2. DEFINIÇÃO
Figuras de linguagem é o nome genérico que
damos aos elementos frasais que exploram o
sentido conotativo de uma palavra ou de uma
expressão, realçam a sonoridade das palavras ou
até mesmo organizam a frase fazendo-a desviar-se
da norma culta.
As figuras de linguagem são classificadas em
figuras de som, figuras de construção, figuras de
pensamento e figuras de palavras.
3. FIGURAS DE SOM
Aliteração: consiste na repetição ordenada dos
mesmos sons consonantais:
“Esperando, parada, pregada na pedra do porto”
(Dalla, Pallotino, Chico Buarque)
Assonância: consiste na repetição ordenada de
sons vocálicos idênticos:
“Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral” (Caetano Veloso)
4. FIGURAS DE SOM
Onomatopeia: consiste na criação de uma palavra
para imitar um som:
“(...)
E estava sempre em casa
a boa da velhinha,
resmungando sozinha:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...”
(Cecília Meireles)
Paranomásia: consiste na aproximação de palavras de
sons parecidos, mas de significados distintos:
“Violência, viola, violeiro” (Edu Lobo)
“Eu que passo, penso e peço” (Sidney Miller)
5. FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
Elipse: consiste na omissão intencional de um termo
facilmente identificado pelo contexto:
“Na sala, apenas quatro ou cinco convidados” (Machado
de Assis)
Omissão de havia
Zeugma: consiste na omissão de um termo que já
apareceu antes:
“Um galo sozinho não tece uma manhã:
Ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele (...)”
(João Cabral de Melo Neto)
Obs.: temos também aí a função anafórica.
6. FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
Polissíndeto: consiste na repetição de conectivos na ligação entre elementos da
frase ou do período:
“E sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob a ponte e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito (...)”
(Carlos Drummond de Andrade)
Obs.: a ausência de conectivos de ligação dos elementos da frase ou do
período chama-se assíndeto:
“Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, azulados, alaranjados,
o guarda civil sorria, passavam biclcletas (...)
(Idem)
7. FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
Inversão: consiste na mudança da ordem natural dos
termos na frase:
“Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante”
[“Ouviram brado retumbante de um povo heroico às margens do
Ipiranga”]
(Hino Nacional Brasileiro)
Obs.: conforme o grau de alteração, numa escala crescente
de dificuldade, a inversão receberá o nome de hipérbato,
anástrofe ou sínquise.
8. FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
Silepse: consiste na concordância não com os elementos
expressos na frase, mas com aqueles
subentendidos, implícitos. A silepse pode ser:
De gênero: “Vossa majestade está preocupado”
De número: “Os sertões conta a Guerra de Canudos”
De pessoa: “O que me parece inexplicável é que os
brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e
mole que se derrete na boca...”
(Manuel Bandeira)
Anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase.
Normalmente, ocorre o seguinte: inicia-se uma construção
sintática e depois se opta por outra:
“O homem, chamar-lhe mito não passa de anacoluto” (Carlos
Drummond de Andrade)
9. FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
Pleonasmo: consiste numa redundância cuja
finalidade é reforçar a mensagem:
“E rir meu riso e derramar meu pranto”
(Vinícius de Moraes)
Anáfora: consiste na repetição de uma mesma
palavra no início de versos ou frases:
“Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer” (Luis Vaz de Camões)
10. FIGURAS DE PENSAMENTO
Antítese: consiste na aproximação de termos
contrários, de palavras que se opõem pelo sentido:
“Se no desejo você fosse amor
Durante o frio, fosse o calor
Na minha lua, você fosse o mar”
(Dominguinhos e Nando Reis)
Ironia: consiste em utilizar um termo em sentido
oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico
e/ou humorístico:
Seu aproveitamento na escola não podia ter sido melhor:
reprovado em apenas seis matérias.
11. FIGURAS DE PENSAMENTO
Eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra
menos brusca, em síntese, consiste em “suavizar” alguma
asserção desagradável:
“Ela enriqueceu por meios ilícitos” (em vez de: ela roubou)
“Você faltou com a verdade” (em vez de: você mentiu)
“Você não foi feliz nos exames” (em vez de: você foi reprovado)
“Vou declinar ao convite” (em vez de: não poderei ir)
Hipérbole: consiste em exagerar uma ideia, com finalidade
enfática:
“Não vejo você há séculos” (em vez de: há bastante tempo)
“Estou morrendo de sede” (em vez de: estou com muita sede)
“Chorou rios de lágrimas” (em vez de: chorou muito)
12. FIGURAS DE PENSAMENTO
Prosopopeia e personificação: consiste em atribuir a
seres inanimados predicados que são próprios de
seres animados:
“A lua
tal qual a dona de um bordeu,
pedia a cada estrela fria
um brilho de aluguel.
E nuvens
Lá no mata-borrão do céu,
Chupavam manchas torturadas
- que sufoco!”
(João Bosco e Aldir Bianc, interp. Elis Regina)
13. FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
Gradação ou clímax: consiste na apresentação de ideias em
progressão crescente (clímax) ou descendente (anticlímax):
“Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo...”
(Vicente de Carvalho)
[progressão ascendente]
“Quando contrariado, costuma xingar, fingir mágoa, render-se.”
[progressão descendente]
Apóstrofe: consiste na invocação de alguém (ou de alguma coisa
personificada) com função emotiva:
“Minha Senhora Dona, um menino nasceu: o mundo tornou a começar”
(Guimarães Rosa)
14. FIGURAS DE PALAVRAS
Metáfora: consiste numa alteração de significado baseada em traços similares
entre dois conceitos. É, portanto, uma comparação implícita:
“Oh pedaço de mim
Oh metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
De um filho que já morreu”
(Chico Buarque)
Metonímia: consiste também numa transposição de significado, mas não entre
traços semelhantes, e sim por uma relação lógica entre termos (parte pelo
todo, autor pela obra, efeito pela causa, continente pelo conteúdo, o instrumento
pela pessoa que o utiliza, o concreto pelo abstrato etc.):
“Não tinha teto em que se abrigasse” (parte pelo todo)
“Procurou no Aurélio o significado daquela palavra” (autor pela obra)
15. FIGURAS DE PALAVRAS
Catacrese: é o emprego de palavras fora de seu significado real; entretanto,
devido ao uso contínuo, não mais se percebe que estão sendo usadas em
sentido figurado:
“O pé da mesa estava quebrado”
“Não deixe de colocar dois dentes de alho na comida”
“Quando embarquei no avião, não fui mais dominado pelo medo”
Anatomásia ou perífrase: consiste em substituir um nome por uma expressão
que o identifique com facilidade:
“Os quatro rapazes de Liverpool” (The Beatles)
“O poeta da Vila” (Noel Rosa)
“Compre uma lata de leite moça” (leite condensado)
“veja-me uma lata de nescal” (achocolatado em pó)
Sinestesia: consiste em se mesclar numa expressão sensasões percebidas por
diferentes órgãos do sentido:
“Um áspero sabor de indiferença a atormentava”
(áspero: sensação tátil; sabor: sensação gustativa)
16. VÍCIOS DE LINGUAGEM
Barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar
uma palavra em desacordo com a norma culta:
Pesquiza (pesquisa), prototipo (protótipo) , rúbrica
(rubrica), excessão (exceção)
Solecismo: desviar-se da norma culta com
relação à sintaxe:
“Fazem dois anos que ele não aparece”
“Não espere-me porque não irei”
“Assisti o filme ontem”
“Vá no banheiro”
17. VÍCIOS DE LINGUAGEM
Ambiguidade ou anfibologia: consiste em construir
uma frase com mais de um sentido:
“O guarda deteve o suspeito em sua casa”
Cacófago: consiste no mau som produzido na junção
de palavras:
“Paguei cinco mil reais por cada.”
“Você notou a boca dela?”
Eco: consiste na repetição de palavras terminadas
pelo mesmo som:
“A decisão da eleição causou comoção na multidão”
18. VÍCIOS DE LINGUAGEM
Pleonasmo: consiste na repetição desnecessária de
um conceito:
“Precisamos encarar de frente os problemas”
“Faça a sua assinatura e ganhe grátis um relógio”
Neologismo: consiste na criação desnecessária de
palavras:
“Respondendo aos que o criticavam, respondeu o político
que eram neobobos e fracassomaníacos”
Arcaísmo: consiste na utilização de palavras que já
caíram em desuso:
“O boticário não me recomendou este remédio” (em
vez de: o farmacêutico)