SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Fundamentos Epistemológicos da Medicina
8.1. Indiciação
O indício é uma espécie de sinal de alarme que avisa haver algo novo para
ser conhecido, que apareceu algo novo ou aparentemente novo no campo da
consciência e que este objeto pode ser conhecido. Este primeiro momento de
construção do conhecimento marca a emergência de uma nova imagem na
consciência de quem experimenta o ato cognitivo. Este primeiro momento
pode resultar de diferentes meios: da percepção do novo objeto, da recepção
de uma mensagem que comunica sua existência, de uma intuição ou de uma
inferência racional elaborada pelo próprio sujeito.
A indiciação consiste na identificação do objeto ou fenômeno a conhecer
como existente, como algo que existe com alguma autonomia em relação aos
demais objetos e fenômenos; e sua distinção como algo singular no mundo;
alguma coisa diferente das outras já conhecidas. A evidenciação inicia a
individuação e pode se dar a partir da identificação de qualquer característica
que individualize o objeto que começa a ser conhecido como uma
individualidade, confundindo-se, portanto, com o início da descrição, até
porque nenhum dos níveis do processo cognitivo pode ser considerado como
estanque em relação aos demais. Neste momento cognitivo, um objeto, antes
despercebido, se evidencia à consciência e aí se inicia o processo mais ou
menos complexo de conhecê-lo.
Parece desnecessário lembrar que, aqui, o termo objeto está sendo
empregado com o sentido de objeto do conhecimento, isto é, qualquer objeto
material ou conceitual que esteja começando a ser conhecido. Um objeto
material ou conceitual, uma pessoa, um teorema, uma fábula. Qualquer
objeto. Seja qual for o meio pelo qual a imagem daquele objeto novo emerge
1
na consciência cognoscente, a evidenciação ou indiciação é invariavelmente
experimentada pelo seu sujeito como o primeiro momento do processo do
conhecimento de um objeto cognitivo e, com isto, produz o estágio mais
elementar de seu resultado. E fenômeno é como se denomina tudo o que
sucede a um objeto.
Acontece a indiciação quando, por qualquer meio, se dá a caracterização de
um certo objeto ou fenômeno novo na consciência e sua separação das
demais coisas já conhecidas, ainda que lhe sejam mais ou menos próximas
ou semelhantes. Há, ao menos um indício de que aquilo é algo novo. Para os
filósofos tomistas, na evidenciação o objeto do conhecimento novo é
distinguido como uma singularidade a ser melhor conhecida. Diziam que algo
é evidente quando sua existência se impõe à consciência.
Como ato perceptivo, a evidenciação consiste na identificação do objeto ou
fenômeno a conhecer como algo novo, diferente daquilo que já se conhece e
sua distinção como algo singular no mundo, diferente de tudo que se
conhecia até então. Mas este momento nem sempre é um fruto da
percepção, pode ser uma conclusão racional ou mesmo uma intuição a ser
confirmada
Os conceitos filosóficos de generalidade, particularidade e singularidade (por
causa de sua importância para o entendimento das relações objetivas das
coisas no mundo) fornecem a base necessária para entender o momento da
evidenciação no procedimento cognitivo. Inicialmente, cada objeto ou
fenômenos aparece a quem o percebe como algo singular.
Em filosofia do conhecimento, os termos individuação e individualização,
como percepção da individualidade através da identificação de algumas de
suas características distintivas, talvez pudessem ser empregados como
análogos à evidenciação. Contudo, em Psicologia e em Psicopatologia, o
termo evidenciação tem sentido bem mais restrito, e quer dizer o surgimento
dos fatores distintivos do indivíduo que sejam suficientes para fazê-lo notado
como algo específico; o processo de construção da individualidade, com o
mesmo significado de identidade, a partir de aptidões, possibilidades e
2
estímulos internos (centrífugos) e externos (centrípetos).
Neste sentido, a lei da individuação ou individualização do comportamento
consiste no princípio segundo o qual os padrões de comportamento se
desenvolvem, desde muito precocemente, através de períodos de
crescimento que são unidades perfeitamente integradas e identificadas aos
padrões da espécie, enquanto surgem padrões parciais que se identificam
com o indivíduo.
No passo seguinte, alguns de seus elementos se identificam com
características já conhecidas de outros objetos idênticos, semelhantes ou
análogos ou associáveis a ele de qualquer maneira, impondo-se o
conhecimento daquela particularidade. A particularidade que reúne todos os
objetos de um conjunto geral em um subconjunto particular.
A particularidade está contida na generalidade assim como a individualidade
ou singularidade está contida na particularidade. A seguir, surge a noção de
generalidade pela identificação de características que acontecem em todos
os componentes estudados e a individualidade, assinalada pelas
característica que marcam a singularidade de um indivíduo daquele conjunto.
Neste primeiro momento do processo de construção do conhecimento das
coisas do mundo, a pessoa se dá conta de que existe no mundo da realidade
(ainda que subjetiva ou abstrata) alguma coisa nova a ser conhecida que
pode ser separada das demais; isto é o que aqui se denomina a evidenciação
(ou indiciação).
E é a partir deste momento, desta semente de conhecimento, a evidenciação,
que se inicia a edificação do saber, qualquer que venha a ser sua extensão,
amplitude, profundidade ou complexidade. Porque, embora os objetos e
acontecimentos da natureza sejam realidades naturais, como os enfermos e
suas manifestações patológicas, por exemplo, o conhecimento que se tem
sobre eles são construções culturais com diferentes potenciais preditivos e
explicativos. De onde surge a noção de enfermidade, como condição
essencial para caracterizar um indivíduo enfermo.
3
A evidenciação, primeiro momento do processo de conhecer, se dá mais ou
menos da mesma maneira no conhecimento vulgar, no conhecimento
científico e no conhecimento filosófico. O conhecimento científico e o
filosófico se caracterizam pela precisão de seus símbolos e pelo rigor dos seu
procedimentos. Estes talvez sejam os elementos mais importantes para
diferenciá-los do senso comum, há de verificar adiante. Não obstante esta
questão irá se colocar apenas no momento seguinte, na descrição.
O conhecimento médico não é uma exceção a esta organização geral da
construção do conhecimento científico. Distingue-se, no entanto, pela
peculiaridade de seus objetos: coisas como saúde, doença, doente,
terapêutica, diagnóstico, prognóstico, etiologia e tantos outros fenômenos
naturais
4

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Estrutura do Acto de Conhecer I
Estrutura do Acto de Conhecer IEstrutura do Acto de Conhecer I
Estrutura do Acto de Conhecer IJorge Barbosa
 
Introdução à Teoria do Conhecimento
Introdução à Teoria do ConhecimentoIntrodução à Teoria do Conhecimento
Introdução à Teoria do ConhecimentoCursoDeFerias
 
Estrutura do Acto de Conhecer - Resumo
Estrutura do Acto de Conhecer - ResumoEstrutura do Acto de Conhecer - Resumo
Estrutura do Acto de Conhecer - ResumoJorge Barbosa
 
O acto de conhecer
O acto de conhecerO acto de conhecer
O acto de conhecerPaulo Gomes
 
Gnosiologia e os problemas gnosiológicos (DOC.2)
Gnosiologia e os problemas gnosiológicos (DOC.2)Gnosiologia e os problemas gnosiológicos (DOC.2)
Gnosiologia e os problemas gnosiológicos (DOC.2)guest9578d1
 
Teoria Do Conhecimento - Parte 1
Teoria Do Conhecimento - Parte 1Teoria Do Conhecimento - Parte 1
Teoria Do Conhecimento - Parte 1Diego Lopes
 
Teoria do conhecimento
Teoria do conhecimentoTeoria do conhecimento
Teoria do conhecimentoIsabella Silva
 
Mapa conceitual empiristas_2
Mapa conceitual empiristas_2Mapa conceitual empiristas_2
Mapa conceitual empiristas_2Isabella Silva
 
Teoria do conhecimento
Teoria do conhecimentoTeoria do conhecimento
Teoria do conhecimentoEstude Mais
 
Conhecimento vulgar e conhecimento cientifico
Conhecimento vulgar e conhecimento cientificoConhecimento vulgar e conhecimento cientifico
Conhecimento vulgar e conhecimento cientificoanabelamatosanjos
 

Mais procurados (20)

Estrutura do Acto de Conhecer I
Estrutura do Acto de Conhecer IEstrutura do Acto de Conhecer I
Estrutura do Acto de Conhecer I
 
Kant kant
Kant kantKant kant
Kant kant
 
Gnosiologia
GnosiologiaGnosiologia
Gnosiologia
 
AI subtema 8.2
AI subtema 8.2AI subtema 8.2
AI subtema 8.2
 
Introdução à Teoria do Conhecimento
Introdução à Teoria do ConhecimentoIntrodução à Teoria do Conhecimento
Introdução à Teoria do Conhecimento
 
Estrutura do Acto de Conhecer - Resumo
Estrutura do Acto de Conhecer - ResumoEstrutura do Acto de Conhecer - Resumo
Estrutura do Acto de Conhecer - Resumo
 
Teoria do conhecimento kant
Teoria do conhecimento   kantTeoria do conhecimento   kant
Teoria do conhecimento kant
 
Aula 07 filosofia os modernos i
Aula 07   filosofia os modernos iAula 07   filosofia os modernos i
Aula 07 filosofia os modernos i
 
Aula de conhecimento 2010.2
Aula de conhecimento 2010.2Aula de conhecimento 2010.2
Aula de conhecimento 2010.2
 
O acto de conhecer
O acto de conhecerO acto de conhecer
O acto de conhecer
 
Gnosiologia e os problemas gnosiológicos (DOC.2)
Gnosiologia e os problemas gnosiológicos (DOC.2)Gnosiologia e os problemas gnosiológicos (DOC.2)
Gnosiologia e os problemas gnosiológicos (DOC.2)
 
Teoria Do Conhecimento - Parte 1
Teoria Do Conhecimento - Parte 1Teoria Do Conhecimento - Parte 1
Teoria Do Conhecimento - Parte 1
 
Apriorismo kantiano 22 mp
Apriorismo kantiano 22 mpApriorismo kantiano 22 mp
Apriorismo kantiano 22 mp
 
Aula de filosofia sobre o conhecimento
Aula de filosofia sobre o conhecimentoAula de filosofia sobre o conhecimento
Aula de filosofia sobre o conhecimento
 
Teoria do conhecimento
Teoria do conhecimentoTeoria do conhecimento
Teoria do conhecimento
 
Filosofia - teoria do conhecimento na modernidade
Filosofia  - teoria do conhecimento na modernidadeFilosofia  - teoria do conhecimento na modernidade
Filosofia - teoria do conhecimento na modernidade
 
Consciência e verdade
Consciência e verdadeConsciência e verdade
Consciência e verdade
 
Mapa conceitual empiristas_2
Mapa conceitual empiristas_2Mapa conceitual empiristas_2
Mapa conceitual empiristas_2
 
Teoria do conhecimento
Teoria do conhecimentoTeoria do conhecimento
Teoria do conhecimento
 
Conhecimento vulgar e conhecimento cientifico
Conhecimento vulgar e conhecimento cientificoConhecimento vulgar e conhecimento cientifico
Conhecimento vulgar e conhecimento cientifico
 

Semelhante a 5.1. indiciação

Filosofia 2º bimestre -1ª série - o conhecimento
Filosofia   2º bimestre -1ª série - o conhecimentoFilosofia   2º bimestre -1ª série - o conhecimento
Filosofia 2º bimestre -1ª série - o conhecimentomtolentino1507
 
Apostila de introdução ao conhecimento
Apostila de introdução ao conhecimentoApostila de introdução ao conhecimento
Apostila de introdução ao conhecimentoRobert Cesar
 
Alberto antonio nhatirre, turma r9, numero 01
Alberto antonio nhatirre, turma r9, numero 01Alberto antonio nhatirre, turma r9, numero 01
Alberto antonio nhatirre, turma r9, numero 01Alberto Nhatirre
 
Curso de Epistemologia 4/6
Curso de Epistemologia 4/6Curso de Epistemologia 4/6
Curso de Epistemologia 4/6Luiz Miranda-Sá
 
Os quatro tipos_de_conhecimento
Os quatro tipos_de_conhecimentoOs quatro tipos_de_conhecimento
Os quatro tipos_de_conhecimentoAlberto Nhatirre
 
Os quatro tipos_de_conhecimento
Os quatro tipos_de_conhecimentoOs quatro tipos_de_conhecimento
Os quatro tipos_de_conhecimentoAna Greff
 
Racionalismo, empirismo e iluminismo brenda 22 mp
Racionalismo, empirismo e iluminismo brenda 22 mpRacionalismo, empirismo e iluminismo brenda 22 mp
Racionalismo, empirismo e iluminismo brenda 22 mpalemisturini
 
2. Fundamentos Epistemológicos da Medicina - o conhecimento
2. Fundamentos Epistemológicos da Medicina -  o conhecimento2. Fundamentos Epistemológicos da Medicina -  o conhecimento
2. Fundamentos Epistemológicos da Medicina - o conhecimentoLuiz-Salvador Miranda-Sa
 
Fenomenologia - uma breve introdução
Fenomenologia - uma breve introduçãoFenomenologia - uma breve introdução
Fenomenologia - uma breve introduçãoBruno Carrasco
 
Curso de Epistemologia/6 2
Curso de Epistemologia/6 2Curso de Epistemologia/6 2
Curso de Epistemologia/6 2Luiz Miranda-Sá
 
Metodologia do trabalho inicio
Metodologia do trabalho  inicioMetodologia do trabalho  inicio
Metodologia do trabalho inicioWaleskaSampaio
 
O que é a "Consciência"?
O que é a "Consciência"?O que é a "Consciência"?
O que é a "Consciência"?Layanne Dias
 
Texto ciencia e conhecimento
Texto ciencia e conhecimentoTexto ciencia e conhecimento
Texto ciencia e conhecimentoDarkArkangel
 

Semelhante a 5.1. indiciação (20)

5.3. nomin e conceit
5.3. nomin e conceit5.3. nomin e conceit
5.3. nomin e conceit
 
Filosofia 2º bimestre -1ª série - o conhecimento
Filosofia   2º bimestre -1ª série - o conhecimentoFilosofia   2º bimestre -1ª série - o conhecimento
Filosofia 2º bimestre -1ª série - o conhecimento
 
Apostila de introdução ao conhecimento
Apostila de introdução ao conhecimentoApostila de introdução ao conhecimento
Apostila de introdução ao conhecimento
 
Alberto antonio nhatirre, turma r9, numero 01
Alberto antonio nhatirre, turma r9, numero 01Alberto antonio nhatirre, turma r9, numero 01
Alberto antonio nhatirre, turma r9, numero 01
 
5.2. descr
5.2. descr5.2. descr
5.2. descr
 
Curso de Epistemologia 4/6
Curso de Epistemologia 4/6Curso de Epistemologia 4/6
Curso de Epistemologia 4/6
 
Os quatro tipos_de_conhecimento
Os quatro tipos_de_conhecimentoOs quatro tipos_de_conhecimento
Os quatro tipos_de_conhecimento
 
Os quatro tipos_de_conhecimento
Os quatro tipos_de_conhecimentoOs quatro tipos_de_conhecimento
Os quatro tipos_de_conhecimento
 
Metodologia científica
Metodologia científicaMetodologia científica
Metodologia científica
 
Metodologia científica
Metodologia científicaMetodologia científica
Metodologia científica
 
Racionalismo, empirismo e iluminismo brenda 22 mp
Racionalismo, empirismo e iluminismo brenda 22 mpRacionalismo, empirismo e iluminismo brenda 22 mp
Racionalismo, empirismo e iluminismo brenda 22 mp
 
2.2. fem conhec verdadeiro
2.2. fem   conhec verdadeiro2.2. fem   conhec verdadeiro
2.2. fem conhec verdadeiro
 
2. fem o conhecimento
2. fem   o conhecimento2. fem   o conhecimento
2. fem o conhecimento
 
2. Fundamentos Epistemológicos da Medicina - o conhecimento
2. Fundamentos Epistemológicos da Medicina -  o conhecimento2. Fundamentos Epistemológicos da Medicina -  o conhecimento
2. Fundamentos Epistemológicos da Medicina - o conhecimento
 
Psicologia.fenomenologia
Psicologia.fenomenologiaPsicologia.fenomenologia
Psicologia.fenomenologia
 
Fenomenologia - uma breve introdução
Fenomenologia - uma breve introduçãoFenomenologia - uma breve introdução
Fenomenologia - uma breve introdução
 
Curso de Epistemologia/6 2
Curso de Epistemologia/6 2Curso de Epistemologia/6 2
Curso de Epistemologia/6 2
 
Metodologia do trabalho inicio
Metodologia do trabalho  inicioMetodologia do trabalho  inicio
Metodologia do trabalho inicio
 
O que é a "Consciência"?
O que é a "Consciência"?O que é a "Consciência"?
O que é a "Consciência"?
 
Texto ciencia e conhecimento
Texto ciencia e conhecimentoTexto ciencia e conhecimento
Texto ciencia e conhecimento
 

Mais de Luiz-Salvador Miranda-Sa

Diagnóstico Nosológico e Classificação das Doenças em Psiquiatria
Diagnóstico Nosológico e Classificação das Doenças em PsiquiatriaDiagnóstico Nosológico e Classificação das Doenças em Psiquiatria
Diagnóstico Nosológico e Classificação das Doenças em PsiquiatriaLuiz-Salvador Miranda-Sa
 
Diagnóstico nosológico e classificação em psiquiatria
Diagnóstico nosológico e classificação em psiquiatriaDiagnóstico nosológico e classificação em psiquiatria
Diagnóstico nosológico e classificação em psiquiatriaLuiz-Salvador Miranda-Sa
 
Doença e diagnóstico nosológico em psiquiatria
Doença e diagnóstico nosológico em psiquiatriaDoença e diagnóstico nosológico em psiquiatria
Doença e diagnóstico nosológico em psiquiatriaLuiz-Salvador Miranda-Sa
 
Cópia de h o diag psiq ontem, hoje e amanhã ago 17
Cópia de h o diag psiq ontem, hoje e amanhã ago 17Cópia de h o diag psiq ontem, hoje e amanhã ago 17
Cópia de h o diag psiq ontem, hoje e amanhã ago 17Luiz-Salvador Miranda-Sa
 
Taxonomia e classificações (psiquiatria)
Taxonomia e classificações (psiquiatria)Taxonomia e classificações (psiquiatria)
Taxonomia e classificações (psiquiatria)Luiz-Salvador Miranda-Sa
 
O diagnóstico psiquiátrico ontem, hoje e amanhã.
O diagnóstico psiquiátrico ontem, hoje e amanhã.O diagnóstico psiquiátrico ontem, hoje e amanhã.
O diagnóstico psiquiátrico ontem, hoje e amanhã.Luiz-Salvador Miranda-Sa
 

Mais de Luiz-Salvador Miranda-Sa (20)

Diagnóstico Nosológico e Classificação das Doenças em Psiquiatria
Diagnóstico Nosológico e Classificação das Doenças em PsiquiatriaDiagnóstico Nosológico e Classificação das Doenças em Psiquiatria
Diagnóstico Nosológico e Classificação das Doenças em Psiquiatria
 
Diagnóstico nosológico e classificação em psiquiatria
Diagnóstico nosológico e classificação em psiquiatriaDiagnóstico nosológico e classificação em psiquiatria
Diagnóstico nosológico e classificação em psiquiatria
 
Doença e diagnóstico nosológico em psiquiatria
Doença e diagnóstico nosológico em psiquiatriaDoença e diagnóstico nosológico em psiquiatria
Doença e diagnóstico nosológico em psiquiatria
 
Cópia de cbp 17 taxonomias
Cópia de cbp 17  taxonomiasCópia de cbp 17  taxonomias
Cópia de cbp 17 taxonomias
 
Diagnósti do josé otávio
   Diagnósti do josé otávio   Diagnósti do josé otávio
Diagnósti do josé otávio
 
Lei 12842
Lei 12842Lei 12842
Lei 12842
 
Cópia de h o diag psiq ontem, hoje e amanhã ago 17
Cópia de h o diag psiq ontem, hoje e amanhã ago 17Cópia de h o diag psiq ontem, hoje e amanhã ago 17
Cópia de h o diag psiq ontem, hoje e amanhã ago 17
 
Taxonomia e classificações (psiquiatria)
Taxonomia e classificações (psiquiatria)Taxonomia e classificações (psiquiatria)
Taxonomia e classificações (psiquiatria)
 
O diagnóstico psiquiátrico ontem, hoje e amanhã.
O diagnóstico psiquiátrico ontem, hoje e amanhã.O diagnóstico psiquiátrico ontem, hoje e amanhã.
O diagnóstico psiquiátrico ontem, hoje e amanhã.
 
Filosofia, filosofias
Filosofia, filosofias Filosofia, filosofias
Filosofia, filosofias
 
9.3. a ciens sistemsistedde
9.3. a ciens sistemsistedde9.3. a ciens sistemsistedde
9.3. a ciens sistemsistedde
 
9.2. a cienc comprob
9.2. a cienc comprob9.2. a cienc comprob
9.2. a cienc comprob
 
9.1. especificidade e ontologia.res
9.1.  especificidade e ontologia.res9.1.  especificidade e ontologia.res
9.1. especificidade e ontologia.res
 
5.5. definição
5.5. definição5.5. definição
5.5. definição
 
5.4. explicação
5.4. explicação5.4. explicação
5.4. explicação
 
3.0 ciência e medicina
3.0 ciência e medicina3.0 ciência e medicina
3.0 ciência e medicina
 
2.5. filosofia e ciência
2.5. filosofia e ciência2.5. filosofia e ciência
2.5. filosofia e ciência
 
2.5. filosofia e ciência
2.5. filosofia e ciência2.5. filosofia e ciência
2.5. filosofia e ciência
 
2.4. conhecimento filosófico
2.4. conhecimento filosófico2.4. conhecimento filosófico
2.4. conhecimento filosófico
 
2.3. conhecimento e filosofia
2.3. conhecimento e filosofia2.3. conhecimento e filosofia
2.3. conhecimento e filosofia
 

Último

Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxDianaSheila2
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS MemoriaLibras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memorialgrecchi
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESEduardaReis50
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdflucassilva721057
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfMárcio Azevedo
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 

Último (20)

Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS MemoriaLibras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 

5.1. indiciação

  • 1. Fundamentos Epistemológicos da Medicina 8.1. Indiciação O indício é uma espécie de sinal de alarme que avisa haver algo novo para ser conhecido, que apareceu algo novo ou aparentemente novo no campo da consciência e que este objeto pode ser conhecido. Este primeiro momento de construção do conhecimento marca a emergência de uma nova imagem na consciência de quem experimenta o ato cognitivo. Este primeiro momento pode resultar de diferentes meios: da percepção do novo objeto, da recepção de uma mensagem que comunica sua existência, de uma intuição ou de uma inferência racional elaborada pelo próprio sujeito. A indiciação consiste na identificação do objeto ou fenômeno a conhecer como existente, como algo que existe com alguma autonomia em relação aos demais objetos e fenômenos; e sua distinção como algo singular no mundo; alguma coisa diferente das outras já conhecidas. A evidenciação inicia a individuação e pode se dar a partir da identificação de qualquer característica que individualize o objeto que começa a ser conhecido como uma individualidade, confundindo-se, portanto, com o início da descrição, até porque nenhum dos níveis do processo cognitivo pode ser considerado como estanque em relação aos demais. Neste momento cognitivo, um objeto, antes despercebido, se evidencia à consciência e aí se inicia o processo mais ou menos complexo de conhecê-lo. Parece desnecessário lembrar que, aqui, o termo objeto está sendo empregado com o sentido de objeto do conhecimento, isto é, qualquer objeto material ou conceitual que esteja começando a ser conhecido. Um objeto material ou conceitual, uma pessoa, um teorema, uma fábula. Qualquer objeto. Seja qual for o meio pelo qual a imagem daquele objeto novo emerge 1
  • 2. na consciência cognoscente, a evidenciação ou indiciação é invariavelmente experimentada pelo seu sujeito como o primeiro momento do processo do conhecimento de um objeto cognitivo e, com isto, produz o estágio mais elementar de seu resultado. E fenômeno é como se denomina tudo o que sucede a um objeto. Acontece a indiciação quando, por qualquer meio, se dá a caracterização de um certo objeto ou fenômeno novo na consciência e sua separação das demais coisas já conhecidas, ainda que lhe sejam mais ou menos próximas ou semelhantes. Há, ao menos um indício de que aquilo é algo novo. Para os filósofos tomistas, na evidenciação o objeto do conhecimento novo é distinguido como uma singularidade a ser melhor conhecida. Diziam que algo é evidente quando sua existência se impõe à consciência. Como ato perceptivo, a evidenciação consiste na identificação do objeto ou fenômeno a conhecer como algo novo, diferente daquilo que já se conhece e sua distinção como algo singular no mundo, diferente de tudo que se conhecia até então. Mas este momento nem sempre é um fruto da percepção, pode ser uma conclusão racional ou mesmo uma intuição a ser confirmada Os conceitos filosóficos de generalidade, particularidade e singularidade (por causa de sua importância para o entendimento das relações objetivas das coisas no mundo) fornecem a base necessária para entender o momento da evidenciação no procedimento cognitivo. Inicialmente, cada objeto ou fenômenos aparece a quem o percebe como algo singular. Em filosofia do conhecimento, os termos individuação e individualização, como percepção da individualidade através da identificação de algumas de suas características distintivas, talvez pudessem ser empregados como análogos à evidenciação. Contudo, em Psicologia e em Psicopatologia, o termo evidenciação tem sentido bem mais restrito, e quer dizer o surgimento dos fatores distintivos do indivíduo que sejam suficientes para fazê-lo notado como algo específico; o processo de construção da individualidade, com o mesmo significado de identidade, a partir de aptidões, possibilidades e 2
  • 3. estímulos internos (centrífugos) e externos (centrípetos). Neste sentido, a lei da individuação ou individualização do comportamento consiste no princípio segundo o qual os padrões de comportamento se desenvolvem, desde muito precocemente, através de períodos de crescimento que são unidades perfeitamente integradas e identificadas aos padrões da espécie, enquanto surgem padrões parciais que se identificam com o indivíduo. No passo seguinte, alguns de seus elementos se identificam com características já conhecidas de outros objetos idênticos, semelhantes ou análogos ou associáveis a ele de qualquer maneira, impondo-se o conhecimento daquela particularidade. A particularidade que reúne todos os objetos de um conjunto geral em um subconjunto particular. A particularidade está contida na generalidade assim como a individualidade ou singularidade está contida na particularidade. A seguir, surge a noção de generalidade pela identificação de características que acontecem em todos os componentes estudados e a individualidade, assinalada pelas característica que marcam a singularidade de um indivíduo daquele conjunto. Neste primeiro momento do processo de construção do conhecimento das coisas do mundo, a pessoa se dá conta de que existe no mundo da realidade (ainda que subjetiva ou abstrata) alguma coisa nova a ser conhecida que pode ser separada das demais; isto é o que aqui se denomina a evidenciação (ou indiciação). E é a partir deste momento, desta semente de conhecimento, a evidenciação, que se inicia a edificação do saber, qualquer que venha a ser sua extensão, amplitude, profundidade ou complexidade. Porque, embora os objetos e acontecimentos da natureza sejam realidades naturais, como os enfermos e suas manifestações patológicas, por exemplo, o conhecimento que se tem sobre eles são construções culturais com diferentes potenciais preditivos e explicativos. De onde surge a noção de enfermidade, como condição essencial para caracterizar um indivíduo enfermo. 3
  • 4. A evidenciação, primeiro momento do processo de conhecer, se dá mais ou menos da mesma maneira no conhecimento vulgar, no conhecimento científico e no conhecimento filosófico. O conhecimento científico e o filosófico se caracterizam pela precisão de seus símbolos e pelo rigor dos seu procedimentos. Estes talvez sejam os elementos mais importantes para diferenciá-los do senso comum, há de verificar adiante. Não obstante esta questão irá se colocar apenas no momento seguinte, na descrição. O conhecimento médico não é uma exceção a esta organização geral da construção do conhecimento científico. Distingue-se, no entanto, pela peculiaridade de seus objetos: coisas como saúde, doença, doente, terapêutica, diagnóstico, prognóstico, etiologia e tantos outros fenômenos naturais 4