2. GUIMARÃES ROSA
Terceira Geração do Modernismo
A LINGUAGEM É VISTA COMO INSTRUMENTO
grande volume de metáforas surpreendentes, paradoxos, símiles
sua obra mimetiza a linguagem do sertanejo + neologismos
alteração da sintaxe tradicional + efeitos poéticos de linguagem
Pata a pata, casco a casco, soca soca, fasta vento, rola e trota, cabisbaixos, mexe lama, pela
estrada, chifres no ar. [fragmento do conto “O burrinho pedrës”]
3. GUIMARÃES ROSA
Terceira Geração do Modernismo
REGIONALISMO [ambiente] UNIVERSALISTA [temática]
SERTÃO ambientaliza questões universais no interior de Minas
a redenção, a volta à verdadeira natureza, a vingança
1946: primeiro livro de Guimarães Rosa [contos: narrativas curtas]
SAGARANA
neologismo: saga [narrativa épica] + rana [à maneira de] = epopéias
4. ENREDO
O burrinho pedrês
na Fazenda da Tampa, do Major Saulo [homem forte, analfabeto, de olhos verdes e bom senso de humor], os
homens estão terminando os preparativos para sair pelo sertão, levando uma boiada [460] de bois de corte;
por acaso, Sete-de-Ouros, que estava na varanda da casa, é visto e lembrado: nele vai o franzino
João Manico; o burrinho pedrês já tivera tido vários donos e funciona como um duplo do seu dono [Saulo]:
são calmos, tenazes, não dados a efusões sentimentais e ao desperdício de emoções; a história transcorre em
um só dia, num janeiro chuvoso de um ano que acaba em seis; como alguns cavalos fugiram, o burrinho, que
cometera o engano de ficar buscando sal perto da varanda da casa acabou sendo escolhido; este é
o primeiro equívoco que decide o destino e ajeita caminho à grandeza dos homens e dos burros, segundo narrador
Francolim, o capataz, alerta o patrão de uma iminente briga entre Badu e Silvino; Badu namorava uma moça
caolha q desprezou Silvino, daí o ódio deste último; no percurso, vários casos são relatados pelos boiadeiros;
1) touro calundu [mau humor, irritabilidade] não batia em gente a pé, mas perseguia os cavaleiros; certa vez, na
proteção de um grupo de vacas e bezerros, enfrentou uma onça e a pôs para correr; 2) matou Vadico, filho do
fazendeiro Neco Borges: o pai, vendo o filho ensangüentado, puxou e revólver e decidiu matar o touro; o menino
5. ENREDO
O burrinho pedrês
pediu para q poupassem a vida de Calundu; o pai, então, envia-o, por Raymundão, a outra fazenda, mas o touro
misteriosamente amanhece morto; depois da chuva grossa, a boiada chega ao córrego da Fome, como a travessia
é perigosa, o Major pede cautela; todos passam; em certa altura da viagem Saulo pede para q Francolim troque
de lugar com Manico e monte Sete-de-Ouros; Francolim pede p/ q destroquem antes de chegar ao povoado, pois
não ficaria bem o capataz chegar num burrinho daqueles; Silvino é motivo de preocupação, pois vendera seus 4
bois por um preço abaixo do mercado e carregava mais bagagem q os outros, por isso o Major determinou q
Francolim ficasse de olho nos dois; a chegada da boiada é uma festa: o povo, mesmo com chuva, vai para o curral
da estrada de ferro, assistir ao embarque; os vaqueiros andam pelo povoado; todos bebem; quem fica mais
embriagado é Badu; na hora de voltarem, destinam-lhe Sete-de-Ouros; Francolim espera por Badu, o povo
vaia o vaqueiro Bêbado: dizem q o burrinho era muito pequeno para Badu, cujas pernas já iam quase arrastando
no chão; o Major Saulo não está com a comitiva; seguem Badu, Francolim e mais oito vaqueiros, na volta para
a fazenda da Tampa; Tote tenta convencer seu irmão Silvino a não matar Badu, mas o vaqueiro está resolvido;
os 10 vaqueiros em suas montarias se dirigem para o Rio da Fome, de volta para casa;
6. ENREDO
O burrinho pedrês
mais histórias são contadas: 3) a do estouro da boiada q matou dois vaqueiros no tempo em que o Major Saulo
era novo; 4) a história do tristonho pretinho de Goiás q acabou desaparecendo com a boiada; Silvino vai tramando
a morte de Badu quando os boiadeiros se assustam com a enchente; o passarinho João Corta-Pau anuncia o
perigo e Manico e Juca Bananeira temem enfrentar as águas; com medo, todos esperam para ver se o burrinho
entraria na água [pois burro nunca entra em um lugar de onde não consegue sair]; Sete-de-Ouros, carregando
Badu às costas, entra na água; todos o seguem; então, dá-se a tragédia – oito vaqueiros morrem naquela noite:
Benevides, Silvino, Leofredo, Raymundão, Sinoca, Zé Grande, Tote e Sebastião; o burrinho Sete-de-Ouros
com Badu agarrado à sua crina e Francolim à cauda, conseguiu atravessar o mar de águas em q se transformara
o pequeno córrego; já em terra firme, livrou-se de Francolim e seguiu para a fazenda, onde livraram-no do
vaqueiro que dormia em suas costas e do arreio.
7. O BURRINHO PEDRÊS
aspectos técnicos
E ao meu macho rosado/ carregado de algodão/ perguntei: pra onde ia/ Pra rodar no mutirão
epígrafe macho [burrinho]; carga leve e pesada [Badu: apaixonado e bêbado]
carga [fardo da vida, peso do mundo]; resposta [solidariedade]
8. O BURRINHO PEDRÊS
aspectos técnicos
O BURRINHO
[aspectos da personagem]
Brinquinho Rolete Chico Chato Capricho Sete-de-Ouros
velho, sábio e limpo [sem bicheiras nem carrapato]; está sempre de olhos semicerrados [contemplação filosófica]
é convicto, resignado e guarda forças para quando for preciso é impassível e sereno, contrapondo-se ao mundo
das paixões humanas; é um filósofo em meio aos tumultos dos bois e à impaciência dos cavalos; é sereníssimo
pode-se afirmar que, nesta história, o protagonista, Sete-de-Ouros, aparece personificado; veja, ainda:
É, mas a pior de todas é a arrancada do gado triste, querendo-a; querência... Boi apaixonado,
que desmama, vira fera... Saudade em boi, eu acho que ainda dói mais do que na gente.
9. O BURRINHO PEDRÊS
aspectos técnicos
METALINGUAGEM
[na história, há personagens que contam histórias]
mamparra [na condução da boiada, os boiadeiros puxam conversas e contam casos]: histórias dentro da história:
além das já indicadas no resumo do enredo, há a do homem mau, q vendia o gado e depois o roubava; o gado, ao
morrer berrava o nome do homem, acrescentando q ele iria para o inferno [Leôncio Madureira]
GÊNERO LITERÁRIO
[por se tratar de um conto, o gênero é épico]
aspectos trágicos aspectos cômicos
o conto relata a morte de oito vaqueiros riso do patrão, ciganos q marcaram o burrinho,
que são tragados pelo Rio da Fome ridículo chapéu de Francolim [jóquei]
10. O BURRINHO PEDRÊS
aspectos técnicos
FOCO NARRATIVO
[terceira pessoa: narrador onisciente neutro]
o locutor, distanciado, constrói uma história na qual o protagonista se agiganta no final [misto de novela e epopéia]
TEMPO
[a cronologia é imprecisa: há idas e voltas no tempo]
a história transcorre em um dia apenas [caráter trágico], de um ano terminado em seis [caráter negativo]; lentidão
ESPAÇO
[sertão mineiro]
Fazenda da Tampa; Vale do Rio das Velhas; atente para o significativo nome do rio [Rio da Fome]
11. O BURRINHO PEDRÊS
a festa da linguagem
metáforas e símiles
mosca varejeira usa barriga azul; crina do burrinho é como uma escova de dentes; dorso do gado são cordilheiras
de cacundas sinuosas; um zebu está vestindo os lados cara com as orelhas; chifres [parênteses, âncoras, liras...]
hipélage
os currais se mexiam de tanto boi [transporte de características do objeto para o sujeito]
cromatismo hiperbólico
e o Major Saulo indicava, mesmo na beira do estacado, um boi esguio, preto-azulado, azulego; não
azul-asa-de-gralha, água longe, lagoa funda, céu destapado.
antíteses
Badu era um homem muito ébrio em cima de um burro muito lúcido
paradoxos
Silvino é medroso, mole, está sempre em véspera de coisa nenhuma
12. O BURRINHO PEDRÊS
a festa da linguagem
neologismo [perigalhos] hipérbole neologismo [desinfeliz]
de noite, saiu uma lua rodoleira, que alumiava até passeio de pulga no chão fala Raymundão
sinestesia
o cheiro da chuva cheira gostoso, cheiro de novidade
parágrafo só de adjetivos
Galhudos, gaiolos, estrelos, espcios, combucos, cubetos, lobunos, lompardos, calderios, cambraias, chamurros,
churriados, corombos, cornetos, bocalvos, borralhos, chumbados, vareiros, silveiros... E os tocos da testa do
mocho macheado, e as armas antigas do boi comalão...
pentassílabos virgulados
As ancas balançam e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa
embolorada com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado
junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão.
aliterações, trissilábicos
Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando... dansa doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito... vai, vem,
volta, vem na vara, vai não volta, vai varando.
13. O BURRINHO PEDRÊS
personagens
SETE-DE-OUROS
[miúdo, resignado, idoso, protagonista: será posto à prova]
MAJOR SAULO
[dono do burro, da fazenda e dos bois]
Corpulento, quase obeso, olhos verdes. Só com o olhar mandava um boi bravo se ir de castigo. Estava sempre
rindo: riso grosso, quando irado; riso fino, quando alegre; riso mudo de normal. Não sabia ler nem escrever, mas
cada ano ia ganhando mais dinheiro, comprando gado e terras.
JOÃO MANICO
[vaqueiro pequeno que montara Sete-de-Ouros]
Manico montou no burrinho na ida. Na volta, trocou de montaria. Na hora de entrar na água, refugou, alegou
resfriado e escapou da morte.
FRANCOLIM
[capataz da fazenda, cumpre estritamente ordens do major]
14. O BURRINHO PEDRÊS
personagens
RAYMUNDÃO
[vaqueiro de confiança; conta as histórias do zebu mau]
ZÉ GRANDE
[vai à frente da boiada, tocando o berrante]
SILVINO
[perdera a namorada para o Badu, por isso o queria matar]
BADU
[vaqueiro apaixonado q escapa da água e de Silvino]