Pôster apresentado no XIV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica - 27 a 30 de Novembro de 2014.
A droga everolimo, inicialmente introduzida no mercado para pacientes transplantados, é uma nova esperança no tratamento de raros tumores cerebrais relacionados à síndromes genéticas.
1. Everolimo para pacientes com tumores relacionados à esclerose
tuberosa e neurofibromatose
Francisco Hélder Cavalcante Félix1, João Paulo Mattos1,
Carlos Gustavo Hirth2, Juvenia Bezerra Fontenele3
1 - Hospital Infantil Albert Sabin, Secretaria de Saúde do Estado do Ceará
2 - Centro de Referência do Diagnóstico do Câncer da Criança e do Adolescente Dr. Murilo Martins — Hospital Infantil Albert Sabin
3 - Curso de Farmácia, Faculdade de Farmácia Odontologia e Enfermagem, Universidade Federal do Ceará
helder.felix@hias.ce.gov.br
XIV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica — SOBOPE 2014
Introdução
Everolimo é um inibidor da serina/treonina quinase
MTOR (mechanistic target of rapamycin), inibindo
a via PI3K/AKT/MTOR através do complexo MTORC1
[1]. Foi aprovado pelo FDA e ANVISA para tratar astro-citoma
subependimário de células gigantes (SEGA), uma
neoplasia benigna associada à esclerose tuberosa (ET) [2].
Além disso, o everolimo está sendo investigado para o tra-tamento
de tumores relacionados à neurofibromatose tipo
2 (NF2), em especial schwannomas e meningiomas [3].
Material e Métodos
Realizamos uma análise retrospectiva do prontuário de
3 pacientes com tumores cerebrais relacionados à ET ou
NF2 tratados com everolimo em nossa instituição, após
esgotados os demais esforços terapêuticos possíveis. O tra-tamento
off-label com everolimo foi iniciado após consen-timento
informado dos responsáveis pelos pacientes. O
projeto foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa.
Resultados e Discussão
Caso 1: paciente de 5 anos ao diagnóstico, sexo feminino,
portadora de ET, com volumoso SEGA progressivo após
ressecção cirúrgica inicial e tratamento com carboplatina
e vincristina, sintomática e com epilepsia refratária. Após
início de everolimo 1,5mg/m2/dia, a paciente não apresen-tou
mais crises epilépticas e melhorou sintomaticamente.
A dose foi aumentada para 3mg/m2/dia a fim de atin-gir
concentração sérica maior que 5ng/ml. Radiologica-mente,
ocorreu redução de mais de 40% da lesão. Caso
2: paciente de 7 anos ao diagnóstico, sexo feminino, com
suspeita de NF2 e diagnóstico de meningioma do esfe-nóide
com invasão bilateral da bainha do nervo óptico,
muito sintomática e com doença refratária apesar de 3
abordagens cirúrgicas e RT. Iniciou everolimo na dose de
5mg/m2/dia, reduzindo depois para 1,5mg/m2/dia por
evento adverso. A concentração sérica alcançada com a
dose menor ficou na faixa terapêutica. A paciente evolui
com melhora clínica evidente, com redução subjetiva de
sintomas e estabilidade radiológica. Caso 3: paciente de
15 anos ao diagnóstico, sexo masculino, com schwannoma
intramedular lombar e vários schwannomas nas raízes da
cauda equina, caracterizando provável schwannomatose
(uma condição rara relacionada com mutações de NF2
e INI1). Após cirurgia para retirada da maior lesão em
cone medular, o paciente evoluiu com progressão das le-sões
menores radiculares satélites e dor crônica, usando
analgésicos diariamente. Iniciamos everolimo na dose de
5mg/m2/dia, alcançando concentração sérica terapêutica.
O paciente evoluiu com cessação completa da dor, sem
necessidade de analgésicos.
Figura 1: Evolução radiológica do caso 1. As imagens mostram RM (T1
contrastado), com volumes em centímetros cúbicos (cc) estimados por ROI
(Osirix 6.0, Pixmeo).
Figura 2: Evolução radiológica do caso 3. As imagens mostram RM (T1
contrastado), após a ressecção cirúrgica do tumor intramedular. A primeira é do
ano passado, mostrando lesões múltiplas captantes de contraste na cauda equina.
A segunda, em janeiro de 2014, mostra aparente progressão das lesões, o que se
acompanhou de clínica de dor crônica. A última imagem mostra estabilidade das
lesões 8 meses após a segunda imagem, em vigência de everolimo. Remissão
completa da dor concomitantemente.
Figura 3: Evolução radiológica do caso 2. As imagens mostram RM (T1
contrastado), com medidas em centímetros (cm), ilustrando a somatória dos
maiores diâmetros, de acordo com o RECIST (Osirix 6.0, Pixmeo).
Conclusão
O tratamento de tumores raros do SNC associados a ET
ou NF2 com everolimo e uma opç ao para pacientes sem
outras alternativas de terapia.
Referências
[1] LEBWOHL D, Anak O, Sahmoud T, Klimovsky J, Elmroth I, Haas T, Pos-luszny
J, Saletan S, Berg W. Development of everolimus, a novel oral mTOR
inhibitor, across a spectrum of diseases. Ann N Y Acad Sci. 2013;1291:14-32
[2] FRANZ DN, Belousova E, Sparagana S, Bebin EM, Frost M, Kuperman R,
Witt O, Kohrman MH, Flamini JR, Wu JY, Curatolo P, de Vries PJ, Whit-temore
VH, Thiele EA, Ford JP, Shah G, Cauwel H, Lebwohl D, Sahmoud T,
Jozwiak S. Efficacy and safety of everolimus for subependymal giant cell as-trocytomas
associated with tuberous sclerosis complex (EXIST-1): a multicen-tre,
randomised, placebo-controlled phase 3 trial. Lancet. 2013 ;381(9861):125-
32.
[3] KARAJANNIS MA, Legault G, Hagiwara M, Giancotti FG, Filatov A, Der-man
A, Hochman T, Goldberg JD, Vega E,Wisoff JH, Golfinos JG, Merkelson
A, Roland JT, Allen JC. Phase II study of everolimus in children and adults
with neurofibromatosis type 2 and progressive vestibular schwannomas. Neuro
Oncol. 2014 Jan;16(2):292-7.
Agradecimentos
SOBOPE 2014 - XIV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica