Conferência SC 24 | Data Analytics e IA: o futuro do e-commerce?
A organização como organismo vivo
1. A ORGANIZAÇÃO É UM ORGANISMO VIVO
Acho que não devem surgir dúvidas quando se faz este tipo de afirmação. Mas á
guisa de passar meu pensamento a vocês vou começar por este título óbvio.
A palestra que fiz com os superintendentes do meu cliente era sobre evolução.
Não é assunto fácil de debater nas empresas porque leva naturalmente à
religião. Gastei algum tempo falando dos evolucionistas materialistas e dos
evolucionistas espiritualistas. Verifiquei que os pensadores evolucionistas
materialistas e aqueles que seguem os dogmas da Igreja são os mais conhecidos
por serem os que têm suas teorias mais ensinadas na escola e também, por isso,
serem de mais fácil entendimento. Já quando citei o padre Pierre Teilhard de
Chardin e sua obra espiritualista (cuidado! não disse espírita, disse espiritualista,
porque todo espírita é espiritualista, mas nem todo espiritualista é
necessariamente espírita), assim como a obra do professor Alan Kardec e sua
visão espírita da evolução, vi que a fisionomia dos participantes mudou. Como
sem motivação a energia ambiente enfraquece, percebi que era melhor mudar
de rumo.
Foi o que eu fiz. Resolvi falar então acerca da evolução das organizações; os
semblantes mudaram outra vez, agora todos ficaram mais confortáveis e a
energia foi restabelecida.
Fiz uma analogia, a seguir descrita, entre a organização tradicional piramidal (a
que mais é encontrada) e o corpo humano. Disse a seguir:
“A organização é um sistema aberto, recebe constantemente as informações do
ambiente em que vive, processando-as em seus órgãos internos e devolvendoas ao ambiente em que atua”. Esta é uma definição teórica que não acontece na
prática. Vamos ver por que.
O organismo humano é comandado pelo cérebro, e este depende,
fundamentalmente, dos demais órgãos para a eficácia do processamento e
devolução das informações. A análise e a interpretação das ocorrências
captadas pela percepção do cérebro e passadas aos demais órgãos são
importantes tanto para a integração do cérebro á eles como para a própria
integração e saúde destes órgãos. O mesmo deveria se dar nas organizações.
Sabemos que não basta que a captação e interpretação das ocorrências
ambientais fiquem restritas à sua cúpula. Há a necessidade de uma perfeita
integração entre a diretoria e os demais órgãos da empresa para que estes,
2. recebendo as informações devidamente interpretadas e a tempo, possam
contribuir para o processo decisório, potencializando a organização como um
todo e resultando daí soluções criativas e mais facilmente implantáveis. Tornase fundamental, então, que os órgãos estejam sadios, integrados entre si e com
os níveis superiores.
No entanto, o volume das ocorrências hoje observadas na ambiência externa e
as dificuldades no ambiente interno, na área das relações interpessoais, fazem
com que somente o cérebro da empresa fique de posse das informações. E,
normalmente, não tem tempo de interpreta-las e passa-las a tempo para os
órgãos. Às vezes esta falha é acrescentada pela neurose de “quem tem
informação tem poder”. E aí, a informação não fluindo aos órgãos, eles
“adoecem”. A organização perde a totalidade e vem a desintegração. Começa a
departamentalização do processo decisório com a consequente desmotivação,
duplicação de funções, falta de produtividade e qualidade, enfim, total
impossibilidade de atingir os objetivos.
Fazendo analogia com o processo no cérebro (até aonde eu estudei), para que
as organizações tomem melhores decisões, sua direção deve ser composta de
elementos de diferentes especializações, como, aliás, eu acho que são, mas
devem trabalhar integrada e interdependentemente, com coesão e sinergia, o
que dificilmente acontece.
Ocorrências
Externas
Nível Decisório
Ocorrências
Externas
O
O
Diretoria
c
c
o
o
r
Nível Participativo
r
r
r
ê
Órgãos
ê
n
n
c
c
i
i
a
a
s
s
O Corpo Humano
e
x
t
e
O Corpo Organizacional
e
x
t
e
r
3. A analogia feita para o cérebro e para os órgãos serve também para as células
do corpo humano, que representariam os funcionários. Todas as células são de
igual importância, pois juntas formam o tecido orgânico. Na cultura industrial
mecanicista foi introduzida a noção de que o que realmente importa é: o capital,
as tecnologias e os métodos gerenciais, nesta ordem. Pouca importância tem
sido dada às pessoas que, afinal, são o maior ativo das organizações, são elas
que fazem as coisas acontecerem.
Finalmente uma analogia dramática e totalmente desprezada é a que se pode
fazer entre a função do sangue no corpo humano e a função da comunicação
nas organizações. Assim como qualquer obstrução do fluxo sanguíneo resulta
em doença, quando não na morte do corpo humano, é fácil imaginar os
problemas que diariamente ocorrem nas organizações pelo despreparo no uso
da comunicação psicológica.
Concluo que a busca de cenários, a implantação de um planejamento
estratégico, a reestruturação organizacional, a mais desenvolvida
informatização, e similares, de nada adiantará sem que antes, ou até
concomitantemente, tenha se desenvolvido o potencial individual dos
funcionários (células) e melhorado sua relação interpessoal (sangue). Sem um
trabalho profundo nesses dois pontos básicos para a saúde organizacional,
nenhum dos demais programas levará á excelência.
O desenvolvimento do potencial dos funcionários, assim como o aprendizado
para uma relação interpessoal produtiva, resultará numa organização integrada,
consciente da necessidade de transformações significativas e, principalmente,
com uma noção mais elevada de sua função social.
Bem, o que tem a ver evolução com o que foi dito até agora sobre analogias?
Eu vou deixar de dar esta explicação porque vocês já estão cansados de saber.
José Affonso