10. Soneto Social Esta obra tem dado margem a leituras muito redutoras, que grosseiramente só nela vêem uma farsa. Mas se Gil Vicente fez a impiedosa das moléstias que corroíam a sociedade em que viveu, não foi para se ficar aí, como nas farsas, mas para propor um caminho decidido de transformação em relação ao presente. Normalmente classificada como uma moralidade, muitas vezes ela aproxima-se da farsa; o que indubitavelmente fornece ao leitor é uma visão, ainda que parcelar, do que era a sociedade portuguesa do século XVI. Apesar de se intitular Auto da Barca do Inferno, ela é mais o auto do julgamento das almas. Análise
11. O Frade, a Alcoviteira, o Judeu, o Corregedor e o Procurador, o Enforcado e os Quatro Cavaleiros. Todos mantêm as suas características terrestres, o que as individualiza visual . As personagens desta obra são divididas em dois grupos: as personagens alegóricas e as personagens – tipo. No primeiro grupo inserem-se o Anjo e o Diabo, representando respectivamente o Bem ou o Céu e o Mal ou Inferno. Ao longo da obra toda, estas personagens são como “juízes” do julgamento das almas, tendo em conta os seus pecados e vida terrena. No segundo grupo inserem-se todas as restantes personagens do Auto, nomeadamente o Fidalgo, o Onzeneiro, o Sapateiro, o Parvo (Joane), sendo quase sempre estas características sinal de corrupção. Fazendo uma análise das personagens, cada uma representa uma classe social, ou uma determinada profissão ou até mesmo um credo. À medida que estas personagens vão surgindo vemos que todas trazem elementos simbólicos, que representam a sua vida terrena e demonstram que não têm qualquer arrependimento dos seus pecados. Os elementos cénicos de cada personagem são: Personagens:
12. Fidalgo: manto e pajem que transporta uma cadeira de espaldas. Estes elementos simbolizam a opressão dos mais fracos, a tirania e a presunção do Fidalgo. Onzeneiro: Este elemento simboliza o apego ao dinheiro, a ambição, a ganância e a usura). Sapateiro: avental e moldes. Estes elementos simbolizam a exploração interesseira, da classe burguesa comercial. Parvo: representa simbolicamente, os menos afortunados de inteligência. Frade: Moça, espada, escudo e capacete. Estes elementos representam a vida mundana do Clero, e a dissolução dos seus costumes. Alcoviteira: moças e os cofres. Estes elementos representam a exploração interesseira dos outros, para seu próprio lucro. Judeu: bode. Este elemento simboliza a rejeição a fé cristã. Corregedor e Procurador: processos, vara da Justiça e livros. Estes elementos simbolizam a magistratura. Enforcado: Acredita ter o perdão garantido. Seu julgamento terreno e posterior condenação à morte o teriam redimido de seus pecados, mas é condenado igual aos outros. Ele carrega a mesma corda com que fora enforcado, a corda significava a vida terrena vil, corruptível que o enforcado teve na sua vida terrestre. Q uatro Cavaleiros : cruz de Cristo simboliza a fé dos cavaleiros pela religião católica. Elementos cénicos das personagens:
13. Surgem ao longo do auto três tipos de cómico: o de carácter, o de situação e o de linguagem. O cómico de carácter é aquele que é demonstrado pela personalidade da personagem, de que é exemplo o Parvo, que devido à sua pobreza de espírito não mede as suas palavras, não podendo ser responsabilizado pelos seus erros. O cómico de situação é o criado à volta de certa situação, de que é bom exemplo a cena do Fidalgo, em que este é gozado pelo Diabo, e o seu orgulho é pisado. Por fim, o cómico de linguagem é aquele que é proferido por certa personagem, de que são bons exemplos as falas do Diabo. Humor