3. O primeiro a embarcar é um
Fidalgo que vem acompanhado
por um Pajem, que lhe leva o
manto e uma cadeira.
4. O Diabo mal vê o Fidalgo diz-lhe para entrar
na sua barca. Este dirige a palavra ao Diabo,
perguntando-lhe para onde ia aquela barca. O
Diabo responde que o seu destino era o
Inferno.
Então, o Fidalgo resolve ser sarcástico e
diz que as roupas do Diabo pareciam de uma
mulher e que sua barca era horrível. O Diabo
não gostou da provocação e disse-lhe que
aquela barca era a ideal para tão nobre
senhor.
O Fidalgo, admirado, diz ao Diabo que
tem quem reze por ele, portanto, o inferno não
será a sua paragem, mas acaba por saber que
o seu pai também já encontrara guarida
naquela barca.
O Diabo mal vê o Fidalgo diz-lhe para entrar
na sua barca. Este dirige a palavra ao Diabo,
perguntando-lhe para onde ia aquela barca. O
Diabo responde que o seu destino era o
Inferno.
Então, o Fidalgo resolve ser sarcástico e
diz que as roupas do Diabo pareciam de uma
mulher e que sua barca era horrível. O Diabo
não gostou da provocação e disse-lhe que
aquela barca era a ideal para tão nobre
senhor.
O Fidalgo, admirado, diz ao Diabo que
tem quem reze por ele, portanto, o inferno não
será a sua paragem, mas acaba por saber que
o seu pai também já encontrara guarida
naquela barca.
5. O Fidalgo tenta entrar noutra barca
e, por isso, resolve dirigir-se à barca
do Anjo.
Começa por perguntar ao Anjo, para
onde é a viagem e que aquela é a barca
que procura, mas é impedido de entrar,
devido à sua tirania, pois aquela barca
era demasiado pequena para tão
grande fidalgo, ou seja, não havia ali
espaço para todas as maldades que
cometera em vida.
6. Assim, o Fidalgo desolado, vai para a barca do
Inferno. Porém, e antes disso, pede ao Diabo que o
deixe tornar a ver a sua amada, que se queria matar
por ele.
O Diabo diz-lhe que a mulher que
ele tanto amava o enganava e que tudo
que ela lhe escrevia era mentira, mas
também a sua esposa dava já graças a
Deus por ele ter morrido.
O melhor era, portanto, embarcar
logo, pois ainda viria mais gente. O
Diabo manda o Pajem, que estava junto
ao Fidalgo, ir embora, pois ainda não
era sua hora.
7. 2- Símbolos cénicos
O Pajem, a cadeira de espaldar e o manto são
elementos cénicos que representam o estatuto
social da personagem, mas também servem
para tecer uma crítica.
8. Manto – vaidade,
estatuto social.
Pajem – criado sobre o
qual exercia a tirania e
exploração.
Cadeira – gosto
excessivo pelo poder e
até abuso do poder.
10. 4- Argumentos de defesa
• O Fidalgo argumenta que tem quem reze por si e que, por isso,
se salvará:
• “Que leixo na outra vida
• quem reze sempre por mi.”
• Diz ser Fidalgo e só por isso pensa
ir para o Paraíso:
• “Sou fidalgo de solar
• é bem que me recolhais.”
• • Defende-se dizendo-se importante:
• “Pêra senhor de tal marca
• nom há aqui mais cortesia?”
11. 5- Argumentos de acusação
• É acusado pelo Diabo de viver em pecado e de se fiar nas
orações:
“E tu viveste a teu prazer/cuidando cá
guarecer/porque rezam lá por ti?”
• O Diabo acusa-o de viver de acordo com o Inferno:
“Segundo lá escolhestes,/assi cá vos contentai”
• O Anjo acusa-o de tirania: “Não se embarca
tirania/neste batel divinal”
• É acusado pelo Anjo de vaidade: “Pêra vossa fantesia/mui
estreita é esta barca.”
• Acusa-o também de exploração dos mais fracos:
“desprezastes os pequenos”
12. 6- Caracterização do
fidalgo
Dom Anrique é um fidalgo de solar, vaidoso e arrogante. A
forma como se apresenta em cena, com o seu longo manto e o pajem
que carrega a sua cadeira, revela bem essa vaidade e ostentação. A
forma como reage, inicialmente face ao Diabo e depois face ao Anjo,
revela a arrogância de quem sempre esteve habituado a que
obedecessem às suas ordens.
Da sua vida sentimental ficamos a saber, através da sua
conversa com o Diabo, que além da mulher tinha uma amante, logo
era adúltero, mas que também era enganado por elas, apesar de se
dizer tão poderoso.
14. Conclusão
Nesta cena, o Fidalgo mostra-se arrogante e superior até em relação ao Anjo.
Julgou que seria tratado depois da morte como era em vida, com todas as
mordomias e privilégios. Gil Vicente quer provar que afinal somos todos iguais após
a morte.
O Fidalgo começa a cena muito seguro e confiante de que iria salvar-se, mas
quando percebe que não pode embarcar na barca do Anjo, acaba por revelar
preocupação. Fica irritado por ser desprezado, mas acaba por se conformar com a
sua condenação. O seu estado de espírito vai mudando consoante o seu julgamento
vai decorrendo.
O Pajem não embarca, pois foi alvo de exploração e tirania e não está a ser
julgado. Não merece ir para o Inferno. É apenas um símbolo que acompanha o
Fidalgo.