3. Aos 6 anos,
Com a esposa quando leu o Aos 44 anos, quando
Aracy, primeiro livro, Revisitou o Sertão.
em 1949. em francês,
Les femmes qui aimment.
4. “Num romance de Guimarães Rosa, o
personagem narrador diz, volta e meia, que
‘viver é muito perigoso’. Um escritor
mineiro localizou a mesma frase em Goethe;
era muito do Rosa, essa mistura de Goethe
com sertanejo”.
Rubem Braga, Recado de primavera
5. João era fabulista?
fabuloso? Carlos Drummond de Andrade
fábula?
Sertão místico disparando
no exílio da linguagem comum? […]
Ficamos sem saber o que era João
e se João existiu
de se pegar.
6. Às vezes, quase acredito que
eu mesmo, João, seja um con-
to contado por mim.
7. "Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol,
italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco,
holandês, latim e grego (mas com o dicionário
agarrado); entendo alguns dialetos alemães;
estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do
sânscrito, do lituânio, do polonês, do tupi, do
hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês, do
dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de
outras. Mas tudo mal. Eu acho que estudar o
espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda
muito à compreensão mais profunda do idioma
nacional. Principalmente, porém, estudando-se por
divertimento, gosto e distração".
8. O título do livro, Sagarana, remete-nos a
um dos processos de invenção de palavras
mais característicos de Rosa: o hibridismo.
SAGA é radical de origem germânica e
significa "canto heróico", "lenda"; RANA vem
da língua indígena e quer dizer "à maneira
de" ou "espécie de". As estórias desembo-
cam sempre numa alegoria e o desenrolar
dos fatos prende-se a um sentido ou "moral",
à maneira das fábulas.
9.
10. Os contos foram escritos
pelo ano de 1937, com o ob-
jetivo de serem submetidos
ao famoso Prêmio Graça
Aranha que era organizado
pela Editora José Olympio.
Fac-símile da capa original enviada por
G. Rosa ao Concurso da Editora José
Olympio.
11. Guimarães Rosa utilizou,
para participar do concurso
o pseudônimo de Viator.
O livro ficou em segundo
lugar, embora Graciliano
Ramos, um dos jurados, te-
nha definido sua colocação
em primeiro.
Fac-símile da capa original enviada por
G. Rosa ao Concurso da Editora José
Olympio.
12. Após o processo de depuração, “Questões
de família” e “Uma história de amor” foram
destruídos e “Bicho mau” deixou de figurar
em SAGARANA por não ter parentesco com
as outras nove estórias.
Em carta escrita a João Condé, Rosa
explica todo o processo de criação e
depuração do livro.
13. GÊNERO E SUB-GÊNERO
Não existem dúvidas acerca da classificação
quanto ao gênero literário dos textos de
SAGARANA.
Mas no que se refere ao sub-gênero, existe
uma polêmica em relação a esse assunto.
O que para alguns críticos poderiam ser de-
nominados de “contos”, para outros tantos se
chamariam “novela”.
14. GÊNERO E SUB-GÊNERO
“As nove peças que formam o volume
SAGARANA continuam a grande tradição da
arte de narrar. O gênero peculiar do autor é,
aliás, a novela e não o conto... menos pela
extensão relativamente grande do que pela
existência, em cada uma delas, de vários
episódios — ou ‘subistórias’, na expressão do
escritor ...
RÓNAI, Paulo. A arte de contar em Sagarana. IN: Sa-
garana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
15. GÊNERO E SUB-GÊNERO
Já pressentira que o livro, não podendo ser
de poemas, teria de ser de novelas. E - sendo
meu - uma série de Histórias adultas da Caro-
chinha, portanto.
“Bem, resumindo: ficou resolvido que o livro
se passaria no interior de Minas Gerais. E com-
por-se-ia de 12 novelas. Aqui, caro Condé, fin-
dava a fase de premeditação. Restava agir”.
GUIMARÃES ROSA, em carta a João Condé
16. LINGUAGEM: A CRIAÇÃO DE VOCÁBULOS
É o que podemos chamar de neologismos onde
sobressaem composições e derivações novas,
além “de novos tipos de construção frasal”, di-
tos “neologismos sintáticos”, segundo Mattoso
Câmara.
DERIVAÇÃO PREFIXAL: Um dos prefixos
mais usados é ainda des-: desfeliz, desenxer-
gar, etc. sempre em sentido negativo ou como
mero reforço, dado e desgaste do prefixo exis-
tente, como é o caso de desinfeliz.
17. LINGUAGEM
Quanto à linguagem, Augusto de Campos
observa que “embora revele um notável e
incomum domínio artesanal, a linguagem de
Guimarães Rosa também não se confunde
com a dos estilistas da língua. O seu
palavreado diferente não é constituído
propriamente de vocábulos “difíceis” ou
desusados, como no caso de Euclides da
Cunha ou Coelho Neto, mas de recriações e
invenções forjadas a partir das virtualidades
do idioma, que levam o leitor a constantes
descobertas.”
18. LINGUAGEM: A CRIAÇÃO DE VOCÁBULOS
DERIVAÇÃO SUFIXAL: É outro processo
formador de vocábulos novos bastante usado
no livro e que funciona como expressivo
recurso estilístico, principalmente em se
tratando de linguagem popular. Entre outros
exemplos, mencionemos o caso de:
vaqueirama, assimzinho, coisama, pensação,
cigarrar, rapaziar, quilometrosa, maismente,
saudadear, pererecar, etc.
19. LINGUAGEM: A CRIAÇÃO DE VOCÁBULOS
DERIVAÇÃO PARASSINTÉTICA: Consiste no
uso de prefixo e sufixo ao mesmo tempo. Não
é muito freqüente em Sagarana, mas mesmo
assim podemos anotar alguns exemplos: avoa-
mento, esmoralizado, desbriado, amaleitado,
etc.
ABREVIAÇÃO: Na abreviação, registre-se o
caso de estranja (cf. “você não tem vergonha
de trabalhar p’ra esses gringos, p’ra uns es-
tranjas, gente atoa?” Outros: corgo, arve, p’ra,
vam’bora, ixa!, etc.
20. LINGUAGEM: A CRIAÇÃO DE VOCÁBULOS
COMPOSIÇÃO AGLUTINADA: passopreto,
milmalditas, suaviloqüência, destamanho,
membora, etc.
COMPOSIÇÃO JUSTAPOSTA: homem-do-pau-
comprido-com-o-marimbondo-na-ponta, moço-
que-acaba-casando, quero-porque-quero.
21. LINGUAGEM: ARCAÍSMOS
O ARCAÍSMO em SAGARANA é um reflexo da
linguagem popular, visto que a língua do inte-
rior, afastada do contato com a civilização, é
estática, conservando muitos vocábulos do
português arcaico. Entre outros, anotemos a-
qui alguns exemplos: riba (cf. por riba do mon-
te), banda (em lugar de lado), vigiar (em vez
de olhar), quentar (em vez de esquentar)
Agarantir, alembrar, alumiar, amostrar, arre-
conhecer, arrenegar, arresolver, arresponder,
arresistir, etc.
23. PARTICULARIDADES
FABULAÇÃO: As narrativas são repletas de
incidentes, casos fantásticos e imaginários,
contém às vezes mais de uma “estória”
dentro da “estória”. De um modo geral,
entretanto, esses casos secundários são
postos em função do principal: têm a
finalidade de comprovar ou preparar terreno
para a história principal.
24. PARTICULARIDADES
PERSONAGENS: estão ligados à paisagem
mineira, à vida das fazendas, à saga dos
vaqueiros e dos criadores de gado — mundo
da infância e mocidade de Guimarães Rosa.
“Seus personagens são admiravelmente
delineados e caracterizados não apenas exter-
namente, mas com uma rara penetração da
psicologia do homem rústico. Suas descrições,
atestam um conhecimento minucioso de gen-
tes, plantas e bichos em contacto com o am-
biente sertanejo”. (Augusto de Campos).
25. PARTICULARIDADES
PROVÉRBIOS E QUADRAS: É outra caracterís-
tica do estilo rosiano que evidencia um gosto
bem popular: o gosto por ditados e provérbios,
além das quadrinhas que harmonizam as noites
sertanejas, sob um céu palpitante de luar e de
estrelas que pululam encantadas dos sons
gote-jantes das melodias populares. Mundo de
fanta-sia e poesia que já começa a crepuscular
para dar lugar aos sons trepidantes e
fumegantes das guitarras desconcertantes que
infestam e empestam ao soberbo século XX de
maravilhas fatais! Algumas quadras são
epígrafes.
26. TÉCNICA NARRATIVA
SINTAXE PONTILHISTA: De um modo geral,
as descrições de Guimarães (principalmente as
descrições) são entrecortadas por frases curtas
e rápidas, dando especial atenção à frase nomi-
nal. Trata-se de uma sintaxe “telegráfica”:
“Uma porteira. Mais porteira. Os currais. Vultos
de vacas, debandando. A varanda grande. Lu-
zes. Chegamos. Apear”.
27. TÉCNICA NARRATIVA
RETICÊNCIAS: As reticências denotam inter-
rupção do pensamento ou hesitação em enun-
ciá-lo. É recurso muito usado em SAGARANA, o
que confere ao texto maior autenticidade e ex-
pressividade oral.
“- Ah, que honra, mas que minha honra,
senhor Doutor Secretário do Interior... Entrar
nesta ca-fua, que menos merece e mais
recebe... Esteja à vontade! Se execute! Aqui o
senhor é vós... Já jantaram/ ô diacho... Um
instantinho, senhor Doutor, se abanquem...
28. TÉCNICA NARRATIVA
HISTÓRIA ENTRECORTADA: Trata-se de um
aspecto do estilo de Guimarães decorrente da
sua espantosa capacidade de fabulação de que
já tratamos em item anterior. Tal técnica pare-
ce conferir maior espontaneidade e autenticida-
de à oralidade que perpassa os seus casos. Um
bom exemplo encontramos em “O Burrinho Pe-
drês”.
29. “A menos ‘pensada’ das novelas de SAGARA-
NA, a única que foi pensada velozmente, na
ponta do lápis. Também quase não foi mani-
pulada em 1975”.
JGR, em carta a João Condé
31. PERSONAGENS
Lalino (Laio, Eulálio de Souza Salãthiel): o
marido pródigo;
Maria Rita: esposa de Lalino;
Ramiro: espanhol que se “casa” com Rita;
Major Anacleto: chefe político da região;
Seu Marra: chefe de Lalino na primeira par-
te da narrativa.
32. PERSONAGENS
Oscar: filho do Major Anacleto.
Laudônio: irmão do Maj. Anacleto;
Pintão, Generoso, Tercino, Seu Waldemar,
Sidú, Correia, Conrado: colegas de Lalino e/ou
moradores da região.
33. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE I
Na parte I da novela, temos a apresentação
do protagonista Lalino Salãthiel. O espaço da
narração é a estrada que está sendo cons-
truída, na qual Laio trabalha.
A VAIDADE DE LAIO: “Lalino Salãthiel vem
bamboleando, sorridente. Blusa cáqui, com
bolsinhos, lenço vermelho no pescoço, chape-
lão, polainas, e, no peito, um distintivo, não
se sabe bem de quê. Tira o chapelão: cabelos
pretíssimos, com as ondas refulgindo de bri-
lhantina... (p. 101).
34. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE I
IRONIA: “— Está bem, seu Laio, por hoje,
como foi por motivo de doença, eu aponto o
dia todo. Que é a última vez!... E agora, deixa
de conversa fiada e vai pegando a ferramenta!
— Já, já, seu Marrinha. ‘Quem não
trabuca, não manduca’!” (p. 103).
PRATICIDADE: “Lalino trouxe apenas um
pão-com-lingüiça.
— Isso de carregar comida cozinhada de
madrugadinha p’ra depois comer requentada
não é minha regra. (p. 105)
35. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE I
AS MULHERES: “— Então, seu Laio, esse
negócio mesmo do espanhol.
— Ara, Generoso! Vem você com
espanhol, espanhol!... Eu já estou farto dessa
espanholaria toda… Inda se fosse alguma
espanhola, isto sim! (p. 106).
A “CARA-DE-PAU”: — Pois, hoje, eu estou
mesmo com um coragem mesmo doida de
trabalhar, seu Marrinha. (p. 107)
36. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE I
Para “enrolar” seu Marrinha e não traba-
lhar, Lalino começa a lhe contar peças de
teatro que inventa na hora. Por várias vezes,
entra em contradição, mas sempre consegue
se safar.
A “malandragem” de Lalino é ressaltada
pelo fato dele ser professor de violão e pelas
mentiras que conta. A maior de todas elas, é
que ele conhecia o Rio de Janeiro. Lalino che-
ga a descrever as prostitutas cariocas.
Iguaizinhas às que viu nas revistas.
37. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE I
LALINO POR SEU WALDEMAR: “— Mulatinho
levado! Entendo um assim, por ser divertido.
Não é de adulador, mais sei que não é
covarde. Agrada a gente porque é alegre e
quer ver todo-o-mundo alegre, perto de si.
Isso que remoça. Isso é reger o viver” (p
110).
A METALINGUAGEM: “E, aí, com a partida
de seu Waldemar, a cena se encerra
completa, ao modo de um final de primeiro
ato” (p. 110)
38. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE II
APRESENTAÇÃO DE RITA: “Nessa tarde, Lali-
no Salãthiel não pagou cerveja para os compa-
nheiros, nem foi jantar com seu Waldemar. Foi,
sim, para casa, muito cedo, para a mulher, que
recebeu entre espantada e feliz, aquele saimen-
to de carinhos e requintes. Porque ela o bem-
queria muito. Tanto que, quando ele adorme-
ceu, com seu jeito de dormir profundo, pare-
cendo muito um morto, Maria Rita ainda ficou
longo tempo curvada sobre as formas tranqüi-
las e o rosto de garoto cansado, envolvendo-o
num olhar de restante ternura” (p. 111).
39. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE II
O CASAMENTO: “É, Maria Rita gosta dele,
mas... Gosta como toda mulher gota, aí está.
Gostasse especial, mesmo, não chorava com
saudades da mãe... Não ralhava zangada por
conta d’ele se rapaziar com os companheiros,
não achava ruim seu jeito de viver... Gostas-
se, brigavam? (p. 112).
SEU RAMIRO: “Seu Ramiro, quis, mas não
pôde esquivar-se. Espigado e bigodudo, ar-
ranja um riso fora-de-horas, e faz, apressado,
um rapapé”. (p. 113).
40. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE II
Seu Ramiro se interessa em ajudar Laio a ir
para o Rio de Janeiro, emprestando-lhe di-
nheiro. Na prática, convencionou-se que Lali-
no tinha vendido sua esposa para o espanhol.
FALA DE EULÁLIO A MIRANDA: “— Olha, fa-
la com a Ritinha que eu não volto mais, mes-
mo nunca. Vou sair por este mundo, zanzan-
do. Como eu não presto, ela não perde... Diz
para ela que pode fazer o que entender... que
não volto, nunca mais... (p. 115).
41. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE II
LAIO NO TREM: “Procurou assento, recos-
tou-se, e fechou os olhos, saboreando a ter-
pidação e sonhando — sonhos errados por
excesso — como o determinado ponto, em
cidade, onde odaliscas veteranas apregoavam
aos transeuntes, com frinéica desenvoltura o
amor: bom, barato e bonito, como o que
queriam os deuses. (p. 116).
42. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE III
“Um mês depois, Maria Rita ainda vivia
chorando, em casa.
Três meses passados, Maria Rita estava
Morando com o espanhol.” (p. 117).
Meio ano se passa, a rodovia é concluída, os
ex-colegas de Lalino vão embora. Os espa-
nhóis se estabelecem na região e conseguem
fazer grandes negócios com os habitantes do
lugar.
43. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE IV
Na parte IV, narra-se a ida de Laio ao Rio.
De maneira rápida, temos apenas uma idéia
de todas as aventuras vividas por Laio na Ci-
dade Maravilhosa, pois como o título sugere, o
que interessa ao leitor é a VOLTA de Lalino
Salãnthiel.
Lalino, então, retorna a sua cidade. “Quero
só ver a cara daquela gente, quando eles me
enxergarem!...” (p. 119).
44. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE V
“Quando Lalino Salãnthiel, atravessado o
arraial, chegou em casa do espanhol, já
estava cansado de inventar espírito, pois só
com boas respostas é que ia podendo
enfrentar as interpelações e as chufas do
pessoal.
— Eta, gente! Já estavam mesmo com
saudades de mim...
Ramiro viu-o da janela, e sumiu-se lá
dentro.
Foi amoitar a Ritinha e pegar arma de
fogo... — Lalino pensou.” (p. 119).
45. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE V
Ramiro teme que Lalino voltara à cidade
para “desmanchar o negócio”. Mas para o
marido pródigo, não havia existido negócio
algum.
“— Tive que vir, e aproveitei para lhe
trazer o seu dinheiro, lhe pagar…” (p. 120).
Para Eulálio, Maria Rita ainda era sua
esposa, mas “cai em si” e vai embora, com o
intuito de rever o antigo chefe, seu
“Marrinha”.
46. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE V
Lalino sente-se cansado e se deita debaixo
de uma árvore, na beira da estrada. Antes de
dormir, Laio se lembra da famosa “Festa no
Céu”, uma fábula do folclore brasileiro.
Eulálio dorme e depois de algum tempo,
surge seu Oscar, filho do Major Anacleto.
Oscar começa a admirar a esperteza de
Lalino e o convida para ser cabo eleitoral.
Mas antes era preciso convencer o Major a
aceitá-lo.
47. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE VI
“Além de chefe político do distrito, Major
Anacleto era homem de princípios austeros,
intolerante e difícil de se deixar engambelar.
Foi categórico:
— Não me fale mais nisso, seu Oscar. De-
finitivamente! Aquilo é um gradissíssimo ca-
chorro, desbriado, sem moral e sem temor a
Deus… Vendeu a família, o desgraçado! Não
quero saber de bisca dessa marca… E, depois,
esses espanhóis são gente boa, já me compra-
ram o carro grande, os bezerros…” (p. 127).
48. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE IX
Oscar volta pra casa irritado, pois realmente
queria se unir a Maria Rita. Com raiva do “ma-
landro”, não revela a ele que Rita ainda o ama.
“— Pode tirar o cavalo da chuva, seu Laio!
Ela gosta mesmo é do espanhol, fiquei tendo a
certeza... Vai caçando um jeito de campear ou-
tra costela, que essa-uma você perdeu”. (p.
140).
49. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE VI
Para convencer o pai, seu Oscar exalta a
esperteza de Lalino e o lembra que Tio
Ladônio, o irmão do Major, que ali morava,
também havia sido um “baita safado” em sua
mocidade e agora voltara a ser “sisudo.
“— Um mulato desses pode valer ouros…”
Depois de muito titubear, Major Anacleto
acaba concordando em receber Lalino.
50. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE VII
“Entretanto, Eulálio de Souza Salãnthiel pa-
recia ter pouca pressa de assumir as suas
funções. Não foi no dia seguinte” (p. 129).
Quando chega à fazenda, Major Anacleto
afirma que não deixará mais que Lalino
trabalhe com ele. Mas Laio, mostrando
vocação para a má política, mente ao Major
dizendo que “no Papagaio, todo mundo vai
trair o senhor, no dia da eleição” (p. 130). Por
fim, com muito custo, o Major concorda que
Laio seja seu cabo-eleitoral. Nisso, o “pilantra
pede um guarda-costas ao chefe político.
51. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE VIII
Na oitava parte, Laio começa seu ofício de
cabo-eleitoral. Visita o padre e as demais
autoridades do lugarejo, visita o povo e faz
campanha para o Major. O narrador ressalta as
“armações” de Lalino Salãnthiel para
conseguir votos para seu patrão.
52. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE IX
A parte IX nos mostra o Major já cansado,
doente. Enquanto isso, Seu Oscar visita Maria
Rita, a ex-mulher de Eulálio. O filho de Anacle-
to dá uma “cantada” em Ritinha. De princípio
ela gosta de ser cortejada por mais um ho-
mem, mas confessa a seu Oscar:
“— Eu gosto mesmo é do Laio, só dele! Não
presta, eu sei, mas que é que eu hei de fa-
zer?... Fiquei com o espanhol, por um castigo,
mas o Laio é que é meu marido, e eu hei de
gostar dele, até na horinha d’eu morrer!” (p.
139).
53. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE IX
Laio “faz o diabo. Tudo dentro dos
conformes e da paz. Lalino tinha tino e
tirocínio. Tinha diplomacia, sim senhor, tinha:
“E falando nisso, que magnífico, o senhor
Eulálio! Divertira-os! o Major sabia escolher os
seus homens. Sim, em tudo o Major estava de
parabéns...”
Final feliz. Maria Rita volta. O Major aceita.
O dia afoita. Falece a (des)ventura. De Lalino.
De Maria Rita: “Então, o Major voltou a
54. A DIVISÃO EM “SUBSTÓRIAS”: PARTE IX
aparecer na varanda, seguro e satisfeito,
como quem cresce e acontece, colaborando,
sem o saber, com a direção escondida-de-
todas-as-coisas-que-devem-depressa-
acontecer” (p. 150).
“A Volta do Marido Pródigo” apresenta
“
também, de forma picaresca, os caprichos do
Destino: Lalino, o marido pródigo, dá voltas e
desvoltas pela vida, e acaba tudo bem. Com a
mulher. Com a política. Consigo mesmo
55. PARTICULARIDADES
Lalino Salãnthiel pode ser classificado
como um pícaro, ou seja, um malandro
simpático que vive ao sabor do acaso. Tal
tipo de personagem é comum na novela
espanhola. Ele é o anti-herói, assim como
Macunaíma e o Leonardinho, de “Memórias
de um Sargento de Milícias”.
De todas as novelas de SAGARANA, “A
volta do marido pródigo” é aquela em que o
humor mais aparece, todo ele centrado na
figura de Eulálio.
56. PARTICULARIDADES
Uma diversa gama de aforismos populares
é apresentada na narrativa.
O nome do protagonista é importante,
pois Lalino assemelha-se a latino e a ladino,
dois adjetivos que muito bem retratam a
personalidade de Eulálio.
“— Bem que o senhor estava me dizendo,
agorinha mesmo, que ele é levado de
ladino” (fala do Major a Seu Oscar, p. 143).
57. PARTICULARIDADES
Através da estória de Lalino Salãnthiel, GR
faz uma crítica velada à politicagem que
existia em MG, principalmente no que dizia
respeito à Igreja: