O conto "Sarapalha" descreve a progressão da malária em um povoado às margens do Rio Pará em Minas Gerais. Os três últimos moradores, Primo Ribeiro, Primo Argemiro e uma idosa, ficam doentes e isolados. Ribeiro confessa ter sido abandonado pela esposa Luísa anos atrás e Argemiro revela nutrir sentimentos secretos por ela, causando a ira de Ribeiro.
2. GUIMARÃES ROSA
terceira geração do modernismo
linguagem altamente elaborada
prosa poética [metáforas, aliterações, rimas, lirismo, neologismos etc]
Aviavam vir os periquitos, com o canto clim. Ali chovia? Chove – e não encharca poça, não rola
enxurrada, não produz lama. O chão endurecia cedo, esse rareamento de águas. O fevereiro
feito. Chapadão, chapadão, chapadão. [fragmento de Grande sertão: veredas]
Otacília – me alembrei da luzinha de meio mel, no demorar dos olhares dela. Aquelas mãos,
que ninguém tinha me contado que assim eram assim, para gozo e sentimento. [fragmento de
Grande sertão: veredas]
frases de caráter epigramático [filosófico]
Quem muito se evita, se convive. [GS:V]
Estrada real, estrada do mal. [GS:V]
Daí sendo a noite, aos gatos pardos. [GS:V]
alteração da sintaxe tradicional e efeitos poéticos de linguagem
3. GUIMARÃES ROSA
terceira geração do modernismo
aspectos regionais
tipos humanos [fazendeiros, jagunços, cabras, santos, loucos, sitiantes...]
Sua casa ficava para trás da serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar
chamado o Temor-de-Deus. O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana,
nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em
alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito para miúda,
cabeçudota e com olhos enormes. [fragmento de “A menina de lá”]
a linguagem [Rosa mimetiza – recria – a linguagem do sertanejo no nível frasal]
Hem? Hem? Ah. Figuração minha, de pior pra trás, as certas lembranças. Mal haja-me! Sofro
pena de contar não... Melhor se arrepare: pois, num chão, e com igual formato de ramos e
folhas, não dá mandioca mansa, que se come comum, e a mandioca-brava, que mata? Agora, o
senhor já viu uma estranhez? A mandioca doce pode de repente virar azangada – motivos não
sei; às vezes se diz que é por replantada no terreno sempre, com mudas seguidas, de manaíbas
– vai em amargando, de tanto em tanto, de si mesma toma peçonhas. E, ora veja: a outra, a
mandioca-brava, também é que às vezes pode ficar mansa, a esmo, de se comer sem nenhum
mal. E que isso é?
a ambientação [as Minas Gerais são o universo de Guimarães Rosa]
4. GUIMARÃES ROSA
terceira geração do modernismo
caráter universal
a temática [a redenção, o lirismo, a poesia, a religiosidade, entre outros]
5. ENREDO
Sarapalha
a sezão [maleita, malária] avança por um povoado às margens do Rio Pará [perto de Itaguara, centro de MG]
as pessoas abandonaram o povoado, deixando tudo para trás; as que ficaram vão morrer; deixaram para trás
casas, sobradinho, capela, três vendinhas, o chalé e o cemitério; morador, agora, só andando três quilômetros;
ficaram numa fazenda abandonada Primo Ribeiro, Primo Argemiro e uma preta velha que cozinha o feijão todos
os dias; os homens não podem mais trabalhar [a malária não deixa]; em certo dia, ainda pela manhã, Ribeiro
começa a falar da morte; achava q seu dia havia chegado; por isso puxou a conversa q se referia a uma mulher;
se ela aparecesse, a febre sumia; Ribeiro confessa q considera Argemiro um irmão, por isso é q tem coragem de
remexer no passado; estava casado [Luísa] há apenas três anos e a ingrata fugiu com outro; Argemiro
quis ir atrás dos dois; queria matar o homem e trazer a mulher de Ribeiro de volta; agora Argemiro não tem
vergonha de confessar: não foi atrás dos dois pq se fosse a obrigação era matá-los, mas faltava-lhe a coragem;
Argemiro solta a imaginação: tinha ciúme dela com o marido; e veio o boiadeiro, ficou três dias na fazenda, com
desculpa de esperar outra ponta de gado: não era a primeira vez q se arranchava ali. Mas ninguém nunca tinha
visto os dois conversarem sozinhos... Ele, Primo Argemiro, não tinha feito nenhuma má idéia.
6. ENREDO
Sarapalha
ela fugiu c/ o boiadeiro, e o Primo Argemiro nunca tinha confessado o seu amor; arrependera-se disso; se tivesse
Coragem, ela talvez até tivesse fugido com ele; no mínimo ela estava agora pensando q ele era um pamonha;
o Primo Ribeiro não se cansa de dizer q considera Argemiro um irmão; nem um filho seria tão bom assim;
Primo Argemiro se sente mal e resolve confessar seu grande segredo; quando Ribeiro ouviu, ficou muito zangado
e insistiu q Argemiro fosse embora; Argemiro lhe explica q nunca disse nada a Luísa; nunca a desrespeitou; q ela
foi-se embora sem saber de nada; Ribeiro negava-se a entender;só conseguiu repetir q o primo fosse embora;
Ribeiro sentia-se como se tivesse sido picado por cobra; Argemiro, não obtendo o perdão, vai-se embora; caminha
com dificuldade; passa pela rocinha de milho, assustando os pássaros pretos q o confundem com um espantalho;
o cão Jiló permanece com Ribeiro; Argemiro segue adiante; os sintomas do sezão espelham-se na natureza:
Estremecem, amarelas, as flores da aroeira. Há um frêmito nos caules rosados da erva-de-sapo. A erva-de-
anum crispa as folhas, longas, como folhas da mangueira. Trepidam , sacudindo as suas estrelinhas
alaranjadas, os ramos da vassourinha. Tirita a mamona, as folhas peludas, como o corsalete de um
cassununga, brilhando em verde-azul. A pitangueira se abala, do jarrete á grimpa. E o açoita-cavalos derruba
frutinhas fendilhas, entrando em convulsões. – Mas, meu Deus, como isto é bonito! Que lugar bonito p’ra
gente deitar no chão e se acabar! É o mato, todo enfeitado, tremendo também com a sezão.
7. SARAPALHA
aspectos técnicos
Canta, canta, canarinho, ai, ai, ai.../ Não cantes for a de hora, ai, ai, ai…/ A barra do dia aí
vem, ai, ai, ai.../ Coitado de quem namora!... [Trecho mais alegre de cantiga capiau ribeirinho]
epígrafe
apesar do nome, a cantiga é triste [ai, ai, ai]; a cantiga antecipa o fim da personagem q dá
com a língua nos dentes; ironias [mosquito canta bonito; personagem diz q a vida é boa]
8. SARAPALHA
aspectos técnicos
FOCO NARRATIVO
[terceira pessoa: narrador onisciente neutro]
O narrador de terceira pessoa apresenta a história distanciadamente;
TEMPO
[cronológico, linear, evolutivo]
[a maleita avançara lentamente; os moradores morreriam em um ano; Ribeiro ficara casado durante 3 anos]
ESPAÇO
[sertão mineiro]
Uma tapera situada no Vau do Sarapalha, às margens do Rio Pará [perto de Itaguara, centro de MG]
9. SARAPALHA
aspectos técnicos
GÊNERO LITERÁRIO
[intertextualidade inter-gêneros]
caráter épico: história de amor envolvendo três homens e uma mulher [volúvel]
caráter lírico: linguagem altamente elaborada [figuras + lirismo = prosa poética]
caráter dramático: a revelação, progressiva, de dois triângulos amorosos
10. SARAPALHA
aspectos técnicos
GÊNERO LITERÁRIO
[intertextualidade inter-gêneros]
O leitor fica sabendo aos poucos do drama de Primo Ribeiro, que fora abandonado pela mulher.
E, quando pensávamos que havia um só triângulo amoroso [Ribeiro/Luísa/Boiadeiro], aos
poucos ficamos sabendo de outro triângulo amoroso [Ribeiro/Luísa/Argemiro], embora em
nenhum momento Luísa correspondesse ao primo, mesmo que desconfiasse de suas olhadas. O
que reforça a estrutura dramática da narrativa é a maneira como os fatos são apresentados ao
leitor, que não conhece de imediato o nome de Luísa, que é adiado mais para o fim do relato;
também o leitor inteira-se, mais tarde, da época em que Argemiro começou a gostar de Luísa,
num período anterior ao casamento. É preciso realçar que, em vários trechos do conto, são
marcantes as provas de amizade entre os primos, principalmente a grande estima que Ribeiro
tem por Argemiro. Daí o desfecho ser também uma surpresa, pois não há lugar para o perdão.
11. SARAPALHA
personagens
RIBEIRO
[traição não se perdoa]
marido de Luísa; abandonado apega-se à memória do vivido; seu nome se liga ao rio [acúmulo de água parada]
apesar do apreço que tem pelo primo não lhe perdoa a traição;
ARGEMIRO
[honestidade e traição]
o nome da personagem faz referência à coragem que reúne para contar que era apaixonado pela esposa do primo
esta mesma coragem tb será o motivo de sua expulsão de Sarapalha;
LUÍSA
[mulher volúvel q abandona o marido por um boiadeiro]
12. SARAPALHA
aspectos técnicos: linguagem
personificação [malária] paradoxo figuras fonéticas
os passopretos, que fazem luto alegre no vassoural
caráter cômico
o primo, ao falar de sua admiração por Ribeiro, diz querer bem até mesmo à maleita
elementos vegetais
gameleiras pitangueiras beldroegas ervas capim fedegoso
insetos
vespas pernilongos borrachudos mutucas muriçocas
personificação
a maleita é personificada [mulher]; morcegos [artista de trapézio], cobras na água em nado de campeonato
metalinguagem
Argemiro entoa uma cantiga q fala de uma moça q foi seduzida por um rapaz com uma viola enfeitada [diabo]