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Fundamentos Epistemológicos da Medicina
8.4. Explicação -
Conceituação Explicativa
Luiz Salvador de Miranda Sá Jr.
"O homem moderno tem utilizado a relação
(linear) de causa e efeito do mesmo modo como
o homem da antiguidade usava os deuses, isto é,
para ordenar o universo. Isto não ocorria apenas
porque se tratava do sistema mais verdadeiro,
mas porque era o mais conveniente". Henri
Poincaré
Na evolução do processo cognitivo, depois de descrever e nominar, segue-se a
explicação como parte do processo menta; de apropriação pelo sujeito
cognoscente das propriedades de um objeto material ou conceitual.
Na linguagem comum, a palavra explicar acumula diversos sentidos mais ou
menos convergentes, como: transformar uma coisa desconhecida em
conhecida, tornar inteligível o obscuro; justificar, ensinar, expor, explanar; dar
conhecer a origem, o motivo ou o mecanismo gerador de um processo ou
desenvolvimento; dar satisfação a alguém sobre alguma coisa (explicar-se),
expor o porquê de um acontecimento; e diversos outros análogos a estes. A
explicação das coisas simples deve ser bem mais fácil que a de fatos
complexos. A explicação de um termo se resume e enunciar o que ele significa,
que ideia e coisa ele simboliza.
A explicação de uma condição patológica em um enfermo exige a enunciação de
sua etiologia, dos mecanismos de sua patogenia, o tipo de dano ocasionado e
suas implicações na vida do paciente e das outras pessoas. Explicar um objeto
material ou conceitual (um construto) é apontar para sua essência.
A essência de um objeto é aquilo que faz com que ele seja o que é.
Na filosofia da ciência, explicar tem sentido um tanto mais restrito e. entretanto,
mais valioso porque, em última análise, a explicação é o objetivo mais
importante do conhecimento científico. Na teoria científica, uma coisa fica
explicada quando se pode reconhecer o que há de essencial nela.
A explicação científica busca estabelecer os nexos entre os fatos e suas origens
e mecanismos e essa busca é o núcleo do procedimento explicativo. E, tendo a
explicação como objetivo, ela se torna o ponto crucial de toda atividade científica
para se libertar do descritivismo.
O descritivismo é a doutrina que limita o conhecimento à descrição domo
reação ao racionalismo, que recusa a experiência e os sentidos como fonte
do conhecimento.
Do ponto de vista da teoria do conhecimento, em ciência explicar significa
conhecer aquilo que um determinado fenômeno ou objeto tem de essencial, não
de maneira absoluta ou em todas as ocasiões, mas pelo menos naquele
contexto específico em que está sendo cogitado. Neste enfoque cognitivo,
encontra-se ao menos um rudimento de explicação desde a estruturação do
conceito que é construído, justamente, a partir da identificação da qualidade
essencial dentre as que conformam sua descrição. Contudo, neste texto,
emprega-se o termo explicação como um conceito científico porque é com este
sentido que interessa aos propósitos presentes aqui.
Existe um excelente livro de Hegenberg sobre as explicações científicas,
onde o assunto está exposto de modo bastante detalhado, mais do que é
possível ou necessário aqui.
Em filosofia da ciência consideram-se três sentidos para a explicação científica;
embora, em geral, unicamente o terceiro (denominado semântica lógica)
costume ser reconhecido como uma explicação científica, no sentido com que o
termo está sendo empregado aqui. Neste sentido, a explicação de um objeto ou
fenômeno transforma sua designação corrente em um termo científico por que,
desde então, definível geneticamente. No entanto, mesmo como conceito
científico, o termo explicar compartilha alguns sentidos convergentes que são
vistos a seguir.
Sentidos do Explicar em Ciência
Em Filosofia da ciência, o termo explicar pode abrigar três sentidos diferentes,
ainda que bastante próximos e estejam frequentemente superpostos:
1. Etapa da investigação científica que consiste em esclarecer a essência de um
objeto ou fenômeno estudado.
2. Processo do desenvolvimento cognitivo que conduz ao esclarecimento do
conteúdo de uma certa unidade sistêmica, da qual os seus elementos possam
ser independentes e diferenciados uns dos outros.
3. Procedimento lógico-metodológico de substituição de um conceito proveniente
do conhecimento comum ou da representação habitual e corriqueira de um
objeto ou fenômeno qualquer, ambos imprecisos, por um conceito científico
exato.
Em Filosofia da ciência, o principal sentido do termo explicação consiste em um
procedimento lógico-metodológico que promove a substituição de um conceito
do conhecimento comum ou da representação habitual e corriqueira de um
objeto ou fenômeno qualquer, ambos imprecisos, por um conceito científico
exato.
Em Medicina, o conceito de explicação (de uma patologia) sempre se confundiu
com a noção de causalidade e o entendimento de seus mecanismos
patogênicos (etio-patogenia). Para os médicos, explicar uma ocorrência clínica
se resume em conhecer sua causalidade e entender os mecanismos
patogênicos pelos quais se formam seus sintomas. Isto, desde a época da
monocausalidade característica do monismo causal aristotélico, A
multicausalidade implícita no condicionalismo. <Almeida, N. Fo., Epidemiologia
sem Números, Ed. Campus, S.Paulo, 1989, p. 90.>
Na atividade científica, as explicações devem ter as seguintes características:
serem restringidas a questões bem formuladas e se referirem a um aspecto
bem limitado de uma fato; sendo referidos os dados do explicado e as
circunstâncias do procedimento; as premissas devem ser exatas e as
generalizações expressas em leis.
Conhecer um objeto qualquer, como uma enfermidade, por exemplo, não se
limita a poder reconhecê-la, isto é, diagnosticá-la com o sentido de lhe atribuir
um nome em função de sua aparência, o que fazem os descritivistas.
Já se viu que no sentido científico, conhecer algo significa principalmente
explicar e prever a existência daquele objeto. Enquanto, no caso da explicação
de uma enfermidade, trata-se principalmente de conhecer sua etiologia, sua
causação. E, ainda no caso particular da explicação de uma enfermidade,
importa igualmente em conhecer os seus mecanismos patogênicos (como são
os mecanismo dos seus danos) e seu prognóstico (a previsão de sua evolução).
O conhecimento da etiopatogenia e do prognóstico são, pois, os dados
essenciais da explicação científica de uma enfermidade, inclusive de uma
enfermidade psiquiátrica. Simplesmente diagnosticar, como sentido de aplicar
um nome não significa conhecer se este diagnóstico não serve para explicar a
enfermidade e apontar para aquilo que ela tem de essencial.
Explicações Dedutivas, Probabilísticas e Genéticas
Existem diversos tipos de explicações científicas, dentre as quais podem ser
destacadas algumas por causa de seu significado especial para a investigação
científica, especialmente no campo do conhecimento médico.
As explicações são, em tudo, análogas às conclusões lógicas e não podem ser
entendidas fora de sua referência.
Tais modalidades de explicação científica são:
explicações dedutivas,
explicações probabilísticas e
explicações genéticas.
A explicação dedutiva pode ser entendida em diversos planos de significação:
raciocínio imediato, raciocínio descendente que vai do geral ao particular,
derivação do concreto a partir do abstrato. Aqui, estão entendidas como
processo lógico oposto à indução.
Ainda que características da ciência, cada uma destas modalidades de
explicação tem sua utilidade manifesta na construção de qualquer tipo de
conhecimento, principalmente do conhecimento científico, mas também
costumam ser empregadas na elaboração do conhecimento vulgar.
Não se deve pensar que estas modalidades de explicação se oponham ou
que se excluam umas às outras. Cada uma delas representa uma
possibilidade de explicação a ser empregado quando for mais útil ou mais
viável.
As explicações, quaisquer que forem estão sempre associadas a
pressupostos teóricos e a estruturas lógicas propostas nas teorias (estejam
ou não comprovadas). A explicação situa porque existe um certo objeto ou
porque sucede um dado acontecimento.
Uma breve explanação sobre cada um destes tipos de explicação resulta no
seguinte quadro sinóptico dos diferentes tipos possíveis de explicação como
instrumentos do conhecimento científico:
As explicações dedutivas são a metodologia específica das ciências formais,
como a lógica e a matemática, nas quais a explicação se confunde com a
demonstração e o critério de verdade é a coerência interna do raciocínio.
As explicações dedutivas, como sua designação indica, é a maneira de chegar
a conclusões inteligentes usando a dedução como processamento lógico-
racional.
Desde Aristóteles, tem-se a dedução como modalidade de raciocínio, pelo
qual se conclui sobre o particular, a de uma proposição a outra que decorre
dela. Para os efeitos de sua aplicação da filosofia da ciência, toda dedução
(do latim, deductio) resulta da aplicação das leis da lógica; deduzir consiste
na conclusão lógica que decorre da derivação ou demonstração correta de
uma afirmação (uma consequência lógica), de uma ou várias outras
afirmações, as suas premissas. As consequências se encontram de forma
encoberta nas premissas e devem ser extraídas delas pela análise lógica.
As explicações probabilísticas substituem as explicações genéticas, quando
estas não forem possíveis, encerrando já um componente importante de
cientificidade. As explicações científicas por excelência são as explicações
genéticas. Isto é verdadeiro em todas as ciências factuais, inclusive nas
aplicações científicas da Medicina. Explicar uma patologia é conhecer suas
causas e seus mecanismos patogênicos. Explicar uma terapêutica é saber
como age um determinado remédio em um doente que apresenta uma
enfermidade determinada e conhecida.
A explicação probabilística ou estatística (na qual as premissas são logicamente
insuficientes para garantir a verdade pelo conhecimento delas mesmas, mas tal
conhecimento pode gerar enunciados que indiquem mais ou menos
precisamente qual o grau de probabilidade de verdade contida nela);
As explicações probabilísticas ou estatísticas. de um modo geral, aplicam a
metodologia indutiva para concluir inteligentemente. Diferentemente da
dedução, a conclusão pela indução possibilita as generalizações a partir do
conhecimento de casos particulares. Esta modalidade de explicação se apóia
em técnicas estatísticas de significância, correlação e probabilidade e se
presta muito para estudar os objetos, fenômenos e processos naturais
(talvez por causa da uniformidade da natureza). As explicações
probabilísticas implicam na determinação do grau de probabilidade de um
acontecimento (uma explicação ou uma previsão) vir a ocorrer.
A explicação genética (que desvenda uma sequência de acontecimentos que
explicam o desenvolvimento íntimo de um processo ou que determinam a
transformação de um sistema em outro).
As explicações genéticas (de causação) se baseavam na lei da causalidade
universal. Isto é, tudo tem uma causa e esta causa pode ser desvendada (a
própria explicação genética). Acontece que os físicos, estudando os
fenômenos sub-atômicos, concluíram que, naquele nível de existência
natural, as coisas não eram bem assim. Ali, além de desaparecerem as
partículas e imperando as ondas (como componentes elementares do
mundo), também não vigorava a lei da causalidade universal. Foi o bastante
para os sábios colocarem em dúvida a etiologia das enfermidades e a
causação no resto da natureza...
Alem das explicações científicas dedutivas, probabilísticas ou genéticas existem
outras possíveis, principalmente com aplicação no campo do conhecimento
comum, mas também para muitos cientistas, existem as explicações finalísticas
(ou teleológicas), pelas quais uma coisa é explicada pela sua finalidade. Na
Antiguidade (principalmente para Platão e Aristóteles) a identificação çou
presunção de um objetivo permitia explicar os fenômenos. E isto se dá como um
mecanismo contrário ao de causa e efeito do mundo natural, na qual a coisa
passada prenuncia o que acontecerá no futuro.
1
Neste processo o que está
para acontecer, o futuro, determina o comportamento presente.
Explicar e Entender
A explicação se completa no entendimento. De fato, a explicação se concretiza e
se completa no entendimento daquilo que é explicado. Explicar e entender são
fenômenos que se completam em sua aparente contradição, não podendo existir
uma sem a outra. Entender significa o processo de perceber as conexões
inteligentes de um acontecimento, dar-se conta do que há de essencial em um
objeto, uma série de fenômenos ou em um processo.
Dar-se conta disso é uma tarefa que exige superar o conhecimento da
aparência. Por isso, em última análise, entender é perceber o significado da
explicação. Como acontece com os processos de ensinar e aprender, só existe
explicação se houver seu entendimento por parte de quem ela é dirigida.
Uma explicação não entendida não é uma explicação, por mais que se deseja,
não passa de uma tentativa de explicar, não se concretiza. Por isto, estes
conceitos formam um par de categorias dialéticas que se mostram fundamentais
na estrutura da teoria do conhecimento, sobretudo naquilo que se refere À
Medicina e à Psiquiatria. Alguma coisa só fica explicada se é entendida e o
entendimento se resume no conhecimento da explicação.
Explicar e entender são conceitos perfeitamente inter-complementares
(categorias dialéticas da psicologia e da teoria do conhecimento, pode-se dizer).
1
Hegenberg, L., Explicações científicas, Ed. EPU/EDUSP, S.Paulo, 1973, p. 193.
As ciências existem porque as pessoas se deram conta de que:
a) que é possível explicar e entender o universo de modo natural e inteligente;
e,
b) que as explicações dos fatos do mundo estão escondidas atrás das
aparências pela quais eles se apresentam antes os sentidos de quem os
observa.
A explicação é um procedimento essencialmente lógico-cognitivo, embora
possa ter motivações e implicações afetivas. Entretanto, tais motivos e
consequências não mudam sua natureza de processo essencialmente lógico,
inteligente.
Entender significa o procedimento ou processo cognitivo de estabelecer as
conexões lógicas entre um fato e suas explicações; conhecer o mecanismo
interno de um processo. O entendimento é o elemento essencial que diferencia
a aprendizagem mecânica do aprendizado racional. Aprende-se mecanicamente
aquilo que não se entende, por carecer de explicação suficiente e isto se
denomina fixação mecânica. Não se deve confundir entender com aprender,
equívoco que muitos cometem. Aprender é fixar, mas não se limita ao
entendimento; porque, embora o entendimento seja indispensável ao
aprendizado racional, a fixação racional exige que, além de entender, haja
esforço e disciplina. Não basta entender para aprender, o entendimento é
apenas o primeiro momento da fixação racional. Aprender significa fixar na
memória aquilo que foi entendido. Não esquecer que a fixação racional é muito
mais eficaz que a mecânica.
É muito importante saber disto porque é comum que uma explicação dada
na aula seja perfeitamente entendida, propiciando uma ilusão de
aprendizagem, sem que isto tenha ocorrido por faltar fixação daquele
conteúdo.
Entender e Compreender
Na maior parte dos reinos da natureza e das ciências que se dedicam a estudá-
los, as palavra entender e compreender são tidas como sinônimos, e tal
identificação não implica em qualquer prejuízo aparente. Na linguagem comum
também se emprega a expressão entender como sinônimo e equivalente a
compreender, mas estes dois termos se referem a mecanismos psicológicos e a
processos cognitivos diferentes. Enquanto entender significa estabelecer laços
lógicos entre duas proposições, é um processo inteligente; compreender significa
abranger, sentir como o outro que é compreendido, trata-se de um processo
claramente afetivo.
Na Psicologia e na Psiquiatria (bem como deve suceder em toda Medicina), não
se deve confundir as expressões entender e compreender porque aí importa
respeitar sua diferença. Mesmo para a maioria dos cientistas e técnicos de
outras áreas que não a psicológica, e a médica haja costuma de praticar esta
analogia. Contudo, esta prática deve ser evitada na linguagem técnica, porque
indica desconhecimento imperdoável em um médico, um psicólogo, um
pedagogo. Ainda que, para muitos, isto não deva acontecer, ao menos no
terreno das explicações científicas, o conceito de explicação, se opõe e se
completa no de compreensão, como categorias dialéticas. Entender, já se viu no
item anterior, é um processo inteligente do pensamento que permite estabelecer
uma relação lógica entre um fato e suas explicações conhecidas; um processo
cognitivo.
Por seu lado, compreender é um processo basicamente afetivo, embora
costume integrar componentes cognitivos, que é explicado pela dinâmica das
esfera dos fenômenos e processos afetivos da personalidade; manifesta a
relação dinâmica entre o sujeito e suas necessidades. Para os psicólogos e para
os médicos entender e compreender são fenômenos (ou processos) existenciais
diferentes, procedentes de instâncias qualitativamente diversas da
personalidade.
Na verdade, este é um excelente exemplo de como a contaminação do
entendimento do senso comum pode vir a transtornar o raciocínio científico. Em
textos científicos, jamais se deve empregar os termos entender e compreender
como se fossem sinônimos.
Compreender é uma categoria da psicologia e os cientistas desta área do
conhecimento devem preservar este termo para seu emprego específico
porque ele tem muita utilidade prática e muitas possibilidades teóricas.
A noção de compreensão tem sentido de forma de apreensão global e mais ou
menos intuitiva e empática da expressão psíquica do outro; uma intuição ou um
mecanismo de identificação de caráter bastante afetivo. A rigor, o termo
compreender significa sintonia afetiva, intuição empática, abranger, ter dentro de
si como uma impressão sintética e completa, com conotação mais de
apreensão, de interpretação e decodificação analítico-cognitiva (entender);
compreender é apreender a explicação intuitivamente. Para Jaspers, os
fenômenos psicológicos podiam ser caracterizados exatamente por sua
compreensibilidade (neste sentido intuitivo-empático) e o que não podia ser assim
compreendido não se poderia explicar por mecanismos ou causas psicológicas.
Para Jaspers, os fenômenos psíquicos deveriam ser explicados (nível
inteligente) e compreendidos (nível afetivo).
A dicotomia que separava explicar de compreender, é bastante posterior a
Jaspers e não tem qualquer apoio lógico ou científico. Reporta-se Às
dificuldades epistemológicas da psicologia subjetivista.
De um ponto-de-vista restrito à área da saúde mental, principalmente porque
interessa à teoria e à prática da psicoterapia e da nosologia clínica, ainda hoje, o
explicar e o compreender se completam como categorias dialéticas, podendo se
prestar a reducionismos. Existem técnicas explicativas e compreensivas de
psicoterapia e abordagem clínica e isto origina diversos conflitos teóricos. No
entanto, é preciso ter presente que muitos conflitos teóricos se originam por
causa da exigência de uma opção entre o explicar e o compreender e esta
exigência de opção é uma falácia.
O verbo explicar se completa perfeitamente no verbo entender. O explicar
só se relaciona com o compreender, quando este último é aplicado com seu
sentido mais restrito de ação de entendimento.
Ninguém precisa escolher entre explicar e compreender, mas todos devem
saber o que dizem com estes termos e que fenômenos psicossociais reais
eles traduzem.
Na história da ciência, especialmente na da Medicina e da Psicologia, os
procedimentos compreensivos têm fornecido uma valiosa contribuição ao
avanço do conhecimento sobretudo no fornecimento de sistemas
explicativos globais e de possibilidades explicativas que permitam a
estruturação de hipóteses que podem comprová-las ou não.
Em qualquer caso, embora não se deva absolutizar ou super-estimar a
compreensão como instrumento do conhecimento científico, como fazem
alguns psicoanalistas, não se deve igualmente negá-la ou depreciá-la, como
alguns empiristas, positivistas e neo-positivistas.
Em Medicina, já foi afirmado e há de ser repetido, entender uma enfermidade
significa basicamente conhecer sua causação (ao menos nos níveis mais
elevados que o sub-atômico), os mecanismos pelos quais são produzidos os
danos patológicos, avaliar a extensão e as consequências da patologia, os
meios para reconhecê-la e os recursos para tratar a pessoa afetada por ela. E,
nestes termos, não se pode negar a necessidade de entender as enfermidades
(que não deve se confundir com compreender o enfermo).
Compreender o enfermo, por sua vez, também é uma necessidade essencial da
assistência médica. ê tão necessário entender a enfermidade quanto
compreender o enfermo. Assim como o processo diagnóstico da enfermidade
tem o enfermo como referência obrigatória, o tratamento do enfermo se reporta,
necessariamente, À sua enfermidade. Nunez
2
afirma com muita razão: A
explicação pertence ao domínio da necessidade e da causalidade. A compreensão pertence ao
domínio da liberdade, da possibilidade e da valoração. A necessidade é uma região ontológica, a
liberdade é outra...
O conceito de compreensão escapa ao domínio puramente psicológico (até
porque isto não existe), é sempre um conceito psicossocial, encontra-se sujeito
a variáveis biológicas e culturais. O mesmo acontece com a noção do
2
Nunez, F.O. Psicologia médica, Ed. Lopez, Buenos Aires, 1974, p. 61.
entendimento de uma enfermidade.
Apesar de se saber que as causas (e consequências) das enfermidades podem
ter uma matriz biológica, psicológica ou social, estas estruturas etiológicas não
se apresentam isoladas ou independentes. Em cada caso, é necessário traçar
uma teoria específica para explicar aquela enfermidade, naquele enfermo,
naquelas circunstâncias.
Entender e Interpretar
O entendimento pode resultar de uma interpretação e esta única palavra se
refere a dois processos cognitivos bem diferentes, o que a coloca no eixo de
uma ambiguidade que contra-indica seu emprego como termo científico.
Entender, como já se viu, pode ser definido como o processo cognitivo de
promover a decodificação de um significado; um procedimento ou processo
psicológico eminentemente racional.
Enquanto o termo interpretação costuma ser usado com três sentidos distintos
que se referem a procedimentos cognitivos diversos:
o mesmo que entender;
disposição organizada dos dados de um sistema e
descoberta do significado oculto pelos dados primários de uma descrição ou
explicação.
Em outras palavras, interpretar pode significar entender ou pode significar
compreender (com os dois sentidos que se atribui a estes termos em
Psicologia). Mas também pode significar intuir usando uma teoria como
referência obrigatória.
O primeiro destes sentidos da interpretação é fundamentalmente lógico.
O segundo sentido, encerra o conteúdo heurístico de descobrir o significado dos
fatos narrados através do estudo deles (a hermenêutica).
O terceiro sentido de interpretar, inclui a necessidade do emprego de um
sistema de referência exterior aos fatos e próprio da subjetividade de quem
opera o procedimento para encontrar sua interpretação; referência externa que
possibilita o procedimento interpretativo. E esta manobra permite que se
corporifique qualquer aventura pseudo-científica ou que consagre qualquer
aberração lógica, desde que suficiente de se transformar em dogma. Por isto,
não se admite a interpretação na atividade científica (embora ela permaneça
tolerada na religião).
O segundo sentido inclui a elucidação do significado dos símbolos, escalas e
outros elementos de referência usados em uma investigação. Neste segundo
sentido, o que interessa neste texto, interpretar significa descobrir o significado
oculto de um símbolo ou um sistema simbólico com mais de um nível de
decodificação; pelos menos um deles aparente e, pelo menos um outro,
subjacente e oculto à apreciação que não conte com a chave de interpretação.
Em psicologia e em psicoterapia, desde Freud, interpretar pode ter este
segundo sentido, com alcance muito ampliado, e significa atribuir uma
explicação a um certo comportamento a partir de um sistema explicativo
aceito a prori como referência para aquela finalidade; de certa maneira, um
explicação antecipadamente aceita. Mas também pode ser empregado com o
terceiro dos sentidos listados acima.
Como este procedimento não pode ser objeto de verificação empírica, nos
dois casos mencionados, por se carecer de metodologia conhecida para isto.
Portanto, costuma ser excluído do arsenal dos procedimentos científicos;
mas é um importante instrumento para o senso comum, ainda que não
possa ser considerado um processo confiável de explicação científica.
Os autores de extração psicoanalítica pretendem, no entanto, que este
procedimento, mesmo que não possa ter estabelecida sua confiabilidade,
pretendem que ele possa ser validado por seus resultados práticos. O fato,
em vez de validar a interpretação é seu fruto. 'A verificação é a cura (Ceriotto).
3
Conceito Explicativo
Um conceito explicativo é um conceito cujo conteúdo essencial ultrapassa os
3
Nuñez, F.O. Psicologia médica, Ed. Lopez Livreros y Editores, Buenos Aires, 1974, p.
69
limites da descrição e encerra uma explicação. Assim como a explicação
completa a descrição, o conceito explicativo completa o conceito descritivo. E a
origem da coisa estudada é uma das manifestações mais importantes do
procedimento explicativo. O conhecimento da origem de uma coisa é um dos
elementos mais importantes de sua conceituação explicativa. Por tudo isto,
como sucede em todas as atividades científicas, um dos objetivos do
processamento de seus dados é a busca das causas dos fenômenos que
estuda acerca de seu objeto.
A etiologia é justamente a disciplina filosófica dedicada a estudar a causalidade
das enfermidades e os fatores e mecanismos potencialmente capazes de
interferir em seu desenvolvimento. Nas ciências médicas, a etiologia é o ramo
da patologia que tem por objeto o estudo da causação das enfermidades. Uma
enfermidade só pode ser considerada explicada quando seu conceito encerra
sua origem (sua etiologia) e os mecanismos patogênicos que os fatores
etiológicos mobilizam.
A etio-patogenia é a explicação mais importante de uma enfermidade, ao
menos do ponto de vista da Medicina e da atividade prática dos médicos.
Em Medicina, a transformação de um conceito clínico-descritivo em um conceito
explicativo-patogênico é um dos objetivos mais caros de sua atividade científica
que está intimamente relacionada ao conhecimento e à possibilidade
reconhecimento de sua etio-patogenia não apenas com o objetivo de dirigir a
terapêutica, mas para possibilitar a profilaxia. Ao longo do processo da
construção do conhecimento sobre uma enfermidade, o conhecimento da sua
etiologia é a informação que vai permitir que se construa uma síntese da
condição clínica em sua definição científica. O conceito explicativo substitui o
conceito meramente descritivo que antes designava a enfermidade. E a
definição a partir de uma explicação etio-patogênica constitui o fecho da
investigação clínica.
Os dois fenômenos explicativos da patologia mais importantes são: a causa e os
mecanismos patogênicos.
Etiologia é o ramo da patologia que estuda as causas e os mecanismos causais
dos fenômenos; também pode significar a causa de uma enfermidade.
A etiologia psiquiátrica é o capítulo da Psicopatologia que estuda as causas da
patologia psíquica e a patogenia estuda os mecanismos determinantes dos
danos e sintomas daquela patologia. Dentre os tipos de fatores etiopatogênicos,
distinguem-se os causais, os predisponentes, os atenuadores, os agravadores e
os desencadeantes.
O primeiro modelo etiológico, o lesional externo, considerava a ação traumática
dos agentes físicos, químicos e biológicos e a resposta imediata do organismo.
O modelo etiológico unilinear e mecanicista estabelecido pela Medicina
positivista do século passado para explicar doenças somáticas (o modelo das
infecções) é um modelo mono-causal, de causalidade quase sempre direta
(aquela na qual se pode estabelecer um nexo primário de causa e feito entre o
estímulo patogênico e a resposta patológica) e muito frequentemente imediato
ou quase imediato.
Seguiu-se a noção de localização e caracterização dos processos patológicos
(inflamação, degeneração) com a descoberta dos processos anátomo-
patológicos.
Atualmente, sobretudo graças à contribuição da epistemologia, da psicologia
médica, da sociologia médica, da epidemiologia e de outras ciências naturais
e da sociedade, a concepção etiológica evoluiu para um modelo dinâmico de
concausalidade. A psiquiatria foi talvez o primeiro ramo da Medicina em que
se manifestou esta necessidade cognitiva; nela, há muito se defende um
modelo etiológico multi-causal (que não deve ser confundido com a negação
da causalidade).
Quase todos os positivistas e muitos neo-positivistas recusam a explicação
como etapa do conhecimento científico. Para eles, a ciência não tem o que
explicar e a atividade científica deve se limitar a descrever. Por isto não existe
uma explicação nominal e outra real.
Até para alguns deles deve parecer ridícula esta forma de considerar as
coisas inexplicáveis, de só pretenderem explicar os seus próprios nomes.
Explicar e Prever
A explicação, enquanto procedimento lógico consiste em estabelecer uma
relação estável entre uma coisa e algum antecedente seu; descobrir o
antecedente de uma coisa conhecida. A previsão resulta do mecanismos lógico
oposto; previsão é o procedimento lógico pelo qual, conhecendo-se o
antecedente, descobre-se o consequente, podendo-se antecipar o que está para
acontecer.
Explicar e prever são duas facetas da mesma operação lógica. De certa
maneira, explicar é prever, porque os dois procedimentos empregam os
mesmos recursos, apenas em sentidos opostos. Por esta razão, diagnosticar (no
sentido de explicar uma enfermidade) é prognosticar (prever sua evolução).

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Fundamentos Epistemológicos da Medicina

  • 1. Fundamentos Epistemológicos da Medicina 8.4. Explicação - Conceituação Explicativa Luiz Salvador de Miranda Sá Jr. "O homem moderno tem utilizado a relação (linear) de causa e efeito do mesmo modo como o homem da antiguidade usava os deuses, isto é, para ordenar o universo. Isto não ocorria apenas porque se tratava do sistema mais verdadeiro, mas porque era o mais conveniente". Henri Poincaré Na evolução do processo cognitivo, depois de descrever e nominar, segue-se a explicação como parte do processo menta; de apropriação pelo sujeito cognoscente das propriedades de um objeto material ou conceitual. Na linguagem comum, a palavra explicar acumula diversos sentidos mais ou menos convergentes, como: transformar uma coisa desconhecida em conhecida, tornar inteligível o obscuro; justificar, ensinar, expor, explanar; dar conhecer a origem, o motivo ou o mecanismo gerador de um processo ou desenvolvimento; dar satisfação a alguém sobre alguma coisa (explicar-se), expor o porquê de um acontecimento; e diversos outros análogos a estes. A explicação das coisas simples deve ser bem mais fácil que a de fatos complexos. A explicação de um termo se resume e enunciar o que ele significa, que ideia e coisa ele simboliza. A explicação de uma condição patológica em um enfermo exige a enunciação de sua etiologia, dos mecanismos de sua patogenia, o tipo de dano ocasionado e suas implicações na vida do paciente e das outras pessoas. Explicar um objeto
  • 2. material ou conceitual (um construto) é apontar para sua essência. A essência de um objeto é aquilo que faz com que ele seja o que é. Na filosofia da ciência, explicar tem sentido um tanto mais restrito e. entretanto, mais valioso porque, em última análise, a explicação é o objetivo mais importante do conhecimento científico. Na teoria científica, uma coisa fica explicada quando se pode reconhecer o que há de essencial nela. A explicação científica busca estabelecer os nexos entre os fatos e suas origens e mecanismos e essa busca é o núcleo do procedimento explicativo. E, tendo a explicação como objetivo, ela se torna o ponto crucial de toda atividade científica para se libertar do descritivismo. O descritivismo é a doutrina que limita o conhecimento à descrição domo reação ao racionalismo, que recusa a experiência e os sentidos como fonte do conhecimento. Do ponto de vista da teoria do conhecimento, em ciência explicar significa conhecer aquilo que um determinado fenômeno ou objeto tem de essencial, não de maneira absoluta ou em todas as ocasiões, mas pelo menos naquele contexto específico em que está sendo cogitado. Neste enfoque cognitivo, encontra-se ao menos um rudimento de explicação desde a estruturação do conceito que é construído, justamente, a partir da identificação da qualidade essencial dentre as que conformam sua descrição. Contudo, neste texto, emprega-se o termo explicação como um conceito científico porque é com este sentido que interessa aos propósitos presentes aqui. Existe um excelente livro de Hegenberg sobre as explicações científicas, onde o assunto está exposto de modo bastante detalhado, mais do que é possível ou necessário aqui. Em filosofia da ciência consideram-se três sentidos para a explicação científica; embora, em geral, unicamente o terceiro (denominado semântica lógica) costume ser reconhecido como uma explicação científica, no sentido com que o termo está sendo empregado aqui. Neste sentido, a explicação de um objeto ou
  • 3. fenômeno transforma sua designação corrente em um termo científico por que, desde então, definível geneticamente. No entanto, mesmo como conceito científico, o termo explicar compartilha alguns sentidos convergentes que são vistos a seguir. Sentidos do Explicar em Ciência Em Filosofia da ciência, o termo explicar pode abrigar três sentidos diferentes, ainda que bastante próximos e estejam frequentemente superpostos: 1. Etapa da investigação científica que consiste em esclarecer a essência de um objeto ou fenômeno estudado. 2. Processo do desenvolvimento cognitivo que conduz ao esclarecimento do conteúdo de uma certa unidade sistêmica, da qual os seus elementos possam ser independentes e diferenciados uns dos outros. 3. Procedimento lógico-metodológico de substituição de um conceito proveniente do conhecimento comum ou da representação habitual e corriqueira de um objeto ou fenômeno qualquer, ambos imprecisos, por um conceito científico exato. Em Filosofia da ciência, o principal sentido do termo explicação consiste em um procedimento lógico-metodológico que promove a substituição de um conceito do conhecimento comum ou da representação habitual e corriqueira de um objeto ou fenômeno qualquer, ambos imprecisos, por um conceito científico exato. Em Medicina, o conceito de explicação (de uma patologia) sempre se confundiu com a noção de causalidade e o entendimento de seus mecanismos patogênicos (etio-patogenia). Para os médicos, explicar uma ocorrência clínica se resume em conhecer sua causalidade e entender os mecanismos patogênicos pelos quais se formam seus sintomas. Isto, desde a época da monocausalidade característica do monismo causal aristotélico, A multicausalidade implícita no condicionalismo. <Almeida, N. Fo., Epidemiologia
  • 4. sem Números, Ed. Campus, S.Paulo, 1989, p. 90.> Na atividade científica, as explicações devem ter as seguintes características: serem restringidas a questões bem formuladas e se referirem a um aspecto bem limitado de uma fato; sendo referidos os dados do explicado e as circunstâncias do procedimento; as premissas devem ser exatas e as generalizações expressas em leis. Conhecer um objeto qualquer, como uma enfermidade, por exemplo, não se limita a poder reconhecê-la, isto é, diagnosticá-la com o sentido de lhe atribuir um nome em função de sua aparência, o que fazem os descritivistas. Já se viu que no sentido científico, conhecer algo significa principalmente explicar e prever a existência daquele objeto. Enquanto, no caso da explicação de uma enfermidade, trata-se principalmente de conhecer sua etiologia, sua causação. E, ainda no caso particular da explicação de uma enfermidade, importa igualmente em conhecer os seus mecanismos patogênicos (como são os mecanismo dos seus danos) e seu prognóstico (a previsão de sua evolução). O conhecimento da etiopatogenia e do prognóstico são, pois, os dados essenciais da explicação científica de uma enfermidade, inclusive de uma enfermidade psiquiátrica. Simplesmente diagnosticar, como sentido de aplicar um nome não significa conhecer se este diagnóstico não serve para explicar a enfermidade e apontar para aquilo que ela tem de essencial. Explicações Dedutivas, Probabilísticas e Genéticas Existem diversos tipos de explicações científicas, dentre as quais podem ser destacadas algumas por causa de seu significado especial para a investigação científica, especialmente no campo do conhecimento médico. As explicações são, em tudo, análogas às conclusões lógicas e não podem ser entendidas fora de sua referência. Tais modalidades de explicação científica são: explicações dedutivas,
  • 5. explicações probabilísticas e explicações genéticas. A explicação dedutiva pode ser entendida em diversos planos de significação: raciocínio imediato, raciocínio descendente que vai do geral ao particular, derivação do concreto a partir do abstrato. Aqui, estão entendidas como processo lógico oposto à indução. Ainda que características da ciência, cada uma destas modalidades de explicação tem sua utilidade manifesta na construção de qualquer tipo de conhecimento, principalmente do conhecimento científico, mas também costumam ser empregadas na elaboração do conhecimento vulgar. Não se deve pensar que estas modalidades de explicação se oponham ou que se excluam umas às outras. Cada uma delas representa uma possibilidade de explicação a ser empregado quando for mais útil ou mais viável. As explicações, quaisquer que forem estão sempre associadas a pressupostos teóricos e a estruturas lógicas propostas nas teorias (estejam ou não comprovadas). A explicação situa porque existe um certo objeto ou porque sucede um dado acontecimento. Uma breve explanação sobre cada um destes tipos de explicação resulta no seguinte quadro sinóptico dos diferentes tipos possíveis de explicação como instrumentos do conhecimento científico: As explicações dedutivas são a metodologia específica das ciências formais, como a lógica e a matemática, nas quais a explicação se confunde com a demonstração e o critério de verdade é a coerência interna do raciocínio. As explicações dedutivas, como sua designação indica, é a maneira de chegar a conclusões inteligentes usando a dedução como processamento lógico- racional. Desde Aristóteles, tem-se a dedução como modalidade de raciocínio, pelo qual se conclui sobre o particular, a de uma proposição a outra que decorre dela. Para os efeitos de sua aplicação da filosofia da ciência, toda dedução (do latim, deductio) resulta da aplicação das leis da lógica; deduzir consiste na conclusão lógica que decorre da derivação ou demonstração correta de uma afirmação (uma consequência lógica), de uma ou várias outras afirmações, as suas premissas. As consequências se encontram de forma
  • 6. encoberta nas premissas e devem ser extraídas delas pela análise lógica. As explicações probabilísticas substituem as explicações genéticas, quando estas não forem possíveis, encerrando já um componente importante de cientificidade. As explicações científicas por excelência são as explicações genéticas. Isto é verdadeiro em todas as ciências factuais, inclusive nas aplicações científicas da Medicina. Explicar uma patologia é conhecer suas causas e seus mecanismos patogênicos. Explicar uma terapêutica é saber como age um determinado remédio em um doente que apresenta uma enfermidade determinada e conhecida. A explicação probabilística ou estatística (na qual as premissas são logicamente insuficientes para garantir a verdade pelo conhecimento delas mesmas, mas tal conhecimento pode gerar enunciados que indiquem mais ou menos precisamente qual o grau de probabilidade de verdade contida nela); As explicações probabilísticas ou estatísticas. de um modo geral, aplicam a metodologia indutiva para concluir inteligentemente. Diferentemente da dedução, a conclusão pela indução possibilita as generalizações a partir do conhecimento de casos particulares. Esta modalidade de explicação se apóia em técnicas estatísticas de significância, correlação e probabilidade e se presta muito para estudar os objetos, fenômenos e processos naturais (talvez por causa da uniformidade da natureza). As explicações probabilísticas implicam na determinação do grau de probabilidade de um acontecimento (uma explicação ou uma previsão) vir a ocorrer. A explicação genética (que desvenda uma sequência de acontecimentos que explicam o desenvolvimento íntimo de um processo ou que determinam a transformação de um sistema em outro). As explicações genéticas (de causação) se baseavam na lei da causalidade universal. Isto é, tudo tem uma causa e esta causa pode ser desvendada (a própria explicação genética). Acontece que os físicos, estudando os fenômenos sub-atômicos, concluíram que, naquele nível de existência natural, as coisas não eram bem assim. Ali, além de desaparecerem as partículas e imperando as ondas (como componentes elementares do mundo), também não vigorava a lei da causalidade universal. Foi o bastante para os sábios colocarem em dúvida a etiologia das enfermidades e a causação no resto da natureza...
  • 7. Alem das explicações científicas dedutivas, probabilísticas ou genéticas existem outras possíveis, principalmente com aplicação no campo do conhecimento comum, mas também para muitos cientistas, existem as explicações finalísticas (ou teleológicas), pelas quais uma coisa é explicada pela sua finalidade. Na Antiguidade (principalmente para Platão e Aristóteles) a identificação çou presunção de um objetivo permitia explicar os fenômenos. E isto se dá como um mecanismo contrário ao de causa e efeito do mundo natural, na qual a coisa passada prenuncia o que acontecerá no futuro. 1 Neste processo o que está para acontecer, o futuro, determina o comportamento presente. Explicar e Entender A explicação se completa no entendimento. De fato, a explicação se concretiza e se completa no entendimento daquilo que é explicado. Explicar e entender são fenômenos que se completam em sua aparente contradição, não podendo existir uma sem a outra. Entender significa o processo de perceber as conexões inteligentes de um acontecimento, dar-se conta do que há de essencial em um objeto, uma série de fenômenos ou em um processo. Dar-se conta disso é uma tarefa que exige superar o conhecimento da aparência. Por isso, em última análise, entender é perceber o significado da explicação. Como acontece com os processos de ensinar e aprender, só existe explicação se houver seu entendimento por parte de quem ela é dirigida. Uma explicação não entendida não é uma explicação, por mais que se deseja, não passa de uma tentativa de explicar, não se concretiza. Por isto, estes conceitos formam um par de categorias dialéticas que se mostram fundamentais na estrutura da teoria do conhecimento, sobretudo naquilo que se refere À Medicina e à Psiquiatria. Alguma coisa só fica explicada se é entendida e o entendimento se resume no conhecimento da explicação. Explicar e entender são conceitos perfeitamente inter-complementares (categorias dialéticas da psicologia e da teoria do conhecimento, pode-se dizer). 1 Hegenberg, L., Explicações científicas, Ed. EPU/EDUSP, S.Paulo, 1973, p. 193.
  • 8. As ciências existem porque as pessoas se deram conta de que: a) que é possível explicar e entender o universo de modo natural e inteligente; e, b) que as explicações dos fatos do mundo estão escondidas atrás das aparências pela quais eles se apresentam antes os sentidos de quem os observa. A explicação é um procedimento essencialmente lógico-cognitivo, embora possa ter motivações e implicações afetivas. Entretanto, tais motivos e consequências não mudam sua natureza de processo essencialmente lógico, inteligente. Entender significa o procedimento ou processo cognitivo de estabelecer as conexões lógicas entre um fato e suas explicações; conhecer o mecanismo interno de um processo. O entendimento é o elemento essencial que diferencia a aprendizagem mecânica do aprendizado racional. Aprende-se mecanicamente aquilo que não se entende, por carecer de explicação suficiente e isto se denomina fixação mecânica. Não se deve confundir entender com aprender, equívoco que muitos cometem. Aprender é fixar, mas não se limita ao entendimento; porque, embora o entendimento seja indispensável ao aprendizado racional, a fixação racional exige que, além de entender, haja esforço e disciplina. Não basta entender para aprender, o entendimento é apenas o primeiro momento da fixação racional. Aprender significa fixar na memória aquilo que foi entendido. Não esquecer que a fixação racional é muito mais eficaz que a mecânica. É muito importante saber disto porque é comum que uma explicação dada na aula seja perfeitamente entendida, propiciando uma ilusão de aprendizagem, sem que isto tenha ocorrido por faltar fixação daquele conteúdo. Entender e Compreender Na maior parte dos reinos da natureza e das ciências que se dedicam a estudá-
  • 9. los, as palavra entender e compreender são tidas como sinônimos, e tal identificação não implica em qualquer prejuízo aparente. Na linguagem comum também se emprega a expressão entender como sinônimo e equivalente a compreender, mas estes dois termos se referem a mecanismos psicológicos e a processos cognitivos diferentes. Enquanto entender significa estabelecer laços lógicos entre duas proposições, é um processo inteligente; compreender significa abranger, sentir como o outro que é compreendido, trata-se de um processo claramente afetivo. Na Psicologia e na Psiquiatria (bem como deve suceder em toda Medicina), não se deve confundir as expressões entender e compreender porque aí importa respeitar sua diferença. Mesmo para a maioria dos cientistas e técnicos de outras áreas que não a psicológica, e a médica haja costuma de praticar esta analogia. Contudo, esta prática deve ser evitada na linguagem técnica, porque indica desconhecimento imperdoável em um médico, um psicólogo, um pedagogo. Ainda que, para muitos, isto não deva acontecer, ao menos no terreno das explicações científicas, o conceito de explicação, se opõe e se completa no de compreensão, como categorias dialéticas. Entender, já se viu no item anterior, é um processo inteligente do pensamento que permite estabelecer uma relação lógica entre um fato e suas explicações conhecidas; um processo cognitivo. Por seu lado, compreender é um processo basicamente afetivo, embora costume integrar componentes cognitivos, que é explicado pela dinâmica das esfera dos fenômenos e processos afetivos da personalidade; manifesta a relação dinâmica entre o sujeito e suas necessidades. Para os psicólogos e para os médicos entender e compreender são fenômenos (ou processos) existenciais diferentes, procedentes de instâncias qualitativamente diversas da personalidade. Na verdade, este é um excelente exemplo de como a contaminação do entendimento do senso comum pode vir a transtornar o raciocínio científico. Em
  • 10. textos científicos, jamais se deve empregar os termos entender e compreender como se fossem sinônimos. Compreender é uma categoria da psicologia e os cientistas desta área do conhecimento devem preservar este termo para seu emprego específico porque ele tem muita utilidade prática e muitas possibilidades teóricas. A noção de compreensão tem sentido de forma de apreensão global e mais ou menos intuitiva e empática da expressão psíquica do outro; uma intuição ou um mecanismo de identificação de caráter bastante afetivo. A rigor, o termo compreender significa sintonia afetiva, intuição empática, abranger, ter dentro de si como uma impressão sintética e completa, com conotação mais de apreensão, de interpretação e decodificação analítico-cognitiva (entender); compreender é apreender a explicação intuitivamente. Para Jaspers, os fenômenos psicológicos podiam ser caracterizados exatamente por sua compreensibilidade (neste sentido intuitivo-empático) e o que não podia ser assim compreendido não se poderia explicar por mecanismos ou causas psicológicas. Para Jaspers, os fenômenos psíquicos deveriam ser explicados (nível inteligente) e compreendidos (nível afetivo). A dicotomia que separava explicar de compreender, é bastante posterior a Jaspers e não tem qualquer apoio lógico ou científico. Reporta-se Às dificuldades epistemológicas da psicologia subjetivista. De um ponto-de-vista restrito à área da saúde mental, principalmente porque interessa à teoria e à prática da psicoterapia e da nosologia clínica, ainda hoje, o explicar e o compreender se completam como categorias dialéticas, podendo se prestar a reducionismos. Existem técnicas explicativas e compreensivas de psicoterapia e abordagem clínica e isto origina diversos conflitos teóricos. No entanto, é preciso ter presente que muitos conflitos teóricos se originam por causa da exigência de uma opção entre o explicar e o compreender e esta exigência de opção é uma falácia. O verbo explicar se completa perfeitamente no verbo entender. O explicar só se relaciona com o compreender, quando este último é aplicado com seu
  • 11. sentido mais restrito de ação de entendimento. Ninguém precisa escolher entre explicar e compreender, mas todos devem saber o que dizem com estes termos e que fenômenos psicossociais reais eles traduzem. Na história da ciência, especialmente na da Medicina e da Psicologia, os procedimentos compreensivos têm fornecido uma valiosa contribuição ao avanço do conhecimento sobretudo no fornecimento de sistemas explicativos globais e de possibilidades explicativas que permitam a estruturação de hipóteses que podem comprová-las ou não. Em qualquer caso, embora não se deva absolutizar ou super-estimar a compreensão como instrumento do conhecimento científico, como fazem alguns psicoanalistas, não se deve igualmente negá-la ou depreciá-la, como alguns empiristas, positivistas e neo-positivistas. Em Medicina, já foi afirmado e há de ser repetido, entender uma enfermidade significa basicamente conhecer sua causação (ao menos nos níveis mais elevados que o sub-atômico), os mecanismos pelos quais são produzidos os danos patológicos, avaliar a extensão e as consequências da patologia, os meios para reconhecê-la e os recursos para tratar a pessoa afetada por ela. E, nestes termos, não se pode negar a necessidade de entender as enfermidades (que não deve se confundir com compreender o enfermo). Compreender o enfermo, por sua vez, também é uma necessidade essencial da assistência médica. ê tão necessário entender a enfermidade quanto compreender o enfermo. Assim como o processo diagnóstico da enfermidade tem o enfermo como referência obrigatória, o tratamento do enfermo se reporta, necessariamente, À sua enfermidade. Nunez 2 afirma com muita razão: A explicação pertence ao domínio da necessidade e da causalidade. A compreensão pertence ao domínio da liberdade, da possibilidade e da valoração. A necessidade é uma região ontológica, a liberdade é outra... O conceito de compreensão escapa ao domínio puramente psicológico (até porque isto não existe), é sempre um conceito psicossocial, encontra-se sujeito a variáveis biológicas e culturais. O mesmo acontece com a noção do 2 Nunez, F.O. Psicologia médica, Ed. Lopez, Buenos Aires, 1974, p. 61.
  • 12. entendimento de uma enfermidade. Apesar de se saber que as causas (e consequências) das enfermidades podem ter uma matriz biológica, psicológica ou social, estas estruturas etiológicas não se apresentam isoladas ou independentes. Em cada caso, é necessário traçar uma teoria específica para explicar aquela enfermidade, naquele enfermo, naquelas circunstâncias. Entender e Interpretar O entendimento pode resultar de uma interpretação e esta única palavra se refere a dois processos cognitivos bem diferentes, o que a coloca no eixo de uma ambiguidade que contra-indica seu emprego como termo científico. Entender, como já se viu, pode ser definido como o processo cognitivo de promover a decodificação de um significado; um procedimento ou processo psicológico eminentemente racional. Enquanto o termo interpretação costuma ser usado com três sentidos distintos que se referem a procedimentos cognitivos diversos: o mesmo que entender; disposição organizada dos dados de um sistema e descoberta do significado oculto pelos dados primários de uma descrição ou explicação. Em outras palavras, interpretar pode significar entender ou pode significar compreender (com os dois sentidos que se atribui a estes termos em Psicologia). Mas também pode significar intuir usando uma teoria como referência obrigatória. O primeiro destes sentidos da interpretação é fundamentalmente lógico. O segundo sentido, encerra o conteúdo heurístico de descobrir o significado dos fatos narrados através do estudo deles (a hermenêutica). O terceiro sentido de interpretar, inclui a necessidade do emprego de um
  • 13. sistema de referência exterior aos fatos e próprio da subjetividade de quem opera o procedimento para encontrar sua interpretação; referência externa que possibilita o procedimento interpretativo. E esta manobra permite que se corporifique qualquer aventura pseudo-científica ou que consagre qualquer aberração lógica, desde que suficiente de se transformar em dogma. Por isto, não se admite a interpretação na atividade científica (embora ela permaneça tolerada na religião). O segundo sentido inclui a elucidação do significado dos símbolos, escalas e outros elementos de referência usados em uma investigação. Neste segundo sentido, o que interessa neste texto, interpretar significa descobrir o significado oculto de um símbolo ou um sistema simbólico com mais de um nível de decodificação; pelos menos um deles aparente e, pelo menos um outro, subjacente e oculto à apreciação que não conte com a chave de interpretação. Em psicologia e em psicoterapia, desde Freud, interpretar pode ter este segundo sentido, com alcance muito ampliado, e significa atribuir uma explicação a um certo comportamento a partir de um sistema explicativo aceito a prori como referência para aquela finalidade; de certa maneira, um explicação antecipadamente aceita. Mas também pode ser empregado com o terceiro dos sentidos listados acima. Como este procedimento não pode ser objeto de verificação empírica, nos dois casos mencionados, por se carecer de metodologia conhecida para isto. Portanto, costuma ser excluído do arsenal dos procedimentos científicos; mas é um importante instrumento para o senso comum, ainda que não possa ser considerado um processo confiável de explicação científica. Os autores de extração psicoanalítica pretendem, no entanto, que este procedimento, mesmo que não possa ter estabelecida sua confiabilidade, pretendem que ele possa ser validado por seus resultados práticos. O fato, em vez de validar a interpretação é seu fruto. 'A verificação é a cura (Ceriotto). 3 Conceito Explicativo Um conceito explicativo é um conceito cujo conteúdo essencial ultrapassa os 3 Nuñez, F.O. Psicologia médica, Ed. Lopez Livreros y Editores, Buenos Aires, 1974, p. 69
  • 14. limites da descrição e encerra uma explicação. Assim como a explicação completa a descrição, o conceito explicativo completa o conceito descritivo. E a origem da coisa estudada é uma das manifestações mais importantes do procedimento explicativo. O conhecimento da origem de uma coisa é um dos elementos mais importantes de sua conceituação explicativa. Por tudo isto, como sucede em todas as atividades científicas, um dos objetivos do processamento de seus dados é a busca das causas dos fenômenos que estuda acerca de seu objeto. A etiologia é justamente a disciplina filosófica dedicada a estudar a causalidade das enfermidades e os fatores e mecanismos potencialmente capazes de interferir em seu desenvolvimento. Nas ciências médicas, a etiologia é o ramo da patologia que tem por objeto o estudo da causação das enfermidades. Uma enfermidade só pode ser considerada explicada quando seu conceito encerra sua origem (sua etiologia) e os mecanismos patogênicos que os fatores etiológicos mobilizam. A etio-patogenia é a explicação mais importante de uma enfermidade, ao menos do ponto de vista da Medicina e da atividade prática dos médicos. Em Medicina, a transformação de um conceito clínico-descritivo em um conceito explicativo-patogênico é um dos objetivos mais caros de sua atividade científica que está intimamente relacionada ao conhecimento e à possibilidade reconhecimento de sua etio-patogenia não apenas com o objetivo de dirigir a terapêutica, mas para possibilitar a profilaxia. Ao longo do processo da construção do conhecimento sobre uma enfermidade, o conhecimento da sua etiologia é a informação que vai permitir que se construa uma síntese da condição clínica em sua definição científica. O conceito explicativo substitui o conceito meramente descritivo que antes designava a enfermidade. E a definição a partir de uma explicação etio-patogênica constitui o fecho da investigação clínica. Os dois fenômenos explicativos da patologia mais importantes são: a causa e os
  • 15. mecanismos patogênicos. Etiologia é o ramo da patologia que estuda as causas e os mecanismos causais dos fenômenos; também pode significar a causa de uma enfermidade. A etiologia psiquiátrica é o capítulo da Psicopatologia que estuda as causas da patologia psíquica e a patogenia estuda os mecanismos determinantes dos danos e sintomas daquela patologia. Dentre os tipos de fatores etiopatogênicos, distinguem-se os causais, os predisponentes, os atenuadores, os agravadores e os desencadeantes. O primeiro modelo etiológico, o lesional externo, considerava a ação traumática dos agentes físicos, químicos e biológicos e a resposta imediata do organismo. O modelo etiológico unilinear e mecanicista estabelecido pela Medicina positivista do século passado para explicar doenças somáticas (o modelo das infecções) é um modelo mono-causal, de causalidade quase sempre direta (aquela na qual se pode estabelecer um nexo primário de causa e feito entre o estímulo patogênico e a resposta patológica) e muito frequentemente imediato ou quase imediato. Seguiu-se a noção de localização e caracterização dos processos patológicos (inflamação, degeneração) com a descoberta dos processos anátomo- patológicos. Atualmente, sobretudo graças à contribuição da epistemologia, da psicologia médica, da sociologia médica, da epidemiologia e de outras ciências naturais e da sociedade, a concepção etiológica evoluiu para um modelo dinâmico de concausalidade. A psiquiatria foi talvez o primeiro ramo da Medicina em que se manifestou esta necessidade cognitiva; nela, há muito se defende um modelo etiológico multi-causal (que não deve ser confundido com a negação da causalidade). Quase todos os positivistas e muitos neo-positivistas recusam a explicação como etapa do conhecimento científico. Para eles, a ciência não tem o que explicar e a atividade científica deve se limitar a descrever. Por isto não existe uma explicação nominal e outra real.
  • 16. Até para alguns deles deve parecer ridícula esta forma de considerar as coisas inexplicáveis, de só pretenderem explicar os seus próprios nomes. Explicar e Prever A explicação, enquanto procedimento lógico consiste em estabelecer uma relação estável entre uma coisa e algum antecedente seu; descobrir o antecedente de uma coisa conhecida. A previsão resulta do mecanismos lógico oposto; previsão é o procedimento lógico pelo qual, conhecendo-se o antecedente, descobre-se o consequente, podendo-se antecipar o que está para acontecer. Explicar e prever são duas facetas da mesma operação lógica. De certa maneira, explicar é prever, porque os dois procedimentos empregam os mesmos recursos, apenas em sentidos opostos. Por esta razão, diagnosticar (no sentido de explicar uma enfermidade) é prognosticar (prever sua evolução).