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MORTE E VIDA
severina
JOÃO CABRAL DE MELO NETO
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
O AUTOR
MORTE E VIDA SEVERINA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
O AUTOR
O arquiteto da poesia
Nascimento:
09/01/1920
Recife – PE
Falecimento:
09/10/1999
Rio de Janeiro – RJ
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
João Cabral de Melo Neto (Recife, 9
de janeiro de 1920 — Rio de
Janeiro, 9 de outubro de 1999) foi
um poeta e diplomata brasileiro.
 Sua obra poética, que vai de uma
tendência surrealista até a poesia
popular, porém caracterizada pelo
rigor estético, com poemas avessos
a confessionalismos e marcados pelo
uso de rimas toantes, inaugurou
uma nova forma de fazer poesia no
Brasil.
O AUTOR
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
O LIVRO
MORTE E VIDA SEVERINA
Apresenta em seu título uma antítese: morte
versus vida.
Morte e Vida Severina, o texto mais popular de
João Cabral de Melo Neto, é um auto de natal do
folclore pernambucano e, também, da tradição
ibérica.
Foi escrito entre 1954-55.
O LIVRO
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
Capa da primeira edição de Morte e Vida Severina
GÊNERO E
SUBGÊNERO
MORTE E VIDA SEVERINA
 “Pertencerá à Dramática toda obra dialogada em que
atuarem os próprios personagens sem serem, em geral,
apresentados por um narrador”.
ANATOL ROSENFELD
GÊNERO E SUBGÊNERO
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
 O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI
— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
GÊNERO E SUBGÊNERO
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
os trechos colocados em caixa
alta, no início das cenas são as
RUBRICAS que no gênero
dramático indicam como deve
ser executado um trecho musical,
uma mudança de cenário, um
movimento cênico, uma fala, um
gesto do ator, etc.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
 O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI
— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
GÊNERO E SUBGÊNERO
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
no GÊNERO DRÁMÁTICO, o
personagem se apresenta através
de suas falas e ações. sem o
auxílio de um narrador.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
ENCONTRA DOIS HOMENS CARREGANDO UM DEFUNTO NUMA REDE, AOS GRITOS DE: "Ó IRMÃOS
DAS ALMAS! IRMÃOS DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUE MATEI NÃO!"
GÊNERO E SUBGÊNERO
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
no texto aparecem também
momentos em que os
personagens dialogam etre
si. observe o uso dos
travessões.
— A quem estais carregando,
irmãos das almas,
embrulhado nessa rede?
dizei que eu saiba.
— A um defunto de nada,
irmão das almas,
que há muitas horas viaja
à sua morada.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
 AUTO
 substantivo masculino
• teatro: composição alegórica ou satírica em
voga nos séculos XV e XVI, de cunho místico,
pedagógico ou moral, que representa e
desenvolve os gêneros do teatro medieval
europeu.
GÊNERO E SUBGÊNERO
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
TÍTULO E
SUBTÍTULO
MORTE E VIDA SEVERINA
MORTE E VIDA
 SEVERINA
 AUTO
 DE NATAL
 PERNAMBUCANO
TÍTULO E SUBTÍTULO
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
A ESTRUTURA
DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA
 Seguindo o padrão dramático medieval escolhido (o auto),
Morte e Vida Severina compõe-se de apenas um ato, uma
ação principal.
 O auto de natal Morte e Vida Severina possui estrutura
dramática: é uma peça de teatro. Severino, personagem, se
transforma em adjetivo, referindo-se à vida severina, à condição
severina, à miséria.
 Subdividida em 18 cenas, a peça assume também as
características de poema narrativo de tradição popular
nordestina.
A ESTRUTURA DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
A peça está dividida em 18 partes / cenas.
Outra divisão pode ser feita quanto à temática: da parte 1 a 9,
compreende-se o périplo (viagem em que se retorna ao
ponto de origem) de Severino até o Recife, acompanhando
sempre o rio Capibaribe, ou o "fio da vida" que ele se dispõe
a seguir, mesmo quando o rio lhe falta e dele só encontra a
leve marca no chão crestado pelo sol.
A ESTRUTURA DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
A ESTRUTURA DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
O rio Capibaribe é um curso d'água que banha o estado brasileiro de Pernambuco. Seu curso é dividido em alto e médio
cursos, situados no Polígono das Secas, onde o rio apresenta regime temporário, e o baixo curso, onde se torna perene, a
partir do município de Limoeiro, no agreste do estado. Antes de desaguar no Oceano Atlântico passa pelo centro da
cidade do Recife.
A ESTRUTURA DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Da parte 10 a 18, o retirante está no Recife ou em seus
arredores e sabe que para ele não há nenhuma saída, a não
ser aquela que presenciou no percurso: a morte.
A ESTRUTURA DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
PERSONAGENS
MORTE E VIDA SEVERINA
• Severino é o narrador e personagem principal, um retirante
nordestino que foge para o litoral em busca de melhores
condições de vida.
• Seu José, mestre carpina, é o personagem que salva a vida de
Severino, impedindo este de tomar sua própria vida.
• Ciganas, rezadeira, Severino Lavrador, “irmãos das almas”.
PERSONAGENS
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
RESUMO
DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA
Morte e Vida Severina possui 18 trechos ao longo dos quais
Severino, o retirante, primeiro apresenta-se ao leitor para em
seguida ir relatando, com o auxílio de outras vozes, outros
personagens encontrados na travessia, as etapas de que ela se
compõe até chegar no Recife, onde o rio se encontra com o
mar.
RESUMO DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
Antes de narrar a história de sua vida, Severino, cujo nome de
próprio se tornou comum identifica-se ao leitor no trecho 1
como personificação de um tipo humano e brasileiro: o
oprimido socialmente, o retirante cuja vida é determinada
pelas desigualdades econômicas que se mantêm irreparáveis.
RESUMO DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
TRECHO
01 Mas para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra
No 2º trecho, há um diálogo entre o Severino-retirante e os
carregadores daquele corpo, o corpo do Severino-lavrador.
RESUMO DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
TRECHO
02
— A quem estais carregando,
irmãos das almas,
embrulhado nessa rede?
dizei que eu saiba.
— A um defunto de nada,
irmão das almas,
que há muitas horas viaja
à sua morada.
— E sabeis quem era ele,
irmãos das almas,
sabeis como se chama
ou se chamava?
— Severino Lavrador,
irmão das almas,
Severino Lavrador,
mas já não lavra.
ICONOGRAFINA DA SECA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
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• No 3º trecho as imagens das vilas e cidades por onde
Severino-retirante vai passar com um rosário, e da estrada
como uma linha, enriquecem-se com a imagem do
Capibaribe.
• O rio-guia, identificado como o homem do nordeste, tem
uma sina a cumprir, mas no verão a seca o interrompe, e ele
se transforma em 'pernas que não caminham...
• Entretanto, o som de uma cantoria orienta o viajante, que
encontra, ao segui-la, o segundo defunto.
RESUMO DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
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TRECHO
03
• NA CASA A QUE O RETIRANTE CHEGA ESTÃO CANTANDO AS
EXCELÊNCIAS PARA UM DEFUNTO, ENQUANTO UM HOMEM,
AO LADO DE FORA, VAI PARODIANDO AS PALAVRAS DOS
CANTADORES.
RESUMO DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
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TRECHO
04
— Finado Severino,
quando passares em Jordão
e o demônios te atalharem
perguntando o que é que levas...
— Dize que levas cera,
capuz e cordão
mais a Virgem da Conceição.
— Finado Severino,
quando passares em Jordão
e o demônios te atalharem
perguntando o que é que levas...
— Dize que levas somente
coisas de não:
fome, sede, privação
ICONOGRAFINA DA SECA
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• CANSADO DA VIAGEM O RETIRANTE PENSA INTERROMPÊ-LA
POR UNS INSTANTES E PROCURAR TRABALHO ALI ONDE SE
ENCONTRA.
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
05
Desde que estou retirando
só a morte vejo ativa,
só a morte deparei
e às vezes até festiva;
só morte tem encontrado
quem pensava encontrar vida,
e o pouco que não foi morte
foi de vida severina
(aquela vida que é menos
vivida que defendida,
e é ainda mais severina
para o homem que retira).
• DIRIGE-SE À MULHER NA JANELA QUE DEPOIS DESCOBRE
TRATAR-SE DE QUEM SE SABERÁ
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
06
— Muito bom dia, senhora,
que nessa janela está;
sabe dizer se é possível
algum trabalho encontrar?
— Trabalho aqui nunca falta
a quem sabe trabalhar;
o que fazia o compadre
na sua terra de lá?
— Pois fui sempre lavrador,
lavrador de terra má;
não há espécie de terra
que eu não possa cultivar.
— Isso aqui de nada adianta,
pouco existe o que lavrar;
mas diga-me, retirante,
que mais fazia por lá?
ICONOGRAFINA DA SECA
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• O RETIRANTE CHEGA À ZONA DA MATA, QUE O FAZ PENSAR,
OUTRA VEZ, EM INTERROMPER A VIAGEM.
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
07
— Bem me diziam que a terra
se faz mais branda e macia
quando mais do litoral
a viagem se aproxima.
Agora afinal cheguei
nesta terra que diziam.
Como ela é uma terra doce
para os pés e para a vista.
Os rios que correm aqui
têm água vitalícia.
• ASSISTE AO ENTERRO DE UM TRABALHADOR DE EITO E
OUVE O QUE DIZEM DO MORTO OS AMIGOS QUE O LEVARAM
AO CEMITÉRIO
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
08
• ASSISTE AO ENTERRO DE UM TRABALHADOR DE EITO E
OUVE O QUE DIZEM DO MORTO OS AMIGOS QUE O LEVARAM
AO CEMITÉRIO
RESUMO DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
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TRECHO
08
Capa do LP Chico Buarque de Hollanda vol. 3, lançado
em 1968, no qual o cantor e compositor musicou os
versos de JCMN sobre o título de “Funeral de um
lavrador”
EITO: limpeza ou roçado de uma
plantação, utilizando enxadas,
foices, ancinhos
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
08
– Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a cota menor
que tiraste em vida.
– É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
deste latifúndio.
– Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
– É uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.
– É uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.
– É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.
RESUMO DA PEÇA
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– Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
ICONOGRAFINA DA SECA
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• O RETIRANTE RESOLVE APRESSAR OS PASSOS PARA CHEGAR
LOGO AO RECIFE
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TRECHO
09
Sim, o melhor é apressar
o fim desta ladainha,
o fim do rosário de nomes
que a linha do rio enfia;
é chegar logo ao Recife,
derradeira ave-maria
do rosário, derradeira
invocação da ladainha,
Recife, onde o rio some
e esta minha viagem se fina.
• CHEGANDO AO RECIFE, O RETIRANTE SENTA-SE PARA
DESCANSAR AO PÉ DE UM MURO ALTO E CAIADO E OUVE, SEM
SER NOTADO, A CONVERSA DE DOIS COVEIROS
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
10
— O dia de hoje está difícil;
não sei onde vamos parar.
Deviam dar um aumento,
ao menos aos deste setor de cá.
As avenidas do centro são melhores,
mas são para os protegidos:
há sempre menos trabalho
e gorjetas pelo serviço;
e é mais numeroso o pessoal
(toma mais tempo enterrar os ricos).
— Eu também, antigamente,
fui do subúrbio dos indigentes,
e uma coisa notei
que jamais entenderei:
essa gente do Sertão
que desce para o litoral, sem razão,
fica vivendo no meio da lama,
comendo os siris que apanha;
pois bem: quando sua morte chega,
temos de enterrá-los em terra seca
ICONOGRAFINA DA SECA
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• O RETIRANTE APROXIMA-SE DE UM DOS CAIS DO CAPIBARIBE
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
11
— Nunca esperei muita coisa,
é preciso que eu repita.
Sabia que no rosário
de cidade e de vilas,
e mesmo aqui no Recife
ao acabar minha descida,
não seria diferente
a vida de cada dia:
que sempre pás e enxadas
foices de corte e capina,
ferros de cova, estrovengas
o meu braço esperariam.
• APROXIMA-SE DO RETIRANTE O MORADOR DE UM DOS
MOCAMBOS QUE EXISTEM ENTRE O CAIS E A ÁGUA DO RIO.
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
12
— Seu José, mestre carpina,
que diferença faria
se em vez de continuar
tomasse a melhor saída:
a de saltar, numa noite,
fora da ponte e da vida?
— Severino, retirante,
não sei bem o que lhe diga:
não é que espere comprar
em grosso de tais partidas,
mas o que compro a retalho
é, de qualquer forma, vida.
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
12
RESUMO DA PEÇA
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12
Sebastião Vasconcellos e José
Dumont, numa adaptação de
MVS feita pela TV Globo, em
1981.
ICONOGRAFINA DA SECA
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• UMA MULHER, DA PORTA DE ONDE SAIU O HOMEM,
ANUNCIA-LHE O QUE SE VERÁ.
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
13
— Compadre José, compadre,
que na relva estais deitado:
conversais e não sabeis
que vosso filho é chegado?
Estais aí conversando
em vossa prosa entretido:
não sabeis que vosso filho
saltou para dentro da vida?
Saltou para dentro da vida
ao dar seu primeiro grito;
e estais aí conversando;
pois sabeis que ele é nascido.
ICONOGRAFINA DA SECA
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• APARECEM E SE APROXIMAM DA CASA DO HOMEM VIZINHOS,
AMIGOS, DUAS CIGANAS, ETC.
RESUMO DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
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TRECHO
14
— Todo o céu e a terra
lhe cantam louvor.
Foi por ele que a maré
esta noite não baixou.
— Foi por ele que a maré
fez parar o seu motor:
a lama ficou coberta
e o mau-cheiro não voou.
— E a alfazema do sargaço,
ácida, desinfetante,
veio varrer nossas ruas
enviada do mar distante.
arbusto
• COMEÇAM A CHEGAR PESSOAS TRAZENDO PRESENTES PARA
O RECÉM-NASCIDO.
RESUMO DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
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TRECHO
15
— Minha pobreza tal é
que não trago presente grande:
trago para a mãe caranguejos
pescados por esses mangues;
mamando leite de lama
conservará nosso sangue.
— Minha pobreza tal é
que coisa não posso ofertar:
somente o leite que tenho
para meu filho amamentar;
aqui são todos irmãos
de leite, de lama, de ar.
— Minha pobreza tal é
que não tenho presente melhor:
trago papel de jornal
para lhe servir de cobertor;
cobrindo-lhe assim de letras
vai um dia ser doutor.
— Minha pobreza tal é
que não tenho presente caro:
como não posso trazer
Um olho d’água de Lagoa do Carro
trago aqui de Olinda
água de bica do Rosário.
• FALAM AS DUAS CIGANAS QUE TINHAM APARECIDO COM OS
VIZINHOS.
RESUMO DA PEÇA
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
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TRECHO
16
— Atenção peço, senhores,
para esta breve leitura:
somos ciganas do Egito,
lemos a sorte futura.
Vou dizer todas as coisas
que desde já posso ver
na vida desse menino
acabado de nascer:
aprenderá a engatinhar
por aí, com aratus,
aprenderá a caminhar
na lama, com goiamuns,
e a correr o ensinarão
os anfíbios caranguejos,
pelo que ser anfíbio
como a gente daqui mesmo.
Cedo aprenderá a caçar:
primeiro, com as galinhas,
que é catando pelo chão
tudo o que cheira a comida; [...]
• FALAM OS VIZINHOS, AMIGOS, PESSOAS QUE VIERAM COM
PRESENTES, ETC
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
17
— De sua formosura
já venho dizer:
é um menino magro,
de muito peso não é,
mas tem o peso de homem,
de obra de ventre de mulher.
— De sua formosura
deixai-me que diga:
é uma criança pálida,
é uma criança franzina,
mas tem a marca de homem,
marca de humana oficina.
• O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE DE FORA,
SEM TOMAR PARTE EM NADA.
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
18
— Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga.
É difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
• O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE DE FORA,
SEM TOMAR PARTE EM NADA.
RESUMO DA PEÇA
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TRECHO
18
não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.
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A LINGUAGEM
MORTE E VIDA SEVERINA
 Conhecido como 'engenheiro da palavra' por sua poesia precisa,
substantiva, elíptica, mais plástica que musical, João Cabral de Melo
Neto surpreendeu alguns críticos ao conseguir conjugar tais
características, que mantêm na obra que lemos, com outros
recursos que o tornam mais 'legível' e consequentemente menos
'hermético'.
 Tais recursos estão vivos na linguagem concisa mas fluída e
permeada de expressões e musicalidade popular de Morte e vida
severina, na sedução de sua leitura pelos fortes traços orais, pelas
rimas e repetições que não enfraquecem, mas, ao contrário,
intensificam a tensão dramática.
A LINGUAGEM
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A riqueza de símbolos
Em todo o texto, as figuras de linguagem asseguram a força
dramática do poema.
São frequentes as metáforas, que surgem já na construção do
próprio Severino, alegoria dos marginalizados. Sua viagem, que
por sua vez é metáfora da vida dos retirantes na sua luta por
sobrevivência.
Há roupagens metafóricas na imagem do rosário com suas contas
– a estrada com suas vilas.
Cabe ao retirante rezar todas as contas, ou seja, passar por todas
as vilas, para atingir o seu objetivo, Recife (ou a sobrevivência).
A LINGUAGEM
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METÁFORAS
O rio Capibaribe é metáfora do curso da vida, por vezes,
míngua, assustando o retirante, provocando nele o medo de
perder-se do caminho certo, o medo de perder o tênue fio que
o liga à vida.
A violência do sistema latifundiário contra o pequeno
trabalhador do campo, por ele explorado e ameaçado,
aparece metaforizada na "ave-bala" que mata o Severino
lavrador.
A LINGUAGEM
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METÁFORAS
• A fala final de um dos coveiros no cemitério, em Recife, é mais
uma metáfora para a viagem de Severino, atribuindo-lhe um
novo sentido, ainda mais severo.
• "– Não é viagem o que fazem,
vindo por essas caatingas, vargens;
aí está o seu erro:
vêm é seguindo seu próprio enterro."
A LINGUAGEM
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ANTÍTESE
Diante da desesperança com relação à própria vida, Severino
pergunta para Seu José, mestre carpina:
"– que diferença faria
se em vez de continuar
tomasse a melhor saída:
a de saltar, numa noite,
fora da ponte e da vida? “ ( Parte 12)
"– não sabeis que vosso filho
saltou para dentro da vida?
Saltou para dentro da vida
ao dar seu primeiro grito; “ ( Parte 13)
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PARADOXO
Também o paradoxo surge realçando a violência e a
tragicidade da curta expectativa de vida do nordestino:
"– que é a morte que se morre
de velhice antes dos trinta"
(Parte 17)
A LINGUAGEM
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MUSICALIDADE
As figuras sonoras, aliterações e assonâncias, que valorizam,
respectivamente, sons consonantais e vocálicos, distribuem-
se pelo poema reforçando sua musicalidade
"– E foi morrida essa morte, irmão das almas, essa foi morte
morrida ou foi matada? "
(Parte 2)
A LINGUAGEM
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MUSICALIDADE
Rima toante (ou assoante): apresenta igualdade sonora
apenas entre as vogais, a partir da última vogal tônica até o
final do verso.
A LINGUAGEM
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
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Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
METRIFICAÇÃO
Predominância de versos heptassílabos = redondilha maior =
medida velha
A LINGUAGEM
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— Des1/de2 /que es3/tou4 /re5/ti6/ran7/do
só1/ a 2/mor3/te4/ ve5/jo a6/ti7/va,
só1/ a2 /mor3/te 4/de5/pa6/rei7
e às1 /ve2/ze3/sa4/té5 /fes6/ti7/va;
IMPORTANTE
MORTE E VIDA SEVERINA
SOBRE A PARTE / CENA 18
Esse monólogo é composto por 29 versos.
As cinco cenas anteriores (13 a 17) apresentam o Presépio dentro
da peça. Todas elas foram extraídas, quase literalmente, do
folclore pernambucano, mais especificamente do livro de Pereira
da Costa, ‘Folk-lore Pernambucano: subsídios para a história da
poesia popular em Pernambuco’, publicado originalmente em
1908.
Terminado o Presépio, o mestre carpina está pronto para
responder à pergunta de Severino.
IMPORTANTE
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
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SOBRE A PARTE 18
Curiosamente, a peça se encerra sem qualquer resposta de
Severino. Em algumas montagens os encenadores colocaram
a última estrofe na boca de Severino e não, como está claro no
texto, na do mestre carpina.
 Esse procedimento vem apenas reforçar a mensagem final
da peça: a de que mesmo a vida _ quase morte_ severina,
aparentemente sem saída ou esperança, pode e deve ser
vivida.
IMPORTANTE
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
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REFLEXÃO FINAL
MORTE E VIDA SEVERINA
REFLEXÃO FINAL
MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia

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Morte e vida severina

  • 1. MORTE E VIDA severina JOÃO CABRAL DE MELO NETO Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 2.
  • 3. O AUTOR MORTE E VIDA SEVERINA
  • 4. MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto O AUTOR O arquiteto da poesia Nascimento: 09/01/1920 Recife – PE Falecimento: 09/10/1999 Rio de Janeiro – RJ Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 5. João Cabral de Melo Neto (Recife, 9 de janeiro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1999) foi um poeta e diplomata brasileiro.  Sua obra poética, que vai de uma tendência surrealista até a poesia popular, porém caracterizada pelo rigor estético, com poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurou uma nova forma de fazer poesia no Brasil. O AUTOR MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 6. O LIVRO MORTE E VIDA SEVERINA
  • 7. Apresenta em seu título uma antítese: morte versus vida. Morte e Vida Severina, o texto mais popular de João Cabral de Melo Neto, é um auto de natal do folclore pernambucano e, também, da tradição ibérica. Foi escrito entre 1954-55. O LIVRO MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA Capa da primeira edição de Morte e Vida Severina
  • 9.  “Pertencerá à Dramática toda obra dialogada em que atuarem os próprios personagens sem serem, em geral, apresentados por um narrador”. ANATOL ROSENFELD GÊNERO E SUBGÊNERO MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 10.  O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI — O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. GÊNERO E SUBGÊNERO MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto os trechos colocados em caixa alta, no início das cenas são as RUBRICAS que no gênero dramático indicam como deve ser executado um trecho musical, uma mudança de cenário, um movimento cênico, uma fala, um gesto do ator, etc. Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 11.  O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI — O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. GÊNERO E SUBGÊNERO MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto no GÊNERO DRÁMÁTICO, o personagem se apresenta através de suas falas e ações. sem o auxílio de um narrador. Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 12. ENCONTRA DOIS HOMENS CARREGANDO UM DEFUNTO NUMA REDE, AOS GRITOS DE: "Ó IRMÃOS DAS ALMAS! IRMÃOS DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUE MATEI NÃO!" GÊNERO E SUBGÊNERO MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto no texto aparecem também momentos em que os personagens dialogam etre si. observe o uso dos travessões. — A quem estais carregando, irmãos das almas, embrulhado nessa rede? dizei que eu saiba. — A um defunto de nada, irmão das almas, que há muitas horas viaja à sua morada. Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 13.  AUTO  substantivo masculino • teatro: composição alegórica ou satírica em voga nos séculos XV e XVI, de cunho místico, pedagógico ou moral, que representa e desenvolve os gêneros do teatro medieval europeu. GÊNERO E SUBGÊNERO MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 15. MORTE E VIDA  SEVERINA  AUTO  DE NATAL  PERNAMBUCANO TÍTULO E SUBTÍTULO MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 16. A ESTRUTURA DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA
  • 17.  Seguindo o padrão dramático medieval escolhido (o auto), Morte e Vida Severina compõe-se de apenas um ato, uma ação principal.  O auto de natal Morte e Vida Severina possui estrutura dramática: é uma peça de teatro. Severino, personagem, se transforma em adjetivo, referindo-se à vida severina, à condição severina, à miséria.  Subdividida em 18 cenas, a peça assume também as características de poema narrativo de tradição popular nordestina. A ESTRUTURA DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 18. A peça está dividida em 18 partes / cenas. Outra divisão pode ser feita quanto à temática: da parte 1 a 9, compreende-se o périplo (viagem em que se retorna ao ponto de origem) de Severino até o Recife, acompanhando sempre o rio Capibaribe, ou o "fio da vida" que ele se dispõe a seguir, mesmo quando o rio lhe falta e dele só encontra a leve marca no chão crestado pelo sol. A ESTRUTURA DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 19. A ESTRUTURA DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto O rio Capibaribe é um curso d'água que banha o estado brasileiro de Pernambuco. Seu curso é dividido em alto e médio cursos, situados no Polígono das Secas, onde o rio apresenta regime temporário, e o baixo curso, onde se torna perene, a partir do município de Limoeiro, no agreste do estado. Antes de desaguar no Oceano Atlântico passa pelo centro da cidade do Recife.
  • 20. A ESTRUTURA DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto
  • 21. Da parte 10 a 18, o retirante está no Recife ou em seus arredores e sabe que para ele não há nenhuma saída, a não ser aquela que presenciou no percurso: a morte. A ESTRUTURA DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 23. • Severino é o narrador e personagem principal, um retirante nordestino que foge para o litoral em busca de melhores condições de vida. • Seu José, mestre carpina, é o personagem que salva a vida de Severino, impedindo este de tomar sua própria vida. • Ciganas, rezadeira, Severino Lavrador, “irmãos das almas”. PERSONAGENS MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 24. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA
  • 25. Morte e Vida Severina possui 18 trechos ao longo dos quais Severino, o retirante, primeiro apresenta-se ao leitor para em seguida ir relatando, com o auxílio de outras vozes, outros personagens encontrados na travessia, as etapas de que ela se compõe até chegar no Recife, onde o rio se encontra com o mar. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 26. Antes de narrar a história de sua vida, Severino, cujo nome de próprio se tornou comum identifica-se ao leitor no trecho 1 como personificação de um tipo humano e brasileiro: o oprimido socialmente, o retirante cuja vida é determinada pelas desigualdades econômicas que se mantêm irreparáveis. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 01 Mas para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida, passo a ser o Severino que em vossa presença emigra
  • 27. No 2º trecho, há um diálogo entre o Severino-retirante e os carregadores daquele corpo, o corpo do Severino-lavrador. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 02 — A quem estais carregando, irmãos das almas, embrulhado nessa rede? dizei que eu saiba. — A um defunto de nada, irmão das almas, que há muitas horas viaja à sua morada. — E sabeis quem era ele, irmãos das almas, sabeis como se chama ou se chamava? — Severino Lavrador, irmão das almas, Severino Lavrador, mas já não lavra.
  • 28. ICONOGRAFINA DA SECA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 29. • No 3º trecho as imagens das vilas e cidades por onde Severino-retirante vai passar com um rosário, e da estrada como uma linha, enriquecem-se com a imagem do Capibaribe. • O rio-guia, identificado como o homem do nordeste, tem uma sina a cumprir, mas no verão a seca o interrompe, e ele se transforma em 'pernas que não caminham... • Entretanto, o som de uma cantoria orienta o viajante, que encontra, ao segui-la, o segundo defunto. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 03
  • 30. • NA CASA A QUE O RETIRANTE CHEGA ESTÃO CANTANDO AS EXCELÊNCIAS PARA UM DEFUNTO, ENQUANTO UM HOMEM, AO LADO DE FORA, VAI PARODIANDO AS PALAVRAS DOS CANTADORES. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 04 — Finado Severino, quando passares em Jordão e o demônios te atalharem perguntando o que é que levas... — Dize que levas cera, capuz e cordão mais a Virgem da Conceição. — Finado Severino, quando passares em Jordão e o demônios te atalharem perguntando o que é que levas... — Dize que levas somente coisas de não: fome, sede, privação
  • 31. ICONOGRAFINA DA SECA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 32. • CANSADO DA VIAGEM O RETIRANTE PENSA INTERROMPÊ-LA POR UNS INSTANTES E PROCURAR TRABALHO ALI ONDE SE ENCONTRA. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 05 Desde que estou retirando só a morte vejo ativa, só a morte deparei e às vezes até festiva; só morte tem encontrado quem pensava encontrar vida, e o pouco que não foi morte foi de vida severina (aquela vida que é menos vivida que defendida, e é ainda mais severina para o homem que retira).
  • 33. • DIRIGE-SE À MULHER NA JANELA QUE DEPOIS DESCOBRE TRATAR-SE DE QUEM SE SABERÁ RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 06 — Muito bom dia, senhora, que nessa janela está; sabe dizer se é possível algum trabalho encontrar? — Trabalho aqui nunca falta a quem sabe trabalhar; o que fazia o compadre na sua terra de lá? — Pois fui sempre lavrador, lavrador de terra má; não há espécie de terra que eu não possa cultivar. — Isso aqui de nada adianta, pouco existe o que lavrar; mas diga-me, retirante, que mais fazia por lá?
  • 34. ICONOGRAFINA DA SECA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 35. • O RETIRANTE CHEGA À ZONA DA MATA, QUE O FAZ PENSAR, OUTRA VEZ, EM INTERROMPER A VIAGEM. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 07 — Bem me diziam que a terra se faz mais branda e macia quando mais do litoral a viagem se aproxima. Agora afinal cheguei nesta terra que diziam. Como ela é uma terra doce para os pés e para a vista. Os rios que correm aqui têm água vitalícia.
  • 36. • ASSISTE AO ENTERRO DE UM TRABALHADOR DE EITO E OUVE O QUE DIZEM DO MORTO OS AMIGOS QUE O LEVARAM AO CEMITÉRIO RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 08
  • 37. • ASSISTE AO ENTERRO DE UM TRABALHADOR DE EITO E OUVE O QUE DIZEM DO MORTO OS AMIGOS QUE O LEVARAM AO CEMITÉRIO RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 08 Capa do LP Chico Buarque de Hollanda vol. 3, lançado em 1968, no qual o cantor e compositor musicou os versos de JCMN sobre o título de “Funeral de um lavrador” EITO: limpeza ou roçado de uma plantação, utilizando enxadas, foices, ancinhos
  • 38. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 08 – Essa cova em que estás, com palmos medida, é a cota menor que tiraste em vida. – É de bom tamanho, nem largo nem fundo, é a parte que te cabe deste latifúndio. – Não é cova grande, é cova medida, é a terra que querias ver dividida. – É uma cova grande para teu pouco defunto, mas estarás mais ancho que estavas no mundo. – É uma cova grande para teu defunto parco, porém mais que no mundo te sentirás largo. – É uma cova grande para tua carne pouca, mas a terra dada não se abre a boca.
  • 39. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Não é cova grande, é cova medida, é a terra que querias ver dividida.
  • 40. ICONOGRAFINA DA SECA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 41. • O RETIRANTE RESOLVE APRESSAR OS PASSOS PARA CHEGAR LOGO AO RECIFE RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 09 Sim, o melhor é apressar o fim desta ladainha, o fim do rosário de nomes que a linha do rio enfia; é chegar logo ao Recife, derradeira ave-maria do rosário, derradeira invocação da ladainha, Recife, onde o rio some e esta minha viagem se fina.
  • 42. • CHEGANDO AO RECIFE, O RETIRANTE SENTA-SE PARA DESCANSAR AO PÉ DE UM MURO ALTO E CAIADO E OUVE, SEM SER NOTADO, A CONVERSA DE DOIS COVEIROS RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 10 — O dia de hoje está difícil; não sei onde vamos parar. Deviam dar um aumento, ao menos aos deste setor de cá. As avenidas do centro são melhores, mas são para os protegidos: há sempre menos trabalho e gorjetas pelo serviço; e é mais numeroso o pessoal (toma mais tempo enterrar os ricos). — Eu também, antigamente, fui do subúrbio dos indigentes, e uma coisa notei que jamais entenderei: essa gente do Sertão que desce para o litoral, sem razão, fica vivendo no meio da lama, comendo os siris que apanha; pois bem: quando sua morte chega, temos de enterrá-los em terra seca
  • 43. ICONOGRAFINA DA SECA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 44. • O RETIRANTE APROXIMA-SE DE UM DOS CAIS DO CAPIBARIBE RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 11 — Nunca esperei muita coisa, é preciso que eu repita. Sabia que no rosário de cidade e de vilas, e mesmo aqui no Recife ao acabar minha descida, não seria diferente a vida de cada dia: que sempre pás e enxadas foices de corte e capina, ferros de cova, estrovengas o meu braço esperariam.
  • 45. • APROXIMA-SE DO RETIRANTE O MORADOR DE UM DOS MOCAMBOS QUE EXISTEM ENTRE O CAIS E A ÁGUA DO RIO. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 12 — Seu José, mestre carpina, que diferença faria se em vez de continuar tomasse a melhor saída: a de saltar, numa noite, fora da ponte e da vida? — Severino, retirante, não sei bem o que lhe diga: não é que espere comprar em grosso de tais partidas, mas o que compro a retalho é, de qualquer forma, vida.
  • 46. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 12
  • 47. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 12 Sebastião Vasconcellos e José Dumont, numa adaptação de MVS feita pela TV Globo, em 1981.
  • 48. ICONOGRAFINA DA SECA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 49. • UMA MULHER, DA PORTA DE ONDE SAIU O HOMEM, ANUNCIA-LHE O QUE SE VERÁ. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 13 — Compadre José, compadre, que na relva estais deitado: conversais e não sabeis que vosso filho é chegado? Estais aí conversando em vossa prosa entretido: não sabeis que vosso filho saltou para dentro da vida? Saltou para dentro da vida ao dar seu primeiro grito; e estais aí conversando; pois sabeis que ele é nascido.
  • 50. ICONOGRAFINA DA SECA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 51. • APARECEM E SE APROXIMAM DA CASA DO HOMEM VIZINHOS, AMIGOS, DUAS CIGANAS, ETC. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 14 — Todo o céu e a terra lhe cantam louvor. Foi por ele que a maré esta noite não baixou. — Foi por ele que a maré fez parar o seu motor: a lama ficou coberta e o mau-cheiro não voou. — E a alfazema do sargaço, ácida, desinfetante, veio varrer nossas ruas enviada do mar distante. arbusto
  • 52. • COMEÇAM A CHEGAR PESSOAS TRAZENDO PRESENTES PARA O RECÉM-NASCIDO. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 15 — Minha pobreza tal é que não trago presente grande: trago para a mãe caranguejos pescados por esses mangues; mamando leite de lama conservará nosso sangue. — Minha pobreza tal é que coisa não posso ofertar: somente o leite que tenho para meu filho amamentar; aqui são todos irmãos de leite, de lama, de ar. — Minha pobreza tal é que não tenho presente melhor: trago papel de jornal para lhe servir de cobertor; cobrindo-lhe assim de letras vai um dia ser doutor. — Minha pobreza tal é que não tenho presente caro: como não posso trazer Um olho d’água de Lagoa do Carro trago aqui de Olinda água de bica do Rosário.
  • 53. • FALAM AS DUAS CIGANAS QUE TINHAM APARECIDO COM OS VIZINHOS. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 16 — Atenção peço, senhores, para esta breve leitura: somos ciganas do Egito, lemos a sorte futura. Vou dizer todas as coisas que desde já posso ver na vida desse menino acabado de nascer: aprenderá a engatinhar por aí, com aratus, aprenderá a caminhar na lama, com goiamuns, e a correr o ensinarão os anfíbios caranguejos, pelo que ser anfíbio como a gente daqui mesmo. Cedo aprenderá a caçar: primeiro, com as galinhas, que é catando pelo chão tudo o que cheira a comida; [...]
  • 54. • FALAM OS VIZINHOS, AMIGOS, PESSOAS QUE VIERAM COM PRESENTES, ETC RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 17 — De sua formosura já venho dizer: é um menino magro, de muito peso não é, mas tem o peso de homem, de obra de ventre de mulher. — De sua formosura deixai-me que diga: é uma criança pálida, é uma criança franzina, mas tem a marca de homem, marca de humana oficina.
  • 55. • O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE DE FORA, SEM TOMAR PARTE EM NADA. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 18 — Severino, retirante, deixe agora que lhe diga: eu não sei bem a resposta da pergunta que fazia, se não vale mais saltar fora da ponte e da vida; nem conheço essa resposta, se quer mesmo que lhe diga. É difícil defender, só com palavras, a vida, ainda mais quando ela é esta que vê, severina; mas se responder não pude à pergunta que fazia, ela, a vida, a respondeu com sua presença viva.
  • 56. • O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE DE FORA, SEM TOMAR PARTE EM NADA. RESUMO DA PEÇA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA TRECHO 18 não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida; mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida; mesmo quando é uma explosão como a de há pouco, franzina; mesmo quando é a explosão de uma vida severina.
  • 57. ICONOGRAFINA DA SECA MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 58. A LINGUAGEM MORTE E VIDA SEVERINA
  • 59.  Conhecido como 'engenheiro da palavra' por sua poesia precisa, substantiva, elíptica, mais plástica que musical, João Cabral de Melo Neto surpreendeu alguns críticos ao conseguir conjugar tais características, que mantêm na obra que lemos, com outros recursos que o tornam mais 'legível' e consequentemente menos 'hermético'.  Tais recursos estão vivos na linguagem concisa mas fluída e permeada de expressões e musicalidade popular de Morte e vida severina, na sedução de sua leitura pelos fortes traços orais, pelas rimas e repetições que não enfraquecem, mas, ao contrário, intensificam a tensão dramática. A LINGUAGEM MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 60. A riqueza de símbolos Em todo o texto, as figuras de linguagem asseguram a força dramática do poema. São frequentes as metáforas, que surgem já na construção do próprio Severino, alegoria dos marginalizados. Sua viagem, que por sua vez é metáfora da vida dos retirantes na sua luta por sobrevivência. Há roupagens metafóricas na imagem do rosário com suas contas – a estrada com suas vilas. Cabe ao retirante rezar todas as contas, ou seja, passar por todas as vilas, para atingir o seu objetivo, Recife (ou a sobrevivência). A LINGUAGEM MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 61. METÁFORAS O rio Capibaribe é metáfora do curso da vida, por vezes, míngua, assustando o retirante, provocando nele o medo de perder-se do caminho certo, o medo de perder o tênue fio que o liga à vida. A violência do sistema latifundiário contra o pequeno trabalhador do campo, por ele explorado e ameaçado, aparece metaforizada na "ave-bala" que mata o Severino lavrador. A LINGUAGEM MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 62. METÁFORAS • A fala final de um dos coveiros no cemitério, em Recife, é mais uma metáfora para a viagem de Severino, atribuindo-lhe um novo sentido, ainda mais severo. • "– Não é viagem o que fazem, vindo por essas caatingas, vargens; aí está o seu erro: vêm é seguindo seu próprio enterro." A LINGUAGEM MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 63. ANTÍTESE Diante da desesperança com relação à própria vida, Severino pergunta para Seu José, mestre carpina: "– que diferença faria se em vez de continuar tomasse a melhor saída: a de saltar, numa noite, fora da ponte e da vida? “ ( Parte 12) "– não sabeis que vosso filho saltou para dentro da vida? Saltou para dentro da vida ao dar seu primeiro grito; “ ( Parte 13) A LINGUAGEM MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 64. PARADOXO Também o paradoxo surge realçando a violência e a tragicidade da curta expectativa de vida do nordestino: "– que é a morte que se morre de velhice antes dos trinta" (Parte 17) A LINGUAGEM MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 65. MUSICALIDADE As figuras sonoras, aliterações e assonâncias, que valorizam, respectivamente, sons consonantais e vocálicos, distribuem- se pelo poema reforçando sua musicalidade "– E foi morrida essa morte, irmão das almas, essa foi morte morrida ou foi matada? " (Parte 2) A LINGUAGEM MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 66. MUSICALIDADE Rima toante (ou assoante): apresenta igualdade sonora apenas entre as vogais, a partir da última vogal tônica até o final do verso. A LINGUAGEM MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas, e iguais também porque o sangue que usamos tem pouca tinta.
  • 67. METRIFICAÇÃO Predominância de versos heptassílabos = redondilha maior = medida velha A LINGUAGEM MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA — Des1/de2 /que es3/tou4 /re5/ti6/ran7/do só1/ a 2/mor3/te4/ ve5/jo a6/ti7/va, só1/ a2 /mor3/te 4/de5/pa6/rei7 e às1 /ve2/ze3/sa4/té5 /fes6/ti7/va;
  • 69. SOBRE A PARTE / CENA 18 Esse monólogo é composto por 29 versos. As cinco cenas anteriores (13 a 17) apresentam o Presépio dentro da peça. Todas elas foram extraídas, quase literalmente, do folclore pernambucano, mais especificamente do livro de Pereira da Costa, ‘Folk-lore Pernambucano: subsídios para a história da poesia popular em Pernambuco’, publicado originalmente em 1908. Terminado o Presépio, o mestre carpina está pronto para responder à pergunta de Severino. IMPORTANTE MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 70. SOBRE A PARTE 18 Curiosamente, a peça se encerra sem qualquer resposta de Severino. Em algumas montagens os encenadores colocaram a última estrofe na boca de Severino e não, como está claro no texto, na do mestre carpina.  Esse procedimento vem apenas reforçar a mensagem final da peça: a de que mesmo a vida _ quase morte_ severina, aparentemente sem saída ou esperança, pode e deve ser vivida. IMPORTANTE MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA
  • 71. REFLEXÃO FINAL MORTE E VIDA SEVERINA
  • 72. REFLEXÃO FINAL MORTE E VIDA SEVERINA – João Cabral de Melo Neto Prof. JOSÉ RICARDO LIMA E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia