O documento discute os processos de esquecimento e memória. Apresenta esquecimento como um processo natural e necessário, que pode ocorrer devido a interferências, falhas na recuperação ou esquecimento motivado. Também aborda doenças relacionadas à memória como amnésia e Alzheimer.
2. Esquecimento e memória
O esquecimento é uma condição necessária à memória, não sendo
considerada uma doença. Sem o esquecimento muita informação inútil,
incómoda e conflituosa não poderia ser afastada, o que perturbaria a nossa
adaptação à realidade.
O esquecimento pode ocorrer devido a interferências entre os conteúdos
aprendidos; a falhas na recuperação dos conteúdos mnésicos; e/ou a um
esquecimento motivado (esquecimento de recordações desagradáveis).
3. Interferência
A interferência é um acontecimento que ocorre quando certos conteúdos
mnésicos perturbam e impedem a reactualização da informação que
procuramos. De acordo com esta explicação o esquecimento não significa que
a recordação de algo desapareceu mas sim que outro conteúdo mnésico
semelhante ao que tentamos recuperar provocou uma confusão entre
elementos informativos tornando-se assim uma barreira à reactualização da
informação pretendida.
Interferência proactiva
Interferência retroactiva
Passado --» Presente
Passado «--Presente
4. Falha na recuperação por perda de indícios
Esta hipótese explicativa consiste em afirmar que a informação
armazenada na memória permanece intacta e disponível
estando, contudo, perdida (temporariamente, em muitos casos)
a pista adequada que a tornaria acessível. Os defensores desta
hipótese defendem que, não estando o material memorizado
perdido, não se trata tanto de o relembrar mas si de o
reconhecer.
As falhas de recuperação são muito frequentes. Dependem ou
devem-se em muitos casos ao modo deficiente como a
informação é codificada.
5. Falha na recuperação por perda de indícios
Ex: Uma vez Daniel disse a um amigo que um dos melhores
filmes que alguma vez vira era «The Official Story». O amigo
retorquiu que nunca o tinha visto. «Tenho a certeza de que já o
viste» insistiu Daniel. «Há aquela cena incrível em que Norma
Alejandro ouve a descrição que a sua amiga faz do modo como
foi torturada pelos militares». Mais uma vez o seu amigo deu a
entender não estar a saber do que ele falava. Daniel, voltando à
carga «Está bem, é o filme em que o professor pouco a pouco se
apercebe de que a sua filha adoptiva era provavelmente a filha
de uma mulher assassinada pelos militares argentinos…» Fez-se
subitamente luz «Ah! o filme sobre a Argentina! Porque não
disseste logo?.
6. Esquecimento motivado
O esquecimento motivado significa que esquecemos porque temos razões (estamos
motivados) para esquecer, habitualmente porque uma recordação é desagradável e
perturbadora.
Existem duas formas de esquecimento motivado:
Supressão
Repressão
Esforço deliberado e consciente para esquecer
factos, pessoas e experiências que podem
provocar ansiedade, sentimentos de culpa e
outras perturbações.
Recordações desagradáveis e, por vezes,
inconfessáveis, são impedidas de aceder à
consciência, não tendo a pessoa qualquer
consciência de que os eventos traumáticos
tenham alguma vez ocorrido.
7. Relação entre aprendizagem e memória
É a aprendizagem que determina o nosso pensamento, a nossa linguagem, as
motivações, as atitudes e a personalidade. Existem aprendizagens simples e
aprendizagens complexas que implicam uma actividade mental diversificada.
Inerente aos processos de aprendizagem está a memória. Só a memória nos
possibilita reter o que aprendemos, para responder adequadamente à
situação presente e proporcionar a possibilidade de projectar o futuro. A
memória é a condição que torna possíveis os processos de aprendizagem.
Só aprendemos quando o que adquirimos é retido e passível de recuperação.
O próprio conceito de aprendizagem implica o de memória. Com efeito, a
aprendizagem é uma mudança relativamente estável no comportamento
como resultado da prática e da experiência. A estabilidade e a mudança
dependem da memória: o novo saber só é novo se o anterior não tiver
desaparecido e enquadra-se ou engloba os saberes possuídos como
ultrapassados. Não poderíamos aplicar o saber adquirido a novas situações
sem a relativa permanência que a memória assegura.
8. Doenças relacionadas com a memória
•Amnésia
É a perda parcial ou total da capacidade de reter ou evocar informações. Qualquer
processo que prejudique a formação de uma memória a curto prazo ou a sua fixação
em memória a longo prazo pode resultar em amnésia.
• Alzheimer
Uma porção significativa da população acima dos 50 anos sofre de alguma forma de
demência. A mais comum é a doença de Alzheimer, na qual predomina a perda
gradativa da memória, pois ocorrem lesões inicialmente nas áreas cerebrais
responsáveis pela memória declarativa, seguidas de outras partes do cérebro.