O documento resume a Cena 1 e 2 da peça "Auto da Barca do Inferno". Nela, o Diabo recebe o Fidalgo Dom Anrique na barca do Inferno. O Fidalgo acreditava que sua posição social e orações garantiriam a salvação, mas o Diabo o leva ao Inferno devido a sua vaidade, tirania e enganos com mulheres.
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D9 abi 092_c1e2_fidalgo
1. Auto da Barca do Inferno
Questões de Diálogos 9, Porto Editora
Cena 1 e 2 (Preparação e Fidalgo) – p. 92 – 101
Educação literária e Leitura
1. No início da peça, estão em cena o Diabo, o seu Companheiro e o Anjo. Embora o Fidalgo seja referido
logonaprimeiradidascália,oArraisdoInfernoconversacomoCompanheiro “antequeo Fidalgovenha”.
Assim, a Cena II começa no momento em que o Diabo se dirige ao Fidalgo (v. 23).
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2.
incitamento:“À barca,à barca,oulá!” (v.1), “À barca,à barca,hu!” (v.9), “Ó que caravela esta!” (v.
20).
Terminologia náutica: barca, ré, palanco, leito, poja, driça, caravela, verga, âncora.
O imperativo é usado uma vez que o Diabo dá ordens ao Companheiro, que as executa.
Nas falas do Diabo há interjeições e locuções interjetivas que exprimem alegria, satisfação (Ó),
incitamento (hu!, sus!), chamamento (oulá!). A interjeição aproxima o discurso da oralidade,
conferindo-lhemaiorespontaneidade e autenticidade,revelandosentimentose sublinhandoatitudes
das personagens.
3. Por exemplo:decidido,determinado,entusiasmado,alegre,eufórico,autoritário,impaciente,apressado,
otimista.
4.1. O Fidalgo,tal como todasas outraspersonagensque vãodesfilarpelocais,traz consigoelementosque
simbolizam a sua atuação em vida:
o pajem, que simboliza a tirania e a exploração;
o manto, símbolo da sua vaidade;
a cadeira de espaldas, que simboliza o seu estatuto social.
5.1. O Diabosabe que o Fidalgoestácondenadoaentrar na barca infernal.Porisso,usade ironia,tratando-
o por “precioso Dom Anrique”e fingindosurpresaporvê-lonasuapresença.Há aqui,também, sinaisde
desprezo do Diabo pela figura do Fidalgo.
5.2. Eufemismo.Aoreferir-seaoInfernocomo “a Ilha Perdida”e “nosso cais”, o Diaboprocura suavizar,aos
olhos do Fidalgo, o destino que o espera.
5.3. O Fidalgo diz que deixou na terra quem reze por ele (vv. 43-44), o que, acredita ele, lhe garantirá a
entrada no Paraíso.
5.4. Com estas palavras, o Diabo quer dizer “Satisfaz-te com esta situação, que é o resultado das escolhas
que fizeste em vida”. Correspondendo o lá e o cá, respetivamente,à vida na terra e ao destino após a
morte, o Diabo apre- senta aquele que vai ser, afinal, o critério que levará à condenação de uns e à
salvação de outros: o bem ou o mal praticados pela personagem, as suas virtudes ou os seus pecados
ditarão a sua entrada no Paraíso ou no Inferno. A crítica feita ao Fidalgo estende-se, assim, a todos
aquelesque acreditavamque asorações,asmissase outraspráticasreligiosaslhescomprariamaentrada
no Céu, independentemente de todas as suas outras ações.
6.1. O Fidalgomostra-sepreocupado,impacientee irritadopornãoobterresposta,recorrendoaté aoinsulto
(“jericocins”).
6.2. O único argumentoapresentadoé o do seuestatutosocial “Sou fidalgo de solar” (v.80), evidenciando
toda a sua arrogância e presunção.
6.3. O Anjoacusao Fidalgode tersidotirano,tendoexploradoe desprezado “ospequenos”(cf.vv.100-103)
e de ter sido vaidoso (cf. “fantesia” (v. 86), “fumosa senhoria” (v. 99) e “fumoso” (v. 105)).
6.4. No seu discurso, o Anjo mostra-se irónico (vv. 94-99), determinado e sereno.
7.1. Essa noção está presente no momento em que o Fidalgo pede ao Diabo para ir ver a amante (vv. 130-
133) e a mulher (vv. 150-151).
7.2. O Diabo explica-lhe que eram tudo mentiras, pois ambas as mulheres o enganavam (cf. vv. 134-157).
8.1. Dom Anrique é um “fidalgo de solar”, vaidoso e presunçoso da sua condição social. Tirano e opressor
emrelaçãoao povo,mostraalgumaingenuidadequandopercebe que oseuestatutosocial e asorações
pelasua almanão lhe garantiriamasalvação e que,em vida, foi enganado pela mulher e pela amante.
2. 9.1. Verso 53: “que assi passou vosso pai.” Ao referir que já o pai de Dom Anrique terá sidocondenado ao
Inferno,dá-se aentenderqueoFidalgorepresentatodaasuaclasse,sendo,portanto,uma personagem-
tipo.
9.2. Por exemplo: vaidade, presunção, arrogância, ostentação, tirania.
Presta atenção: a questão solicita a indicação de nomes (não de adjetivos ou outras classes de palavras). Estaria
correto se a resposta fosse “vaidoso, presunçoso, arrogante, ostensivo, tirano”? Provavelmente, não. Estaríamos a
responder com adjetivos e não com nomes. Ficaria correto no conteúdo mas não na forma. Presta atenção ao que
te é solicitado – a diferença pode estar num pormenor!
10. antítese: a.; eufemismo: b.; ironia: c., d., e.
11. a. Cómico de carácter (o Fidalgo, habituado a viver no luxo, desdenha das condições da embarcação);
b. Cómico de linguagem (neste momento, irritado, o Fidalgo usa um registo de língua popular);
c. Cómico de situação (pelodesajustedoFidalgoàsituaçãoem que se encontra – não entendendobem
que, depois de morto, não poderá voltar à terra –, e por acreditar que a sua amante se quer matar
por sentir a sua falta, quando, na realidade, ela sempre lhe mentiu.)
Leitura
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1.1. Os fidalgos são retratados com profunda ironia, como uma classe social que vive da ostentação. Sem
dinheiro, alimentam-se a água, pão e rabanetes, o que leva o autor do texto a tratá-los por “faustosos
rafanófagos”. Não obstante,quando saemà rua, fazem-se acompanhar de todo um séquitode criados
cujas funções, pela sua inutilidade, se tornam ridículas. Atente-se que também os criados são aqui
criticados:emborapassemfome emcasadosfidalgosaquemservem,nãoé difícil recrutá-los,pois “esta
gente prefere tudo a suportar aprender qualquer profissão.” (l. 26).
Gramática
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1.1.1. Ocorreu,respetivamente,umprocessode alteração(a.assimilação),supressão(b.síncope) e inserção
(c. prótese).
1.2. para, deixo, mim, vais, muito, dores, dizia, tomareis.
2.1. homónimas.
2.2. Palavras convergentes.
Nota: o exercício da página 102 será apresentado aquando da análise da última cena.