O documento discute conceitos importantes de semântica jurídica como polissemia, sinonímia, antonímia e homonímia. Explica que a semântica estuda o significado das palavras e divide-se em sincrônica e diacrônica. Também aborda os diferentes níveis de vocabulário e exemplos de uso de homônimos e parônimos como "mal/mau" e "porque/por quê".
3. Semântica é o estudo do significado
das palavras. Divide-se em descritiva
ou sincrônica – que estuda a
significação em determinado
momento ou estado das palavras na
língua e histórica ou diacrônica – que
estuda as mudanças de significação
por que passam as palavras no
decurso do tempo.
4. Por exemplo: as diferentes acepções
que possui a palavra rapariga (em
Portugal, moça do campo, mulher que
está no período da juventude; no
Brasil, concubina, meretriz) operam-
se no plano sincrônico. Vilão
(outrora, camponês, hoje, indigno)
pertence ao âmbito da semântica
histórica (XAVIER, 2001, p. 13).
5. 3.1 NÍVEIS DE VOCABULÁRIO
Níveis de Vocabulário: De acordo com
Garcia (1976, p. 169), Todo indivíduo
medianamente culto dispõe de quatro
tipos de vocabulário: o da língua
falada ou coloquial, o da linguagem
escrita, o de leitura e o de simples
contato. Os incultos ou analfabetos
conhecem certamente apenas o
primeiro.
6. Os dois primeiros tipos constituem o
nosso vocabulário ativo que serve à
expressão do nosso pensamento. Os
dois últimos representam o nosso
vocabulário passivo que é
responsável apenas pela
compreensão do pensamento alheio.
7. Vocabulário de linguagem coloquial,
relativamente pequeno, é o de que
nos servimos na vida diária para
satisfazer as necessidades triviais da
comunicação oral. Compõe-se, na
grande maioria, de palavras de teor
concreto, que, ligadas a coisas ou a
situações reais, fluem
espontaneamente na corrente da fala.
8. Vocabulário da linguagem escrita é
representado pelas palavras que
usamos ocasionalmente na linguagem
escrita, seja literária, ou técnico-
científica seja apenas didática. Seu
acervo é constituído em parte por
palavras do primeiro tipo, acrescidas
de outras que raramente, ou nunca,
circulam na linguagem coloquial.
9. Vocabulário de leitura compreende
aquelas palavras que pessoalmente
não empregamos nem na língua
literária nem na coloquial, mas cujo
sentido nos é familiar. O vocabulário
de leitura nos permite entender
facilmente uma página impressa sem
necessidade de recorrer ao
dicionário.
10. Vocabulário de contato abrange
considerável número de palavras
ouvidas ou lidas em situações
diversas, mas cujo significado preciso
nos escapa. São dessas palavras, a
respeito das quais costumamos dizer
“conheço, mas não sei exatamente o
que significam”.
11. 3.2 POLISSEMIA, SINONÍMIA, ANTONÍMIA,
FAMÍLIAS ETIMOLÓGICAS, FAMÍLIAS
IDEOLÓGICAS E CAMPO ASSOCIATIVO
Polissemia: é a variedade de significação
apresentada por uma palavra. Quando uma
palavra adquire, nas frases, sentidos
diferentes, há polissemia.
Ex.: Não pude trocar o pneu do meu carro,
porque o macaco estava quebrado. (macaco
= instrumento para levantar pesos)
O macaco fazia caretas para a criançada.
(macaco = animal).
12. Sinonímia: Para Xavier (2001,
p. 16), “É a propriedade de
dois ou mais termos poderem
ser empregados um pelo
outro sem prejuízo do
sentido”.
Ex.: sofrer e padecer.
13. “Em nenhuma língua viva ou morta as
palavras apresentam sentido
absolutamente unívoco. Se os signos
verbais exprimissem apenas uma
coisa, e não mais de uma, ter-se-ia
talvez a linguagem ideal, pelo menos
quanto à clareza, pois a possibilidade
de equívocos e ambiguidades
vocabulares, causa maior de
inúmeros desentendimentos , estaria
eliminada a priori” (XAVIER, 2001, p.
16).
14. “Resumindo, pode-se dizer que a
polissemia presume a existência de
vários significados para o mesmo
significante, e a sinonímia, a de vários
significantes para o mesmo
significado” (XAVIER, 2001, p. 7).
15. Antonímia: é a propriedade de dois ou
mais termos apresentarem
significações opostas.
Ex.: grato e ingrato, comum e raro.
16. Famílias Etimológicas: “Por famílias
etimológicas entende-se um grupo de
vocábulos cognatos, ou seja, originários
de um radical comum. Formam-se
famílias etimológicas através da
agregação, ao radical (ou radicais), de
vários morfemas: afixos (prefixos e
sufixos), desinências, vogal temática,
vogal e consoante de ligação” (XAVIER,
2001, p. 24).
Ex.: leg – do latim legere, ler, colher
lenda, lendário, legenda, legendário,
legível, colégio.
17. Famílias Ideológicas: Segundo Xavier
(2001, p. 25), “as palavras podem inter-
relacionar-se, também, pela comunidade
ou afinidade de sentido. Isto é o que se
chama família ideológica, em realidade
um conjunto de termos irmanados pelo
mesmo núcleo de significação, séries de
sinônimos afiliados por uma noção
fundamental comum”.
Ex.: casa, domicílio, habitação, lar,
morada etc.
18. Campo Associativo: “As palavras se
associam também por uma espécie de
imantação semântica; muito
frequentemente, uma palavra pode
sugerir uma série de outras que, embora
não sinônimas, com elas se relacionam,
em determinada situação ou contexto,
pelo simples e universal processo de
associação de ideias” (GARCIA, 1976, p.
167).
Ex.: A palavra mar pode evocar-nos uma
série de outras não necessariamente
sinônimas como: vastidão, amplidão,
imensidade, infinito, mobilidade,
horizonte etc.
19. 3.3 HOMONÍMIA E PARONÍMIA
Homonímia: Para Xavier (2001, p. 19),
“É a propriedade de duas ou mais
palavras, embora diversas pela
significação, apresentarem a mesma
estrutura fonológica”, isto é, as
palavras homônimas se escrevem ou
se pronunciam de modo idêntico, mas
diferem no sentido. Podem ser:
20. Homônimos Perfeitos: São aqueles
em que há completa homofonia, isto
é, possuem a mesma grafia e
pronúncia.
Ex.: rio (acidente geográfico) e rio
(forma verbal), livro (verbo) e livro
(subs.).
21. Homônimos Homógrafos: São formas
que se escrevem com as mesmas
letras, mas têm pronúncias desiguais,
possuem a mesma grafia, mas a
pronúncia é diferente.
Ex.: retorno (ô) (subs.) e retorno (ó)
(v.), governo (é) (v.) e governo (ê)
(subs.).
22. Homônimos Homófonos: São formas
em que o som permanece o mesmo,
possuem a mesma pronúncia, mas a
escrita é diferente.
Ex.: cozer (cozinhar) e coser
(costurar), concerto (de música) e
conserto (de consertar algo
quebrado).
23. Paronímia: Segundo Xavier (2001, p.
20), paronímia “É a circunstância da
existência de palavras que se
assemelham quanto à forma, sem
nenhuma relação de significado”, isto é,
palavras que possuem uma pequena
diferença na grafia e na pronúncia.
Ex.: emergir (vir à tona) e imergir
(mergulhar),
descrição (ato de descrever) e
discrição (qualidade ou procedimento de
discreto
24. 3.4 EMPREGO DE ALGUNS
HOMÔNIMOS E PARÔNIMOS
MAL / MAU
Mau = adjetivo contrário de bom.
Mal = advérbio contrário de bem.
= conjunção equivalente a
assim que.
= substantivo quando precedido
de artigo, contrário de o bem.
25. Ex.: Você é um mau jogador.
(Você é um bom jogador)
Não pense mal das pessoas.
(Não pense bem das pessoas)
Mal chegou e já começou a reclamar.
(Assim que chegou ...)
A corrupção é o mal do Brasil.
(...é o bem do Brasil)
26. Obs.: BOM e MAU possuem formas
especiais para o comparativo de
superioridade e superlativo: melhor e pior,
mas podemos empregar as formas mais
bom, mais mau quando comparamos duas
qualidades de um mesmo ser. Isto também
vale para grande e pequeno. O advérbio
BEM admite a forma mais bem quando for
de intensidade, acompanha adjetivo.
Ex.: Pedrinho é bom e inteligente, mais
bom que inteligente.
Minha casa é grande e bonita, mais
grande que bonita.
Estou mais bem disposta (adjetivo)
hoje.
27. MAS / MAIS
a) Mas = conjunção equivale a porém.
b) Mais = advérbio contrário de menos
– refere-se a verbo ou a adjetivo.
= pronome contrário de menos
– refere se a substantivo.
Ex.: A criança caiu, mas não se feriu.
(A criança caiu, porém não se feriu)
Este aluno é o mais inteligente (Adj.)
da classe. (... é o menos inteligente ...)
Eu tenho mais figurinhas (subs.) que você.
(... tenho menos figurinhas ...)
28. ATRÁS / TRÁS / TRAZ
a) Atrás = preposição indica lugar.
b) Trás = preposição indica lugar.
c) Traz = verbo indica ação de
trazer.
Ex.: A caneta caiu atrás da cadeira.
O menino passou por trás do jardim.
Todos os dias ele traz flores para a
namorada.
29. DEBAIXO / DE BAIXO
a) De baixo = preposição + adjetivo
antônimo de alto.
= preposição + substantivo
antônimo de cima.
b) Debaixo = advérbio equivale a sob.
Ex.: Você pode tomar este vinho, pois ele é
de baixo teor alcoólico. (de alto teor
alcoólico).
Andei esta rua de baixo a cima. (de
cima a baixo)
30. Ex.: Debaixo da cama, havia
muitos brinquedos. (sob a
cama ...)
Obs.: embaixo antônimo -
em cima
abaixo antônimo -
acima
31. ONDE / AONDE
a) Onde quando o verbo pede
preposição em.
b) Aonde quando o verbo pede
preposição a.
Ex.: Onde você mora? (morar em
algum lugar)
Aonde você vai? (ir a algum lugar)
32. EM FIM / ENFIM / A FIM / AFINS
a) Em fim equivale a no final.
b) Enfim equivale a finalmente.
c) A fim equivale a finalidade.
d) Afins equivale a afinidade.
Ex.: Em fim de tarde, nós costumávamos
nos reunir na praça.
(No final da ...)
Eles, enfim, chegaram.
(Eles, finalmente, chegaram)
33. Ex.: Os alunos se reuniram a
fim de discutir a questão do
aumento.
(Os alunos se reuniram com
a finalidade de ...)
Nós tínhamos opiniões
afins. (Nós tínhamos
afinidade nas opiniões)
34. SE NÃO / SENÃO
a) Se não = conjunção condicional +
advérbio equivale a caso não.
b) Senão = conjunção adversativa
equivale a ao contrário.
Ex.: Você ganhará um pirulito se não fizer
barulho.
(... ganhará um pirulito caso não faça...)
Fui logo para a escola, senão teria que
explicar aquela bagunça.
(Fui logo para a escola, ao contrário teria
que ...)
35. A CERCA DE / ACERCA DE / HÁ
CERCA DE
a) A cerca de equivale a a
aproximadamente.
b) Acerca de equivale a sobre, a
respeito de.
c) Há cerca de equivale faz
aproximadamente.
Ex.: Estamos a cerca de cem metros
da escola.
(Estamos a aproximadamente cem
metros...)
36. Os professores discutiam
acerca do salário.
(... discutiam sobre o salário)
Recebi seu recado há cerca
de dois dias.
(Recebi seu recado faz
aproximadamente...)
37. PORQUE / PORQUÊ / POR QUE / POR
QUÊ
Porque = conjunção usado nas
respostas ou justificativas.
Porquê = substantivo precedido de
artigo, equivale a a causa.
Por que = preposição + pronome
interrogativo usado em perguntas
diretas ou indiretas, equivale a por qual
motivo.
= preposição + pronome
relativo equivale a pelo qual e
variações.
Por quê = preposição + pronome
interrogativo usado em final de
perguntas ou antes de pausa.
38. Ex.: Embarquem logo porque o
trem já vai partir.
O avião não decolou porque o
nevoeiro era muito denso.
Não sei o porquê de tanta
confusão.
(Não sei a causa de tanta
confusão.)
Por que a reunião terminou logo?
(Por qual motivo a reunião ...?)
39. Ex.: Quis saber por que a reunião
terminou logo.
(Quis saber por qual motivo ...)
A causa por que lutamos é justa.
(A causa pela qual lutamos é
justa.)
Chegaram atrasados, por quê?
40. NENHUMA / NEM UMA – NENHUM / NEM
UM
a) Nenhum(a) = pronome indefinido
antônimo de algum(a).
b) Nem um(a) = conjunção + numeral
antônimo de nem dois, nem três ...
Separado quando se quer
a negação total.
Ex.: Você fez muitos gols?
Não fiz nenhum. (Fiz algum)
Não fiz nem um. (nem dois, nem três ...)
41. 3.5 HIPERONÍMIA E HIPONÍMIA
Hiperonímia: “Chama-se hiperônima a
palavra que possui um sentido mais geral,
com relação a outras de sentido mais
específico” (MESQUITA, 1999, p. 158).
Ex.: peixe é hiperônimo de sardinha, atum,
cação; dizer é hiperônimo de murmurar,
ironizar, explicar.
42. Hiponímia: “São palavras de
sentido mais específico, com
relação a outras de sentido mais
geral” (MESQUITA, 1999, p. 159).
Ex.: girafa, morsa são
hipônimas de mamíferos.