2. Aprendizagem
Definição: A aprendizagem é um processo através do qual os seres vivos
adquirem novos conhecimentos, desenvolvem novas competências e mudam os
seus comportamentos, ou seja, a aprendizagem é uma modificação de
comportamentos e de atitudes relativamente duradoura, que deriva da
experiência e da prática e não da maturação ou de transformações físicas e
fisiológicas.
Existem 4 tipos de aprendizagem:
• Aprendizagem por habituação;
• Aprendizagem por condicionamento
clássico;
• Aprendizagem por condicionamento
operante;
• Aprendizagem por observação e por
imitação;
3. Aprendizagem por habituação
A aprendizagem por habituação consiste na diminuição da tendência para
responder a um certo estímulo. Este tipo de aprendizagem não associativa dá
origem a que o ser humano consiga ignorar o que lhe é familiar e a focar o que
realmente lhe interessa.
A habituação torna possível que nos desliguemos de estímulos desnecessários e
nos concentremos nas tarefas que estamos a realizar. Através dela respondemos
a novos estímulos que podem ser perigosos e ignoramos estímulos que já
reconhecemos serem inofensivos.
Exemplo: Imaginemos que o Bruno está em casa a estudar e que o vizinho de baixo
começa a martelar pregos na parede. Ao início, Bruno desconcentra-se e não
consegue estudar, mas depois, habitua-se ao barulho e consegue novamente
concentrar-se no seu estudo. Nesta fase é como se o barulho proporcionado pelo
martelo não existisse.
4. Aprendizagem por condicionamento clássico
O que é?
É uma forma de aprendizagem em que um estímulo neutro, ao ser
sucessivamente emparelhado com um estímulo incondicionado, acaba, ao fim
de algum tempo e em virtude deste condicionamento, por provocar o mesmo
tipo de resposta do que o estímulo com o qual foi emparelhado. Torna – se
assim um estímulo que por si só provoca uma resposta condicionada, similar à
desencadeada pelo estímulo incondicionado ou natural.
5. Experimentação de Pavlov
Pavlov ao estudar a fisiologia da digestão,
descobriu que os cães utilizados salivavam
perante estímulos que não a comida (o som
dos passos do tratador ou a sua simples
presença). Tal descoberta levou a que Pavlov
desenvolve-se estudos que consistiam na
apresentação ao cão de um estímulo neutro (o
som de uma campainha) e logo imediatamente
a seguir um prato com carne em pó. O cão
responde a este estímulo (não - condicionado)
salivando. Depois de emparelhar o som da
campainha e a comida várias vezes (20 vezes
pelo menos) Pavlov verificou que o som da
campainha era suficiente para produzir a
resposta de salivação. Como os cães não
salivam naturalmente em resposta a sons,
Pavlov concluiu que a salivação era uma
resposta resultante de aprendizagem: o cão foi
condicionado a salivar quando a campainha
toca (resposta condicionada).
6. Exemplos em seres
humanos
O condicionamento clássico está sempre presente no
nosso quotidiano. Por exemplo, o Miguel é um
individuo que esteve na guerra do Vietname, onde
via e ouvia aviões de guerra, que disparavam tiros
mortíferos, a passar mesmo por cima da sua cabeça.
Agora, Miguel mora numa cidade pacata mas, no
entanto, quando Miguel ouve o som de um avião
comercial, associa esse som ao de um avião de guerra
e sentimentos como o medo, o perigo e o desespero
despertam no Miguel como se estivesse perante uma
situação de guerra. Aqui, o estímulo neutro – o som
do avião comercial - é emparelhado com o estímulo
incondicionado – o som do avião de guerra – que
provoca uma resposta incondicionada ou natural –
incómodo e medo, causados pelo som intenso. Por
causa desta associação o estímulo neutro perde a sua
neutralidade e passa a provocar o mesmo tipo de
resposta do que o estímulo incondicionado (que
provoca uma dada resposta sem ter de ser associado
a nada).
7. Existem cinco princípios básicos na aprendizagem
por condicionamento clássico.
1 – Aquisição: formação de uma resposta
aprendida a um estímulo neutro (não
produtor de resposta) por o
associarmos a um estímulo não
condicionado.
2 -Extinção: enfraquecimento e eventual
desaparição da resposta aprendida. A
extinção é, em suma, o resultado da
repetida apresentação do estímulo
condicionado sozinho.
3 -Recuperação espontânea:
reemergência de uma resposta
condicionada extinta após algum
tempo de descanso.
4– Generalização: Fala-se de
generalização do estímulo quando a
resposta condicionada é provocada
não só pelo estímulo condicionado
original como também por outros
estímulos semelhantes a este.
5 – Discriminação: consiste na aptidão de
discernir estímulos semelhantes,
produzindo a resposta apenas no
estímulo correcto.
8. Aprendizagem por condicionamento operante
A aprendizagem por condicionamento operante consiste em associar um
comportamento às suas consequências e efeitos. O condicionamento operante
é uma forma de aprendizagem em que um dado comportamento de carácter
ativo (operante no meio) é reforçado ou enfraquecido tendo em conta as suas
consequências: conforme as consequências da acção assim ela tenderá a
aumentar ou a diminuir (ou a extinguir-se) no futuro.
9. Considera-se que o condicionamento operante foi descoberto por Edward
Thorndike mais ou menos na mesma época em que Pavlov descobria os reflexos
condicionados nos seus experimentos com cães.
O experimento de Thorndike consistia no seguinte: colocou um gato no interior
de uma caixa com aspecto de jaula. No exterior estava, à vista do gato, um
recipiente com comida. O animal só poderia sair da caixa se carregasse num
pedal que, accionado, abria uma pequena porta. O gato começou a arranhar e a
morder ao acaso várias partes da caixa até que, de uma forma eventualmente
acidental, pressionou o pedal que a abria e obteve a comida desejada. A partir
daí, várias vezes colocado no interior da caixa, o gato gastou cada vez menos
tempo para dela sair. Da primeira vez que repetiu a situação Thorndike reparou
que o gato escapou da caixa em 15 segundos. Esta mudança de comportamento
significava que o gato tinha aprendido não mediante um reflexo condicionado
mas mediante tentativas cada vez mais eficazes que traduziam um papel activo
na aprendizagem.
Thorndike explicou esta aprendizagem gradual e progressiva através da lei do
efeito: «Respostas ou comportamentos seguidos por consequências ou efeitos
satisfatórios tendem a repetir-se; respostas seguidas por consequências
desagradáveis tendem a não se repetir».
10. Experimentação Experimentação d dee S Skkininnneerr
O primeiro projeto de investigação de Skinner
consistia numa análise do comportamento
alimentar dos ratos. Skinner utilizou um artefacto
por ele próprio construído e que tem hoje o seu
nome: «A caixa de Skinner». Colocou dentro um
rato com fome. O rato só poderia obter comida
pressionando uma alavanca que libertava
pequenas bolas de queijo de um recipiente numa
das paredes da caixa. O rato começou
imediatamente a explorar a caixa e ao fim de
algum tempo, acidentalmente, pressionou a
alavanca e a comida caiu. Progressivamente, o
animal começou a pressionar a alavanca em
intervalos de tempo cada vez menores.
Segundo Skinner isso significava que aprendeu a obter comida mediante uma
resposta condicionada pelas consequências ou efeitos da sua acção
A partir desta e de muitas outras experimentações Skinner definiu a tese essencial
do condicionamento operante: um organismo tende a repetir as respostas que têm
consequências favoráveis.
11. Reforço e punição
O condicionamento operante é segundo Skinner uma forma de
aprendizagem na qual a probabilidade de ocorrência de uma resposta
ou comportamento aumenta ou diminui conforme a sua consequência é
um reforço (positivo ou negativo) ou uma punição.
Reforço: toda e qualquer consequência de uma ação que fortalece a
nossa tendência para a repetir.
Punição: toda e qualquer consequência de uma ação que enfraquece a
nossa tendência para a repetir.
Há ações que têm consequências boas e outras que têm
consequências más, por exemplo, se fazemos dieta para emagrecer e
emagrecemos efetivamente, é considerada uma acção com boas
consequências. Por outro lado, se assaltássemos um banco, podíamos
ser detidos pela policia e aí a ação realizada seria considerada uma
ação com más consequências.
12. Reforço positivo ou
negativo
Reforço positivo: estamos perante uma situação de reforço positivo sempre que
uma ação, em virtude das suas consequências, nos permite obter algo
agradável.
Tendemos, por isso, a repeti-la, de modo a fazer com que o reforço ocorra de novo.
Ex: Estudar muito para conseguir ingressar na universidade.
Reforço negativo: estamos perante uma situação de reforço negativo sempre que
uma ação tem como consequência evitar uma situação indesejável, remover um
obstáculo ou pôr termo a uma situação desagradável. Tende por isso a ser repetida.
Ex: Trabalhar bem e evitar assim ser despedido.
13. Punição
Punir um comportamento é tornar provável que ele não se repita ou pelo menos
que diminua a sua frequência.
Por exemplo, se a Marta ajuda os pais na lida da casa para poder ir sair à noite com
os amigos, é muito provável que o comportamento se repita no futuro para poder
sair com os amigos sempre que queira. O comportamento – ajudar os pais na lida da
casa – é reforçado negativamente: é um meio para evitar algo desagradável (não
poder sair com os amigos).
Se a Marta recusa ajudar os pais na lida da casa, os pais proíbem-na de sair com os
amigos. Assim, estamos perante uma punição, um meio para retirar algo agradável
ou para evitar que se repita algo de desagradável.
14. Aprendizagem por observação e imitação
A aprendizagem por observação é uma forma muito frequente de aprendizagem
que ocorre quando o comportamento de um indivíduo é influenciado ou
condicionado pelo comportamento de outros indivíduos denominados modelos.
É uma aprendizagem social porque ocorre em contexto social. Tendo em conta
que aprendemos identificando-nos e imitando um modelo (indivíduo que
«demonstra» ou efetua uma ação constituindo-se como potencial exemplo a
seguir), este tipo de aprendizagem recebe também o nome de aprendizagem por
modelação.
Formas de aprendizagem observacional:
• Aprendemos observando os outros, sem que essa
observação se traduza necessariamente em imitação;
• Aprendemos observando os outros e sendo diretamente
reforçados, por os imitarmos adequadamente;
• Aprendemos observando as consequências dos
comportamentos dos outros (aprendizagem por
condicionamento vicariante ou indireto).
15. Condições necessárias para haver aprendizagem observacional:
• Atenção
• Retenção
• Execução
• Motivação e reforço
Não é suficiente observar. Deve-se prestar
atenção ao que o modelo observado faz,
identificando a sua conduta.
Para imitar o comportamento de um
modelo temos de o armazenar activamente
na memória, o que implica a representação
mental das acções do modelo observado e a
prática dos elementos, sequências ou
etapas do comportamento.
Memorizado o comportamento desejado, é
necessário convertê-lo em acção, o que
pode exigir bastante tempo e treino.
O desempenho de algo que adquirimos
mediante observação depende da
motivação ou incentivo para o efectuar.
16. Factores que influenciam a aprendizagem observacional:
• Nível de desenvolvimento do observador
Conforme vamos crescendo somos capazes de concentrar a nossa atenção durante
mais tempo, de processar cada vez melhor a informação e de nos auto-motivarmos.
• Estatuto do modelo
As crianças, por exemplo, revelam uma acentuada tendência para imitarem as acções
de pessoas que consideram prestigiadas, famosas e de quem gostam (pais, irmãos
mais velhos, professores, atletas, heróis de filmes de acção, estrelas rock). Esta
tendência depende da idade e dos interesses da criança.
17. • Consequências vicariantes
Observando as consequências das acções dos potenciais modelos obtemos
informação sobre o que é apropriado para nós e sobre as prováveis consequências
da imitação da conduta de quem observamos. As consequências positivas (que não
são necessariamente de reconhecido valor moral) motivam os observadores.
• Autoeficácia
Os observadores tendem a imitar determinados modelos quando acreditam que são
capazes de aprender e de desempenhar o comportamento - modelo, isto é, quando
possuem um certo nível de autoconfiança e de autoeficácia.
18. Experimentação de Bandura
Para demonstrar a sua teoria sobre a aprendizagem por
modelação, Bandura mostrou a crianças com quatro anos de
idade um filme em que um adulto esmurrava e pontapeava um
boneco insuflável. Bandura dividiu o grupo de 66 crianças em
três grupos de 22 elementos cada. No filme um modelo adulto
encaminhava-se na direção do boneco insuflável e ordenava-lhe
que saísse da sua frente, o boneco não «obedecia» e era
vítima de uma série de atos agressivos. Todas as crianças
assistiram a estes comportamentos agressivos mas o pequeno
filme tinha um final diferente por cada grupo de crianças, ou
seja, três versões diferentes das consequências do
comportamento do adulto eram exibidas.
19. Experimentação de Bandura
Assim, um grupo de crianças viu que o adulto agressivo era
recompensado por um outro adulto que o elogiava chamando-lhe
«campeão» e lhe dava uma grande quantidade de doces e
de refrigerantes. Bandura designou este grupo de crianças
como grupo do modelo recompensado; o segundo grupo de
crianças, que, é claro, estava a ver o filme numa sala diferente,
assistiu a uma versão final completamente diferente: o adulto
agressivo foi asperamente censurado por um outro adulto que
lhe chamou «má pessoa». Bandura deu a este grupo de
crianças o nome de grupo do modelo punido; quanto ao
terceiro grupo, assistiu aos comportamentos agressivos mas
não lhe foi exibido nenhum final mostrando se as
consequências de tais comportamentos eram positivas ou
negativas. Bandura deu-lhe o nome de grupo de condição
neutral.
20. Depois da exibição das diferentes versões do filme foi permitido às crianças dos
vários grupos brincarem com o boneco insuflável e outros brinquedos.
Como Bandura previra, as crianças do grupo que vira o adulto ser recompensado
pelo seu comportamento agressivo mostraram maior índice de agressividade do
que as outras, imitando os actos do adulto.
As crianças de todos os grupos tinham aprendido de igual modo a reproduzir
mentalmente os diversos comportamentos agressivos observados, isto é, estavam
em condições de desempenhar o comportamento do modelo igualmente bem e de
forma precisa.
Que conclusões retirou Bandura destes resultados?
• O que condiciona a «performance» do que foi
aprendido é a expectativa do reforço.
• O factor motivação é crucial para a «performance»
ou desempenho efectivo do que foi aprendido.
• Há muito mais probabilidade de que um indivíduo
imite um comportamento se houver da sua parte a
expectativa de que tal produzirá reforço ou
recompensa.
Assim, virtualmente, todas as
crianças eram capazes de
imitar o comportamento
agressivo visionado, mas a
tendência a traduzir o
aprendido em comportamento
efectivo era bem mais
acentuada no grupo do
modelo recompensado do que
no grupo do modelo punido.
21. Relação entre aprendizagem e memória
É a aprendizagem que determina o nosso pensamento, a nossa linguagem, as
motivações, as atitudes e a personalidade. Existem aprendizagens simples e
aprendizagens complexas que implicam uma actividade mental diversificada.
Inerente aos processos de aprendizagem está a memória. Só a memória nos
possibilita reter o que aprendemos, para responder adequadamente à
situação presente e proporcionar a possibilidade de projectar o futuro. A
memória é a condição que torna possíveis os processos de aprendizagem.
Só aprendemos quando o que adquirimos é retido e passível de recuperação.
O próprio conceito de aprendizagem implica o de memória. Com efeito, a
aprendizagem é uma mudança relativamente estável no comportamento
como resultado da prática e da experiência. A estabilidade e a mudança
dependem da memória: o novo saber só é novo se o anterior não tiver
desaparecido e enquadra-se ou engloba os saberes possuídos como
ultrapassados. Não poderíamos aplicar o saber adquirido a novas situações
sem a relativa permanência que a memória assegura.