O documento discute as condições crônicas e a medicina centrada na pessoa. Apresenta conceitos sobre doenças crônicas e sua distribuição, destacando que afetam principalmente idosos. Critica o modelo atual de APS por ter consultas curtas que dificultam o cuidado das condições crônicas. A medicina centrada na pessoa valoriza compreender a pessoa como um todo e estabelecer objetivos comuns entre profissional e paciente.
7. Conceitos
As condições de saúde podem ser definidas como as circunstâncias na
saúde das pessoas que se apresentam de forma mais ou menos
persistentes e que exigem respostas sociais reativas ou proativas,
episódicas ou contínuas e fragmentadas ou integradas, dos sistemas de
atenção à saúde, dos profissionais de saúde e das pessoas usuárias.
Mendes, 2012
8. Conceitos
As condições agudas, em geral, apresentam um curso curto, inferior a três
meses de duração, e tendem a se autolimitar; ao contrário, as condições
crônicas têm um período de duração mais ou menos longo, superior a três
meses, e nos casos de algumas doenças crônicas, tendem a se apresentar
de forma definitiva e permanente.
9. Conceitos
As condições crônicas, se iniciam e evoluem lentamente. Usualmente, apresentam
múltiplas causas que variam no tempo, incluindo hereditariedade, estilos de vida,
exposição a fatores ambientais e a fatores fisiológicos.
Normalmente, faltam padrões regulares ou previsíveis para as condições crônicas. Ao
contrário das condições agudas nas quais, em geral, pode-se esperar uma recuperação
adequada, as condições crônicas levam a mais sintomas e à perda de capacidade
funcional. Cada sintoma pode levar a outros, num ciclo vicioso dos sintomas: condição
crônica leva a tensão muscular que leva a dor que leva a estresse e ansiedade que leva
a problemas emocionais que leva a depressão que leva a fadiga que realimenta a
condição crônica.
11. Proporção de pessoas que referiram ser portadoras de pelo menos um
dos doze tipos de doenças crônicas selecionadas, por grupos de idade no
Brasil, 2008
0 a 4 anos 6 a 13 anos 14 a 19
anos
20 a 39
anos
40 a 49
anos
50 a 64
anos
65 anos ou
mais
9.1% 9.7% 11.0%
22.7%
45.1%
65.0%
79.1%
12. Distribuição de tipos de doenças crônicas em BH
Lima-Costa, 2013
20.8%
7.3%
5.8% 5.4% 5.2% 4.8%
1.9%
Hipertensão Lombalgia Depressão Diabetes Artrite ou
reumatismo
Asma ou
bronquite
Doença renal
crônica
13.
14. Grupos de doenças Taxa por mil
habitantes
%
Infecciosas,
parasitárias e
desnutrição
34 14,7
Causas externas 19 10,2
Condições maternas e
perinatais
21 8,8
Doenças crônicas 124 66,3
Total 232 100
15. Os caminhos do paciente
APS
ASS
ATS
Adaptado de Mendes, 2013 APUD Edwards, Hensher e Werneke
16. O Problema atual
Há uma inconsistência estrutural entre o tempo curto da consulta
médica e o incremento das tarefas da atenção à saúde. Por
exemplo, hoje em dia, a atenção ao diabetes é muito mais
complexa e consumidora de tempo que há uma década.
18. O Problema atual
Estudos demonstraram que, nos Estados Unidos, a duração média
de uma consulta médica de adultos é de 16,2 minutos e a
Organização Pan-Americana da Saúde / Organização Mundial da
Saúde de crianças é de 14,2 minutos. Na Inglaterra, o tempo médio
da consulta médica é de 8 minutos .
Estudos avaliativos mostraram que há dificuldades das pessoas
usuárias em captar as informações em consultas de menos de 18
minutos; que as consultas necessitam de um tempo mínimo de 20
minutos para envolver as pessoas usuárias efetivamente nas
decisões clínicas; e que a duração das consultas é um preditor
forte da participação das pessoas usuárias nas decisões clínicas
referentes à sua saúde.
19. O Problema atual
Além disso, outros estudos refletem o que tem sido denominado
de regra dos 50% da relação médico-pessoa usuária nas consultas
médicas. Num estudo, 50% das pessoas usuárias deixaram a
consulta sem compreender o que o médico lhes disse; num outro
estudo, em torno de 50% das pessoas usuárias solicitadas pelos
médicos a manifestar o que entenderam de suas
orientações, mostraram uma compreensão equivocada; e um
terceiro estudo mostrou que 50% das pessoasusuárias atendidas
nas consultas médicas não foram capazes de entender as
prescrições de medicamentos realizadas.
20. O Problema atual
Há evidências de que esse modelo de atenção centrado na
atenção uniprofissional, prestada pelo médico, em tempo
curto, é fonte de muitos problemas, por várias razões. Estimou-
se que um médico de APS gastaria 7,4 horas por dia de trabalho
para prover todos os serviços preventivos recomendados para
uma população adscrita de 2.500 pessoas.
21. O Problema atual
Há o que os criadores do Modelo de cuidado de doenças
crônicas denominaram de "tirania do urgente" em que a
atenção aos eventos agudos sobrepõe-se ao cuidado das
condições crônicas programadas em agendas sobrecarregadas.
Os médicos de família devem cuidar, em cada consulta, de 3,05
problemas em média; mas isso varia de 3,88 problemas nas
pessoas idosas a 4,6 problemas nos portadores de diabetes.
22. O Problema atual
Como resultado disso tudo, menos de 50% dos cuidados
baseados em evidência são realmente prestados; 42% dos
médicos de APS manifestam que não têm tempo suficiente para
atender bem às pessoas; os médicos devotam apenas 1,3
minutos em orientações a pessoas portadoras de diabetes,
utilizando uma linguagem técnica imprópria para atividades
educativas, quando ecessitariam de 9 minutos para essas
atividades; três em cada quatro médicos falham em orientar as
pessoas em relação à prescrição de medicamentos, o que
implica uma não adesão; e a atenção médica em consulta curta
determina baixa satisfação das pessoas e relações
empobrecidas entre os médicos e as pessoas usuárias.
26. Método clínico tradicional
Acolhimento
História
Exame físico
Diagnóstico
Conduta
Orientações
Tudo em menos de 15 minutos
27. Medicina Centrada na Pessoa
1920 ROBINSON, G. Canby. The patient as a person: a
study of the social aspects of illness. 3 ed. New
York. Oxford University Press, 1946
1951 Rogers: Advisory centerd in Client
1957 Balint introduz o conceito de medicina centrada na
pessoa
1976 Byrne e Long estudaram as diferenças entre a
entrevista centrada no médico e centrada no
paciente
1994 Stewart desenvolveram o métoco clínico centrado
no paciente
28. Conceito
É um método clínico que almeja qualificar a
atenção a pessoa que vem em busca de ajuda
29. Pessoa x Paciente
Uso do termo paciente retira a vontade da pessoa
Transforma a pessoa em indivíduo
Determina um comportamento passivo frente a uma
situação
Se contrapõe a definição de pessoa, repercutindo na
forma como é prestado o cuidado e na participação
de quem esta doente
30. Em cerca de 70% das vezes o médico interrompe o paciente a cada 18
segundos em média (Beckman e Frankel, 1984)
Dois terços dos diagnósticos são feitos apenas pela história clínica
(Cohen-Cole, 1991)
Mudanças da relação médico paciente
Aumento do conhecimento técnico-científico dos pacientes
31. Pontos principais
1. Explorar a doença e o adoecimento
2. Compreender a pessoa como um todo
3. Negociar um terreno comum
4. Incorporar a prevenção e promoção
5. Incrementar a relação médico-paciente
6. Ser realista
33. Explorar a doença e o adoecimento
E o e o, pelo dico, da doença e
da experiência de adoecer do paciente, tendo a
experiência de adoecer quatro es:
• sentimento de estar doente;
• a ia a respeito do que esta errado;
• o impacto do problema na vida ria;
• e as expectativas sobre o que deveria ser feito;
35. Compreender a pessoa como um todo
Caiaffa et al, 2008, adaptado de Galea e Vlahov, 2005)
36. Negociar um terreno comum
A busca de objetivos comuns, entre o dico e o
paciente, a respeito do problema ou dos problemas
e sua o;
Avaliando quais os problemas e prioridades;
Estabelecendo os objetivos do tratamento e do
manejo;
Avaliando e estabelecendo os is da pessoa e
do profissional de de.
Exemplo: Metas para o controle da diabetes
37. Incorporar a prevenção e promoção
Um plano para toda a vida
Superar ou sucumbir
A consulta não se trata somente de resolver o
problema específico que traz a pessoa, mas
antecipar o hábito saudável e a qualidade de
vida, sem ultrapassar o limite dado pela pessoa.
O exemplo do tabagismo
38. Incrementar a relação médico-paciente
Abrir o diálogo
Descer do pedestal e se aproximar da pessoa
e não do doente
Trazer o paciente para participar
Comunicação clara e eficiente
39. Incrementar a relação médico-paciente
Exercendo a o;
A o de poder;
A cura (efeito terapêutico da o);
O autoconhecimento;
A transferência e contra-transferência.
40. Ser realista
Tempo e Timing
O momento exato para realizar todas as coisas
Saiba administrar seu tempo
Trabalhando em equipe;
Respeite sua equipe
Saiba quem são os membros da sua equipe e seus
saberes
Uso adequado dos recursos;
Seja co-responsável pela gestão financeira e de
recursos de sua unidade. Sua comunidade pode
precisar de algo que essa pessoas não precisa tanto.
O exemplo das tomografias americanas
41. Resumindo
Pode-se dizer que o dois os componentes principais
da medicina centrada no paciente:
um deles se refere ao cuidado da pessoa, com a
identificação de suas ias e es a respeito do
adoecer e a resposta a elas;
identificação de objetivos
comuns entre dicos e pacientes sobre a doença e sua
abordagem, com o compartilhamento de decisões e
responsabilidades. Levar em consideração o desejo do
paciente de obter informações e de compartilhar
responsabilidades e responder apropriadamente a esse
desejo m fazem parte da tica dica centrada
no paciente6.
Ribeiro et a, 2008
43. A abordagem
Como fazer?
Pergunta aberta, calma e neutra:
“Em que posso lhe ajudar hoje?”
Deixar o paciente expor suas idéias até que
elas sejam esgotadas. Geralmente não passam
de dois minutos. Em dois minutos obterá 90%
das informações (Lopes, 2008)
Perguntas do tipo: “Bom dia tudo bem, podem ter
um tiro pela culatra... Geralmente obtém como
resposta: “Se eu tivesse bem não estaria aqui
hoje!"
44. SIFE
m de estar atento a essas pistas, e-se que os profissionais avaliem
quatro es da experiência da doença (lembradas pelo stico SIFE):
Os sentimentos das pessoas a respeito de seus problemas. Por exemplo, ela teme
que os sintomas manifestados possam indicar uma doença mais ria, como um
câncer?
As suas ideias errado. Embora s vezes a ideia que uma pessoa faz
de um sintoma seja bastante objetivo – “sera que essa lica uma pedra no
rim?”, s vezes outros encaram problemas de de como es como
uma oportunidade, de forma muitas vezes inconsciente, de se tornar dependente e
ser cuidado.
Os efeitos da doença no funcionamento da pessoa: Havera es nas atividades
rias? Sera rio ficar afastado do trabalho? Prejudica a qualidade de vida?
Quais o as expectativas da pessoa. O que espera do dico? A dor de garganta
deve ser tratada com ticos?
Fuzikawa, 2013
46. Fluxograma
A pessoa se reconhece com algum problema de Saúde (adoecimento)?
Sim
doença
rio
observar o que
traz o incômodo
para a pessoa e
qual a o
da mesma com
a doença em
o.
Sim Não
Pessoa apresentou alguma doença Pessoa apresentou alguma doença
Não
incômodo, mas o
doença.
Precisamos
considerar a causa
do problema e
apoiar a pessoa na
o do
mesmo (recursos
na
lia, comunidad
e e outros setores)
Sim
Nesse caso, o
incômodo
doença. Podemos
usar de gias
de o em
de para o
no estado de
consciência da
pessoa e incentivo
do seu cuidado em
de, respeitando
seu momento.
Não
Nesse caso, o
incômodo, nem
doença.
Essa pessoa, se
de acordo, pode
ser
acompanhada e
da em
gias de
o e
o de
de.
48. questão
o 1
A anamnese orientada pelo todo nico centrado no paradigma dico
constitui um processo sequencial padronizado. As primeiras etapas correspondem
o do paciente e sua queixa principal. Seguem-se ria da doença
atual, ria gica pregressa, ria gica, ria familiar e ria
social. A consulta do dico de lia e Comunidade deve apresentar
sticas ficas relacionadas longitudinalidade continuidade do
cuidado. O todo nico Centrado na um instrumento que o
auxilia neste sentido.
Com base na o acima:
a) Liste três dos componentes do MCP e cite os seus respectivos aspectos-chave.
b) Considerando o MCP, conceitue illness e disease.
UERJ, 2013
49. Questão
O dico de lia e Comunidade lida com problemas crônicos e agudos
s de tecnologias leves de cuidado ao paciente. Uma destas
ferramentas o todo nico centrado na pessoa (MCCP), modelo de
o que e uma ruptura no papel historicamente passivo dos
pacientes no processo do seu cuidado. Assinale a afirmativa que apresenta
CORRETAMENTE um dos passos do MCCP:
a) Conduzir a consulta evitando es para torna-la mais tempo-
efetiva.
b) Incorporar a o e o fora do ambiente de consulta,
coletivamente.
c) Ser realista, elegendo atividades rias para cada consulta.
d) Oferecer rastreamento (check-up) para o ximo de problemas de
de veis.
UFV, 2012
Notas do Editor
• Melhoria de saúde• Evitarriscos• Reduzirriscos• Reduzircomplicações• Evitarintervencionismoexcessivo
São realizadas anualmente 3 TC para cada americano, por ano