O documento discute o tratamento de gliomas de baixo grau em pacientes pediátricos, destacando que: 1) a cirurgia é o principal tratamento, mas a quimioterapia também tem papel importante, especialmente em tumores não-ressecáveis; 2) a radioterapia deve ser evitada na infância sempre que possível; 3) o prognóstico depende de fatores como localização e ressecão completa.
1. TRATAMENTO CLÍNICO DOS
GLIOMAS DE BAIXO GRAU EM
PACIENTES PEDIÁTRICOS
Francisco Helder Cavalcante Felix
Hospital InfantilAlbert Sabin
Serviço de Oncohematologia Pediatrica
3. Paradigma de tratamento
Adultos com GBG
Escore de prognóstico (Chang,2008)
Cirurgia (Shaw, 2002: controvérsia)
Reoperação (qualidade de vida?)
Radioterapia (van den Bent, 2005)
Quimioterapia: temozolomida
4. Paradigma de tratamento
Crianças
Cirurgia
Observação (e talvez reoperar)
Quimioterapia
Radioterapia deve ser adiada o
máximo possível
5. WHO Classification of Tumours of the Central
Nervous System – 4ª Edição
“ Desde sua primeira publicação (...) a OMS incluiu
um esquema de estadiamento que constitui uma
‘escala de malignidade’ (...) muito mais do que um
sistema de estadiamento histopatológico estrito.”
- Kleihues et al, 2007
Gliomas de baixo grau: benignos?
6. Astrocitoma pilocítico
“Um astrocitoma relativamente circunscrito, de
crescimento lento, muitas vezes cístico que
ocorre em crianças e adultos jovens (...)”
- Scheithauer et al, 2007 (WHO 4ª ed.)
“Gliomas de baixo grau [incluindo astrocitoma
pilocítico, grifo nosso] não são tumores benignos.
Eles afetam a qualidade de vida (...), podem
recorrer após ressecção completa (...) e mais
raramente transformam-se em alto grau.”
- Qaddoumi, Sultan & Broniscer, 2009 (St. Jude)
7. Caso Clínico I
Paciente com astrocitoma pilocítico (grau I
OMS) multiplamente recorrente
boa resposta com QT intensiva
preservação do status funcional
8. Caso Clínico II
Paciente com astrocitoma pilomixóide
progressivo (grau II OMS)
Resposta menor (bidimensionalOMS < 50%)
Progressão após tto -> esquema de resgate
9. Tratamento de GBG
Tumores cerebrais mais frequentes em
crianças – 30 a 40% (18,6% no HIAS – 2000 a
2009)
História natural: sobrevida longa (>15 anos)
SG 80% em 5 anos no HIAS – ressecção completa
SG 15 a 50% sem ressecção total (HIAS 60%)
Efeitos tardios e recorrências a longo prazo
comuns – pouco conhecido
Ensaios: sobrevida livre de eventos
13. Quimioterapia
Inicialmente para estabilizar visão em
pacientes com tumores deVOH (Mitchell,
2001)
Desfecho primário: doença estável
prolongada (Packer, 1997)
Efeitos a curto prazo da QT negligenciáveis
Efeitos tardios?
GBG irressecável ou recidivado sintomático
14. Grandes Ensaios
Objetivo principal: adiar ou evitar RT
SIOP-LGG1 = 22 meses mediana para RT
VCR-ACT/D = 4 anos mediana para RT
N CR (%) PR(%) MR(%) SD(%) PFS(%)
CCGS 78 5 28 23 37 68
SIOP-LGG1 204 4 46 - 34 48
TPDCV 42 36 59 <50
VCR-ACT/D 29 - 7 59 31 30
BB-SFOP 85 - 56 - 31 48
Fonte: GPOH
15.
16. Quimioterapia
Papel estabelecido para tumores não
ressecáveis e recorrentes/progressivos
sintomáticos
Redução ou estabilização prolongada do
volume tumoral
Sobrevida livre de progressão e adiamento da
RT
Qualidade de vida e função - incógnita
17. Qualidade de Vida
Zuzak et al (2008): 21 pacientes com
astrocitoma de baixo grau cerebelar, qualidade
de vida igual a controles saudáveis.
Beebe et al (2005): risco neuropsicológico em 103
pacientes com GBG cerebelar
Ris et al (2008): 93 pactes com tumores
extracerebelares – maior risco
Moreno et al (2010): QT não melhora visão em
pacientes com glioma óptico
Bhat et al (2005): 134 pacientes, QT não afeta a
qualidade de vida, mas RT sim
18. Protocolo usado no HIAS
CCGS – COG-A9952
Indução
Carboplatina 175 mg/m2 semanas 1-4 e 7-10
Vincristina 1,5 mg/m2 semanas 1-10
Manutenção – 66 semanas
Efeitos indesejados:
Alergia à carboplatina – 20 a 30% dos pacientes
Associada com administração semanal
19. Fatores de Prognóstico
Localização: supratentorial, linha média e
tronco – sem impacto nas séries
Estadiamento: disseminação/ metástase
Início do tratamento: logo após a cirurgia ou
após observação (significante no SIOP)
Idade ao diagnóstico: < 5 anos melhor
prognóstico (CCGS)
Resposta radiológica: sem correlação
Patologia:Tihan et al (1999) - pilomixóide
20. Fatores de Prognóstico HIAS
Análise de sobrevida por regressão de Cox
ponderada – apenas GBG, 2000 a 2009
Fatores: idade, sexo, histologia (grau I ou II),
topografia (tronco, supratentorial e
diencéfalo, cerebelo e espinha), QT, RT,
cirurgia (ressecção completa ou não)
A topografia (fatores combinados) associou-
se significantemente com sobrevida (OR = 26
para tronco)
21. Gliomas óptico-hipotalâmicos
3-5% dos tumores cerebrais pediátricos
Pacientes com NF1 (11-30%)
Melhor prognóstico, multifocal, bilateral
Quiasmáticos (40-75%): agressivos, síndrome
diencefálica, menos NF1, afetam hipotálamo
Disco e nervo óptico: 25%
Imagem: RNM
Cirurgia: ressecção completa não necessária
Radioterapia: crianças maiores de 10 anos
22. Pacientes com NF1
Exame anual (crianças <8a): acuidade visual,
campimetria, visão de cores, motilidade
ocular e pupilar, fundoscopia
Exame bianual após 8 anos e até os 18 anos
Curva pôndero-estatural annual
RNM se exame oftalmológico anormal
Exames após diagnóstico: cada 3 meses no
primeiro ano
Listernick,Ann Neurol, 2007
23. Pacientes com NF1
Tratamento: evidência inequívoca de
progressão radiológica (aumento de volume
tumoral, novas lesões) e/ou piora visual
Não existem níveis pré-definidos
amplamente aceitos
Tratamento inicial: QT com carboplatina e
vincristina
Evitar RT, a não ser caso as opções acabem
Cirurgia: estética
Listernick,Ann Neurol, 2007
27. Caso Clínico III
Paciente com astrocitoma de cápsula interna
e tálamo. Histologia de astrocitoma
pilocítico.
Apenas biópsia, tratamento com QT, sem RT.
28. OBRIGADO!
O tratamento de pacientes pediátricos com
gliomas de baixo grau exige, mais que o
conhecimento da evidência, o exercício do
bom senso no julgamento da melhor
alternativa de tratamento.