
Nos sistemas, quaisquer que for sua classe, seus componentes, elementos
individualizados ou subsistemas, podem estar justapostos no espaço,
como nos sistemas físicos (máquinas ou motores) ou naturais (organismos
vivos); caracterizando-se como sistemas por esta relação de interdependência.
Neles, em geral, não é possível alterar sua ordenação ou substituir
uns pelos outros nas funções que desempenham.
Por isto, pode-se inferir que a configuração espacial (ou qualquer
outra) dos elementos sistêmicos é uma característica de sua organização,
um atributo hierárquico que caracteriza aquele sistema. Além da configuração
espacial, a hierarquia dos elementos dos sistemas pode se definir
em termos de coordenação ou de subordinação.
@COMENT = As noções de coordenação e subordinação já foram
definidas atrás. No entanto, é necessário avaliar sua importância
em todos os sistemas, sejam eles sistemas naturais, sistemas lógicos,
sistemas psicológicos ou sistemas sociais. Nos sistemas naturais,
a hierarquização é uma imposição da própria estrutura e ninguém
aparece para discutir se o fígado deveria fazer o papel de rim ou
vice-versa. Já nos sistemas sociais, na medida em que são construções
36. humanas, a necessidades e as condições de sua hierarquia podem
e devem ser discutidas. Sobretudo, porque devem estar subordinadas
_Ö_s finalidades dos sistemas e moduladas pelos direitos individuais
e sociais.
@COMENT = A interdependência nos sistemas naturais é bastante diversa
da que existe nos sistemas sociais. A ideologia naturalista e biologicista
que tentou explicar a hierarquia dos sistemas sociais humanos estabelecendo
analogias entre eles e os sistemas naturais não conseguiu chegar
a qualquer resultado convincente e findou por se revelar um esfôrço
ideológico para consagrar e legitimar desigualdades sociais. Analogamente,
as pretensões igualitárias que recusam quer hierarquização
nos sistemas sociais e pretendem toda autoridade e subordinação
como desumanas, também não conseguiram comprovar suas hipóteses
basilares. Provavelmente ambas fracassaram porque se originaram em
pressupostos apriorísticos incomprováveis; no primeiro extremo, na
concepção cristã do homem mau (necessitado de disciplina e
de castigo) e, no outro extremo, no extremo jacobino, o mito ideológico
igualitarista do homem bom, ainda que eventualmente corrompido pela
sociedade por causa injustiça e da desigualdade reinante entre as
pessoas. Estas duas tendências se evidenciaram parciais e ideologizadas,
sendo provável que a verdade se situe em algum ponto intermediário
entre elas.
@COMENT =
@DEF = Desta rápida súmula sobre algumas informações essenciais
sobre a teoria dos sistemas, pode-se depreender pelos menos duas conclusões:
a) que não basta uma coleção, ainda que numerosa, de conhecimentos,
mesmo verdadeiros, para caracterizar um sistema científico, um sistema
teórico ou um sistema racional; b) a existência de um sistema
depende fundamentalmente de que a intercomplementariedade de seus
elementos se dê a partir das conexões de propriedades ou atributos
essenciais de seus componentes.
@COMENT =
@COMENT = A noção de sistema, ainda que não muito bem estruturada,
e muitas de suas conseq_Å_ências lógicas, como a subordinação da
forma Àfunção, por exemplo, são antigos conhecidos das ciências
médicas desde a velha Grécia, tendo emprestado notável contributo
aos conhecimento de anatomia e, principalmente, por suas inferências
no avanço da fisiologia e da fisiopatologia, ao longo de toda sua
história.
@COMENT = Recentemente, o conhecimento destas noções referentes
aos sistemas têm se mostrado muito valioso no estudo das estruturas
sociais, como grupos (inclusive as famílias), instituições, organizações
e comunidades, quer sejam considerados como objeto de investigação
que busca explicar sua dinâmica, quer seja considerado para orientar
os procedimenos de intervenção política ou sócio psicológica,
sobretudo os de natureza preventiva sobre os sistemas sociais.
37. @COMENT = O processo de construção de um sistema cognitivo, uma
teoria científica, como se chama o conhecimento que se tem sobre alguma
coisa ou algum fenômeno, se dá como uma elaboração mais ou menos
complexa que se desenvolve em patamares inter-relacionados, mas mais
ou menos definidos, como se verá a seguir.
SISTEMA
no Diccionario de Filosofía Contemporánea
Ediciones Sígueme, Salamanca 1976
páginas 458-459
Projeto Filosofia en Espaõs, Filosofia.org
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Sistema
1. Concepto. Un sistema es «un conjunto de
objetos y de relaciones entre esos objetos y sus
propiedades». De manera que en realidad cualquier
cosa es un sistema o, mejor dicho, cualquier cosa
puede ser considerada como un sistema. La
relevancia de las relaciones por las que a un conjunto
de objetos lo consideramos como un sistema
dependerá de los propósitos que persigamos en
nuestra investigación.
Sistema pueden ser no sólo cosas reales
(físicas, sociales, &c.), sino también entidades
38. abstractas como un sistema de ecuaciones, o una
teoría. Un sistema abstracto puede ser construido
como modelo de sistemas concretos.
Relacionada con la noción de sistema está la
de entorno: «el conjunto de objetos cuyos cambios de
propiedades afectan a un sistema y que son afectados
a su vez por la actividad del sistema.» Sistema y
entorno (o medio) son pues conceptos correlativos y
su delimitación es arbitraria. Si el sistema es un
organismo animal, el entorno es el medio natural en
que se desenvuelve, pero el conjunto del organismo
(u organismos) más el medio constituye a su vez un
sistema ecológico, etcétera.
La relación de un sistema con su entorno o
medio permite también distinguir entre sistemas [459]
abiertos (con intercambio con el medio) y sistemas
cerrados (sin intercambio con el medio). En la
realidad, sin embargo, los sistemas cerrados sólo son
relativamente cerrados salvo que consideremos el
universo entero como un sistema.
Algunas de las propiedades más importantes
de los sistemas son: el hecho de constituir totalidades
irreductibles a la mera suma de sus elementos; el
estar sometidos a procesos evolutivos de diverso tipo:
de segregación de subsistencias (degenerados o
reestructurados –fenómeno del crecimiento–), o de
39. sistematización (integración de sistemas separados en
sistemas más complejos, etcétera) (niveles de
integración).
2. La teoría general de sistemas.
Es inicialmente una extrapolación de las
concepciones organísmicas que Bertaan mantuvo en
sus investigaciones como biólogo con la idea de
superar la controversia mecanicismo-vitalismo. Con ello
pretendía en un principio dar cuenta de las
propiedades del organismo concebido como un todo
estructurado y no como un mero agregado de partes.
Ya en 1937 expuso por primera vez un esbozo de la
teoría general de sistemas en la cual el punto de vista
que permitía comprender a un organismo como un
sistema estructurado con propiedades específicas no
reducibles a las de sus partes componentes se
ampliaba a todo tipo de sistemas.
Es sin embargo después de la segunda
guerra mundial cuando se elabora y difunde la teoría
general de sistemas en compañía ya de las nuevas
disciplinas y perspectivas científicas que se han ido
constituyendo simultáneamente como son la
cibernética, la teoría de la información, &c. Uno de los
objetivos principales de la teoría general de sistemas
es ofrecer instrumentos de problemas específicos de
las ciencias biológicas, sociológicas, &c., que no
40. podían tratarse adecuadamente con el método analítico
y en un marco mecanicista, &c. Sin embargo, las
definiciones y principios de la teoría de sistemas valen
para cualquier sistema y éstos pueden ser tanto
físicos, como biológicos, sociales, culturales o
conceptuales.
A partir de ella nociones como las de
teleología, conducta orientada hacia un fin, control,
totalidad, organización, &c., que desde una perspectiva
mecanicista son consideradas como nociones
metafísicas, pueden recibir un tratamiento operativo y
científico.
3. En filosofía la teoría general de sistemas
puede suponer una conmoción en la forma de
concebir el mundo en general similar a la que pudo
constituir el mecanicismo de su tiempo. No pretende
ser una teoría filosófica, pero sí es de hecho una
teoría de tal grado de generalidad que no puede por
menos de servir directamente de apoyo a una
ontología en que, por decirlo de alguna manera, el
mundo aparezca –además de como materia,
movimiento, energía, &c.– como sistema o conjunto de
sistemas con organización.
4. En filosofía de la ciencia la teoría de
sistemas tiene una doble importancia. Por una parte
ha introducido una nueva perspectiva para la
41. metodología científica que permite justificar las
diferencias metodológicas en los diversos campos de
estudio, según las exigencias de cada nivel de
integración de la realidad. Por otra parte ha abierto el
camino a que la propia ciencia se considere desde la
perspectiva de la teoría de sistemas (Radnitzky) como
un fenómeno socio-cultural complejo que requiere a su
vez un análisis científico (ciencia de la ciencia),
perspectiva ésta que resultaba prohibitiva desde la
óptica del positivismo lógico y demás epistemologías
con él emparentadas.
5. En España el concepto de sistema ha
tenido cierta relevancia pedagógica en el campo
concreto de la historia de la filosofía, como
consecuencia más bien de un mero imperativo
burocrático-universitario (por la denominación impuesta
a una asignatura obligatoria en las facultades de
letras). Ultimamente sin embargo Gustavo Bueno ha
iniciado una renovación de la idea de sistema en la
historia de la filosofía.
L. von Bertalanfy, General systems theory. A
Critical Review, en General systems. Yearbook of the
society for general systems research 7, 1-20. (Incluido
en la recopilación de W. Buckley); W. Buckley,
Modern systems research for the behavioral sciences,
Chicago 1969; G. Bueno, La metafísica presocrática,
42. Oviedo 1974; G. Radnitzky, Hacia una teoría de la
investigación que no es ni reconstrucción lógica ni
psicología o sociología de la ciencia: Teorema III/2-3
(1973) 197-264.